WINNICOTT, CLÍNICO DA ALTA MODERNIDADE Maria de Lourdes Manzini-Covre (*) José Outeiral (*) Neste texto, discorre-se como Donald Winnicott (DW) pode ser tido como um clínico, por excelência, da alta modernidade, na medida em que cria uma clínica – o setting do holding, coexistindo com o setting standart. Essa clínica, com seu diagnóstico e encaminhamentos, lida mais com os sintomas de ansiedade psicótica, bordelines, provocados precisamente pelo ambiente afetivo do contexto socioeconômico, políticocultural, de nossa “modernidade” - na qual predomina uma cultura “desumanizante”. Relatos em livros de psicanalistas (Guntrip e Little) de suas análises com DW, em meados século XX, e a aplicação da clínica winnicottiana contemporânea nos informam níveis de “re-humanização” de pessoas e de agrupamentos sociais. 1. NOSSA CONTEMPORANEIDADE – PÓS-MODERNIDADE OU ALTA MODERNIDADE? E o que pode se dizer do ambiente ‘socio-cultural e afetivo atual? Discorrendo sobre nossa contemporaneidade, alguns autores, dentre destaca-se Giddens (1991), argumentam que não houve ruptura em relação à modernidade. Praticamente é o sociólogo inglês que inicia esse debate, e que a nomeia alta modernidade, quer seja sendo ela uma seqüência extremada da modernidade, radicalização dos seus fundamentos paradoxais. Dessa radicalizaçao decorre um duplo rumo do processo moderno contemporâneo – de um lado,as dificuldades imensas, sofrimentos; de outro lado, concomitantemente, muitas oportunidades para avanços imensos para a humanidade. Sob a perspectiva filosófica, lembremos que o espírito cultural que sustentou a modernidade foi o Iluminismo. O filósofo André Vachet (1972), ao fazer intensa análise dos teóricos do Iluminismo, indica-nos os paradoxos filosóficos norteadores da cultura da modernidade. Ele os sinaliza no imbricamento orgânico de seus três fundamentos: o naturalismo,individualismo, e o racionalismo, em que este último encontra sua plenitude porque está norteado por valores do naturalismo(espontaneidade, emoção, posse, felicidade) e pelo individualismo (liberdade individual sobre a estrutura coletiva – cada homem representando um valor absoluto em face do social e do político). E que esta coexistência deve se resolver através do contrato social. Mas evidencia a tensão permanente entre esses três fundamentos, que tenderia a um impasse. Chegamos ao século XX, agora já findando a primeira década do XXI. O século XX foi prenhe de guerras e, a emergência do fascismo, pode se tida como passagem marcante para a alta modernidade. A cultura fascistóide, com sua pretensa “igualização”do homem ideal, copòe boa parte do mal-estar contemporâneo. Retomando Vachet e a tensão por ele apontada entre os três pilares da modernidade, pode-se deduzir que o impasse recaiu na predominância da racionalidade/razão, escoimada dos valores anteriores, tornada assim“desumanizada”. Ela se conforma como a razão instrumental,(adequação meios e fins), de tecnologia/conhecimento pretensamente neutros, que transpassa, de certo modo a cultura de nossa época. (Manzini-Covre, 1982). Essa cultura é o cadinho propiciador de um campo afetivo para os sintomas mais próximos das ansiedades psicóticas A rapidez se torna o caráter marcante da atuação contemporânea,a ação tecnologizada tende a permear, de certo modo, todos os ambientes(idem, 2008).As pessoas sofrem instabilidade, doenças físicas e psíquicas. 1 Pode-se observar como essa razão instrumental se faz presente no procedimento do fazer política (a tecnocracia), no fazer ciência (tecnociência), na performance da medicina(tecno-medicina?), particularmente da psiquiatria, no uso intenso de drogas para curar a “insanidade”,descartando o tratamento pela escuta, pelo acolhimento(1). 2.CULTURA DA ALTA MODERNIDADE, SINTOMAS SOCIAIS E WINNICOTT Enfim, pensemos que viver dessa cultura e de suas decorrentes práticas sociais contamina a formaçao das pessoas, a sociabilidade dos organismos sociais, e tende a criar um homem contemporâneo, o qual nomeamos de tecno-homo(Manzini-Covre, 2007). Tenhamos, também o mencionado tratamento intensivo por drogas para “curar a insanidade”. O mundo das drogas está aí, na indústria farmacêutica e na “indústria” do trafico(2). O contexto de tal cultura está preenhe dos sintomas de ansiedade psicótica. E da necessidade da clinica winnicotiana! A infantilização de figuras parentais quase não pode dar conta da formação humana. Tende-se a um mal estar geracional a ser elaborado. Grandemente em nossa atualidade, quando os filhos ficam adolescentes, os pais adolescem também (Outeiral, 2003) Há que valorizar a condição adulta , pois -o adulto, está ficando uma espécie em extinção (Outeiral, 2008) Estar na adolescência é estar-se na segunda chance para alcançar o que realmente se é – uma fase híbrida entre a criança e o adulto, na busca de ser “gente”(o adulto esperado pelos outros) e na qual se carece profundamente de uma figura parental para alcançar tal alvo. Sobre o “adolescer” dos pais, destaque-se a situação esdrúxula: além do filho não poder contar com o pai, ainda teme esse pai que passa a competir com ele, porque o caráter emotivo descoberto já tem tom distorcido. Em vez de poder sustentar esses filhos no caminho da maturidade, eles próprios, regredidos, viram narcisos. Essa é uma dificuldade que tende a se tornar geracional em muitas famílias. Quem vai ser para essa criança, adolescente ou “adulto”perdido o– “alguém que lhe possibilitasse estar vivo” – como assinala o psicanalista H. Guntrip (1975), sobre a ajuda clinica recebida de Winnicott. Nunca é demais enfatizar - como a nossa época está carente da clínica de Winnicott! Pois há um “mundo” de falso-selves!(Mello , J, 2008). Nossa época está plena de níveis de tecno-homo,( correspondente externo do falso self) a se expressar pelo pânico, mania, depressão, tédio, transtornos vários, adição. Eis o ambiente afetivo de nossa época, no qual Winnicott é um clínico, por excelência, da alta modernidade! A clinica winnicottiana, pode lidar primordialmente com a linguagem e atuação do corpo que lhes permitam(aos pacientes) “relembrar” o que não podem dizer. Reiteramos que o conceito winnicottiano de falso self (em seus vários níveis) tem seu contraponto no ser vivo, criativo (humano no sentido pleno). 2.1 Tradição e originalidade de Winnicott a ver com a alta modernidade Tenhamos presente que DW diz que se deve sempre partir da tradição. Ele segue, assim, o campo freudiano, mas reinventa isso mais para o nosso tempo. Há uma coexistência em sua abordagem do setting standart e do setting do holding, um não excluindo o outro. Outeiral,J e Valler Celeri, (2003), rastreando e analisando os textos winnicottianos, principalmente “Holding e Interpretação e The Piggle, tecem argumentos sustentadores e esclarecedores como há essa coexistência dos settings, como é marcante a presença da clínica freudiana, da questão edipiana na analise de DW, ao mesmo tempo que enceta esse caminho difícil de um setting que dá conta de ansiedades psicóticas 2 Focando a clinica do holding, e reiterando a fala de DW de que a produção de conhecimentos tem de partir da tradição, pincemos no criador da psicanálise, traços desse enfoque, quando do tipo de acolhimento que desenvolve no caso do Homem dos lobos , Freud(1969). Mas, DW vai avante. A sua originalidade está em que ele cria conceitos diferenciados, “sistematiza” práticas clinicas avançadas nessa direção do holding. E isso com base em sua imensa experiência de décadas em hospital pediátrico, podendo conceber a noção de ambiente( e decorrentes conceitos outros) assinalando que, o bebê não existe, o que existe é o bebê e a mãe (ambiente), podendo nesse rumo conceber enfim o setting do holding. Condizente com isso, lembremos que Margareth Little (1992) nos faz saber, quando escreve sobre sua análise, já naquela época, uma mudança que se faz na procura por analise, não mais pela neurose, mas mais por ansiedades de tipo psicótico – e lembremos, que esses são os sintomas mais marcantes na nossa atualidade. Little também nos comunica sobre traços primordiais da performance clínica de DW - as ansiedades do tipo psicótico, muito mais difíceis de serem tratadas, .... Isso provocou mudanças na reflexão e na técnica psicanalítica.(Com essa reflexão e técnica),Winnicott(...)tem realizado o tratamento de muitos pacientes com ansiedade, e polêmica, porque mostra um lado mais humano da psicanálise que normalmente não visto/antes. 3. CLÍNICA WINNICOTTIANA E WINNICOTT ATUANDO EM SUA CLÍNICA Reiniciamos com Little(idem) especificando que “ o trabalho de Winnicott baseia-se em princípios, marcas distintivas, que são: o reconhecimento da importância não só do próprio ser humano individual, mas também do seu ambiente mais inicial; a empatia (a compreensão da comunicação não verbal e da linguagem do corpo, muito além do reconhecimento do movimento inconsciente, da postura etc.) e a experiência da mutualidade; a consistência sem severidade; permitindo a regressão para a dependência”. Tenhamos um certo tipo marcante de falso self na clínica atual, século XXI, Um tecno-homo/falso self( Manzini-Covre, 2008) intenso, exemplar da cultura da alta modernidade: Jair, de descendência japonesa de educação rígida, havia se separado há pouco, e ja estava vivendo com uma outra mulher, que era médica. Diz que ela queria que ele fizesse um tratamento. Já tentara...Quase não falava. Não sabia o que falar. E às vezes parecia uma criança com dificuldade de falar. Atendo-nos mais ao tema acima indicado, ele nos conta que trabalhava com um tipo de tecnologia que exigia muita rapidez e presteza, e que ele gostava. E quanto mais rápido mais gosto sentia. (Havia como uma espécie de gozo perverso aí) Diz que sua atual mulher reclamava do tipo de relação sexual que tinham. Era sempre repetitiva, uma mesma seqüência de atos. E ele me diz que pensava que fosse assim, seguindo sempre os mesmos passos. Como uma repetição da máquina? Nada de espontaneidade, do brincar... Estamos aí diante de um falso self, Incapacitado de criar, Sofre, sem saber que sofre, E tenhamos, na atualidade, então também, a clínica do tédio, para a pessoa entediante, constante igualmente desse âmbito do falso self( Outeiral/2009) Em seguida, utilizamo-nos de breve extratos dos relatos dos dois psicanalistas mencionados, que fizeram análise com Winnicott e escrevem sobre seus processos de 3 análise com ele, e aos quais recorremos para sinalizar DW atuando no setting de Winnicott, clínico de nossa alta modernidade. Harry Guntrip O psicanalista Harry Guntrip (1975), relata sido analisado por dois notáveis terapeutas, Fairbairn e Winnicott, que não estavam tão distantes – “ambos eram opostos completamentários”. “Winnicott era mais revolucionário na prática que na teoria”, Assinala pôde perceber que “o self verdadeiro de Winnicott não é realizado na teoria freudiana”. Podemos deduzir que Guntrip se dava conta de que algo avançava em relação à sua psicanálise. Guntrip teve uma mãe bastante ineficiente, que não pôde lhe dar acolhimento e viveu também o trauma da morte do irmão Percy. Diz ele que DW: ...“modificou toda a natureza do problema...Descobri... que me havia posto em condições de enfrentar o duplo trauma da morte de Percy e a atitude da minha mãe para mim... Quando volto a ler meus registros me surpreende a rapidez com que Winnicott chegou ao núcleo do problema. Na análise DW diz: (p.116)-Começou a temer que eu o abandonasse. Sente que o silêncio é abandono. A brecha não consiste em que o senhor esqueça a sua mãe, mas em que esta o esqueça ao senhor, e agora volta a viver essa situação comigo. Está começando a recuperar um trauma prévio que talvez jamais tivesse encontrado sem a ajuda da repetição que significou o trauma de Percy. Tem que lembrar o abandono de sua mãe transferindo-o a mim..”. Difícil transmitir o que em mim se produziu, para.. comprovar que Winnicott trabalhava diretamente com o vazio de minha “situação de relações objetais” no começo de minha vida com uma mãe incapaz de relacionar-se.. E que Winnicott se transformasse na mãe boa, que me permitisse estar vivo e criativo, transformou a significação da morte de Percy de modo tal que me permitiu resolver esse trauma (Há sonho interpretado por Winnicott em que Guntrip sonha com Percy em estado de morto/em que DW apreende que Guntrip é o próprio Percy.). Ao relacionar-se comigo em meu inconsciente profundo, Winnicott me permitiu ver que não se tratava só da perda de Percy, mas também do fato de ficar só com a mãe que não podia manter-me vivo, o que provocou minha derrubada e minha aparente agonia. Mas, graças aos seu profundo insight intuitivo, agora não estava só(p117).” Margareth Little Ela relata que vinha de outra análise,com setting mais standart depois, conseguiu iniciar análise com DW, e afirma que “Sabia que os meus verdadeiros problemas nunca haviam sido tratados. Sentindo-me mais do que nunca uma não-pessoa, e sabendo...(estar) totalmente exposta à minha ansiedade psicótica, com raiva, culpa, desamparo e desespero esmagador”. Sob os cuidados de DW, pôde reviver sofrimentos impensáveis, como o que conta ter vivido numa das sessões na sala de consulta dele, buscando na sala uma saída para tal desespero, e queria mesmo era jogar-se pela janela, quando consegue quebrar o vaso (DW repôs no dia seguinte um igual). Relata sua vivência no corpo de agonias de traumas como seu trauma do nascimento, seu transtorno nas férias (dele e dela), quase suicídio (tornozelo quebrado), as várias crises de raiva destrutiva, internamentos em hospital. No último internamento (férias dele), teve ataque de~cura”” “apesar da bagunça a sua volta o lugar continuava a existir... E que com DW aprendeu que destruição pode ser também criação”. O tornozelo quebrado, a quebra das coisas, eram o rompimento com sua mãe, que não a deixava ser ela mesma... Com a análise, já no fim, pôde falar de todas as coisas do hospital – que pintou, fez poemas, brincou etc. como uma criança falaria a sua mãe... Se fora uma pessoa para a 4 outra... rompia agora com aniquilação. “O sentimento dominante é de profunda e permanente gratidão, porque W. me possibilitou encontrar e libertar o meu “verdadeiro self”(p.50) , minha espontaneidade, criatividade e capacidade de brincar;.... Estou em contato com a criança em mim que quer brincar, usar (Winnicott, 1968) De outras pessoas soube que “Ele ensinava você a fazer livres associações como analista com todo material do seu paciente... Incentivava os estudantes ou colegas a encontrar seus próprios modos de trabalhar. . . Esses exertos dos dois relatos são emblemáticos da clínica do holding na prática de DW, em meados do século XX, e como ela seguiu sendo tão importante até a presente prática do século XXI. 4. WINNICOTT E A CLÍNICA DO SOCIAL O processo sócio-cultural-afetivo paradoxal da alta modernidade- de processos de mal-estar ao lado de boas oportunidades , não está em plano distante, está aí no nosso cotidiano, na cultura que predomina nos organismos sociais(famílias, escolas, abrigos,empresas,etc) onde decorre nossa existência. E é aí que estão os pais, professores, educadores, lideranças, chefias que tendem a não responderem por sua função . Vale lembrar que o sintoma que encontramos na clínica também é parte do(s) sintoma(s) social(is) vigente(Manzini Covre, 2006). A clínica criada por Winnicott é muito importante para a clínica do social, particularmente no âmbito de vulnerabilidade. Ele apreendeu a condição de crianças evacuadas pela guerra e cuidou de algumas. Cremos que Winnicott sentiu e captou bem o nosso tempo e de suas características “novas” de sofrimento. Vale lembrar ainda a profunda preocupação do autor com as dificuldades sociais, escrevendo, dando inúmeras palestras em contextos variáveis e falando, por exemplo, na BBC de Londres sobre questões sociais – guerra, condição das crianças evacuadas, o feminino, a mulher etc. E, nesse sentir intenso, criou conceitos tão esclarecedores para essas dificuldades. Poder-se-ia, portanto, ter Winnicott como um intelectual de esquerda no sentido que lhe confere Bobbio (1992) – daquele que se inquieta com as dificuldades humanas, com as questões sociais como o desvalimento humano e social, buscando soluções para tal. Winnicott “responde”, sente responsabilidade(Melucci,1996) pela nossa época. Compondo com o acima – como prescindir do olhar que Winnicott formaliza na categoria mãe/pai suficientemente bom , e observando tantas figuras parentais fragilizadas contemporâneas A família seria o alvo primeiro, pois aí se tem o cadinho mesmo do ser humano: suas alegrias e sofrimentos. Freud criou suas teorias, as teorias da neurose, escutando as neuróticas e indiretamante pesquisou as famílias vianenses e sua histeria (Manzini-Covre, 2007) Assim, com o suporte da clínica de DW, pode-se focar indiretamente famílias contemporâneas em suas mazelas, sintomas contemporâneos já mencionados, quando um de seus membros faz análise. Se obtemos sucesso com nosso paciente – pode ser que aquela pessoa ao se modificar, tenda a modificar todas suas relações. Semelhantemente pode suceder em outras “famílias”- escola, abrigo, etc. Assim como temos, concomitantemente, a abordagem clinica winnicottiana em organismos sociais – abrigos, escolas, famílias, etc ( Manzini-Covre, 2006, Outeiral, 2006) 5 À guisa de finalização, não há como não pensar Winnicott como clínico da alta modernidade, pois, como já dito, ele “responde” por ela, quando incide precisamente nos sintomas contemporâneos que se personificam nos vários níveis de falso self. Sua categoria-chave – criatividade – é imprescindível para se enfrentar os “desastres” da alta modernidade, abrir rumos para as boas oportunidades, seja na vida individual, seja na coletiva. Ainda essa clínica, assentada na categoria criatividade, pode estar firme na pugna da cultura no sentido amplo, reavivando o que de melhor foi criado na modernidade. Neste sentido, tenhamos a cultura muito mais ampla que a cultura “instrumentalizada” Lembremos Bion(1991),em sua proximidade com Winnicott, quando diz que os pensamentos estão à procura de pensadores. Winnicott, insere o novo necessário ,insere a clínica do holding, como indica M. Little (1992), e traz uma necessária e pertinente ajuda a nossa época. É uma clínica que toca no substrato profundo da alta modernidade! (*) José Outeiral é médico, psicanalista, Membro da SPP e da SBPRJ, Full Member da Associação Psicanalítica Internacional. (*) Maria de Lourdes Manzini-Covre é psicanalista, socióloga clínica, livre-docente USP, coordenadora do NESCCi/USP (Núcleo de estudos de Subjetividade, Cultura e Cidadania) NOTAS 1. . Estamos acordes com Lane(2009) quando critica a psiquiatria como tendo uma concepção estreita de normalidade, não tolerando a diferença. E, igualmente, quando diz que a indústria farmacêutica, simplificou demais as dificuldades humanas e tem soluções falsas: tudo virou transtorno e que há que se estar atento à cultura da droga como solução para as dificuldades do viver humano. 2. Outro lado- a busca de prazer enquanto o consumo, com sua quantidade de atrações, de chamamentos Para Lane(2009) muito do hedonismo de hoje é uma forma de desespero e desilusão. Esses chamamentos tendem a levar a uma vivência do ter, a um voltar-se para fora, em contraponto ao ser, o voltar-se para si próprios(Manzini-Covre,2006) 3. Vale reter sua afirmação – de que, se o paciente não sabe brincar, cabe ensiná-lo; se é o clínico que não sabe, cabe retomar sua formação( Winnicott,1975). E isso, pensamos nós, vale para repensar todos os formadores – pais, professos, médicos etc. Retenhamos a questão da criatividade no setting do holding, sua imensa serventia na clínica strito senso, mas também na clínica do social, e um destaque de seu uso possível na pugna cultural ampla(ManziniCovre,2006). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bion,W Bion, W, Conferências Brasileiras, São Paulo, Ed Imago, l991 Bobbio, N. Esquerda direita, São Paulo Relume -Dumara, 1995 Freud, S O homem dos Lobos, in Obras Completas de Sigmundo Freud, RJaneiro,Imago Edit, 1994, 3ª Ed. Guntrip,H. Mi esperiencia analítica com Fairbain y com Winnicott, The International Review Of Psychoanalysis, vol 2, part 2 ,1975 Hegel, G. Fenomenología del Espiritu, México, Fondo de Cultura, 1965 Lane, C., “Skyness”, Yale, Yale University Press, 2009 Little, M. Ansiedades Psicóticas e Prevenção, Rio de Janeiro,Imago, 1992 Mello Filho , J. 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