Sonhos
Depois que a alma penada deixou de aparecer nos meus sonhos e passou a me
visitar no estado de vigília, comecei a sonhar com uma mulher que vive em Portugal.
Apesar de não ser a mulher dos meus sonhos, ela é bem mais bonita que a mulher
dos meus sonhos e, nos últimos dias, sempre aparece nos meus sonhos. Ora usa
um vestido vermelho, curto e decotado, a mostrar as curvas do seu corpo sensual,
ora usa um tailleur azul celestial, bem composto, a esconder todas as curvas do seu
corpo. Um lado dela é paixão, o outro é devoção, ambos interessantes. Ela tem
muitos outros lados, mas estes dois são marcantes. Gostaria de conhecer uma
pessoa assim no estado de vigília. Vou tentar transcrever para o papel alguns
trechos dos diálogos mantidos com ela nos sonhos, quando ela está vestida de azul.
– Você tem consciência de que estamos sonhando, pergunto a ela.
- Eu tenho uma “dúvida” muito séria a respeito do que é sonho e do que é realidade,
responde-me a bela portuguesa.
- Você confunde os dois?
- Eu não os confundo, ela responde calmamente e muito segura de si. Apenas acho
que este aqui é o mundo real e o outro, o que vivemos quando estamos acordados,
é o mundo dos sonhos. Para mim os conceitos estão trocados.
- Agora você me confundiu, não entendi a sua colocação.
- O que é imortal: o espírito ou o corpo?
- O espírito é imortal, sobrevive à morte do corpo físico, respondi.
- Você está aqui em espírito, o seu corpo repousa na sua cama enquanto o espírito
faz suas expedições noturnas. Algumas vezes você lembra do que viveu aqui
durante a noite e acha que sonhou, mas na realidade o espírito está vivendo uma
das muitas experiências que realiza enquanto o corpo descansa durante o sono.
- Alguns cientistas sustentam a tese de que o sonho existe apenas no nosso
cérebro, não é uma realidade vivida pelo espírito humano, cuja existência eles
negam.
- Existem sonhos que podem ser classificados assim, enquanto outros são incursões
do espírito nos universos paralelos, tese admitida pela maioria dos cientistas que
estudam o assunto. Quanto à existência do espírito não existe necessidade de mais
provas do que as que já foram apresentadas.
- Segundo as suas palavras eu posso afirmar que os nossos espíritos estão vivendo
experiências reais neste momento. Neste caso, todas as noites eu estou tendo tal
tipo de experiência, todavia, não me lembro de sonhar diariamente. Como você
explica esta realidade?
- Nossos espíritos vestem corpos físicos para realizarem aprendizados durante
algum tempo, não seria conveniente que ele recordasse algumas de suas excursões
noturnas, tal recordação poderia afetar as experiências que ele necessita realizar no
estado de vigília. Em outras palavras eu poderia dizer que ele desejaria viver aqui e
não realizaria as suas tarefas como ser humano.
- Você tem sempre uma resposta para tudo. Apesar de serem lógicas eu não estou
convencido da veracidade das suas colocações. Como eu poderia examinar a
veracidade das suas afirmações?
- Leia os inúmeros trabalhos que os cientistas estão desenvolvendo sobre a
existência do espírito nos mais variados campos do conhecimento. Leia também as
várias abordagens dos cientistas e forme a sua própria opinião sobre o assunto.
- Deste lado da vida existem lugares onde podemos estudar os mais variados
assuntos?
- As escolas aqui são fantásticas, você pode escolher um curso e se estiver
capacitado poderá estudar assuntos que ainda não foram sequer abordados na
Terra.
Ela segurou a minha mão e me conduziu para um jardim lindo, parecido com a
Grécia antiga. Vários grupos de alunos passeavam neste jardim na companhia de
um mestre e dele recebem lições preciosas sobre os mais variados temas. Indaguei
a mim mesmo: seria a Vida uma escola eterna?
Marcos Antônio da Cunha Fernandes
João Pessoa, outubro de 2007.
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