D16-O PAPEL DAS CÉLULAS DA GLIA NA ATIVIDADE DO SISTEMA
NERVOSO
SOUZA1, Sara Raquel Garcia de; BARRENA2, Helenton Cristhian; ZANONI3;
Jacqueline Nelisis; PERLES4, Juliana Vanessa Colombo Martins.
E-mail: [email protected]
1- Especialista em Anatomia e Histologia, Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, PR.
2- Mestre em Ciências Biológicas (Biologia Celular), Universidade Estadual de
Maringá (UEM), Maringá, PR.
3- Doutora em Ciências Biológicas (Biologia Celular), Universidade Estadual de
Maringá (UEM), Maringá, PR.
4- Mestre em Ciências Farmacêuticas, Universidade Estadual de Maringá
(UEM), Maringá, PR.
Resumo
A proposta deste trabalho foi realizar levantamento bibliográfico que
proporcione maior conhecimento sobre as células da glia. Classicamente,
acreditava-se que as células da glia limitavam suas funções em nutrir e dar
sustentação aos neurônios. Atualmente sabe-se que essas células,
desempenham um importante papel na neuroplasticidade, além de atuarem na
migração de neurôniois durante o desenvolvimento no sistema nervoso. São
associados também às células da glia, a função de participar na formação da
barreira hemato-encefálica; sintetizar e liberar compostos neurotróficos e
participar da resposta imune inflamatória. No sistema nervoso entérico (SNE) as
células da glia entérica, ou células enterogliais, são muito semelhantes
morfologicamente e funcionalmente aos astrócitos encontrados no sistema
nervoso central (SNC), e expressam a proteína estrutural S-100 (proteína
ligante de cálcio) e a chamada proteína ácida fibrilar glial (GFAP), mudanças na
expressão dessas proteínas em células enterogliais podem ocorrer como
conseqüência de inflamação fisiológica, envelhecimento ou inflamações
patológicas, como aquelas provocadas em magacolon chagásico, colite
ulcerativa, doença de Crohn e diabetes. Dessa forma as células enterogliais
possuem papel relevante na fisiologia intestinal e a expressão dessas proteínas
pode auxiliar no estudo e identificação de patofisiologias gastrintestinais.
Palavras-chave: Células da glia, S-100, GFAP.
Introdução
As células gliais foram observadas pela primeira vez pelo patologista
alemão Rudlof Virchow (1846), como uma substância “macia, medular e de
natureza frágil”, contrastando com o tecido fibroso dos neurônios, como se
aquelas fossem a cola mantenedora destes, originando o nome neuroglia
(”nerve-glue”). Até a década de 50, a neuroglia era vista como um mero suporte
estrutural, à partir da década de 70 as células gliais começaram a ser vistas não
mais apenas como suporte mecânico e metabólico, mas também como uma
estrutura funcional no sistema nervoso central. As células da glia apresentam
diferentes tipos morfológicos, as células localizadas exclusivamente no sistema
nervoso central (SNC), incluem astrócitos, oligodendrócitos, micróglia e células
ependimárias1.
No sistema nervoso entérico (SNE) as células da glia entérica, ou
células enterogliais, são muito semelhantes aos astrócitos encontrados no SNC,
com o envelhecimento e o surgimento de doenças como diabetes e
enterocolites, a incidência de problemas gastrintestinais aumenta
drasticamente, acompanhados de severa diminuição do número de células
enterogliais no SNE2.
Atualmente diversas pesquisas vêm demonstrando que as células da
glia, desempenham papéis importantes na fisiologia do tecido nervoso e no
SNE estão envolvidas na patofisiologia de doenças que acometem o trato
gastrointestinal. A proposta deste trabalho foi realizar um levantamento
bibliográfico que proporcione um maior conhecimento sobre as células da glia.
Desenvolvimento
Classicamente, acreditava-se que as células gliais limitavam as suas
funções em promover defesa do sistema nervoso contra agentes patógenos,
remover neurônios mortos, formar a bainha de mielina, nutrir e dar sustentação
aos neurônios. Ao longo das últimas décadas, o conhecimento sobre o papel
das células da glia vem expandindo, essas células também apresentam as
seguintes funções: guiar os neurônios em sua migração e os axônios no seu
crescimento; diferenciação neural; manter a homeostase neuronal, regulando o
pH extracelular, tamponando os níveis de íons extracelulares como o K+, Na+ e
lactato; participar na formação da barreira hemato-encefálica, intermediando o
transporte de substâncias entre o sangue e os neurônios; sintetizar e liberar
compostos neurotróficos; formar tecido cicatricial em resposta à perda neuronal
e participam de respostas imune3.
Como o SNE de mamíferos é, em parte, histológica e funcionalmente
parecido ao sistema SNC, algumas das funções descritas para as células da
glia, são também verificadas para as células enterogliais. Estudo desenvolvido
por análise genética em pacientes portadores da doença de Hirschsprung
demonstrou que essa moléstia ocorra provavelmente devido a deficiência na
migração dos precursores neurais e enterogliais no período embrionário4. Outro
estudo demonstrou que o implante de células enterogliais acelerou a formação
das características da barreira hemato-encefálica nos capilares da medula
espinal de ratos5.
Assim como no SNC, estudos sugerem que as neurotrofinas podem ser
produzidas pela glia entérica para modular a expressão gênica neuronal e,
eventualmente, neurofenótipos entéricos. Pesquisas demonstraram que o fator
neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) facilitou a regeneração dos neurônios
da via motora e gerou novos neurônios entéricos a partir de células-tronco
neurais em tecido de granulação no local de anastomose em cobaia. Esses
dados demonstram a importância dos fatores neurotróficos na regeneração e
neuroplasticidade neural no SNE6. Esses achados vêm reforçar a similaridade
funcional da glia entérica com astrócitos do sistema nervoso central.
Atualmente as células da glia podem ser evidenciadas por meio de
várias técnicas que envolvem a marcação de proteínas específicas. É
conhecido que as células da glia expressam a proteína estrutural S-100
(proteína ligante de cálcio) um marcador panglial neural, e a chamada proteína
ácida fibrilar glial (glial fibrillary acidic protein - GFAP) que consiste em um
marcador de subpopulação de células da glia, principalmente expressas na
presença de fatores inflamatórios. O trato gastrointestinal é continuamente
exposto a uma variedade de estímulos, tais como antígenos bacterianos e
alimentos, considera-se então um estado de inflamação fisiológica em curso,
devido a essa situação, a expressão de GFAP foi relatada como sendo mais
elevada na glia entérica comparada à glia do SNC7.
Adicionalmente o aumento ou redução da expressão das proteínas
S100 e GFAP nas células da glia, pode ser indicativo de envelhecimento ou do
surgimento de algumas patofisiologias intestinais. Em estudos com ratos em
processo de envelhecimento foi observada uma perda de células gliais positivas
para S100 do plexo mioentérico8. Por outro lado o aumento da expressão de
GFAP por células enterogliais é observado em tecidos coletados de pacientes
portadores de colite ulcerativa e doença de Crohn1. Pacientes chagásicos
demonstraram perda significativa de S-100-imunorreativas, tanto em áreas
dilatadas, quanto não dilatadas de megacólon chagásico9. O diabetes também
está associado a alterações de expressão da proteína GFAP. Em estudo
utilizando modelo animal com diabetes induzido por estreptozootocina foi
observado uma diminuição da densidade de GFAP imunorreativa em quatro
semanas após o início do diabetes, seguido por uma queda ainda maior, após
12 semanas de evolução10.
Considerações finais
A partir dos dados compilados da literatura, torna-se evidente que na
última década foram feitas várias descobertas a respeito das células da glia e
enterogliais, entretanto é certo que ainda há muito a ser desvendado sobre
essas células. Dessa forma, o desenvolvimento de pesquisas em torno das
células da glia e dos mecanismos que envolvem o equilíbrio entre glia entérica
e neurônios entéricos, são de suma importância e podem contribuir para o
desenvolvimento de estratégias para o tratamento de anomalias neuronais, que
acarretem moléstias gastrintestinais.
Referências
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Porto Alegre: UFRGS, 1996.
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9 SILVEIRA, A. B. M. Glial fibrillary acidic protein and S-100 colocalization in the
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10 FURLAN, M. M.; MOLINARI, S. L.; MIRANDA NETO, M. H.
Morphoquantitative effects of acute diabetes on the myenteric neurons of the
proximal colon of adult rats. Arq.Neuro Psiquiatr. v.60, p.576–81, 2002.
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