À memória do Jorge Coutinho Mons. Domingos da Silva Araújo Comecei a familiarizar-me com o Jorge – assim lhe chamava e assim lhe chamo – quando, em agosto de 1962, recém ordenado sacerdote, foi trabalhar para o Seminário Menor, onde eu exercia funções desde agosto de 1959. Passei, desde então, a acompanhar o seu percurso, quer sacerdotal quer académico. Muitas pessoas conheceram o Cónego Jorge Peixoto Coutinho como professor e grande impulsionador das solenidades da Semana Santa, a que devotadamente se entregou. Eu conheci o Jorge prefeito e professor do referido Seminário. Conheci o Jorge poeta. Conheci o Jorge pintor. Conhecei o Jorge jardineiro. Conheci o Jorge capelão do Colégio de S. Caetano. Conheci o Jorge meu colaborador na Basílica dos Congregados, no serviço de confissões. Conheci o Jorge homem de fé e de oração que muitas vezes vi no oratório da residência onde convivemos. Conheci o Jorge homem de Igreja. Conheci o Jorge inconformado mas sempre muito trabalhador e muito bem intencionado. Conheci o Jorge perfecionista. Conheci o Jorge amigo da sã convivência, que integrou a Sociedade do Solar da Permanente Tesura, no Seminário Menor, e não faltava às Reuniões Sinodais, na Casa Sacerdotal da Rua de Santa Margarida. Conheci o Jorge não apenas reservado mas também brincalhão, com um sorriso que muito o caraterizava. Conheci o Jorge discreto, amável, respeitador, condescendente, mas também firme e humanamente duro sempre que as circunstâncias o exigiam. Conheci o Jorge solidário e atento às necessidades dos outros, alguns dos quais abusaram da sua bondade. Conheci o Jorge como Amigo, como grande Amigo, com quem partilhei anseios e preocupações. Dele tenho gratíssima memória e sinto imensamente a sua partida. Dele conservo, policopiado, o trabalho que apresentou na Universidade Gregoriana de Roma e me ofereceu. Dele conservo, com amável dedicatória, a tese de doutoramento sobre «O Pensamento de Teixeira de Pascoaes». Dele conservo também uma carta que, na linguagem que usávamos, enviou, de Roma, em outubro de 1963, aos membros da referida Sociedade. Terminava: «accipite multas salutates et fortes amplexus istius socii romani» (recebei muitas saudades e fortes abraços deste sócio romano). Que na companhia de Deus, na Comunhão dos Santos, continues, Jorge, atento ao meu peregrinar. Preciso muito de ti e não te esqueço. Usando a linguagem que não deixas de entender, também daqui te envio multas salutates et fortes amplexus.