MURIBECA DOS GUARARAPES O atual 2°. Distrito de Jaboatão é constituído pela vila de Prazeres, as praias de Piedade, Venda Grande, Candeias e Barra de Jangadas, pelas povoações de Muribeca e Curcuranas e parte do Jordão. Tem aproximadamente 108 km2. Muribeca – cujo vocábulo de origem tupi é uma corutela de MURI-BECA que significa a mosca importuna, o mosquito insistente ou persistente – era, em certa época, mais desenvolvida do que Jaboatão. Entrou, depois, numa fase de decadência, perdendo a categoria de vila, de município e de comarca, voltando novamente a pertencer a Jaboatão. Nos dias atuais casa vez mais se acentua sua decadência. DIVISÃO ADMINISTRATIVA 1911- Na “Divisão Administrativa” do Estado, o 2°. Distrito já figurava com o nome de Muribeca. 1933- Na “Divisão Administrativa” constante do “Boletim do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio”, o 2°. Distrito figura com o nome de N. S. DOS PRAZERES. 09.12.1938- No decreto – Lei estadual n°. 235, referente à “Divisão Administrativa”, voltava à denominação de MURIBECA ao 2°. Distrito. 31.12.1943 – Pelo Decreto – Lei estadual n°. 952, é novamente alterado o nome, passando de Muribeca para MURIBECA DOS GUARARAPES, denominação que se conserva até o presente. Esta mudança de nome sugeriu-a o historiador Mário Melo, porque existia em Sergipe uma cidade chamada Muribeca. 20.08.1962 – A lei n°. 907 transferiu para o povoado de Prazeres. FUNDADORES DE MURIBECA Muribeca teve a sua origem na sesmaria constante de uma légua quadrada (43,56Km2) de terra, dada, em 14.02.1958, ao alemão, natural de Utrech, Arnau de Holanda, nos limites Sul de Jaboatão, com a condição de construir um engenho no prazo de três anos e contribuir com 3% do açúcar que fabricasse. Arnau de Holanda cumpriu as condições exigidas e deu ao mesmo o nome de SANTO ANDRÉ, o santo padroeiro de sua capela. Filho de Barão de Rhenoburg e de sua mulher Margarida de Florença – irmã do Papa Adriano VI – esse fidalgo alemão, por motivos políticos, veio para Pernambuco no início de sua colonização e aqui se casou com D. Brites Mendes de Vasconcelos, pertencente à nobreza local e possuidora de grande fortuna. O Engenho Santo André deve ser o primeiro construído em terras jaboatonenses. Em 20.09.1577, a lisboeta, D. Brites já viúva de Arnau de Holanda, vendeu o engenho – moente e corrente – a João Peres por 35.000 cruzados (14 contos), reservando, porém, para si e o seu filho Agostinho de Holanda, uma parte das terras da concedida sesmaria dada por Duarte Coelho, nas quais construiu o ENGENHO NOVO DA MURIBECA. Do texto da escritura de venda engenho, nota-se a existência na localidade de algumas casas de moradores, “vindo daí a povoação e futura vila de Muribeca”. A povoação de Muribeca vem, pois, da segunda metade do século XVI, anterior à da cidade de Jaboatão 20.09.1577 pode ser considerada a data simbólica da fundação de Muribeca. Com o desenvolvimento do povoado, os moradores construíram uma capela sob invocação de N. S. do Rosário. Criada a paróquia em 1598 (mesma data da de Jaboatão), pelo bispo, Antônio Barreiros, desmembrada da de Olinda, a capela ficou servindo de matriz. Quando, em 1633, a povoação é invadida pelos holandeses, que saquearam e incendiaram as casas dos moradores, a igreja não escapou das depredações. Com muitos moradores foragidos e a povoação quase abandonada, somente no governo do pacífico Maurício de Nassau voltou Muribeca à sua normalidade. Recomeçaram, então, os atos religiosos, ocupando o cargo de vigário o Pe. João de Abreu. Como um dos signatários do manifesto contra os holandeses, deixou o paróquia em 1645. Nessa época, Muribeca era assim descrita pelo autor de REVOLUÇÕES DE PERNAMBUCO: “Muribeca dista dos Montes Guararapes uma légua. É uma pequena povoação, se bem que a freguesia seja grande em seu distrito, e de muitos moradores, oito bons engenhos de açúcar, em que se faz muita cópia dele, não poucos canaviais, fértil e abundante de mantimentos, porque neste território se planta e se colhe muita cópia de mandioca...”. “Tem a povoação coisa de 40 casas de moradores, porque os mais estão difusos por suas fazendas, granjas e engenhos por todo o contorno da freguesia. Tem uma igreja matriz e outra da invocação de S. Gonçalo. Passa junto da povoação um rio que se chama Muribeca...”. “Dista da povoação meia égua, um pequeno mosteiro de N. S. do Carmo, em que assistem alguns religiosos dessa Ordem. Fica distante do mar duas léguas e por esta causa é abundante de peixe, afora o que se pesca nos rios”. Em 30.03.1648, por patente dada pelos mestres-de-campo João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, criou-se uma capitania-mor, sendo nomeado para o posto o CapitãoMor Bernardo Marques de Pina. Em 1667, a freguesia de Santo Amaro de Jaboatão foi anexada a esta capitania-mor, sendo o seu capitão-mor o rico agricultor Fernandes Soares da Cunha, proprietário dos engenhos Muribeca, Tiúma e Guerra. Até 1698 Muribeca tinha como vigário o Pe. Agostinho Cabral de Almeida; nesse ano tomou posse o novo vigário, Pe. Francisco Ferreira da Costa. Em 1746, Muribeca tinha 17 capelas sob a jurisdição de sua matriz, tendo como vigário o Reverendo Licenciado João de Barros Rego; contava com 812 fogos, 3.899 habitantes, 9 engenhos moendo e 2 de fogo morto e a sua guarnição constava de três companhias de ordenanças com 302 praças; em 1857, a freguesia de Muribeca tinha 7.337 habitantes, inclusive 1.009 escravos e 150 estrangeiros; e, na época, havia cerca de 5.000 analfabetos; e em 1900, Muribeca tinha, aproximadamente, 8.000 habitantes. Datada de 11.05.1730, uma carta régia ordenava ao governo da capitania, a pedido do vigário de Muribeca, Pe. Antônio Gomes Baracho, que concluísse a obra de reconstrução da sua igreja matriz. A Paróquia de Muribeca teve também a sua Irmandade do SS. Sacramento, cujos estatutos somente foram aprovados em 14.05.1825, muito embora ela já existisse em 1696. Era seu pároco, por volta do ano de 1800, o Pe. João Paulo de Araújo, nascido no Recife. Cavaleiro da Ordem de Cristo e sacerdote ilustrado e de grande inteligência, no púlpito sempre demonstrou a sua capacidade, sendo considerado um dos grandes oradores do seu tempo. Além disso, gozava de grande estima e muita consideração. Em 1882 era vigário o Pe. João Vasco de Castro Aguiar. Outra carta de sesmaria recebeu Francisco Pereira do Ó, constante de 300 braças de terras em comprido por 600 de fundo, fronteiras dos engenhos Suassuna e Muribequinha; requereu a sua demarcação em 18.09.1813. Dos engenhos SANTO ANDRÉ E NOVO DA MURIBECA era proprietário o Capitão-Mor de Jaboatão e Muribeca José de Sá e Albuquerque que faleceu, em 1711, em Olinda, com quase cem anos. Esses imóveis e respectivas capelas já pertenceram, em 1597, ao avô dele que tinha o mesmo nome, Cavaleiro da Ordem do Cristo, o vereador mais velho da Câmara de Olinda e Fez parte do governo em 1597/1598, quando o bispo D. Antônio Barreiros governava inteiramente a capitânia. Seus filhos: Antônio de Sá e Albuquerque que por sua vez, tinha o mesmo nome do pai e do avô. Outros engenhos de Muribeca Em 1591 havia, nas proximidades de Muribeca, mais dois engenhos: o engenho Santo Antônio, pertencente a André Gonçalves Pinto, e o de N. S. da Boa Viagem dos Guararapes cujo proprietário, em 1656, o Capitão Alexandre de Moura e Albuquerque, doou o terreno para a construção da Igreja de N. S. dos Prazeres. Em 1630, no 2°. Distrito, já existiam 8 engenhos, sendo 5 movidos a bois e 3, a água, todos funcionando e moendo regularmente e são os seguintes: ENGENHO PERNANDUBA, de André Soares. ENGENHO MURIBECA, de D. Catarina de Albuquerque, o mais célebre porque em suas terras se desenrolaram as lutas contra o batavo invasor. ENGENHHOS SANTO ANDRÉ e SANTA MARIA, pertencentes a Antônio de Sá e Albuquerque, confiscados pelos holandeses e vendidos por eles ao português colaboracionista Gaspar Dias Ferreira. ENGENHO SÃO BARTOLOMEU, pertenceu a Fernão do Vale. ENGENHO GUARARAPES, também confiscado e vendido a Vicente Rodrigues da Vila Real; depois pertenceu ao Visconde de Guararapes. ENGENHO DE MANOEL BEZERRA; e o ENGENHO MOGOAIPE (Megahipe), de Luiz Marreiros, confiscado, mas não vendido por estar muito arruinado. Houve um segundo engenho com o nome de Megahipe. O primeiro, mais antigo, chamado desde 1860 de Megahipe de Baixo, do qual era o seu Senhor, o ex-prefeito do município, Humberto Lins Barradas. FORMAÇÃO POLÍTICA (*) Pela Lei Provincial n°. 1.805, de 13.06.1884, Muribeca, havia sido elevada à categoria de Vila e Município, cuja instalação se verificou no dia 8.09.1884, no consistório da Igreja de N. S. do Rosário, em cerimônia concedida pelo Coronel Francisco de Souza Leão, Presidente da Câmara Municipal de Jaboatão, de cujo termo ficou desmembrado. Foram os seus primeiros vereadores; Tenente Isidro Luiz Coelho Dos Santos, Coronel José Tomás Pires Machado Portela (eleito primeiro Presidente da Câmara), José Nogueira de Faria, Major Inácio Xavier Mendes da Silva, Alferes Pedro Inácio Pereira de Oliveira, Alferes Joaquim Irineu das Chagas Bezerra e Manoel Cavalcanti de Araújo. PREFEITO Com o advento da República, a Lei n°. 52 mandava que os prefeitos, em ato solene, considerassem seus municípios constituídos. E em ofício datado de 9 de janeiro de 1893, dirigido ao Governador, o prefeito de Muribeca Gabriel Germano d’Aguiar Montarroios comunicava que o Município havia sido constituído, conforme a lei. Tudo indica que este foi o primeiro prefeito do 2°. Distrito. INTERESSANTES POSTURAS O prefeito Gabriel Germano d”Aguiar Montarroios um homem operoso e dinâmico, tomou todas as providências necessárias para o êxito de sua administração. Em 17 de fevereiro de 1893, enviou um ofício ao governador, dizendo que no Município havia seis professores, oito praças na força municipal e anexava cópia da Lei n°. 1 (Regimento Interno de Conselho Municipal), com a cópia do Código de Posturas e o Orçamento do Município. Eis os mais interessantes artigos do Código de Postura: “Art. 1°. – As casas que tiverem de se edificar ou reedificar poderão ser levantadas de tijolo ou taipa, com altura de 15 palmos de soleira à cornija, pelos menos, tendo as portas com 10 palmos de altura e cinco de largura e as janelas as dimensões correspondentes, sob pena de serem os infratores multados em dez mil reis e a obra demolida à sua custa. Quando qualquer obra, deverá também requerer a sua cordeação, sob pena de serem os infratores serem multados em dez mil reis. (Naquela época chamava-se cordeação a medida do terreno que era feita por uma corda). Art. 11°. – Os proprietários de casas do povoado deste Município serão obrigados a construírem as calçadas de suas casas, de tijolo ou pedra, com um metro de largura e trazerem as frentes das mesmas caiadas e pintadas, sob pena de serem multados em dez mil reis e o dobro na reincidência. Art. 18 – Ninguém poderá, por atacado, comprar gêneros que venha apara as feiras, sob pena de serem os infratores multados em dez mil reis e oito dias de prisão. (Nas feiras, só depois de meio-dia, os ferreiros podiam vender por atacado). Art. 23 – Todo aquele que destruir arbustos, flores, etc. que se preste ou tenha utilidade pública, será multado em cinco mil ou dez dias de prisão. Art. 28 – Todo aquele que pronunciar palavras obscenas ou trajar indecentemente nas ruas do Município e seus povoados, será multado em dois mil reis, ou oito dias de cadeia. Art. 29 – Toda e qualquer pessoa que for encontrada vagando nesta localidade sem ocupação alguma, será presa por três dias, com trabalho de limpeza pública. Art. 44 – Todo aquele que for encontrado vendendo gênero falsificado ou corrompido, será multado em vinte mil reis e obrigado a lançá-lo para fora ou enterrá-lo. Art. 90 – O negociante que às pessoas já embriagadas vender aguardente ou outra qualquer bebida espiritual, será multado em cinco mil reis. Art. 101 – Todo aquele que vender bebidas espirituosas pagará de licença vinte mil reis. Art. 112 – É expressamente proibido: os jogos de maior ponto, 21, 31, assim como os de paradas. Os contraventores pagarão a multa de cinco mil reis e cinco dias de prisão. Art. 136 – É expressamente proibido dar-se tiros de bacamartes, de pistolas, etc. na cidade e povoados deste Município e bem assim soltar-se busca-pés; os infratores pagarão multa de cinco mil reis e o dobro na reincidência ou quatro dias de prisão. Art. 155 – Para “soltar fogos do ar pagará um mil reis e fogos de vista, dez mil reis” TRANGRESSÃO DA ORDEM Vejam como a emenda saiu pior que o soneto, como se diz na gíria, no caso deste ofício de 24 de março de 1894, enviado ao Governador: “Tendo reclamado a V. Excelência a respeito da necessidade de uma força policial neste Município, acontece que no princípio do mês p.p. apresentou-se uma força, composta de deis praças, comandada por um sargento, que sem ciência desta Prefeitura, apossou-se da Casa do Conselho, nela se instalando, como se fosse quartel, impedindo assim as reuniões do Conselho Municipal, tem cometido as maiores arbitrariedades, desacatando até os moradores pacíficos da localidade. Em vista disso venho recorrer a V. Excelência para que se designe de providenciar, como achar conveniente, a fim de que possa Conselho funcionar livremente em sua sede, e seja restabelecida a ordem neste Município. Saúde e Fraternidade. a) Gabriel Germano d’Aguiar Montarroios – Prefeito”. DISTRITOS O Distrito de BOA VIAGEM já pertenceu a Muribeca Dizia o art. 3° da Lei n°. 1811, de 27 de junho de 1884: “O Distrito da paz de Boa Viagem fica desmembrado do Município de Muribeca e, pertencendo, como dantes, ao Município de Recife”. Em 1895, Muribeca tinha dois distritos: N. S. do Rosário de Muribeca (1°) e N. S. do Loreto (2°). PRAZERES PASSA À SEDE Muribeca deixou de ser a sede do Município em virtude da Lei 128, de 28 de junho de 1895, cujo artigo 1° dizia: “Fica transferida a sede do Município de Muribeca, da Vila de igual nome, para a povoação de Prazeres, que se eleva à categoria de Vila”. Parece que, com a transferência da sede do governo, todos os funcionários públicos, inclusive professores, se transferiram também, pois o prefeito mandou um ofício ao Governador solicitando um professor do sexo masculino para a Vila de Muribeca, “onde a afluência de alunos é maior, por ter-se transferido a sede há pouco tempo para Prazeres, onde a freqüência é limitadíssima, ao contrário da antiga Vila”. ESTRADAS Em abril de 1878, o Diário de Pernambuco publicava a seguinte notícia sob o título VISITAS PRESIDENCIAL: “S. Excia. o Sr. Dr. Vice-Presidente da Província, acompanhado do Dr. Diretor das Obras Públicas, foi visitar, no dia 13 do andante, as obras da estrada que da estação dos Prazeres vai ter à povoação da Piedade e estão sendo executadas pelos emigrantes”. Prazeres, entretanto, ia-se desenvolvendo de tal maneira que pela Lei Estadual n° 158, de 1896, autorizava a despender-se a quantia de 22:000$000 (vinte dois contos de reis) com a construção de uma estrada de rodagem da estão de Prazeres aos povoados de Piedade e Venda Grande, hoje a atual Avenida Barreto de Meneses. E ainda a lei estadual n°. 395, de 1899, autorizou a contratar “uma linha de ferro carril por meio de tração animal ou elétrica de Prazeres a Venda Grande”. ILUMINAÇÃO PÚBLICA A primeira iluminação pública de Muribeca teve usa inauguração no dia 1° de maio de 1947. Constava de 17 lampiões a querosene e o consumo de três litros por noite. Em 1954, o prefeito Humberto Barradas inaugurou a iluminação elétrica, com a instalação de um motor-gerador. MINA DE COBRE Durante muito tempo correu a notícia da existência de uma importante mina de cobre em Muribeca, citada até em vários documentos oficiais. Examinado, porém, o local, verificaram que o metal não aparecia senão como um produto artificial, “visto que se acha em forma de botões”, em barro vitroso, onde também existiam fragmentos de carvão; o depósito era limitado e superficial, não sendo, por conseguinte, natural. EXTINÇÃO DO MUNICÍPIO Ainda era prefeito de Muribeca Gabriel Germano d’Aguiar Montarroios quando, em 30 de setembro 1895, foram realizadas eleições municipais e os eleitos foram: prefeito, Manoel Carneiro Leão; subprefeito, Tte. Cel. Manoel Celestino Mendes da Silva; conselheiros municipais: Capitão Antônio Belarmino dos Santos Leal, Major Francisco José Mendes Cahú, Capitão Gabriel Urcino d’Aguiar Montarroios, Tte. Manoel Sílbra. Todos assumiram os respectivos cargos no dia 15 de novembro de 1895. Tendo falecido o conselheiro Gabriel Urcino e tendo se retirado para Bonito o Cap. Antônio Belarmino dos Santos Leal, foram convocados os suplentes, Tte. Joaquim Irineu das Chagas Bezerra e Manoel Gomes de Farias. Em 30 de julho de 1897, 18 meses depois de ter tomado posse, o prefeito Manoel Carneiro Leão renunciou, enviando ao Governador o seguinte ofício: “Comunico-vos que nesta data passei o exercício da Prefeitura ao meu substituto legal Tte. Cel. Manoel Celestino Mendes da Silva, o que faço para os devidos fins. Saúde e Fraternidade, a) Manoel Carneiro Leão – Prefeito”. O verdadeiro motivo da renúncia foi este: o município sem renda, os contribuintes se negam a pagar os impostos por insinuação de mau conselheiro estranho ao Município; e, por essa razão, não tem sido pago integralmente os minguados ordenados dos empregados e sem poder, também, organizar a força Pública e o quadro dos professores”. Naturalmente tendo em vista essa caótica situação financeira, a lei estadual n°. 328, abaixo transcrita, extingue o Município de Muribeca: “O Congresso Legislativo do Estado de Pernambuco Decreta: 1°. – Fica suprimido o Município de Muribeca, devendo o seu território ser anexado ao Município de Jaboatão, com exceção do povoado de Pontezinha e do Engenho Santo Estevão que passarão a pertencer ao Município do Cabo. Art. 2°. – Revogam-se as disposições em contrário. Senado do Estado de Pernambuco, 23 de junho de 1898. AA) Francisco de Paula Correia de Araújo Presidente Interino Barão de Nazareth 1°. Secretário Suplente Augusto Coelho de Moraes 2°. Secretário Suplente Palácio do Governo do Estado de Pernambuco, em 7 de julho de 1898. a) Dr. Joaquim Correia de Araújo”. FORMAÇÃO JUDICIÁRIA Em 10.04.1894 é instalada a comarca de Muribeca, sendo o seu primeiro Juiz de Direito o Dr. Augusto Frederico de Siqueira Cavalcanti. Neste mesmo ano, estava como titular D. Ana Adelaide Duarte. No dia 3.06.1895, ele enviou ao Secretário de Justiça o seguinte ofício: “Cumprindo o que me recomenda V. Sa. Em seu ofício do 1°. Do corrente mês, e respondendo a circular do Exmo Dr. Governador do Estado, de 8 de novembro de 1894, nenhum caso de divórcio tem-se dado neste Município que foi instalado a 10 de maio do ano próximo findo. Saúde e Fraternidade. O juiz de Direito Maximiano Francisco Duarte”. Caso de divórcio. Na época, o que o Governador do Estado queria saber?! Depois que a sede do Município passou para Prazeres, em fevereiro de 1898 o Juiz de Muribeca era o Dr. Abdias César de Andrade. Já em 1894, existia na vila de Muribeca, na Rua do Rosário n°. 56, um cartório, cujo tabelião interno era Manoel Vicente de Albuquerque; essa interinidade passou, depois, para Francisco Pedro Gonçalves Bezerra. Em janeiro de 1896, o cartório já havia se mudado para a vila dos Prazeres. Também em 1894 estava instalada a Coletoria Provincial do município de Muribeca, tendo como coletor o Sr. Domingos Bandeira Mendes da Silva e, por escrivão, o Sr. Alfredo Mendes. JUÍZES DE PAZ DE MURIBECA O primeiro Juiz de Paz: Manoel Joaquim Batista; e a partir de 1955: 02.12.1955 – Ivan de Oliveira Dias – 1°. Suplente 29.12.1955 – João Silvestre Sales David Rodrigues do Nascimento – 2°. suplente 08.081958 – José Alfredo Mendes 11.08.1958 – Camerindo Xavier Mendes – 1°. Suplente José Eutímio Guimarães – 2°. Suplente 29.09.1964 – José Cavalcante da Silveira – 1°. Suplente 30.09.1964 – Wilson de Almeida Cruz 11.10.1966 – Pedro Nogueira de Farias – 1°. Suplente 07.02.1973 – Moisés Dias da Silva CARTÓRIO DO REGISTRO CIVIL DO 3°. DISTRITO (DEPOIS 2°.) DE MURIBECA Coube a Antônio Gonçalves Palangueta ser o primeiro Oficial do cartório do Registro Civil, cuja instalação, em 15.10.1888, coincide com a data em que tinham sido rubricados e autenticados os seus livros. Titulares do Cartório, a partir da morte de Antônio Gonçalves Palangueta: 06.12.1919 – É nomeado escrivão, com serventia vitalícia. Heronides Raposo da Cunha Rego Filho. 10.06.1927 – Luiz dos Santos Silva Medeiros assume o cargo. 04.09.1947 – Toma posse o novo titular Durvalino Mendes de Barros. 22.12.1947 – É empossada a escrevente juramentada Damiana Estelita Cavalcanti. 31.03.1948 – Assume interinamente o cargo de escrivão Severino da Costa Leão que, em 27.08.1954, é confirmado no cargo com serventia vitalícia. 31.07.1958 – Gessy de Arruda Câmara Barreto é nomeada Oficial substituta e, em 23.01.1959, é designada escrevente interina. 08.01.1959 – José Francisco de Arruda – Oficial do Registro Civil interino e, em 16.04.1959, em caráter vitalício. 12.04.1961 – José Hemetério do Rego Barreto é nomeado Oficial do Registro Civil e, em 14.03.1962, em caráter vitalício. 17.04.1973 – Manoel Tomaz Vila-Nova assume o cargo de Oficial do Registro Civil em caráter efetivo, removido de Jussaral. 23.07.1974 – Maria dos Prazeres de Ananias assume o cargo de escrevente e Ana Maria Acioly Cavalcanti assume também o cargo de escrevente em caráter efetivo, sendo hoje a Oficial Substituta. PRAZERES, CURCURANAS E PRAIAS Muribeca, a sede do Distrito, e Prazeres chamada Vila de N. S. dos Prazeres. A lei n°. 907, de 20.08.1962, transferiu a sede para a antiga vila que, pela lei do menor esforço, passou a chamar-se PRAZERES. Enquanto Muribeca, que tinha na agricultura o seu ponto alto, entrava numa fase de permanente decadência, principalmente depois do fechamento da Usina Muribeca, Prazeres galgava um período de franco desenvolvimento e crescimento, embora desordenado. Com a implantação do parque industrial à margem da Rodovia 101, acentuou-se ainda mais o seu desenvolvimento sob todos os aspectos, estando com elevada densidade demográfica. Em 1978, contava o 2°. Distrito com 172 indústrias de fins diversos, 948 casas de comércio diverso, 2 hotéis, 8 motéis, 81 bares e restaurantes e 41 consultórios médicos. Com eleitorado de 24.769 inscritos, votaram, no 2°. Distrito, nas eleições de 1976, 18.792 eleitores. HOSPITAL Em 8 de julho de 1968, inauguração do Hospital e Maternidade Santa Elisa, em Prazeres, tendo como diretor o Dr. Abimael Rodrigues da Cruz. A prefeitura mantém, também, um Posto Médico. BANCOS NO dia 1°. De julho de 1976 inaugurada, em Prazeres, a primeira agência bancária do 2°. Distrito, a do Banco Econômico S/A, tendo como gerentes os Srs. Ivaldo Santos Montarroios e José Fernandes de Magalhães. Oito dias após, a 9 de julho de 1976, nova agência bancária inaugurada, a do Banco do Estado de Pernambuco S/A (BANDEPE), cujo gerente é o Sr. Maurílio de Sousa Luna. Em Piedade, mais quatro bancos foram inaugurados. CLUBE INTERMUNICIPAL DOS GUARARAPES A principal agremiação social do 2°. Distrito é, sem dúvida, o Clube Intermunicipal do Guararapes. Construíram a sede em 72 dias, de 12 de outubro a 24 de dezembro de 1967. A sua primeira diretoria estava assim integrada: presidente – Nélio de Almeida Cruz; secretário – Paulo Tolentino de Freitas, e membros: Arlindo Ivo da Costa, Augusto Félix da Silva e Raul Martins. A administração de Nélio Cruz ainda se prolongou por mais três exercícios. MELANCIAS E CURCURANAS Curcuranas era o 2°. Distrito do município de Muribeca. Venda Grande pertencia ao 2°. Distrito, isto é, a Curcuranas. É lugar constituído de uma pequena povoação próxima a Muribeca, de origem muito antiga e, em tempos remotos, gozou de certa importância. Em 1537, Duarte Coelho havia dado as suas terras ao patrimônio da Câmara de Olinda. Um fato interessante: as melancias produzidas nas suas terras eram famosas; os governadores da Província de Pernambuco, Caetano Pinto de Miranda Montenegro e Luiz do Rêgo Barreto, enviaram melancias de Curcuranas para a sobremesa do príncipe regente do Brasil, o glutão D. João VI. De janeiro de 1813, a fevereiro de 1817 enviaram 3.450 melancias, o que dá uma média de 862 por ano. PRAIAS As praias de Piedade, Candeias e Barra de Jangada estão-se transformando numa continuação da de Boa Viagem. Depois dos melhoramentos (pavimentação, aberturas de artérias, construção de galerias pluviais, escolas etc.) com a aplicação de verbas do Projeto CURA, toda a área litorânea está passando por um desenvolvimento muito grande, com a construção de edifícios e uma valorização imobiliária que cresce dia-a-dia. Em Prazeres, também com verbas do CURA, muitas ruas, inclusive a Avenida Barreto de Menezes e a Aarão Lins, foram pavimentadas e construídos o Centro Comercial (Mercado) e o grande prédio da Sub-Prefeitura. VELOSO, VAN-HOEVEN FERREIRA. JABOATÃO DOS MEUS AVÓS, RECIFE, CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA MUNICIPAL 1982. *Texto elaborado por Alexandre Valdevino, graduado em História na UFPE.