MINAS GERAIS QUARTA-FEIRA, 2 DE ABRIL DE 2014 - 2 LEGISLATIVO Palestrantes dizem que transição democrática foi incompleta qNo segundo dia do ciclo de debates na ALMG, estudiosos discutem herança dos tempos de ditadura “O que resta da ditadura entre nós? Muita coisa ruim”, afirmou o jurista José Luiz Quadros Magalhães, um dos palestrantes do segundo dia do ciclo de debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar. O evento foi realizado no plenário da Assembleia Legislativa (ALMG). Ontem foram discutidas as políticas de transição da ditadura para a democracia e as heranças do período ditatorial. A Lei de Anistia e o caráter econômico por trás das decisões políticas que levaram ao golpe militar e ao seu fim permearam as palestras, conduzidas pelo deputado Paulo Lamac (PT). A desmilitarização da polícia é um debate que precisa ser enfrentado Quadros sustentou que a ditadura brasileira foi marcada por um teatro no qual se simula- va a democracia – e que o fim do regime militar seguiu o mesmo caminho. A falta de uma verdadeira ruptura com o regime teria garantido que certos mecanismos de distorção, encobrimento da verdade e manutenção de alguns grupos no Poder se mantivessem até hoje. Para ele, a herança desse período se manifestaria atualmente, por exemplo, na Polícia Militar. “Não dá para ter, em um regime democrático, uma polícia que é contra o povo, que diariamente humilha os mais pobres. Precisamos é de inteligência policial que seja usada para proteger a todos. A desmilitarização da corporação é um debate que precisa ser enfrentado”, defendeu. A Lei de Anistia, de 1979, que teria garantido “anistia ampla e irrestrita”, foi o principal tema abordado pelo doutor em direito Emílio Peluso Neder Meyer, professor-adjunto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, a lei teria sido gestada com a finalidade de garantir um pano de fundo que não permitiria a responsabilização individual daqueles que agiram em nome do regime. Ele salienta que não houve ações de relevo nas décadas de 1980 e GUILHERME BERGAMINI Participantes discutem, no plenário, as heranças do período ditatorial 1990 para garantir a responsabilização dos agentes, o que ressalta que a transição para o regime democrático teria sido incompleta. Dessa maneira, foi ajuizada, por familiares de vítimas do regime, uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), mas a decisão, datada de abril de 2010, foi no sentido de manter a anistia aos agentes – com sete votos a dois. O caráter econômico do golpe militar foi abordado pelo sociólogo Ronald Rocha, membro do Instituto 25 de Março. De acordo com ele, a década de 1960 foi o auge da expansão do capitalismo e o golpe teria sido um ajuste para consumar o processo de concentração de capitais. A crise internacional desse modelo econômico leva à crise do regime militar e seus agentes começariam, então, a pensar na transição. No entanto, esta teria sido incompleta. “Por isso, reformas sociais profundas não foram realizadas e uma transformação só poderá ser feita com a renúncia dessas heranças militares”, afirmou. Para fechar a manhã de debates, o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT) citou o filósofo alemão Herbert Marcuse: “A primeira condição para um escravo se libertar é ele ter consciência de que é escravo”. O parlamentar fez um paralelo com a necessidade de se ter conhecimento da história da ditadura para construir a democracia. Expositores pedem medidas para eliminar resquícios do regime de exceção Expositores do 2º dia do ciclo de debates Resistir Sempre, Ditadura Nunca Mais – 50 anos do Golpe Militar acreditam que o Brasil ainda precisa implementar uma série de medidas para eliminar os resquícios do regime de exceção. A permanência de práticas de tortura em órgãos policiais do Estado e sua postura repressiva em relação aos movimentos sociais foram discutidas ontem, durante o painel “Da redemocratização aos dias atuais: dilemas e perspectivas”, no plenário da ALMG. Para o procurador da República do Ministério Público Federal (MPF), Edmundo Antônio Dias, o Estado deve promover ações para a preservação da memória e para implementar procedimentos inerentes à justiça de transição relativa ao regime militar. Dias afirmou ainda que um dos caminhos para realizar a reabilitação do Estado seria a alteração dos nomes próprios que homenageiam os generais do regime militar. Ele citou projetos em tramitação na ALMG e na Câmara Municipal de Belo Horizonte que tratam dessa substituição. O professor Titular do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG, João Antônio de Paula, lembrou e homenageou o deputado Dazinho que “manteve uma atitude de dignidade pessoal sin- gular”. Ele também disse acreditar que a democracia atual é um “processo de transição. A PM e a Polícia Civil continuam torturando. Aqueles que mataram e torturaram em nome do Estado precisam ser punidos”. A coordenadora do Sindicato Único em Educação de Minas Gerais (SindUTE) e presidenta da Central Única dos Trabalhadores de Minas Gerais (CUT-MG), Beatriz Cerqueira, afir- mou que resquícios da ditadura ainda estão muito presentes nas praticas atuais do Estado de Minas Gerais. “Enfrentamos constantemente um Estado com face repressiva contra as lutas sociais, que criminaliza manifestações. Isso não é admissível. A polícia é o único aparato do Estado que chega até os movimentos. E a abertura para o diálogo só acontece durante as eleições”. PÁGINA PREPARADA PELA ASSESSORIA DE IMPRENSA DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MINAS GERAIS PODERES DO ESTADO Executivo GOVERNADOR ANTONIO AUGUSTO ANASTASIA Legislativo DEPUTADO DINIS PINHEIRO Judiciário DESEMBARGADOR JOAQUIM HERCULANO RODRIGUES Secretária de Estado de Casa Civil e de Relações Institucionais MARIA COELI SIMÕES PIRES Diretor-Geral da Imprensa Oficial EUGÊNIO FERRAZ MINAS GERAIS ÓRGÃO OFICIAL DOS PODERES DO ESTADO Editor-Geral AFONSO BARROSO DE OLIVEIRA IMPRENSA OFICIAL Av. Augusto de Lima, 270 Correspondências: Rua Espírito Santo, 1040 CEP 30160031 -Belo Horizonte Telefone Geral: (31) 3237-3400 • Redação: (31) 3237-3453/3464 • FAX: (31) 3237-3501 • E-MAIL: [email protected] • DISPONÍVEL NA INTERNET NO ENDEREÇO: www.iof.mg.gov.br