Aguinaldo Héber Nogueira Jorge Rodrigues de Araújo POR QUE INVESTIR EM SMART GRIDS? Belo Horizonte-MG 2013 AGRADECIMENTOS Agradecemos à Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) pelas colaborações prestadas durante a realização deste trabalho, principalmente à Superintendência de Desenvolvimento e Engenharia da Distribuição – TD, responsável por conduzir, em parceria com instituições, universidade e a iniciativa privada, o projeto-piloto Cidades do Futuro; e à Gerência de Planejamento de Subestações e Linhas da Distribuição (PE/PL), que, constantemente, se apresenta como parceira em diversos trabalhos. 2 LISTA DE TABELAS TABELA 1 Nível de maturidade e tendência de desenvolvimento de algumas tecnologias aplicadas às redes inteligentes de energia elétrica .......... 15 TABELA 2 Empreendimentos em operação segundo a fonte geradora ............... 18 TABELA 3 Evolução, por nível de tensão, da estrutura da rede básica do Sistema Interligado Nacional 2007-2011 (km) ...................................................19 TABELA 4 Empresas fornecedoras de energia elétrica no Brasil com mais de 1 milhão de unidades consumidoras atendidas em 2012 .......................20 TABELA 5 Alguns projetos-pilotos de concessionários do serviço de distribuição de energia elétrica para desenvolver a tecnologia Smart Grid no Brasil ...25 TABELA 6 Projetos e investimentos realizados/previstos em projetos de P&D sobre rede elétrica inteligente no Brasil ...............................................30 TABELA 7 Contratos de concessão de distribuidoras a vencer entre 2014 e 2017 32 TABELA 8 Desembolsos do BNDES por setor 2010-2012 ....................................32 QUADRO 1 Algumas das principais iniciativas internacionais para o desenvolvimento das redes inteligentes ...............................................17 3 LISTA DE FIGURAS E ILUSTRAÇÕES FIGURA 1 Indicadores da qualidade do fornecimento de energia elétrica no Brasil 2000-2011 ................................................................................23 GRÁFICO 1 Percentual de perdas em relação à energia injetada no Sistema Global das 64 distribuidoras brasileiras 2000-2011 ...........................21 4 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABRADEE AFD AMI ANEEL APL ASSESPRO BID BM BNDES BP GLOBAL CEMIG COFINS DEC DIC DLR DMIC DRC DRP EPE ERAC ERP ESMIG ETE FMC ETPSG FACTS FAI FEC FIC FIRJAN FNDCT FUMSOFT GPRS HVDC ICMS IEA IEBT IESO INATEL JICA KV MCTI MME MP Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica Agência Francesa de Desenvolvimento Advanced Metering Infrastructure Agência Nacional de Energia Elétrica Arranjo Produtivo Local Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação Banco Interamericano de Desenvolvimento Banco Mundial Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social British Petroleum Global Companhia Energética de Minas Gerais Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora Duração de interrupção individual por unidade consumidora Dynamic Line Rating Duração Máxima de Interrupção Contínua por Unidade Consumidora ou Ponto de Conexão Duração Relativa da Transgressão de Tensão Crítica Duração Relativa da Transgressão de Tensão Precária Empresa de Pesquisa Energética Esquemas Regionais de Alívio de Carga Enterprise Resource Planning European Smart Meters Industry Group Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa European Tecnology Platform Smart Grid Flexible AC Transmission Systems Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora Frequência de interrupção individual por unidade consumidora Federação das Indústrias do Rio de Janeiro Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico Sociedade Mineira de Software General Packet Radio Service High Voltage DC Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços International Energy Agency Instituto para o Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica Independent Electricity System Operator Instituto Nacional de Telecomunicações Japan International Cooperation Agency Quilovolt Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação Ministério de Minas e Energia Medida Provisória 5 ONS P&D PADIS PASEP PCH PIS PLC REIDI RMBH SCADA SIN SINDIFORMG SOFTEX SUCESU TI TIC UNIFEI WAAPCA WAMS WASA Operador do Sistema Nacional Pesquisa e Desenvolvimento Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores Programa de Formação do Patrimônio do Funcionário Público Pequena Central Hidrelétrica Programa de Integração Social Powerline Communication Regime Especial de Incentivo ao Desenvolvimento à Infraestrutura Região Metropolitana de Belo Horizonte Supervisory Control and Data Acquisition Sistema Interligado Nacional Sindicato das Empresas de Informática de Minas Gerais Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro Sociedade dos Usuários de Informática e Telecomunicações Tecnologia da Informação Tecnologia da Informação e Comunicação Universidade Federal de Itajubá Wide-Area Adaptive Protection, Control and Automation Wide-Area Monitoring Systems Wide-Area Situational Awareness 6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................8 2 A TECNOLOGIA SMART GRID .......................................................................... 12 2.1 Conceito, características e aplicações .............................................................. 12 2.2 Setores tecnológicos relacionados .................................................................... 13 2.3 Iniciativas Internacionais ................................................................................... 16 3 O DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA SMART GRID NO BRASIL .......... 18 3.1 Mercado de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica ................ 18 3.2 Perdas de energia e qualidade do serviço de fornecimento .............................. 21 3.3 Principais Iniciativas .......................................................................................... 23 3.4 Diferenciais competitivos de Minas Gerais ........................................................ 25 4 INVESTIMENTO E FINANCIAMENTO ................................................................ 29 5 CONCLUSÕES .................................................................................................... 34 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 37 ANEXOS ................................................................................................................. 42 7 1 INTRODUÇÃO A energia elétrica é assunto da ordem do dia na agenda brasileira, haja vista o recente esforço do Executivo federal para reduzir seu custo de comercialização, estabelecendo um novo marco regulatório para o setor. À parte das controvérsias que circundam o modelo adotado, primariamente ancoradas na falta de diálogo entre o poder regulador e as empresas concessionárias no que se referiu à sua concepção e instituição, reconhece-se, em última instância, como louvável o objeto da medida: baratear o custo das atividades de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no País. A redução na conta de luz alcançou tanto os consumidores domésticos como o segmento industrial. Para aqueles, a tarifa aplicada foi reduzida em média 18%, contribuindo para a modicidade tarifária. Já para a indústria, há décadas carente de competitividade, a redução desse importante insumo industrial foi ainda maior (32% em média), superando a meta de 28%. O resultado concreto da medida, ainda que obtido por forte intervencionismo estatal e às turras com os concessionários do serviço, é indubitavelmente relevante, em que pese os altos preços praticados no Brasil. Uma pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN) em 2011 demonstrou que a tarifa média brasileira era, naquele ano, 50% superior à média de 28 países selecionados. A redução obtida, em vigor a partir de 2013, aproximou sobremaneira a tarifa nacional dessa média, mas, ainda assim, manteve-se acima dela. Seja pelo crescimento populacional, seja pelo desenvolvimento econômico das nações – e consequente melhoria da qualidade de vida de seus cidadãos, que ao atingirem um maior patamar de consumo passam a demandar cada vez mais bens e serviços – é sabido que o consumo de energia vem crescendo amplamente ao longo dos tempos. A International Energy Agency (IEA), ao comparar o consumo da década de 1970 e dos dias atuais, demonstra que o fornecimento mundial de energia primária (aquela ainda não submetida a qualquer processo de transformação ou conversão) mais que duplicou de 1973 a 2010 (IEA, 2012). Somente de 2001 a 2011, o consumo global de energia primária registrou aumento de 30,11%, quando passou de 110 milhões de GWh para 143 milhões de GWh (BP GLOBAL, 2012). No que tange especificamente à produção de energia elétrica, o crescimento foi ainda maior (40,77%), passando de 15,7 milhões de GWh no 8 primeiro para 22 milhões de GWh no último ano do interstício considerado (BP GLOBAL, 2012). A expansão acentuada do consumo de energia traz, contudo, preocupações, como a finitude dos recursos utilizados na sua produção, o impacto ambiental causado por essa atividade (principalmente quando utilizadas fontes não renováveis de energia, responsáveis pela emissão de gás carbônico na atmosfera e, por conseguinte, pelo agravamento de sérios problemas climático-ambientais como o efeito estufa), além da necessidade permanente de se investir na modernização das plantas geradoras e na construção de novas capazes de atender a demanda crescente. No que concerne às empresas, uma das principais maneiras para conter os efeitos do consumo acentuado é o estímulo à eficiência energética. Para isso, investe-se cada vez mais em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para a melhoria de equipamentos e instalações, buscando-se, continuamente, a utilização econômica dos recursos, evitando-se ao máximo a perda de energia. No caso da produção de energia elétrica, a edição da Medida Provisória 579, posteriormente convertida na Lei 12.783/2013 e que promoveu a redução nas tarifas de energia elétrica mencionada, tornou o ambiente das empresas do setor elétrico notadamente mais turbulento. Praticamente todas as concessionárias apresentaram queda em suas ações negociadas na Bolsa de Valores, já que a implementação das medidas redutoras certamente se converterá em impactos na receita dessas empresas. Diante desse cenário, é esperado que se tenha uma revisão dos projetos de investimento por parte da maioria delas, priorizando aqueles otimizadores dos recursos humanos disponíveis e que, concomitantemente, tragam benefícios para o sistema como um todo. Dentre os projetos com esse tipo de retorno esperado, tem ganhado destaque a discussão acerca dos chamados Smart Grids (termo em inglês que se refere às “redes inteligentes” de energia), adotados para aumentar a eficiência das redes elétricas. Uma rede inteligente, segundo definição da European Tecnology Platform Smart Grid – ETPSG, é “uma rede elétrica que pode, inteligentemente, integrar as ações de todos os usuários conectados a ela (geradores, consumidores e aqueles que desempenham ambos os papéis), promovendo, eficientemente, um 9 fornecimento de energia elétrica sustentado, econômico e seguro” (ETPSG, 2012, p. 27, tradução nossa1). As características básicas de uma rede inteligente são, portanto, a autonomia atribuída à rede e a conectividade propiciada a todos aqueles que a compõe. As informações referentes ao transporte de energia passam a ser monitoradas e disponibilizadas constante e automaticamente, a partir da incorporação ao sistema de fornecimento de uma infraestrutura de telecomunicação que permeia toda a rede. Um equipamento-chave nessa estrutura são os medidores eletrônicos, utilizado, principalmente, no campo da distribuição. Esses aparelhos são responsáveis por possibilitar a captura, o armazenamento e o envio dos dados referentes ao consumo de energia de uma unidade consumidora, sendo que, por meio dele (e de meios de comunicação adequados), será possível, por exemplo: (i) operacionalizar, de maneira remota, o fornecimento de energia; (ii) monitorar a qualidade do serviço; (iii) reduzir o tempo de reparos em casos de interrupção do fornecimento; (iv) permitir ao consumidor atuar como produtor de energia; dentre outras funcionalidades (MME, 2012, p. 50). Não obstante os benefícios das redes inteligentes encontrarem-se espraiados por toda a cadeia de fornecimento, as maiores mudanças advindas com a sua adoção estão, todavia, concentradas na ponta do sistema: consumo final de energia. Para os prestadores do serviço (empresas de geração, transmissão e distribuição), os principais benefícios na utilização do Smart Grid residem na maior confiabilidade e autonomia do sistema, com redução das perdas técnicas e nãotécnicas (furto de energia, por exemplo). Os consumidores, por sua vez, têm seu papel totalmente modificado na estrutura, podendo, inclusive, injetar carga no sistema por meio da geração distribuída. Outros benefícios incluem o maior controle do próprio consumo e do nível de qualidade do serviço, além da flexibilização tarifária. Diante do exposto, tem-se como objetivo deste texto promover uma discussão acerca do desenvolvimento das redes inteligentes no País, apresentando os principais conceitos e requisitos dessa tecnologia, os benefícios advindos com a sua implementação, as medidas regulatórias norteadoras, bem 1 “A Smart Grid is an electricity network that can intelligently integrate the actions of all users connected to it – generators, consumers and those that do both – in order to efficiently deliver sustainable, economic and secure electricity supplies” (ETPSG, 2012, p. 27). 10 como os principais aspectos de sua viabilidade em face do cenário mais adverso promovido pela Lei 12.783/2013. 11 2 A TECNOLOGIA SMART GRID 2.1 Conceito, características e aplicações O termo Smart Grid foi inicialmente utilizado pelos pesquisadores Amin e Wollenberg no ano de 2005 (MME, 2012). Atualmente, várias características são utilizadas para defini-lo. De maneira geral, a caracterização das redes inteligentes de energia encontra-se ancorada em elementos eletrônicos de monitoramento e controle relacionados às redes elétricas, possibilitando, de forma autônoma, uma constante troca de informações entre usuários e fornecedores. Alguns atributos podem ser conferidos a essas redes, conforme definição do Departamento de Energia americano e apresentada por Cunha (2011, p. 24). Dentre eles, destacam-se: o seu caráter inteligente, por sua capacidade de antecipar sobrecargas e contingências e encontrar autonomamente uma forma de redirecionar o fluxo de potência; a sua eficiência, por atender aumentos de demanda sem adição de ativos; sua flexibilidade, ao prover a conexão de qualquer tipo de fonte de geração ou elemento de armazenagem; seu caráter motivador, pela sinalização instantânea de preços aos consumidores; e por serem ambientalmente de menor impacto. Em termos conceituais, será adotado, neste trabalho, o conceito da ETPSG apresentado anteriormente, que define Smart Grid como “uma rede elétrica que pode, inteligentemente, integrar as ações de todos os usuários conectados a ela (geradores, consumidores e aqueles que desempenham ambos os papéis), promovendo, eficientemente, um fornecimento de energia elétrica sustentado, econômico e seguro (ETPSG, 2012, p. 27, tradução nossa)”. A rede poderia, dessa forma, monitorar e controlar, autônoma e eficientemente, todo o transporte de energia, desde a fonte geradora até o consumidor final, modificando por completo tanto a entrega quanto à fruição do serviço. Observa-se, primeiramente, o maior grau de confiabilidade e segurança que é atribuído ao fornecimento de energia. A introdução de sensores e controles automatizados torna a rede capaz de antecipar, detectar e resolver problemas no sistema. Em caso de interrupções, por exemplo, o acompanhamento das informações em tempo real possibilita o isolamento das áreas afetadas e o redirecionamento do fluxo de energia de forma a manter o maior número possível 12 de consumidores atendidos. Em alguns casos, o reestabelecimento da energia pode ocorrer, inclusive, autonomamente. Outra vantagem é que passa a ser possível a alocação de diversas formas de geração à rede, como biomassa, eólica, fotovoltaica, Pequena Central Hidrelétrica (PCH), dentre outras. Neste caso, os consumidores poderão não apenas comprar essa energia, mas também vender o excedente produzido. As possibilidades de armazenamento e realocação da energia gerada em excesso também são ampliadas. A relação entre fornecedores e clientes é inteiramente transformada, devido à maior gama de informações que a rede inteligente disponibiliza em caráter instantâneo. Os usuários finais passam, assim, a ter um papel mais proativo sobre o serviço, acompanhando mais detalhadamente o gerenciamento da rede. Isso permite um maior controle do consumidor sobre o seu próprio consumo, estimulando-o a evitar os horários de pico, em que a tarifa se faz mais elevada. Em consequência, tem-se uma menor sobrecarga do sistema. O ANEXO A demonstra a evolução do sistema de distribuição de energia elétrica, evidenciando a incorporação gradativa dos meios de comunicação no gerenciamento do mesmo. 2.2 Setores tecnológicos relacionados A implantação das redes inteligentes baseia-se, sobremaneira, na captação, processamento, transmissão e armazenagem de dados de diversas fontes. Para isso, fazem-se necessários dispositivos variados de medição e comunicação, equipamentos de acionamento e controle, sistemas de comunicação de dados e sistemas computacionais para que a rede opere eficientemente frente ao grande volume de dados gerados (MME, 2012). Esses dispositivos devem operar de maneira integrada, comunicando-se facilmente por meio de uma interface de comunicação comum. Devido à utilização de equipamentos e softwares de diferentes fornecedores, é mister a adoção de um protocolo público, aberto e padronizado de comunicação (MME, 2012). Existe, assim, uma grande interseção entre diversos setores tecnológicos, com destaque para aqueles relacionados à cadeia eletroeletrônica e ao segmento de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). O grau de exigência quanto à aplicação dos produtos de cada 13 setor varia ao longo da cadeia de fornecimento e pode ser visualizado no ANEXO B. Nas áreas de geração e transmissão, destacam-se os sistemas e os equipamentos de monitoramento e controle de grandes áreas, responsáveis por avaliar, em tempo real, o comportamento e a performance das operações. O gerenciamento promovido por esses sistemas facilita a integração das operações, ajuda a evitar interrupções no fornecimento e melhora a capacidade e confiabilidade da transmissão. Os principais sistemas que auxiliam essas atividades baseiam-se no Supervisory Control and Data Acquisition (SCADA), que, conforme Cunha (2011), vem, historicamente, sendo utilizado na automação dos sistemas de distribuição, objetivando tornar as subestações não assistidas. Outros sistemas, contudo, são apontados pela IEA (2011) para o gerenciamento dos ativos de geração e transmissão de energia como: Wide-Area Situational Awareness (WASA); Wide-Area Monitoring Systems (WAMS); e Wide-Area Adaptive Protection, Control and Automation (WAAPCA). Especificamente para a área de transmissão, diversas outras tecnologias estão sendo desenvolvidas como a Flexible AC Transmission Systems (FACTS), usada para melhorar o controle sobre as redes de transmissão e maximizar a capacidade de transferência de energia; a Dynamic Line Rating (DLR), que usa sensores capazes de identificar, em tempo real, a capacidade de condução de carga de uma seção determinada da rede, além de minimizar os riscos de sobrecarga das linhas; a High Voltage DC (HVDC), usada para conectar plantas offshore de energia eólica e solar a grandes centros de carga; dentre outras (IEA, 2011). No que se refere à distribuição, a principal tecnologia desenvolvida remete à Advanced Metering Infrastructure (AMI), cujo mérito basal consiste em estabelecer, através de um medidor inteligente2, um fluxo bidirecional de informação entre usuários e prestadores do serviço acerca de como a eletricidade é consumida ou gerada. Outras funcionalidades dessa tecnologia referem-se à habilidade de coletar, armazenar e enviar dados sobre o consumo de energia em intervalos regulares de tempo, podendo chegar a praticamente em tempo real; à capacidade de identificar, remotamente, a falta de abastecimento elétrico e a extensão do 2 De acordo com o European Smart Meters Industry Group (ESMIG), citado pela International Energy Agency (2011, p. 18), para que um medidor seja considerado “inteligente”, é necessário que ele apresente, pelo menos, as seguintes funções: leitura remota, comunicação bidirecional, sistema avançado de tarifação e pagamento, e ligação e corte do fornecimento de energia remotos. 14 dano, assim como a perda e o roubo de energia; à possibilidade de realizar, também remotamente, ligações e cortes de energia; dentre outras (IEA, 2011, p. 18). A infraestrutura de comunicação e informação, por sua vez, transpassa toda a rede, integrando todos os equipamentos e softwares utilizados na transmissão de dados. Aqui, são requisitados, em termos de hardware, computadores (servidores), roteadores, relés e switches, além de softwares como o Enterprise Resource Planning (ERP) e de informações do consumidor (IEA, 2011). Para o tráfego devido dos dados e informações, diversos meios de comunicação são utilizados, que variam de acordo com o volume de dados e o custo. Para a transmissão de dados dos consumidores para os medidores eletrônicos e destes para os concentradores (equipamentos responsáveis por concentrar as informações de diversos consumidores), por exemplo, utiliza-se, principalmente, a comunicação pela linha de potência Powerline Communication (PLC) e a radiofrequência, que são meios primários para a comunicação em nível local. Já para a troca ocorrida entre os concentradores e as distribuidoras, fase com maior volume de dados e com raio de comunicação significativamente mais amplo, a comunicação pode ocorrer por GPRS (General Packet Radio Service), PLC, fibra ótica ou por satélite (MME, 2012). Cabe ressaltar, todavia, que as tecnologias apresentadas nesta seção encontram-se em estágios diversos de desenvolvimento, possuindo níveis variados de maturação. Algumas delas ainda carecem, inclusive, de demonstração efetiva de resultados ou de aplicação em larga escala. A TAB. 1 a seguir evidencia essas informações. TAB. 1 - Nível de maturidade e tendência de desenvolvimento de algumas tecnologias aplicadas às redes inteligentes de energia elétrica Nível de Tendência de Área tecnológica Maturidade Desenvolvimento Sistemas de monitoramento e controle de grandes áreas Em desenvolvimento Rápido Tecnologia da Informação e Comunicação Maduro Rápido Aplicativos para linhas de transmissão Maduro Em desenvolvimento Maduro Moderado Sistemas de gerenciamento da distribuição Infraestrutura de Medição Avançada Moderado Rápido Fonte: Adaptado de IEA (2011). 15 2.3 Iniciativas Internacionais O desenvolvimento da tecnologia Smart Grid encontra-se, naturalmente, em estágios diferenciados ao longo do globo. Algumas nações desenvolvidas como os EUA e o Canadá, além de alguns países europeus já têm internalizado o conceito e os possíveis benefícios a serem trazidos pela implantação dessas redes inteligentes de energia, liderando, destarte, o processo de P&D dos recursos tecnológicos requeridos. No Canadá, desde 2010, praticamente todos os pequenos negócios e casas possuem medidores eletrônicos, conforme determinação do governo do estado de Ontário (IESO, 2011). Já nos EUA, Cunha (2011) destaca que as medidas de incentivo tiveram início em 2005 com a Energy Policy Act que contemplava a implantação de medidores inteligentes e tarifas variáveis, incentivos para a redução da demanda e o desenvolvimento de tecnologias mais avançadas para a transmissão. Em 2007, foi editado um segundo ato do governo norte-americano (Energy Independence and Security Act) especificamente voltado para o desenvolvimento das redes inteligentes. Os principais aspectos incluíam o apoio à modernização dos sistemas de transmissão e distribuição que caracterizassem o Smart Grid; o incremento do emprego de tecnologias digitais para melhorar a confiabilidade, a segurança e a eficiência das redes elétricas; disponibilização de tecnologias inteligentes para medição, comunicação e automação; disponibilização tempestiva de informações aos consumidores, dentre outras (CUNHA, 2011, p. 23). Em 2009, por fim, tem início um programa de investimentos robusto para o setor, com cerca de US$ 4,5 bilhões sendo destinados à infraestrutura Smart Grid, além de cerca de US$ 30 bilhões em benefícios fiscais e garantias de empréstimo ao setor elétrico – medidas contempladas no American Recovery and Reinvestment Act. Na Europa, Itália e Espanha são os países mais avançados no tema. A Itália, desde 2001, utiliza um sistema de gerenciamento remoto para a leitura, o faturamento e o monitoramento da qualidade do serviço de energia – o chamado Telegestore implantado pela ENEL (grupo italiano atuante na geração e distribuição de energia elétrica e gás natural). Trata-se de uma solução única em termos de medição inteligente colocada em operação em grande escala no mundo. A Espanha, por sua vez, determinou, em 2008, que as empresas de distribuição promovessem, sem custo adicional para o cliente, a substituição dos 16 medidores então existentes pelos chamados inteligentes (IEA, 2011). Com base no sistema italiano, a Endesa pretende implantar o gerenciamento autônomo de medição para mais de 13 milhões de clientes da rede de baixa tensão até 2015. Outra empresa espanhola, a Iberdrola, pretende substituir 10 milhões de medidores. Outros países, contudo, também têm despendido esforços importantes para a evolução de suas redes elétricas como China, Japão, Austrália e Coréia do Sul. O QUADRO 1, disposto a seguir, sintetiza algumas dessas iniciativas. QUADRO 1 - Algumas das principais iniciativas internacionais para o desenvolvimento das redes inteligentes País Iniciativas China Japão Coréia do Sul Austrália Inglaterra França O desenvolvimento das redes inteligentes na China faz parte de um grande plano de longo prazo do governo para melhorar a infraestrutura do país. As redes inteligentes são vistas como uma maneira de reduzir o consumo de energia, aumentar a eficiência da rede de energia elétrica e gerenciar a geração de eletricidade a partir de tecnologias renováveis. Segundo a State Grid Corporation, os investimentos atingirão pelo menos US$ 96 bilhões até 2020. A Federation of Electric Power Companies of Japan está desenvolvendo uma rede inteligente que incorpora geração de energia solar até 2020, com investimentos do governo de mais de US$ 100 milhões. O governo japonês anunciou uma iniciativa nacional para desenvolver a medição inteligente e diversas empresas de energia anunciaram programas para desenvolver a tecnologia Smart Grid. O governo sul-coreano, em parceria com a indústria, lançou um programa-piloto de US$ 65 milhões em Jeju Island para a implantação de um sistema de rede inteligente que integrará 6.000 famílias, parques eólicos e quatro linhas de distribuição. A intenção da Coréia do Sul é implantar as redes inteligentes de energia em todo o país até 2030. O governo da Austrália anunciou, em 2009, investimentos de 100 milhões de dólares australianos na iniciativa Smart Grid, Smart City, que visa estabelecer um projeto de demonstração da tecnologia Smart Grid em escala comercial. Esforços adicionais na área de geração renovável de energia têm contribuído para avançar no estudo das redes inteligentes. O Office of the Gas and Electricity Markets (regulador britânico do mercado de energia) lançou no país o projeto Registered Power Zone, que visa encorajar os distribuidores de energia a desenvolverem e implementarem soluções inovadoras que incentivem a geração distribuída. O órgão criou também um fundo (Low Carbon Networks) para apoiar projetos de distribuição que testem novas tecnologias. O distribuidor de energia elétrica francês ERDF está implantando, em um projeto-piloto, 300.000 medidores inteligentes, com base num protocolo avançado de comunicação chamado Linky. Caso o projeto seja bem sucedido, o operador substituirá todos os 35 milhões de medidores com essa tecnologia até 2016. Fonte: Adaptado de IEA (2011, p. 21). 17 3 O DESENVOLVIMENTO DA TECNOLOGIA SMART GRID NO BRASIL 3.1 Mercado de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica A matriz de fornecimento de energia elétrica no Brasil, conforme dados do Banco de Informações de Geração da ANEEL, conta com 2.762 usinas geradoras, que respondem por uma capacidade instalada de quase 131 GW. A oferta interna de energia origina-se, majoritariamente, por fontes renováveis de energia, com destaque para a geração hidráulica (TAB. 2). TAB. 2 - Empreendimentos em operação segundo a fonte geradora Nº de Capacidade Fonte % Usinas Instalada (MW) Hidro Gás 1.045 84.464 64,61% 146 13.514 10,40% 1.017 7.711 5,90% 450 10.224 7,82% Nuclear 2 2.007 1,54% Carvão Mineral 12 2.664 2,04% Eólica 90 1.965 1,50% - 8.170 6,25% 2.762 130.719 100% Petróleo Biomassa Importação Total Fonte: BIG/ANEEL; Atualização: 04/03/2013. Devido à proeminência das fontes renováveis, a matriz brasileira apresenta baixo impacto ambiental, principalmente no que se refere às implicações climáticas. O grande desafio, contudo, alude à expansão das fontes alternativas à hidroelétrica como biomassa, eólica e fotovoltaica. A ampliação da matriz norteia-se sobremaneira pela geração hidráulica (ainda de menor custo) e, devido ao esgotamento da capacidade de geração por fontes hídricas no Sudeste do País (maior centro consumidor), as unidades geradoras têm-se dirigido para regiões distantes dos centros de consumo (para a região Norte, principalmente), trazendo impactos ambientais consideráveis, como o deslocamento de populações indígenas, além de aumentar a necessidade de transporte da energia, que, naturalmente, acarreta perdas ao sistema. A expansão do parque transmissor fazse, portanto, necessária. A rede básica do Sistema Interligado Nacional (SIN) é formada por mais de 103 mil quilômetros de linhas de transmissão, administrados por 77 18 concessionárias (ABRADEE, 2013) e com capacidade instalada de pouco mais de 105 GW. A evolução de sua estrutura, por nível de tensão, apresentada na TAB. 3 a seguir. TAB. 3 - Evolução, por nível de tensão, da estrutura da rede básica1 do Sistema Interligado Nacional 2007-2011 (km) Tensão 2007 2008 2009 2010 2011 230kV 37.155,46 37.709,86 41.436,80 43.184,50 45.708,65 345kV 9.772,05 9.772,05 9.783,55 10.060,48 10.061,91 440kV 6.671,17 6.671,17 6.671,17 6.670,50 6.680,70 500kV 29.392,23 31.868,33 33.196,30 34.356,20 35.003,42 600kV *CC 3.224,00 3.224,00 3.224,00 3.224,00 3.224,00 750kV 2.683,00 2.683,00 2.683,00 2.683,00 2.683,00 SIN 88.897,91 91.928,41 96.994,82 100.178,68 103.361,68 1 Instalações com tensão maior ou igual a 230kV, somando-se ainda os ativos de conexão de usinas e interligações internacionais ligados diretamente à rede básica. *A extensão dos circuitos 600kV CC correspondem à extensão de cada bipolo, sendo que pode haver operação independente por polo. Fonte: ONS (2013). Segundo Cunha (2011), em virtude do porte do sistema, o Operador do Sistema Nacional (ONS) foi, ao longo do tempo, implantando tecnologias características das redes de energia inteligentes, a fim de melhor gerenciá-lo. Dentre essas inovações, o autor destaca: a) Operação com características autônomas de alívio de cargas suportadas por Esquemas Regionais de Alívio de Carga (ERAC); b) Operação em tempo real; c) Interligação com fibras óticas nos cabos para-raios, para proteção, comunicação interna e aluguel de fibras excedentes como serviço agregado; d) Interconexões entre várias bacias de geração hidráulica e também usinas termelétricas, tanto em corrente alternada como em corrente contínua; e) Medição fasorial sincronizada; f) Emprego de condutores para alta temperatura (termoresistentes ou com elementos poliméricos); g) Aplicações de dispositivos de eletrônica de potência para aumento da estabilidade e flexibilidade operativa; h) Estruturas projetadas para maximizar a capacidade de transmissão (linhas de potência naturalmente elevada); e i) Estudo de transmissão com linhas longas de ½ comprimento de onda (CUNHA, 2011, p. 53). 19 No mercado nacional de distribuição, observa-se o número de 64 empresas concessionárias do serviço de distribuição de energia elétrica (ABRADEE, 2013). Esse mercado demandará, para o desenvolvimento das redes inteligentes, a instalação de um grande número de sensores, medidores e aparelhos inteligentes, com aumento significativo dos dados disponíveis. Como ressaltado por Cunha (2011), a estrutura dos sistemas de informação precisa ser cuidadosamente dimensionada, a fim de que não se obtenha um desempenho insatisfatório por falta de capacidade. Por outro lado, o ganho de escala é considerável, tendo-se em vista o porte de algumas dessas empresas. Na TAB. 4, disposta a seguir, encontram-se os agentes com mais de 1 milhão de unidades consumidoras atendidas em 2012. TAB. 4 - Empresas fornecedoras de energia elétrica no Brasil com mais de 1 milhão de unidades consumidoras atendidas em 2012 Nº de Unidades Agente Consumidoras CEMIG-D - CEMIG Distribuição S/A ELETROPAULO - Eletropaulo Metropolitana Eletricidade de São Paulo S/A COELBA - Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia COPEL-DIS - Copel Distribuição S/A CPFL-Paulista - Companhia Paulista de Força e Luz LIGHT - Light Serviços de Eletricidade S/A. CELPE - Companhia Energética de Pernambuco COELCE - Companhia Energética do Ceará CELG-D - Celg Distribuição S.A. CELESC-DIS - Celesc Distribuição S.A. AMPLA - Ampla Energia e Serviços S/A ELEKTRO - Elektro Eletricidade e Serviços S/A. CEMAR - Companhia Energética do Maranhão CELPA - Centrais Elétricas do Pará S/A. BANDEIRANTE - Bandeirante Energia S/A. CEEE-D - Companhia Estadual de Distribuição de Energia Elétrica CPFL- Piratininga - Companhia Piratininga de Força e Luz RGE - Rio Grande Energia S/A. ESCELSA - Espírito Santo Centrais Elétricas S/A. AES-SUL - AES SUL Distribuidora Gaúcha de Energia S/A. EPB - Energisa Paraíba - Distribuidora de Energia COSERN - Companhia Energética do Rio Grande do Norte CEMAT - Centrais Elétricas Matogrossenses S/A. CEPISA - Companhia Energética do Piauí TOTAL 7.471.169 6.457.476 5.192.031 4.037.565 3.829.430 3.573.022 3.245.063 3.076.270 2.506.740 2.503.923 2.408.854 2.307.737 2.037.350 1.931.482 1.601.299 1.534.089 1.497.117 1.334.987 1.332.413 1.240.075 1.217.488 1.209.143 1.169.795 1.062.092 63.776.610 Fonte: SAD/ANEEL. 20 3.2 Perdas de energia e qualidade do serviço de fornecimento Uma questão fundamental relacionada à produção e ao fornecimento de energia elétrica refere-se às perdas do sistema, que se dividem em dois grupos: as perdas técnicas e as não-técnicas (ou comerciais). No primeiro grupo, como o próprio nome indica, está a energia que, apesar de injetada no sistema, não é comercializada por motivos técnicos, intrínsecos à operação. O mais comum é o aquecimento dos fios condutores de energia, em decorrência da própria passagem da eletricidade. Num país de dimensões continentais como o Brasil, o nível de perdas técnicas, em virtude da necessidade de grandes linhas transmissoras, tende a ser significativo. Já perdas ditas não-técnicas ou comerciais apresentam, em geral, duas modalidades principais: o furto e a fraude de energia. O furto caracteriza-se pelo desvio direto de energia da rede elétrica das distribuidoras, fazendo com que a energia utilizada não seja contabilizada. No caso da fraude, o consumidor é registrado no sistema de faturamento da distribuidora, mas, ao promover, ilicitamente, adulterações em seu sistema de fiações elétricas, faz com que o consumo real seja maior que o efetivamente cobrado. Segundo dados da ABRADEE, em 2011, o percentual de perda de energia chegou a 13,7%, sendo 8,01% referente a perdas técnicas e 4,93% referente a perdas comerciais (GRÁF. 1). 18 16 13,06 12,86 13,36 14 12 11,86 11,53 10 7,87 8 13,86 14,14 14,09 13,92 14,3 14,05 13,7 7,27 8,01 7,58 7,56 7,91 8,07 8,17 8,4 8,2 4,8 5,19 5,09 4,93 8,16 8,01 6 4 2 3,54 3,95 5,21 5,24 5,29 5,17 4,67 4,89 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Perda Total Perda Técnica Perda Comercial GRÁFICO 1: Percentual de perdas em relação à energia injetada no Sistema Global das 64 distribuidoras brasileiras 2000-2011. Fonte: ABRADEE. 21 Outra questão relevante refere-se à qualidade do serviço prestado. No caso das distribuidoras, o principal item avaliado refere-se às interrupções no fornecimento de energia elétrica. A avaliação é feita pela ANEEL, que estabelece limites máximos para a duração e a frequência das interrupções. Para isso, a agência considera os seguintes indicadores: a) Duração equivalente de interrupção por unidade consumidora (DEC): Intervalo de tempo que, em média, no período de apuração, em cada unidade consumidora do conjunto considerado ocorreu descontinuidade da distribuição de energia elétrica; b) Frequência equivalente de interrupção por unidade consumidora (FEC): Número de interrupções ocorridas, em média, no período de apuração, em cada unidade consumidora do conjunto considerado; c) Duração de interrupção individual por unidade consumidora (DIC): Intervalo de tempo que, no período de apuração, em cada unidade consumidora ou ponto de conexão ocorreu descontinuidade da distribuição de energia elétrica; d) Frequência de interrupção individual por unidade consumidora (FIC): Número de interrupções ocorridas, no período de apuração, em cada unidade consumidora ou ponto de conexão; e e) Duração máxima de interrupção contínua por unidade consumidora ou ponto de conexão (DMIC): Tempo máximo de interrupção contínua de energia elétrica, em uma unidade consumidora ou ponto de conexão. No Brasil, observa-se uma piora na qualidade de fornecimento, principalmente no que se refere à duração das interrupções, que, a partir de 2009, vêm se posicionando acima do limite estabelecido pelo órgão regulador (FIG. 1). Cumpre ressaltar que, de 2000 a 2011, o crescimento do número de consumidores foi de quase 45%, com uma média anual de 4,09% de expansão. Dessa forma, tem-se que a contenção das perdas de energia, tanto técnicas quanto comerciais (desvio de energia), assim como a melhora na qualidade do serviço de fornecimento constituem-se em relevantes fatores de motivação para a adoção da tecnologia Smart Grid, já que esta contribui significativamente para o gerenciamento mais eficaz do sistema. Adicionalmente, observa-se que os indicadores de qualidade foram recentemente incorporados à metodologia de cálculo do chamado Fator X, índice que reduz a receita das distribuidoras, tendo-se como base os ganhos de eficiência presumidos pelo regulador a partir da expertise naturalmente adquirida pela empresa ao longo do tempo. Havendo melhora nos 22 indicadores de qualidade DEC e FEC, a empresa passa a ter um redutor tarifário menor. FIGURA 1: Indicadores da qualidade do fornecimento de energia elétrica no Brasil 2000-2011. Fonte: ANEEL. 3.3 Principais Iniciativas Alguns esforços têm sido despendidos para o desenvolvimento da tecnologia Smart Grid no Brasil. Primeiramente, destaca-se a criação do Grupo de Trabalho de Redes Elétricas Inteligentes pelo Ministério de Minas e Energia (MME). O Grupo é composto por representantes de distribuidoras, de reguladores do setor elétrico e de telecomunicações, de associações, de órgãos financiadores, de tecnologia da informação, do setor acadêmico, dentre outros, e desde 2010 vem debatendo as 23 possibilidades e os desafios para a implementação de novas tecnologias na rede elétrica (MME, 2010). Um segundo esforço refere-se às modificações do arcabouço regulatório introduzidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). A primeira delas alude à mudança na estrutura tarifária para os consumidores de baixa tensão (Grupo B3), com a criação da chamada Tarifa Branca (Nota Técnica nº 311/2011), que será uma alternativa à tarifa convencional (com um preço de consumo de energia sem distinção horária), oferecendo três diferentes patamares para a tarifa de energia (ponta, intermediário e fora de ponta). A possibilidade de tarifação de acordo com o horário de consumo estimula a utilização da rede em horários nos quais a tarifa é mais barata, diminuindo a necessidade de expansão da rede da distribuidora para atendimento do horário de pico. Visando incentivar a modernização da rede, a aplicação da Tarifa Branca foi condicionada à substituição, por parte das distribuidoras, dos medidores eletromecânicos pelos eletrônicos e será aplicada a cada distribuidora a partir de sua revisão tarifária entre 2012 e 2014. As resoluções nº 482/2012 e nº 502/2012, editadas pela ANEEL, também contribuem para as mudanças no aspecto regulatório mencionado. A primeira estabelece as condições gerais para o acesso de microgeração e minigeração distribuída aos sistemas de distribuição de energia elétrica, bem como o sistema de compensação de energia excedente. Pela resolução, considera-se microgeração “a central geradora de energia elétrica, com potência instalada menor ou igual a 100 kW e que utilize fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conforme regulamentação da ANEEL, conectada na rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras”. A minigeração segue, por seu turno, os mesmos critérios, devendo a potência instalada, contudo, ser superior a 100 kW e menor ou igual a 1MW. Já a resolução nº 502 regulamenta os sistemas de medição de energia elétrica de unidades consumidoras do Grupo B. Trata-se, conforme dados da EPE (2012), da maior classe de consumo do País em número de unidades consumidoras, superando 65 milhões de unidades (mais de 90% do total). Pela 3 O Grupo B (baixa tensão) é composto por unidades consumidoras atendidas em tensão inferior a 2,3 kV, com tarifa monômia (aplicável apenas ao consumo). Há, nesse grupo, subclasses estabelecidas em consonância com a atividade exercida. Na subclasse B1, por exemplo, encontra-se o consumidor residencial. O consumidor rural é chamado de B2, enquanto estabelecimentos comerciais ou industriais de pequeno porte são classificados como B3. Ainda nesse grupo está a iluminação pública, que é enquadrada no subgrupo B4 (Aneel, 2010). 24 resolução, as seguintes informações, no mínimo, devem ser fornecidas, cumulativamente, pelo medidor: (i) valores de tensão e de corrente de cada fase; (ii) valor de energia elétrica ativa consumida acumulada por posto tarifário; (iii) identificação do posto tarifário corrente, se aplicável; (iv) data e horário de início e fim das interrupções de curta e de longa duração ocorridas nos últimos 3 (três) meses; e (v) últimos doze valores calculados dos indicadores Duração Relativa da Transgressão de Tensão Precária – DRP e Duração Relativa da Transgressão de Tensão Crítica – DRC. Caso a unidade consumidora faça adesão pela Tarifa Branca, o medidor deve, ainda, apurar o consumo de energia elétrica ativa em pelo menos quatro postos tarifários, devendo ser programáveis o início e o fim de cada posto. Por fim, também contribuem para o desenvolvimento das redes inteligentes no País os projetos-pilotos das concessionárias de distribuição de energia elétrica em curso nas diversas regiões do Brasil (TAB. 5). Os projetos, em suma, visam testar as tecnologias relacionadas ao conceito Smart Grid, avaliando os benefícios proporcionados e a viabilidade de aplicação em larga escala. TAB. 5 - Alguns projetos-pilotos de concessionários do serviço de distribuição de energia elétrica para desenvolver a tecnologia Smart Grid no Brasil Projeto Estado Ano Concessionário Búzios Cidade Inteligente Projeto Smart Grid Rio de Janeiro 2011 Ampla/Endesa Rio de Janeiro 2010 Light Cidades do Futuro Minas Gerais 2010 Cemig Projeto Parintins Projeto Smart Grid Amazonas 2011 Eletrobrás Amazonas Energia São Paulo 2010 AES Eletropaulo InovCity Aquiraz Smart City São Paulo 2011 EDP Bandeirante Fazenda Rio Grande Paraná Ceará nd Coelce/Endesa 2010 Copel Fonte: Adaptado de Falcão (2012) / Sítio das concessionárias de energia elétrica. 3.4 Diferenciais competitivos de Minas Gerais Como apresentado, a utilização de redes inteligentes correlaciona-se fortemente com o desenvolvimento de tecnologias de automação, sistemas computacionais e telecomunicações. Com o crescente interesse pela sua implantação no gerenciamento do sistema elétrico, a existência de alguns fatores 25 em Minas Gerais o diferencia quanto à possível fabricação e atração de novos empreendimentos produtores de Smart Grids no estado. Primeiramente, destacam-se o Polo de Tecnologia da Informação e Software de Belo Horizonte e o Polo de Eletroeletrônica do Sul de Minas. Na capital mineira, segundo dados da RAIS, encontram-se 1.187 empresas do setor de software e de serviços da Tecnologia da Informação4, constituindo-se no terceiro maior polo do País – posição mantida ao longo dos últimos cinco anos. No estado, a receita líquida do setor, em 2010, de acordo com Ferreira (2012), foi de R$ 2,3 bilhões (4,3% do total nacional). Ademais, importantes instituições de apoio e fomento da indústria de software atuam no estado como a FUMSOFT (Sociedade Mineira de Software, agente da Softex em Minas Gerais), a Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação (Assespro), a Sociedade dos Usuários de Informática e Telecomunicações (Sucesu) e o Sindinfor-MG (Sindicato das Empresas de Informática). No âmbito empresarial, destaca-se o Centro de P&D da Google para a América Latina, o Instituto para o Desenvolvimento de Empresas de Base Tecnológica (IEBT), o BH-Tec e a presença de algumas empresas como Infosys, Totvs Informática, Aptech, Microcity, Samba Tech, dentre outras. O Sul do Estado, por sua vez, abriga um importante Arranjo Produtivo Local (APL) para a fabricação e montagem de produtos eletroeletrônicos, além de deter excelência no ensino técnico e superior da eletrônica. Algumas instituições de ensino e pesquisa da região são a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa (ETE FMC), primeira escola de eletrônica de nível médio da América Latina; o Instituto Nacional de Telecomunicações (INATEL) e o Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação (FAI), localizados em Santa Rita do Sapucaí; e a Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI). Ainda no segmento de eletroeletrônicos, importantes empresas estão instaladas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) como Toshiba, Jabil Circuits, Axxion, Ativas, Megaware e Philips. A legislação estadual também contribui como fator de competitividade, uma vez que possibilita tratamento tributário especial que pode ser concedido aos fabricantes de eletroeletrônicos (RICMS/MG), aprovado pelo Decreto nº 43.080/2002. Os principais benefícios referem-se ao diferimento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) devido na importação de máquinas e 4 O setor é compreendido pelas classes 6201; 6202; 6203; 6204; 6209; 6311; 6319; 9511 e 9512 da Classificação Nacional de Atividades Econômicas 2.0 (CNAE 2.0). 26 equipamentos destinados ao ativo permanente, de produtos de informática, telecomunicação, eletrônico e eletroeletrônico; e na importação ou aquisição de fornecedores locais de matéria-prima, produtos intermediários e material de embalagens, exceto energia elétrica e serviço de comunicação. No campo das políticas públicas, evidencia-se o Programa CI-Brasil, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que objetiva a criação e organização de um ecossistema de microeletrônica no Brasil, visando inovar em produtos e inserir o País no mercado de semicondutores. Em Minas Gerais, o programa apoia a Design House Belo Horizonte (DHBH Microeletrônica), que tem forte foco em prover soluções para medidores inteligentes de energia elétrica. Recentemente, o Estado foi uma das nove localidades selecionadas pelo MCTI para sediar uma das aceleradoras de empresas de tecnologia da informação no País. As aceleradoras são grupos que reúnem membros do governo, academia e entidades representativas do setor, integrando um comitê que será responsável por selecionar e impulsionar o desenvolvimento de startups. A conquista reforça o objetivo do governo mineiro de tornar-se líder do setor no Brasil até 2022 (Projeto MG TI 2022), transformando Belo Horizonte na capital nacional de TI. Outro ponto relevante é o Estado sediar a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). Com capacidade instalada de 7.038 MW e atuação em 23 estados brasileiros e no Chile, a Companhia é responsável pela gestão da maior rede de distribuição de energia elétrica da América do Sul; é a segunda maior empresa de transmissão do País, com mais de 10 mil quilômetros de linhas de transmissão; e ocupa a terceira posição no mercado nacional de geração, com 70 usinas (64 hidrelétricas, três termelétricas e três eólicas). Em relação às redes inteligentes, a Empresa desenvolve o programa Cidades do Futuro objetivando avaliar a viabilidade de seu uso na automação das redes de distribuição e modernização do sistema elétrico. O programa teve início em Sete Lagoas, tendose em vista, dentre outros aspectos, a presença de um sistema elétrico de alta, média e baixa tensões e da Universidade Corporativa da Empresa no município. Menciona-se, por fim, a ação do próprio INDI. A atuação do Instituto, consoante as melhores práticas internacionais, encontra-se estrategicamente ancorada em alguns setores prioritários, dentre os quais o de Eletroeletrônica, TI e semicondutores, integrantes da Nova Economia. Um importante empreendimento relacionado a este último e que está em curso no Estado é a implantação da Six Semicondutores em Ribeirão das Neves. Ademais, o esforço do Governo de Minas 27 para a atração desse tipo de investimento coaduna-se com uma das máximas do plano de governo estadual que é a geração de empregos de qualidade. 28 4 INVESTIMENTO E FINANCIAMENTO Segundo o Innovation Observatory, empresa de consultoria internacional especializada na análise de tendências para os mercados de energia, telecomunicação e TI, a previsão de investimentos globais para o desenvolvimento e aplicação das redes inteligentes é de US$ 400 bilhões até 2030. Para o Brasil, a expectativa é de que esse mercado movimente, em 2022, cerca de US$ 36,6 bilhões em investimentos, tornando o País o terceiro mercado mundial de redes de energia inteligentes (O GLOBO, 2012), atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Essa perspectiva, no entanto, poderá reduzir-se em virtude do cenário mais adverso trazido pelas novas regras estabelecidas pela Lei 12.783/2013 para a renovação das concessões do setor elétrico e delineado anteriormente. Somente o mercado de sistemas de gerenciamento aplicados à distribuição deve atingir, em 2020, U$S 5,6 bilhões, sendo as empresas líderes desse mercado companhias como General Eletric, Alstom Grid, Siemens e Telvent (ZPRYME, 2013). Atualmente, a América do Norte responde por 40% do mercado mundial, seguida da Europa e da Ásia, que contam com participações de 25% e 23%, respectivamente. Até 2020, os países desenvolvidos, como EUA e Canadá, e os BRIC’s responderão por mais de 80% do mercado global, segundo projeção da Zpryme (2013). Além de equipamentos elétricos, recursos computacionais e sistemas de gerenciamento de dados, a operação segura de uma rede inteligente de energia, devido à troca constante de informações, exige também investimentos na área de segurança da informação. Uma pesquisa realizada pela Zpryme com 213 empresas de energia e profissionais relacionados à tecnologia Smart Grid em 2012 demonstrou que quase dois terços dos respondentes (65%) consideraram que os investimentos em cybersecurity aumentariam no ano seguinte, sendo o orçamento anual médio destinado ao tema em torno de US$ 1,4 bilhão. Em termos globais, os investimentos direcionados à segurança das redes inteligentes atingirão cerca de US$ 21 bilhões até 2015 (WHITNEY, 2010). No Brasil, as concessionárias e permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica são obrigadas, pela Lei nº. 9.991/2000, a aplicar, anualmente, o montante de, no mínimo, 0,75% (setenta e cinco centésimos por cento) de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento do setor elétrico e, no mínimo, 0,25% (vinte e cinco centésimos por cento) em programas de 29 eficiência energética no uso final. Os recursos são destinados ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), ao Ministério de Minas e Energia e aos agentes, a serem aplicados em projetos aprovados pela ANEEL. Segundo Lima (2012), desde 2009, havia 178 projetos propostos pelas concessionárias brasileiras em demonstrativos, provas de conceito e estudos tecnológicos para Smart Grid, que formavam um montante de R$ 411 milhões em investimentos (TAB. 6). Os subtemas de maior interesse, tanto pelo número de projetos quanto pelo valor investido, são a geração distribuída, a automação da distribuição e as telecomunicações. TAB. 6 - Projetos e investimentos realizados/previstos em projetos de P&D sobre rede elétrica inteligente no Brasil Nº de Investimento Subtema de Pesquisa % % Projetos Previsto Sistemas de medição inteligente Automação da distribuição Geração distribuída Sistemas de armazenamento Veículos elétricos Telecomunicações Tecnologias da informação Prédios e residências inteligentes Novos serviços Outros TOTAL 20 38 38 7 5 23 16 16 1 14 178 11,24% 21,35% 21,35% 3,93% 2,81% 12,92% 8,99% 8,99% 0,56% 7,87% 100,00% 29.042.631,52 54.547.800,26 100.609.038,31 12.578.812,65 9.837.834,08 43.232.624,30 27.814.334,58 31.656.194,52 490.692,00 101.486.651,49 411.296.613,71 7,06% 13,26% 24,46% 3,06% 2,39% 10,51% 6,76% 7,70% 0,12% 24,67% 100,00% Fonte: Aneel, 2012 apud Lima, 2012. A tendência, porém, é que seja observado um acréscimo no número de projetos, haja vista, o lançamento, pelo Governo Federal, do Inova Empresa – pacote de R$ 32,9 bilhões destinado ao incremento de projetos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico voltados para a inovação (MONTEIRO, 2013). Os setores contemplados pelo programa são aqueles considerados prioritários para o aumento da competitividade da indústria nacional como petróleo e gás, energia, complexo da saúde, aeroespacial e defesa, cadeia agropecuária, tecnologia da informação e comunicação, e sustentabilidade socioambiental. Observa-se que ao setor de energia coube a maior parcela de recursos (R$ 5,7 bilhões). Por meio do programa, os investidores poderão, inclusive, receber recursos a fundo perdido, 30 caso haja, por exemplo, no escopo do projeto, cooperação com universidades e centros de pesquisa brasileiros (SAFATLE e LEO, 2013). O setor elétrico, especificamente, também poderá contar com uma linha de crédito dedicada ao financiamento de projetos de inovação tecnológica. O programa Inova Energia, embora ainda não esteja totalmente estruturado, seguirá o modelo do Inova Petro (programa criado em 2012 para financiar projetos de P&D no setor de petróleo e gás que conta com recursos da ordem de R$ 3 bilhões) e terá como foco as áreas de redes inteligentes de energia, fontes alternativas e veículos elétricos (POLITO e SCHNOOR, 2013). Outra situação que deve estimular o investimento nas redes inteligentes refere-se à renovação das concessões das empresas distribuidoras de energia elétrica, já que, para que os contratos não sejam relicitados, será necessário investir na melhoria dos indicadores de qualidade do serviço prestado, conforme determinação da ANEEL. A renovação dos contratos de distribuição terá, dessa forma, segundo a Agência, o viés da qualidade em detrimento do viés econômico (redução das tarifas) observado no processo de renovação das concessões dos segmentos de geração e transmissão. Serão analisados aspectos como a duração e a frequência dos cortes no fornecimento de energia, o tempo médio de atendimento para religação da luz, histórico de reclamações e indicadores de conformidade do nível de tensão. Na TAB. 7 a seguir, podem ser verificados os contratos das empresas distribuidoras com vencimento nos próximos quatro anos. Em termos de financiamento, tem-se como principal agente financiador de projetos de infraestrutura no Brasil o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Trata-se de um dos cinco maiores bancos de desenvolvimento do mundo (MME, 2012), com ativos superiores a R$ 715 bilhões em 2012. Os desembolsos do Banco, no mesmo ano, somaram R$ 156 bilhões, apresentando um crescimento de 12,3% em relação ao ano anterior. Os principais setores beneficiados foram indústria e infraestrutura, que obtiveram juntos aportes superiores a R$ 100 bilhões (65% do total). No que tange ao montante destinado a projetos de infraestrutura, boa parte dos financiamentos foi concedida ao segmento de energia elétrica e de telecomunicações, como pode ser observado na TAB. 8 a seguir. 31 TAB. 7 - Contratos de concessão de distribuidoras a vencer entre 2014 e 2017 Concessionária Estado Vencimento Concessionária Estado Vencimento Hidropan RS 2014 Nova Friburgo RJ 2015 Celesc SC 2015 São Patrício GO 2015 Celg GO 2015 Paulista SP 2015 CEB DF 2015 Santa Cruz SP 2015 CEEE RS 2015 Iguaçu SC 2015 Copel PR 2015 Bragantina SP 2015 CEA AP 2015 Caiuá SP 2015 CER RR 2015 Paranapanema SP 2015 Ceal AL 2015 Forcel PR 2015 Boa Vista Energia RO 2015 Jaguari SP 2015 Cepisa PI 2015 Santa Maria ES 2015 Ceron RO 2015 Sulgipe SE 2015 Eletroacre AC 2015 Nova Palma RS 2015 Manaus Energia AM 2015 Cooperaliança SC 2015 Cocel* PR 2015 Nacional SP 2015 Eletrocar* RS 2015 Mococa SP 2015 DMEPC* MG 2015 Cemig Norte MG 2016 CFLO PR 2015 Cemig Sul MG 2016 EFLUL SC 2015 Cemig Leste MG 2016 João Cesa SC 2015 Cemig Oeste MG 2016 Sul Paulista SP 2015 Demei* RS 2016 Cat. Leopoldina MG *Distribuidoras municipais. 2015 Muxfeldt RS 2017 Fonte: MME apud RITTNER e BITENCOURT (2013). TAB. 8 - Desembolsos do BNDES por setor 2010-2012 (R$ bilhão) Setor 2010 2011 2012 Infraestrutura 52,4 56,1 52,9 13,6 16,0 18,9 33,6 34,5 26,3 Telecomunicações 2,1 3,1 4,8 Outros 3,2 2,5 2,9 Indústria 78,8 43,8 47,7 Outros 37,2 38,9 55,4 168,4 138,8 156,0 Energia Elétrica Transportes 1 TOTAL 1 Abrange transportes ferroviário e rodoviário, atividades auxiliares de transportes e outros transportes de acordo com a classificação setorial do BNDES. Fonte: Adaptado de BNDES (2013). 32 Outras fontes financiadoras de projetos remontam a iniciativas do próprio Governo, como programas de incentivo e regimes especiais de tributação. Nesse contexto, destacam-se o Regime Especial de Incentivo ao Desenvolvimento à Infraestrutura (REIDI) e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (PADIS), que beneficiam segmentos da indústria que fornecem bens e serviços às empresas distribuidoras de energia elétrica. O REIDI, instituído pela Lei nº 11.488/2007, suspende exigências tributárias federais (PIS/PASEP e COFINS) incidentes sobre determinadas receitas ou na importação de determinados bens e serviços. Podem ser enquadrados no regime, por exemplo, a aquisição, por parte das distribuidoras, de medidores eletrônicos, bem como demais investimentos em centros de medição e ativos de telecomunicação, desde que imobilizados no ativo (MME, 2012). O PADIS, por sua vez, foi criado pela Lei nº 11.484/2007 e concede incentivos fiscais às empresas que invistam em pesquisa e desenvolvimento e produzam produtos eletrônicos semicondutores ou mostradores de informações (displays). Considerando-se que são observados esforços para o desenvolvimento da tecnologia Smart Grid em todo o mundo, com diversos projetos-pilotos sendo implementados com vistas à modernização das infraestruturas de distribuição e transmissão de energia elétrica e de telecomunicações, torna-se interessante à busca por convênios e parcerias com bancos internacionais e agências de cooperação para o desenvolvimento, que podem constituir-se em importes fontes financiadoras de projetos. Algumas dessas fontes, já contatadas pelo governo brasileiro, via MME e ANEEL, são: Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Banco Mundial (BM), Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), KfW Bankengruppe (agência alemã) e Agência Internacional de Cooperação do Japão (JICA – Japan International Cooperation Agency). 33 5 CONCLUSÕES O desenvolvimento da tecnologia Smart Grid apresenta-se em estágio incipiente no Brasil. Algumas medidas tomadas pelo governo brasileiro, como o estabelecimento de um Grupo de Trabalho sobre o tema e as modificações tangentes ao aspecto regulatório, além dos projetos-pilotos conduzidos pelas concessionárias do serviço de distribuição de energia elétrica contribuem, sem dúvida, para fazer o País avançar rumo à implementação dessas novas redes de energia. Fazem-se necessárias, todavia, ações mais efetivas no que concerne ao domínio da tecnologia, colocando o País à frente do processo inovador. As expectativas em torno do mercado nacional colocam o Brasil como o terceiro maior mercado mundial no setor, respondendo por cerca de 10% dos investimentos globais e constituindo-se como líder na América Latina. Alguns diferenciais de Minas Gerais contribuem para criar no estado um ambiente propício ao desenvolvimento das redes inteligentes, inclusive quanto à atração de fornecedores dessa indústria. Na capital mineira, destaca-se o Polo de Tecnologia da Informação e Software, com 1.187 empresas (terceiro maior do País). O Sul de Minas, por sua vez, abriga um importante APL do segmento eletroeletrônico, cuja excelência respalda-se pela sinergia do polo com diversas instituições de ensino e pesquisa nacionalmente reconhecidas. Em termos de incentivos, tem-se o regime especial de tributação (RICMS/MG) que concede benefícios fiscais aos fabricantes de eletroeletrônicos, além de algumas políticas públicas derivadas da pretensão do Estado de se tornar líder do segmento de TI no País até 2022. O Estado sedia também uma das principais empresas do setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica do Brasil que, desde 2010, desenvolve o projeto-piloto Cidades do Futuro, que objetiva avaliar a viabilidade do uso das redes inteligentes na automação das redes de distribuição e modernização do sistema elétrico. Demais, os setores de Eletroeletrônica, TI e semicondutores são prioritários no trabalho de atração de investimentos conduzido pelo INDI – mais tradicional agência de assistência ao investidor do País. Dentre os principais benefícios advindos com a implantação da tecnologia Smart Grid estão a eficiência e autonomia atribuída à rede e a conectividade propiciada entre os usuários, sejam eles fornecedores ou consumidores. O serviço de fornecimento de energia passa a ser prestado, dessa forma, de maneira mais 34 segura e confiável, além de tornar-se capaz de responder mais adequada e rapidamente a possíveis falhas (queda de energia, por exemplo). Outra vantagem relevante é a geração distribuída, que contribui para atenuar a sobrecarga do sistema, diminuindo a necessidade de expansão da rede para o atendimento dos horários de pico. Além da flexibilidade de conexão a diversas fontes geradoras, a possiblidade de realocação e armazenamento da energia gerada em excesso também é ampliada. Quanto ao papel do consumidor, verifica-se uma verdadeira revolução no que se refere à fruição do serviço, já que aquele passa a contar com informações que lhe permite acompanhar mais detalhadamente não só o gerenciamento da rede, como também ter um controle mais apurado do seu próprio consumo. O usuário final passa a dispor de uma flexibilidade tarifária, além de poder atuar também como produtor de energia. Destarte, são destacados por Cunha (2011, p. 22) como aspectos motivadores, de maneira geral, da modernização das redes elétricas no mundo: (i) a escassez de recursos energéticos convencionais; (ii) as restrições a novas usinas; (iii) o envelhecimento e a obsolescência dos ativos instalados em grande parte das redes atuais; (iv) a necessidade de eficiência para conter a expansão do consumo e redução da demanda num cenário de alta dependência da energia elétrica; e (v) o aumento do custo percebido das interrupções de energia, devido à proliferação de atividades com elevada sensibilidade em setores como o mercado financeiro, produção de semicondutores, indústrias com controles digitais de processo, dentre outros. Algumas barreiras, no entanto, precisam ser superadas para o pleno desenvolvimento das redes inteligentes como a necessidade de regular o serviço de distribuição; a própria estrutura do mercado de energia, ainda carente de adaptações para inclusão efetiva dos pequenos produtores; os custos das tecnologias envolvidas, seu grau de maturação e os fatores de escala relacionados; a exigência de uma infraestrutura de comunicação adequada ao tráfego de grandes volumes de dados e que opere de maneira integrada; e a necessidade de se incentivar o engajamento dos consumidores (CUNHA, 2011). A Lei 12.783 de 11 de janeiro de 2013, que modificou o marco regulatório dos mercados de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no País, tornou o ambiente das empresas concessionárias do serviço mais incerto e turbulento. A implantação do modelo, marcada pela unilateralidade canhestra do Executivo federal no que coube à sua concepção, causou, de imediato, a perda de 35 valor de inúmeras empresas, com quedas vertiginosas das principais ações negociadas em bolsa. Esse cenário afetará, indubitavelmente, os projetos de investimento dessas empresas, para os quais a aplicação de recursos deverá ser mais parcimoniosa. Dentre os projetos que, certamente, se sobressairão, estão aqueles relacionados à operação mais eficiente das redes elétricas, chamando-se a atenção para a adoção das tecnologias concernentes às redes inteligentes de energia, haja vista os benefícios anteriormente explanados. No mais, as redes inteligentes contribuem para responder a dois imperativos recentes do Governo Federal. O primeiro relaciona-se à intenção do governo brasileiro de apoiar fortemente a inovação tecnológica em setores estratégicos da economia nacional, dentre eles o de energia. Para isso, foi anunciado o programa Inova Empresa e fundos de recursos especialmente dedicados ao financiamento de projetos relacionados à modernização das redes elétricas, fontes alternativas e veículos elétricos. O segundo imperativo refere-se à exigência de melhoria dos indicadores de qualidade dos serviços prestados pelas distribuidoras de energia elétrica no País para que os contratos venham a ser renovados. O número de 44 (quarenta e quatro) contratos tem vencimento entre 2014 e 2017, sendo que, em caso de não cumprimento da exigência, há a sinalização de que virão a ser novamente licitados. Como analisado, a aplicação da tecnologia Smart Grid contribui não só para um gerenciamento mais eficiente do sistema, como também para problemas notórios do mercado brasileiro como a piora dos indicadores de qualidade e o expressivo índice de perdas não-técnicas. Acredita-se, por fim, que a utilização da tecnologia Smart Grid seja, a médio e longo prazo, uma tendência que dificilmente seguirá curso reversivo, tendo em vista estar em consonância com o imperativo próprio da segunda década do século XXI: a conectividade. 36 REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Banco de Informações de Geração. Disponível em: <http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/capacidadebrasil.cfm>. Acesso em: 04 mar. 2013. ______. Resolução Normativa nº 414, de 9 de setembro de 2010. Estabelece as condições gerais de fornecimento de energia elétrica de forma consolidada. Brasília, 9 set. 2010. ______. Nota técnica nº 311, de 17 de novembro de 2011. Estabelece proposta para o aprimoramento da metodologia da estrutura tarifária aplicada ao setor de distribuição de energia elétrica. Brasília: Superintendência de Regulação Econômica e Superintendência de Regulação dos Serviços de Distribuição, 2011. ______. 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Acesso em: 20 fev. 2013. 41 ANEXOS 42 ANEXO A Desenvolvimento do sistema de distribuição de eletricidade Fonte: Adaptado de IEA (2011, p. 6). ANEXO B Áreas tecnológicas aplicadas ao longo de uma rede de energia inteligente Fonte: Adaptado de IEA (2011, p. 17). Fonte: Adaptado de IEA (2011, p. 17). 44