Sexta-Feira, 20 de Fevereiro de 2009 8:49 Cinco oportunidades durante a crise por Claudio Czapski Quem se antecipar corretamente às mudanças de cenário e preferências dos consumidores terá em mãos interessantes oportunidades A cada dia vemos novas notícias sobre a crise que assola as economias de países e regiões. Bolsas despencam, moedas flutuam, nações até ontem prósperas se declaram em recessão. Todos estão pensando em novos cenários e medidas de contenção. É evidente que a economia mudou, mas também estão aí, para quem quiser aproveitar, muitas oportunidades que as mudanças trazem consigo. Isso vale especialmente no consumo permanente, atendendo às necessidades básicas, como alimentação, higiene pessoal, limpeza e similares. Em outras palavras, as pessoas não deixarão de comer, questão básica de sobrevivência, muito embora possam alterar seus hábitos de consumo. Quem antecipar corretamente estas mudanças terá em mãos interessantes oportunidades, se conseguir oferecer ao consumidor as soluções apropriadas ao novo cenário, preferências e valores. É claro que as soluções não são universais, idênticas para todos os segmentos da sociedade. A identificação de grupos de consumidores de características similares (clusters) e o desenvolvimento de soluções sob medida para cada um deles continua sendo a melhor prática. Os critérios podem ser dos mais variados, incluindo faixa etária, nível de renda, região etc. Cada empresário do setor de produção ou distribuição terá de trabalhar no seu negócio e segmento, procurando definir a melhor estratégia aplicável aos mercados em que atua ou nos quais pretende atuar. Este artigo pretende apenas trazer alguns exemplos e pontos para reflexão, de modo a subsidiar este exercício. Para isso, vamos considerar dois grupos radicalmente diversos pelo critério renda: o grupo dos muito abastados e o de baixa renda. É evidente que aqueles com muito dinheiro, por mais que tenham tido vultosas perdas em seus investimentos, não tiveram afetado seu padrão de consumo alimentar, item de expressão mínima no orçamento. Pouco importa se as refeições são feitas em casa ou em estabelecimentos comerciais. O que se pede para comer é que determina as oportunidades para a cadeia de abastecimento. Alguns valores importantes paralelos à “nova economia” já se fazem notar, demandando ações rápidas e certeiras para explorar as oportunidades sinalizadas, pois o lado da produção agropecuária obedece a ciclos bem mais demorados de que os industriais no desenvolvimento de novos insumos e produtos. Observam-se com clareza cinco importantes vetores orientando o consumo alimentar de alguns grupos de pessoas de poder aquisitivo elevado: - Saudabilidade, buscando alimentos tanto para quem sofre de algum tipo de disfunção (hipertensão, obesidade, diabetes, alergia a glúten etc.) como também para pessoas saudáveis que buscam comer “o que faz bem”, dietas equilibradas e apropriadas a sua idade e perfil de atividade; - Orgânicos, ou seja, alimentos produzidos obedecendo a regras estritas no que tange ao uso de produtos químicos, defensivos e assemelhados – para os quais as fontes de abastecimento do varejista ainda são bastante limitadas, carecendo de certificação e supervisão efetiva que ofereça garantia de qualidade de insumos e processos; - Combate ao Envelhecimento, buscando dietas com características que retardem os efeitos do processo do envelhecimento; - Gastronomia, valorizando a cozinha requintada, com ingredientes especiais, regionais, sazonais ou étnicos, tanto no comer quanto no beber (oferecendo ainda inúmeras oportunidades aos varejistas que queiram investir em eventos de aculturamento, degustações, ou ensino de preparo de pratos diferenciados); - Porcionamento, oferecendo ingredientes e pratos semi-prontos ou prontos em quantidades compatíveis com o crescente fracionamento das células familiares e hábitos alimentares pessoais (conforme características supra, onde podemos eventualmente ter uma pessoa com alergia a glúten convivendo com um diabético, e apesar de tomarem as refeições juntos necessitam de dietas individuais), que a cada dia determinam um público maior para doses individuais. Apenas considerando as tendências acima exemplificadas, abre-se um enorme leque de oportunidades de produtos e serviços inovadores, diferenciados, e direcionados a um público cujo principal critério determinante da compra não é o preço, permitindo fugir da guerra dos descontos tão comum no mercado varejista. No outro extremo da curva de renda, temos um enorme contingente de pessoas com menor poder de compra, mas que recentemente conseguiram subir um ou alguns degraus na escala de consumo. Em momento de maior estabilidade da moeda, o incremento no poder de compra permitiu que consumissem produtos pelos quais ansiavam, tais como lácteos, chocolates, biscoitos diferenciados e tantos outros. Apesar da crise, neste grupo a queda do consumo alimentar tende a ocorrer mais pela perda do ingresso (fruto da eventual perda do emprego) que por cautela ou receio da crise. Pelo que se observa até o momento, este cenário parece estar claro tanto para os fabricantes como para a cadeia distributiva, indicando o potencial destrutivo que pode ter o incremento de preços ao consumidor, potencializando os efeitos da crise. Até o presente, a maioria das empresas tem desenvolvido variados esforços para minimizar custos e margens, a bem da preservação do volume e manutenção do negócio. Mesmo assim, a própria divulgação da crise e seus riscos por toda a mídia, predispõe os consumidores a gastarem com prudência. Na maioria das vezes, particularmente neste segmento, isso não significa deixar de comprar, mas sim ter maior tendência a olhar alternativas, ou seja, o estímulo à infidelidade tanto a marcas como a pontos de venda. É, portanto, a hora de novas marcas, produtos, embalagens, formatos se mostrarem, apresentando ao consumidor menos fiel alternativas inovadoras que preservem as conquistas feitas na alimentação diferenciada. Assim, basta analisar mercados e tendências para se descortinar um amplo leque de oportunidades para fabricantes e varejistas. Explorá-las com competência requer decisões bem fundamentadas e rápidas, preferencialmente alinhando iniciativas da indústria e do comércio a bem do consumidor. Claudio Czapski é superintendente da Associação ECR Brasil (www.ecrbrasil.com.br)