XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" AVALIAÇÃO DA COMPETITIVIDADE DA AGRICULTURA DO ALENTEJO NO ÂMBITO DO ECOSSISTEMA MONTADO RUI DE SOUSA FRAGOSO (1) ; RAQUEL VENTURA LUCAS (2) . 1.UNIVERSIDADE DE ÉVORA ICAM, ÉVORA, 2.UNIVERSIDADE DE ÉVORA, ÉVORA, PORTUGAL. PORTUGAL; [email protected] APRESENTAÇÃO ORAL ADMINISTRAÇÃO RURAL E GESTÃO DO AGRONEGÓCIO Avaliação da Competitividade da Agricultura do Alentejo no Âmbito do Ecossistema Montado Grupo de Pesquisa: 2 - Administração Rural e Gestão do Agronegócio Resumo Neste estudo procede-se à avaliação sócio-económica do ecossistema montado no Alentejo, em termos da viabilidade dos actuais sistemas de produção e dos efeitos da política agrícola na sua competitividade e sustentabilidade. A metodologia utilizada baseou-se na construção de matrizes de análise política. Em função dos níveis de rendimento e dos efeitos das medidas de política agrícola, os sistemas de produção são classificados em termos da sua contribuição real para o crescimento económico. Palavras-chaves: Montado, Alentejo, Matriz de Análise Política, Competitividade, PAC. Abstract This paper makes a socio-economic evaluation of the “Montado” ecosystem in Alentejo. It is study the viability of the agricultural systems and the effects of agricultural policy in their competitiveness and sustainability. It is used a Policy Analysis Matrix to evaluate the agricultural systems competitiveness and their economic efficiency. The agricultural systems are classified concerning their contribution for the economic growth, in function of income levels and policy effects. Key Words: “Montado”, Alentejo, Policy Analysis Matrix; Competitiviness, PAC. 1 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 1. INTRODUÇÃO Este artigo insere-se no âmbito dos resultados do projecto Desarollo de un sistema de información para la gestión ambiental y económica del ecosistema dehesa/montado en Extremadura e Alentejo, que envolveu diversas entidades portuguesas e espanholas entre as quais os ministérios da agricultura dos dois países e a Universidade de Évora. Este projecto teve por objectivo o estudo da dehesa extremeña e do montado alentejano, onde se localizam as áreas mais importantes das dehesas em Espanha e dos montados em Portugal, respectivamente. O ecossistema montado abrange toda a Região Alentejo de uma forma muito significativa. Segundo os dados do Recenseamento Geral Agrícola de 1999 (INE, 1999), as explorações agrícolas do Alentejo representavam, no total de Portugal, metade da superfície agrícola utilizada e praticamente dois terços das áreas de matas e florestas. Estas representavam na superfície total das explorações agrícolas alentejanas 43%, contrariamente às explorações do resto do país em que representavam apenas 26,7% dessa superfície. Cerca de 80% da área de matas e florestas no Alentejo era aproveitada com culturas ou pastagens sob-coberto, facto que permite identificar o inegável interesse sócioeconómico da exploração agro-florestal do ecossistema montado na região. No ecossistema montado, para além das actividades agro-florestais, desenvolvemse a montante e a jusante outras actividades económicas associadas ao meio rural. Importa ainda referir que o montado é um ecossistema altamente vulnerável, onde para além da fauna e flora associadas, nas quais existem espécies que correm riscos de extinção, existem áreas onde os riscos de erosão são bastantes elevados, não só devido às cargas animais elevadas como também à intensificação cultural e à utilização de determinadas práticas culturais. A análise do Valor Acrescentado Bruto (VAB) em 2001 permite concluir que o sector primário, onde a agricultura, a silvicultura e a caça são as actividades económicas com maior peso, no Alentejo representa 16,4%. Este contributo na economia regional é cerca de quatro vezes superior ao contributo do sector primário no VAB nacional. No que diz respeito à população empregada no Alentejo em 2001 por sector de actividade económica, embora se verifique a predominância de actividades associadas ao sector terciário (61% de emprego), a população empregada no sector primário (13% do emprego) tem uma representatividade cerca de três vezes superior à média do País. A produtividade do trabalho, medida pelo rácio entre o VAB e o volume de emprego, é no Alentejo mais elevada na agricultura, silvicultura e caça, que no País (Lucas et al., 2004). Pode concluir-se que o Alentejo é uma região que demonstra uma forte especialização na exploração de recursos naturais, nomeadamente nos recursos do território, dada a importância da agricultura, da silvicultura e da caça na actividade económica e no emprego. Os níveis da produtividade do trabalho superiores ao resto do País reflectem também a competitividade alcançada por essas actividades na região A Região Alentejo apresenta uma situação sócio-económica mais desfavorável do que a média do País e que nos últimos tende a acentuar-se. Na figura seguinte procede-se à comparação de alguns indicadores para o Alentejo e para o País que reflectem com clareza essa situação da região em 2001. Figura 1 – Indicadores socio-económicos no Alentejo e no País 2 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" 100 80 60 40 20 0 PI B per capita RBDF I PC per capita Densidade Indice de Populacional Envelhecimento Portugal TAE Tx. Desemprego Alentejo Fonte: Lucas et al, 2004 Em 2001, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita no Alentejo era cerca de 80% do PIB per capita Nacional, o que se traduz num nível de vida da população alentejana cerca de 20% abaixo da média do País. O Rendimento Disponível Bruto das Famílias no Alentejo era cerca de 13% inferior à média do País. O Alentejo apresenta também a densidade populacional mais baixa no País, tendo a sua população apresentado uma evolução negativa nas últimas décadas. A população Alentejana é uma população envelhecida, apresentando um índice de envelhecimento de 173,4, substancialmente mais elevado do que o índice de envelhecimento no País que era 102,2. Face a esses indicadores, seria de esperar que a taxa de actividade económica fosse inferior (3%) à média nacional e que a taxa de desemprego fosse mais elevada (2%). Para uma manutenção e desenvolvimento sustentado do montado, viável economicamente, tornou-se imprescindível estudar, desenvolver e difundir modelos e tecnologias para resolver os problemas actuais dos actores neste ecossistema, nomeadamente, a administração pública, as associações de produtores, os proprietários rurais e outras instituições com responsabilidades na área do montado. Sendo a informação disponível manifestamente insuficiente, para enfrentar de uma forma eficaz as preocupações inerentes à gestão multifuncional dos recursos do ecossistema montado, para um desenvolvimento regional equilibrado, este estudo espera fornecer informação de âmbito sócio-económico para a tomada de decisões de gestão e para a definição de políticas adequadas aos objectivos a alcançar. Neste contexto, o principal objectivo deste artigo é a avaliação sócio-económica do ecossistema montado no Alentejo, em termos da viabilidade dos actuais sistemas de produção e dos efeitos da política agrícola na sua competitividade e sustentabilidade. Para além da introdução, o artigo está organizado em mais três secções, referentes à metodologia, aos resultados e às principais conclusões. 2. METODOLOGIA São várias as metodologias possíveis de adoptar para análise da competitividade dos sistemas de produção do ecossistema montado que, por encerrarem um conjunto de especificidades e de aspectos complementares da produção agro-florestal que são percebidas de forma diferenciada pelos agentes económicos, devem também ser analisados no contexto micro-económico da unidade de produção. 3 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Dentro das metodologias possíveis de utilizar, destacam-se o método dos orçamentos, os modelos econométricos, os modelos estatísticos, os modelos de programação matemática e a Matriz de Análise de Políticas ou metodologia PAM (Policy Analysis Matrix). Aplicações de modelos econométricos ao tema da competitividade podem ser seguidos em Mattas (1990) e Bureau e Butuault (1990) para a agricultura comunitária e em Maza et al (1992) para a produção ovina. Os modelos econométricos apresentam algumas limitações, sendo a principal referida por Schumway e Chang (citados por Norton e Schiefer, 1980), a da não aplicabilidade à análise de políticas que envolvam afastamentos significativos das tendências passadas. Os modelos de programação matemática têm sido largamente usados para análise da competitividade do sector agrícola (Jaraba e Thompson, 1980; Baysan, 1984; Martin, 1989; Abreu, 1987; Marques, 1988, Marques et al, 1995; e Ventura-Lucas, 1995). A sua principal vantagem é a facilidade de interpretação dos resultados e as potencialidades na análise dos efeitos de políticas ou de modificações tecnológicas. A metodologia PAM, proposta por Pearson e Meyer em 1974 tem sido muito utilizada para analisar a competitividade de diferentes produtos em diferentes países (Pearson e Meyer, 1974; Santana, 1986; Fox, 1987; Pearson et al, 1987; Avillez e Queiroz, 1987; Avillez et al, 1987; Avillez e Carrilho, 1988; Pearson e Monke, 1989; e Venturini (1989). Pela facilidade de integrar cronologicamente os aspectos tecnológicos da produção agro-florestal, a procura de factores e a oferta de produtos e criar uma base de dados técnico-económicos que servem de base à elaboração de simulações com cenários prospectivos de política económica e de alternativas tecnológicas, a escolha da metodologia para análise das explorações do montado recaiu na metodologia PAM. Esta metodologia permite avaliar simultaneamente a competitividade dos sistemas de produção agro-florestal do montado (SPAM) e o seu contributo eficiente para o crescimento da economia, assim como as transferências institucionais de rendimento das políticas económicas em vigor, nomeadamente da Política Agrícola Comum (PAC) e das políticas nacionais de apoio ao sector agro-florestal e ao desenvolvimento rural. Basicamente esta metodologia consiste em construir para cada SPAM matrizes de custos, de proveitos e de resultados, primeiro incluindo os efeitos das políticas económicas e depois sem o efeito dessas políticas. No quadro 1 apresenta-se a estrutura simplificada da PAM utilizada. Quadro 1 - Matriz de Análise Política Análise Proveitos Custo RL Preços privados A ou A’ B C Preços sociais E F G Efeitos de política e falhas de mercado H I J Notas: Resultado Líquido (RL) a preços privados C = A – B; Resultado Líquido (RL) a preços sociais G = E – F; RL(*) sem PAC e com ajudas nacionais a preços privados D = A’ - B Transferências de rendimento para do lado dos proveitos H = A – E; Transferências de rendimento para a utilização de factores H = B – E; Transferência líquidas de rendimento I = G – H. Fonte: Adaptado de Pearson, 1987 RL(*) D G L 4 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" A coluna da PAM correspondente ao Resultado Líquido (RL) traduz o balanço entre os proveitos e os custos. Este balanço pode ser efectuado a preços privados e a preços sociais e em termos das transferências líquidas institucionais de rendimento. O RL a preços privados (C ou D) é dado pela primeira linha da matriz, subtraindo os custos a preços de mercado (B) dos proveitos a preços de mercado (A). O resultado obtido pelo elemento C da matriz mostra-nos como os SPAM reagem aos efeitos das políticas de transferência de rendimento decorrentes da PAC. Este resultado permite avaliar o RL a preços privados no enquadramento sócio-económico em vigor. O elemento D da matriz avalia isoladamente a resposta dos SPAM aos efeitos das políticas do segundo pilar da PAC, relativas ao desenvolvimento rural. O RL a preços privados representa o Rendimento Empresarial Líquido por unidade de superfície utilizada, ou seja, a retribuição dos factores próprios terra, capital e empresário. Um RL positivo a preços privados, indica-nos que estamos em presença de um SPAM cujas as actividades levadas a cabo permitem gerar proveitos suficientes para cobrir os custos reais dos factores de produção no ambiente sócio-económico em que se insere. A avaliação dos resultados na óptica social requer que os proveitos e os custos sejam valorizados a preços que traduzam a escassez dos recursos ou o seu custo de oportunidade. No essencial, esta análise parte do pressuposto de que se os preços sociais forem considerados nas decisões económicas, se obtém uma afectação óptima dos recursos e por conseguinte um contributo eficiente do sector ou da actividade em causa para o crescimento económico. No entanto, o problema da análise social reside exactamente no cálculo dos preços sociais, que não são mais do que os preços sombra dos recursos. Na impossibilidade de se dispor dos preços sombra, podem sempre utilizar-se aproximações aos preços sociais. Um exemplo muito frequente de aproximação aos preços sociais é a utilização dos preços internacionais CIF (cost, insurance and freight) para os produtos agrícolas indiferenciados e de preços internacionais FOB (free on board) para os factores de produção transaccionáveis no mercado internacional. A utilização dos preços internacionais CIF e FOB, apesar de ser a metodologia mais utilizada para valorizar os preços sociais, não é passível de ser aplicada aos SPAM devido às características particulares de algumas das suas produções. Alguns dos produtos produzidos são exclusivos do ecossistema montado e apresentam alguma diferenciação, como é o caso da exploração de suínos da Raça Alentejana, em que por não existir um preço internacional não é possível a utilização do sistema de preços CIF. O facto da economia portuguesa ser aberta ao exterior, faz com que os preços do mercado interno sejam fortemente influenciados pelas importações. Desta forma, os preços nacionais dos produtos agrícolas e dos factores de produção transaccionáveis são relativamente próximos dos preços dos países com quem são estabelecidas relações comerciais mais estreitas. Neste caso, considerou-se para os preços sociais dos produtos agrícolas e dos factores de produção transaccionáveis, os respectivos preços de mercado deduzidos da margem de comercialização. Este procedimento é frequente na elaboração de contas nacionais e de contas regionais, para corrigir distorções dos preços ao produtor decorrentes das práticas comerciais. A valorização em termos dos preços sociais dos factores domésticos que não são transaccionáveis no mercado internacional, como é caso dos factores primários, terra, capital e mão-de-obra, requer uma abordagem distinta daquela que é empregue para os bens transaccionáveis. Na análise social esses factores devem ser avaliados pelo seu custo 5 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" de oportunidade, que reflecte o rendimento que proporciona uma unidade do factor na sua melhor afectação alternativa. É necessário diferenciar o factor terra dos restantes factores. No longo prazo, quando todos os factores são variáveis, a terra é o único factor que permanece fixo. Para o preço social da terra deve-se considerar o seu custo de oportunidade no uso agro-florestal, que é dado pelo rendimento proporcionado pela melhor alternativa de produção agroflorestal. Quando não é possível determinar qual é a melhor afectação agro-florestal ou quando existem enviusamentos que condicionam o cálculo do seu custo social, deve utilizar-se em alternativa o valor do mercado de arrendamento. Esta foi a opção considerada para a valorização da terra a preços sociais no âmbito deste estudo. O custo social do capital fundiário benfeitorias e do capital fixo de exploração foi avaliado pelas taxas de remuneração dos capitais investidos, considerando-se uma taxa média anual de 2%. Esta taxa reflecte uma retribuição média do capital ligeiramente acima da taxa de juro líquida média dos depósitos a prazo, mas abaixo da taxa de inflação e praticamente idêntica às taxas anuais de remuneração de grande parte das aplicações financeiras sem risco O capital circulante, por dispor de uma maior liquidez, é valorizado a uma taxa de juro superior à dos capitais fixos. Neste caso considerou-se para o juro do capital circulante uma taxa de juro anual de 4%. Este valor resulta de uma aproximação à média aritmética das taxas anuais de juro dos depósitos a prazo e dos empréstimos de campanha. No caso da mão-de-obra, o custo social é dado pelos indicadores médios de remuneração do trabalho no sector, obtido a partir dos dados dos inquéritos, e tem também em conta o custo de oportunidade da mão-de-obra não remunerada. Outros indicadores poderiam ter sido utilizados como o Salário Mínimo Nacional ou as remunerações médias do trabalho no Alentejo ou em Portugal. No entanto, as características específicas do sector, o nível de qualificação dos activos ao serviço e o facto de geralmente residirem em zonas rurais, reflecte, por um lado, a necessidade de uma mão-de-obra especializada, mas por outro lado, traduz também alguma dificuldade dessa mão-de-obra ser absorvida noutras actividades que não as agro-florestais. Nestas condições, o Salário Mínimo Nacional reflecte em termos médios uma sub-valorização do custo social da mão-de-obra nos SPAM e as remunerações médias do trabalho tanto no Alentejo como em Portugal situam-se claramente acima do custo de oportunidade da mão-de-obra agro-florestal. O RL a preços sociais (G) é dado pela segunda linha da matriz apresentada no quadro 1, subtraindo os custos a preços sociais (F) aos proveitos a preços sociais (E). O resultado obtido mostra-nos como os SPAM se comportam num contexto de economia aberta sem os efeitos das políticas de transferência de rendimento decorrentes da PAC e das políticas nacionais. Neste caso um RL positivo indica-nos que estamos em presença de um SPAM cujas as actividades levadas a cabo são eficientes do ponto de vista económico, na medida em que continuam a ser rentáveis num contexto de preços livres sem o efeito das transferências de rendimento preconizado pelas políticas públicas. Na PAM apresentada no quadro 1, a diferença entre a primeira linha dos agregados económicos a preços privados e a segunda linha de agregados a preços sociais, representa os efeitos das políticas institucionais de transferência de rendimento e eventuais falhas de mercado. Os apoios públicos à produção, ao rendimento e ao desenvolvimento rural são dados pelo elemento H da PAM, obtido da diferença entre A e E. Se o seu valor for positivo, os proveitos a preços privados (A) excedem os proveitos a preços sociais (E). Nesta situação a produção e o rendimento são apoiados institucionalmente, devido aos preços internos serem superiores aos de importação por falta de competitividade da 6 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" produção interna ou por seram pagas ajudas por serviços prestados à comunidade, como é caso das ajudas agro-ambientais e das indemnizações compensatórias inseridas no Programa Nacional de Desenvolvimento Rural. Os apoios públicos à utilização de factores são dados pelo elemento I da PAM, resultante da diferença entre B e F, que são, respectivamente, o custo dos factores a preços privados e o custo dos factores a preços sociais. Um valor positivo de I revela a existência de subsídios para tornar a produção agro-florestal mais competitiva, por os preços internos dos factores de produção serem superiores aos do mercado internacional ou dos factores domésticos terem custos de oportunidade demasiado elevados. Os efeitos líquidos de todas as políticas institucionais de transferência de rendimento em vigor (J) é o resultado da diferença entre todas as políticas de apoio à produção, ao rendimento e ao desenvolvimento rural (H) e as políticas de apoio à utilização de factores (I). O elemento L da PAM traduz o efeito líquido da política de desenvolvimento rural inserira no segundo pilar da PAC, em que as medidas agroambientais são as mais representadas. O seu cálculo também resulta da subtracção dos apoios à utilização de factores aos apoios às prestações recebidas pela realização de serviços sociais, mas sem considerar os efeitos das ajudas directas à produção e ao rendimento. Os efeitos líquidos das políticas públicas de transferência de rendimento também podem ser calculados fazendo a diferença entre o RL a preços privado (C e D) e o RL a preços sociais (G). Na PAM não se tem em conta as falhas de mercado, por se considerar que são pouco significativas e que em grande parte estão corrigidas pelas políticas públicas. Este pressuposto permite-nos estabelecer uma relação directa entre os benefícios sociais e os efeitos de distorção das políticas de transferência institucional de rendimento. Esta metodologia permite avaliar os SPAM do ponto de vista da sua viabilidade e da sua competitividade em função dos valores do RL a preços privados e em termos da sua sustentabilidade económica e do seu contributo eficiente para o crescimento económico em função dos valores do RL a preços sociais. Permite ainda, estimar as transferências de rendimento proporcionadas pelas políticas institucionais, que traduzem os incentivos públicos aos rendimentos privados. Para responder adequadamente aos objectivos, a metodologia foi desenvolvida em três fases. A primeira fase iniciou-se com a identificação dos SPAM representativos e de uma amostra de 30 explorações agro-florestais e incluiu ainda a elaboração de um questionário para obter informação técnica e económica. Na segunda fase, procedeu-se à elaboração de orçamentos de actividade e de orçamentos de exploração para cada um dos SPAM com o objectivo de se constituir uma base de dados técnico-económicos e analisouse as suas estruturas de capitais, de custos e de proveitos e os resultados económicos no curto e no longo prazo. A terceira fase destinou-se à realização da análise de viabilidade e ao desenvolvimento das PAMs para a análise de competitividade e sustentabilidade económica dos seis SPAM estabelecidos na primeira etapa. A identificação dos SPAM baseou-se no estudo dos padrões dominantes da amostra de explorações agro-florestais do Alentejo. Esta tarefa foi realizada pela equipa da Unidade de Macroecologia & Conservação da Universidade de Évora. Para se identificar os padrões dominantes, classificaram-se as freguesias do Alentejo de acordo com as seguintes dimensões distintas, em que cada uma integra um conjunto de variáveis que a caracteriza: i) ocupação do solo; ii) actividade pecuária; iii) características da floresta; iv) factores climatológicos; e v) aspectos da economia agrícola. 7 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Os indicadores económicos de base referem-se ao valor dos capitais fundiário, fixo e circulante, aos custos de exploração, divididos em custos fixos e custos variáveis para diferenciar as estratégias de curto e de longo prazo e aos proveitos. Nestes últimos, faz-se a diferenciação entre o valor da produção e as ajudas, nomeadamente as ajudas à produção e ao rendimento decorrentes do primeiro pilar da PAC e as ajudas ao desenvolvimento rural do segundo pilar da PAC, que integram as ajudas agro-ambientais e as indemnizações compensatórias. O capital fundiário e o capital de exploração fixo, definem o aparelho de produção da exploração agro-florestal. O valor do capital fundiário depende das características da terra e das benfeitorias que foram sendo implementadas na propriedade rural. A terra pode ser agrícola ou florestal. O nível de fertilidade e o declive do solo são também fundamentais na formação do valor do capital fundiário. O capital fixo de exploração é composto pelas máquinas e equipamentos agrícolas e pelos efectivos pecuários reprodutores. O seu valor varia em função dos preços de mercado e da vida útil ou da vida económica e do estado de conservação. O valor do aparelho de produção, que traduz o total do capital fundiário e do capital fixo de exploração de SPAM é dado por: AP = Σi TAi + Σi MFi + Σi COi + Σi PLi + Σi MQi + Σi AR i onde, AP é o valor actual do aparelho de produção em €; TAi é valor actual da terra agroflorestal do tipo i; MFi é valor actual dos melhoramentos fundiários do tipo i; COi é valor actual das construções rurais do tipo i; PLi é valor actual das plantações do tipo i; MQi é valor actual dos das máquinas e dos equipamentos agrícolas do tipo i; e ARi é valor actual dos dos animais reprodutores do efectivo i. De acordo com a natureza das decisões, os custos podem ser fixos ou variáveis. Os primeiros decorrem dos investimentos realizados e portanto dizem respeito ao longo prazo. Os segundos são custos operacionais proporcionais aos níveis de produção e decorrem das decisões de curto prazo. Os custos de produção em cada SPAM são dados pela soma dos custos de produção de todas as actividades agro-florestais. Os custos dessas actividades são o resultado da sua dimensão física, em ha nas actividades vegetais e florestais e em unidades pecuárias nas actividades pecuárias, e dos respectivos custos unitários (€/ha ou €/unidade pecuária): CT = Σi CVi + Σi CFi , em que: CVi = AGQi + CLEi + SAEi +AAEi e CFi = AMi + MOPi onde, CT é o custo total de produção agro-florestal em €; CVi é o custo variável de produção da actividade agro-florestal i; CFi é o custo fixo de produção da actividade agroflorestal i; AGQi é o custo com agro-químicos e fito-fármacos; CLEi é o custo com combustíveis, lubrificantes e energia; SAEi é o custo com serviços adquiridos ao exterior; AAEi é o custo dos alimentos adquiridos para a pecuária; AMi são as amortizações do investimento; e MOPi é o custo com a mão-de-obra permanente. No caso da análise social há que adicionar a esses custos o custo de oportunidade dos factores não transaccionáveis. Os proveitos incluem o valor da produção proveniente da participação nos mercados dos produtos agrícolas e florestais e as transferências institucionais de rendimento para actividade agro-florestal. Essas transferências incluem as ajudas previstas 8 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" no primeiro e no segundo pilar da PAC. As primeiras são relativas aos pagamentos compensatórios e aos prémios dos animais e as segundas às indemnizações compensatórias e às ajudas agro-ambientais, como por exemplo as ajudas à agricultura biológica, à extensificação da produção agrícola ou às raças autóctones. Os proveitos totais de cada SPAM resultam da soma dos proveitos de todas as actividades agro-florestais. Tal como para os custos, esses proveitos dependem dos proveitos unitários e da dimensão física das actividades agro-florestais: PVT = Σi VPi + Σi OCMi + Σi AGAi onde PVT são os proveitos totais dos SPAM em €; VPi é o valor da produção da actividade agro-florestal i; OCMi são as ajudas de apoio à produção e ao rendimento; e AGAi são as ajudas agro-ambientais e as indemnizações compensatórias. A avaliação dos resultados no curto prazo é dada pelo cálculo do Rendimento Empresarial Bruto (REB), que se obtém subtraindo ao total dos proveitos os custos variáveis e com a mão-de-obra permanente. No longo prazo os resultados são avaliados através Rendimento Empresarial Líquido (RL), que traduz a diferença entre os proveitos totais e os custos totais reais: REB = PVT – Σi CVi - Σi MOPi e REL = PVT - CT 3. RESULTADOS A identificação dos SPAM e a caracterização do seu perfil baseou-se no estudo dos padrões dominantes da amostra de explorações agro-florestais do Alentejo. Os resultados foram obtidos através da análise de componentes principais de cada grupo de variáveis, da classificação das freguesias do Alentejo segundo a análise K-means e da determinação das variáveis explicativas numa árvore de classificação individual (r-part). O estudo dos perfis representativos dos SPAM foi realizado tendo em conta as características agro-ecológicas, a orientação técnico económica e alguns aspectos da economia agrícola. As características dos recursos agro-ecológicos prendem-se sobretudo com os factores climatológicos e com as características da floresta (quadro A1 em anexo). A orientação técnico-económica decorre da origem do valor da produção, do tipo de ocupação do solo e do tipo de actividades pecuárias levadas a cabo (quadros A2 a A7 em anexo). Os aspectos da economia agrícola reflectem alguns aspectos estruturais como a dimensão económica dos SPAM, a superfície agro-florestal e o volume de trabalho anual. A análise dos padrões dominantes permitiu identificar 6 SPAM representativos da actividade agro-florestal no Alentejo, que em seguida se descrevem resumidamente. Os SPAM do tipo A são representativos das grandes explorações agro-florestais de pastagens extensivas das zonas interiores com baixa precipitação. Estes SPAM são pouco florestados, sendo o azinho a espécie dominante. A sua actividade económica orienta-se principalmente para a produção pecuária, que representa 83% do valor da produção, sendo 24% proveniente da produção de bovinos e 59% proveniente da produção de suínos. A alimentação dos efectivos pecuários é feita principalmente com alimentos da exploração. Os SPAM do tipo B correspondem às pequenas e médias explorações agroflorestais de pastagens e forragens das zonas interiores com baixa precipitação e com fraco florestal, apesar de apresentar algumas manchas de azinho denso. A sua actividade 9 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" económica está sobretudo associada à produção de bovinos de carne. Os animais são alimentados principalmente com produtos da exploração. Os SPAM do tipo C retratam as pequenas explorações agro-florestais das zonas litorais com boa precipitação, onde o coberto de montado de azinho e de sobro é bastante denso. Quase 70% do valor da produção provém da vinha para vinhos de qualidade. A produção pecuária representa 18% do valor da produção, repartidos pela produção de bovinos (7%), de ovinos (4%) e de suínos (7%). A maioria dos alimentos dos animais é produzida na exploração. Apesar da vinha ser a principal actividade em termos da formação de rendimento, 83% da superfície agro-florestal está afecta à produção de pastagens melhoradas e espontâneas e de forragens anuais. Os SPAM do tipo D dizem respeito às médias e grandes explorações agro-florestais das zonas elevadas interiores com boa precipitação O coberto florestal é disperso e predomina o azinho. A maior parte do valor da produção (74%) provém da produção de suínos alentejanos, contribuindo a produção de bovinos de carne com 22%. Os animais são alimentados principalmente com produtos da exploração. Os SPAM do tipo E incluem as pequenas explorações agro-florestais das zonas interiores próximas do litoral com boas precipitações, em que o coberto agro-florestal apresenta importantes manchas de sobro denso. A actividade económica está orientada para a produção de bovinos de carne, que representa 87% do valor da produção. A alimentação do gado é feita principalmente com produtos da exploração. O sistema de ocupação do solo é do tipo cereais-pastagens. Os SPAM do tipo F representam as pequenas e médias explorações agro-florestais de cereais e pastagens das zonas interiores com baixa precipitação. O coberto agro-florestal é frequentemente constituído por importantes manchas de azinho e de sobro denso. A produção de bovinos de carne é a principal actividade económica e representa 68% do valor da produção. A alimentação do gado provém principalmente dos produtos da exploração. O sistema de ocupação do solo é também do tipo cereais-pastagens. De uma maneira geral a orientação técnico-económica dos SPAM no Alentejo está mais vocacionada para a produção pecuária, principalmente de bovinos de carne e de suínos. A produção de bovinos baseia-se na exploração de raças puras autóctones ou em cruzamentos com raças especializadas. A produção de suínos decorre da exploração em regime extensivo de animais da raça Alentejana. A importância da produção pecuária nos SPAM no Alentejo é determinada não só pelo enquadramento económico, muito favorável do ponto de vista da transferência institucional de rendimentos, mas também pela competitividade que lhe confere as características do território. Aqui é de salientar a importância dos produtos do montado na alimentação do gado, nomeadamente a bolota na produção suínos e as grandes áreas de pastagens, onde as pastagens pobres e espontâneas tem um papel fundamental, por apresentarem custos operacionais muito reduzidos e permitirem boas condições de maneio do ponto de vista do bem-estar animal, que aliadas a alguma qualidade alimentar, permitem a obtenção de produtos de elevada qualidade. A análise de competitividade e eficiência económica dos SPAM baseia-se na comparação dos resultados a preços privados e a preços sociais, sendo apresentados no quadro 2 os resultados das PAM. A primeira coluna de resultados diz respeito aos efeitos das políticas actualmente em vigor contidas no primeiro e no segundo pilar da PAC. A segunda coluna de resultados reflecte os efeitos isolados das políticas de desenvolvimento rural em vigor contidas no segundo pilar da PAC. 10 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Para os SPAM do tipo A, o Resultado Líquido (RL) a preços privados é de 67 €/ha. Este resultado é superior aos custos sociais, estimados em 41 €/ha. Quando se retiram os efeitos das ajudas inseridas no primeiro pilar da PAC e se consideram apenas as ajudas ao desenvolvimento rural do segundo pilar da PAC, o RL baixa para 16 €/ha. Na análise a preços sociais o RL é negativo, indicando que os proveitos gerados pelos SPAM do tipo A numa economia liberalizada não são suficientes para remunerar todos os seus factores de produção. Nos SPAM do tipo B, o RL a preços privados é de 589 €/ha considerando o efeito das políticas em vigor e é de 216 €/ha tendo em conta apenas os efeitos das políticas de desenvolvimento rural. Estes resultados superam largamente os custos sociais, avaliados em 100 €/ha. Na análise social também se obtém um valor positivo para o RL de 100 €/ha. Estes resultados permitem concluir que os SPAM do tipo B geram proveitos suficientes para fazer face aos custos reais e aos custos de oportunidade dos factores de produção, sem a necessidade de transferências institucionais de rendimento das políticas públicas. Para os SPAM do tipo C o RL a preços privados é de 514 €/ha e 374 €/ha, tendo em conta, respectivamente, a globalidade das políticas públicas em vigor e apenas as políticas de desenvolvimento rural. Esses resultados ultrapassam claramente o custo social dos factores, que é de 283 €/ha. Quando se calcula o RL a preços sociais, obtém-se um resultado de 45 €/ha, o que mostra que estes SPAM são sustentáveis em termos económicos, porque retribuem adequadamente todos os factores de produção sem o efeito das transferências de rendimento das políticas públicas. Quadro 2 – Resultados da Matriz de Análise Política para os SPAM Proveitos Custos Resultado Resultado Líquido Líquido (*) SPAM – A Preços privados 192 125 67 16 Preços sociais 123 167 -43 -43 Efeitos de política e falhas de mercado 69 -41 110 59 SPAM – B Preços privados 899 311 589 216 Preços sociais 511 411 100 100 Efeitos de política e falhas de mercado 389 -100 489 116 SPAM – C Preços privados 1032 517 514 374 Preços sociais 846 801 45 45 Efeitos de política e falhas de mercado 185 -283 469 329 SPAM – D Preços privados 279 199 79 -50 Preços sociais 140 268 -128 -128 Efeitos de política e falhas de mercado 139 -69 208 78 SPAM – E Preços privados 613 411 202 -195 Preços sociais 202 502 -300 -300 Efeitos de política e falhas de mercado 410 -91 502 105 SPAM – F Preços privados 426 338 88 -134 Preços sociais 204 447 -243 -243 Efeitos de política e falhas de mercado 222 -109 331 109 Nota: (*) = Resultado Líquido considerando apenas os efeitos das políticas do segundo pilar da PAC, traduzidos pelas ajudas ao desenvolvimento rural. Fonte: Resultados do inquérito 11 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Nos SPAM do tipo D, quando se considera o efeito global das políticas públicas a preços privados, o RL é de 79 €/ha. Este valor excede o custo social dos factores em 10 €/ha. No entanto, se retirarmos as transferências de rendimento provenientes das políticas de apoio à produção e ao rendimento, mantendo apenas as políticas de desenvolvimento rural, o RL passa a ter um valor negativo (-50 €/ha). Estes SPAM geraram proveitos suficientes para remunerar adequadamente todos os factores de produção, no contexto conjunto das políticas institucionais em vigor, mas apresentam uma rentabilidade negativa, quando se considera apenas as políticas de desenvolvimento rural ou a análise a preços sociais. A sua competitividade está principalmente associada às receitas provenientes das ajudas recebidas por via das políticas inseridas no primeiro pilar da PAC. Com um RL a preços privados de 202 €/ha, os SPAM do tipo E no actual contexto de política agrícola, conseguem gerar proveitos suficientes para remunerar todos os factores, incluindo o seu custo de oportunidade. Quando se isolam os efeitos das políticas de desenvolvimento rural, o RL não só é inferior aos 91 €/ha estimados para os custos sociais, como é negativo (-195 €/ha). Com um contributo efectivo negativo para o crescimento económico em geral, a viabilidade e a competitividade são asseguradas pelos apoios à produção e ao rendimento inseridos no primeiro pilar da PAC. No actual contexto de políticas públicas de apoio ao sector, obtém-se para os SPAM do tipo F um RL de 88 €/ha. No entanto, este valor é inferior aos 109 €/ha estimados para os custos sociais. Neste caso, geram-se proveitos suficientes para cobrir os custos reais de produção, mas não para retribuir o custo de oportunidade dos recursos. Quando se isola o efeito das políticas de desenvolvimento rural, o RL assume um valor negativo (-134 €/ha), indicando falta de viabilidade nestas condições de apoios públicos. Para facilitar a interpretação dos resultados, classificaram-se os SPAM, em termos de condições de competitividade em função dos níveis de RL e dos efeitos das medidas de política agrícola, nos seguintes grupos: i) competitivos e eficientes - o RL a preços privados e a preços sociais é positivo; ii) competitivos e subsídio dependentes - RL a preços sociais é negativo, o RL a preços privados é positivo e superior ao custo do social dos recursos, mas é inferior a estes quando se avalia isoladamente o efeito das políticas do segundo pilar da PAC com impactos ambientais ou territoriais; iii) competitivos e ambientalmente sustentáveis – o RL a preços sociais é negativo, o RL a preços privados é positivo e superior ao custo social dos recursos, mesmo quando se avalia isoladamente as políticas com impactos ambientais ou territoriais; iv) viáveis e subsídio dependentes - o RL a preços sociais é negativo, o RL a preços privados é positivo mas inferior ao custo do social dos recursos e o RL a preços privados quando se incorpora apenas o efeito das políticas com impactos ambientais ou territoriais é também negativo; v) viáveis e ambientalmente sustentáveis - o RL a preços sociais é negativo, o RL a preços privados é positivo mas inferior ao custo do social dos recursos e o RL a preços privados quando se incorpora apenas o efeito das políticas de desenvolvimento rural é positivo; e vi) economicamente inviáveis - o RL a preços sociais e o RL a preços privados são negativos. No quadro 3 apresenta-se a classificação dos SPAM que traduz em termos das condições de competitividade e sustentabilidade os resultados da PAM apresentados anteriormente no quadro 2. Quadro 3 – Classificação dos SPAM segundo as condições de competitividade Modelos Sócio-Económicos de Exploração do Ecossistema Montado Tipo B, médias e pequenas explorações agro-florestais de pastagens e forragens com bovinos das zonas interiores com baixa precipitação; Competitivos e eficientes 12 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Competitivos e subsídio dependentes Viáveis e subsídio dependentes Tipo C, pequenas explorações agro-florestais de vinha, olival e forragens-pastagens com bovinos, ovinos e suínos das zonas litorais com boa precipitação; Tipo A, grandes explorações agro-florestais de pastagens extensivas com bovinos e suínos das zonas interiores com baixa precipitação; Tipo D, médias e grandes explorações agro-florestais de forragens e pastagens com bovinos e suínos das zonas elevadas interiores com boa precipitação; Tipo E, pequenas explorações agro-florestais de cereais-pastagens com bovinos das zonas interiores próximas do litoral com boas precipitações; Tipo F, pequenas e médias explorações agro-florestais de cereais e pastagens com bovinos das zonas interiores com baixa precipitação; Fonte: Com base no Quadro 2. Entre os SPAM competitivos e eficientes encontram-se os do tipo B e do tipo C. Estes SPAM mantêm-se competitivos mesmo sem o efeito das políticas institucionais de transferência de rendimento, tendo capacidade para concorrer no mercado internacional e contribuir de modo eficiente para o crescimento do sector agro-florestal e da economia de um modo geral. Nos SPAM competitivos e subsídio dependentes, inserem-se os SPAM dos tipos A, B e C. Neste caso a competitividade é mantida principalmente através dos subsídios directos à produção e ao rendimento, pelo que sua manutenção a prazo poderá estar ameaçada com a evolução da PAC, sendo desejável a sua reconversão estrutural em SPAM competitivos e ambientalmente sustentáveis ou, mas menos provável, em SPAM competitivos e eficientes. Finalmente, o grupo dos SPAM viáveis e subsídio dependentes, que são representados pelos SPAM do tipo F. Estes SPAM não são competitivos, porque não remuneram os recursos ao nível do seu custo de oportunidade e a sua viabilidade está associada sobretudo aos subsídios de apoio directo à produção e ao rendimento da PAC. Sendo mais vulneráveis do que os SPAM competitivos e subsídio dependentes, a sua manutenção a prazo depende da sua capacidade de ajustamento, nomeadamente, de reduzir custos e de valorizar as suas produções. No quadro 4 apresenta-se a agregação dos resultados da PAM, para o total do Alentejo em função do número de explorações com mais de 100 hectares e da sua superfície. Quadro 4 – Resultados agregados da PAM no Alentejo Número de explorações Superfície Total > 100 ha (%) (%) Competitivos e eficientes 40 38,6 Competitiv.e subsídio dependentes 50 57,3 Viáveis e subsídio dependentes 10 4,1 SPAM Fonte: Quadros 3 e A8 em anexo. Os SPAM competitivos e subsídio dependentes são os predominantes no Alentejo, representando metade das explorações agro-florestais da região com mais de 100 hectares e 60% da sua superfície. Em segundo lugar aparecem os SPAM competitivos e eficientes, com cerca de 40% das explorações agro-florestais com mais de 100 hectares e da respectiva superfície. Por último, surgem os SPAM viáveis e subsídio dependentes, que contam com 10% das explorações agro-florestais com mais de 100 hectares e com 4,1% da 13 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" sua superfície total. Estes resultados permitem concluir, que a maior parte das explorações agro-florestais do Alentejo faz depender a sua competitividade das ajudas institucionais de apoio directo à produção e ao rendimento, inseridas no primeiro pilar da PAC. No entanto, uma grande parte das explorações agro-florestais é sustentável do ponto de vista económico, mesmo sem o apoio das políticas públicas de transferência de rendimento. 4. CONCLUSÕES A identificação e a avaliação económica dos SPAM conduziram à análise dos perfis representativos e da sua competitividade e eficiência ou sustentabilidade económica. Para o efeito recorreu-se à elaboração de Matrizes de Análise Política (PAM), que permitiu avaliar simultaneamente a competitividade dos SPAM e o seu contributo eficiente para o crescimento da economia, assim como as transferências institucionais de rendimento. De uma maneira geral a orientação técnico-económica dos SPAM está mais vocacionada para a produção pecuária, principalmente de bovinos de carne e de suínos alentejanos. A ocupação do solo é determinada pelos factores climatológicos específicos de cada zona, pelas características da floresta e pelos tipos de efectivos pecuários existentes. A importância da produção pecuária é determinada não só pelo enquadramento económico mais favorável relativamente aos apoios públicos, mas também pelas vantagens competitivas do território, em que a produção de bolota e de grandes áreas de pastagens melhoradas e espontâneas desempenham um papel fundamental na redução dos custos dos alimentos com o gado. Em termos de competitividade e de eficiência económica, os SPAM competitivos e subsídio dependentes predominam no Alentejo, representando metade das explorações agro-florestais da região com mais de 100 hectares e perto de dois terços da sua superfície. A seguir surgem os SPAM competitivos e eficientes, com cerca de 40% das explorações agro-florestais com mais de 100 hectares e da respectiva superfície. Por último, tem-se os SPAM viáveis mas subsídio dependentes, que contam com 10% das explorações agroflorestais com mais de 100 hectares e com 4,1% da sua superfície total. Os SPAM competitivos e subsídio dependentes correspondem às grandes e médias explorações agro-florestais das zonas interiores do Alentejo, com sistemas de produção de pastagens extensivas e de forragens, valorizados pela produção de bovinos de carne e de suínos Alentejanos e às pequenas explorações agro-florestais das zonas interiores do Alentejo próximas do litoral, em que os sistemas de produção dominantes são do tipo cereais-pastagens, com bovinos de carne. Os SPAM competitivos e eficientes são relativos às explorações agro-florestais de pequena e média dimensão das zonas interiores do Alentejo, com sistemas de produção baseados em pastagens e forragens e cujo o aproveitamento é feito principalmente com bovinos de carne e às pequenas explorações agro-florestais das zonas litorais com boa precipitação de vinha, olival e pastagens e forragens, com bovinos, ovinos e suínos. O grupo dos SPAM viáveis e subsídio dependentes, refere-se às pequenas e médias explorações agro-florestais das zonas interiores com baixa precipitação, de cereaispastagens, com bovinos de carne. Conclui-se neste artigo que a competitividade da maior parte dos SPAM depende das ajudas institucionais de apoio directo à produção e ao rendimento, inseridas no primeiro pilar da PAC. Seria desejável que esses SPAM passassem a beneficiar no futuro mais das ajudas do segundo pilar da PAC em detrimento do primeiro pilar, o que 14 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" implicaria alguns ajustamentos para adequar as tecnologias e as opções produtivas numa perspectiva territorial de desenvolvimento rural e de preservação dos recursos ambientais. De um modo geral esses ajustamentos são serão difíceis de alcançar, na medida em na maior parte dos SPAM a produção agro-florestal já está orienta para sistemas de produção extensivos, que beneficiam, por um lado, de custos de produção relativamente baixos e de produtos de qualidade reconhecida com potencial de valorização nos mercados e, por outro lado, da utilização de tecnologias de produção agro-florestal que permitem a manutenção das condições ambientais do ecossistema. Referências Bibliográficas ABREU, J. V. (1987), “Sheep as a competitive livestock enterprise in Missouri”, Tese de Mestrado, Universidade de Missouri-Columbia, Abril. AVILLEZ, F. E C. Queiroz (1987), “A competitividade da beterraba sacarina no contexto da agricultura dos vales do Tejo e Sorrais”; Revista de Ciências Agrárias, vol. n.º3: 5-21. AVILLEZ, F., F. Pimentel, F. Magalhães e ª Carrilho (1987), “A competitividade do sector do concentrado de tomate noi contexto da Política Agrícola Comum”, 52 pp. Junho. 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Quadro A3 – Orientação técnico-económica dos SPAM do tipo B Actividade ha % Valor da Produção Destino da produção Silagem de milho regadio 38 27 Venda e auto-utilização Feno de azevém 16 2 Venda e auto-utilização Pastagem melhorada 324 - Auto-utilização Bovinos mertolengos cruzados 240 71 fêm.reprod. Fonte: Resultados dos inquéritos às explorações agro-florestais. Venda de vitelos aos 8 meses Quadro A.4 – Orientação técnico-económica dos SPAM do tipo C Actividade ha % Valor da Produção Destino da produção 18,5 67 Venda Olival para azeite 13 3 Venda Sorgo 14 - Auto-utilização Ervilha seca 16 - Auto-utilização Feno de aveia 14 - Auto-utilização Feno de consociação 0,85 - Auto-utilização Pastagem permanente 60,53 - Auto-utilização Pousio e pastagens espontâneas 40,82 Vinha VQPRD e DOC Auto-utilização Bovinos Limusine cruzados 33 fêm.reprod. 7 Venda de vitelos aos 6 meses com 200 Kg Ovinos Merino Branco 280 fêm.reprod. 4 Venda de borregos aos 3 meses com 20 Kg Suínos Alentejanos 15 fêm.reprod. 7 Venda de leitões aos 2 meses com 10 Kg e de porcos aos 12 meses com 90 Kg Fonte: Resultados dos inquéritos às explorações agro-florestais. 18 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Quadro A.5 – Orientação técnico-económica dos SPAM do tipo D Actividade Ha % Valor da Produção Destino da produção Milho regional de sequeiro 99 - Auto-utilização Milho regional de regadio 2 - Auto-utilização 19,5 - Auto-utilização 30 3 Venda e auto-utilização 133,5 - Auto-utilização Pousio e pastagens espontâneas 514 - Auto-utilização Bovinos Mertolengos cruzados 250 fêm.reprod. 22 Venda de vitelos aos 7 meses com 230 Kg 87 74 fêm.reprod. Fonte: Resultados dos inquéritos às explorações agro-florestais. Venda de porcos aos 24 meses com 170 kg Feno de consociação Aveia-grão Pastagens pobres Suínos Alentejanos Quadro A.6 – Orientação técnico-económica dos SPAM do tipo E % Valor da Produção Actividade ha Trigo duro 13 16 Venda Pastagem melhorada 64 - Auto-utilização Pousio e pastagens espontâneas 30 - Auto-utilização Bovinos Limusine cruzados 65 87 fêm.reprod. Fonte: Resultados dos inquéritos às explorações agro-florestais. Destino da produção Venda de vitelos aos 11 meses com 450 kg Quadro A.7– Orientação técnico-económica dos SPAM do tipo F % Valor da Produção Actividade ha Trigo duro 60 20 Venda Pastagem permanente 311 - Auto-utilização Pousio e pastagens espontâneas 77,9 Cortiça Disperso Bovinos Mertolengos Bovinos Charolês cruzados Destino da produção Auto-utilização 11 77 fêm.reprod. 98 68 fêm.reprod. Fonte: Resultados dos inquéritos às explorações agro-florestais. Venda Venda de machos aos 12 meses com 430 Kg Venda de vitelos aos 6 meses com 200 a 250 Kg 19 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural XLV CONGRESSO DA SOBER "Conhecimentos para Agricultura do Futuro" Quadro A.8 – Distribuição das explorações agrícolas pelos grupos representativos SPAM Número de explorações Superfície Total (%) (%) A 16,7 20,5 B 26,7 31,8 C 13,3 6,8 D 23,3 33,7 E 10,0 3,1 F 10,0 Fonte: Equipa do projecto com base na análise k-means 4,1 20 Londrina, 22 a 25 de julho de 2007, Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural