CWDB – Alarme de Deficiência de Frenagem em Vagão 1º Eduardo Campolina Martins Siano*, 2º Nilton de Freitas Gerência de Engenharia de Material Rodante, Av. Brasil, 2001, 36060-010, Juiz de Fora, Minas Gerais e-mail: 1º [email protected], 2º [email protected] Resumo Em vista das ocorrências de falhas nas aplicações de freio durante a operação dos trens surgiu a necessidade da criação de um parâmetro que diagnosticasse quais vagões estariam contribuindo para esses eventos. Assim, desenvolveu-se o CWDB (Cold Wheel Deficiency Braking), um alarme que, através dos valores de temperatura obtidos pelos equipamentos de HOT WHEEL já existentes na malha da MRS, é capaz de determinar se um vagão apresenta ou não deficiência de frenagem. Isso se torna possível com o cálculo do percentual entre a temperatura média das rodas de um vagão e a temperatura média das rodas dos vagões do trem em que o mesmo está contido, este percentual esta diretamente relacionado à deficiência de frenagem de um vagão em relação a composição, o percentual foi utilizado como critério. As temperaturas para a obtenção desses percentuais serão obtidas de equipamentos situados em trechos que exigem aplicação contínua e prolongadas de freio da composição (ou seja, trechos de rampas descendentes). Caso um vagão apresente valores inferiores ao critério estabelecido durante um determinado número de passagens subseqüentes, ele será classificado como deficiente em frenagem e é então emitido um alarme via e-mail contendo as informações necessárias para que seja criada uma solicitação para que o mesmo seja retirado de trem e então passe por testes e correções em oficina. Assim, o CWDB não só aumenta a segurança nas operações de trens como também evita a interrupção do tráfego ferroviário por composições que atinjam os parâmetros de RODA FRIA vigentes na MRS, ou seja, quando o trem estiver com cinco porcento ou mais dos vagões sem aplicação de freio. Outro ganho a ser considerado é a redução de falhas (como, por exemplo, “shelling” e trincas térmicas) oriundas da exposição das rodas a altas temperaturas de trabalho, já que, com a melhoria na eficiência de frenagem dos vagões, há uma aplicação de freio mais homogênea em toda composição, o que irá provocar uma diminuição da temperatura média e, principalmente, máxima das rodas dos vagões. Palavras-Chaves: 1ª Vagões; 2ª Deficiência de Frenagem, 3ª Freio e 4ª Cold Wheel 1. INTRODUÇÃO A aquisição de equipamentos Hot Wheel pela MRS teve como principal motivação o monitoramento das rodas que apresentavam superaquecimento e cujas causas estavam em quase sua totalidade ligadas a defeitos no sistema de freio (tanto pneumático quanto mecânico) que contribuíam para um aumento na taxa de frenagem dos vagões além de desgastes excessivos e prematuros de sapatas, calejamento de rodas, entre outros. Porém, após alguns anos de utilização desses equipamentos e do estudo dos dados coletados ao longo do tempo, atentou-se também para aqueles veículos que apresentavam temperaturas inferiores às dos demais vagões da composição. A figura 1 mostra um exemplo de equipamento Hot Wheel, que é composto basicamente por sensores instalados na via, com dois pirômetros, que ficam dentro do scanner, capazes de medir a radiação infravermelha emitida pelas rodas e, em seguida, codificam a radiação em temperatura. Fig. 1 Equipamento de Hot Wheel instalado ao longo da via. A figura 2 nos mostra de que maneira as temperaturas se distribuem ao longo da superfície da roda, além de indicar a região na qual é feita a leitura pelo scanner do equipamento (2,5 polegadas acima do ponto de contato entre a roda e o trilho). cinco porcento ou mais dos vagões sem aplicação de freio). O alarme de Deficiência de Frenagem – CWDB constitui em uma análise estatística das médias de temperaturas de roda de um vagão, comparando-as as com os valores valo de temperatura média dos vagões va da composição em que se encontram. A partir daí, acompanha-se se o comportamento dos vagões críticos (ou seja, aqueles que apresentam temperaturas inferiores à do limite pré-estabelecido) estabelecido) até que atinjam at um número de passadas consecutivas com baixas temperaturas de roda tal que esse histórico de temperaturas seja capaz de classificar o veículo como deficiente em frenagem. Caso o veículo seja classificado como deficiente, um alarme será emitido por e-mail e contendo as seguintes informações: vagão, o prefixo do trem, local e data do alarme, o sentido do trem e qual a posição do veículo na composição. Também são informados quais foram os parâmetros utilizados para configuração do alarme incluindo o histórico histór de temperaturas alarmantes neste vagão, que em seguida é marcado para, após descarga, passar por uma analise de freio para verificar o motivo pelo qual foi classificado como deficiente em frenagem, evitando que o trem atinja os parâmetros de RODA FRIA. 2. DESENVOLVIMENTO 2.1 OBJETIVO Fig. 2 Perfil de distribuição de temperatura ao longo da superfície da roda e região em que são coletados os dados pelo equipamento de Hot Wheel. Portanto, a análise dos dados obtidos pelos equipamentos de Hot Wheel mostrou-se mostrou uma ferramenta importante no estudo das condições de frenagem doss vagões a partir das temperaturas de suas rodas (temperaturas (tempera baixas – pouco freio; temperaturas altas – excesso de freio). Logo, torna-se se possível a criação de um parâmetro que envolva a temperatura das rodas de cada veículo ve a fim de que vagões que apresentem presentem deficiência de frenagem sejam diagnosticados separadamente e, com isso, não se atinja os parâmetros de RODA FRIA já á estabelecidos na MRS (ou ou seja, quando o trem estiver com • Detectar deficiência de frenagem através da comparação estatística entre a temperatura média do vagão e a temperatura média do trem, ou seja: (1) Mv (2) Mt ∑ Rv ∑ Rt Em que: TMv = temperatura média das rodas do vagão; TMt = temperatura média das rodas do trem; ∑TRv = somatório rio das temperaturas das rodas do vagão; ∑TRt = somatório rio das temperaturas das rodas do trem; V = número de vagões no trem. • Utilizar os equipamentos de Hot Wheel já existentes para colher as informações; • Evitar interrupção de tráfego uma vez que os parâmetros de RODA FRIA não serão atingidos. Ao comparar a TMv com a TMt observa-se uma grande diferença quando este esta submetido a frenagem e um ou mais vagões não estão freando corretamente, o que pode ser observado na figura 3. Ou seja, num trecho em que o trem trafega com uma aplicação de freio por um período de tempo considerável, temperaturas de roda muito baixas evidenciam falhas no sistema de freio do veículo em questão. Exemplo abaixo: (do momento em que se inicia a descida até ser realizada a leitura pelo equipamento de Hot Wheel tem-se uma distância de aproximadamente 16km em que toda a composição se encontra com os freios aplicados por uma redução entre 8 e 10psi a uma velocidade de 36km/h, o que nos dá em média cerca de 25 a 30 minutos com os freios aplicados). Fig. 4 Perfil longitudinal km 70 a km 72 Vagão com possível deficiência de frenagem. Fig. 3 Gráfico de dispersão com todas as temperaturas de roda de um trem. Sendo assim, para criar um critério do CWDB deve-se levar em consideração a razão entre a temperatura média do vagão e a temperatura média do trem. Ou seja: (3) Mv Mt em que X é um valor dado em porcentagem. Em seguida, é feito um acompanhamento do comportamento de cada vagão até que algum veículo apresente um número consecutivo de passagens com temperaturas de rodas relativamente inferiores a toda composição. Por se tratar de um trecho de rampa descendente (inclinação média de 1,7% com pontos chegando a até 2,5%) por onde passam os trens de minério da MRS, formados em sua grande maioria por tabelas de 2 locomotivas e 134 vagões carregados, a escolha do equipamento de Hot Wheel instalado em Mario Belo para parametrização do alarme surge como adequada vistas as condições operacionais no trecho serem tais que temos uma aplicação de freio contínua e prolongada A partir disso, para chegar aos valores satisfatórios, utilizou-se um trem que segundo o maquinista apresentou dificuldades durante a aplicação dos freios em vários momentos e fizemos um estudo das temperaturas coletadas pelo Hot Wheel de Mario Belo (Linha 1) durante várias passagens pelo site. Assim, detectaram-se os vagões mais críticos da composição (ou seja, aqueles que apresentaram, durante várias passagens, temperaturas relativamente mais baixas do que os demais veículos) e a partir disso obtiveram-se os dados da tabela 1: Tabela. 5 Histórico de temperatura da composição em estudo e seus destacando os vagões mais críticos A partir dessa tabela 1, criou-se o gráfico (figura 5) que mostra que num período de 3 (três) meses o vagão GDT-613205-7 apresentou as primeiras 10 (dez) passagens com X acima de 8% e as últimas 10 (dez) passagens com X abaixo desse percentual. 2.2 CRIAÇÃO DE UM NOVO ALARME (CWDB) Tabela. 2 Definição do Alarme Nº Ocorrências Nº Passagens 5 7 Critério 0,08 ≥ Mv Mt 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Fig .5 Gráfico que mostra o comportamento da temperatura média do vagão GDT-613205-7 nas últimas 20 passagens. Com a tabela 1, criou-se mais um gráfico (figura 6) que mostra o comportamento do vagão GDT-613030-5 durante o mesmo período de tempo. Este, por sua vez, apresentou inúmeras passagens com X abaixo do percentual de referência e, além disso, suas 5 (cinco) últimas passagens consecutivas apresentaram tal comportamento. O novo alarme foi posto em produção em Julho de 2015 e possibilitou um melhor entendimento dos percentuais de roda fria medidos pela MRS. Tais percentuais (mostrados na figura 7) são acompanhados diariamente através das informações coletadas pelos equipamentos de Hot Wheel e servem de ferramenta para o monitoramento das composições que circulam ao longo da Ferrovia do Aço. Fig. 7 Gráfico com os percentuais de roda fria dos trens ao longo do mês de Julho de 2015 Fig. 6. Gráfico que mostra o comportamento da temperatura média do vagão GDT-613030-5 nas últimas 20 passagens. O fato de termos um número consecutivo de passagens com temperaturas abaixo da linha de referência é um potencial indicativo de que o vagão não está freando corretamente. O valor da linha de referência foi determinado empiricamente a fim de ser criterioso ao ponto de ser capaz de diagnosticar, entre os veículos em análise, o vagão com maior deficiência de frenagem e, além disso, determina um número de passagens consecutivas suficientes para a confirmação da falha. Assim, surgem os seguintes critérios para considerar um vagão deficiente em frenagem: 1) Razão X inferior ao valor de referência (ou seja, Tmv inferior a 8% da TMt); 2) Vagão apresentar, em 7 (sete) passagens consecutivas, no mínimo 5 (cinco) ocorrências com temperatura suficientemente baixa para não atingir o valor de referência. Com a chegada do CWDB conseguiu-se enxergar além dos veículos que já estão sinalizados no sistema como “isolados”, ou seja, visualizar quais vagões estão apresentando algum tipo de defeito de modo que os mesmos não estejam aplicando freio de forma eficiente. Tal segregação se torna importante para que se possam indicar de fato quais vagões precisam ser encaminhados à oficina e que até então não haviam sido sinalizados, conforme ilustrado na figura 8. Fig. 8 Gráfico de acompanhamento diário das indicações feitas pelo CWDB. Após os primeiros meses de implementação do alarme e o tratamento daqueles vagões deficientes em frenagem, foi possível identificar reduções não só nos percentuais de roda fria como também uma diminuição da temperatura média das rodas dos trens (figura 9), visto que o aumento do número de veículos freando na composição permitiu a aplicação de menores taxas de frenagem pelo operador em trechos de inclinação descendente, como no caso de Mario Belo. Fig. 10 Histograma das temperaturas de rodas dos trens NEL0160 e NEL0356 Fig. 9 Gráfico de temperatura média do trem e percentual de rodas frias após implementação do novo alarme. Outro ganho que pode ser citado é a diminuição da temperatura máxima de roda. Isso se deve pelo fato de que a dissipação da energia cinética através do atrito entre sapatas e rodas em forma de calor, com a diminuição do percentual de rodas frias, irá ocorrer de maneira mais homogênea, ou seja, melhor distribuída em toda composição, evitando a sobrecarga de frenagem de alguns veículos e até mesmo um possível superaquecimento das rodas. Isso fica claro no exemplo abaixo, em que analisando a mesma tabela em dois momentos diferentes, um em que foi constatado 6,72% de rodas frias (trem NEL0160) e outro em que o percentual foi de 0,00% (trem NEL0356) é possível perceber que quanto menor é o percentual de rodas frias, tem-se menores temperaturas máximas de roda (tabela 3) além de uma menor variância das temperaturas encontradas ao longo do trem (figura 10). Tabela. 3 Dados da tabela EXP28 Outro ganho, que ainda não pode ser mensurado, refere-se à redução do rejeito por imperfeições oriundas de exposições da superfície de rolamento das rodas às altas temperaturas ao longo do tempo, tudo isso tendo em vista a redução das temperaturas médias das rodas dos trens, conforme dito anteriormente. Alinhado à essa redução, pode ser citado também um menor desgaste de sapata e/ou caldeamento das mesmas devido sobrecargas nos sistemas de freio, porém, assim como os efeitos na vida útil das rodas, tais ganhos só poderão ser percebidos após um longo período de utilização do alarme de deficiência de frenagem. 4. CONCLUSÃO Após a análise das informações coletadas ao longo da implementação do CWDB – Alarme de Deficiência de Frenagem em Vagão pode-se concluir que, além do ganho em segurança operacional através da garantia de uma maior confiabilidade no sistema de freio dos vagões quando solicitados em trechos de inclinações descendentes onde são exigidas frenagens contínuas e prolongados, vale a pena ressaltar também às reduções nas temperaturas médias de roda do trem e na temperatura máxima de roda dos vagões devido à redução no percentual de rodas frias dos trens e de uma aplicação de freio mais homogênea em toda composição. Alinhada à redução da temperatura média e máxima, a diminuição da carga térmica durante as aplicações de freio possibilitará ganhos a longo prazo tais como um menor rejeito de rodas por imperfeições causadas pelas exposições das suas superfícies de rolamento às altas temperaturas por um longo período de tempo, bem como um menor desgaste de sapata e/ou caldeamento das mesmas devido sobrecargas nos sistemas de freio. 5. BIBLIOGRAFIA [1] Gestão de parada de trem em função da modelagem matemática do fenômeno Hot Wheel aplicada em vagões ferroviários, VIII Prêmio AmstedMaxion de Tecnologia Ferroviária, São Paulo, Brasil, 2010. [2] HARMON, 2000. Micro Hot Box Detector. System Manual.