VII SIMPÓSIO BRASIL SUL DE AVICULTURA
04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA PRODUÇÃO DE
FRANGOS DE CORTE
Renato Luis Furlan
Unesp – Universidade Estadual Paulista
Centro Virtual de Ciência Avícola
Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias- Campus de Jaboticabal
E-mail:[email protected]
Introdução
O frango de corte comercial é hoje um dos animais com maior eficiência
nutricional e rápido desenvolvimento (ganho de peso). No Brasil, a avicultura foi uma
das atividades agropecuárias de maior desenvolvimento nas últimas décadas. Este
progresso, tanto no número de frangos abatidos como no de ovos produzidos,
possibilitou à indústria avícola um notável potencial para prover aos consumidores,
uma fonte protéica saudável e a um custo mais baixo. No entanto, a criação de frangos
de corte continua apresentando desafios à medida que a atividade atinge novos e mais
altos patamares de produtividade. Nos países tropicais, dentre estes desafios tem-se o
fator ambiental de alta temperatura e alta umidade dentro do galpão, os quais são
limitantes para ótima produtividade.
O ambiente pode ser definido como a soma dos impactos dos circundantes
biológicos e físicos e constitui-se em um dos responsáveis pelo sucesso ou fracasso do
empreendimento avícola. Isto porque, na maioria dos casos, as aves domésticas são
confinadas, proporcionando pouca margem de manobra para os ajustes
comportamentais necessários para a manutenção da homeostase térmica. Portanto,
considerando que na maioria dos sistemas de produção de aves, na América Latina, os
fatores climáticos são pobremente manipulados e gerenciados, o microambiente para a
produção e bem-estar do frango de corte, nem sempre é compatível com as
necessidades fisiológicas dos mesmos. Os efeitos estressores do ambiente podem
estar vinculados a: velocidade e temperatura do ar, temperatura radiante,
disponibilidade de água, umidade da cama.
As variáveis ambientais tanto podem ter efeitos positivos como negativos sobre
a produção dos frangos de corte. Assim, altas temperaturas reduzem o consumo de
alimento prejudicando o desempenho dos frangos. Já baixas temperaturas, podem
melhorar o ganho de peso, mas as custas de elevada conversão alimentar. A condição
ambiental deve ser manejada, na medida do possível, para evitar um efeito negativo
sobre o desempenho produtivo dos frangos; uma vez que podem afetar o metabolismo
(produção de calor corporal em temperaturas baixas e dissipação de calor corporal em
temperaturas altas), com conseqüente efeito sobre a produção animal (carne e ovos) e
a incidência de doenças metabólicas como a síndrome da hipertensão pulmonar
(ascite).
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Assim, para obtermos melhor desempenho produtivo na criação de frangos de
corte, devemos estar atentos à interação entre o animal e o ambiente, a fim de que o
custo energético dos ajustes fisiológicos seja os menores possíveis.
Meio Interno e Homeostase
As células são as unidades básicas estruturais e funcionais dos seres vivos
que possuem propriedades fundamentais comuns que as mantém vivas. No entanto,
certas células têm especificidade, como por exemplo, a excitabilidade da célula
nervosa, secreção de hormônios protéicos e transporte de moléculas. As
especializações celulares que acontecem durante a diferenciação celular resultam na
adaptação de células para desempenhar funções fisiológicas. As células diferenciadas
que se arranjam em um mesmo local formam um tecido; os tecidos são combinados
para formar um órgão, os quais se reúnem para constituir os sistemas.
O organismo das aves pode ser considerado como sendo uma complexa
sociedade de células, as quais estão associadas e inter-relacionadas estrutural e
funcionalmente em vários meios e têm a finalidade de realizar funções fisiológicas para
que o organismo sobreviva como um todo. O efeito das atividades dos sistemas é a de
criar dentro, ou no interior do organismo o ambiente necessário para que todas as
células funcionem adequadamente. Neste sentido, cada órgão contribui para a
manutenção e regulação do meio interno.
Os organismos multicelulares somente podem sobreviver de forma adequada
quando conseguem manter a composição do meio interno compatível com a
sobrevivência das células individuais. O fisiologista francês Claude Bernard , em 1857
foi o primeiro cientista a descrever a importância da manutenção do meio interno para a
sobrevivência do organismo. Este conceito de meio interno e sua constância é a idéia
mais importante que devemos ter em mente para entendermos as funções e interrelações entre os órgãos. O conceito de meio interno s sua manutenção foi ampliado
pelo fisiologista norte-americano W.B. Cannon, que salientou que a estabilidade
funcional poderia ser conseguida por meio de processos coordenados, sendo este
novo conceito denominado de HOMEOSTASE. Assim, a homeostase está associada
às condições de estabilidade resultante das respostas fisiológicas reguladoras. As
pequenas alterações da composição do meio interno, obviamente ocorrem, mas as
mesmas são mínimas e mantidas dentro de estreitos limites através de vários
processos homeostáticos coordenados. Dessa forma, os conceitos de meio interno de
Claude Bernard e de homeostase de W.B. Cannon são básicos para o entendimento do
significado de conforto ambiental para aves.
Princípios do Controle da Temperatura nas Aves
O modelo de termorregulação nas aves é baseado em 4 diferentes unidades
funcionais: a) receptor, b) controlador c) efetor e d) sistema passivo (Fig. 1). A
percepção dos estímulos pelos receptores e sua integração com o sistema nervoso,
induz a ativação dos mecanismos controladores da temperatura corporal. A
participação dos sistemas efetores, induz as respostas para a manutenção da
homeotermia. Neste sentido, podemos dizer que o controle da temperatura nas aves é
feito com base no balanço de duas variáveis: uma associada às respostas
desencadeadas pelo aumento de temperatura e a outra, devido à redução da
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temperatura. Assim, assume-se a existência de duas populações neuronais no
hipotálamo. Os neurônios responsivos ao calor são ativados quando a temperatura
corporal aumenta, induzindo o animal a ter respostas de perda de calor; enquanto os
neurônios responsivos ao frio são ativados quando a temperatura corporal está baixa e
induz a respostas de conservação de calor.
Fig. 1. Interação entre ambiente-frango de corte
O conceito de set-point termorregulador reside na influência recíproca dos
sensores de frio e de calor sobre o sistema controlador da temperatura corporal. Assim,
quando as atividades dos neurônios responsivos ao calor e ao frio se igualam, a
produção será igual à perda de calor e a temperatura será mantida estável. Este ponto
de atividade é denominado de set-point, que no caso das aves domésticas está em
torno de 41 °C (Fig. 2). Neste sentido, a manutenção da temperatura corporal das aves
é função de mecanismos de produção e perda de calor. Portanto, à medida que a
temperatura corporal se eleva, durante o estresse calórico, processos fisiológicos são
ativados com a finalidade de : a)aumentar a dissipação de calor e b) reduzir a produção
metabólica de calor. Já durante o estresse pelo frio é observado efeito oposto com
redução na dissipação de calor e aumento na produção de calor.
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Fig. 2. Resposta dos neurônios hipotalâmicos frente à variação de temperatura
Mecanismos de Produção e Perda de Calor
Para aumentar a dissipação de calor dos tecidos, onde ele é produzido, para a
superfície do corpo, onde ele é dissipado, a ave utiliza mecanismos de perda de calor
sensível e latente. A dissipação de calor sensível ocorre através dos mecanismos não
evaporativos, ou seja: radiação, convecção e condução. Assim, a ave para aumentar a
dissipação de calor, procura maximizar a área de superfície corporal, agachando,
mantendo as asas afastadas do corpo, induz ptiloereção e aumento do fluxo sangüíneo
para os tecidos periféricos não cobertos com penas(pés, crista, barbela). Desta forma,
a ave faz com que haja uma troca de calor sensível para o meio ambiente, pois o
sangue possui, de forma similar a da água, grande capacidade de transportar calor,
dos tecidos até a superfície corporal, a fim de que haja troca de calor com meio
ambiente. Wolfenson (1983) mostrou que há um aumento das anastomoses arteriovenosas, principalmente nas regiões sem penas, contribuindo de 17 a 83% do fluxo
total de sangue na periferia quando a aves estão em ambiente frio ou quente,
respectivamente.
Richards (1976) variando a temperatura ambiente de 0 a 40 °C, encontraram
um aumento na temperatura corporal de 40,9 a 43,7 °C, respectivamente. Outros
estudos têm mostrado a interação entre a temperatura ambiente e a temperatura
corporal e da pele. Neste sentido, Zhou & Yamamoto (1997) verificaram um aumento
de 3°C (41 a 44 °C) na temperatura corporal, enquanto a temperatura da pele
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aumentou 6°C (37 a 43 °C) em frangos submetidos ao estresse calórico (36°C/3horas).
Richards (1971) observou que o gradiente térmico máximo entre a superfície corporal e
o ambiente seria obtida em temperaturas ambientes entre 25 e 27 °C. Assim, a
variação da temperatura da pele, durante o estresse calórico, evidencia um aumento do
fluxo sangüíneo para a superfície da ave para dissipação de calor, o qual é refletido
pela maior temperatura da pele. Entretanto, o inverso também é verdadeiro, uma
redução no fluxo sangüíneo cutâneo diminui a perda de calor. Neste sentido foi
sugerido por Yahav et al. (1998) que com o objetivo de reduzir a perda de calor, aves
submetidas a baixas temperaturas ambientes sofrem alterações hemodinâmicas, bem
como, vasoconstrição periférica.
Neste sentido, foi conduzido em nosso laboratório experimentos utilizando
lâmina de água para frangos mantidos em alta temperatura ambiente (35°C/4horas).
Os resultados mostraram que as aves mantidas sobre a lâmina de água, apresentaram
temperatura retal menor do que os animais controles, e a taquipnéia induzida pelo
estresse de calor foi abolida no prazo de 1 minuto. No entanto, o uso da lâmina d’água
no sistema produtivo de frangos de corte, ainda carece de desenvolvimento
tecnológico. Reilly & Harrison (1988) utilizando termografia infravermelha,
demonstraram a eficiência da transferência térmica condutiva dos pés de poedeiras em
poleiros resfriados.
O resfriamento evaporativo respiratório constitui-se em um dos mais
importantes meios de perda de calor das aves em temperaturas elevadas. Isto porque,
as aves têm a capacidade de aumentar a freqüência respiratória em até 10 vezes e,
desta forma aumentar a perda de calor no trato respiratório. É sabido que para
evaporar 1 g de água são necessárias 550 calorias; assim, quanto maior a freqüência
respiratória do frango, maior quantidade de calor é dissipada para o meio ambiente. No
entanto, o aumento na freqüência respiratória gera mais energia pela contração da
musculatura, produzindo mais calor, podendo determinar quadros de hipertermia
severo para os frangos de corte. Além disso, como conseqüência da elevada
freqüência respiratória, o frango pode desenvolver distúrbios do equilíbrio ácido-base
chamado de alcalose respiratória (aumento do pH do sangue). Assim, a perda de calor
através do processo evaporativo respiratório representa uma importante via de
dissipação de calor em altas temperaturas ambientais, pois a perda sensível fica muito
reduzida; no entanto, a mesma pode gerar quadros indesejáveis como a alcalose
respiratória.
Tabela 1. Efeito da temperatura e umidade relativa do ar sobre a dissipação de calor pelo processo
evaporativo nos frangos de corte (% do total)
Temperatura (°C)
Umidade Relativa (%)
Perda por Evaporação
20
40
25
20
87
25
24
40
50
24
84
22
34
40
80
34
90
39
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Zona de Conforto Térmico
Poderíamos definir a zona de conforto térmico como sendo aquela faixa de
temperatura ambiente onde a taxa metabólica é mínima, e a homeotermia é mantida
com menos gasto energético (Fig. 3). Assim, na zona de conforto térmico (ou
termoneutra), a fração de energia metabolizável utilizada para termogênese é mínima,
e a energia líquida de produção é máxima.
Fig. 3. A zona termoneutra é também denominada de zona de conforto térmico, na qual a produtividade
é máxima. A temperatura crítica inferior representa a temperatura ambiente abaixo da qual a
produção de calor tem que aumentar para manutenção da temperatura corporal estável. Por outro
lado, o ponto crítico superior representa a temperatura ambiente, na qual a perda de calor tem de
aumentar para manter a homeotermia
Representação esquemática da curva metabólica para frangos de corte. A zona
termoneutra é também denominada de zona de conforto térmico, na qual a
produtividade é máxima. A temperatura crítica inferior representa a temperatura
ambiente abaixo da qual a produção de calor tem que aumentar para a manutenção da
temperatura retal (corporal) estável. Por outro lado, o ponto crítico superior representa
a temperatura ambiente para manter a homeotermia.
É evidente que a zona termoneutra depende de uma série de variáveis e,
dentre elas, poderíamos citar algumas que são intrínsecas da ave: isolamento interno,
isolamento externo, mecanismos autonômicos de vasomotricidade e outros. Fatores
extrínsecos também podem alterar as características da zona termoneutra; por
exemplo, energia da dieta, ventilação ambiente, características físicas das instalações
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(piso, telhado e outras). Assim, é sabido que o pinto de 1 dia de idade necessita de
temperatura ambiente de 35ºC, isto é, a sua temperatura termoneutra é de 35ºC,
apesar de sua temperatura corporal estar ao redor de 39 a 40º C (Fig. 6) (Van Der Hel
et al., 1991). Esta alta temperatura ambiente para o frango de corte está associada ao
fato de o pinto apresentar uma grande relação entre área/volume corporal, e com isto
ter dificuldade de reter calor. Por outro lado, o pinto tem pequena capacidade de
produzir calor, pois apesar do QR de 0,707 evidenciar uma utilização de gordura, a sua
reserva energética para termogênese é reduzida.
Com o desenvolvimento do frango de corte, e a conseqüente maturação do
sistema termorregulador e aumento da reserva energética, a zona de conforto térmico
é reduzida de 35ºC para 24ºC, com 4 semanas de idade. E para 21-22ºC com 6
semanas de idade. Neste sentido, os produtores não se preocupam com o estresse
calórico no frango de corte até a terceira semana de idade.
Produção de calor (metabolismo) de pintos de 1 dia em função da temperatura
ambiente. Os dados mostram que a produção de calor se mantém razoavelmente
estável até a temperatura ambiente de 37ºC. Acima deste valor o pinto aumenta a
produção de calor, e, para a manutenção da homeotermia perde calor pelos processos
evaporativos, podendo sofrer desidratação, em função da excessiva perda de água.
A definição de conforto baseada apenas no contexto de ambiente, tem sido
adotada pelos especialistas em ambiência, quando se analisa a característica do microambiente que oferece conforto térmico, ou se adequa à temperatura do micro-ambiente
em função da zona de conforto térmico da espécie. O conforto ambiental assim
caracterizado nem sempre é acompanhado de uma análise de variáveis, muitas das
quais de difícil controle e que se interagem alterando o meio de forma marcante, como
por exemplo: atividade física, densidade populacional, nível energético da dieta, tipo de
alimentação (peletizada ou farelada), isolamento térmico e outros.
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Fig. 4. Produção de calor (metabolismo) de pintos de 1 dia em função da temperatura ambiente. Os
dados mostram que a produção de calor se mantém razoavelmente estável até a temperatura
ambiente de 37° C. Acima desse valor, o pinto aumenta a produção de calor e, para a
manutenção da homeotermia, perde calor pelos processos evaporativos, podendo sofrer
desidratação em função da excessiva perda de água
É muito comum o estudo relacionado a equações ou índices de conforto
térmico, tanto para animais domésticos como seres humanos. Os trabalhos que
desenvolvem equações de conforto têm como propósitos estabelecer relações entre
variáveis como, temperatura do ar, umidade do ar, temperatura média radiante,
velocidade do ar e atividade do animal, bem como isolamento térmico dos mesmos, as
quais criam ou pressupõem ótimas condições de conforto térmico para as aves. Estas
equações têm utilidade prática, pois oferecem parâmetros para a construção de
galpões de ambiente controlado. Além disso, são úteis para climas naturais no sentido
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de avaliar condições biometeorológicas e uso de materiais isolantes em condições de
calor.
Temperatura Ambiente para o Frango de Corte
A produtividade, expressa em ganho de peso e conversão alimentar do frango
de corte, depende da interação entre variáveis como peso pós-eclosão, nutrientes da
dieta, qualidade da água e temperatura ambiente. No entanto, o desenvolvimento do
pintainho, em particular na primeira semana de vida é condição relevante para o
desempenho futuro do animal, pois processos fisiológicos como hiperplasia e
hipertrofia celular, maturação do sistema termorregulador e diferenciação da mucosa
gastrintestinal, influenciará de maneira marcante o peso corporal e a conversão
alimentar da ave até a idade de abate.
Estudo do crescimento do trato alimentar em frangos realizados por Crompton
& Walters (1979), mostrou que as maiores alterações nos segmentos do trato digestivo
ocorriam durante os primeiros 10 dias após a eclosão. Os autores sugeriram que estas
rápidas mudanças pós-eclosão garantiriam as aves um trato com tamanho adequado
durante a fase de crescimento rápido. Nitsan et al. (1991) também estudaram o
desenvolvimento do trato digestivo e órgãos anexos pós-eclosão. Foi observado que o
crescimento alométrico do pâncreas e do intestino delgado foi 4 vezes maior do que o
crescimento corporal, mostrando que o desenvolvimento das secreções digestivas,
bem como, do trato intestinal pós-eclosão podem ser fatores limitantes na digestão e
subseqüente crescimento dos frangos de corte.
Baião et al. (1991 a,b,c) também mostraram importantes aspectos relacionados
ao manejo do pinto nos primeiros dias de vida. O efeito do intervalo entre nascimento e
alojamento das aves não afetou a absorção do saco vitelino. A adição de eletrólitos na
água de bebida, no dia do alojamento, não teve efeito marcante sobre o
desenvolvimento dos frangos de corte. O tempo de alojamento pós-eclosão também foi
investigado, sendo mostrado que pintos alojados 48 horas após a eclosão obtiveram
melhor desempenho produtivo do que pintainhos alojados com 24 horas.
É fato conhecido que a temperatura termoneutra para pintainhos na primeira
semana de vida encontra-se entre 33 e 35° C. Neste sentido, temperaturas acima deste
valor podem induzir hipertermia com desidratação, levando a uma redução no consumo
de ração e atraso no crescimento(Mickelberry et al. 1966); já temperaturas muito
abaixo da zona de conforto podem desencadear quadros hipotérmicos, podendo induzir
a síndrome da hipertensão pulmonar (ascite) nos frangos de corte (Maxwell &
Robertson, 1998).
Neste sentido, foi conduzido em nosso laboratório, experimento com pintainhos
na primeira semana de vida e criados em temperaturas ambientais de 35, 25 e 20°C.
Foi observado que pintainhos criados em temperaturas muito abaixo da zona de
conforto (20°C) tiveram consumo de ração menor do que os animais criados em
temperaturas de conforto (35°C). Salienta-se também que este efeito foi mais
acentuado a partir do 3° dia de idade das aves (Tabela 2). Estes achados mostram que
o comportamento alimentar tem importante interação com a temperatura ambiente, pois
pintos quando em ambiente de baixa temperatura apresentam respostas
comportamentais, tais como agregação, objetivando reduzir a perda de calor para o
meio e manter a homeostase térmica. Assim, quanto menor a temperatura ambiente
maior será o tempo que os animais permanecerão agregados e, com isto, reduzem o
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número de idas ao comedouro. Considerando que até o 3° dia de vida, os pintainhos
têm reserva contidas no saco vitelino, os efeitos da temperatura sobre o consumo de
ração é mais evidentes a partir do 4° dia de vida. Os mesmos efeitos são verificados
para o consumo de água (Tabela 2).
Aumento no consumo de ração e de água são refletidos no crescimento dos
pintainhos nos primeiros sete dias de idade. Nosso experimento, mostrou que não
houve diferença no ganho de peso entre as aves criadas a 35 e 25°C; no entanto, este
foi superiores às aves criadas a 20°C. Estes dados evidenciam que os animais criados
a 25°C são capazes de ganhar peso e manter a homeotermia. No entanto, este fato
tem um custo energético mais elevado, pois o consumo de ração é superior àquele
observado para os pintainhos criados na zona de conforto (35°C) após o 4° dia de vida
(Tabela 2).
Tabela 2. Valores médios de consumo de ração e de água, ganho de peso acumulado (GPA) de acordo
com a temperatura ambiente e idade dos pintainhos
o
Temp. ( C)
35
Total
25
Total
20
Total
Idade(dias)
Mortalidade
Cons. Ração
Cons. água
(g/ave)
(mL/ave)
GPA (g)
1
-
1,51
16,25
0,70
2
1
9,94
18,06
8,48
3
1
8,68
28,57
21,30
4
-
16,16
40,82
39,15
5
-
18,20
46,34
53,74
6
-
23,89
57,14
71,13
7
-
28,15
65,00
102,01
-
2
103,53
272,18
-
1
-
1,47
18,75
-0,72
2
-
6,94
18,33
11,16
3
5
9,98
23,44
21,03
4
-
17,39
34,78
36,63
5
-
18,42
38,16
51,19
6
-
29,56
60,00
78,88
7
-
32,41
55,88
101,68
-
5
116,17
249,34
-
1
-
0,64
8,13
0,33
2
3
6,07
13,33
4,99
3
1
8,64
19,67
19,50
4
-
15,02
31,91
31,25
5
-
16,03
33,33
46,11
6
-
22,31
42,31
56,01
7
-
24,06
41,67
79,16
-
4
92,77
190,35
-
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Temperatura Ambiente e o Turnover de Água
A água é o mais importante nutriente para qualquer espécie animal. É possível
sobreviver vários dias sem alimentação, mas não sem água. A água é distribuída no
organismo da aves basicamente em dois compartimentos: o intracelular (água contida
dentro das células) e o extracelular (água presente fora das células). Este último
compartimento pode ser subdividido em intersticial (água presente entre as células e o
plasmático (componente aquoso do sangue). Macari (1996) relatou que o volume de
água na ave representa aproximadamente 65% do peso corporal da ave adulta (Tabela
3). No entanto, é importante salientar que quanto maior ou mais pesada a ave, menor é
o turnover de água no organismo, ou seja, a troca de água do organismo é tanto maior
quanto menor é a ave. Assim, em pintainhos, o turnover de água é mais acentuado do
que no frango adulto. Em poedeiras , os dados da Tabela 4 mostram que quanto mais
leve e mais jovem a ave, maior é a porcentagem de água no organismo.
Tabela 3. Porcentagem de água em relação ao peso corporal das aves
Espécie
Peso (kg)
Galinha
1,8
% Água
61
Frango
Macho
Fêmea
2,6
1,7
64
62
Codornas
Macho
Fêmea
0,105
0,117
67
62
Dados adaptados de Sturkie (1986)
Pesquisas mostraram que a quantidade de água ingerida pelas aves aumenta
com a elevação da temperatura ambiente (Tabela 5) Portanto, o consumo de água
durante o estresse calórico parece ser limitante para a taxa de crescimento e
sobrevivência, isto porque, durante o estresse calórico a água tem papel fundamental
nos mecanismos refrigeradores envolvidos na termorregulação das aves. Assim sendo,
são necessários cuidados especiais de manejo durante o estresse, principalmente os
associados com a qualidade e a temperatura da água, uma vez que as evidencias
sugerem que o aumento no consumo de água beneficia a ave, ao atuar como um
tampão de calor. De acordo com Macari et al.(1994), quando em situações de estresse,
a temperatura da água deve estar ao redor de 20°C, para auxiliar na redução da
temperatura corporal. Teeter (1994) mostrou que quando administrada a frangos de
corte sob estresse calórico, a água (30 ml/Kg de peso vivo) aquecida até a temperatura
corporal, não apresentou nenhum impacto sobre a temperatura corporal; ao passo que
foi obtida uma diminuição de 1°C na temperatura corporal quando a água administrada
tinha uma temperatura de 12,7°C (Tabela 6). Considerando que a ave dissipa calor ao
consumir água, esta deverá apresentar-se com temperaturas inferiores à temperatura
corporal, sendo mais eficiente quanto maior for esta diferença. Neste sentido, cuidados
devem ser tomados para que o reservatório de água seja colocado em local fresco. No
entanto, muitas vezes é deixado em segundo plano o tipo de proteção que é dado aos
reservatórios, bem como, ao sistema de distribuição de água. Uma medida que pode
surtir bons resultados em dias críticos de altas temperaturas é a adição de gelo ao
reservatório; no entanto, há custos para este tipo de manejo.
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Tabela 4. Porcentagem de água em função da idade das poedeiras
Idade (semanas)
26
30
42
Peso (kg)
1,77
1,99
2,03
Água (%)
66
61
53
55
2,05
53
61
2,04
53
Dados adaptados de Sturkie (1986)
Muitos estudos mostram a capacidade que a ave tem de igualar ou sobrepujar,
através da ingestão, o volume de água perdido no estresse calórico. Neste sentido, a
temperatura da água assume grande importância nas trocas térmicas. Estes estudos
mostram também, que durante o estresse calórico agudo o frango tem um acentuado
aumento na ingestão de água (Tabela 7), a qual é seguida pela excreção renal (Macari,
1995). No entanto, a relação entre a quantidade de urina formada pela quantidade de
água ingerida não é alterada durante o período de estresse. Estas descobertas
mostram que o equilíbrio hídrico é bem regulado no estresse, desde que assegurada à
disponibilidade de água.
Tabela 5. Ingestão diária (litros/1000 aves) de água em diferentes temperaturas e tipos de aves
Ave
Idade (semanas)
Temperatura Ambiente (°C)
20
32
Franga Leghorn
4
50
85
12
115
190
18
140
220
Poedeiras
50% Produção
90% Produção
0% Produção
180
200
150
340
400
250
1
3
6
24
100
280
50
210
600
Frangos de corte
Adaptado de Leeson & Summers (1991)
O aumento do consumo da água pode também ser obtido através da utilização
de aditivos como o bicarbonato de sódio e cloreto de potássio. Estudo de Branton et al.
(1986) mostrou que o uso de 6,25 g de bicarbonato/litro (0,63%) na água de beber de
frangos submetidos ao estresse calórico severo, resultou em um aumento de 20% no
consumo de água e uma redução na mortalidade. No entanto, devemos ter cuidado na
utilização do bicarbonato. A adição de altos níveis deve ser evitada, pois, como
demonstrou o trabalho de Bottje & Harrison (1985) a adição de 2% de bicarbonato pode
induzir uma alcalose metabólica, acentuando o problema da alcalose respiratória,
característica das aves estressadas pelo calor. Alta concentração pode ser contraposta
aos efeitos benéficos do bicarbonato, devido à toxicidade do produto. A adição de 5 a
24 g/litro de bicarbonato de sódio na água pode determinar aumento na ingestão de
água, fezes moles e problemas viscerais no frango de corte (Macari, 1995). Smith &
Teeter (1987), observaram que os efeitos benéficos também poderiam ser obtidos com
cloreto de potássio (KCl). Assim, quando a água de beber foi suplementada com 0,36%
de KCl, o consumo da água, taxa de crescimento e a conversão alimentar exibiram
melhora significativa. A utilização de aditivos (NH4CL, KCl, K2SO4) também pode
115
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04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
auxiliar no combate ao distúrbio do equilíbrio ácido/básico (alcalose respiratória)
induzidos pelo estresse calórico. Foi verificado por Teeter et al., (1985) que com o
desenvolvimento da alcalose, provocada pelo estresse calórico, ocorria uma redução
no consumo de alimento e na velocidade de crescimento. Bottje & Harrison (1985),
também observaram uma redução no ganho de peso, ingestão de alimento e na
conversão alimentar quando da alcalose respiratória induzida pelo estresse de calor.
Tabela 6. Efeito da temperatura da água sobre o ganho de peso, consumo de água e temperatura
corporal de frangos de corte mantidos em estresse calórico
Temperatura da água
Ganho de Peso
Consumo de água
Temperatura Corporal
(°C)
(g)
mL/dia
(°C)
12,7
55,4
364
42,8
31,1
50,3
359
43,1
42,2
47,0
364
43,3
Teeter (1994)
Pesquisas têm mostrado que a perda de água, em virtude de altas
temperaturas, é crítica para os pintainhos, pois perdas excessivas podem ocasionar a
desidratação e a morte ou refugagem dos animais. Por exemplo, é usual no manejo, a
utilização de campânulas de aquecimento nos primeiros 10-12 dias de vida do frango.
Este fato está associado à deficiência do sistema termorregulador do pinto. Porém,
com o desenvolvimento do frango de corte, e conseqüente maturação do sistema
termorregulador, a zona de conforto térmico é reduzida de 35°C para 24°C, com 4
semanas de idade. Neste sentido, os produtores raramente se preocupam com o
estresse calórico no frango de corte até a terceira semana de idade. No entanto,
pintainhos de um dia alojados por 24 horas em temperatura de 30,8°C, perdem 3,5
g/dia de peso, e quando alojados a 38,8°C, a perda eleva-se para 5,7 g/dia. A perda de
água dos pintos, quando a temperatura ambiente elevou-se de 30,8 para 38,8°C, subiu
de 1,4 para 4,4 g/dia (Tabela 8).
Tabela 7. Efeito da idade e temperatura ambiente sobre o consumo de água em frangos (ml/ave/dia)
(North, 1984)
Temperatura (°C)
Idade (semanas)
21,1
26,7
32,2
37,8
1
23
23
26
30
2
61
72
102
163
3
91
129
208
360
4
121
174
273
462
5
155
216
333
553
6
185
254
390
613
7
216
288
428
613
8
235
295
450
693
Estudos de nosso laboratório da FCAV de Jaboticabal mostraram que a perda
de peso, e conseqüentemente a perda de água, são tanto maior quanto menor o
tamanho do frango de corte, quando da exposição ao estresse calórico. Pintainhos de 7
dias perderam até 12% de peso corporal. Já, frangos de corte com 42 dias, a perda foi
ao redor de 4,5% do peso corporal, quando submetidos ao estresse calórico agudo.
Estes dados só reforçam a tese da necessidade de cuidados especiais que devem ser
tomados quando do alojamento dos pintainhos, pois o excesso de calor, através das
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campânulas, pode provocar desidratação com aumento da taxa de mortalidade ou
refugagem do lote (Macari, 1995).
Tabela 8. Perda de peso (%), de água (g) e do saco vitelino (%) em pintos de 1 dia, quando expostos a
diferentes ambientes
Temperatura Ambiente Perda Total de Peso (%)
Perda de água (g)
Perda do saco vitelino
(°C)
(%)
30,8
8,2
1,82
4,50
33,5
7,3
1,05
4,80
35,1
9,6
2,21
5,0
36,8
13,7
3,46
5,20
38,8
13,8
4,35
3,40
Adaptado de Van der Hell et al. (1991)
"Turnover" de Água e Umidade da Cama
O aumento da densidade populacional em galpões avícolas, tem como
implicação óbvia, o aumento da quantidade total de água ingerida e, como
conseqüência, excretada pelos frangos de corte. É sabido que a quantidade de água
ingerida pelo frango de corte aumenta com a idade e com as condições ambientais de
criação (Tabela 9). Por outro lado, a quantidade de água existente no organismo do
frango tem proporção determinada pelo equilíbrio hidroeletrolítico, correspondendo a
aproximadamente 65-70% do peso corporal da ave. Neste sentido, em condições de
calor, quando a água é utilizada pela ave como tampão térmico, o “turnover” de água
aumenta, ou seja, a relação entre a quantidade de água ingerida: quantidade de água
excretada aumenta, podendo aumentar em até 5 vezes ou mais, dependo do grau de
estresse pelo calor. A implicação deste turnover de água aumentado, está relacionado
com a qualidade da cama dos frangos, pois com o aumento da quantidade de água
excretada ocorre deterioração da cama, tanto do ponto de vista de isolante térmico
quanto sanitário. A importância da cama no aspecto sanitário de uma criação de
frangos de corte expressa-se pelo seu potencial em atenuar impactos negativos
impostos às aves na avicultura industrial, principalmente pela criação em alta
densidade. Altas densidades geram um ambiente desfavorável ao bem estar do lote
(Jorge et al., 1997).
Com o aumento da quantidade de água na cama, há também o aumento de
temperatura propiciando maior atividade de microorganismos e formação de amônia.
Tabela 9. Consumo de água em frangos de corte em condições de ambiente termoneutro ou de estresse
o
de calor agudo (temperatura ambiente entre 30-33 C)
Temp. ambiente
Idade (semanas)
1
2
3
4
5
6
Volume de água ingerido (mL/24 h)
Termoneutro*
Estresse de calor
47
61
111
155
184
266
244
366
282
410
300
450
* Temperatura termoneutra de acordo com a idade das aves
Os materiais a serem usados como cama devem apresentar algumas
características, tais como maciez, compreensão, serem absorventes, isotérmicos, livres
de fungos e não tóxicos, baixo custo e disponibilidade. Vários são os materiais
utilizados como cama, entre eles fenos de gramíneas, maravalha de madeira, palhadas
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de feijão e de arroz, bagaço de cana, casca de café, entre outros. Alguns desses
materiais são vulneráveis à formação de placas superficiais compactas, compostas de
fibras e fezes, sendo que a compactação dificulta a difusão de umidade da cama e
impõe às aves intenso e prolongado contato direto com as próprias fezes, podendo
assim, ocorrer necroses cutâneas e calo de peito (Jorge et al., 1997). A umidade
excessiva da cama, quando não associada à diarréia das aves, freqüentemente
relaciona-se a pouca espessura do substrato e ao derramamento de água, criando
condições favoráveis para a produção de amônia e propiciando o crescimento de
agentes patogênicos. Como alternativa, recomenda-se revolver a cama, principalmente
nas áreas próximas aos bebedouros e comedouros, a fim de melhorar a aeração da
cama e favorecer a evaporação da umidade excedente. Outra recomendação é o
aumento na espessura da cama, isto porque a temperatura média da cama varia em
função da densidade e da espessura da cama. O contato entre as aves adultas em
repouso e a cama proporciona uma alta transferência de calor, elevando a temperatura
da cama. Porém, o resfriamento da mesma é mais lento, pois a transferência de calor
entre o ar e a cama é baixa e depende da velocidade do ar (van Beek e Beeking,
1995). Boshouwersm (1996) observou que a temperatura da cama de uma criação de
frangos de corte a partir do 19º dia de idade foi 7º C superior à temperatura ambiente.
Segundo este mesmo autor, este aumento na temperatura da cama pode contribuir,
juntamente com o calor gerado pelas aves e aquecedores, e pelo fluxo de calor entre a
instalação e o ambiente externo, para um aumento na temperatura interna dos galpões
e como uma carga adicional de calor para as aves. Assim, poderia haver uma redução
na ingestão de alimentos pelas aves, com conseqüente efeito sobre a taxa de
crescimento. O aumento na espessura da cama também melhora a capacidade de
retenção de água do substrato, mantendo-se a cama macia e isotérmica e com menor
propensão à produção excessiva de amônia.
Além dos materiais utilizados na cama, o aumento da densidade populacional
também é fator determinante na deterioração da qualidade da cama. Neste sentido,
temos recomendado que a altura da cama seja alterada em função da densidade de
criação. A Tabela 10 mostra o efeito da altura da cama, densidade de criação e idade
das aves sobre a umidade da cama, em condições verão.
Tabela 10. Diferentes alturas de cama, densidade e idade dos frangos de corte sobre a umidade da
cama em condições de verão
Idade das aves (dias)
7
14
21
28
35
42
Umidade da cama(%)
20,2C
28,9B
29,3B
34,0B
33,2B
42,4A
2
Densidade (aves/m )
10
14
18
Umidade da cama(%)
28,1B
32,5A
33,3A
Altura da cama (cm)
5
10
15
Umidade da cama(%)
34,8A
29,9B
29,0B
* Médias seguidas de letras iguais nas linhas, para cada variável, não diferem entre si (Tukey, 5%)
Sabe-se que a presença e o metabolismo de microrganismos presentes na
cama são acompanhados por produção de calor, liberação de CO2 e formação de
amônia. A espessura da cama influencia a concentração de oxigênio e a sua
capacidade de aquecimento (Van Beek e Beeking, 1995). A espessura recomendada é
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de 5 a 10cm, dependendo da densidade de criação, de forma que, no final da criação,
a umidade esteja entre 20 e 35% (Jorge et al., 1997). Considerando que a amônia
produzida na cama é função da temperatura e quantidade de substrato, os dados da
Tabela 11 mostram a potencialidade de produção de amônia pela cama, quando em
diferentes alturas e densidades populacionais no verão. Este potencial de produção foi
obtido in vitro através do uso de amostragens de cama.
Tabela 11. Potencialidade de produção de amônia pela cama de frangos, com diferentes alturas e
densidades populacionais
2
Densidade (aves/m )
Altura da cama(cm)
Amônia(g/100 g cama)
05
13,4
10
10
11,2
15
8,80
05
14,6
14
10
16,6
15
15,3
05
17,8
18
10
16,4
15
14,7
Os dados da Tabela 12 mostram o potencial de produção de amônia em condições de inverno
Tabela 12. Efeito da altura da cama e da densidade populacional sobre o potencial de produção de
amônia em condições de inverno
Altura da cama (cm)
Produção de Amônia (g/100 g cama)
5
19,5
10
16,0
15
14,0
2
Densidade populacional (aves/m )
10
8,5
14
24,4
18
21,0
Temperatura Ambiente e Desempenho do Frango de Corte
Como é sabido, o consumo de alimento (energia) durante o verão é
significativamente menor em comparação com o inverno. Este efeito sobre o consumo
alimentar está relacionado, ao ajuste na ingestão de energia que as aves fazem para
atender às exigências de mantença de acordo com a temperatura ambiente (Tabela
13).
Tabela 13. Exigência diária de EM (Kcal/ave/dia) em situação de diferentes temperaturas ambientais
Idade
Peso
Ganho
Emg
Semanas
(g)
(g/dia)
(kcal)
EMm
EM total
15°C
25°C
15°C
25°C
4
409
13
32
87
76
119
109
8
793
16
40
137
120
177
160
12
1136
13
35
178
156
213
191
16
1545
19
52
225
198
277
250
20
2091
19
52
280
246
332
298
Como os requerimentos de energia para mantença decrescem com o aumento
da temperatura, as aves precisam ingerir menos para satisfazer suas necessidades
119
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energéticas (Daghir, 1995). Contudo, esta relação é verdadeira somente dentro da
zona termoneutra, pois em temperaturas mais baixas há um aumento no consumo e
em altas temperaturas uma redução no consumo de alimento. Acima de 30° C, o
consumo decresce rapidamente e as exigências energéticas aumentam, devido à
necessidade das aves em eliminar calor. Portanto, este menor consumo de alimento e
o gasto de energia para manutenção da homeostase térmica, levam a uma redução no
desempenho das aves criadas em altas temperaturas.
Bertechini et al. (1991) observaram que frangos mantidos em diferentes
temperaturas ambiente (17,1o C, 22,2o C, e 27,9o C) recebendo rações com 2800, 3000
e 3200 Kcal EM/kg, reduziram o consumo de ração e, conseqüentemente, o ganho de
peso, à medida que a temperatura foi elevada (Tabela 14). Keshavarz & Fuller (1989)
estudando a variação de temperatura verificaram que o ganho de peso corporal foi
menor para aves mantidas em temperatura quente (Tabela 15).
Tabela 14. Ganho de peso (g) de frangos de corte de acordo com o nível de energia da ração e a
temperatura ambiente no período de 29 a 49 dias
EM Ração (Kcal/kg)
Temperatura (°C)
2800
3000
3200
17,1
1.051
1.122
1.252
22,2
1.035
1.086
1.151
27,9
0,872
0,951
1.058
Dados adaptados de Bertechini et al. (1991)
Tabela 15. Efeito da temperatura ambiente sobre o desempenho e eficiência energética de frangos
Temperatura
Fria
Termoneutra
Quente
Variável
Ganho de peso (g)
1475
1402
1151
1307
Conversão alimentar (g/g)
2,76
2,49
2,42
2,63
Produção de calor (% do consumo de
70,3
66,0
72,1
69,0
energia)
Ganho de energia (% do consumo de
28,8
34,3
32,3
31,1
energia)
Dados adaptados de Kerhavarz & Fuller (1989)
As perdas econômicas provocadas pelo calor são especialmente importantes,
pois ocorrem freqüentemente quando os frangos estão próximos de serem
comercializados. Devido à expansão da produção da produção de frangos e ao
aumento nos custos de construção, na década de 70 já se observava um interesse
crescente no aumento do número de aves por m2, a fim de proporcionar a maximização
da produção por área, porém, sem expandir o número de galpões ( Proudfoot et al.,
1979).
No Brasil, tradicionalmente, cria-se 10 frangos/m2, enquanto que em outros
países, como no Japão, as lotações populacionais chegam até 20 frangos/m2. O
aumento da lotação pode resultar em problemas de cama, aumento no teor de amônia,
menor velocidade de crescimento (Goldfus, 1994). Portanto, a instalação deve
proporcionar condições satisfatórias para a criação do frango de corte.
Devido às divergências nas indicações do número de aves alojadas por
unidade de área, causada principalmente pelas diferenças genéticas das aves, pelas
condições de manejo e de ambiente de criação, vários pesquisadores têm estudado o
efeito das diferentes densidades populacionais sobre o desempenho das aves, mas
120
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04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
Temperatura corporal (°C)
não sobre os parâmetros termorreguladores. Em geral, os autores encontram
resultados com uma tendência à redução no consumo alimentar e no ganho de peso
corporal com o aumento da taxa de lotação. Porém, observam um aumento no peso
total de carne/m2 de área de piso (Quimones et al., 1984; Briceno et al., 1987; AlShaddedl e Muhklis, 1988).
Um dos maiores problemas no alojamento de frangos é a elevada temperatura
ambiente que, associada com as características físicas e fisiológicas das aves limita a
máxima produtividade. Furlan et al. (2000) trabalhando com diferentes densidades e
temperaturas observaram um efeito significativo (P<0,01) da densidade de alojamento,
sendo observado uma elevação linear na temperatura corporal dos frangos com o
aumento na densidade de alojamento (Fig. 5). Analisando o efeito da temperatura
ambiente (Fig. 6), podemos verificar que até a temperatura ambiente de 25°C as aves
foram capazes de manter a homeostase térmica (± 41,1°C), no entanto, à temperatura
de 35°C, os frangos não mantiveram a temperatura corporal, entrando em estado de
estresse calórico, com temperatura acima de 42°C. Em outro estudo Campos (1985 )
verificou que a perda de calor por irradiação mostrou-se diferente para os frangos em
função da idade, período do dia e energia da ração.
42,3
42
41,7
41,4
41,1
40,8
40,5
20
25
30
35
Temperatura ambiente (°C)
Temperatura corporal (°C)
Fig. 5. Efeito da densidade de alojamento sobre a temperatura corporal dos frangos
41,6
41,5
41,4
41,3
41,2
41,1
41
3
10
20
Densidade de alojamento (aves/m2)
121
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04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
Fig. 6. Efeito da temperatura ambiente sobre a temperatura corporal dos frangos
Temperatura Ambiente e o Empenamento das Aves
Dentre as diversas especializações tegumentárias que ocorreram nas aves
durante o processo de evolução, as penas podem ser consideradas uma das mais
importantes características, tendo em vista que estas estruturas estão estritamente
confinadas às aves, distinguindo-as de todas as demais classes de vertebrados. As
penas possuem um importante papel termorregulatório e proporcionando uma eficiente
cobertura externa aumenta o isolamento externo e possibilitando às aves manter sua
temperatura corporal em regiões frias. No entanto, em climas quentes, a cobertura de
penas diminui a taxa de dissipação de calor e, conseqüentemente, contribui para
aumentar a temperatura corporal dos frangos.
A dissipação de calor sensível ocorre através dos mecanismos não
evaporativos ou seja: condução, radiação e convecção. Nestes mecanismos é
interessante ressaltar que a variável que mais interfere nos processos de perda de
calor, é a diferença de temperatura entre a pele do frango e a temperatura ambiente.
Como sabemos, as penas possuem um importante papel termorregulatório,
proporcionando uma eficiente cobertura corporal, possibilitando às aves manter sua
temperatura corporal em regiões frias. No entanto, em temperaturas elevadas, esta
cobertura de penas dificulta a dissipação de calor e conseqüentemente aumenta a
temperatura corporal dos frangos. Assim, a ave para aumentar a dissipação de calor,
procura maximizar a área de superfície corporal, agachando, mantendo as asas
afastadas do corpo, induz ptiloereção e aumento do fluxo sangüíneo para os tecidos
periféricos não cobertos com penas(pés, crista, barbela). Nestas áreas sem penas,
ocorrem variações na temperatura superficial de até 20°C devido a vasodilatação;
enquanto que em áreas cobertas com penas, essa variação é de apenas 2 a 5°C
(Esmay, 1978). Desta forma, a ave faz com que haja uma troca de calor sensível para
o meio ambiente, pois o sangue possui, de forma similar a da água, grande capacidade
de transportar calor, dos tecidos até a superfície corporal, a fim de que haja troca de
calor com meio ambiente. Wolfenson (1983) mostrou que há um aumento das
anastomoses arterio-venosas, principalmente nas regiões sem penas, contribuindo de
17 a 83% do fluxo total de sangue na periferia quando a aves estão em ambiente frio
ou quente, respectivamente.
Alguns trabalhos têm mostrado uma relação entre o empenamento e a
temperatura ambiente. Cooper & Washburn (1998) verificaram uma redução
significativa na cobertura das penas em frangos de corte mantidos em altas
temperaturas. Cahaner et al. (1993) haviam mostrado que frangos com gene Na
(pescoço pelado), que expressa menor intensidade de empenamento, apresentavam
um melhor desempenho em altas temperaturas ambiente. Em outro estudo, Cahaner et
al. (1992) usando linhagem com gene Na (pescoço pelado), encontraram que a
redução no empenamento melhorava o ganho de peso em cerca de 3% em
temperatura ambiente e apresentavam uma superioridade de quase 3 vezes mais em
temperaturas elevadas. Machos de linhagens de frango de corte com alta taxa de
crescimento, mostraram a maior redução no ganho de peso em temperatura ambiente
constante de 32 C (Cahaner & Leenstra, 1992). Pode ser hipotetizado portanto, que
quanto maior a capacidade dos frangos em ganhar peso, maior será o benefício da
redução do empenamento, uma vez que com menor isolamento externo, possibilitará
122
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uma melhor troca térmica. Resultados de Cahaner et al. (1993) mostraram que a
vantagem associada à redução das penas aumentava com o tamanho do frango e a
temperatura ambiente.
O empenamento e a temperatura ambiente pode ainda interferir com o
metabolismo energético das aves. Trabalho de Peguri & Coon (1993) mostraram o
efeito da cobertura de penas (0, 50 e 100%) em galinhas alojadas em diferentes
temperaturas (12,8, 23,9, 33,9°C). Foi observado que a exigência de energia
metabolizavel para mantença nas aves mantidas em temperatura fria com 0% de penas
foi 2 vezes maior do que as necessidades das aves mantidas em altas temperaturas e
0% de penas. Sob condições de estresse calórico, a redução na intensidade do
empenamento pode aumentar a temperatura crítica das aves e manter uma menor
produção de calor (Horst & Mathur, 1994). Podemos assim observar a importância em
manter a cobertura de penas em aves mantidas em temperaturas fria e o benefício de
um menor empenamento em temperatura quente. Sob condições de estresse calórico,
a redução na intensidade do empenamento pode aumentar a temperatura crítica
superior das aves e manter uma menor produção de calor (Tabela 16) (Horst & Mathur,
1994).
Tabela 16. Temperatura crítica de galinhas com genótipo Na (pescoço pelado) e F (crespo)
Genótipo
Temperatura
Temperatura crítica
Produção de calor
Ambiente °C
°C
(kj/W/d)
na/na f/f (normal)
20
20.2
531 ± 17
34
29.2
457 ± 20
Na/na f/f (pescoço pelado)
20
30.0
544 ± 11
34
31.7
463 ± 14
na/na F/f (crespo)
20
25.6
533 ± 144
34
31.7
444 ± 17
Na/na F/f (pescoço
20
31.9
518 ± 12
pelado-crespo)
34
31.8
459 ± 15
Fonte: Horst e Mathur (1994)
Técnicas de Manejo
Como definida anteriormente a zona de conforto térmico é a faixa de
temperatura ambiente onde a taxa metabólica é mínima, e a homeotermia é mantida
com menos gasto energético. No entanto, a zona termoneutra depende de uma série
de variáveis, dentre elas, poderíamos citar algumas intrínsecas da ave como:
isolamento interno, mecanismos autonômicos de vasomotricidade e, outras que são
extrínsecas como: temperatura ambiente, energia da dieta, ventilação do ambiente,
características físicas das instalações. Neste sentido, serão feitas algumas
considerações sobre alternativas de manejo para variáveis extrínsecas para reduzir o
impacto do estresse nas aves.
Temperatura Ambiente
O ambiente a que são submetidas às aves, é considerado como um dos
principais aspectos no sucesso ou fracasso do empreendimento avícola. Dentre os
fatores ambientais, as condições térmicas representadas pela temperatura, umidade e
123
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movimentação do ar, são aqueles que afetam diretamente as aves, pois comprometem
a manutenção da homeotermia (Tinôco, 1996). No Brasil, existem poucas granjas com
ambiente controlado e falar sobre temperatura ambiente na criação de frangos de
corte, implica dizer que devemos considerar as variações climáticas do País, bem
como a variação circadiana de temperatura. Neste sentido, não é surpreendente o
grande número de investigações e aconselhamentos para os produtores, sendo que,
em muitos casos, fica difícil uma tomada de decisão definitiva, pois se tornam
fundamentais as considerações de outras variáveis como microclima regional, idade,
peso, tipo de ração, manejo, histórico das aves e tipo de construção utilizada na granja.
Na fase inicial, estudos mostraram que flutuações de temperatura ambiente
não superiores a 6°C não tem influência no desempenho do frango, mas flutuações
acima de 10°C parecem interferir no desempenho das aves. Atualmente, devido ao
melhoramento genético do frango de corte (maior taxa de crescimento), as flutuações
de temperatura ambiente parecem estar relacionadas ao aparecimento de doenças
metabólicas, como ascite e síndrome da morte súbita (Macari & Gonzales, 1990,
Shlosberg et. al., 1992). Diante do exposto, torna-se de extrema importância, o controle
ambiental dos aviários, a fim de se evitar o estresse ocasionado pelas alterações de
temperatura.
A localização do aviário representa um dos maiores problemas para a criação
de frangos de corte em épocas quentes. A falta de planejamento resulta em um erro,
que muitas vezes, torna-se irreversível e compromete toda a produção durante os
meses quentes. Neste sentido, Bond et al., (1954) verificaram que o meio mais
econômico para que as aves mantenham um balanço térmico ideal é controlando a
taxa de radiação que incide sobre as instalações. Portanto, uma boa instalação deve
ser construída de forma a minimizar a radiação solar que nela penetra. O galpão deve
ter um posicionamento leste-oeste, com projeção de telhado (beirais) suficiente para
impedir que a luz solar direta penetre nas instalações, de uma maneira geral
recomenda-se beirais de 1,5 a 2,5 metros ; a cobertura deve ser de material que
apresente temperaturas superficiais amenas (isocobertura poliuretano, telha de barro);
a distância entre galpões deve ser no mínimo 35 a 40 metros; largura do galpão entre 8
e 14 metros, com pé direito de 2,80 a 4,90 metros (Tinôco, 1996). A utilização de
material isolante sob as telhas pode contribuir na redução da transferência de calor
para o interior da instalação, formando uma camada de ar junto à cobertura e atuando
como uma barreira física. Oliveira et al. (1997) utilizando material isolante sob o telhado
relataram uma redução de 1°C ao nível das aves durante as horas mais quentes e uma
menor variação da temperatura no decorrer do dia, proporcionando às aves melhor
desempenho e menor mortalidade.
Pode ser utilizada também, a aspersão de água diretamente sobre o telhado,
nas horas mais quentes do dia, com o objetivo de reduzir a temperatura da telha. No
entanto, deve se evitar umedecer os arredores do galpão (uso de calhas), pois a água
na terra quente pode irradiar calor. Este sistema só é viável em granjas que possuam
água em abundância próxima à criação.
Apesar da pintura externa dos telhados não ser uma prática muito utilizada
pelos nossos avicultores, ela pode contribuir para amenizar os efeitos da incidência dos
raios solares. Brown citado por Teeter (1990) verificou que em uma instalação com
apenas 1,80 metros de altura, sofreu aquecimento excessivo durante as tardes, e as
temperaturas internas do galpão foram maiores do que a temperatura externa. A
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04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
pintura do telhado, resultou em uma diminuição da temperatura interna em ± 8° C e um
aumento na sobrevivência das aves em até 23%.
Normalmente, nas instalações aviárias brasileiras, a lateral do galpão é
composta pela mureta, na parte inferior, por uma tela e uma cortina que vão da parte
inferior até a cobertura. A mureta deverá ter a menor altura possível, para permitir a
entrada de ar ao nível das aves, mas não deve ser tão baixa que permita a entrada de
água da chuva. Assim, a altura de 20 cm tem-se mostrado satisfatória (Baeta, 1995). Já
a cortina deve ser manejada de forma a possibilitar uma ventilação diferenciada para
condições de calor, obtendo o máximo de ventilação natural e frio, com pequena
entrada de ar do meio externo. Finalizando, é desejável ainda que haja uma cobertura
de grama ao redor das instalações, pois ela reduz a quantidade de calor refletido para
o interior.
O histórico ambiental da ave pode influenciar sua capacidade de sobreviver
frente ao estresse calórico agudo. Este fenômeno é denominado de aclimatação. Neste
sentido, alguns autores têm mostrado que a exposição contínua ou intermitente do
frango de corte ao calor reduz a mortalidade. Arjona et al. (1988) relataram que a
exposição de frangos de corte ao calor fazendo com que os pintos ficassem ofegantes
e com as asas abertas, aumentou significativamente sua capacidade de tolerância ao
estresse calórico agudo, cerca de 40 dias mais tarde. Evidências existem, de que a
temperatura corporal dos frangos aclimatados ao calor é menor do que a de animais
não aclimatados, e que, pelo menos, 50% deste efeito seja devido à redução da
ingestão de alimentos. No entanto, é necessário que haja uma melhor compreensão
deste processo para que esta tecnologia possa ser desenvolvida, tornando-se uma
terapia confiável.
Ventilação
A ventilação dos galpões de frangos de corte, para redução da temperatura
ambiente, é um aspecto do manejo que vem ganhando cada vez mais atenção, uma
vez que o frango requer um ambiente confortável para expressar toda a sua carga
genética (Amerio, 1996). Menec (1995) observou que, aumentando a velocidade do ar
(0 a 0,8 m/s) ocorreu um aumento no consumo diário de alimentos e uma redução na
porcentagem de mortalidade das aves. No entanto, a palavra ventilação não é apenas
um ato, mas sim um processo no qual devem ser considerados variáveis como: clima,
tamanho e densidade do lote, tipo de instalação. Naas (1997) relatou que na maioria
das regiões produtoras do Brasil, somente a ventilação natural não é suficiente para
manter lotes pesados dentro da região de termoneutralidade, necessitando de
ventilação forçada.
O aumento na velocidade do ar em um aviário, via ventilação forçada, tem sido
utilizado como um meio para reduzir o estresse calórico das aves, em condições de
altas temperaturas associadas a altas umidades relativas, pois melhora a habilidade
das aves em dissipar calor por convecção. Mitchell (1985), estudando o efeito da
ventilação em frangos de corte, observou que o aumento na velocidade do ar de 0,3
para 1,05 m/s, em aves mantidas a temperatura de 20°C não promoveu nenhuma
redução na temperatura superficial dos frangos; no entanto, a 30° C apresentaram uma
redução de 0,6°C. Bottcher et al (1995), sugeriram que a velocidade do ar de 2,0m/s é
suficiente para reduzir a temperatura das aves em ambientes quentes. Em experimento
conduzido em nosso laboratório, para verificar o efeito da ventilação sobre a
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04 a 06 de abril de 2006 – Chapecó, SC - Brasil
temperatura de diferentes regiões dos frangos de corte, foi observado uma redução da
temperatura retal em velocidades de 2,0 m/s; no entanto, velocidade do ar menor do
que 4,50 m/s não se mostrou eficaz na redução da temperatura da cabeça e dorso das
aves. O tempo a que estas aves foram submetidas ao vento também mostrou um efeito
significativo sobre a temperatura retal e da perna, podendo ser observado uma grande
redução na temperatura nos primeiros 10 minutos de exposição, ∆T 2,8 °C e 0,4 °C,
respectivamente. (Furlan et al., 2000). Timmons & Hillman (1993) observaram que em
temperatura de 37,7°C, o aumento da velocidade do ar não reduziu o estresse calórico
e, sugeriram que, 35°C seria a mais alta temperatura ambiente, na qual aumentado à
velocidade do ar teríamos uma redução no estresse calórico. A variação destes
resultados pode estar relacionados às condições ambientais. Assim, estes dados
sugerem que, dependendo das condições ambientais, há uma limitada utilização da
velocidade do ar para redução do estresse calórico, principalmente em instalações sem
controle de temperatura, e que a ventilação não deve ser vista como o único meio para
reduzir o estresse calórico em altas temperaturas.
Outro sistema que pode ser adotado é a utilização de nebulização associada à
ventilação, isto porque em determinadas regiões extremamente quentes, a ventilação
natural ou artificial, pode ser insuficiente para promover o arrefecimento da temperatura
do ar . Este sistema tem como base à formação de pequenas gotículas que assegura
uma evaporação muito rápida, com conseqüente retirada de caloria do ambiente.
Segundo Tinôco (1996), trabalhos conduzidos no Brasil, em matrizes, detectaram uma
redução média de 6°C com apenas 5 minutos de uso dos nebulizadores e ventiladores.
No entanto, neste sistema é importante observar a umidade relativa do ar. Nas
umidades relativas em torno de 60-70%, a nebulização ou pulverização de água deve
ser encerrada, mantendo ligado apenas os ventiladores, para remover o excesso de
umidade e não comprometer a troca de calor por evaporação.
O número de ventiladores a ser utilizado em um galpão pode ser um fator
limitante no projeto de ventilação. Geralmente há uma recomendação de se colocar um
ventilador a cada 8 a 10 metros de distância. Entretanto, em experimento realizado na
FCAV/UNESP Jaboticabal, foram constatadas diferenças na eficiência da velocidade
do ar em conjunto motor-ventilador existente no mercado nacional. Como resultado,
podemos estar superestimando a capacidade do conjunto e não atingindo a taxa
mínima de renovação do ar, comprometendo desta forma, a eficácia do sistema de
ventilação no combate ao estresse calórico.
Nutrição
A adaptação das aves ao estresse calórico envolve, parcialmente, a redução
da ingestão alimentar, na tentativa de reduzir a produção de calor endógeno. Teeter et
al. (1984) avaliaram o efeito direto do aumento do consumo alimentar em frangos
submetidos ao estresse calórico. Neste experimento, as aves foram submetidas à
alimentação forçada, em níveis iguais às aves mantidas em ambiente termoneutro e
alimentadas ad libitum. Foi observado que a alimentação forçada das aves, até os
níveis observados para os controles, aumentou o ganho de peso em 17%, entretanto, a
sobrevivência reduziu em 14%. Estes dados mostram que não é interessante a
alimentação das aves durante um período em que a produção de calor não pode ser
dissipada, tendo em vista que as aves não conseguem dissipar a carga adicional de
calor, ocorrendo um aumento na mortalidade.
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Estudos têm mostrado que o jejum prévio ao estresse calórico reduz a
sobrecarga termogênica e aumenta a sobrevivência dos frangos de corte ao calor.
Mccormick et al. (1979) verificaram que a restrição alimentar antes da exposição ao
estresse, aumentou a taxa de sobrevivência das aves, durante o estresse calórico. No
entanto, é importante ter um conhecimento prévio da extensão do período de jejum,
uma vez que ele é ineficiente após instalada a hipertermia e antieconômico quando
prolongado demais. A Tabela 17, ilustra o efeito do tempo de retirada da ração sobre a
sobrevivência dos frangos de corte frente ao estresse calórico. Os resultados
mostraram que intervalos de jejum de 3 horas antes do início do estresse calórico, com
manutenção da suspensão da alimentação durante todo desafio com estresse calórico,
foram eficaz em aumentar a sobrevivência das aves. Contudo, o maior problema desta
técnica é saber quando vai iniciar o período de estresse calórico, uma vez que as
condições ambientais variam com a linhagem, idade, umidade relativa, histórico
ambiental das aves.
Tabela 17. Efeito do tempo de retirada da alimentação sobre a taxa de sobrevivência frente ao estresse
calórico agudo
Sobrevivência
Tempo de restrição, em
Temperatura ambiente °C
relação ao início do estresse
no momento da restrição
Experimento 1
Experimento 2
24 horas antes
26,7
92,0
---12 horas antes
26,7
86,7
81,7
6 horas antes
26,7
80,0
70,0
3 horas antes
26,7
---67,7
Início do estresse
32,2
---60,2
2 horas depois
35,0
---48,7
3 horas depois
36,7
---49,0
4 horas depois
38,8
---48,7
não suspenso
---51,6
45,2
Estresse calórico foi definido como 32,2°C e 55 % de umidade relativa
Níveis de Proteína
O incremento calórico da proteína é mais elevado que o dos carboidratos e o
das gorduras (MUSHARAF & LATSHAW, 1999). Assim, a redução ou o não aumento
do teor de proteína bruta da ração de frangos criados em ambiente quente tem sido
recomendados (CHENG et al. 1997 a,b; CHENG et al., 1999). HUBRY et al. (1994) e
HRUBY et al. (1995) não verificaram diferenças nas exigências de aminoácidos para
frangos de corte criados em 21,1 ou 32,2ºC em relação as exigências do NRC (1994) e
inferiram que os níveis de proteína ou aminoácidos não devem ser elevados nas
rações de frangos de corte expostos ao calor. CHENG et al. (1997 a,b) estudaram os
efeitos de temperatura ambiente (21,0; 23,8; 26,6; 29,4; 32,2 e 35ºC) e dos níveis de
proteína (16, 18, 20, 22 e 24%), para frangos no período de 21 a 49 dias de idade e
observaram que a alimentação com alto teor protéico (>21,6%) prejudica o ganho de
peso quando criados em temperatura entre 26,7 e 32,2%. De maneira semelhante,
CHENG et al. (1999) encontraram que frangos expostos ao programa de calor cíclico
(26,6-35ºC) ou constante (32ºC) não devem receber mais proteína e aminoácidos do
que o recomendado pelo NRC (1994).
Contudo, ALLEMAN & LECLERQ (1997) observaram que a redução do teor
protéico de 20 para 16%, em rações suplementadas com metionina, lisina, treonina,
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arginina e valina, piora o desempenho dos frangos de 21 a 42 dias de idade criados em
32ºC. Para FARIA FILHO (2003), rações com baixo teor protéico (18,5 ou 17%),
formuladas pelo conceito de proteína ideal, pioram o ganho de peso e a conversão
alimentar dos frangos de 21 a 42 dias de idade criados em 33ºC, no entanto, em 20 ou
25ºC a redução protéica não altera o desempenho. Esses resultados podem ter
ocorrido, pois a exposição ao calor promove redução do consumo de ração (GERAERT
et al., 1996 a) o que associado ao baixo teor de proteína da ração pode gerar
deficiência de aminoácidos, suficiente para prejudicar o desempenho. Esses resultados
vão contra a premissa de que o teor de proteína bruta da ração deve ser reduzido para
aves estressadas por calor em virtude de seu alto incremento calórico.
Assim, o adensamento dos níveis de proteína bruta e/ou aminoácidos para
frangos criados em ambiente quente tem sido estudado, com resultados positivos
(GONZALEZ-ESQUERRA & LEESON, 2005) ou sem efeito (ZARATE et al., 2003 a,b)
sobre o desempenho desses animais. TEMIM et al. (1999) verificaram que a utilização
de ração com 25% de proteína bruta para frangos na fase de crescimento melhora o
ganho de peso e a conversão alimentar em relação a ração com 20% de proteína, para
frangos expostos a 32ºC. Em outra pesquisa, TEMIM et al. (2000a) forneceram rações
com teor protéico de 10, 15, 20, 28 e 33% e encontraram melhor desempenho para
aves alimentadas com alta concentração protéica (28 e 33%) inclusive quando
expostas ao calor. GONZALEZ-ESQUERRA & LEESON (2005) utilizaram rações com
teor protéico de 18, 20, 23 e 26% para frangos de 21 a 42 dias de idade criados em
temperaturas de 20,3, 27,3 e 31,4ºC constantes e verificaram que a conversão
alimentar melhora com o aumento dos níveis de proteína em qualquer temperatura. Em
outro experimento, esses autores submeteram os frangos de corte ao calor (32ºC) a
partir do 7º ou 21º dia de idade e utilizaram rações com 18 e 26% de proteína bruta. Os
resultados indicaram que o maior nível de proteína promove melhores ganho de peso e
conversão alimentar independente da temperatura de criação. Também, observaram
que os frangos mantidos sobre livre escolha entre ração com 10 ou 30% de proteína
bruta ingerem em média 25,6% de proteína.
Para ZARATE et al. (2003 b), a suplementação de metionina, lisina e treonina
em 10% acima dos níveis comerciais não altera o ganho de peso e a conversão
alimentar de frangos criados no verão (27,5ºC de temperatura média), sendo a mesma
conclusão obtida por ZARATE et al. (2003 a) para frangos criados na mesma condição
e recebendo suplementação de metionina, lisina, arginina, treonina e triptofano em 10%
acima dos níveis comerciais.
Com relação às características de carcaça, FARIA FILHO (2003) verificou que
frangos de 21 a 42 dias de idade alimentados com rações com 17% de proteína bruta,
formuladas pelo conceito de proteína ideal, apresentam o mesmo rendimento de
carcaça, peito, coxas+sobrecoxas e asas que frangos alimentados com 20% de
proteína bruta, independente da temperatura de criação. ZARATE et al. (2003 a,b)
verificaram que a suplementação de aminoácidos em 10% acima dos níveis comerciais
para frangos criados no verão não altera o rendimento de carcaça e de peito. Contudo,
KIDD et al. (2005) verificaram que o fornecimento de altos níveis de aminoácidos
promove maior rendimento de carcaça e de peito em frangos de corte. QUENTIN et al.
(2005) verificaram que a exigência de aminoácidos de frangos de 21 a 42 dias de idade
supera em 15% a recomendação do NRC (1994) quando se considera o rendimento de
carne de peito. Com relação a composição bromatológica, FURLAN et al. (2004)
verificaram que o uso de rações com baixo teor protéico acentuam a deposição de
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gordura e a diminuição do teor protéico do peito, coxas+sobrecoxas e asas de frangos
expostos ao calor. Enquanto que ZARATE et al. (2003 a,b) verificaram que a
suplementação de aminoácidos em 10% acima dos níveis comerciais para frangos
criados no verão aumenta a deposição de gordura abdominal. Mas, são pouco
estudados os efeitos das rações com alto teor de proteína sobre a composição
bromatológica dos cortes comerciais de frangos expostos ao calor.
Qualidade do Ar
A qualidade do ar é um fator muito importante para a produção avícola. O ar é
a fonte de oxigênio para o metabolismo e veículo de dissipação do excedente de calor,
do vapor d’água, de gases proveniente dos animais e decomposição de dejetos, da
poeira liberada pela cama. Todos estes fatores, agem poluindo e alterando as
características ideais do ar, tendo como conseqüência, um aumento na
susceptibilidade a doenças respiratórias e/ou prejuízo no processo produtivo. Dentre os
gases poluentes que podem afetar os animais estão a amônia e o gás sulfídrico. A
amônia é o poluente tóxico mais freqüentemente encontrado no ar, sendo sua
formação atribuída à decomposição microbiana do ácido ùrico dos excrementos.
Concentrações de 75 a 100 ppm, tem reduzido tanto a produtividade de frangos de
corte e a produção de ovos em 15%. O gás sulfídrico é proveniente da decomposição
anaeróbica dos excrementos. É um gás que afeta a mucosa respiratória, mesmo em
baixas concentrações. O gás carbônico (CO2), proveniente da respiração dos animais,
também está presente nas instalações Em clima frio, animais confinados em
instalações mal ventiladas são normalmente mais sujeitos a ação de altas
concentrações destes gases. Assim, em criações intensivas, como é o caso das aves,
o ambiente deve ser adequadamente manejado para permitir aos animais, em qualquer
estágio de crescimento, um meio adequado ao seu desenvolvimento.
Considerações Finais
As melhoras nas qualidades das instalações (ventilação, calefação, sistema de
resfriamento evaporativo), oferecem aos produtores os meios para se estabelecer um
ambiente, onde o frango de corte possa expressar toda a sua carga genética. No
entanto, devido à capacidade instalada da avicultura brasileira, um correto
entendimento da condição ambiental e de como a ave responde frente a uma condição
adversa, torna-se de fundamental importância para a produção dos frangos de corte
durante o estresse calórico. Neste sentido, numerosas técnicas têm sido propostas
como possíveis terapias para compensar as conseqüências do estresse calórico. A
seleção das técnicas de manejo a serem utilizadas, no entanto, podem ser uma tarefa
bastante difícil, pois algumas técnicas são eficientes para aumentar a taxa de
crescimento, ao passo que outras têm impacto sobre a sobrevivência da ave. Assim,
como não há uma solução infalível para o estresse calórico, pois todas as soluções
propostas apresentam limitações quanto ao uso, o produtor avícola deverá buscar um
equilíbrio entre as opções para obter o máximo de rendimento do produto.
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INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA PRODUÇÃO