1 UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ REITORIA DE PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO - MPA AURINEIDE FILGUEIRA DE ANDRADE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: estudo do evento “Chuva de Bala no País de Mossoró” NATAL/ RN 2013 2 AURINEIDE FILGUEIRA DE ANDRADE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: estudo do evento “Chuva de Bala no País de Mossoró” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Potiguar – UnP, como requisito necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração da Universidade Potiguar – Laureate International Universities Orientadora: Prof.ª. Drª. Fernanda Fernandes Gurgel NATAL/RN 2013 3 A553d Andrade, Aurineide Filgueira de. Desenvolvimento local sustentável: estudo do evento “Chuva de bala no país de Mossoró” / Aurineide Filgueira de Andrade. – Natal, 2013. 112 f. Dissertação (Mestrado em Administração). – Universidade Potiguar. Pró - Reitoria Acadêmica. Referências: f.101 – 107. 1. Administração – Dissertação. 2. Desenvolvimento local. 3. Sustentabilidade. 4.Dimensões da sustentabilidade. I. Título. RN/UnP/BSFP CDU: 658(043.3) 4 AURINEIDE FILGUEIRA DE ANDRADE DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL: estudo do evento “Chuva de Bala no País de Mossoró” Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Administração da Universidade Potiguar – UnP, como requisito necessário para a obtenção do título de Mestre em Administração da Universidade Potiguar – Laureate International Universities Aprovado em: 16/09/2013 BANCA EXAMINADORA ___________________________________ Prof.ª. Dr ª. Fernanda Fernandes Gurgel Orientadora Universidade Potiguar - UnP ___________________________________ Prof.ª. Dr ª. Tereza de Souza Examinadora Interna Universidade Potiguar ___________________________________ Prof.ª. Dr ª. Maria Valéria Pereira de Araújo Examinador Externo UFRN 5 DEDICATÓRIA A Francisco Andrade, Vinissius e Andreza por todo amor e apoio incondicional. 6 AGRADECIMENTOS A Deus, razão da minha existência. A minha querida mãe Maria de Conceição (Dona Marizinha), pelo seu amor, pelas palavras de incentivo e principalmente pelo exemplo de coragem e perseverança. Ao meu amado e admirável esposo Francisco Andrade, por ser o meu maior incentivador. Ao meu filho Vinissius e minha filha Andreza, por me ensinarem a cada dia a ser uma pessoa melhor. A minha orientadora Professora Dra. Fernanda Gurgel, pelo seu comprometimento, competência, segurança e principalmente pela confiança depositada em mim. Aos meus colegas da “turma F” do Mestrado Profissional em Administração da UnP, por tantas coisas compartilhadas. A Prefeitura Municipal de Mossoró, a Gerência de Cultura e a todos os atores sociais envolvidos no evento Chuva de Bala no País de Mossoró, que contribuíram com informações fundamentais para o andamento da pesquisa. A todos que contribuíram de forma direta ou indiretamente para a realização deste trabalho. 7 "De tudo, ficaram três coisas: A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.... Portanto devemos: Fazer da interrupção um caminho novo ... Da queda um passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho, uma ponte... Da procura, um encontro..." Fernando Pessoa 8 RESUMO Os desafios do mundo contemporâneo tem gerado debates e reflexões no cenário político, social e econômico sobre modelos e alternativas para o Desenvolvimento Local Sustentável (DLS). Os pressupostos do DLS partem do processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações. Nesse contexto de analise, a presente pesquisa se propôs compreender o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró com ênfase no Desenvolvimento Local Sustentável na percepção dos atores sociais. O trabalho se caracterizou pela natureza qualitativa, pautada na ótica descritiva e exploratória. A técnica de coleta de dados se deu através de entrevistas aplicadas com os atores sociais envolvidos no objeto de estudo, foram entrevistados 35 atores sociais. Para o tratamento dos dados utilizou-se a análise de conteúdo. Os principais resultados expõem que o processo de emergência dos atores sociais é realizado de forma democrática, atendendo aos pressupostos do DLS. O evento favorece a construção de uma identidade, onde os artistas podem manifestar toda a sua afetividade e desejo de reconhecimento. No tocante a formação de Redes de Atores, não se verifica a internalizarão do conceito de redes de cooperação mútua, de acordo com a concepção do DLS. A percepção usual sobre redes de cooperação presente na visão dos atores sociais apresenta paradoxos diante dos conceitos discutidos nos pressupostos do DLS. O projeto do Chuva de Bala evidencia uma crescente preocupação social demonstrada através dos projetos de inserções a sociedade e fomento a cultura que buscam a inclusão social. Conclui-se que o Evento Chuva de Bala por sua especificidade, atende parcialmente as dimensões e aos pressupostos do DLS, vale salientar que o evento não contempla um projeto contendo esses requisitos. O desenvolvimento local passa a ser visto como uma estratégia que facilita a conquista da sustentabilidade, levando à construção de comunidades humanas sustentáveis. Palavras-Chave: Desenvolvimento Local. Sustentabilidade. sustentabilidade. Chuva de Bala no País de Mossoró. Dimensões da 9 ABSTRACT The challenges of the contemporary world have generated debate and reflection in the political, social and economic development of models and alternatives for Sustainable Local Development (DLS). The assumptions of the DLS depart the process of social change and increase the opportunities of society, aligning, in time and space, economic growth and efficiency, environmental conservation, quality of life and social equity, based on a clear commitment to future and solidarity between generations. In this context of analysis, this study aimed to analyze the influence of the cultural event Bullet Rain in the Country of Mossoró Local Development Sustainable City in the perception of social actors. The work was characterized by qualitative nature, based on the descriptive perspective. The technique of data collection was through interviews applied to the social actors involved in the object of study, 35 respondents were social actors. For the data processing we used the content analysis. The main results state that the process of emergence of social actors is done in a democratic way, given the assumptions of the DLS. The event promotes the construction of an identity, where artists can express all his affection and desire for recognition. Regarding the formation of networks of actors, it does not appear to internalize the concept of networks of mutual cooperation, according to the conception of the DLS. The usual perception of cooperation networks in this view of social actors presents paradoxes on the concepts discussed in the assumptions of the DLS. The design of the Bullet Rain shows a growing social concern demonstrated through projects inserts society and fostering a culture that seek inclusion social. Finished that the Event Rain Bullet for its specificity, partially meets the dimensions and assumptions DLS, it is worth highlighting that the event does not include a project containing these requirements. Local development is seen as a strategy that facilitates the achievement of sustainability, leading to the construction of sustainable human communities. Keyword: Local Development. Sustainability. Dimensions of sustainability. Rain in Bala Country of Mossley. 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Comparativo das principais ferramentas para análise da sustentabilidade.........................................................................................................46 Quadro 2 - Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade Municipal........................47 Quadro 3 – Atores Sociais.........................................................................................61 Quadro 4 - Categorias Analíticas..............................................................................65 Quadro 5 – Demonstrativo das etapas do tratamento de dados da pesquisa..........68 Quadro 6 – Classificação dos Atores Sociais............................................................76 Quadro 7 – Comparativo dos fatores identificados nas falas....................................88 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Dimensões da Sustentabilidade Organizacional........................................36 Figura 2 - As Cinco Dimensões da Sustentabilidade................................................37 Figura 3 - Dimensões da Sustentabilidade abordadas no estudo.............................39 Figura 4 - Características definidoras da Análise de Conteúdo................................67 Figura 5 - Igreja São Vicente de Paula.....................................................................75 Figura 6- Organograma dos Atores Sociais Interno.................................................77 12 LISTA DE TABELA Tabela 01 – Amostra da Pesquisa............................................................................ 62 Tabela 02 – Evolução populacional ..........................................................................69 13 LISTA DE SIGLAS ACREVI Associação Comunitária Reciclando para a Vida AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome ASG – Auxiliar de Serviços Gerais BS - Barometer of Sustainability CEPAL - Comissão Econômica para América Latina CDL - Câmera dos Dirigentes Lojistas CDS - Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável CIDE – Centro de Informações e dados do Rio de Janeiro COSERN – Companhia Energética do Rio Grande do Norte DLS - Desenvolvimento Local Sustentável DS - Desenvolvimento Sustentável DS - Dashboard of Sustainability CDL – Clube dos Dirigentes Lojistas CIDE – Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro CMMAD - Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento CPDS - Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável ECO 92 - Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento EFM - Ecological Footprint Method ETAs - Estação de Tratamento de Águas FEE - Fundação de Economia e Estatística FJP – Fundação João Pinheiro FUNGER – Fundação de Geração de Emprego e Renda HIV - Human Immunodeficiency Virus IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDESE - Índice de Desenvolvimento Socioeconômico IDH – Índice de Desenvolvimento Humano IDH-M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IDS - Índice de Desenvolvimento Sustentável IDSM - Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal IICA - Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura 14 IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IQVU-BR – Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros MCJ – Mossoró Cidade Junina ODM - Objetivos de Desenvolvimento do Milênio ONG – Organização Não Governamental ONU – Organização das Nações Unidas PETI - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PETROBRAS – Petróleo Brasileiro S/A PIB – Produto Interno Bruto PMM – Prefeitura Municipal de Mossoró PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPA - Programa do Plano Plurianual RN - Rio Grande do Norte SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente SBEC - Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço SEADE - Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados TG - Tiro de Guerra UES - Unidades de Ensino Superior UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte 15 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO........................................................................................................17 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO...................................................................................17 1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA.....................................................19 1.3 OBJETIVOS....................................................................................................21 1.4 JUSTIFICATIVA..............................................................................................21 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO........................................................................21 2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................24 2.1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: conceito e evolução................................24 2.2 CONCEITOS E PERSPECTIVAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.........................................................................................................26 2.2.1 Relatório de Brundtland.................................................................................30 2.2.2 Agenda 21........................................................................................................31 2.3 A SUSTENTABILIDADE E SUAS DIMENSÕES..................................................34 2.3.1 Dimensão Ecológica.......................................................................................39 2.3.2 Dimensão Espacial..........................................................................................41 2.3.3 Dimensão Econômica.....................................................................................42 2.3.4 Dimensão Social..............................................................................................42 2.3.5 Dimensão Cultural...........................................................................................43 2.4 INDICADORES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL..............................44 2.5 DESENVOLVIMENTO LOCAL.............................................................................50 2.5.1 Atores Sociais.................................................................................................54 2.5.2 Redes Sociais..................................................................................................56 2.5.3 Projetos Coletivos...........................................................................................57 3 METODOLOGIA.....................................................................................................60 3.1 TIPO DE PESQUISA...........................................................................................60 3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA.......................................................................61 3.3 PLANO DE COLETA DE DADOS........................................................................62 3.4 CATEGORIAS ANALÍTICAS................................................................................65 3.5 TRATAMENTO DOS DADOS..............................................................................66 3.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA.........................................69 4 ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................................76 4.1 EMERGENCIA DOS ATORES SOCIAIS.............................................................76 16 4.2 FORMAÇÃO DE REDES DE ATORES SOCIAIS...............................................79 4.3 PROJETOS COLETIVOS QUE PERMEIAM O EVENTO CHUVA DE BALA......85 4.4 PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS SOBRES AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE................................................................................................89 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................98 REFERÊNCIAS........................................................................................................101 APÊNDICES............................................................................................................108 ANEXOS..................................................................................................................111 17 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO Desde os primórdios, os seres humanos utilizam os recursos naturais para prover suas necessidades de subsistência. Impulsionados pelo crescimento econômico e populacional, os recursos naturais passaram a serem explorados predatoriamente. Dada à relevância dos impactos negativos e da destruição dos recursos naturais, buscam-se alternativas para viabilizar um modelo de desenvolvimento que assevere o respeito ao meio ambiente e a sustentabilidade ALBURQUERQUE et al. (2009). Face ao exposto, os debates sobre as políticas que norteiam os termos sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local sustentável tornaram-se comuns em pesquisas acadêmicas e debates, além de ganhar notoriedade na mídia. Mais do que expressões que estão se tornando comuns no cotidiano das pessoas, os termos sustentabilidade, desenvolvimento sustentável e desenvolvimento local sustentável remetem a novos paradigma para um mundo que está em constante evolução. VIANA RODRIGUES (2007). Em decorrência da crescente preocupação com a preservação dos recursos do planeta, vão surgindo vários movimentos de conscientização ambiental e sustentável, tendo como marco inicial o debate internacional iniciado na conferência de Estocolmo, em 1972. A conferência de Estocolmo gerou o relatório Brundtland, escrito em 1987 que é o documento mais referenciado no que tange ao inicio da utilização da expressão desenvolvimento sustentável. Esse relatório apresentou um novo olhar sobre o desenvolvimento, definindo-o como o processo que “satisfaz as necessidades presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. (ALBURQUERQUE et al., 2009 p. 78). Inserindo a força do “local” no processo de desenvolvimento sustentável, Jesus (2006) introduz a mobilização das pessoas e das instituições pela transformação da economia e da sociedade locais. Um processo de desenvolvimento local se constata quando existe a utilização de recursos e valores 18 locais, sob o controle de instituições e de pessoas do local, resultando em benefícios para as pessoas e o meio ambiente local. A temática do desenvolvimento local tomou grande repercussão a partir dos anos 90, tornando-se objeto de amplo debate e estimulando iniciativas em diversas localidades. JESUS (2006). Conforme Kronemberger (2011), o desenvolvimento local tem se mostrado uma tendência mundial e é tema de debates em diversos países, sobretudo na Índia com a descentralização do fomento às políticas tecnológicas, na China com políticas locais de financiamento, na França gerando sistemas locais de intermediação financeira e nos países da America Latina. No Brasil impulsionou mudanças como a propagação de estratégias com atuação local e os processos de descentralização que teve início com a Constituição de 1988 e que tem facilitado o crescimento dessas experiências. Segundo Brito (2006), a política do Desenvolvimento Sustentável Local (DSL) é um processo que visa articular, coordenar e inserir os empreendimentos empresariais, associativos e individuais, comunitários, urbanos e rurais, a uma nova dinâmica de integração socioeconômica de reconstrução do tecido social de geração de emprego e renda. Nesse contexto, o estudo realizado por Viana Rodrigues (2007), com a temática Desenvolvimento Local, Turismo e Lazer no Agreste Central de Pernambuco, que tem como objetivo analisar em que medida os fenômenos relacionados ao turismo e ao lazer contribuem para integração social, geração de emprego e renda e o desenvolvimento local. Ou seja, a partir da compreensão do processo de transformação social, procura identificar e analisar como esses fenômenos contribuem para o atual processo de desenvolvimento no município de Gravatá, no agreste central de Pernambuco. O estudo de caso indicou que a população local tem consciência das possibilidades que as atividades de turismo e lazer, quando bem exploradas podem surtir efeitos multiplicadores em toda economia do município, que nos últimos tempos tem se expandido e diversificado, com a instalação de novas industrias. A comunidade estudada apresenta potencialidades de desenvolvimento local que podem ser verificados na integração dessa comunidade com instituições públicas e privadas. A Associação de Moradores, via incubadora, também apresenta potencialidades para melhoria da qualidade de vida dos moradores do bairro por meio de ações interativas. O processo de desenvolvimento que vem acontecendo 19 em Gravatá realmente atende, em parte, o conceito de desenvolvimento local. VIANA RODRIGUES (2007). Por um lado ocorre a melhoria da qualidade de vida da população local no que tange a emprego, renda, capacitação profissional, educação e saúde; por outro lado, o sentido de "empoderar", dar poder de decisão à população no processo de desenvolvimento não se cumpriu ainda, uma vez que não participaram das negociações para a implantação de novas industrias. VIANA RODRIGUES, (2007). Os eventos culturais no Brasil respondem por grande parte dos fluxos turísticos para diferentes regiões. No Nordeste e no Rio Grande do Norte, o desenvolvimento de eventos culturais está historicamente atrelado ao turismo, o que fez com que muitas cidades da região tivessem, no turismo, a maior contribuição para o desenvolvimento de suas economias. NONATO (2005). Nesse contexto, destaca-se a cidade de Mossoró, localizada na chamada região da Costa Branca do Rio Grande do Norte. A partir de festas diversas, a cidade tem buscado desenvolver um segmento do turismo até então pouco trabalhado nas localidades potiguares. Na cidade de Mossoró, o turismo tem crescido como atividade econômica nos últimos anos e representa, na atualidade, um dos mais importantes setores de sua economia. A cidade de Mossoró tem sido atualmente, divulgada e conhecida em todo o Rio Grande do Norte como a capital cultural do estado, em função dos relevantes e contínuos investimentos realizados, a cada ano, no setor cultural. Eventos culturais como o Cidade Junina, o Chuva de Bala no País de Mossoró que está inserido nas festividades do Cidade Junina, Auto da Liberdade e a Festa de Santa Luzia tem possibilitado uma capacidade de criar e manter um fluxo de turismo, fazendo com que a cidade ganhe projeção como um destino do turístico cultural. 1.2 PROBLEMA E QUESTÃO DE PESQUISA No atual contexto social, econômico e ambiental muito se discute sobre sustentabilidade e desenvolvimento local sustentável (DLS). No que se refere ao DLS, Buarque (1998) afirma ser uma resultante direta da capacidade dos atores e das sociedades locais se estruturarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e sua matriz cultural, para definir e explorar suas potencialidades e 20 especificidades, buscando competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações. Goldsmith et al. (1972 apud ALBURQUERQUE et al., 2009, p. 79) definem, “uma sociedade como sustentável quando todos os seus propósitos e intenções podem ser atendidos indefinidamente, fornecendo ótima satisfação para os seus membros”. O desenvolvimento local de um município é um produto do conhecimento e do uso de suas potencialidades, oportunidades e vantagens competitivas. Para impulsionar este desenvolvimento é importante conhecer o potencial da região ou município o qual deve ser aproveitado de maneira que contribua para a promoção de um desenvolvimento sustentável. Nesse aspecto, é importante visualizar as dimensões da sustentabilidade que são abordadas por Ignacy Sachs (1993), que determina a existência de cinco fases de sustentabilidade, a saber, social, econômica, ecológica, espacial e cultural que devem ser consideradas de forma simultânea e integrada. As discussão sobre as políticas que norteiam o Desenvolvimento Local Sustentável e suas formas de mensuração são crescentes e tornando-se uma alternativa de fonte econômica concreta de renda, visível principalmente em países em desenvolvimento que buscam alternativas e autonomia econômica para suas comunidades. DIAS (2011). Com base nesse contexto de análise, a presente pesquisa se propôs a investigar um dos eventos mais importantes no contexto cultural da cidade de Mossoró, hoje reconhecido pelo público e pela crítica como “Patrimônio do Povo Mossoroense”. É símbolo da criatividade dos artistas, empreendedores e gestores locais, consolidado como estratégia de desenvolvimento econômico e instrumento de preservação das tradições populares, centrado, portanto, em princípios norteadores de uma sociedade: economia, cultura e cidadania. NONATO (2005 ). Mesmo reconhecendo o valor cultural que esse evento representa para a sociedade mossoroense, questiona-se os benefícios do evento para a melhoria das condições de vida dessa população, uma vez que o poder público municipal de Mossoró tem investido na apropriação da cultura popular e na divulgação e reconstrução de fatos históricos para dinamizar a atividade do turismo cultural. DIAS (2011). Existem investimentos no que diz respeito aos problemas socioeconômicos 21 da comunidade local? Constata-se que a cada ano a população local se mobiliza com o intuito de obter ganho financeiro durante o período desse evento que aquece a economia local. Diversas são as alternativas e possibilidades que emergem a partir do evento para: vendedores ambulantes, donos de barraquinhas de artesanato, rede hoteleira, restaurantes, bares, taxistas, salões de beleza e outros comerciantes que expõem nesse período, seus produtos e serviços para os visitantes. A presente pesquisa se propõe a investigar o seguinte problema: Qual a percepção dos atores sociais sobre o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró com ênfase no Desenvolvimento Local Sustentável? 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral Compreender o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró com ênfase no Desenvolvimento Local Sustentável na percepção dos atores sociais. 1.3.2 Objetivos Específicos Mapear os atores sociais e descrever sua participação no evento, Apontar as principais ações na formação de redes de atores, Identificar quais projetos coletivos permeiam o Chuva de Bala e, Descrever as dimensões da sustentabilidade presentes no evento Chuva de Bala no País de Mossoró. 1.4 JUSTIFICATIVA O interesse maior da pesquisa justifica-se no fato da emergência da reflexão do tema no contexto social, econômica, ecológica, espacial e cultural na cidade de Mossoró, quanto aos benefícios que a política do Desenvolvimento Local 22 Sustentável possa contribuir no contexto do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró. A sustentabilidade tem sido discutida por diversos setores e em diversos níveis da sociedade. No contexto dos estudos científicos, a sustentabilidade vem sendo abordada em obras de pesquisadores como Ignacy Sachs (1986, 2002), Barbieri e Lage (2001), Buarque (1996, 2002), além de artigos científicos de autores como Montibeller-Filho (2001), Ribeiro (2008), entre outros. Tais obras norteiam sobre os princípios do tema sustentabilidade e da sua importância para a sociedade e para o planeta de um desenvolvimento em bases sustentáveis. Há, no entanto, a necessidade de estudos direcionados ao contexto organizacional e regional, tendo em vista as características particulares de cada localidade ou região. As propostas e pesquisas da sustentabilidade são amplas e analisam a necessidade de adaptações locais, dada a distinção e a complexidade existente no estudo do desenvolvimento sustentável. A forma como a sustentabilidade é incorporada e administrada pelas organizações permite identificar o sucesso ou a fragilidade do planejamento e dos programas das empresas no uso sustentável dos recursos, principalmente dos recursos naturais. Delimitada ao contexto local, esta pesquisa propõe-se a estudar especificamente o evento Chuva de Bala no País de Mossoró, focando as dimensões da sustentabilidade e a percepção dos atores sociais. O aumento na demanda por atividades que promovam o desenvolvimento local e a implantação de projetos sustentáveis justificam este trabalho. Pelo fato dos atores sociais estarem inseridos e conhecerem os problemas, as especificidades das necessidades e dos recursos, os permitem formular políticas mais realistas e, sobretudo, baseadas no consenso. Para Cepal (1990, p.917) os pressupostos de DLS são capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os agentes tenham maiores margens de autonomia nas decisões” A implementação do projeto de Desenvolvimento Local Sustentável voltado ao evento “Chuva de bala no País de Mossoró”, poderá trazer benefícios significativos para a cidade, como forma de emergir novos atores compromissados em resignificar a identidade cultural local. Benefícios esses que podem se concretizar através da criação negociada de parcerias com instituições de fomento produtivo empresarial e a sociedade civil, compromissada com a efetivação de uma cultura que promova o desenvolvimento local sustentável. 23 Para o conhecimento, esta pesquisa se justifica considerando a necessidade de reflexão sobre a mobilização, destinação e utilização eficaz de recursos internos e externos no fomento ao desenvolvimento sustentável. O conhecimento destas informações qualitativas, permitirá ações corretivas e preventivas futuras dos impactos negativos junto às comunidades locais e ao meio ambiente, além de possibilitar melhorias, para o desenvolvimento local sustentável do evento Chuva de bala no País de Mossoró. Sua relevância científica confirma-se ao apresentar uma alternativa de análise científica da sustentabilidade de uma atividade do desenvolvimento local, através da identificação e análise das dimensões da sustentabilidade presentes na atividade. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho encontra-se estruturado em seis capítulos: no primeiro capítulo, apresenta-se a contextualização e justificativa do estudo; os objetivos geral e específicos; no segundo capítulo discutem-se temas relacionados aos desenvolvimentos sustentável e local sustentável e suas dimensões. O entendimento desses três eixos de argumentação é essencial, pois justifica o aporte teórico-metodológico assumido no estudo, permitindo ao leitor estabelecer pontes de esclarecimento com algumas concepções básicas das dimensões da sustentabilidade, que além de servirem como mecanismo de sustentação da proposta, servem também de parâmetros de avaliação da questão desta pesquisa. No terceiro capítulo descreveu-se os métodos de coleta de dados que viabilizaram a realização do trabalho e como os mesmos foram tratados; no quarto capítulo, apresentam-se os resultados da pesquisa com abordagem inicial sobre os aspectos históricos da cidade de Mossoró e; no quinto capítulo descreveu-se as considerações finais do estudo. 24 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: conceito e evolução A necessidade de reconstrução das nações no mundo pós guerra levou a uma busca pelo reequilíbrio das economias. Segundo Zanini (2007), o aspecto econômico do desenvolvimento esteve presente tanto entre marxistas quanto capitalistas, distinguindo-se entre outros fundamentos, na temática da distribuição dos resultados do crescimento econômico. O crescimento econômico tornou-se então, sinônimo de desenvolvimento, agregando o conceito de melhoria do padrão de vida das pessoas. Segundo Furtado (2000), a reflexão sobre desenvolvimento, no período subsequente à II Guerra Mundial, foi impulsionada pela tomada de consciência do atraso econômico em que vivia a grande maioria da humanidade. Conforme o autor o conceito de desenvolvimento tem sido utilizado, com referência à história contemporânea, referindo-se à evolução de um sistema social, a medida que este se torna mais eficaz mediante a acumulação e o progresso das técnicas e ao grau de satisfação das necessidades humanas. Outras questões como as do meio ambiente e de qualidade de vida também passaram a serem incluídas ao conceito de desenvolvimento, não se levando em conta somente o aumento da eficácia do sistema de produção ou o crescimento econômico. Nessa perspectiva Souza & Miller (2003), defendem que desde o advento da Revolução Industrial, desenvolve-se um processo de destruição dos bens ambientais sem precedentes na História. Corroborando com essa ideia, Barros (2008) afirma que várias situações como, graves acidentes ambientais, acidentes nucleares de grande monta e os movimentos em favor do meio ambiente levaram à criação de novas diretrizes para o desenvolvimento econômico. Em função dos modelos produtivos, o conceito de desenvolvimento foi associado por um grande período ao crescimento econômico sem considerar as dimensões sociais, políticos e econômicos. Era entendimento que o aumento de riquezas poderia melhorar as condições de vida da população, embora conceitualmente, desenvolvimento e crescimento não tenham o mesmo significado 25 BARROS (2008). Conforme afirma Singer (1968), a primeira inferência da distinção entre desenvolvimento e crescimento é que o crescimento é visto como um processo de expansão quantitativa, ao passo que o desenvolvimento é percebido como um processo de transformações qualitativas dos sistemas econômicos. Sendo considerado um processo de passagem de um sistema a outro. Para o autor citado, o desenvolvimento significava diferentes formas de confrontar os estágios de evolução e de crescimento econômico e social, com a convicção de que é possível se alcançar patamares mais elevados, mediante a aplicação de políticas econômica eficiente. Nessa concepção, Sachs (1986) descreve seis aspectos fundamentais que deveriam guiar os novos caminhos do desenvolvimento: a satisfação das necessidades humanas; a solidariedade para com as gerações futuras; a participação da população envolvida; a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas e os programas de educação. Furtado (2000) afirma que a corrente de desenvolvimento refere-se a um processo que envolve o conjunto de uma sociedade e está ligada à introdução de métodos produtivos mais eficazes que se reflete no aumento do fluxo de bens e serviços finais à disposição da sociedade. A teoria do desenvolvimento conforme Singer (1968) compõe-se partindo do pressuposto que a correta adoção de modelos específicos de desenvolvimento viabiliza a reprodução das trajetórias dos processos econômicos e sociais dos países que servem de referência nas regiões e sociedades e que almejam os mesmos resultados positivos de desenvolvimento. Para Albuquerque et al. (2009), a visão de desenvolvimento clássica com foco apenas no crescimento econômico não leva em consideração, pelo menos em níveis adequados ou aceitáveis, a questão dos riscos de esgotamento dos recursos naturais, principalmente os recursos não renováveis e o impacto das atividades econômicas na degradação do meio ambiente. Desta forma, a sustentabilidade do modelo de desenvolvimento capitalista - industrial, sob a ótica da lei da entropia, representa a insustentabilidade, pois são duas forças que trilam caminhos distintos. No início da década de 70, conforme Dias (2011), tornaram-se mais conscientes os questionamentos sobre o modelo de crescimento e desenvolvimento 26 econômico que perdurava desde a Revolução Industrial. Essas indagações eram que, mesmo tendo ocorrido mudanças significativas na economia, os níveis de subdesenvolvimento não respondiam positivamente, tendo como indicador preocupante a disparidade social entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Do ponto de vista ambiental, questionava-se cada vez mais o mito da abundância do capital natural, em contrapartida, constatava-se que o modelo econômico adotado provocava o adensamento da deterioração ambiental, e aumentava a possibilidade de esgotamento dos recursos naturais. Conforme Sachs (2001), a prosperidade global do século XX deixou atrás de si uma devastação sem precedentes, gerada por uma má distribuição de recursos e renda, pelo histórico de guerras e genocídios e por um sistema internacional incapaz de promover paz duradoura, justiça e desenvolvimento. Segundo Sachs (2001), o crescimento econômico, se repensado de forma adequada, visando minimizar os impactos ambientais negativos e colocado os impactos positivos a serviço de objetivos socialmente desejáveis, continua sendo uma condição necessária para o desenvolvimento. Para Capra (1996), o paradigma contemporâneo está numa visão holística, que concebe o mundo como um todo interligado e não como uma coleção de partes dissociadas. O crescimento sem precedentes do consumo a que o desenvolvimento econômico através da ideologia tecnológica pretende satisfazer vem impondo ao meio ambiente e os ecossistemas a uma pressão incessante que está provocando seu declínio, comprometendo a sustentabilidade da vida. Os principais macroproblemas ambientais da atualidade, decorrentes da ação direta do homem sobre a natureza através de seu sistema produtivo, podem ser enumerados e analisados de acordo com ALBUQUERQUE et al. (2009), como o aumento da temperatura global da terra, destruição progressiva da camada de ozônio, destruição da biodiversidade ou extinção de espécies, a poluição industrial e indisponibilidade de água potável. 2.2 CONCEITOS E PERSPECTIVAS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A partir da década de 1980, a sociedade mundial começa efetivamente a demonstrar sua preocupação com as questões ambientais. A busca por alternativas 27 encontra embasamento e direcionamento no conceito de Desenvolvimento Sustentável (DS). A constatação do problema atual alerta para os problemas futuros, como descreve Camargo (2003, p. 14): Se um dos mais importantes avanços do século XX foi o despertar de uma consciência ambiental e da necessidade de encontrar um equilíbrio entre as ações humanas e a preservação do meio ambiente onde vivemos, os desafios para o século XXI relacionados à busca de soluções para nossos graves e globais problemas socioambientais serão, contudo, muito mais complexos e profundos, uma vez que já há sinais evidentes de uma crise de insustentabilidade ecológica e social que se arma em todo o planeta. A noção de desenvolvimento sustentável não surgiu de modo imediato, tem sua origem mais remota no debate internacional acerca do conceito de desenvolvimento . Essa noção segundo Albuquerque et al. (2009), está associada à estabilidade, permanência no tempo e durabilidade. Trata-se da reavaliação da natureza do desenvolvimento predominantemente ligado à ideia de crescimento, até o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável. Nesta ótica, a noção de desenvolvimento, por muito tempo identificado ao progresso econômico, extrapola o domínio da economia através da sua integração com as dimensões social, ambiental e institucional, apoiando-se em novos paradigmas. ALBUQUERQUE et al. (2009). Barbieri e Lage (2001, p. 3) afirmam que “o conceito de sustentabilidade tem as suas raízes fincadas na Ecologia e está associado à capacidade de recomposição e regeneração dos ecossistemas”. Entretanto, as discussões envolvendo meio ambiente e desenvolvimento estão cheias de conflitos e opiniões distintas entre os envolvidos. O termo desenvolvimento sustentável começou a ser delineado em 1972, quando a organização das Nações Unidas (ONU) promoveu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia). A Conferência contou com a participação de 113 países, 250 Organizações Não Governamentais e Organismos da ONU. A Conferência de Estocolmo 1, gerou uma declaração e um Plano de Ação para o Meio Ambiente que contém 109 recomendações, e tornou-se um fórum de debates entre diferentes posições dos 1 A Conferência de Estocolmo iniciou-se em 5 de junho de 1972, e desde então nesse dia é comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. 28 países do Norte e do Sul; foi a primeira grande reunião internacional em que lideranças mundiais debateram questões relacionadas ao meio ambiente. PEREIRA, SILVA e CARBONARI (2011). Dias (2011) afirma que um dos méritos da Conferência de Estocolmo, foi o de lançar as bases para a abordagem dos problemas ambientais numa ótica global de desenvolvimento, gerando os primeiros passos do que viria a se constituir posteriormente no conceito de desenvolvimento sustentável. Nessa Conferência, passa-se a unir desenvolvimento e meio ambiente, surgindo o conceito de eco desenvolvimento, que em seguida passa a ser suplantado pelo conceito de desenvolvimento sustentável. A análise realizada por Pereira, Silva e Carbonari (2011), define que a Conferência gerou uma Declaração em que já sinalizava para a necessidade de defender e melhorar o ambiente humano para as atuais e futuras gerações, em consonância com a paz e o desenvolvimento econômico. Os autores apontam que a Conferência teve dois resultados formais: Uma declaração de princípios de comportamento e responsabilidade de orientação que deveria servir para as decisões relativas às questões ambientais e um plano de ação que convocava os países, os organismos das Nações Unidas e a comunidade internacional a cooperarem no sentido da busca de soluções para os problemas ambientais. PEREIRA, SILVA e CARBONARI (2011) O conceito de eco desenvolvimento recomendava a elaboração de um sistema social que assegurasse emprego, segurança social, respeito à diversidade cultural e destacasse a importância a programas de educação caracterizando, dessa forma, uma nova alternativa de política de desenvolvimento. PEREIRA, SILVA e CARBONARI (2011) A corrente dos eco desenvolvimentistas conforme Albuquerque et al. (2009) aborda as questões ambientais e contesta inicialmente os pilares básicos da economia neoclássica. Essa corrente defende que a eficiência no uso dos recursos naturais só poderá ser alcançada quando se atenderem simultaneamente a eficiência econômica, a equidade distributiva e a prudência ecológica. Os defensores dessa corrente atribuem causas e soluções distintas para a questão dos problemas ambientais, por uma lado admitem que os problemas ambientais são consequência do estilo de desenvolvimento econômico da sociedade, por outro defendem que a solução dos problemas ambientais só será 29 alcançado por meio de mudança do estilo de vida da sociedade de consumo e de produção. ALBUQUERQUE et al. (2009). Desenvolvimento sustentável, portanto, não é um estado, mas uma referência para processos que possam expressar uma transformação de estado desta para uma nova sociedade. Albuquerque et al. (2009) aponta alguns princípios ligados à noção de sustentabilidade, como: prevenção justifica que mais vale prevenir a degradação, a poluição e o prejuízo social do que mais tarde ter que consertar o erro evitando prejuízos; precaução que deve-se antes avaliar as consequências ambientais e sociais de uma ação agindo com consciência; participação em que o processo decisório deve antecipar a divulgação das implicações das decisões que estão sendo tomadas fomentando a participação dos interessados; proatividade, sinalizando que as ações devem ser orientadas mais pelas oportunidades e não só pelos problemas; compensação, explicando que havendo piora localizada das condições anteriores como resultado de qualquer ação, deve haver compensação aos prejudicados; compromisso com melhorias contínuas, compromete-se a fazer processo continuo em direção à sustentabilidade tendo uma visão a longo prazo e o ; princípio do poluidor pagador que é o responsável por degradação, poluição ou danos de qualquer espécie deve arcar com os recursos de remediá-los. A adoção do conceito de DS por organismos internacionais marca a afirmação de uma filosofia do desenvolvimento que, a partir de um tripé, combina eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica, premissas da construção de uma sociedade solidária e justa. Conforme Silva (2008), uma ferramenta básica para a aplicação do conceito de DS consiste no estabelecimento de objetivos e indicadores que possam mensurar quanto se progride em direção aos objetivos estabelecidos. São instrumentos essenciais para guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso obtido rumo ao DS, deixando perceptível uma tendência ou fenômeno que não seja imediatamente detectável. Nesse contexto Rutherford (1997), afirma que o maior desafio do desenvolvimento sustentável é a compatibilização da análise com a síntese. O desafio de construir um desenvolvimento dito sustentável, juntamente com indicadores que mostrem esta tendência, é o de nivelando o nível macro com o micro. Essa questão precisa ser analisada através dos aspectos econômicos, ambientais e sociais. É ao despertar-se para esta conjuntura, combinado com a 30 urgência de reflexão, que na década de 1980 surgiram os primeiros sinais de uma revisão no modelo. Desde o marco inicial, o conceito de sustentabilidade começou a se popularizar ganhando novos sentidos. RUTHERFORD (1997). Segundo Pereira, Silva e Carbonari (2011), até os anos 80 esse conceito era utilizado por profissionais da área ambiental como referência a um ecossistema que permanece resiliente, apesar de agressões decorrentes da exploração humana. No inicio da década de 80, a ONU retomou o debate das questões ambientais por meio da criação, em 1983, da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), conhecida como Comissão Brundtland. Conforme Camargo (2003), a CMMAD definiu eco desenvolvimento como um conjunto de princípios que buscava a harmonia entre desenvolvimento humano e meio ambiente de modo que as gerações futuras pudessem usufruir os mesmos privilégios da geração atual implicando, portanto, a necessidade de uma mudança qualitativa das estruturas produtivas, sociais e culturais da sociedade. Os principais eventos que nortearam e buscaram um conceito amplo e compreensível sobre o Desenvolvimento Sustentável (DS) foram o Relatório Brundtland e a Agenda 21. 2.2.1 Relatório de Brundtland A caracterização de desenvolvimento sustentável, alternativa apresentada como conceito político e um conceito amplo para o progresso econômico e social, foi apresentada à Assembleia Geral da ONU em 1987 pela presidenta da Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Gro Harlem Brundtland, ficando conhecido como Relatório Brundtland. DIAS (2011). O Relatório Brundtland tornou-se o documento mais conhecido no que se refere ao início da utilização do termo Desenvolvimento Sustentável contemplando que DS envolve dois aspectos, que são: a idéia de que as necessidades, principalmente as necessidades essenciais das pessoas mais pobres do mundo, devem ser priorizadas; as limitações impostas pelo estágio de desenvolvimento da tecnologia e pela organização social sobre a capacidade de atender às necessidades do presente e do futuro. DIAS ( 2011). No entendimento de Brüseke (1996), o relatório Brundtland, considerado a 31 matriz do pensamento hegemônico sobre o desenvolvimento sustentável, reduz a crítica à sociedade industrial e aos países industrializados, não negando, o crescimento nem aos países industrializados e os não industrializados. O Relatório Brundtland, conforme Albuquerque (2009), é também conhecido como "O Nosso Futuro Comum" e alerta o mundo para grande necessidade de fazer modificações o desenvolvimento econômico em direção à sustentabilidade reforçava a crítica ao modelo de crescimento adotado pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento baseado na exploração excessiva dos recursos naturais. Tal Comissão definiu desenvolvimento sustentável como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem às suas próprias necessidades (CMMAD, 1991). Em 1989, a ONU propôs a elaboração de estratégias para conter a degradação ambiental e promover o desenvolvimento sustentável, proposta essa que induziu à criação da Agenda 21, sendo aprovado posteriormente em 1992 durante a Eco 92. DIAS (2011). 2.2.2 Agenda 21 Na década de 1990, os novos conceitos e valores disseminados na década de 80 passaram a ser agrupados aos já existentes. Em 1992 uma nova Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável foi realizada no Rio de Janeiro, mobilizando a sociedade para conscientização do modelo de desenvolvimento adotado mundialmente e sobre as limitações que este apresentava. VEIGA (2005). Conforme Albuquerque (2009), o documento conhecido como Agenda 21, que foi resultado da reunião realizada pela ONU entre os dias 3 a 14 de junho de 1992 é também denominada "Cúpula da Terra" sendo classificada como o marco definitivo para a inserção do conceito de DS nas políticas governamentais. Conforme Silva (2008), Agenda 21 dividiu o conceito de sustentabilidade em: Sustentabilidade Ecológica que refere-se à base física do processo de crescimento e tem como objetivo a manutenção dos estoques de capital natural incorporados às atividades produtivas. O conceito de ecossistema pode ser definido como o conjunto formado pela parte inanimada do ambiente (solo, água, atmosfera) e pelos seres 32 vivos que ali habitam. Todos estes elementos estão interligados; Sustentabilidade Ambiental refere-se à manutenção da capacidade de sustentação dos ecossistemas, o que implica na capacidade de absorção e recomposição dos ecossistemas, em face das interferências antrópicas. Agenda 21 brasileira conforme relata Batista (2004, pag. 35), "é um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem como foco principal a sustentabilidade, compatibilizando a conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econômico". O documento é resultado de uma vasta consulta à população brasileira, sendo construída a partir das diretrizes da Agenda 21 global. Trata-se, portanto, de um instrumento fundamental para a construção da democracia participativa e da cidadania ativa no país. O autor reforça que sua primeira fase foi a construção da Agenda 21 brasileira. Esse processo que se deu de 1996 a 2002, foi coordenado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável (CPDS) e da Agenda 21 Nacional e teve o envolvimento de cerca de 40 mil pessoas de todo o Brasil. BATISTA (2004). O documento Agenda 21 brasileira foi concluído em 2002. A partir de 2003, a Agenda 21 brasileira não somente entrou na fase de implementação assistida pela CPDS, como também foi elevada à condição de Programa do Plano Plurianual, (PPA 2004-2007), pelo atual governo. Como programa, ela adquire mais força política e institucional, passando a ser instrumento fundamental para a construção do Brasil Sustentável, estando coadunada com as diretrizes da política ambiental do Governo: transversalidade, desenvolvimento sustentável, fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente (SISNAMA) e participação social adotando referenciais importantes como a Carta da Terra. VEIGA (2005). Portanto, Agenda 21, tem provado ser um guia eficiente para processos de união da sociedade, compreensão dos conceitos de cidadania e de sua aplicação, é hoje um dos grandes instrumentos de formação de políticas públicas no Brasil. Nessa concepção, Camargo (2003) propõe que, para avaliar e verificar as ações nacionais e internacionais recomendadas na Agenda 21, a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CDS) se reuniu, em 1997, em Kyoto no Japão, durante o encontro RIO + 5, com o objetivo de avaliar o efetivo andamento das decisões da Agenda cumprimento diminuir de 21, principalmente, com relação ao as emissões dos gases provenientes da queima de 33 combustíveis fósseis que afetam as mudanças climáticas e, com isso, alteram o ecossistema. Esse encontro, gerou o Protocolo de Kyoto, documento no qual as nações se comprometeram a reduzir, no período de 2008 a 2012, a emissão dos gases poluentes geradores do efeito estufa. Em 2000, na cidade de Nova Iorque, as Nações Unidas elaboraram a Declaração do Milênio com a participação de 191 países. Conforme PNUD (2000), esse documento veio consolidar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) que são: Erradicar a extrema pobreza e a fome; Atingir o ensino básico universal; Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; Reduzir a mortalidade infantil; Melhorar a saúde materna; Combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; Garantir a sustentabilidade ambiental; e Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento. Também teve o objetivo de inserir, no centro dos propósitos do DS mundial, o conceito de bem-estar social e da redução da pobreza. Verifica-se, dessa forma, conforme Veiga (2007), um compromisso com a dignidade humana, com a liberdade e com a igualdade de todos os seres humanos. A conferência RIO+10 , ocorreu em 2002, na África do Sul, na cidade de Joanesburgo, com o objetivo de analisar os avanços e retrocessos desse período. As críticas à Conferência foram muito maiores que seus resultados de fato. Percebe-se, então, a necessidade de estimular a consciência da crise ambiental e de elaborar e implementar políticas que conduzam às mudanças globais e promovam a sustentabilidade de uma sociedade. (SILVA, 2000). A construção do entendimento do desenvolvimento sustentável tem como base o princípio de que o desenvolvimento sustentável compreende uma condição de crescimento contínuo de uma economia, de modo a permitir uma razoável distribuição concreta da riqueza social, por meio da ampliação do acesso das populações à satisfação de suas necessidades básicas. VEIGA (2005). Segundo Leal (2003), a sustentabilidade está relacionada à promoção de um diálogo crítico acerca da ciência e das estratégias tecnológicas buscando viabilizar sistemas produtivos. A sustentabilidade das organizações surge como uma proposta regular as estruturas burocráticas, definindo padrões ambientais internacionais. A participação dos atores sociais nesse processo torna-se fundamental para que as ações e projetos desenvolvidos sejam de fato, efetivos e sustentáveis. 34 2.3 A SUSTENTABILIDADE E SUAS DIMENSÕES Uma das contribuições sobre as concepções das dimensões da sustentabilidade é apontado por Silva (2000), a autora apresenta uma síntese das características da sustentabilidade com os aspectos mais representativos, identificados sob três grupos temáticos: Caráter Progressivo que se distingue pelo Caráter de Tendência e pelo Caráter Dinâmico. Como Caráter de Tendência tem-se o processo onde se pretende atingir determinadas metas de forma contínua e reavaliada. Como Caráter Dinâmico, temse a condição de interagir com o dinamismo da realidade em que se insere, adequando-se continuamente; Caráter Holístico em que os componentes considerados são de Caráter de Pluridimensionalidade, de Indissociabilidade e Interdisciplinaridade. Como Caráter Plural, envolve os aspectos básicos ambientais, econômicos, sociais e políticos, podendo ser acrescidos de novas dimensões se houver a exigência. DIAS (2011). Ao Caráter de Indissociabilidade, este estabelece que além do envolvimento dos aspectos ambientais, sociais, econômicos e políticos, exige um vínculo indissociável para que se garanta a condição de sustentabilidade. Quanto ao Caráter Interdisciplinar, a amplitude das interações demanda o envolvimento de diferentes áreas do conhecimento teórico e prático e: Caráter Histórico em que é considerado pelas implicações espaço-temporal e de participação dos atores sociais nas atividades, sendo o Caráter Espacial a capacidade de transcendência sobre os limites locais. Já o Caráter Temporal admite a relação de tempo no equacionamento das práticas do passado, do presente e as práticas que serão exercidas no futuro. VEIGA (2005). Nesse sentido, as características apresentadas resultam na base instrumental para os princípios da sustentabilidade em que dimensões fundamentais, cujo escopo sinalizam Silva (2000) considera quatro para uma estrutura teórico- conceitual básica para a sustentabilidade. São as Dimensões Ambiental, Social, Econômica e Política, onde nesse instrumental pluridimensional têm-se os seguintes aspectos e princípios: Aspecto Ambiental- Manutenção da integridade ecológica por meio da prevenção das várias formas de poluição, da prudência na utilização dos recursos naturais, da preservação da diversidade da vida e do respeito à capacidade de carga dos 35 ecossistemas; Aspecto Social- Viabilização de uma maior equidade de riquezas e de oportunidades, combatendo-se as práticas de exclusão, discriminação e reprodução da pobreza e respeitando-se a diversidade e todas as suas formas de expressão; Aspecto Econômico- Realização do potencial econômico que contemple prioritariamente a distribuição de riqueza e renda associada a uma redução de externalidades socioambientais, buscando-se resultados macrossociais positivos e ; Aspecto Político- Criação de mecanismos que incremente a participação da sociedade nas tomadas de decisões, reconhecendo e respeitando os direitos de todos, superando as práticas e políticas de exclusão e permitindo o desenvolvimento da cidadania ativa. Neste contexto de pluridimensional e na busca de uma maior compreensão sobre o Desenvolvimento Sustentável, autores como Sachs (1997), Buarque (1994), Foladori (2002), Silva e Mendes (2005) abordam o tema por meio de dimensões, as quais contemplam os grandes pilares do desenvolvimento humano que ao serem movimentados em uma perspectiva holística, podem assegurar equidade social. No que concerne ao desenvolvimento sustentável, para Foladori (2002), há uma preocupação com a degradação do meio ambiente desde a década de 60 em função dos avanços do modelo capitalista. O autor critica este modelo, considerando que há limitações no processo de crescimento contínuo, que de certa forma, desencadearia uma preocupação com o desenvolvimento humano e com a preservação ambiental. Neste contexto, observa que as dimensões social, econômica e ambiental de desenvolvimento sustentável são as mais incorporadas nos estudos sobre o tema. Para Silva e Mendes (2005), o considerado e baseado desenvolvimento sustentável deve ser sob uma ótica multidisciplinar, com modelos mentais compostos a fim de se otimizarem os estudos e avaliações do processo de desenvolvimento de um determinado local, segundo as dimensões social, ambiental, econômica, espacial e cultural. A proposta básica do desenvolvimento sustentável é que cada constituinte da sociedade adote práticas que colaborem para tornar efetivos os pactos intra e intergeracionais. No âmbito organizacional, o núcleo da contribuição para o desenvolvimento sustentável passou a incidir a dimensão econômica , a social e a ambiental. Conforme observa-se na Figura 1 - Dimensões da sustentabilidade Organizacional. 36 Figura1 - Dimensões da sustentabilidade Organizacional Sustentabilidade Econômica DS Sustentabilidade Sustentabilidade Social Ambiental Fonte: Adaptado de Barbiere e Cajazeira (2012, p.68). Muitos esquemas de desagregação foram propostos; porém, o presente trabalho visa mostrar a proposta usada por Ignacy Sachs (1993), que conforme Barbiere e Cajazeira (2012) tornou- se a mais conhecida. O movimento do desenvolvimento sustentável baseia-se na percepção de respeito aos recursos naturais da Terra, com a penalidade de catástrofes globais na esfera social e ambiental. Esses problemas globais só podem ser elucidados com a participação efetiva de todas as nações, governos em todas as instâncias e sociedade civil. Conforme definem Barbiere e Cajazeira (2012, p. 65), "as empresas cumprem papel central nesse processo, pois muitos problemas socioambientais foram produzidos ou estimados pelas suas atividades". Os autores propõem duas alternativas; 'pensar globalmente e agir localmente' 2, na qual a empresa não deve esperar por condições ideias nos planos nacionais e internacionais para, só então, começar a agir e; a outra estratégia foi desagregar os elementos construtivos do desenvolvimento sustentável em dimensões. Como decorrência do surgimento e aplicação dos conceitos de sustentabilidade surge a necessidade de mecanismos que possibilitem a avaliação 2 Expressão atribuída a Hanzel Henderson autora de Thinking globally and acting locally: Ethic for dawning solar age, 1981 (Barbieri 1997). 37 do processo de aplicação dos seus princípios. Neste contexto, surgem as metodologias de indicadores de sustentabilidade, as quais utilizam um conjunto de dimensões e variáveis específicas, explicitadas através de dados quantitativos que permitem estabelecer um cenário sobre o nível de sustentabilidade de espaços geográficos em termos políticos, econômicos, sociais, ambientais e institucionais. Sachs (1993), ao alertar que o desenvolvimento sustentável pressupõe uma interação entre eficiência econômica, equidade social e preocupação ambiental, admite que só será possível ter um entendimento holístico do sistema na medida em que mais perspectivas sejam consideradas, aplicadas e intensamente relacionadas, para atingir um quadro sustentável. Assim sendo, sugere que o termo apresente cinco dimensões: a de sustentabilidade social, ecológica, geográfica e cultural como econômica, se apresentam na Figura 2 - As Cinco Dimensões da Sustentabilidade. Posteriormente acrescentado a dimensão política. O autor usa as mesmas dimensões propostas por Martins e Cândido (2008), para mensurar o Índice de Desenvolvimento Sustentável Municipal (IDSM). Figura 2 – As Cinco Dimensões da Sustentabilidade Ecológica Cultural Espacial SUSTENTABILIDADE Social Econômica Fonte: Adaptado de Sachs (1993). Autores como Barbieri (2000) e Sachs (2000) sugerem acrescentar a dimensão política, pois entendem que só assim as instituições democráticas se fortalecerão bem como haverá promoção da cidadania. Sachs (2000) define que a 38 sustentabilidade política na esfera nacional baseia-se na democracia, apropriação universal dos direitos humanos; desenvolvimento da capacidade do Estado para implementar o projeto nacional em parceria com empreendedores e em coesão social. No âmbito internacional tem sua eficácia na prevenção de guerras, na garantia da paz e na promoção da cooperação internacional e na aplicação do princípio da precaução na gestão do meio ambiente e dos recursos naturais; prevenção da biodiversidade e da diversidade cultural; gestão do patrimônio global como herança da humanidade; cooperação científica e tecnológica internacional. Barbieri e Lage (2001) e Buarque (2002), sugerem que a estas dimensões anteriormente tecnológica. descritas, poderiam ainda ser acrescentadas a dimensão Segundo os autores, a sustentabilidade tecnológica deve promover a cooperação técnica e o intercâmbio através de investimentos no desenvolvimento dos recursos humanos locais através do estímulo a construção de parcerias entre órgãos governamentais e não governamentais, Universidades, mercado e sociedade civil. Guimarães (2003) define, ainda, outras dimensões: Sustentabilidade ecológica, que tem como objetivos a conservação e o uso racional do estoque de recursos naturais incorporados às atividades produtivas; Sustentabilidade ambiental, que é relacionada à homeostase que refere-se a capacidade de suporte dos ecossistemas associados de absorver ou se recuperar das agressões derivadas das ações humanas;Sustentabilidade demográfica, que revela os limites da capacidade de suporte de determinado território e de sua base de recursos; Sustentabilidade cultural, relativa à capacidade de manter a diversidade de culturas, valores e práticas existentes; Sustentabilidade social, que objetiva promover a melhoria da qualidade de vida e a reduzir os níveis de exclusão social; Sustentabilidade política, que é relacionada à construção da cidadania plena dos indivíduos por meio do fortalecimento dos mecanismos democráticos de formulação e implementação das políticas públicas e Sustentabilidade institucional, relacionada à necessidade de criar e fortalecer instituições. Para Buarque (1994), os objetivos do desenvolvimento sustentável reconhecem enlaces complexos entre as distintas dimensões da realidade econômica, social, ambiental, tecnológica e institucional, com processos e dinâmicas da realidade. A quantidade de dimensões de sustentabilidade pode variar de acordo 39 com a perspectiva de cada autor. Este trabalho tem o intuito de abordar quatro das cinco dimensões propostas por Sachs (1993), conforme demonstra a Figura 3. Figura 3 - Dimensões da Sustentabilidade abordadas no estudo Dimensão Ecológica Dimensão Cultural Dimensão Econômica Dimensão Social Fonte: Autora, 2013. No entanto acrescenta-se que quantidade de dimensões de sustentabilidade pode variar de acordo com a perspectiva de cada autor. 2.3.1 Dimensão Ecológica A primeira dimensão proposta por Sachs (1993), foi a dimensão ecológica, segundo o autor, esta dimensão envolve à preservação dos recursos naturais na produção de recursos renováveis e na limitação de uso dos recursos não renováveis; controle do consumo de combustíveis fósseis e recursos esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, suprindo-os por recursos renováveis; diminuição do volume de resíduos e de poluição, por meio de conservação e reciclagem; autolimitação do consumo material; utilização de tecnologias limpas; definição de regras para proteção ambiental. 40 Nesse contexto, para Foladori (2002), a dimensão da sustentabilidade ecológica é a que promove menos controvérsias, uma vez que se refere a certo equilíbrio e à manutenção dos ecossistemas, conservação e manutenção genética, compreendendo, a manutenção dos recursos abióticos e a integridade climática. Este conceito aborda a natureza externa ao ser humano e a concepção de que quanto maior a interferência humana na natureza, menor será sua sustentabilidade. A sustentabilidade ambiental ou ecológica deve refletir na compreensão de um novo capital para o sistema capitalista, o capital natural. SILVA e MENDES (2005). Sachs (2000), define que a sustentabilidade ecológica ou ambiental deve assegurar que a capacidade de oferecer recursos materiais do planeta seja aumentada através da melhor utilização do potencial encontrado em cada um dos diversos ecossistemas. Deve-se com isso: procurar minimizar o impacto da ação humana por meio da diminuição do uso de combustíveis fósseis; ter como meta a redução da emissão de substâncias poluentes; fomentar a adoção de políticas de conservação de energia e de recursos; buscar a substituição de recursos naturais não renováveis por recursos renováveis, e aumentar a eficiência dos processos que se utilizam destes recursos. A sustentabilidade da dimensão ambiental ou ecológica requer uma gestão dos recursos naturais nas bases proposta por Cavalcanti et al. (2004, p. 26-27): Elevar a produtividade do capital natural, usando-se seus estoques sustentavelmente, com mínimos de desperdício e de sobrecarga nas funções ambientais de suprimento de recursos e de absorção de dejetos; definir a escala do subsistema econômico no bojo do ecossistema que o sustenta, dados a tecnologia, organização social e padrões de consumo; adotar esquemas de incentivos econômicos e de outra ordem que sirvam para impedir que se explorem os recursos naturais de forma acelerada e predatória; fazer com que substâncias extraídas da litosfera e substâncias antropogênicas não se acumulem sistematicamente na ecosfera, que as condições físicas para a produção e a diversidade sejam preservadas e conservadas, e que o uso de recursos na sociedade seja eficiente e justo, com respeito à satisfação das necessidades humanas; impedir que a deterioração causada pelos impactos ambientais seja deixada de fora do cálculo econômico como uma externalidade, uma vez que a perda ambiental configura prejuízo real, físico; contribuir para que se adote uma filosofia de finitude e auto- 41 restrição, de prudência ecológica, de conservação e parcimônia termodinâmica; procurar conciliar as aspirações de progresso com as possibilidades materiais que a natureza oferece de sua realização; e recorrer, diante da ignorância quanto às repercussões ambientais de iniciativas econômicas, ao princípio da precaução. 2.3.2 Dimensão Espacial Para Sachs (1993), a sustentabilidade espacial ou territorial remete a busca de equilíbrio na configuração rural-urbana e melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e atividades econômicas; melhorias no ambiente urbano; superação das disparidades inter-regionais e elaboração de estratégias ambientalmente seguras para áreas ecologicamente frágeis a fim de garantir a conservação da biodiversidade e do eco desenvolvimento. A sustentabilidade espacial envolve a organização do espaço e obedece a critérios superior ao de ocupação territorial e tem como principais objetivos a recuperação, a qualidade de vida, a biodiversidade. Sachs (1993) Sachs (1993) defende que para que ocorra a melhor distribuição dos assentamentos humanos e atividades econômicas se faz necessário estratégias de desenvolvimento participativas, onde os atores sociais atuem de forma efetiva nas decisões. Dentre as possíveis estratégias, Sachs (1993.p.97) aponta: Ênfase na industrialização e na urbanização descentralizada; Promoção de projetos de agricultura e agro florestamento regenerativos; Abandono de processos de colonização descontrolados, que possam destruir ecossistemas frágeis e Criação de uma rede de reservas naturais para proteger a biodiversidade, associada a tecnologias de nova geração. A percepção espacial ou geográfica da sustentabilidade segundo Silva e Mendes (2005), diz respeito ao estabelecimento da real dinâmica do espaço considerado, a fim de que, se possam determinar os objetivos e recursos existentes na localidade e refletir sobre a sua influência mútua com os demais meios. Para atingir este objetivo, Van Bellen (2005) defende que deve-se procurar uma configuração rural-urbana mais apropriada que vise proteger a diversidade biológica e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Não abordaremos na presente pesquisa essa dimensão por ela distanciar-se do objeto de estudo, visto que , 42 analisamos um evento cultural. 2.3.3 Dimensão Econômica Sachs (1993), define que a dimensão econômica refere-se a eficácia econômica avaliada em termos macro-sociais e não apenas na lucratividade empresarial, desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção; razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; inserção soberana na economia internacional. Para Silva (2000), a dimensão econômica da sustentabilidade tem como principal objetivo o alcance do potencial econômico que contemple prioritariamente a distribuição de riqueza e renda associada a uma redução de externalidades socioambientais, objetivando resultados macrossociais positivos. A dimensão econômica deve levar em conta que existem outros aspectos importantes a serem considerados, não apenas a manutenção de capital e as transações econômicas. SILVA e MENDES (2005). Nessa concepção Sachs (1993), define que a economia deve possibilitar uma gestão mais eficiente dos recursos e um fluxo regular dos investimentos públicos e privados. 2.3.4 Dimensão Social Sachs (1993) aborda que a dimensão social abrange a necessidade de recursos materiais e não materiais, objetivando maior igualdade e justiça na distribuição da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as condições da população, reduzindo-se o Coeficiente de Gini 3 , ampliando-se a homogeneidade social; a possibilidade de um emprego que assegure qualidade de vida e igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais. 3 O índice ou coeficiente de Gini é uma medida de concentração ou desigualdade. É comumente utilizada para calcular a desigualdade da distribuição de renda. O índice de Gini aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de "0 a 1", onde o zero corresponde a completa igualdade de renda, ou seja, todos tem a mesma renda e 1 que corresponde à completa desigualdade, isto é, uma só pessoa detém toda riqueza, e as demais nada tem. O índice de Gini, foi criado pelo matemático italiano Conrado Gini, e publicado no documento "Veriabilità e Mutabilità" (italiano:"variabilidade e mutabilidade"), em 1912. IBGE (2010). 43 A questão social conforme Silva e Mendes (2005) envolve temas relativos à interação dos indivíduos e à sociedade em termos de sua condição de vida. A principal discussão, nesta perspectiva, incide sobre a pobreza e o ritmo de crescimento populacional . Corroborando com esse entendimento Silva (2000) define que a dimensão social da sustentabilidade tem como princípio a viabilização de uma maior equidade de riquezas e de oportunidades, coibindo as práticas de exclusão social e reprodução da pobreza e respeitando-se a diferença e as opções das pessoas. A dimensão social diz respeito à consolidação de um processo de desenvolvimento baseado em um tipo de crescimento que vise as necessidades da sociedade (CAMARGO, 2003). Na dimensão social reside a grande polêmica, pois é a dimensão segundo Foladori (2002), que sofreu mais variações por conta do conceito de desenvolvimento social. Neste sentido a dimensão social objetiva garantir que todas as pessoas tenham condições iguais de acesso a bens, serviços de boa qualidade necessários para uma vida digna, pautando-se no desenvolvimento como liberdade. 2.3.5 Dimensão Cultural Sustentabilidade cultural diz respeito à cultura de cada local garantindo continuidade e equilíbrio entre a tradição e a inovação. No que se refere ao aspecto cultural, Sachs (2000) acredita que a manutenção da identidade da cultura local deve ser priorizada ao se buscar o caminho da modernização. Segundo o autor, a sustentabilidade cultural é mais complexa de ser consolidada, pois está relacionada com a aceitação de uma nova percepção dos limites e do reconhecimento das fragilidades do planeta, ao mesmo tempo em que a sociedade humana busca solucionar seus problemas socioeconômicos e suas necessidades básicas. A Dimensão Cultural da Sustentabilidade compreende conforme Silva e Shimbo (2001), a promoção da diversidade e identidade cultural em todas as suas formas de expressão e representação, principalmente daquelas que identifiquem as raízes endógenas, propiciando também a conservação do patrimônio urbanístico, 44 paisagístico e ambiental, que referenciem a história e a memória das comunidades. Sachs (1993), também compartilha deste entendimento afirmando que essa dimensão da sustentabilidade direciona-se às raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudança no seio da continuidade cultural e traduzindo o conceito normativo de eco desenvolvimento e sugerindo a criação de soluções customizadas para cada ecossistema, cultura e local. A dimensão cultural em muitos aspectos confunde-se com a social, tendo em vista que cultura e sociedade são, muitas vezes, elementos indissociáveis. Silva e Shimbo (2001) afirmam que fazem parte desta concepção: promover, preservar e divulgar a história, tradições e valores regionais, bem como acompanhar suas transformações. Para buscar essa dimensão é um caminho válido o de valorizar culturas tradicionais, divulgar a história da cidade, garantir oportunidades de acesso a informação e ao conhecimento a todos e investir na construção, reforma ou restauração de equipamentos culturais. 2.4 INDICADORES DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sequencialmente a evolução do debate histórico acerca da necessidade de progresso, do desenvolvimento e posteriormente do desenvolvimento sustentável, emerge a necessidade de propostas para formulação de ferramentas de sua mensuração. Conforme afirma Veiga (2005), no decorrer do debate acerca do desenvolvimento, com a verificação da ruptura ao antigo modelo de desenvolvimento e o surgimento de um novo paradigma, surge a necessidade de novas metodologias de mensuração para o desenvolvimento sustentável. A ideia de desenvolver indicadores de sustentabilidade surgiu na Rio-92, conforme registra seu relatório final, Agenda 21. A proposta era definir padrões sustentáveis de desenvolvimento que considerassem aspectos ambientais, econômicos, sociais, éticos e culturais. Para tanto, tornou-se necessário determinar indicadores que a mensurassem, monitorassem e avaliassem o alcance e o progresso no desenvolvimento sustentável. VEIGA (2005) Indicadores são ferramentas compostas por uma ou mais variáveis que associadas através de diversas formas, revelam significados mais amplos sobre os fenômenos a que se referem, constituindo-se em um instrumento essencial para 45 guiar a ação e subsidiar o acompanhamento e a avaliação do progresso alcançado rumo ao desenvolvimento sustentável. Entretanto, a complexidade desse conceito com suas múltiplas dimensões e abordagens tem dificultado a utilização mais consciente e adequada destas ferramentas. IBGE (2010). Para Meadows (1998), os indicadores compõem sistemas de informações sobre o desenvolvimento sustentável que tem como objetivo coletar e gerenciar informações e fornecê-las para a avaliação. O autor, acima citado, propõe algumas características fundamentais que os indicadores devem possuir: a primeira característica é a clareza nos valores, não são desejáveis incertezas nas direções que são consideradas corretas ou incorretas; clareza em seu conteúdo, os mesmos devem ser compreensíveis e possuírem unidades que façam sentido; suficientemente elaborados para impulsionar a ação política; relevantes politicamente, para todos os atores sociais, mesmo para aqueles menos poderosos; mensuráveis dentro de um custo razoável (factível); suficientes, isto é, deve haver um meio termo entre o excesso de informação e a insuficiência desta, para que se forneça um quadro adequado da situação; situados dentro de uma escala apropriada, evitando-se a super ou subagregação; democráticos, possibilitando as pessoas acesso à seleção e às informações resultantes da aplicação da ferramenta; suplementares, devem incluir elementos que as pessoas não possam medir por si próprias; hierárquicos, para que o usuário possa descer na pirâmide de informação; físicos, uma vez que a sustentabilidade está ligada, em grande parte, a problemas de ordem física como água, poluentes e florestas; fornecedores de informações que conduzam à ação e; provocativos, levando à discussão, ao aprendizado e à mudança. Nesse contexto, Ribeiro (2008) afirma que a concepção de indicadores de sustentabilidade emerge nesse plano como suportes fundamentais para a atividade de mensurar, possibilitando que as escolhas políticas conduzam em direção a sustentabilidade, através da criação de vinculações entre o atual estágio de desenvolvimento e o estado de sustentável no futuro. Van Bellen (2005), faz uma análise dos principais projetos em indicadores de desenvolvimento sustentável, destacados Ecological Footprint Method (EFM), o Dashboard of Sustainability (DS) e o Barometer of Sustainability (BS), apresentados no quadro resumo, contemplando suas definições, escopo e esferas de aplicação. Segue Quadro 1 - Comparativo das principais ferramentas para análise da 46 sustentabilidade. Quadro 1 - Comparativo das principais ferramentas para análise da sustentabilidade FERRAMENTA DEFINIÇÃO ESCOPO ESFERA Ecological Ferramenta que consiste em estabelecer a área necessária para manter uma determinada população ou sistema econômico indefinidamente, fornecendo: energia e recursos naturais e capacidade de absorver os resíduos ou dejetos do sistema. Ferramenta que faz uma metáfora a um painel de um automóvel para informar aos tomadores de decisão e público, em geral, da situação do progresso em direção ao desenvolvimento sustentável. Ferramenta que avalia o progresso em direção a sustentabilidade pela integração de indicadores e mostra o seu resultado por meio de índices. Ambiental Global Continental Nacional Regional Local Organizacional Individual Social Ambiental Econômico Institucional Continental Nacional Regional Local Organizacional Social Ambiental Global Continental Nacional Regional Local Footprint Method Dashboard of Sustainability Barometer of Sustainability Fonte: Adaptação de Van Bellen (2005). Diante da grande dimensão de variáveis que envolve a temática do desenvolvimento sustentável, distintos enfoques e sistemas vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de se obter uma forma mais adequada de sintetizálo e de mensurá-lo. VAN BELLEN (2005). De acordo com Cândido (2010), existem poucos sistemas de indicadores que tratem especificamente com o desenvolvimento sustentável, sendo em sua maioria em caráter experimental e desenvolvidos com o propósito de compreender os fenômenos relacionados à sustentabilidade. Apesar da existência de diversos sistemas de indicadores, ainda existe pouca pesquisa no que se refere ao desenvolvimento sustentável de municípios. No Brasil algumas pesquisas ganham destaque, possibilitando avanços significativos no desenvolvimento dos municípios, conforme pode-se observar no Quadro 2 - Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade Municipal . 47 Quadro 2- Sistemas de Indicadores de Sustentabilidade Municipal SISTEMA DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE MUNICIPAL IDH-M Indicadores Sociais Municipais Índice de Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU-BR) IQM Carências– RJ IPRS – SP Atlas do Desenvolvimento ABORDAGEM Desenvolvido pelo IBGE, este sistema tem co mo objetivo disponibilizar uma síntese de indicadores sociais da população e domicílios do Brasil. As informações obtidas com esse sistema são coletadas através do Censo Demográfico, as quais são apresentadas sob a forma de tabelas e gráficos para oferecer aspectos importantes sobre as condições de vida da população. Este sistema foi desenvolvido pelo IBGE em associação com o Programa das Nações Unidas p ara o Desenvolvimento (PNUD), com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João Pinheiro (FJP), o qual resulta de uma adaptação do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), usado para c IDH comparar países, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal o IDH-M. Tem como objetivo identificar a posição ocupada pelo município em comparação com outros municípios do Estado, onde o município classificado como número 1 é o de melhor desempenho. É um indicador que coloca o município como unidade de análise, a partir da verificação das dimensões de longevidade, educação e renda, as quais são inseridas com pesos iguais na sua determinação. Elaborado pelo Instituto de Desenvolvimento Humano Sustentável da Pontifícia Universidade Católica de Minas para utilização do Ministério das Cidades, a partir da experiência do IQVU-BH, índice para a cidade de Belo Horizonte. Este índice tem como objetivo apresentar, após a análise de diversos indicadores, o nível de acesso espacial aos bens sociais importantes para a qualidade de vida urbana, como saúde, saneamento, moradia e lazer, contribuindo como ferramenta para melhor planejamento urbano. Criado pela Fundação CIDE (Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro ), refere-se a um indicador sintético de desenvolvimento e tem como objetivo central avaliar a distância entre a realidade existente nos municípios fluminenses e a sociedade considerada ideal, tomando por base questões relacionada a um elevado grau de equidade e de cidadania plena. O referido sistema parte do conceito de carência como a falta ou o não acesso a direitos sociais, e utiliza co mo base para este entendimento a Constituição Brasileira como definidora destes direitos. Para a realização do cálculo faz uso dos temas: educação, saúde, habitação e saneamento, mercado de trabalho, comércio, segurança, transportes, comunicações, esporte, cultura e lazer, participação comunitária e descentralização administrativa. O índice final é obtido através do cálculo da média ponderada dos indicadores, onde quanto maior o valor apresentado pelo município, maiores serão os problemas sociais identificados. Este sistema é resultado da parceira da SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) com a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Refere-se a um sistema de indicadores socioeconômicos destinados aos municípios do Estado de São Paulo , com o intuito de subsidiar a formulação e a avaliação de políticas públicas na esfera municipal. Para tanto, baseia-se nos mesmos pilares das dimensões da saúde, educação e rendimento. Desenvolvido pelo PNUD, é um banco de dados eletrônico que toma por base os microdados dos Censos do IBGE. Esse sistema 48 Humano no Brasil IDESE – RS Índice de Desenvolvimento Sustentável para Territórios Rurais Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis IDSM (Martins e Cândido, 2008) IDLS (Silva, 2008) objetiva oferecer informações socioeconômicas relevantes dos 5.507 municípios brasileiros, além das 27 Unidades da Federação. Dentre as informações disponibilizadas pelo sistema estão IDH-M e 124 outros indicadores georreferenciados de população, educação, habitação, longevidade, renda, desigualdade social e características físicas do território. O Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (IDESE) elaborado pela Fundação de Economia e Estatística (FEE) é um índice sintético que tem por objetivo medir o grau de desenvolvimento dos municípios do Rio Grande do Sul. O IDESE é o resultado da agregação de quatro blocos de indicadores: Domicílio e Saneamento, Educação, Saúde e Renda. Para cada uma das variáveis componentes dos blocos é calculado um Índice, entre 0 (nenhum desenvolvimento) e 1 (desenvolvimento total), que indica a posição relativa para os municípios. São fixados, a partir disto, valores de referência máximo (1) e mínimo (0) de cada variável. Assim como no IDH, os municípios podem ser classificados pelo IDESE em três grupos: baixo desenvolvimento (índices até 0,499), médio desenvolvimento (entre 0,500 e 0,799) e alto desenvolvimento (maiores que 0,800). Refere-se a uma ferramenta metodológica desenvolvida e mais comumente utilizada pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) para verificação de processo de desenvolvimento sustentável em alguns países da América Latina. Essa metodologia consiste na coleta e sistematização de indicadores representativos das dimensões do desenvolvimento sustentável e permite a realização de avaliações rápidas, bem como análise comparativa dos níveis de desenvolvimento sustentável em diferentes territórios. Formado em 2008 é um movimento constituído de cerca de vinte municípios, com o objetivo comum de comprometer a sociedade e os governantes com o desenvolvimento justo e sustentável de sua cidade. A rede é formada por organizações sociais locais que têm como missão comprometer a sociedade e sucessivos governos com comportamentos éticos e com o desenvolvimento justo e sustentável de suas cidades, tendo como valor essencial a democracia participativa. Para realizar a missão da rede, as organizações sociais, entre outras ações, procurarão acompanhar as políticas e orçamentos públicos, preferencialmente através de indicadores e pesquisas de percepção da população. Estes levantamentos poderão ser de grande utilidade por propiciar análises comparativas e padrões de referência de qualidade de vida e equidade social entre as cidades. A rede também estimulará que cada organização social tenha um componente forte de educação e mobilização cidadã. Proposta por Martins e Cândido (2008), permite a obtenção de um índice de desenvolvimento sustentável municipal, a partir de informações organizadas numa perspectiva ampla e integrada de diversos aspectos que regem o funcionamento e desenvolvimento de uma dada localidade, onde os indicadores compõem as dimensões no âmbito: social, demográfico, econômico, político- institucional, ambiental e cultural. Desenvolvida por Silva (2008), tem como foco o índice de desenvolvimento sustentável municipal a partir de técnicas de análise multivariada para ponderar as dimensões e indicadores. Fonte: Adaptado Cândido (2010). 49 A metodologia apresentada por Martins e Cândido (2008) denominada Índice de Desenvolvimento Sustentável para Municípios (IDSM), surge como uma alternativa para mensuração de indicadores municipais, uma vez que as metodologias citada anteriormente contemplam exclusivamente a mensuração por país e/ou por Estado. O sistema apresenta seis dimensões que contém 44 indicadores e seus desdobramentos, que em conjunto produzem uma relevante quantidade de informações, servindo de subsídio para a elaboração e implementação de políticas públicas que fortaleçam o processo de desenvolvimento local sustentável. CANDIDO (2010). A dimensão social é composta por 13 índices, correspondendo aos objetivos ligados à satisfação das necessidades humanas, à melhoria da qualidade de vida e justiça social, abrangendo os índices de esperança de vida ao nascer; mortalidade infantil; prevalência da desnutrição total; imunizações contra doenças infecciosas infantis; serviços básicos de saúde; escolarização; alfabetização; escolaridade; analfabetismo funcional; famílias atendidas por programas sociais; adequação de moradia nos domicílios; mortalidade por homicídio e por acidente de transporte. MARTINS E CANDIDO (2008). A dimensão demográfica é composta por cinco índices que correspondem aos aspectos relacionados distribuição da população, abrangendo os índices de crescimento populacional; razão entre a população urbana e rural; densidade demográfica; razão entre população masculina e feminina e distribuição da população por faixas etárias. SILVA (2008). A dimensão econômica é composta por sete índices que tratam do desempenho econômico e financeiro e dos rendimentos da população. Os índices dessa dimensão consistem no Produto Interno Bruto (PIB); participação da indústria no PIB; balança comercial; renda familiar per capita em salários mínimos; renda per capita; rendimentos provenientes do trabalho e o índice de Gini de distribuição dos rendimentos. MARTINS E CANDIDO (2008). A dimensão político-institucional contempla 6 índices referentes às despesas por função (execução orçamentária) destinadas a assistência social, educação, cultura, urbanismo, habitação urbana, infraestrutura, gestão ambiental, ciência e tecnologia, desporto e lazer, saneamento urbano, despesa com saúde; acesso a serviço de telefonia fixa; participação nas eleições; número de conselhos municipais; 50 número de acesso a justiça; e transferência intergovernamental da União. MARTINS E CANDIDO (2008). A dimensão ambiental contempla 6 índices referentes à qualidade das águas para aferição de cloro residual, da turbidez e de coliformes totais; ao tratamento de água através da água tratada por Estação de Tratamento de Águas (ETAs) e por desinfecção; consumo médio per capita de água; formas de abastecimento de água por domicílio nas áreas rural e urbana; tipo de tratamento sanitário por domicílio e o acesso a coleta de lixo urbano e rural. A dimensão cultural é composta de sete índices referentes a quantidade de bibliotecas; de ginásios e estádios esportivos; de cinemas; de Unidades de Ensino Superior (UES); de teatros e salas de espetáculos; de museus e de centros cultural. O cálculo dos seus indicadores permite a obtenção de um índice de sustentabilidade municipal . 2. 5 DESENVOLVIMENTO LOCAL Atualmente, um dos principais slogans que fazem referência ao desenvolvimento sustentável é "Pense globalmente e aja localmente". Camargo (2003) questiona esse entendimento, e afirma não ser suficiente pensar globalmente e agir localmente. Considera que precisamos agir globalmente, por meio de uma aliança mundial. E preciso ressaltar que, o agir localmente, tem importância na medida que, a alternativa viável para implementação do Desenvolvimento Sustentável é a construção de uma variedade de sociedades sustentáveis que respeita e assegura as características próprias de cada localidade. Conforme reitera o relatório Nosso Futuro Comum (1991, p.44);"[...] não pode haver um único esquema para o desenvolvimento sustentável, já que os sistemas econômicos e sócias diferem muito de país para país. cada nação terá que avaliar as implicações concretas de suas políticas". Na década de 90 surge a denominação Desenvolvimento Local , oriunda do Conselho da Comunidade Solidária. Para Costa (2007), neste período, emergiu, uma nova filosofia de desenvolvimento local com uma visão integrada e compatível entre meio ambiente, necessidades sociais e a economia, tomando em consideração o nível local e o global, o curto e o longo prazo, onde o principal objetivo é introduzir 51 novas formas de comportamento na sociedade local, estimulando as pessoas a se inserirem nos problemas locais. Conforme Francisco Albuquerque (1998), desenvolvimento não exige somente ações para o êxito dos equilíbrios macroeconômicos, mas também, e essencialmente, melhorias e mudanças no plano microeconômico, no centro da atividade produtiva, trabalhista e de gestão empresarial, além de reformas e modificações de conteúdo no nível intermediário da atuação das administrações públicas e a negociação estratégica com os agentes socioeconômicos. Os processos de desenvolvimento na atualidade são caracterizados pela assimilação entre os espaços globais e locais de atuação humana. O desenvolvimento local , é entendido como um processo para a ascensão social, econômica e cultural do ser humano, na forma de gerenciamento para utilização dos recursos naturais de certo locais ou região, mediante o envolvimento da população e da participação de diversos parceiros institucionais. DIAS (2011). Para Buarque (1995. p.09), "[...] desenvolvimento local é um processo endógeno percebido em pequenas unidades territoriais e agrupamentos, capaz de propiciar o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida da população". Segundo o autor, este conceito contém três grandes conjuntos interligados e com características e papéis distintos no processo do desenvolvimento, como; elevação da qualidade de vida e a equidade social, eficiência e o crescimento econômicos e conservação ambiental. Para Albuquerque (1998), as principais características do desenvolvimento local são: o espaço territorial é concebido como agente de transformação social e não como mero espaço funcional; a sociedade local não se ajusta de forma passiva aos processos de transformação em curso, mas desenvolve iniciativas próprias a partir de suas particularidades territoriais nos planos culturais, sociais, econômicos e políticos; os poderes públicos locais e os agentes empresariais privados devem negociar a institucionalidade mais adequada para facilitar a recopilação sistemática das informações e promoção de espaços de intervenção, e a existência de capacidade empresarial inovadora em nível local . Diante do exposto, Ruthes (2007. p.37) defende que é preciso ter em mente que a sustentabilidade local "precisa estar alinhada com a vocação, especialidade e potencialidades que a região possui. Esse alinhamento é importante para que as organizações possam formular estratégias que realmente contribuam para o 52 desenvolvimento local". O desenvolvimento local demanda transformações institucionais que ampliam o poder de gestão das instituições publicas locais como os município, possibilitando a construção de uma autonomia das finanças publica e acumulação de bens para investimentos sociais e estratégicos para localidade. BUARQUE (2002). Franco (2000) aponta que, o desenvolvimento local pode ser entendido como uma proposta de desenvolvimento promovido a partir do nível mais baixo dos centros decisórios com a participação ativa da população na identificação das necessidades e priorização de ações, através dos atores locais, a fim de garantir resultados que assegurem melhoria na qualidade de vida desta população. Para Buarque (1998, p. 33), o desenvolvimento local sustentável é; Um processo e uma meta a ser alcançada no médio e longo prazos, gerando uma reorientação do estilo de desenvolvimento, enfrentando e redefinindo a base estrutural de organização da economia, da sociedade e das suas relações com o meio ambiente natural. Esta demanda mudanças em três componentes constituintes do estilo de desenvolvimento: padrão de consumo da sociedade, base tecnológica dominante no processo produtivo e estrutura de distribuição de rendas, cada um com sua própria lógica e autonomia. Conforme Souto et al (1995), quatro eixos básicos estabelecem a racionalidade da ideia de desenvolvimento local: Desenvolvimento como um processo que integra várias dimensões e que pode combinar eficiência com equidade. A superação da ideia economicista de desenvolvimento pela incorporação de outras variáveis como distribuição de renda, educação, saúde, comunicações, tecnologia e meio ambiente, consideradas via indicadores quantitativos e qualitativos como qualidade da educação, qualidade dos recursos humanos nas diversas áreas profissionais, que constitui um avanço em termos de compreensão do desenvolvimento e de aceitação da ideia de incorporar novas dimensões a este conceito; nova articulação entre Estado e sociedade superando o Estado- Providência e construindo cotidianamente uma participação mais ativa da sociedade. SOUTO et al (1995). O autor reintera que, a ideia neoliberal de descentralização pressupõe o fortalecimento da economia de solidariedade e o próprio resgate do sentimento de solidariedade na sociedade; descentralização do Estado e autonomia local, 53 transformando qualitativamente a tendência atual à descentralização do Estado (municipalização) em algo renovador, em contraposição à municipalização conservadora; geração de atores locais de desenvolvimento que relaciona estreitamente com a operacionalização, a ação política, fortalecendo as lideranças e promovendo estratégia de desenvolvimento local. SOUTO et al (1995). Desenvolvimento Local conforme enuncia Martins (2002), é um evento único em seu gênero, resultante do pensamento e da ação à escala humana, que confrontam o desafio de enfrentar problemas basilares e alcançar níveis elementares e auto referenciados de qualidade de vida na comunidade. Quanto as estratégias para promoção do desenvolvimento local Buarque (2002), propõe que deve se estruturar em, pelo menos três grandes pilares como: organização da sociedade que colabora para a formação de capital social local; formação de espaços institucionais de negociação e gestão e; reestruturação e modernização do setor público local, como forma de descentralização das decisões e elevação da eficiência e eficácia da gestão pública local. Para Buarque (1998),o desenvolvimento local dentro da globalização é um reflexo da capacidade dos atores e da sociedade locais se organizarem e se mobilizarem, com base nas suas potencialidades e sua matriz cultural, para definir e explorar suas prioridades e especificidades, buscando a competitividade num contexto de rápidas e profundas transformações. Para o autor "no novo paradigma de desenvolvimento, isto significa, antes de tudo, a capacidade de ampliação da massa crítica de recursos humanos, domínio do conhecimento e da informação, elementos centrais da competitividade sistêmica". O desenvolvimento local sustentável para Jara (1998.p.272), "coloca-se como uma proposta dialética, entre uma forma de desenvolvimento regional centralizado, quantitativo e predatório, e uma abordagem assistencialista e compensatória de desenvolvimento comunitário", procurando assim construir futuros de forma descentralizada e sustentável, bem como construindo alternativas e capacidades nos espaços sociais menores ou celulares, nos quais a sociedade ainda é sociedade, para que os atores sociais e institucionais locais possam ser os responsáveis direto pela construção de seu próprio destino. Nesse sentido Buarque (1998, p. 27) afirma que : 54 As formas de participação e de representação dos atores sociais no processo decisório dependem da abrangência espacial e temática do objeto do planejamento; quanto menor a unidade espacial (município ou comunidade) e mais simples os segmentos planejados, maiores os espaços para a democracia direta e menores as mediações de representação dos atores. De acordo com o autor, a instância e o foco do planejamento, geram proporcionalmente mudanças nos atores, nas variáveis, nas relações com o contexto. Fator esse que impulsiona, a diversidade dos atores sociais, sua forma de organização e de participação na sociedade. Brito (2006, p. 2) retrata que os elementos básicos das iniciativas locais de desenvolvimento são: [...] a coordenação dos diversos agentes públicos e privados que atuam no território, o acesso aos serviços estratégicos para incorporação de inovações tecnológicas e empresariais no tecido produtivo territorial, a criação de “incubadoras de empresas” para multiplicação das iniciativas empresariais, a concentração dos serviços elementares (administrativos, contábeis, telecomunicações, formação básica de gestão empresarial) em local cedido pelo próprio município, pela câmara de comercio local ou associação de empresários e fundamentalmente o estímulo as lideranças emergentes, bem como a capacitação do novo empresário. As experiências bem-sucedidas de desenvolvimento local conforme Buarque (1998.p.10) derivam, de um ambiente político e social satisfatório, expresso por uma "mobilização, e, principalmente, de convergência importante dos atores sociais do município ou comunidade em torno de determinadas prioridades e orientações básicas de desenvolvimento". 2.5.1 Atores Sociais Um dos pontos crucias, refletidos nas políticas de DLS fundamenta-se na concepção de que os atores sociais e institucionais locais possam ser os responsáveis direto pela construção de seu próprio destino. Buarque (1998) define que os atores sociais são grupos e segmentos sociais diferenciados na sociedade. Representam conjuntos relativamente homogêneos, conforme sua posição econômica e sociocultural e atuam de forma colaborativa 55 construindo analogias e espaços de influenciação. Os atores sociais organizam-se e manifestam-se por intercessão de entidades, organizações, associações, lobbies e grupos de pressão política, expressando sempre interesses e visões de mundo. Dividido em três conjuntos: Corporativos que são expressos em diferentes organizações como; sindicatos, federações e associações profissionais e empresariais. Esse grupo apresentam solidariedade temática e perseguem interesses reinvindicativos; Comunitários que são expressos em associações comunitárias que tendem a ter uma solidariedade territorial e interesses reinvidicativo e ; Temáticos que remetem os movimentos sociais representam visões do mundo e propostas acima dos interesses de grupos sociais e territoriais, constituindo-se influenciadores de políticas e iniciativas governamentais nas áreas de interesse específico. BUARQUE (1998) Assim Brito (2006. p.9) reafirma que: Atores sociais consistem na existência de uma situação favorável ao surgimento de sujeitos (lideranças comunitárias; diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; operadores e representantes eleitos que sejam incentivadores ou não das políticas de desenvolvimento) cujo perfil de competência, em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento. Dessa forma, Buarque (1998) afirma que dependendo da instância e do foco do planejamento, mudam-se as variáveis e os atores, tendo como consequência variações na forma e nos mecanismos de participação da sociedade. Para o autor o planejamento representa um espaço diferenciado de negociação onde os atores sociais, podem confrontar e articular seus interesses para a sociedade. À medida que cria condições para a (re)construção da hegemonia, articulando técnica e politicamente os atores sociais para escolhas e opções sociais. Nesse sentido o autor considera que " planejamento pode construir um projeto coletivo reconhecido pela sociedade e em torno do qual os atores sociais e os agentes públicos estejam efetivamente comprometidos". BUARQUE (1998) 56 2.5.2 Redes Sociais O novo paradigma das tecnologias da informação é analisado por Castells (1999.p.10), como a base material para a expansão penetrante de redes em toda a estrutura social da sociedade moderna. Apesar de as redes poderem ser consideradas formas antigas de convivência humana, “elas tomaram uma nova forma, nos tempos atuais, ao transformarem-se em redes informacionais, revigoradas pela internet”. CASTELLS (1999). Com isso o autor afirma que as redes constituem a nova morfologia social das sociedades, e a disseminação da lógica de redes modifica a concepção e os resultados dos processos produtivos e de experiência, na relação poder e cultura. Ribeiro (2008.p.50), ressalta que "o importante e considerar que as formas de participação e de representação no processo decisório dependem da ação dos atores sociais internos e externos, em condição de contribuir na consecução e no sucesso das estratégias negociadas através de parceria. Na verdade, a parceria constitui elemento chave dos processos de inovação no desenvolvimento local sustentável". Para Cepal (1990.p.917) os pressupostos de DLS são capazes de “introduzir modalidades de ação nas quais os agentes tenham maiores margens de autonomia nas decisões”. Corroborando com esse entendimento, Jara destaca que, os interreses dos atores sociais devem ser consideradas no processo decisório de formulação de projetos, conforme observamos; Para que a participação social reflita a microdemocracia e oriente o processo de planejamento, é indispensável que os interesses dos atores sociais sejam considerados na esfera decisória. Não podemos falar de participação real, quando os atores "decidem" por alternativas que são definidas previamente pelas cúpulas de poder. Esse tipo de "participação" apenas tem caráter formal, colocando uma cortina na democracia que termina excluindo as comunidades das questões fundamentais. É preciso criar as bases a fim de que, a partir do fortalecimento da participação, se construam as condições para que os cidadãos tenham acesso ao exercício do poder, entendido como capacidade de agir e de produzir comportamentos específicos (JARA, 1998. p. 97). Castells infere que os processos dominantes da sociedade moderna estão estruturalmente organizados em redes. As redes não tem como única função a 57 comunicação, servem também para ganhar posições e otimizar o fluxo de informação. Conforme observamos nas deduções inferidas pelo autor: As redes são criadas não apenas para comunicar, mas para ganhar posições, para melhorar a comunicação. Portanto, e essencial manter uma distancia entre a avaliação do surgimento de novas formas e processos sociais, induzidos e facilitados por novas tecnologias, e a extrapolação das consequências potenciais desses avanços para a sociedade e as pessoas: só análises específicas e observação empírica conseguirão determinar as consequências da interação entre as novas tecnologias e as formas sociais emergentes (CASTELLS, 1999.p.190). Para o autor, as redes sociais podem ser compreendidas como formas autônomas de coordenação mútua, baseada na confiança entre atores autônomos e interdependentes. Em suma, todos trabalham juntos por um período limitado de tempo, levando em consideração os interesses de todos os envolvidos, visto que, os atores sociais, estão cientes de que essa forma de coordenação e o melhor caminho de alcançar os objetivos. Essa capacidade de associação promove os processos de aprendizagem e favorecem a implementação de projetos de inovação que teriam alto risco para os parceiros individualmente (CASTELLS, 1999). Nesse sentido, as estruturas de rede se tornam uma opção viável para a política local. Convém ressaltar que, resultados positivos só podem ser alcançados se as comunidades locais conseguirem colocar em prática o modelo de interação social da colaboração em rede. O planejamento é uma ferramenta para a construção de uma proposta convergente dos atores e agentes que organizam as ações na perspectiva do desenvolvimento sustentável. Como foi visto, as redes sociais são imprescindíveis na promoção do desenvolvimento a nível local e representam um conjunto de atores sociais unidos por ideias, valores e interesses partilhados. (CASTELLS, 1999). 2.5.3 Projetos Coletivos Conforme Teisserenc (1994), projetos coletivos expressam a capacidade de formulação de referencias conceituais formais e informais, com o objetivo de conduzir e motivar o alcance dos objetivos. Outorgando significados pessoais e 58 coletivos aos processos de mudança, atribuindo propriedade à cultura local. Corroborando com esse entendimento Brito (2006. p. 4) infere que: Os projetos coletivos apresentam-se como forma de objetivos a alcançar em função de acordos previamente estabelecidos e selecionados que dão significados pessoais e coletivos aos processos de mudança. Eles tem uma importância e significação sociológica fundamental ao fazer a mediação entre o passado (situação atual) e o futuro ( situação desejada) e a intermediação entre os princípios / valores (orientação) e os atos / as escolhas (realização).A partir do projeto a mobilidade social não é mais compreendida como trajeto socio-espacial, mas como trajetória social inspirada por um projeto; o projeto é percebido como um trabalho da subjetividade dentro da qual a imaginação, a vontade, os valores e a identidade tem seu sentido. Corroborando com esse entendimento, Silva (2008.p.7), atribui que "[...] o desenvolvimento local requer sempre alguma forma de mobilização e iniciativas dos atores locais em torno de um projeto coletivo. Para Buarque (1998), o planejamento governamental é o processo de edificação de um projeto coletivo, capaz de implementar as ações necessárias, na realidade que levem ao futuro desejado. O autor explica que "dentro do processo de planejamento, os atores sociais vão construindo uma visão coletiva da realidade local e do seu contexto e convergindo para a definição do futuro desejado e das ações necessárias à sua construção"(BUARQUE, 2002, pag. 88). Os programas e projetos expressam ações e intervenções direta na realidade, em segmentos e setores prioritários de grande poder de transformação e irradiação no conjunto da dinâmica econômica e social, conforme descreve Buarque (2002. p. 111): (...) a elaboração dos programas e projetos representa uma síntese consistente e integradora dos processos agregados (formulação das opções estratégicas) e desagregados (que detalham a estratégia na definição de ações por dimensões para enfrentar os problemas e explorar as potencialidades econômicas, socioculturais , ambientais, tecnológicas e políticos-institucionais. Jara (1998) destaca que para que se concretize o desenvolvimento sustentável em uma localidade, com as diversas dimensões apontadas, são imprescindíveis, além da modernização da institucionalidade local, a mobilização e a organização da sociedade; a formação de recursos humanos; novos instrumentos 59 que concorram para orientar e subsidiar as decisões sobre o desenvolvimento; mecanismos administração flexíveis de financiamento; pública e; o uma fortalecimento de estratégia sistemas participativa de parceria de e corresponsabilidade entre atores públicos e privados. O autor infere que os projetos comunitários sustentáveis devem expressar as seguintes características: (...) preocupação prioritária com os problemas básicos da comunidade, visando melhorar as condições de vida e produção;valorização da cultura e tradições locais, estimulando a participação social e procurando a autossuficiência das comunidades; preocupação com a geração de empregos e de atividades produtivas, impulsionando o estabelecimento de pequenos empreendimentos; pleno aproveitamento das potencialidades locais, das vantagens comparativas, recursos naturais, conhecimentos e experiência popular acumulada, enfatizando a preservação do meio ambiente; preparação dos segmentos menos organizados para o exercício da cidadania e, em especial, para aumentar a consciência democrática e incentivar o movimento associativista; opção por tecnologias simples, optando por alternativas que requeiram mais mão de obra (JARA, 1998. p. 115). Como foi visto, para construção de projetos coletivos é necessário que as comunidades locais tenha visão para abrirem espaços que possibilite construir a democracia e resgatar o cidadão. 60 3 METODOLOGIA 3.1 TIPO DE PESQUISA O presente estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem de natureza qualitativa embasado em uma ótica interpretativa e indutiva, pois pretendeu compreender o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró com ênfase no Desenvolvimento Local Sustentável na percepção dos atores sociais. A pesquisa qualitativa é essencialmente descritiva e exploratória, visando a interpretação dos fenômenos e a atribuição dos significados. Esse tipo pesquisa assegurou a identificação da opinião dos indivíduos, visando entender as associações que os entrevistados fazem entre suas ideias e os aspectos relacionados aos conceitos que se pretendeu estudar como crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos (VIRGILLITO et al, 2010). Esse tipo de análise possibilitou que o objeto de estudo fosse investigado em sua totalidade, avaliando a sua complexidade e o contexto em que está inserido. Tal abordagem teve como finalidade captar, analisar e interpretar aspectos mais profundos e detalhados da percepção dos atores sociais. A presente pesquisa é classificada como descritiva a qual, de acordo com Gil (2010) visa observar, registrar, analisar e correlacionar dados representativos da situação estudada, descrevendo a realidade sem, contudo, nela interferir. A pesquisa contribuiu no detalhamento dos fenômenos e dos dados inseridos nos depoimentos dos atores sociais, envolvendo os discursos, os significados e o contexto. Quanto aos métodos de procedimentos de coleta de dados foram adotados o estudo de caso, que permitiu o contato com as pessoas envolvidos, possibilitando uma coesa interação como o objeto de estudo. O estudo de caso justifica-se, dado ao foco da investigação projetar-se especificamente em compreender as dimensões da DLS no evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró na percepção dos atores sociais. 61 3.2 PARTICIPANTES DA PESQUISA Por tratar-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, como universo do presente estudo foram selecionados os sujeitos inseridos no processo de planejamento e execução do fenômeno estudado, conforme representação do Quadro 3: Quadro 3 - Atores Sociais Governo do Estado Ministério da Cultura Ministério do Turismo PARCEIROS FINANCEIROS COSERN CAIXA PETROBRAS Banco do Nordeste Artistas Direção e Produção Criação Artística Grupo Tático ATORES INTERNO Apoio Técnico e suporte Diretor geral Diretor de cenario Diretor de palco Diretor assistente Produtor executivo Assitente de produção Figurinista Aderecista Coreógrafo Costureira Modelista Iluminador Operador de luz Operador de som Operador de canhão Contra regra pelo som( trilha Responsavel sonora, regente e engenheiro de som) Camareira Cozinheira Motorista ASG Marceneiros e ferreiros Consultor Gestor público Autônomos GRUPO EMPRESARIAL Proprietario de estabelecimento comercial Secretaria de Cultura Secretaria de Turismo CDL Taxistas Dono de carrinho de pipoca Músicos Prestação de serviços Filmagem e telões Barraca de roupas típicas/ bar Fonte : Autora, 2013 Os sujeitos foram classificados em três grupos; parceiros financeiros, atores internos e grupo empresarial. Os parceiros financeiros foram mapeados, porém não foram entrevistados. Foram entrevistados os grupos que participam ativamente do 62 projeto do objeto de estudo que são denominados: Atores Internos, composto por: artistas, grupo tático e representante público e; o Grupo Empresarial. Vieira (2009), apontar a população ou universo da pesquisa refere-se ao conjunto de unidades sobre o qual busca-se obter informação identificando a população-alvo do estudo. A tabela 1 especifica a amostra por conveniência definida para a pesquisa. Tabela 1 – Amostra da Pesquisa Sujeito Aderecista Artistas Barraca de roupas típicas/ bar Camareira CDL Coreógrafo Costureira Cozinheira Diretor assistente Diretor de cenário Diretor de palco Dono de carrinho de pipoca Figurinista Marceneiros Modelista Motorista Músicos Prestação Filmagem/telões Produção Secretaria de Cultura Secretaria de Turismo Taxistas TOTAL Total 1 11 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 2 35 Fonte: Autora, 2013. A pesquisa realizou um estudo com os atores sociais que estão inseridos no processo de planejamento e execução do Chuva de Bala, caracterizando-se uma pesquisa por conveniência. Os selecionados da amostra foram constituídos por representantes (atores sociais) do processo que exercem funções que viabilizam o funcionamento do evento cultural. 3.3 COLETA DE DADOS Como técnica de investigação adotou-se entrevistas semi-estruturadas (roteiro em Apêndice B), visando obter respostas válidas e informações pertinentes. 63 Para Marconi e Lakatos (2010), a entrevista é um encontro entre duas pessoas, através de uma conversação de natureza profissional que ocorre face a face. Tendo como intuito de uma delas obter informações necessárias sobre um determinado assunto, que no presente estudo será o de analisar a percepção dos atores sociais quanto ao DLS do evento Chuva de Bala. Na descrição das autoras "é um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnostico de um projeto social". O roteiro de entrevistas contêm forma: 25 perguntas, estruturadas da seguinte Parte A - composta por cinco perguntas que tem como objetivo a identificação dos atores sociais; Parte B - composta por cinco perguntas que tem como finalidade identificar a percepção dos atores sociais quanto ao evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró e; Parte C - composta por 15 perguntas que tem como finalidade identificar na percepção dos atores sociais as dimensões da sustentabilidade. Com o intuito de testar o roteiro da entrevista antes de sua utilização definitiva, realizou-se a análise-prévia em uma amostra reduzida, cujo processo de seleção realizou-se de forma similar ao previsto para a execução da pesquisa. Conforme descreve Marconi e Lakatos (2010), visa evidenciar possíveis falhas existente como: inconsistência ou complexidade das questões; ambiguidade ou linguagem inacessível; perguntas embaraçosas para o entrevistado; identificar se as perguntas são muito numerosas ou suficientes para responder aos objetivos do estudo. Gil (2010), afirma que a análise-prévia não visa captar qualquer dos aspectos que constituem os objetivos do levantamento e não pode acarretar nenhum resultado remissivo a esses objetivos. No presente estudo, a análise-prévia norteou ajustes como: reformulação de perguntas e sequência de perguntas. A pesquisa foi realizada na cidade de Mossoró/RN, especificamente no evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró, utilizando para isso instrumento de coleta de dados estruturado. O instrumento de coleta de dados utilizado foi a entrevista semiestruturada adaptada das dissertações de Ribeiro (2008) e Santos (2012), as autores em seus estudos abordaram o desenvolvimento local sustentável de eventos culturais. A escolha por realizar a pesquisa com os atores sociais foi definida por conveniência. 64 A primeira fase da pesquisa compreendeu o estudo dos fatores históricos que o evento Chuva de Bala retratada. Realizou-se visitas ao museu local, ao Memorial da Resistência (Memorial que retrata toda a história de resistência ao bando de Lampião e criado em decorrência do crescente sucesso do evento Chuva de Bala) e a biblioteca pública visando conhecer o escopo do evento, a história que ele retrata e sua estrutura. A segunda etapa foi a visita à Gerência da Cultura da Prefeitura Municipal de Mossoró, com o intuito de descrever o objetivo da pesquisa e solicitar a colaboração da instituição enquanto idealizadora e organizadora do evento. Nesse primeiro contato com a Gerência de Cultura conversou-se com os produtores do projeto, onde obteve-se acesso a função de cada ator social no evento e aos contatos telefônicos. Nessa fase não ocorreram entrevistas gravadas, somente conversas informais com o objetivo de ambientação com o objeto de estudo. Essa etapa ocorreu nos meses de novembro e dezembro de 2012 e o projeto do Mossoró Cidade Junina, no qual está inserido o Chuva de Bala já estava em formatação. A segunda fase destinou-se ao contato telefônico com os participantes, descrevendo o objetivo da pesquisa e o agendamento das entrevistas. De início, não houve a concordância voluntária dos consultados, em participar da pesquisa. Os atores sociais alegavam não dispor de tempo para realização das entrevistas. Conforme orientação da direção do projeto Chuva de Bala as primeiras visitas tiveram início nos grupos de teatros no qual os artistas, atrizes, bailarinos, coreógrafos, apoio técnico e supervisão estavam inseridos. Na oportunidade, foram descritos o tempo médio das entrevistas, os questionamentos que seriam realizados e a sua importância. Suplantada essa primeira dificuldade de acesso aos respondentes, os agendamentos ocorreram de forma constante e consensual. A terceira fase compreendeu a realização das entrevistas com os atores sociais. As entrevistas realizadas foram gravadas, sendo esclarecido aos participantes a garantia do sigilo de suas identidades e, ainda, solicitada, autorização para o uso do gravador. Por solicitação dos respondentes, a maioria das entrevistas realizaram-se no Memorial da Resistência ou no Teatro Municipal DixHuit Rosado. Realizou-se também visitas aos ensaios do espetáculo que ocorreram nos meses de abril e maio. Os trabalhos de coleta referentes a essa fase realizaram-se nos meses de janeiro à abril de 2013. A transcrição foi feita na íntegra e, a partir dela, obteve-se um protocolo codificado elaborado pela autora. 65 3.4 CATEGORIAS ANALÍTICAS Com o propósito de analisar a percepção dos atores sociais sobre a influência do evento cultural Chuva de Bala para o DLS da cidade de Mossoró, o estudo estabeleceu variáveis norteadoras da pesquisa que podem ser observadas no Quadro 4: Quadro 4 - Categorias Analíticas DIMENSÕES Desenvolvimento Local Sustentável – Processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade, compatibilizando, no tempo e no espaço, o crescimento e a eficiência econômicos, a conservação ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, partindo de um claro compromisso com o futuro e a solidariedade entre gerações (BUARQUE, 2006. p.67) Dimensões da Sustentabilidade CATEGORIAS Ator Social - Atores sociais consistem na existência de uma situação favorável ao surgimento de sujeitos (lideranças comunitárias; diretores de serviços ou de agências de desenvolvimento; representantes institucionais; encarregados de funções; gerentes de projetos; empresários; operadores e representantes eleitos que sejam incentivadores ou não das políticas de desenvolvimento) cujo perfil de competência, em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes, os predestinam a representar um papel particular na realização das políticas de desenvolvimento (BRITO, 2006.p. 9) Redes Sociais - Conjunto de participantes autônomos unindo ideias e recursos em torno de atores e interesses compartilhados. Tendo como base central a cooperação, baseada na confiança entre atores autônomos e interdependentes. Essa capacidade de agregação é um grande catalisador no processos de aprendizagem e são decisivas nos projetos de inovação (CASTELLS, 1999). Projetos coletivos - Representam a capacidade de formulação de referências conceituais formais e informais (documento global), elaborado coletivamente pelos atores sociais. Visando orientar e guiar o alcance dos objetivos em função de acordos previamente estabelecidos e selecionados, concedendo significados pessoais e coletivos aos processos de mudança, impondo sentido a imaginação, a vontade, aos valores e a identidade cultural local (TEISSERENC, 1994). Dimensão Ecológica - Segundo Sachs (1993), a dimensão ecológica envolve à preservação dos recursos naturais na produção de recursos renováveis e na limitação de uso dos recursos não renováveis; controle do consumo de combustíveis fósseis e recursos esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, suprindo-os por recursos renováveis; diminuição do volume de resíduos e de poluição, por meio de conservação e reciclagem; autolimitação do consumo material; utilização de tecnologias limpas; definição de regras para proteção ambiental. Dimensão Econômica - Sachs (1993), define que a dimensão econômica refere-se a eficácia econômica avaliada em termos macro-sociais e não apenas na lucratividade empresarial, desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; capacidade de modernização contínua dos instrumentos de produção; razoável nível de autonomia na pesquisa científica e tecnológica; inserção soberana na economia internacional. O autor coloca que a economia deve possibilitar uma gestão mais eficiente dos recursos e um fluxo regular dos investimentos públicos e privados. 66 Dimensão Social - Sachs (1993) aborda que a dimensão social abrange a necessidade de recursos materiais e não materiais, objetivando maior igualdade e justiça na distribuição da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as condições da população, reduzindo-se o Coeficiente de Gini, ampliando-se a homogeneidade social; a possibilidade de um emprego que assegure qualidade de vida e igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais. Dimensão Cultural - Sachs (1993), enfatiza que essa dimensão da sustentabilidade direciona-se às raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudança no seio da continuidade cultural e traduzindo o conceito normativo de eco desenvolvimento e sugerindo a criação de soluções customizadas para cada ecossistema, cultura e local. Fonte: Autora, 2013 Gil (2010) estabelece que as categorias analíticas são conceitos que expressam arquétipos que emergem dos dados e são utilizadas com o propósito de agrupá-los pelas suas similaridades. A comparação sucessiva dos dados estabelece as categorias. 3.5 TRATAMENTO DOS DADOS Após concluída a transcrição das entrevistas realizadas, teve início o processo de análise dos dados coletados, através da Análise de Conteúdo proposta por Franco (2008) e Bardin (2009). O processo de análise que teve como referência a Dissertação de Ribeiro (2008) , cujo trabalho auxiliou bastante esta pesquisa. A pesquisa realizou uma análise do conteúdo através da delimitação de categorias analíticas. Para o tratamento dos dados priorizando as fases da codificação, categorização e análise e interpretação do conteúdo. Finalizando com a elaboração da dissertação. Os trabalhos de coleta de dados referente a essa fase do plano foram realizadas nos meses de fevereiro à junho de 2013. Como metodologia de pesquisa, para análise dos dados obtidos, utilizou-se Análise de Conteúdo proposta por Franco (2008) e Bardin (2009). A pesquisa realizou uma análise do conteúdo através da delimitação de categorias analíticas. A análise de conteúdo é considerada uma técnica para o tratamento de dados que tem como objetivo identificar o que está sendo falado a respeito de um tema específico, Bardin (1977.p.42) define como: 67 conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimento sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. Para a autora, acima citada, a análise de conteúdo das mensagens tem duas funções principais que, na prática, são complementares. A primeira é função heurística, que enriquece a tentativa exploratória e aumenta a propensão à descoberta; e a segunda é a função de administração da prova, que se utiliza de hipóteses sob a forma de questões ou de afirmações provisórias que servem de diretrizes no sentido de aceitar ou rejeitar uma confirmação. Figura 4: Características definidoras da Análise de Conteúdo Para fazer inferência Identificando- objetiva e sistematicamente características específicas da mensagem. Analise de conteúdo é um procedimento Fonte (emissor) Processo de codificação Quem? Por quê? Mensagem O quê? Processo de decodificação Receptor Como ? Para quem? Fonte: Franco, (2008, pag. 23). Conforme observa-se na Figura 4, a análise de conteúdo é um procedimento de pesquisa que se estabelece em um esboço mais amplo da comunicação e tem como ponto inicial a mensagem. Franco (2008), afirma que toda comunicação é composta por cinco elementos básicos; uma fonte; um processo codificador que resulta em uma mensagem, e se utiliza de um canal de transmissão; um receptor, ou detector da mensagem, e seu respectivo processo decodificador. Conforme classifica Bardin (1977), a análise de conteúdo compreende três etapas: a pré-análise que refere-se à seleção do material e à definição dos 68 procedimentos a serem adotados; a exploração do material que refere-se à implementação destes procedimentos e; o tratamento e interpretação dos dados que refere-se à geração de inferências e dos resultados da investigação, no qual as suposições poderão ou não ser confirmadas. Os dados obtidos na investigação do estudo priorizou a seguinte sequência de análise: pré-análise; codificação etapa I e II e categorização temática. Assim representado no Quadro 5: Quadro 5 – Demonstrativo das etapas da Análise de Conteúdo A) Pré-análise: transcrição; tabulação qualitativa das falas. B) Codificação. Etapa I: divisão de três grupos representados por: Parceiros Financeiros; Atores Internos e Grupo Empresarial. C) Codificação Etapa II: divisão de três subgrupos representados pelos Atores Internos ( Artistas, Grupo Tático Representantes Público) e; divisão de dois subgrupos representados pelo grupo empresarial (Autônomo e Gestor de estabelecimento Comercial). D) Categorização temática: Subdivido em dois grupos com as seguintes variáveis: Desenvolvimento Local Sustentável (Atores sociais, Redes Sociais e Projetos Coletivos) e; Dimensões da Sustentabilidade (Dimensão Ecológica, Dimensão Econômica, Dimensão Social e Dimensão Cultural). Fonte: Autora, 2013 Após coleta dos dados, efetuada de acordo com os procedimentos indicados anteriormente, os mesmos foram de forma sistemática elaborados e classificados. Conforme Marconi e Lakatos (2010) os dados devem seguir os seguintes passos: a seleção, que é o exame minuciosa dos dados, que visa detectar falhas, informações confusas e incompletas que podem prejudicar o resultado da pesquisa; codificação que é a técnica operacional utilizada para categorizar os dados que se relacionam e; a tabulação que refere-se a disposição dos dados em tabelas, permitindo maior facilidade na investigação das inter-relações entre si. 69 4.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA O presente estudo teve como objetivo analisar a influência do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró para o Desenvolvimento Local Sustentável da cidade de Mossoró na percepção dos atores sociais. Esse evento retrata a História da cidade de Mossoró, município do estado do Rio Grande do Norte que tem uma localização privilegiada, situada entre duas capitais (Fortaleza e Natal). Reconhecida turisticamente como "a terra do sol, do sal e do petróleo". Conforme reportagem da Revista VEJA (2011), que traz reportagem ESPECIAL CIDADES: as campeãs de riqueza e bem-estar. Mossoró está entre as 22 cidades médias do Brasil que mais se desenvolveram nos últimos anos e se transformou em realidade no crescimento econômico nacional; o seu crescimento anual está acima do crescimento nacional. Possui área territorial de Km² 2.099,328. Deste total 237.241 mil habitantes residem na área urbana e 22.574 mil habitantes residem na área rural. Conforme Tabela 2 observa-se sua evolução populacional. IBGE (2010) Tabela 2 – Evolução Populacional Ano Nº Habitantes 1991 192.267 1996 205.214 2000 213.841 2007 234.390 2010 259.815 2011 263.344 Fonte: IBGE, 2012. Conforme informações fornecidas pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM) e disponibilizadas no seu site oficial, a economia se destaca expressão em algumas atividades como: o sal que é por sua fator de crescimento da economia local; a cidade fornece 97% do sal marinho consumido pelo país; a fruticultura tropical irrigada, destacando-se principalmente o melão; a extração de 70 petróleo, onde a cidade é a maior produtora de petróleo em terra firme do Brasil e ; possuindo também um polo ceramista. Conforme relata Nonato (2005), a cidade de Mossoró também se destaca pela sua História com fatos como: A Abolição dos escravos em 30 de setembro de 1883 - Mossoró foi a primeira cidade do Rio Grande do Norte a fazer campanhas sistemáticas para liberação dos seus escravos. Não foi uma luta de poucos; foi uma luta que envolveu, de uma maneira ou de outra, toda a cidade de Mossoró. E por ter sido uma luta coletiva, pacífica e pioneira no estado, é comemorada ainda hoje como sendo a maior festa cívica da cidade; O Motim das Mulheres em 1875 - Nada mais impopular era visto naquele momento em todo o país. A Lei obrigava os jovens ao alistamento, colocando-os no caminho da guerra, quase sempre sem volta. Àquele ano, o país se via envolvido em movimentos populares contra o Império. Eram as lutas sociais ganhando sentimento nacional, conhecidas como o Quebra Quilos. Delas vieram outros movimentos de revolta popular como a própria reação contra o alistamento militar, contra o novo sistema de pesos e medidas, contra o aumento dos impostos e a questão religiosa. O Primeiro Voto Feminino, de Celina Guimarães Viana, em 1928 - O Rio Grande do Norte foi inserido na luta mundial dos movimentos feministas, à época crescente em todo o mundo. O estado era governado por Juvenal Lamartine e coube a ele o pioneirismo de autorizar o voto da mulher, em eleições, o que não era permitido no Brasil, mesmo a proibição não constando da Constituição Federal. Celina Guimarães Viana, professora, juíza de futebol, mulher atuante em Mossoró, foi a primeira eleitora inscrita no Brasil. Após tirar seu título eleitoral, um grande movimento nacional levou mulheres de diversas cidades do Rio Grande do Norte e outros nove estados da Federação a fazerem a mesma coisa e; A resistência contra o bando de Lampião que é o objeto de pesquisa. NONATO (2005). Os eventos culturais da cidade de Mossoró buscam regatar sua origens, conforme retrata Alves (2005, p. 06) "Há uma retomada de suas origens acontecendo na cidade. O resgate de fatos históricos conduz a uma conexão entre passado e presente, (re) atualiza os referenciais identitários e produz um sentimento de identificação territorial". O evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró, ocorre durante o mês de junho dentro da programação do Mossoró Cidade Junina (MCJ). O Cidade Junina compreende um mix de atrações culturais que acontecem durante todo o mês de 71 junho, em diversos pontos do Corredor Cultural (avenida com prédios e praças dedicados a disseminação artístico-cultural na Avenida Rio Branco. Conforme dados do projeto concedido pela PMM “Mossoró Cidade Junina”, hoje reconhecido pelo público e pela crítica como “Patrimônio do Povo Mossoroense”, é símbolo da criatividade dos artistas, empreendedores e gestores locais, consolidado como estratégia de desenvolvimento econômico e instrumento de preservação das tradições populares, centrado, portanto, em princípios norteadores de uma sociedade: economia, cultura e cidadania. NONATO (2005). O evento é realizado na antiga estação ferroviária do município, reformada e transformada em Estação das Artes, uma área de 48 mil m² que recebe mais de um milhão de visitantes que buscam as mais diversas atrações culturais, como: shows musicais, espetáculos teatrais, cinema, festivais de humor, feiras de artesanato e comidas típicas, concursos de quadrilhas, maquetes juninas, encontro de repentistas, festival de sanfoneiros, e muito mais, são mais de 30 atividades culturais pertencentes ao conjunto que constitui o “Mossoró Cidade Junina”, realizado de quinta-feira a domingo durante todo o mês de junho. NONATO (2005). A proposta de diversidade cultural do evento figura-se na sua marca maior, é, portanto, a realização de um ideal que compreende a cultura como elemento vocacionado para desempenhar papel estratégico no processo de desenvolvimento econômico-social, uma vez que se busca equilíbrio, sustentabilidade e inclusão social – características encontradas no pioneirismo desse evento que envolve um amálgama de gêneros culturais em apologia a música, as artes cênicas, ao folclore, a gastronomia, a literatura, e aos diversos costumes nordestinos que encantam o mundo. SILVA (2005). De acordo com Hélio Cavalcanti jornalista especializado em turismo, fundador e diretor do portal turístico Destino do Sol, citado pela VEJA (2011), o Cidade Junina é uma festa grandiosa na cultura popular da região, disputando com as cidades de Caruaru em Pernambuco, e de Campina Grande, na Paraíba, o título de capital nordestina do forró. O Mossoró Cidade Junina é a maior aposta do turismo na cidade, e busca o resgate da cultura popular, e aquecer a economia local em diversos segmentos como: comércio, hotelaria, gastronomia e trabalhadores informais, que tem uma renda extra no período da festa. Dentro desse complexo festivo do Mossoró Cidade Junina é dado destaque ao espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró, que conta a história de bravura 72 e resistência de Mossoró ao Bando de Lampião. A encenação conta a história através de uma produção encenada por artistas locais e que firma Mossoró como uma referência cultural em todo o Nordeste. Conforme relato do historiador Kydelmir Dantas: O primeiro espetáculo foi realizado no cinquentenário pré-resistência, 50 anos da resistência de Mossoró ao ataque de Lampião. Em 13 de junho de 1977, o espetáculo foi dirigido por um natalense, com um grupo de teatro da UFRN, e desse grupo de teatro todos estão vivos, inclusive o homem que fez Lampião. A ideia era que o texto seria de Ariano Suassuna, que deve ter sido contatado e não aceitou (texto e direção seriam dele). O prefeito da época convoca Tarcísio Gurgel, e o primeiro texto do espetáculo da resistência é dele, foi adaptado em 2002 para o atual Chuva de Bala no País de Mossoró. Nonato (2005), relata que no início do século XX, uma das regiões que mais sofreu com o problema da bandidagem foi o Nordeste brasileiro. A onda de cangaceirismo se espalhou por quase toda a região levando o medo, o terror, o pânico e a morte ao homem do campo e de pequenos lugarejos ou por onde quer que os cangaceiros passassem. Foram momentos de angústia e tensão para as pessoas indefesas, ficando sem a proteção das leis que regem todo o País: de um lado estavam os bandidos, cangaceiros, e do outro as volantes policiais que pouco se diferenciavam dos desordeiros, quando usavam da força bruta para descobrirem paradeiros ou destino dos fora da lei. O evento resalta o heroísmo e a bravura dos mossoroenses ao enfrentarem o bando de cangaceiros mais temido no Nordeste brasileiro, e induz o nome de Rodolfo Fernandes, prefeito da época, como um herói audacioso que não cedeu às estratégias de dominação do cangaceiro Lampião. Conforme retrata Raimundo Nonato (2005, p. 48) escritor mossoroense: Assim, nasceu a resistência de Mossoró ao bando de Lampião. Como dissemos, no dia 13 de junho de 1927, Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, o assombro dos sertões nordestinos, entrou nesta urbe, às 16h30min horas, uma segunda-feira, para deixar nas páginas da história mossoroense o que, hoje, chamamos de „Chuva de Bala no País de Mossoró‟. Em 1977 ocorreu a primeira encenação teatral retratando essa história de resistência, sob o título de Espetáculo da Resistência, com texto/roteiro de Tarcísio 73 Gurgel, direção de Carlos Furtado e a participação de atores e atrizes, amadores, do Grupo de Teatro da TVU canal 5, além de extras mossoroenses. SILVA (2005). Nonato (2005) afirma que a partir do ano 2002, durante as comemorações dos 75 anos da resistência de Mossoró ao bando de Lampião, cruzada do heroico e sangrento episódio que por incentivo da professora Isaura Amélia Rosado teve a ideia de inserir essa data no calendário de eventos turísticos. O texto é da autoria do escritor norte-rio-grandense, Crispiniano Neto, cujo título é Chuva de Bala no País de Mossoró. A trilha sonora se constitui de um repertório variado: eruditas e populares, dentre essas, Mulher Rendeira. Esse repertório é executado por coros e solistas do madrigal da Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Norte (UFRN), os quais narram a preparação e a defesa dos bravos mossoroenses, aos bandidos de Lampião. Sob a direção de um dos mais conhecidos atores brasileiros, Antônio Abujamra, houve uma distorção da história, através da apresentação dos seus principais personagens. SILVA (2005). O Prefeito Rodolfo Fernandes é apresentado como um medroso que, só a citação do nome „Lampião‟ o leva a ter ataques de asma. Padre Mota, além de caricato aparece em cena com uma calcinha de rendas, sob a batina. Lampião tomando decisões importantes, que nem a do assalto a Mossoró – atrás de uma máquina de costuras. Essa versão assustou o público e a crítica. NONATO (2005). Em 2003 o espetáculo, diferente do ano anterior, aparece com a direção do João Marcelino. Este começou conversando com os pesquisadores e representantes da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC), para conhecer a História. Visitou os historiadores Raimundo Soares de Brito e Vingt-un Rosado. Leu os principais livros sobre o tema - História Raimundo Nonato (Lampião em Mossoró); Raul Fernandes (A Marcha de Lampião); Raimundo Soares de Brito & Antônio Gurgel (Nas Garras de Lampião - Diário do Coronel Gurgel) e deu ênfase a Resistência. Ao final das apresentações, os „Heróis‟ foram ovacionados de pé. Os atacantes cangaceiros, aplaudidos. SILVA (2005). Em 2004 O “Chuva de Bala” cresce sua parte musical, sem deixar o foco principal que foi a resistência. Conta com mais de quatro mil cadeiras para o público. No ano de 2005 mantêm-se a proposta e a aprovação do público relativas ao formato do evento. O espetáculo começa a tender para um musical, porém com a espinha dorsal sendo a história da resistência. Em 2006 a PMM forma parceira com 74 o Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil (PETI) dando assim oportunidade de inserção às crianças carentes do programa. SILVA (2005). João Marcelino permanece na direção. No ano de 2007 o musical continua ascendente, mas a história não é deixada em segundo plano. Em 2008 muda o diretor e a direção fica com o paraibano Eliezer Rolim. Os principais atores resolveram sair do espetáculo, por não concordarem com o direcionamento e as modificações feitas pelo diretor. Segundo os assistentes, foi uma das piores apresentações, desde Abujamra. João Marcelino volta a direção em 2009, onde permanece ate a edição de 2013. Cabe frisar que nesse ano passou a fazer parte do projeto uma consultoria histórica, onde o pesquisador Kydelmir Dantas foi convidado. A participação na construção da história ocorre de forma democrática conforme relata Alves ( 2005, p. 48); A referida e grande produção é exibida democraticamente para qualquer cidadão interessado e, ao mesmo tempo, fomenta o gosto pela pesquisa histórica às crianças e adolescentes locais; sobretudo, no que se refere à arte dramaturga, haja vista que muitos desses tem acesso aos grupos do teatro amador. Nesse contexto, certa vez um dos diretores da peça, quando em entrevista, informou que esse espetáculo é importante para o município pelo fato de manter a história da resistência dos mossoroenses que sabem muito bem contribuir para o seu patrimônio histórico e cultural. O evento, foi inserido no calendário turístico cultural de Mossoró. Para isso, se fez necessário narrar essa história em forma de produção teatral. Essa encenação se dá no adro da Igreja de São Vicente construída em 1915, local onde as cenas reais aconteceram, Nonato (2005, p. 76) reafina que: Este templo, a Igreja de São Vicente, não só para suas finalidades religiosas, serviu no passado, de estacada dos combates belicosos entre mossoroenses ordeiros e bandos de homens à margem da sociedade, como aconteceu com Lampião e os seus seguidores, no dia 13 de junho de l927, à tarde, a partir das 16h30min, nesta cidade de Mossoró (RN). Conforme observa-se na Figura 5 o local conserva as características do combate , onde visualizam-se as marcas de balas: 75 Figura 5 - Igreja São Vicente de Paula Fonte: PMM, 2013. A realização dessa festa, considerada um grande evento na localidade e na região, passou a estabelecer novas relações econômicas, políticas, culturais e turísticas do estado com a localidade e com os demais municípios da região. Corroborando com esse entendimento Alves (2005, p. 04) afirma : Em Mossoró, [...] a festa vem sendo apropriada como uma forma de demarcação de identidade local. Nesta cidade, algumas festas vêm sendo (re) inventadas e a tradição juntamente com os referenciais de coragem e liberdade, vem sendo agregada como elemento diferenciador das demais cidades. Conforme informações disponibilizadas no site oficial da Prefeitura Municipal de Mossoró, esse evento cultural impulsiona a economia , fomenta a cultura e dinamiza a cidade turisticamente em função de uma política local estruturada gerando renda à comunidade. SILVA (2005). 76 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O propósito desse capitulo ´e descrever os resultados encontrados nessa pesquisa, através das variáveis do estudo que nortearam a pesquisa, resumindo-se nos indicadores do Desenvolvimento Local Sustentável entre eles: A emergência de atores sociais; Criação de redes Sociais; Projetos Coletivo e; As dimensões da sustentabilidade. 4.1 EMERGENCIA DOS ATORES SOCIAIS O grupo denominado “Atores Sociais” do processo está representado por todos os envolvidos que viabilizaram o projeto Chuva de Bala. Sendo eles órgãos públicos, empresas privadas, patrocinadores do evento, a classe dos artistas, convidados e terceirizados. Na perspectiva dos pressupostos do Desenvolvimento Local Sustentável os atores sociais estão representados por sujeitos, cuja competências habilidades e atitudes possibilitam sua representação no contexto social como articulador na realização das políticas de desenvolvimento. Sua atuação sempre é identificada de forma benéfica para localidade. Conforme relato no Quadro 6, os atores sociais do Chuva de Bala foram classificados em três grupos definidos como: Parceiro financeiro; Atores Sociais Interno e; Grupo Empresarial. Quadro 6 – Classificação dos Atores Sociais PARCEIROS FINANCEIROS ATORES INTERNOS GRUPO EMPRESARIAL Fonte: Autora, 2013. Governo do Estado Ministério da Cultura Ministério do Turismo COSERN Caixa Econômica Federal PETROBRAS Banco do Nordeste Artistas Grupo Tático Gestor público Autônomos Proprietário de estabelecimento comercial 77 O grupo denominado "Parceiro Financeiro" do processo está representado por órgãos públicos e empresas privadas que são responsáveis pelo apoio financeiro ao evento. Mapeou-se mediante informações do projeto Mossoró Cidade Junina (MCJ) e relatos dos respondentes, as seguintes instituições: Governo do estado; Ministério da Cultura; Ministério do Turismo; COSERN; Caixa Econômica Federal; PETROBRAS, SKOL, SKY e Banco do Nordeste. Figura 6- Organograma dos Atores Sociais Interno Fonte: Autora, 2013. Dentro da classificação dos Atores Sociais Internos conforme observa-se na Figura 6, o grupo denominado "Artista" compreende todos os atores, atrizes e bailarinos que fazem parte do elenco do Chuva de Bala. Identifica-se através do projeto do evento que fazem parte do elenco; 80 artistas de Mossoró, destes, 60 são artistas com experiência (vinculados a grupos teatrais) e 20 são crianças e adolescentes do Programa de Erradicação ao Trabalho Infantil (PETI). Existe também a participação como convidado, do Tiro de Guerra (TG), que compõe a parte de teatralização da invasão. A participação do PETI e do Tiro de Guerra realiza-se por meio de parceria, sem formalização de contrato de trabalho e remuneração. A emergência do grupo descrito como Grupo Tático composto por: Direção e produção; Criação Artística e; Apoio Técnico e suporte ocorre de forma similar conforme relatos dos depoimentos. A escolha dos atores do grupo 'Direção e Produção' do evento Chuva de Bala é realizada pela PMM através da Secretaria de Cultura, que é responsável pela elaboração, execução e coordenação do projeto. A equipe de Direção e 78 Produção compreendem os seguintes atores sociais; diretor geral, diretor de cenário, diretor de palco, diretor assistente, produtor executivo, e assistente de produção. A emergência da equipe de direção e produção ocorre de duas formas; pelo fato de serem servidores municipais ou através de convites onde são analisadas as sua competências e experiências dentro da área conforme demonstra depoimentos dos respondentes (01) e (02): (01) [...] Como faço parte da PMM e da Secretaria de Cultura desde o inicio do projeto estive presente na parte estratégica do espetáculo...sempre presente nas reuniões sobre o espetáculo " Como devia ser, a quem devia atender, qual seus objetivos e suas metas". ( Direção 03) (02) [...]Minha relação com o Chuva de Bala na verdade começou antes de eu passar a ser servidora da Secretaria de Cultura, eu danço faz um tempo e participei do espetáculo como dançarina durante 3 anos e desde 2010 eu estou aqui na Secretária de cultura, na parte mais de produção e de execução do evento, então são dois aspectos que eu tenho experiência, tanto na parte pratica de fazer o espetáculo como na de fazer a produção. ( Produção 02) O grupo denominado 'Criação Artística' classifica-se no presente estudo pelos seguintes atores sociais; figurinista, aderecista, coreografo, costureira e modelista. Os fatores inerentes a emergência desses atores sociais ocorre através dos seguintes critérios; visibilidade que o profissional tem em outros eventos culturais, no caso, ser reconhecido pelo trabalho desenvolvido em outros espetáculos; indicação de profissionais que fazem parte do projeto, pessoas que tem o respeito do diretor. A sensação de pertencimento ao grupo é muito forte e a opinião ou indicação e algo muito respeitado pelos diretores. É importante observar que as indicações podem ser feitas por todos os envolvidos no projeto, desde artistas até direção. Conforme observa-se nos fragmentos (03) e (04): (03) [...]Fui convidada pela Figurinista para costurar os figurinos desde 2002. Eu mesma indiquei outras costureiras. ( Costureira 01) (04) [...]O Chuva de Bala veio em um momento crucial da minha vida, estava voltando para Mossoró. Sou Mossoroense e estava trabalhando fora há 02 anos. Em 2005 fui convidado como aderecista pela diretora de palco que já conhecia o meu trabalho de outros espetáculos. ( Aderecista 01) 79 A escolha dos atores do grupo " Apoio Técnico e Suporte" ocorre de forma similar a do grupo denominado artistas ocorrendo através da visibilidade que o profissional tem em outros eventos culturais e indicação de profissionais que fazem parte do projeto. 4.2 FORMAÇÃO DE REDES DE ATORES SOCIAIS Verificou-se que os atores sociais encontraram dificuldades em responderem aos questionamentos como; se existe uma rede de relacionamentos formal ou informal para viabilizar o evento Chuva de Bala no País de Mossoró? Quem compõe a rede? Quem determina a participação? Como ocorre a participação? A percepção usual sobre redes de cooperação presente na visão dos atores sociais fica restrita as dinâmicas da comunicação dos atores como reuniões, fóruns e seminários conforme trechos (05) e (06) : (05) [...]Então foi através do Chuva de Bala que a gente tentou disseminar um pouco mais a cultura, deixar mais acessível a população o que é essa história tão linda e tão maravilhosa que é o Chuva de Bala. Esse ano, nessa nova gestão, já se começou as discussões em torno de 'O que é que a classe artística quer para esse ano de 2013? Até mesmo para os próximos anos dessa nova gestão da prefeita. É para discutir em relação dessa programação anual e se os artistas querem realmente fazer o Chuva de Bala? O corredor cultura também é um exemplo de inserção e promoção dos artistas. Os fóruns são realizados varias vezes por ano, mediante um novo projeto cultural a classe se mobiliza para as discussões. Estar acontecendo esse mês dos dias 25 e 26/03, também dentro da programação do dia internacional do teatro, que é dia 27/03. Será também realizada a eleição para o Conselho Municipal de Cultura, nós vamos renovar o conselho, e dentro dele existe os fóruns, o tempo inteiro a gente está discutindo arte na cidade. ( Artista 02) (06) [...] Existem fóruns, em que os artistas da cidade discutem durante o ano. As discussões não são somente sobre o Chuva de Bala, mais de todos os eventos culturais da cidade. Ao termino dos espetáculos, nós nos reunimos para discutirmos quais foram os pontos positivos e negativos do evento, e o que melhorar pra se tornar mais sustentável. ( Coreógrafo 01) 80 Dentro dos pressupostos de DLS, Teisserenc (1994) atesta que redes de atores sociais consiste no conjunto de lideranças que atuam de forma integrada e cooperativa buscando viabilizar o evento e superar as dificuldades e especificidades locais. Gerando resolução de problemas e a elaboração e execução de programas integrados em parcerias com os poderes públicos territoriais e nacionais. Os respondentes identificam a atuação efetiva da Prefeitura Municipal de Mossoró juntamente com a Gerência de Turismo em mobilizar instituições publicas e privadas visando a realização do evento. Conforme relatos dos seguintes depoimentos; (07) [...] O Evento Chuva de Bala é organizado pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM). Existe uma união das secretarias com o intuído de realizar o espetáculo, nesse caso a secretaria da Cultura, Secretaria da Cidadania e Secretaria do turismo. ( Gestor 02) (08) [...] O Evento Chuva de Bala é organizado pela Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM). Existe uma união das secretarias com o intuído de realizar o espetáculo, nesse caso a secretaria da Cultura, Secretaria da Cidadania e Secretaria do turismo. (Modelista 01) (09) [...] Existe, na verdade uma parceria que a prefeitura faz com algumas instituições publica e algumas empresas, ela banca a maior parte do evento. ( Gestor 01) Nos discursos dos atores sociais não se verifica a internalizarão do conceito de redes de cooperação mútua, de acordo com a concepção do DLS. (10) [...] Nós (PMM) enquanto organizadores do evento, trabalhamos também em parcerias com outros órgãos municipais e parceiros patrocinadores. No caso das Secretarias, a Secretaria de Cultura fica a frente desse projeto e conta com o suporte da Secretaria Turismo. O desenvolvimento social na parte de artesanato, nesse caso já entra a Secretaria de Turismo e a FUNGER (emprego e renda), tem também a parte da cidadela que tem bastante lojinhas e artesanatos. (Representante 01) Conforme se observa nos relatos anteriores, existe um forte sentimento de pertencimento, um orgulho em fazer parte da rede de atores socias. Para Alves (2005), o resgate de fatos históricos promove uma conexão e (re)atualiza os 81 referencias identitários que gera um sentimento de identificação. Porém, pelas declarações dos entrevistados é possível identificar uma crítica contundente à falta de maior mobilização dos artistas. Pois, o evento gera reconhecimento, contudo, não gera trabalho significativo em outros estados. Gerando um sentimento de insatisfação, pois o evento gera visibilidade e atrai muita gente para cidade. Conforme retrata a seguinte declaração do fragmento (11): (11)[...] Acho que esse é um espetáculo que dá visão (visibilidade) aos artistas da cidade, em um evento grande como esse eles são vistos. Tem uma proporção maior de ser visto pela cidade. Embora após o evento a maioria não sai da cidade, não somos convidados para outros estados. Porque o povo só vêm pra cá, não leva ninguém (Risos)... Mas eu acho importante que aconteça, assim como os espetáculos dos grupos, eu acho que os eventos de grande porte em Mossoró é também uma forma de fazer com que a cidade apareça... não é só os artistas, a cidade aparece a nível nacional. ( Artista 10) A promoção do desenvolvimento local sustentável vai muito além do crescimento econômico e pressupõe a mobilização local dos recursos e das competências e o reforço das solidariedades locais. Isso implica o fortalecimento das redes entre as diferentes esferas sociais que compõem a economia. A mobilização e a organização dos atores sociais locais passam a ser elementos essenciais nos processos de desenvolvimento conduzidos na atualidade. A forma de inserção dos atores sociais denominado Parceiros Financeiros sociais no evento realiza-se, por meio de convite por parte da Secretaria de Cultura. De acordo com o resultado da pesquisa, identificou-se que o evento contribui com a emergência desses atores sociais. No entanto, os "Parceiros Financeiros" não possuem um perfil que os caracterize enquanto fomentadores de políticas de desenvolvimento, como pressuposto pelo Desenvolvimento Local Sustentável. Cabe frisar que sua participação é fundamentalmente financeira, visando divulgação da marca ou atender a algum requisito legal de incentivo a cultura. Não geram necessariamente processo de mudança social e elevação das oportunidades da sociedade. Priorizam o crescimento e a eficiência econômicos, porém, existe o questionamento quanto a questão não ambiental, a qualidade de vida e a equidade social, conforme atribui Buarque (2006.p.57). Os atores sociais tem função remunerada, a prestação de serviço é formalizada com um contrato por tempo determinado de dois meses. Os artistas na 82 totalidade dos entrevistados exercem outras funções remuneradas, sejam em outros espetáculos ou em outras funções distintas dentro da atividade cultural. Conforme se observa no trecho (12) a seguir: (12) [...] é um projeto da Prefeitura Municipal de Mossoró, eles contratam esses atores por 2 meses, e fazem a remuneração. Pela temporalidade do Chuva de Bala, não é possível só viver desse evento. Eu trabalho na TCM (TV a Cabo de Mossoró) já a 5 anos e tenho cargo de carteira assinada na área cultural. ( Artista 01) A emergência dos artistas ocorre através de três formas: visibilidade que o artista tem no âmbito regional; de convites aos grupos de teatro da cidade e; através de indicação de amigos que já fazem parte do projeto. O diretor geral do evento, nos dias que ocorre o espetáculo fica na plateia de forma anônima observando a reação e os comentários sobre as mudanças implantadas naquele ano. Pois, a história permanece a mesma, porém, a roupagem dada é diferente a cada ano de apresentação. Essas sugestões da plateia são levadas em consideração na seleção dos artistas. A escolha do elenco realiza-se com aproximadamente seis meses de antecedência. O diretor reúne-se com a equipe de direção para analisar o projeto anterior, as sugestões da plateia e as indicações. A seleção muda a cada ano objetivando atender ao escopo do projeto. Porém a valorização dos artistas de Mossoró e um critério basilar desde o primeiro projeto do Chuva de Bala em 2002. Somente os artistas de Mossoró podem participar dos processos seletivos. Identificou-se que o processo de emergência dos atores sociais é realizado de forma democrática, atendendo aos pressupostos do DLS, não existindo discriminação quanto à raça, idade e ideologia. Franco (2000) aponta que, o desenvolvimento local pode ser entendido como uma proposta de desenvolvimento promovido a partir do nível mais baixo dos centros decisórios com a participação ativa da população na identificação das necessidades e priorização de ações, através dos atores locais, a fim de garantir resultados que assegurem melhoria na qualidade de vida desta população. A questão da 'visibilidade' que o artista tem no âmbito local, é um dos fatores determinantes no processo decisório de seleção do elenco. Conforme reforça as falas dos respondentes nos trechos (13), (14), (15) e (16): 83 (13) [...] A minha relação com o Chuva de bala e em função de eu ter exercido de uma forma mais sistemática, durante um certo período da minha vida, a atividade de ator de teatro, diretor. Fui coordenador de um grupo de teatro nos anos 80, e em razão disso fui convidado para fazer o Chuva de Bala em 2011, 2012 e novamente em 2013. ( Artista 07) (14) [...] O Chuva de Bala e um evento que possibilita, que aqueles atores que estão em destaque em uma produção local na cidade, tenha visibilidade para os diretores os selecionarem. [...]vai se inserindo os atores, aqueles mais velhos, os atores que já tem uma história na cidade, para contar essa história, ai surge como um convite pra fazer o Chuva de Bala. ( Artista 01) (15) [...] Eu entrei no espetáculo Chuva de Bala pelo Estúdio de Dança de Clezia, fiz um teste e passei. Desde então eu venho sendo convidada pelos diretores que aqui chegam, quando eles não fazem seleção, eles convidam. Alguns artistas mudam a cada ano, por condição mesmo de tempo, alguns começam a trabalhar, embora os ensaios sejam sempre a noite, mais exige um pouco de disponibilidade do ator com relação aos ensaios. A seleção é disponível para todos os artistas locais, todos têm que ser de Mossoró. Então, há uma certa rotatividade nessa parte de acesso a atuação. ( Artista 04) (16) [...]O evento é da Prefeitura Municipal de Mossoró (PMM), os atores são escolhidos pelo diretos. Ele geralmente trabalha com quem já conhece, e pede ajuda a pessoas próximas a ele para indicar algumas artistas que tenham sido destaque (crescido) durante o ano. ( Produção 01) As falas dos respondentes ilustram que o grande diferencial desse evento cultural é o fator de valorização os atores sociais. O evento favorece a emergência dos atores sociais, que a partir dele, podem construir uma identidade, manifestar toda a sua afetividade e desejo de reconhecimento. Reforçando o sentimento de pertencimento ao evento Chuva de Bala, que retrata a história da sua cidade e valoriza seus artistas e profissionais. Santos (2012) assinala que, a participação é o processo natural para o sujeito exprima sua tendência inata de afirmar-se na sociedade, de realizar-se. Diante do exposto, é necessário ressaltar que o desenvolvimento local está inserido na realidade local, sendo dependente da capacidade e do envolvimento dos atores sociais. fragmentos (17) e (18) Conforme relatos dos pode-se evidenciar que essa ideia de valorização dos 84 artistas locais foi inovadora para região, e os atores sociais entendem que fazem parte no processo Desenvolvimento Local: (17) [...]Já se tinha a ideia de se trabalhar com os artistas de Mossoró, todo o elenco e produção, e no primeiro momento causou essa certa estranheza. (Gestor 01) (18) [...] Fazia trabalhos para um restaurante local como musico. No período do Chuva , o movimento no restaurante caiu drasticamente. O dono do restaurante resolveu levar sua estrutura para o Cidadela no período junino . Foi um sucesso e estou ate hoje. (Músico 01) A percepção dos respondentes sobre redes de cooperação fica restrita as dinâmicas da comunicação dos atores como reuniões, fóruns e seminários. As redes não tem como exclusiva função a comunicação, servem também para ganhar posições e otimizar o fluxo de informação. Embora não se rejeite esse importante mecanismo viabilizador da política do Desenvolvimento Local Sustentável, a marca essencial da rede é a cooperação, baseada na confiança entre atores autônomos e interdependentes. Nesse sentido, não identifica-se que os atores sociais levem em consideração os interesses dos parceiros envolvidos, e não visualizam que essa forma de coordenação é o melhor caminho para alcançar seus objetivos particulares. Na percepção dos atores sociais, identificou-se a capacidade de agregação. Porém, fica nítido que essa agregação não contribui para instigar processos de aprendizagem e inovação. A competitividade de uma região/localidade vai muito além do desempenho e das competências técnicas dominadas e das riquezas que possui. Essa competitividade está relacionada a construção de redes de reciprocidade e solidariedade cívica. As redes não se baseiam na riqueza monetária da região, mas, ao contrário, muitas vezes a riqueza provém do desenvolvimento da população que passa a ser concebida coletivamente, dependendo assim de um processo de responsabilização dos diferentes atores sociais. 4.3 PROJETOS COLETIVOS QUE PERMEIAM O EVENTO CHUVA DE BALA Com relação a identificação dos projetos coletivos que permeiam o Chuva de Bala, identificou-se nas reflexões dos atores sociais que os respondentes identificam 85 a existência de projetos coletivo. Os respondentes identificam a Prefeitura Municipal de Mossoró e a Gerência de Cultura como instituições mentoras, que tem a função de implantar projetos coletivos criando condições de aprendizagem que visem difundir uma cultura democrática. (19) [...] A proposta de diversidade cultural do evento figura-se na sua marca maior, é, portanto, a realização de um ideal que compreende a cultura como elemento vocacionado para desempenhar papel estratégico no processo de desenvolvimento econômico-social, uma vez que se busca equilíbrio, sustentabilidade e inclusão social – características encontradas no pioneirismo desse evento que envolve um amálgama de gêneros culturais em apologia a música, as artes cênicas, ao folclore, a gastronomia, a literatura, e aos diversos costumes nordestinos que encantam o mundo. ( Gestor público 02) O projeto do Chuva de Bala evidencia uma crescente preocupação social demonstrada através dos projetos de inserções a sociedade e fomento a cultura que buscam a inclusão social. Identificou-se através dos relatos dos respondentes e de analise ao Projeto Chuva de Bala (documento disponibilizado para leitura pela Gerencia de Cultura) a existência de alguns programas que envolvem o processo de mudança visando integrar os componentes da vida local e explorá-los como recursos em prol do desenvolvimento. São assistidos e favorecidos pelo projeto do Chuva de Bala as crianças carentes assistidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, as crianças selecionadas tem aulas de teatro, aulas de História e suporte pedagógico. Outro projeto identificado foi o de inserção das escolas publicas no contexto cultural da cidade, o projeto contempla os alunos das escolas publicas da rede municipal e estadual. A finalidade desse programa é que os alunos tenham acesso as produções teatrais da cidade, tenham acesso as companhias de teatro, ao cinema. Esse projeto realiza suas atividades durante todo o ano , porém, se intensifica nos meses do Mossoró cidade Junina (projeto no qual está inserido o Chuva de Bala) . Conforme relatos do trecho (20), (21) e (22); (20) [...] O evento integra várias pessoas, como exemplo, cito a participação das escolas municipais e estaduais. O projeto envolvendo os alunos, ensina a historia e promove o conhecimento. Os alunos visitam os bastidores , conhecem o projeto, conhecem a historia da cidade, isso gera interesse pelo teatro, pela cultura. ( Produtor 02) 86 (21) [...] O projeto do Chuva de Bala , possibilita a inclusão de diversas atividades culturais para quem não teria como participar, pois não teria como pagar. Os alunos das escolas publicas são contemplados com acesso ao Teatro Municipal, conhecem e se encantam pelo teatro, cinema, pelo lúdico... Afastando suas mentes para o futuro, um futuro prospero, com oportunidades. Eu tive essa oportunidade. (Ator 05) (22) [...] Aqui, inserido nesse projeto, percebi que posso fazer o meu caminho. O projeto me despertou o interesse pelo estudo e pelo teatro. Levar a historia do evento as escolas publicas , instiga e desperta para um nova realidade. Juntos podemos mais... ( Ator 10) No período do evento, existem ações conjunta das secretarias da PMM para realização do evento, visando conscientização do uso de preservativos, divulgação dos trabalhos dos artesões e cordelistas e campanhas de trânsito. Essas parcerias contemplam os artesões, profissionais autônomos e os cordelistas da cidade e da região com capacitação e orientação. Identificou-se que essas parcerias estão inseridas no projeto macro do Mossoró Cidade Junina , porém os respondentes visualizam essas ações com sendo do projeto Chuva de Bala. (23) [...] O Chuva de Bala oferece capacitação através do SEBRAE e da FUNGER. Isso possibilita que muita gente, que não tinham qualificação se capacitem e ganhe dinheiro com o seu trabalho. ( Prestador de serviço) (24) [...] Percebo que o projeto favorece os artesões e cordelista da cidade e região. A FUNGER tem treinamentos, capacitações para todo esse segmento. Eles trabalham o ano todo com essa nova qualificação . No período do Chuva de Bala eles trabalham muito. Isso é bom ,gera renda. ( Apoio técnico) (25) [...]Nós (PMM) enquanto organizadores do evento, trabalhamos também em parcerias com outros órgãos municipais e parceiros patrocinadores. No caso das Secretarias, a Secretaria de Cultura fica a frente desse projeto e conta com o suporte da Secretaria Turismo. O desenvolvimento social na parte de artesanato, nesse caso já entra a Secretaria de Turismo e a FUNGER (emprego e renda), tem também a parte da cidadela que tem bastante lojinhas e artesanatos. Na formatação do projeto fica claro a preocupação com a inserção dos artistas da terra. A disseminação à cultura em Mossoró só se fortalece. Foram criados espaços em Mossoró em decorrência da visibilidade dada pela Chuva de Bala, como, a Escola de Artes e o Memorial a Resistência. Eu como produtor, já vi casos de alunos de escolas municipais passar a mobilizar grupos teatrais, com a intenção de participar do espetáculo. Isso para cidade e muito importante, impulsiona o comercio e o turismo. Não só o Chuva de Bala, mais o Mossoró Cidade Junina como um todo, e especialmente o corredor cultural da cidade, que gera oportunidade as pequenas bandas, músicos,artesãos e empreendedores Mossoroenses ( Produtor 3) 87 (25) [...]Dentro do turismo, que nós fazemos a capitação com nossos parceiros que são operadores de turismo, hoteleiros, agentes de viagem. Eles sempre procuram como diferencial no São João no Brasil esse espetáculo. Trabalham além de grupos do turismo pedagógico, que transformam isso em trabalhos nas escolas. Atendemos a grupos da melhor idade e não esquecendo que também nós temos o atrativo como um todo para qualquer turista, de qualquer idade, porque é um espetáculo que realmente vale a pena ser visto. Nós fazemos essa divulgação em cidade próximas trabalhando turismo regional. Nós divulgamos o município, sempre chamando atenção para o espetáculo Chuva de Bala por ser um grande diferencial. Trazemos grupos formadores de opiniões, desde jornalistas, diretores de escolas e presidentes de instituições, e apresentamos o Chuva através de vídeos e compactos do espetáculo. Isso gera muitas perguntas, eles se encantam com o projeto . ( Gestor Público 02) Não identificou-se na pesquisa, uma preocupação dos articuladores sociais do projeto, na seleção/escolha de parceiros que atendesse aos pressupostos do DLS. Não existe, dentro do projeto normas ou restrições estabelecidas para que os parceiros selecionados para financiarem ou realizarem serviços tenham projetos ou ações que priorizem a sustentabilidade ou praticas sustentáveis . Conforme observase nas falas dos respondentes; (26) [...] Percebo que a escolha dos fornecedores é feita com base na qualidade do serviço prestado, não existe critérios definidos que analise as praticas sustentável que utilizo. Isso não foi nem cogitado no momento do contrato. ( Prestador de serviço 02) (27) [...] dentro do projeto existe uma preocupação que nos foi comunicada desde o primeiro ano de trabalho, que é a reutilização das armações e reciclagem do cenário. Não existe questionamentos quanto as praticas sustentável adotadas pelos autônomos e geradores de empregos. O importante na seleção do prestador de serviço foi a qualidade do meu trabalho. (Apoio Técnico e suporte 04) (28) [...] O projeto tem toda preocupação com o reuso, reutilização e com a reciclagem dos seus resíduos, porém , não temos normas especificas (ainda) para seleção de parceiros que tenham praticas ou projetos com ações sustentáveis. Não é atualmente uma exigência para ser selecionado com prestador de serviço ou ser convidado como parceiro financeiro. ( Direção e Produção 03) Verificou- se que as parcerias realizam se por conveniência, ficando restrita a viabilidade do evento. Dentro do contexto da sustentabilidade, a região/local vem adotando novas praticas de desenvolvimento que propõe um desenvolvimento de 88 baixo para cima . Dessa forma, as comunidades locais são vistas não como objeto das intervenções, mas como sujeitos ativos do processo de transformação da realidade em que vivem. As estratégias de desenvolvimento sustentável não podem ser impostas de cima para baixo. Devem ser concebidas e aplicadas em conjunto com a população, ajudadas por políticas eficazes de responsabilização. Para tanto é preciso encontrar um novo tipo de parceria entre todos os atores concernentes, assim como uma nova redistribuição do poder entre Estado, empresas e terceiro setor (Sachs, 1997). O evento Chuva de Bala no País de Mossoró apresenta diferentes representações na percepção dos atores sociais, conforme apresenta Quadro 7; Atores Interno Quadro 7 – Comparativo dos fatores identificados nas falas Variável Fatores Artistas Visibilidade para os artistas locais; Gera qualidade de vida; Oportunidade de emprego; Geração de Renda; Fomento a cultura; Resgate histórico; Inclusão social; Reutilização e reciclagem; Valorização da cidade; Aquecimento nas vendas no comercio local. Grupo Tático Oportunidade de emprego; Visibilidade dos profissionais Gera qualidade de vida; Geração de Renda; Reutilização; Reciclagem; Fomento a cultura; Resgate histórico; Aquecimento nas vendas no comercio local; Visibilidade para a cidade . Geração de Renda; Fomento a cultura; Gera qualidade de vida; Resgate histórico; Inclusão social; Valorização da cidade e aquecimento no comercio local. Gestor Público Grupo Empresarial Autônomos Proprietário de estabelecimentos comerciais Geração de Renda; Resgate histórico; Diversão; Benefício para comunidade. Lazer e Geração de Renda; Resgate histórico; Oportunidade de negócios; Benefício para comunidade. Fonte: Autora, 2013. O projeto do Mossoró Cidade Junina mobiliza instituições como Secretaria da Cidadania, Turismo, Fundação Municipal de Geração de Emprego e Renda (FUNGER) e instituições parceiras como SEBRAE. Silva (2008), propõe que para que ocorra o desenvolvimento local deve existir alguma forma de mobilização e 89 iniciativas dos atores locais em torno de um projeto coletivo. Na formatação do projeto fica evidente o compromisso em apoiar as manifestações culturais, promover a inserção dos artistas da cidade e a inclusão social das crianças carentes das escolas públicas do município. Na percepção dos Artistas e do Grupo Tático é similar, para esses atores sociais o evento agrega valor aos profissionais locais gerando visibilidade, gera qualidade de vida, oportunidade de emprego, gera renda para comunidade, fomenta a cultura na cidade, resgata e dissemina à historia de resistência de um povo , gera inclusão social, valoriza a cidade e tem uma preocupação com a reutilização e reciclagem dos insumos gerados. Os Gestores quando questionados sobre o que representa o evento Chuva de Bala no País de Mossoró, apontaram fatores como: Geração de renda para toda comunidade; Fomento e disseminação à cultura; Inclusão social; Valorização da cidade e aquecimento das vendas no comercio local. O Grupo empresarial visualiza no evento um beneficio para cidade quanto a geração de Renda, resgate histórico e acrescenta o lazer e diversão gerado para comunidade. 4.4 PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS SOBRE AS DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE QUE PERMEIAM O EVENTO CHUVA DE BALA A análise das dimensões da sustentabilidade gera condições para a acepção de um cenário local, considerando os aspectos ambientais, econômicos, sociais, e culturais, importantes vertentes na formulação da realidade local. A análise das dimensões da sustentabilidade atende ao objetivo especifico de descreve quais as dimensões da sustentabilidade estão presentes no evento Chuva de Bala no País de Mossoró. Na percepção dos atores sociais, a Dimensão Ecológica/Ambiental está associada a diminuição do volume de resíduos, por meio de reciclagem, reutilização e conservação dos figurinos e cenários, conforme relatos dos trechos (23) e (24); (23) [...]Ele faz a adaptação de vários elementos e traz também essa questão do reciclável mesmo, os elementos são reaproveitados de ano em ano, não são jogados fora, a uma customização desses elementos cênicos. 90 Muitas vezes elementos são trazidos dos próprios atores, materiais recicláveis. Os figurinos são reutilizado, sempre ao longo desses anos o diretor costuma dizer que a história não muda, ela pode ser readaptada, contando a cada ano com um toque diferente. ( Direção e Produção 02) (24) [...]O espetáculo Chuva de Bala sempre está sendo reutilizado o figurino, o material de cenário. É um dos espetáculos que mais se reutiliza, isso é um ponto favorável na sustentabilidade. ( Apoio Técnico e suporte 02) Conforme relatos dos respondentes, essa atitude de reutilização e reciclagem do acervo e dos cenários começou impulsionado pelo escasso recurso financeiro. Porém, a medida que o evento se consolidava, mais recursos eram destinados ao projeto do Chuva de Bala. Atualmente a prática de reciclagem, reutilização e conservação, está incorporada no projeto do evento e nas ações dos envolvidos. Os respondentes falam com orgulho sobre fato de terem essa conscientização ambiental: (25) [...]Todos os eventos culturais feitos pela PMM prefeitura, principalmente esses eventos de espetáculo, a prefeitura gasta um valor 'pequeno' diante do evento na parte de figurinos. São muitos anos de produção, são muitos anos de arquivo de material. Muitos não sabem mais nós temos um acervo cultural de figurino riquíssimo, nós temos aproximadamente mais de 30 mil peças, entre calças, camisas, vestidos de época tudo voltado para os quatro temas históricos da cidade. (Criação Artística 01) Conforme coloca Kronemberger (2011), a sustentabilidade tem um grande apelo ambiental, o que para a autora está associado ao fato de ter surgido do cerne do movimento ambientalista, atualmente tem sido abordada com um viés ecológico, ou com um componente econômico mais forte. Segundo Sachs (1993), essa dimensão envolve à preservação dos recursos naturais na produção de recursos renováveis e na limitação de uso dos recursos não renováveis; controle do consumo de combustíveis fósseis e recursos esgotáveis ou ambientalmente prejudiciais, suprindo-os por recursos renováveis; diminuição do volume de resíduos e de poluição, por meio de conservação e reciclagem; autolimitação do consumo material; utilização de tecnologias limpas; definição de regras para proteção ambiental. Dentro dos pressupostos do Desenvolvimento Local Sustentável percebe-se a preocupação em não haver desperdício dos recursos. Conforme reconhece 91 Cavalcanti et al. (2004), a sustentabilidade da dimensão ambiental ou ecológica requer uma gestão dos recursos naturais. Visando elevar a produtividade do capital natural, usando-se seus estoques sustentavelmente, com mínimos de desperdício e de sobrecarga nas funções ambientais de suprimento de recursos e de absorção de dejetos. Conforme trechos dos depoimentos (26) e (27): (26) [...] Todo o nosso acervo, tanto de figurino como de cenário, todo esse material que e produzido durante o espetáculo, quando ele não e reciclado ele vai para o acervo. Nós temos um acervo de figurinos e cenários, que inclusive estar a disposição da população para empréstimos. Creio que tem em media 100 solicitações mensais, por parte das escolas, grupos culturais, então esse material não fica guardado só para a gente, ele está a disposição da pessoas. Isso quando não acontece a remontagem daquele material, por exemplo, nós temos carros alegóricos que todos os anos são disponibilizados para as escolas de samba, eles fazem a montagem, fazem o uso que acharem necessário e depois volta , então esse material está sempre se reciclando. ( Diretor 03) (27) [...] A organização do Chuva reaproveita (recicla e reutiliza) muita coisa que já tinha nos outros anos, como figurino e cenário. Temos o prazer em participar de um evento que tem uma preocupação com a sustentabilidade. ( Artista 03) Fica evidente pelos depoimentos, que o evento estimula a adoção de medidas que visem o consumo consciente de insumos e produtos elaborados de forma menos danosa ao meio ambiente, que compreende os pressupostos do DLS. Conforme depoimentos, a seguir: (28) [...] a maioria do material e reutilizado, e a gente trabalha muito com reciclagem também. E um trabalho feito com base em varias pesquisas feitas pela equipe, então eu acho que existe uma preocupação da produção do espetáculo com relação a matérias, com reciclagem e com o reaproveitamento. ( Criação Artística 03) (29) [...] a orientação e que se reutilize toda a ferragem, simplesmente mudamos a forma , sem contanto usar mais ferro ou madeira. A cidadela e reformada todos os anos com o mesmo material. Esse ano, utilizaremos mais material pois vamos ampliar. ( Apoio Técnico e suporte 05) A sustentabilidade da dimensão ambiental requer uma gestão dos recursos naturais, percebe-se nos depoimentos que o projeto não consta critérios definidos para seleção de fornecedores e parceiros que elaborem seus serviços por meios de 92 processos que causem menor impacto ambiental. Também não identificou-se incentivos econômicos e de outra ordem que sirvam para impedir que se explorem os recursos naturais de forma acelerada e predatória, conforme aponta Cavalcanti et al. (2004). A Dimensão Econômica descrita por Sachs (1993), refere-se a eficácia econômica avaliada em termos macro-sociais e não apenas na lucratividade empresarial, desenvolvimento econômico intersetorial equilibrado; O autor coloca que a economia deve possibilitar uma gestão mais eficiente dos recursos e um fluxo regular dos investimentos públicos e privados. Na percepção dos atores sociais o evento fomenta o dinamismo da economia, possibilita o crescimento econômico e a geração de renda. Vale ressaltar que pela especificidade do evento essa geração de renda é periódica. O que identificou-se nas falas dos respondentes e que esse evento repercute em novos trabalhos, mantendo os envolvidos no projeto empregáveis durante todo o ano. Que gera novas possibilidades de renda para o comerciante autônomo, e que é uma alternativa para sanar as contas para os prestadores de serviços, que tem esse evento como certo no calendário de trabalho anual de suas empresas. Conforme trechos (30), (31) e (32): (30) [...] Não é preciso ir buscar adereços fora de Mossoró, tudo que se usa na construção do evento é comprado no comercio local. (Artista 05) (31) [...] O espetáculo de certa forma agrega um retorno financeiro, porque existem grupos que vem apenas para assistir o espetáculo. Os próprios guias turísticos da cidade são contratados para acompanha-los, e isso de certa forma agrega um valor financeiro para o município. Possibilita a contratação mão de obra, e o objetivo final e a geração de emprego e renda. (Autônomos 02) (32) [...] O espetáculo Chuva de Bala já se tornou grandioso demais, a cidade em si já se sente orgulhosa pelo espetáculo. Pois envolve a população, conta a sua historia gera emprego e renda para os grupos teatrais. Na questão de turismo, eu acho que ele já está tão grande ao ponto da infraestrutura ter que crescer, o local da igreja já está pequeno para a plateia. (Artista 01) A realização do Chuva de Bala, é considerado com um grande evento na localidade e na região, e passou a estabelecer novas relações econômicas com a localidade e com os demais municípios da região. Os atores sociais visualizam esse evento, como uma grande oportunidade, pois, além de gerar renda, nesse período 93 os profissionais ganham visibilidade. Gerando assim, novas possibilidades de trabalho, no qual os mesmo se mantém empregáveis por todo o ano. Conforme relatos dos trechos (33), (34) , (35) e (36); (33) [...] Quando eu vejo os índices de crescimento do comercio nesses meses que antecede e que ocorre o Mossoró Cidade Junina no qual está inserido o Chuva de Bala , vejo sua importância econômica. Todos os dias tem muita gente vindo de outras cidades e região para participar desse evento cultural . Gerando renda, através de hospedagem , alimentação , consumo em bares, gasolina, compra de roupas. Esse evento faz a economia da cidade melhorar significativamente. (Gestor 03) (34) [...] A importância do Chuva de Bala hoje é inquestionável pra Mossoró. Quando ele surgiu foi muito questionado, mas se você olhar pela perspectiva da geração de emprego, nesses três meses de funcionamento. Porque o Chuva de Bala começa a funcionar em 01 de maio, onde ocorre a primeira reunião, a escolha do evento, os novos trabalhadores que vão entrar, a contratação de novos trabalhadores. ( Artista 07) (35) [...] O espetáculo sempre tem uma coisa nova, um detalhe, um cenário, uma painel, são profissionais que trabalham três meses direcionados para o Chuva de Bala. Hoje o Mossoró Cidade Junina não vive mais sem o Chuva de Bala, porque o Chuva de Bala é um chamariz, é um espetáculo que consegue trazer pessoas de varias regiões do pais. Então para os profissionais da cidade ele e importante demais, a gente tem a vitrine onde a gente aparece, aqui eles conhecem o nosso trabalho. Consegui trabalho em outras cidades devido a contatos conseguidos aqui no espetáculo. (Apoio técnico 02) (36) [...] Percebo que o Evento contribui para a melhoria da qualidade de vida da população. A cada ano aumenta a participação da população da cidade. O evento gera possibilidade de renda para os artistas e para todo o comercio que se fortalece nesse período. Conto com esse aquecimento das vendas nesse período, isso me ajuda a equilibrar as contas. Nenhum evento tem tanta força em mobilizar a população e a economia dessa forma. Isso traz resultados excelentes para cidade. (Proprietário de estabelecimento comercial) Conforme reconhece Alves (2005), em Mossoró, a festa vem sendo apropriada como uma forma de demarcação de identidade local, e agregada como elemento diferenciador das demais cidades. vem sendo Os respondentes identificam que o evento corrobora com o crescimento atual da cidade no contexto econômico. Conforme observa-se nos trechos (37), (38) e (39): (37) [...] na minha visão a cidade só se vaporiza com esse evento. Fica conhecida a nível nacional, gera renda para todos os comerciantes e 94 autônomos. Movimenta toda a economia da cidade desde restaurante ate os salões de beleza. ( Proprietário de estabelecimento comercial 02) (38) [...] nossa cidade vem crescendo muito economicamente nesses últimos 10 anos. Percebo que a cidade se fortalece com eventos como esse, que gera renda para economia e só eleva o nome da cidade e a bravura de seu povo. ( Criação Artística 02 ) (39) [...] Vejo o Chuva de Bala com um evento que instiga os comerciantes a melhorarem os seus atendimentos, a ampliarem a oferta de produtos ou serviços. Com isso a cidade se fortalece como economia. ( Artista 10) Identificou-se que existem incentivos financeiros para implantação do projeto, provenientes do governo Municipal, Estadual e Federal que é um dos princípios do DLS. A dimensão econômica da sustentabilidade tem como principal objetivo o alcance do potencial econômico que contemple prioritariamente a distribuição de riqueza e renda associada a uma redução de externalidades socioambientais, objetivando resultados macrossociais positivos. A Dimensão Social da sustentabilidade, tem como princípio a equidade de riquezas e oportunidades, o incentivo a inclusão social e o respeito as diferenças e opções pessoais. Sachs (1993), propõe que a dimensão social abrange a necessidade de recursos materiais e não materiais, objetivando maior igualdade e justiça na distribuição da renda, de modo a melhorar substancialmente os direitos e as condições da população, ampliando-se a homogeneidade social; a possibilidade de um emprego que assegure qualidade de vida e igualdade no acesso aos recursos e serviços sociais. Conforme relatos dos depoimentos (40), (41) e (42); (40) [...]O acervo não é só utilizado pelo município, mais também pela universidade, por escolas privadas, por grupos de teatro, de dança ou de musica, e é usado pela comunidade. ( Artista 02) (41) [...] O evento gera investimento e beneficio para a comunidade, hoje o Chuva de Bala já é referencia não só para Mossoró, mais em todo um âmbito nacional. ( Representante de órgão público 02) (42) [...] Quando nós pensamos no Chuva de Bala lá atrás, depois a gente também pensou em criar o Cidadela, que é também um espaço de discussão das artes. Porque nós atores, quando terminamos um espetáculo 95 gostamos, ao contrario de outras profissões acredito eu, de discutir teatro, gostamos de sentar e discutir como foi aquela apresentação. Nós tínhamos um anseio de um espaço após as apresentações, foi quando surgiu o Cidadela, que é a cidade cenográfica que representa a cidade de Mossoró em no ano de 1927. E dentro da Cidadela gera emprego e renda para os donos de barzinhos, outros artistas, como músicos que tem a questão da música popular brasileira, além daqueles microempreendedores que estão lá todos os dias, e eu acredito sim que gera renda para população. ( Representante de órgão público 01) O Chuva de Bala, atende aos pressuposto do Desenvolvimento Local Sustentável no que se refere: propiciar maior igualdade e justiça na distribuição da renda, melhorando os direitos e as condições da população, ampliando-se assim a homogeneidade social; assegurando um emprego, mesmo que temporário. Identificou-se nos realtos a existência de programas de treinamentos sobre saúde e segurança no trabalho voltados para os artistas, grupo tático e apoio técnico envolvidos no evento, conforme obsevamos nos seguintes depoimentos (43), (44), (45) e (46); (43) [...] E somos o tempo inteiro acompanhados pela assistência da prefeitura, em questão de segurança, da saúde e o tempo inteiro a gente está sendo treinado. Nós começamos um processo no Chuva de Bala que vai 1 de Maio até os dias que antecedem a estreia, então dai vai uns 45 dias de ensaio com toda assistência. ( Artista 08) (44) [...] E em relação a inclusão a gente tem incluso pessoas de associações como o Tiro de Guerra (TG), eles são convidados a participar, muitas vezes eles próprios se convidam por paixão ao Chuva de Bala. Querem fazer parte da história, desde o inicio nós contamos com a participação do TG e também com o PETI. O Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, tem 20 crianças incluídas no projeto do Chuva de Bala. Essa divulgação do evento e da historia são trabalhados nas escolas, essa parte da cultura e também da essência do que é o Chuva de Bala. Mais ainda precisa muito, volto a insistir, das escolas estarem discutindo mais sobre a cultura de Mossoró. ( Direção 03) (45) [...] a coordenação do Chuva de Bala tem toda preocupação com a inclusão de menores carentes. Como é o caso da inclusão das crianças do PETI, que são crianças que estão envolvidas no projeto desde o inicio, isso possibilita a retirada dessas crianças da rua e mostra como a cultura pode ser incentivadora. ( Artista 09) (46)[...] Quanto a questão da segurança, todos os camarim tem que estar todo organizado, a fiação estar protegida... Então é feito todo um trabalho de segurança pra que a gente chegue até o palco bem. (Supervisor 01) 96 Na percepção dos atores sociais, as dimensões social e cultural estão associadas. Entendimento confirmado por Silva e Shimbo (2001), que define que a dimensão cultural em muitos aspectos confunde-se com a social, tendo em vista que cultura e sociedade, são muitas vezes indissociáveis. A dimensão cultural visa promover, preservar e divulgar a historia , tradições e valores regionais, bem como monitorar suas transformações. Sachs (1993), enfatiza que a Dimensão Cultural e a dimensão da sustentabilidade que direciona-se às raízes endógenas dos modelos de modernização e dos sistemas rurais integrados de produção, privilegiando processos de mudança no seio da continuidade cultural e traduzindo o conceito normativo de eco desenvolvimento e sugerindo a criação de soluções customizadas para cada ecossistema, cultura e local. Na percepção dos atores sociais a Dimensão Cultural pela natureza do evento é a mais internalizada, conforme retrata os trechos dos depoimentos (47), (48) e (49): (47)[...] O Chuva de Bala resgata muita a tradição cultural da cidade, e também ele traz elementos da cultura popular. O diretor, ele brinca muito com o pastoril, a questão do azul e do vermelho, do bem e do mal, e traz elementos que são do dia a dia da cidade. ( Artista 10) (48)[...]Para que essa população esteja inserida ela precisa ter conhecimento, muita das pessoas não sabem que existe o Chuva de bala ainda, não sei se isso compete ao poder público ou as escolas, mais as pessoas vem o Chuva de Bala ainda distante 'Não sei como é o evento. Como chegar? Como assistir?'. Então precisa do poder público, precisa das escolas, de alguém que possa estar dando essa informação que existe esse espetáculo na cidade, que existe o Memorial da Resistência, que conta também essa história do cangaço, da resistência, o Museu que reabriu também. Então acredito que essas pessoas possam ter acesso ao Chuva de Bala, que é gratuito, que é da população, que é da cidade.O evento possibilita a inclusão de todos os artistas, não existe discriminação. O diretor contempla todas as áreas tanto música, teatro, dança e todos são de Mossoró, todo o elenco, toda a equipe, desde a camareira até o ator principal todos de Mossoró. ( Direção 03) (49)[...]O Mossoró Cidade Junina tem uma amplitude tão grande, são 28, 29 subprojetos que contam muito bem essa história. As quadrilhas que predominavam até antes de existir o Chuva de Bala, então é essa questão da cultura popular, a questão de como contar a história de Mossoró através da sua dança, talvez tenha sido um dos elementos motivadores dos artistas 'Já tem a quadrilha, como é que podemos fazer para estar contando, representando essa história?'. ( Representante de órgão público 01) 97 Identificou-se nos relatos dos respondentes que o evento possibilita a disseminação a cultura e que esse fator impulsiona a economia local gerando uma relação das dimensões cultural e econômica, conforme relatos a seguir nos trechos (41), (42) e (43): (41) [...] o movimento cultural da cidade cresceu de uma forma que chegou as escolas e pra tudo isso acontecer a escola requer de um valor financeiro pra criar figurinos e tudo mais... e esses eventos trouxeram para os artistas da cidade mais um ponto de trabalho. As escolas, as turmas contratam bailarinos, coreógrafos, músicos, atores e diretores, e isso gera renda pra esses artistas. [...] Para gente é muito orgulho saber que temos uma acervo todo catalogado [...] O espetáculo a cada ano que passa, o diretor consegue inovar, ele consegue reciclar os figurinos, pois o figurino tanto serve para o Chuva de Bala, como também para o Auto da Liberdade e vice-versa. ( Criação Artística 02) (42) [...] O evento gera emprego, porque pessoas são contratadas pra serem camareiras, ajudar na hora do lanche, as meninas que fazem o figurino, maquiadores. Temos uma parceria também com o Tiro de Guerra (TG), todo ano eles são convidados a participar. E um projeto muito rico, no sentido de está envolvendo toda a comunidade mossoroense. ( Criação Artística 05) (43) [...] O chuva de Bala traz bastante benefícios para a população com relação a distribuição de renda. Favorece também o trabalho informal, de certa forma, e também a formação de empregos temporários tanto para a classe artística, como para aqueles que trabalham no evento, então tem uma importância muito grande para o desenvolvimento dos artistas. Podendo assim promover aos artistas locais reciclamento com trabalhos novos, novas experiências, e dando oportunidade para os novos artistas também, bem como os artistas mais antigos. ( Artista 09) Dentro dos pressuposto do Desenvolvimento Sustentável, visualiza-se no evento a promoção a diversidade e a identidade cultural, bem como, o resgate a historia e a memória da comunidade, conforme afirma Silva e Shimbo (2001). 98 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados alcançados por este estudo permitiram compreender o evento Chuva de Bala no País de Mossoró com ênfase no Desenvolvimento Local Sustentável na percepção dos atores sociais. Considerando as variáveis do processo, tais como: A emergência de atores sociais; a formação de redes sociais; o desenvolvimento de projetos coletivos; as dimensões da sustentabilidade ecológica, econômica, social e cultural. Identificou-se que o processo de emergência dos atores sociais é realizado de forma democrática, atendendo aos pressupostos do DLS, não existindo discriminação quanto a raça , idade e ideologia. O evento favorece a construção de uma identidade, onde os artistas podem manifestar toda a sua afetividade e desejo de reconhecimento. As falas dos respondentes ilustram que o grande diferencial desse evento cultural é o fator de valorização os atores sociais. O evento favorece a emergência dos atores sociais, reforçar o sentimento de pertencimento ao evento Chuva de Bala, retrata a historia da sua cidade e valoriza seus artistas e profissionais. Entretanto observou-se que, embora o evento favoreça a emergência dos atores sociais, não ha integração entre as parcerias que priorizem o processo de mudança social e a elevação das oportunidades da sociedade. No tocante a formação de Redes de Atores, não se verifica a internalizarão do conceito de redes de cooperação mútua, de acordo com a concepção do DLS. A percepção usual sobre redes de cooperação presente na visão dos atores sociais apresenta paradoxos diante dos conceitos discutidos nos pressupostos do DLS, ficando restrita para as dinâmicas da comunicação dos atores como reuniões, fóruns e seminários. Embora não se rejeite esse importante mecanismo viabilizador da política do DLS, a marca central da rede é a cooperação, baseada na confiança entre atores autônomos e interdependentes. Nesse sentido, não identificou-se que os atores sociais levem em consideração os interesses dos parceiros envolvidos, e não visualizam que essa forma de coordenação é o melhor caminho para alcançar seus objetivos particulares. Na percepção dos atores sociais, existe a capacidade de agregação. Porém, fica nítido que essa agregação não contribui para instigar processos de aprendizagem e inovação. Ganha força a dimensão local sustentável do desenvolvimento, concebida pelos processos de mundialização do capital, descentralização e mudanças no papel 99 do Estado. A constituição de redes possibilita esse entendimento inferindo a ligação do mundo local com o mundo cultural,político, econômico e social que se estabelece como contraponto à globalização, conforme afirma. O projeto do Chuva de Bala evidencia uma crescente preocupação social demonstrada através dos projetos de inserções a sociedade e fomento a cultura que buscam a inclusão social. Identificou-se a existência de alguns programas que envolvem o processo de mudança visando integrar os componentes da vida local e explorá-los como recursos em prol do desenvolvimento. São assistido e favorecido pelo projeto do Chuva de Bala as crianças carentes assistidas pelo Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) e outro projeto identificado foi o de inserção das escolas publicas no contexto cultural da cidade, o projeto contempla os alunos das escolas publicas da rede municipal e estadual. A finalidade desse programa é que os alunos tenham acesso as produções teatrais da cidade, tenham acesso as companhias de teatro, ao cinema. Contudo, não evidenciou-se normas ou restrições estabelecidas para que os parceiros selecionados para financiarem ou realizarem serviços tenham projetos ou ações que priorizem a sustentabilidade ou praticas sustentáveis. Não existe critérios definidos por parte dos articuladores do projeto quanto a seleção/parceiros que tenham projetos coletivos pensado nos pressupostos do DLS. As parcerias realizam se por conveniência, ficando restrita a viabilidade do evento. Na percepção dos atores sociais, a Dimensão Ecológica está diretamente associado a reciclagem e a reutilização. Fica evidente pelos depoimentos, que o evento estimula a adoção de medidas que visem o consumo consciente de insumos e produtos elaborados de forma menos danosa ao meio ambiente. Porém, não identificou-se incentivos econômicos e de outra ordem que sirvam para impedir que se explorem os recursos naturais de forma acelerada e predatória. Quanto a Dimensão Econômica, os atores declaram que o evento possibilita o crescimento econômico e a geração de renda, identificou-se a existência de incentivos financeiros para implantação do projeto, provenientes do governo Municipal, Estadual e Federal. Os resultados da Dimensão Social, atende aos pressuposto do DLS no que se refere: A propiciar maior igualdade e justiça na distribuição da renda, melhorando os direitos e as condições da população, ampliando-se assim a homogeneidade sócia. Identificou-se a existência de programas de treinamentos sobre saúde e segurança no trabalho voltados para os 100 atores sociais envolvidos no evento. A Dimensão Cultural atende aos pressuposto do DLS; a promoção da diversidade e identidade cultural. Identificou-se que o Evento Chuva de Bala por sua especificidade, atende parcialmente as dimensões e aos pressupostos do DLS, vale salientar que o evento não contempla um projeto contendo esses requisitos. O desenvolvimento local passa a ser visto como uma estratégia que facilita a conquista da sustentabilidade, levando à construção de comunidades humanas sustentáveis. O conceito de desenvolvimento local implica na lógica da sustentabilidade, não basta acender economicamente, é preciso aumentar os graus de acesso das pessoas, não só, ao rendimento, mas também, à riqueza, ao conhecimento e ao poder ou à capacidade de influir nas decisões públicas. Aponta-se, inicialmente, como delimitação da pesquisa a impossibilidade de generalização dos resultados por se tratar de um estudo de caso. Os limites do presente estudo se devem ao fato de que ele tem como objetivos apenas a percepção dos atores sociais a partir dos indicadores do autor de referência e que a visão sociológica não dá conta de todos os elementos que compõem as contradições e a complexidade da realidade. Para estudos futuros, sugere-se a investigação dos projetos coletivos das empresas prestadoras de serviços e dos parceiros financeiros, buscando identificar a existência de uma rede de colaboração que atendam aos pressupostos do DLS . Propõe-se também uma analise da percepção dos moradores da cidade sobre o evento , visando identificar sua percepção para o desenvolvimento da cidade. 101 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, J. L. (org). Gestão Ambiental e Responsabilidade Social: conceitos, ferramentas e aplicações. São Paulo: Atlas, 2009. ALBUQUERQUE, F. Desenvolvimento local e distribuição do progresso técnico: uma resposta às exigências do ajuste estrutural. Fortaleza: Editora do Banco do Nordeste,1998. Traduzido por Antônio Rubens Pompeu Braga. Fortaleza: BNB, 1998, 151p. ALVES, A. C. Cidade, festa e identidade: reflexões sobre a conformação identitária e a especularização do espaço urbano de Mossoró (RN). In CD-ROM do V Encontro Nacional da ANPEGE. Fortaleza, 2005. BARBIERI, J. C.; CAJAZEIRA, J. E. R. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. 2 ed. São Paulo: saraiva, 2012 BARBIERI, J. C. Desenvolvimento sustentável regional e municipal: conceitos, problemas e pontos de partida. 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UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO – MPA Mestranda: Aurineide Filgueira de Andrade TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidado a participar dessa pesquisa, que tem como objetivo geral analisar como os atores sociais percebem a influência do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró para o Desenvolvimento Local Sustentável da cidade de Mossoró. O interesse maior da pesquisa justifica-se no fato da emergência da reflexão do tema no contexto social, econômica, ecológica, espacial e cultural na cidade de Mossoró, quanto aos benefícios que a política do Desenvolvimento Local Sustentável possa contribuir no contexto do evento cultural chuva de Bala no País de Mossoró. A pesquisa será realizada utilizando-se como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada, a qual será gravada pela pesquisadora com o uso de um gravador. A transcrição das entrevistas será feita na íntegra e, logo após definidas as unidades analíticas, realizada uma préanálise, com definição das categorias de análise e por fim, a análise de conteúdo. Todas as informações coletadas na entrevista, serão utilizadas somente pela pesquisadora a fim de atender os objetivos da pesquisa e mantidas em absoluto sigilo, assegurando assim sua confidencialidade e privacidade dos que tomarem parte na pesquisa. Os dados poderão ser utilizados durante encontros e debates científicos e publicados, preservando o anonimato dos participantes. Ao participar desta pesquisa você não terá nenhum benefício direto. Entretanto, espera-se que desta pesquisa surjam reflexões importantes a respeito das políticas do Desenvolvimento Local Sustentável. Os riscos e danos com a pesquisa são quase inexistentes, pois nela você não será submetido a nenhum procedimento que exija contato físico. Apenas o seu discurso sobre o tema será investigado. Esta pesquisa não trará nenhum custo financeiro, e nem remuneração com a sua participação, visto que a mesma será realizada na sua própria residência e durante seu tempo livre. Você poderá deixar de participar da pesquisa em qualquer fase, sem nenhuma penalização e sem prejuízo ao sigilo quanto às informações já fornecidas, cabendo a você apenas comunicar sua decisão à pesquisadora. Sempre que quiser você poderá pedir mais informações sobre a pesquisa, entrando em contato com a pesquisadora responsável. Eu, _____________________________________________________ declaro que conheço os objetivos e procedimentos da pesquisa e, de forma livre e esclarecida, manifesto meu interesse em participar da pesquisa. Assinatura do sujeito participante Aurineide Filgueira de Andrade Natal,______ de _______________ de 2013. 109 APÊNDICE B - Roteiro de entrevista Parte A - Identificação 1.Nome: 2.Atribuições 3.Tempo de atuação no Projeto 4.É remunerado? Você executa outras atividades remuneradas? 5.Profissão Parte B- Percepção do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró 1. O que representa o evento Chuva de Bala no País de Mossoró para você? 2. O que mais lhe atrai no evento? A organização? (Como ela acontece? Quem coordena? Como coordena?) O evento em si? (as coreografias? As danças? As músicas? As roupas? A participação das pessoas?) O significado para a cidade? (Melhora? Fica mais alegre? Entra dinheiro?Fomenta a cultura?) 3. Considerando os conceitos de Ator Social Como você surgiu como liderança / ator social neste processo? De forma espontânea? Foi convidado? 4. Considerando os conceitos de Redes de Atores Sociais Existe uma rede de relacionamentos formal ou informal para viabilizar o evento Chuva de Bala no País de Mossoró? Quem compõe a rede? Quem determina a participação? Como ocorre a participação? 5. Considerando os conceitos de Projetos coletivos Existe um projeto coletivo (feito por todos – escrito ou não) de gestão (planejamento, execução, acompanhamento e avaliação) do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró? Parte C- Identificar na percepção dos atores sociais se o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró contribui para o DLS da cidade de Mossoró Considerando os conceitos de Desenvolvimento Local Sustentável 1. Na sua percepção o evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró contribuiu para a melhoria do Desenvolvimento Local Sustentável , ou seja , da qualidade de vida do conjunto das pessoas da cidade de Mossoró/RN? Tomando como base as dimensões da sustentabilidade definidas por Ignacy Sachs (1993) 110 2. Quais as dimensões da sustentabilidade permeiam a realização do evento cultural Chuva de Bala no País de Mossoró? 3. Toma medidas para reduzir, reutilizar ou reciclar os resíduos sólidos resultantes de suas operações? 4. Adota medidas que estimulem o consumo de insumo (produtos e serviços) elaborados de forma menos danosa para o meio ambiente (fornecedores que elaboram seus produtos e serviços por meio de processos que causam menos impacto ambiental) ? 5. Dá preferência aos fornecedores que adotam práticas ambientalmente sustentáveis? 6. Adota medidas de reutilização ou reciclagem nos processos de produção (figurino, cenário)? 7. Existe uma contribuição direta do evento em forma de investimento e benefícios para a comunidade? 8. Qual a estimativa de geração de renda por conta de empregos indiretos? 9. Existe incentivos financeiros provenientes dos governos estadual e federal para implantação do projeto? 10. Existe programas de treinamento sobre saúde e segurança no trabalho voltados para os atores sociais envolvidos no processo? 11. Existe uma normatização destinada a repreender comportamentos discriminatórios junto a funcionários, terceirizados e fornecedores? 12. O evento gera renda e assegura a qualidade de vida para a comunidade? 13. Existe um documento normativo referente ao compromisso com a valorização da diversidade, equidade de funcionários e terceirizados? 14. Existe benefícios associados a valorização das competências individuais por meio de estímulos ao desenvolvimento profissional ? 15. O evento possibilita parcerias com associações e sindicatos? 111 ANEXOS- 112