FACULDADE DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DO PORTO LICENCIATURA EM ECONOMIA Ano Lectivo 2002/2003 5º Ano Disciplina de Economia do Meio Ambiente Desenvolvimento Sustentável A Problemática do Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Orientador: Professora Cristina Chaves Realizado por: André Augusto Vaz Pais 970401010 Paulo Fernando Rodriguez 970401120 PORTO DEZEMBRO DE 2002 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 ÍNDICE I. INTRODUÇÃO...................................................................................................... 2 II. CONCEITOS TEÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ....................................................................................................... 4 II.1. Definição e actualidade do conceito ........................................................ 4 II.2. Abordagens Teóricas de Sustentabilidade............................................ 5 A) A Sustentabilidade Fraca .......................................................................... 6 B) A Sustentabilidade Forte ........................................................................... 7 C) A Escola de Londres ............................................................................. 8 III. CIMEIRA DE JOANESBURGO ........................................................... 10 III.1. Antecedentes ................................................................................................. 10 III.2. A Cimeira propriamente dita .................................................................... 12 A) Objectivos .................................................................................................... 13 B) Conclusões.................................................................................................. 16 C) Avaliação crítica das conclusões .......................................................... 21 IV. CONCLUSÃO .................................................................................................. 25 V. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 27 1 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 I. INTRODUÇÃO “Em conjunto decidimos que a Terra é um único e pequeno jardim. (...) Compreender melhor antes de intervir, observar para agir, fazer mais com a natureza que contra a natureza. (...) Crescer sem empobrecer, consumir sem degradar, produzir sem delapidar, viver sem destruir, isto é possível.” 1 Se recuarmos no tempo, podemos afirmar que, já em pleno século XIX, o conceito que actualmente designamos como Desenvolvimento Sustentável era, ainda que de uma forma leve, levado em conta por alguns autores. Arthur Young, Von Thunen e Faustmann, assim como Gordon, Scott e Schaefer, em campos distintos como agricultura, florestas e pesca, referem, cada qual à sua maneira, ideias relacionadas com a Sustentabilidade de solos e do produto económico. No entanto, foi apenas em anos relativamente recentes que tal conceito passou a figurar no dia-a-dia da vida económica. É facilmente visível que, há um século atrás, actividades realizadas pelo homem tinham apenas um impacto local, ao passo que nos nossos dias as mesmas têm um impacto na atmosfera global, solos, águas, assim como nas mais diversas espécies animais e vegetais. Dessa forma, também se assistiu a uma crescente preocupação com as gerações vindouras, visto que alterações no ambiente provocadas pela acção do ser humano têm cada vez um maior impacto nas vidas de gerações vindouras. Podemos mesmo afirmar que se encontra aí o cerne da questão e debate em torno do Desenvolvimento Sustentável: a obrigação da geração presente em deixar um legado às gerações futuras que não hipoteque as suas condições de vida. Ou seja, o desejo de crescimento económico por parte das mais variadas nações tem agora que encontrar um modo de conciliar tal crescimento com problemas ambientais, sem esquecer os problemas sociais, que se tendem a agravar. E os problemas ecológicos actuais são imensos: desde as chuvas ácidas, à destruição da camada de ozono, do efeito de estufa aos resíduos nucleares, assim como a completa delapidação de recursos não renováveis. Tais preocupações fazem parte não só do conjunto de questões que os mais diversos governos se vêem obrigados a tentar resolver, como também de cidadãos anónimos e que, por exemplo, por via de ONG's, manifestam o seu desagrado perante o panorama actual da 1 In Le jardin planétaire (1999), retirado do site oficial do G.E.O.T.A. (Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente) 2 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 questão ambiental. O que tem sido feito? Estamos no caminho certo? Terá o século XXI o condão de inverter a tendência que se verificou anteriormente? Este trabalho pretende então abordar a problemática actual da Sustentabilidade. Começamos por introduzir o conceito de Desenvolvimento Sustentável adoptado pelas Nações Unidas e tentaremos analisar a sua actualidade. De seguida referenciamos as abordagens a nível teórico de Sustentabilidade, apresentadas por diversos autores, e sua comparação. E para não nos situarmos apenas no plano teórico, abordamos de seguida a Cimeira de Joanesburgo, a mais recente megacimeira sobre o ambiente que se realizou entre Agosto e Setembro deste ano, apresentando os seus objectivos à partida e respectivos resultados, sem esquecer de mencionar outras cimeiras e encontros mundiais anteriores relevantes, que encerram também questões e conclusões importantes. 3 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 II. CONCEITOS TEÓRICOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Para melhor compreendermos os objectivos a que se propunha a Cimeira de Joanesburgo, nesta secção, e tal como o título sugere, procuraremos analisar a componente teórica do conceito de Desenvolvimento Sustentável. Para tal, além da referência à definição adoptada e à actualidade do conceito, abordaremos também as teorias de Sustentabilidade mais significativas. II.1. Definição e actualidade do conceito Antes de qualquer outra consideração, é pertinente definir o que se entende por Desenvolvimento Sustentável. Este conceito é o resultado da constatação de que o crescimento económico, medido pelo PNBpc, não pode ser feito sem que se verifiquem evoluções a outros níveis da sociedade2. Foram vários os autores que procuraram definir um conceito de desenvolvimento que tivesse em consideração esta componente “nãoeconómica” de bem-estar, de um desenvolvimento que beneficiasse as gerações actual e futura3 (segundo Kula (1998), Pezzey chegou a avançar sessenta diferentes definições, ao passo que Pearce et al. sugeriram cerca de trinta). O que difere todas elas é o facto de darem um peso maior ou menor a uma das vertentes da Sustentabilidade: a económica, a social e a ambiental. Um exemplo dessas diferentes definições é a apresentada no início do capítulo da Introdução e que dá primazia à vertente ambiental.4 De entre todas elas destacamos a que consta do Relatório 'Our Common Future', também conhecido como relatório Brundtland (1987): “Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que permite alcançar as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de alcançarem as suas próprias necessidades.” 2 A longo prazo, se tal não se verificasse, o próprio crescimento económico estaria comprometido pois a sociedade à qual ele se destina não estaria em condições de beneficiar dele. 3 Exceptuando a vertente ecológica, o Indicador do Desenvolvimento Humano (IDH) é um índice que vem de encontro a esta preocupação. 4 No site do G.E.O.T.A., no link “Reflexões sobre o Desenvolvimento Sustentável” são apresentadas outras definições deste conceito. 4 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 O relatório, da responsabilidade da Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento pela Assembleia Geral das Nações Unidas, criada em 1983, foi apresentado à Assembleia Geral das Nações Unidas em 1987, tendo sido publicado em Abril desse mesmo ano. Em 22 de Dezembro de 1989, e na sequência da apresentação deste relatório, foi aprovada a Resolução das Nações Unidas número 44/228, determinando a realização em 1992 de uma Conferência Mundial ao mais alto nível, dedicada às questões de ambiente e desenvolvimento. No entanto, e apesar de constituir um marco na questão da Sustentabilidade, este relatório foi alvo de crítica como sendo claramente ocidental na sua abordagem, e não levando em conta a diversidade de posições culturais e éticas em todo o globo. Refira-se apenas que definir Desenvolvimento Sustentável não equivale de modo algum a determinar as condições para o alcançar: a tarefa mais complicada passa mesmo por determinar o que deve ser feito para o atingir. Nos dias que correm, basta atentar nos meios de comunicação social e nas declarações políticas das mais variadas instituições nacionais e internacionais para constatar a actualidade e urgência do conceito. Assiste-se, assim, a uma preocupação crescente com as questões de Sustentabilidade, facto que tem expressão na realização de Conferências Mundiais promovidas pelas Nações Unidas (Estocolmo, Rio de Janeiro, Quioto e Joanesburgo). A nível nacional, a adopção de medidas que promovam factores como a educação, saúde, esperança de vida e ambiente revela-se como um contributo para um problema global, cada vez mais indiferente às fronteiras políticas devido a um outro fenómeno: o da globalização. A nível transnacional, destaca-se a criação de instituições como a Agência Europeia para o Ambiente e a Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. II.2. Abordagens Teóricas de Sustentabilidade Neste trabalho interessa-nos considerar a vertente “ambiente” no âmbito de um Desenvolvimento Sustentável a nível mundial. Tal justifica-se na medida em que se o Homem não for capaz de preservar os recursos naturais que tem disponíveis estará, acima de tudo, a comprometer a sua própria sobrevivência. Nas palavras de Pigou, “This same 5 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 slackness of desire towards the future is also responsible for a tendency to wasteful exploitation of nature's gifts.”5 Interessa pois analisar a compatibilidade entre a acção humana e a Natureza. Nesse sentido, este capítulo destina-se a expor as principais teorias que consideram esta problemática no âmbito do crescimento económico. A) A Sustentabilidade Fraca Segundo esta corrente ideológica, de cariz neoclássico6, a Sustentabilidade é como que uma forma de eficiência económica, isto é, o ambiente é visto como uma das componentes do equilíbrio geral da economia. Trata-se, então, do alargamento dos modelos de crescimento económico à vertente da Sustentabilidade ambiental (sem a qual todo o futuro da economia está, obviamente, comprometido). Nestes modelos, o ambiente é tratado como um tipo de capital, designado por capital natural, que é um substituto dos outros dois tipos de capital: técnico (ou manufacturado) e humano. Desta forma, se o capital natural sofrer um dano ou, em última instância, se esgotar, os outros tipos de capitais devem alterar-se (neste caso aumentando) por forma a garantirem que o stock global de capital se mantenha constante.7 Esta conclusão é sublinhada por Solow (1974): “Exhaustion is just an event, not a catastrophe”.8 A substituibilidade preconizada por estes modelos é admitida como total, isto é, entre diferentes categorias de capitais (natural, técnico e humano), entre tipos de capitais da mesma categoria (sejam eles renováveis ou não, no caso do capital natural), no espaço e no tempo. No entanto, estes modelos apresentam uma série de limitações. Desde logo se destaca a questão da substituibilidade, na medida em que através dela se ultrapassam as especificidades de cada tipo de capital e eventuais barreiras limitadoras deste processo. Assim, o stock de capital natural não tem qualquer relevância especial dado que pode ser perfeitamente substituído por outro tipo de capital sem que tal comprometa o equilíbrio a 5 Retirado de Kula (1998), p. 153 Aqui destacamos autores como Solow, Hicks e Hartwick. 7 Este raciocínio é válido para qualquer tipo de capital. Trata-se de uma extensão do modelo de crescimento económico de Solow, no qual, em equilíbrio, a poupança iguala a depreciação do capital (Regra de HicksHartwick-Solow). 8 Retirado de Kula (1998), p. 152 6 6 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 longo prazo da economia. No entanto, dado que os recursos são escassos, a utilização excessiva de um deles face à capacidade assimiladora do meio pode resultar na sua extinção (aqui sobressai a especificidade dos recursos não renováveis). Uma outra limitação deste modelo, comum ao modelo “original” de Solow, é o facto de esquecer que através do progresso técnico, que origina aumentos da produtividade dos factores, é possível diminuir o stock de capital sem colocar em risco o desenvolvimento futuro. Ou seja, é possível reduzir a utilização do capital natural, poupando-o e não recorrendo a um tipo de capital substituto, sem que isso inviabilize o crescimento económico óptimo. No entanto, o próprio progresso técnico não resolve esta questão, pois depara sempre com a barreira restritiva da capacidade assimiladora do meio que é naturalmente limitada. B) A Sustentabilidade Forte Esta corrente, também conhecida como Abordagem Conservacionista, surge como resposta à da Sustentabilidade Fraca, analisada anteriormente. Para os autores que a defendem (de entre os quais se destacam Daly e Cobb), o critério da eficiência económica não é o apropriado para analisar e satisfazer a necessidade de Desenvolvimento Sustentável, isto é, eles assumem a especificidade do capital natural integrando preocupações ecológicas em todo o processo de crescimento.9 A diferença para a abordagem da Sustentabilidade Fraca constata-se, desde logo, nos pressupostos: admite-se a irreversibilidade do capital natural (há recursos não renováveis, pelo que uma má utilização destes hoje não é passível de correcção no futuro), o que associado ao facto de a tomada de decisão ser feita num contexto de incerteza leva a que seja considerada a aversão ao risco de esgotamento de determinados recursos (precaução na sua utilização)10; rejeita-se a substituibilidade perfeita do capital (em concreto, a que era admitida existir entre capital natural e capital reprodutível11) e benefícios do progresso técnico ao nível do capital natural (um exemplo concreto disso é o 9 Marshall já defendia que o capital natural (terra) devia ser tratado de forma específica devido à sua irreversibilidade. 10 Como o processo de tomada de decisão evolui com o tempo, com o maior conhecimento e informação disponíveis sobre os recursos e métodos de utilização. Daqui não se pode dissociar o facto de a maior ou menor sensibilidade do decisor às questões da Sustentabilidade ser factor determinante em todo este processo. 11 Ao nível da corrente da Sustentabilidade Fraca, este capital reprodutível designa quer o capital técnico, quer o capital humano (por questões óbvias, identifica-se mais com o primeiro). 7 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 facto de não ser possível reciclar indefinidamente); admitem ainda que o mercado não funciona ao nível do capital natural pelo que deve ser substituído por entidades que regulamentem a sua utilização12. A ênfase colocada no capital natural, visto como essencial para a sobrevivência e bem-estar geral é o ponto central para a argumentação desta corrente. Porém uma parte deste capital assume particular relevância na medida em que constitui o crucial para a sobrevivência (por exemplo, a camada de ozono). Essa componente do capital natural é designada por capital crítico. Assim, o Desenvolvimento Sustentável constitui o máximo possível de se obter sem que este capital crítico seja afectado, isto é, o capital natural mantém-se constante. Para que tal se verifique, exigem-se taxas de crescimento económico e demográfico nulas, sob pena de haver um maior número de consumidores e/ou exigências da produção para o mesmo montante de recursos escassos13. Para Daly (1991), sendo a capacidade assimiladora do meio (naturalmente) limitada14, a intensidade da actividade económica deve estar de acordo com essa restrição e com o facto de os recursos serem escassos. Donde, “uma escala desejável para a actividade económica deveria ser aquela que não corrói a capacidade de carga do ambiente ao longo do tempo”15. Assim, e constatando que a natureza tem funções específicas nas quais o Homem não a consegue substituir (com outros tipos de capitais- técnico e humano), a escassez do capital natural constitui o limite ao desenvolvimento económico. Em jeito de síntese, podemos dizer que existe um trade-off entre crescimento económico e capital crítico devido à irreversibilidade deste e à incerteza natural da acção humana. C) A Escola de Londres Os autores que preconizam esta abordagem, de onde se destaca Pearce, defendem que é possível articular a preservação do meio ambiente com as exigências do crescimento económico, isto é, é possível proceder a uma integração de economia e ecologia. 12 Aqui constata-se que sendo a sobrevivência um valor inestimável torna-se impossível estabelecer um sistema de preços. 13 Aqui admite-se, no extremo, que o progresso técnico em nada afecta o capital crucial, isto é, não permite aumentar a produtividade na sua utilização. 14 Pela primeira Lei da Termodinâmica verifica-se a complementaridade e não a substituibilidade entre capital natural e capital manufacturado. 15 Faucheux e Noël (1995), p. 338 8 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Tal como na corrente da Sustentabilidade Forte, colocam-se dúvidas à substituibilidade dos diferentes tipos de capitais, apontando como exemplo o facto de o mesmo recurso natural poder ter diferentes aplicações. Na medida em que algumas dessas funções são imprescindíveis à subsistência, pode-se falar de capital natural crítico. Assim, devem ser impostos limites à utilização de recursos cuja degradação é irreversível (capital crítico) e aos restantes, de degradação reversível, devem ser aplicados critérios de eficiência económica. Ou seja, compatibilizam as correntes anteriores admitindo a coexistência de substituibilidade (ainda que limitada) e complementaridade entre diferentes tipos de capitais. Assim conclui-se que a ênfase está na preservação de um stock mínimo de capital natural crítico por forma a atingir a Sustentabilidade e tal constitui uma aproximação à Sustentabilidade Forte. A grande dificuldade desta corrente consiste na medida do capital natural, dada a sua heterogeneidade. A utilização da avaliação monetária deste recurso (aproximando-se da Sustentabilidade Fraca) leva à definição de critérios económicos para a preservação do ambiente dado que, indirectamente, se admite a substituibilidade dos factores como forma de alcançar a eficiência económica. Deste modo, são ignoradas as especificidades do capital natural assim como as barreiras ambientais ao desenvolvimento, reduzindo-se tudo à esfera económica. De um modo geral, podemos dizer que esta corrente é intermédia relativamente às anteriores dado que, considerando o capital natural em termos físicos verifica-se uma aproximação à Sustentabilidade Forte (complementaridade dos diferentes tipos de capitais e existência de um capital natural crítico). Porém, quando considerado em termos monetários, a abordagem tende para a Sustentabilidade Fraca (admitindo a substituibilidade entre os diferentes tipos de capitais e ignorando a especificidade de cada um deles). 9 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 III. CIMEIRA DE JOANESBURGO De 26 de Agosto a 4 de Setembro realizou-se em Joanesburgo, na África do Sul, sob a égide das Nações Unidas, a Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentável16. Tal como as cimeiras que a antecederam (Estocolmo em 1972, Rio de Janeiro em 1992, Quioto em 1997) a grande especificidade deste acontecimento reside no facto de ser a nível mundial, com um elevado número de participantes, incluindo países ricos e países pobres. No entanto, e não menos importante, porque centrado nos interesses e especificidades regionais, por tudo o mundo, decorreram (e vão decorrendo) encontros, conferências e reuniões17 que visavam debater e encontrar estratégias de acção para os mais variados problemas ambientais com que o Homem se vai deparando. Como Desenvolvimento Sustentável não se limita à preservação do património ambiental, cumpre-nos realçar que a nossa análise da Cimeira focar-se-á especialmente neste ponto e nas suas interacções com as vertentes económicas e sociais. Assim, e simplificando, no âmbito deste trabalho interessa-nos analisar a harmonização da actividade humana com o ambiente, nomeadamente a intenção de prevenir e corrigir acções lesivas do património ambiental. III.1. Antecedentes Anteriormente à Cimeira em causa, decorreram outras três Cimeiras Mundiais vocacionadas para as problemáticas que afectam o futuro da Humanidade18: Estocolmo, Rio de Janeiro e Quioto. A primeira dessas Cimeiras Mundiais decorreu em Estocolmo em 1972 sob o tema do Ambiente Humano. Este acontecimento constituiu um ponto de viragem na medida em que, assumindo a urgência de responder à delapidação dos recursos ambientais, colocou o 16 Também conhecida por Rio +10 Cimeira da Terra 2002. Estes acontecimentos decorrem a nível local, nacional, regional. A própria preparação da Cimeira de Joanesburgo obedeceu a esta lógica dado que anteriormente a ela houve um processo, à escala mundial, através das PrepComs (isto é, Comissões Preparatórias). 18 Tal como referido anteriormente, a preservação do ambiente é uma das componentes do Desenvolvimento Sustentável. 17 10 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Ambiente na Agenda Internacional, abrindo assim caminho a visões alternativas a um desenvolvimento estritamente económico. Em termos concretos, a nível político generalizou-se, na composição governamental, a existência de um órgão vocacionado para as preocupações ambientais19 e a criação de organismos públicos direccionados para esta área; ao nível da sociedade em geral, verificou-se a massificação das preocupações ecológicas, conduzindo ao aparecimento de várias organizações ambientais. Associada a esta Cimeira foi criada, em 1983, a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvolvimento, com a missão de avaliar os progressos obtidos no pós-Estocolmo. O seu principal documento é o relatório com a designação de 'Our Common Future', também conhecido por Relatório Brundtland (ao qual já fizemos referência no capítulo II), que formalizou o conceito de Desenvolvimento Sustentável. A Cimeira Mundial da Terra, que teve lugar no Rio de Janeiro em 1992, consagrou o Desenvolvimento Sustentável como uma necessidade da Humanidade, incluindo os factores ambientais, juntamente com os económicos e sociais, no processo político. Nesta Cimeira afirmou-se uma visão do crescimento, conservação e equidade a longo prazo, comum a países ricos e pobres. Os principais resultados foram a Agenda 21 (um plano mundial de acção para um Desenvolvimento Sustentável no século XXI onde constam 2500 recomendações), a Declaração do Rio (um conjunto de 27 princípios pelos quais deve ser conduzida a interacção do ser humano com o planeta), a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a Convenção sobre a Biodiversidade, a Declaração das Florestas e a criação da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Estabelecia-se assim que, para alcançar um Desenvolvimento Sustentável, os países deveriam diminuir as assimetrias entre si dado que, devido à globalização e interdependência dos países, os problemas dos países pobres devem ser motivo de preocupação para os países ricos20. Assim, e segundo Nitin Desai, Secretário-Geral da Cimeira Mundial sobre o Desenvolvimento Sustentável: 19 No caso português, nos sucessivos Governos, tal tem tido expressão quer sob a tutela autonomizada de um Ministério do Ambiente, quer dentro de um qualquer Ministério que englobe outras questões “compatíveis” (como actualmente se verifica no Ministério das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente), quer ainda sob a tutela de uma Secretaria de Estado. 20 O actual fenómeno migratório é um exemplo disso. 11 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 “Since the Rio Earth Summit in 1992, sustainable development has emerged as a new paradigm of development, integrating economic growth, social development and environmental protection as interdependent and mutually supportive elements of long term development.” (Global Challenge, Global Opportunity: Trends in Sustainable Development, p. 1) 21 Em 1997 realizou-se a Conferência Mundial de Quioto, da qual resultou um protocolo que estipulava os níveis máximos de emissão de gases, visando uma redução de cerca de 23% face aos níveis actuais. No entanto, a constatação actual é a de que este acordo ainda está para ser efectivamente implementado. A um nível regional, ocorreram por todo o Mundo inúmeros encontros, conferências e reuniões que visavam alertar para esta problemática e definir medidas concretas de implementação da Sustentabilidade22. Neste ponto destacamos o evento “Seminário Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável: de Estocolmo a Joanesburgo - Rio + 10 Brasil”, vulgo Rio +10 Brasil, realizado no Rio de Janeiro de 23 a 25 de Junho de 2002, o qual procurou estabelecer requisitos e objectivos da Cimeira de Joanesburgo23 face aos resultados já obtidos com cimeiras e acordos anteriores. Como antecedentes da Cimeira podemos ainda referir todo o processo preparatório anterior a 28 de Agosto de 2002. Tal passou, a nível nacional, pela constatação dos resultados alcançados desde o Rio e definição dos desafios futuros que os países enfrentam na obtenção da Sustentabilidade; em cada região do Mundo24, a partir de Abril de 2001, nas Comissões Preparatórias Regionais (PrepComs), o mesmo foi feito numa análise a nível regional. Tratou-se pois de compatibilizar visões diferentes por forma a ser possível alcançar um consenso quanto a uma actuação a nível mundial que promova um efectivo Desenvolvimento Sustentável. III.2. A Cimeira propriamente dita Este acontecimento mundial, que reuniu milhares de participantes, entre entidades oficiais, organizações não-governamentais, empresários e público em geral, teve como ponto fulcral a definição de linhas de actuação a nível mundial que permitam alcançar um 21 Retirado do Site Oficial da Cimeira de Joanesburgo Por exemplo, Haia em 2000, Bona em 2001, entre outras. 23 Para mais informação sobre este acontecimento consultar o site referido na bibliografia. 24 África, Ásia, e Pacífico; América Latina e Caraíbas; Europa e América do Norte; Extremo Oriente. 22 12 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 desenvolvimento que vá de encontro aos anseios actuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras em satisfazerem as suas necessidades. No entanto, é unanimemente aceite que alcançar um Desenvolvimento Sustentável não se afigura tarefa fácil. Para tal esperava-se uma total disponibilidade dos países participantes para submeter os seus interesses nacionais a um interesse superior: o da Humanidade e sua sobrevivência. A) Objectivos Dez anos após a realização da Cimeira da Terra no Rio de Janeiro, onde o conceito de Desenvolvimento Sustentável foi definitivamente colocado na ordem do dia, havia a consciência de que a Cimeira de Joanesburgo tinha de definir um plano de actuação mais específico e global e, procurando ir mais longe do que em 1992, passar efectivamente e de forma decidida dos planos à acção. Nas palavras do Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan: “The Summit must bring the world together, and forge more cohesive global partnerships for the implementation of Agenda 21”25. Esta imperatividade resulta da constatação que as tentativas para promover um Desenvolvimento Sustentável não haviam sido efectivas ao longo da década que mediou entre a Cimeira da Terra e Joanesburgo. Deste modo, desejava-se que houvesse vontade política para implementar medidas que promovessem um Desenvolvimento Sustentável, que mais e melhores recursos fossem direccionados para este problema mundial, que os hábitos e mentalidades fossem alterados porque só assim seria possível a implementação de um desenvolvimento que compatibilizasse as necessidades económicas e sociais e tivesse a capacidade de conservar os recursos naturais. “But progress since then has been slower than anticipated. The state of the world’s environment is still fragile. Conservation measures are far from satisfactory. At discussions on global finance and the economy, the environment is still treated as an unwelcome guest. High-consumption life-styles continue to tax the earth’s natural life-support systems. Research and development remains woefully under-funded, and neglects the problems of the poor. Developed countries in particular have not gone far enough in fulfilling the promises they made in Rio- either to protect their own environments or to help the developing world defeat poverty” 26 25 26 Retirado de Summit Brochure (disponível no site oficial da Cimeira), p. 1 Kofi Annan (2002) 13 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Assim, segundo o Secretário-Geral das Nações Unidas, são cinco as áreas onde os resultados são essenciais para a Humanidade e alcançáveis com os recursos e tecnologias actuais: Água; Energia; Agricultura; Biodiversidade; Saúde27. No primeiro aspecto, segundo dados oficiais, mais de um milhão de pessoas não têm acesso a água potável, mais de dois milhões não são servidas por saneamento básico e, por ano, mais de três milhões de seres humanos morrem por doenças associadas à utilização de água imprópria para consumo. Sendo a água essencial para a sobrevivência humana, seja através da alimentação, seja através da higiene, a este nível é necessário promover um maior acesso a água potável, promover uma maior eficiência na sua utilização e na gestão dos recursos hidrográficos. Ao nível da Energia, e dado que ela é essencial para o desenvolvimento, é necessário aumentar a utilização de fontes renováveis e limpas, promover a eficiência na sua utilização, combatendo o sobreconsumo nos países desenvolvidos, e torná-la acessível a um maior número de pessoas (segundo dados oficiais, 2500 milhões de pessoas, ou seja, mais de um terço da população mundial não tem acesso a fontes modernas de energia, utilizando lenha, restos de colheitas e estrume; no entanto o consumo de energia cresceu consideravelmente na última década de tal modo que o uso de combustíveis fósseis, responsáveis por 80 % da produção de energia, aumentou 10% desde 1992). Neste ponto, assume particular relevância o Protocolo de Quioto, sua ratificação por mais países e sua efectiva implementação prática. Chama-se ainda a atenção para os efeitos perversos dos subsídios e incentivos fiscais neste campo na medida em que em nada contribuem para o desenvolvimento de alternativas energéticas menos poluentes. No que diz respeito à Agricultura, dado que ela é essencial ao crescimento económico28, as preocupações centram-se na sua produtividade, na progressão das terras cultivadas e na degradação dos solos. Na medida em que a população mundial aumenta e a produtividade agrícola diminui, por forma a satisfazer esta maior procura, a extensão das terras cultivadas tem aumentado. Esta intensificação da exploração da terra, em muitas situações, não respeita os períodos de renovação desta, o que conduz à degradação dos 27 28 Também designados por WEHAB (Water Energy Health Agriculture Biodiversity). Essa dependência é directa nos países em desenvolvimento e indirecta nos desenvolvidos (dado que se os primeiros não produzirem os bens agrícolas necessários, os segundos terão de afectar mais recursos à actividade agrícola). 14 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 solos (sendo uma das causas da diminuição da produtividade agrícola)29. Torna-se pois necessário promover a informação das populações, a utilização mais eficiente das terras e a investigação e desenvolvimento nesta área por forma a encontrar novas formas de exploração dos recursos. Através dos desenvolvimentos da Agricultura será possível combater a fome e a pobreza existentes em muitos pontos do globo. Quanto à Biodiversidade, a ênfase está na preservação dos recursos naturais30. Sem ela não é possível o Desenvolvimento Sustentável e, em última instância, a sobrevivência humana está comprometida dado que desaparecem ecossistemas fundamentais para a vida humana (por exemplo, espécies de animais que pertencem à cadeia alimentar do Homem). Nesse sentido, são preocupantes factos como a acelerada redução da variedade de espécies (cerca de 11046 espécies de animais estão em risco de desaparecer devido à destruição dos seus habitats - 24% dos mamíferos, 25% dos répteis e 30% dos peixes), a pesca ilegal e em quantidades que não permitam a reprodução natural das espécies (estima-se que cerca de 75% dos recursos pesqueiros têm sido explorados no limite da sua capacidade, e mesmo para além dele), a destruição das florestas, o avanço das terras cultivadas (cerca de 14,6 milhões de hectares de floresta foram “perdidos” na última década). A tudo isto associamse fenómenos como o aquecimento global da Terra e o derretimento dos glaciares (na última década a temperatura global aumentou 0,6ºC; o nível das águas do mar está a subir e fenómenos como o El Niño tornaram-se mais regulares e mais intensos). Ao nível da Saúde, ela está intimamente relacionada com o Ambiente na medida em que o modelo de desenvolvimento actual gera poluição e esta é a causa, em todo o Mundo, de mais de um bilião de pessoas a sofrer de doenças respiratórias. Neste campo, são motivos de preocupação a mortalidade infantil, a SIDA, a tuberculose, a malária, e outras doenças relacionadas com a poluição dos recursos hidrográficos e com más ou inexistentes condições de higiene (dados oficiais apontam para que onze milhões de crianças com menos de 5 anos morram todos os anos nos países em vias de desenvolvimento, e que 70% dessas mortes sejam causadas por diarreias, infecções respiratórias, malária, sarampo e subnutrição. Nos países mais pobres, anualmente, as mesmas fontes estimam que entre 29 No que respeita a este facto, segundo estimativas oficiais, cerca de 2/3 dos solos agrícolas estão afectados pela degradação. 30 Uma das medidas tomadas para tal é a definição de áreas naturais protegidas, ditas como património mundial. 15 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 cinco a seis milhões de pessoas morram devido a doenças transmitidas pela falta de qualidade da água ou poluição do ar). Assim, às medidas tomadas para reduzir ou eliminar o uso de determinadas substâncias prejudiciais ao ambiente, devem-se associar outras que promovam o acesso a água potável, higiene e ao sistema de saúde. Ainda neste ponto, torna-se necessário combater situações de pobreza extrema que milhões de pessoas enfrentam dia-a-dia (segundo dados oficiais, com menos de um euro por dia). Face ao exposto, e de um modo geral, os objectivos desta Cimeira, no intuito de alcançar o Desenvolvimento Sustentável, passavam por combater as situações de pobreza e promover a instrução por forma a ser possível enfrentar os desafios da globalização, promover padrões de produção e consumo não lesivos da Sustentabilidade, assegurar o acesso generalizado da população mundial a energia e água potável, combater os problemas de saúde devidos a poluição ambiental. Tratam-se pois de medidas que actuam ao nível dos cinco aspectos acima enunciados, sem esquecer as interacções entre eles e as disparidades a nível regional e local. Tal como na Cimeira do Rio, em Joanesburgo apelava-se à união da sociedade em geral por forma a alcançar um objectivo da Humanidade e esperava-se que os acordos e parcerias resultantes constituíssem um dos principais desfechos do evento: “At Johannesburg, Governments will agree on a common plan of action. But the most creative agents of change may well be partnerships- among Governments, private businesses, non-profit organizations, scholars and concerned citizens” 31 B) Conclusões Após 10 dias de discursos, debates e reuniões laterais, a Cimeira de Joanesburgo reafirmou o tónico da urgência e imperatividade de um Desenvolvimento Sustentável a nível mundial: “We commit ourselves to build a humane, equitable and caring global society cognizant of the need for human dignity for all (...) through our actions they (the children of the world) will inherit a world free of indignity and indecency occasioned by poverty, environmental degradation and patterns of unsustainable development. (…) we assume a collective responsibility our collective future, all of us, coming and mutually reinforcing pillars of sustainable development- economic development, social development and environmental protection- at local, national, regional and global levels.” 32 31 32 Kofi Annan (2002) Notas 2, 3 e 5 da Declaração de Joanesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável 16 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Os principais documentos resultantes da Cimeira são o Plano de Implementação (o qual contém objectivos e prazos de acção sobre as mais variadas matérias) e a Declaração Política (negociada ao mais alto nível). Através de ambos é reafirmada a necessidade de erradicação da pobreza, de alteração dos hábitos de produção e consumo e de protecção dos recursos naturais por forma a alcançar a Sustentabilidade; é reconhecido o risco de uma divisão cada vez maior entre países ricos e pobres, apelando a uma actuação conjunta que coloque a Humanidade acima dos interesses individuais; admite-se ainda que através da globalização, integrando os mercados e facilitando a circulação de capitais (e mesmo pessoas) por todo o mundo, surjam novos desafios à Sustentabilidade dado que os custos e benefícios daquele fenómeno são desigualmente distribuídos em prejuízo dos países em desenvolvimento; apela-se ao diálogo e cooperação, sublinhando a necessidade de uma actuação global que considere a diversidade cultural e promova a solidariedade humana (seja através da ajuda financeira, transferência de tecnologia ou de formação); afirma-se a urgência em efectivar o plano de actuação estabelecido na Agenda 21; apela-se à mudança de mentalidades dos decisores, por forma a que estes passem a considerar a dimensão internacional de políticas adoptadas a nível nacional (o melhor exemplo disso é o ambiente, dado que a poluição não reconhece fronteiras)33. De um modo geral, afirma-se a necessidade de promover um desenvolvimento, a nível mundial, que não exclua e do qual todos possam beneficiar, dos mais ricos aos mais pobres, e que não comprometa o futuro e capacidade de escolha da Humanidade. Em termos concretos, além dos pontos do WEHAB34, destacamos a aposta na erradicação da pobreza, através da intenção de criar um fundo de solidariedade mundial para o efeito e para promover o desenvolvimento social e humano nos países em desenvolvimento; encorajar e promover formas de produção e consumo sustentáveis; promover a instrução de todas as crianças independentemente do sexo (reafirmando objectivos antigos) por forma a que seja possível uma educação para a Sustentabilidade; promover e reforçar as medidas que possibilitem acordos institucionais a nível internacional, regional e local; ao nível das Nações Unidas, proceder à integração das dimensões económica, social e ambiental nas tarefas das comissões regionais da instituição; 33 34 Referido no artigo 4º do Plano de Implementação A separação que fazemos é fictícia dado que todas estas questões estão relacionadas. 17 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 estabeleceu-se como meta o ano de 2005 para a elaboração e implementação de estratégias que visem a Sustentabilidade a nível nacional. Tal como referido no ponto anterior, a actuação guiou-se pela WEHAB. Assim, no que respeita à Água e medidas sanitárias, foi acordada, até 2015, a redução para metade do número de pessoas que não têm acesso a água potável nem saneamento, e estabeleceu-se que até 2005 deviam ser elaborados projectos para a gestão eficiente da água. Das medidas previstas, destacamos o anúncio, pelos Estados Unidos, do investimento de 970 milhões de USD em projectos que promovam o alargamento no acesso a água própria para consumo, e a intenção da União Europeia em celebrar parcerias que permitam alcançar os objectivos propostos, em especial na Ásia Central e em África. Assumem assim importância as questões do acesso, disponibilidade e capacidade financeira das populações, na medida em que ter acesso a água potável pode revelar-se um luxo para o rendimento de muitas famílias. Relativamente à questão energética, o compromisso visava a expansão no acesso a serviços modernos de energia, a adopção de fontes de energia renováveis e limpas e a não utilização de subsídios para tipos de energia não compatíveis com a Sustentabilidade. Os Estados Unidos (700 milhões de USD) e a União Europeia (43 milhões de USD) comprometeram-se a participar em investimentos nesta área. Nesta temática, referiu-se a importância da consideração, nas políticas adoptadas e nos padrões de consumo, da necessidade de conservação e eficiência energética (podendo tal passar pela adopção das referidas energias limpas que não “agridam” o ambiente), da democratização no acesso a energias menos poluentes (em especial nas áreas rurais), da importância da investigação e desenvolvimento em busca de novas fontes de energia renováveis e amigas do ambiente. Foi também acordada a intenção de pressionar os países que ainda não o haviam feito, a ratificar o Protocolo de Quioto (o que se traduzirá no isolamento dos EUA como sendo o único país rico a não o fazer). Na Saúde, além do controlo e erradicação de doenças contagiosas (como a tuberculose, a SIDA e a malária), a redução das doenças por consumo de água imprópria e das doenças devidas à poluição levaram ao estabelecimento de uma data-limite (2020) para a abolição da produção e utilização de produtos químicos prejudiciais à saúde humana e ao ambiente, ao desenvolvimento de medidas de prevenção geral (em especial, a prevenção de 18 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 doenças e os melhoramentos ao nível das condições de higiene e no acesso a água potável), e à instrução em termos de planeamento familiar. Ao nível da Agricultura, o combate à desertificação, feito através da adopção da Convenção para o Combate à Desertificação, com impacto ao nível da melhoria das práticas agrícolas nas terras secas, é a principal medida. Para tal, os Estados Unidos previram investimentos (no montante de 90 milhões de USD) que promovessem a agricultura sustentável. No âmbito da produção agrícola, admitem-se duas situações genéricas: a agricultura de massa, tecnologicamente avançada e com fortes investimentos; e a agricultura de subsistência, muitas vezes para auto-consumo. Na medida em que a existência de ambas é condição fundamental para a alimentação da população mundial, por forma a reverter a tendência actual é necessária a introdução de reformas que combatam a má nutrição e fome, em especial em África. Em termos concretos, aponta-se a necessidade de aumentar a eficiência na utilização de água, de combater a degradação dos solos (evitando a sobre-exploração dos solos mais férteis), de promover actividades alternativas nas áreas rurais (um exemplo corrente no caso português é o chamado turismo rural), de eliminar os subsídios que distorçam o incentivo à eficiência produtiva e as barreiras que dificultam a troca (em especial a nível internacional), de promover e reforçar a construção de infra-estruturas capazes de combater a desertificação e isolamento das zonas rurais, de aplicar a investigação e desenvolvimento no aumento da produtividade agrícola. Relativamente à Biodiversidade, a sua protecção e gestão dos ecossistemas é assumida como da maior importância para o futuro da Humanidade. Em termos de medidas concretas destacamos a redução do ritmo de extinção de espécies até 2010; a adopção de regimes de pesca compatíveis com a natural renovação das espécies, restaurando os stocks de peixe, até 2015; a promoção, até 2010, do acesso dos países em desenvolvimento a alternativas aos produtos químicos lesivos da camada de ozono; a redução do abate ilegal de árvores que vai reduzindo o perímetro florestal mundial. Neste ponto, os Estados Unidos anunciaram um fundo de 53 milhões de USD para projectos de gestão florestal, entre 2002 e 2005. Nesta temática assume particular relevância a partilha de conhecimentos científicos no que respeita ao modo de funcionamento dos ecossistemas, a partilha de capacidades e tecnologias em termos de práticas produtivas. Em termos de mentalidades, destaca-se a consciencialização das relações entre economia e ambiente e da necessidade de erradicação 19 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 da pobreza por forma a superar os principais impedimentos à conservação e Sustentabilidade na utilização do meio ambiente. Também de particular importância e no plano da efectiva acção, de Joanesburgo resultaram iniciativas concretas de parcerias entre governos, grupos de cidadãos e empresários, e que visavam a implementação da Agenda 2135. Este tipo de parcerias são ditas como sendo do grupo II, isto é, não negociadas, voluntárias e acordadas directamente pelos diversos actores presentes. Através destas parcerias, são afectados à problemática do Desenvolvimento Sustentável mais recursos (segundo estimativas oficiais, através de 220 parcerias, estavam já acordados cerca de 235 milhões de USD e esperava-se que estes acordos fossem capazes de atrair mais investimentos que reforcem os esforços que promovam uma Sustentabilidade cada vez mais efectiva) e conhecimentos técnicos. Outra característica importante é o facto de estes acordos terem os mais variados objectivos no âmbito do WEHAB, complementando os programas governamentais. Por exemplo, ao nível da Energia, um grupo de nove grandes companhias eléctricas acordou promover projectos de energia sustentável em países em desenvolvimento. No entanto, o estabelecimento destas parcerias não foi unânime dado que diversas áreas da sociedade defendiam que através destes acordos os governos estariam a transferir responsabilidades suas para os privados (tais como o fornecimento de água potável) e tal teria efeitos perversos pelo facto de a actuação dos últimos não ser desinteressada mas sim adoptar uma lógica de lucro. Foram também reafirmados os objectivos e poderes da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável. Através dela procurou-se conferir a uma entidade imparcial, sob jurisdição das Nações Unidas, o poder de controlar objectivos, prazos e acordos no âmbito da promoção da Sustentabilidade. Esta Comissão havia sido criada na sequência da Cimeira do Rio mas a sua actuação revelou-se manifestamente limitada, dado que apenas previa que anualmente desse pareceres sobre determinadas subtemáticas. No pós-Joanesburgo, a Comissão passa a ter como funções chamar a atenção para as áreas mais problemáticas, promover a consistência, coerência, eficácia e efectiva 35 Uma característica diferenciadora entre a Cimeira da Terra e a de Joanesburgo é o facto de a última ter contado com uma maior participação de entidades empresariais, o que revelará uma maior atenção e preocupação pela problemática da Sustentabilidade. Ter-se-á ficado a dever a esta maior participação “nãopolítica” a obtenção de um número considerável de parcerias. 20 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 cooperação em todas as iniciativas e parcerias que se estabeleçam (dadas as parcerias estabelecidas na Cimeira e os montantes que elas disponibilizarão para esta problemática, esta função assume particular relevância no seio desta Comissão. E deste modo poderia rebater os críticos das parcerias), fazer o elo de ligação entre os resultados das principais conferências e promover o diálogo entre os diferentes parceiros, sejam eles governos, empresas, ONG’s, jovens, cientistas ou autoridades locais. Apesar de continuar a reunir-se anualmente, passam a estar previstas, quando tal se revele necessário, negociações ao longo de todo o ano, sobre situações concretas relacionadas com a Sustentabilidade. Em suma, procurou-se reconhecer a relação entre direitos humanos e ambiente, consagrando o direito à vida, de um modo digno e através de um desenvolvimento que a todos seja benéfico. C) Avaliação crítica das conclusões Nos documentos resultantes da Cimeira reafirma-se a urgência de um desenvolvimento capaz de promover a qualidade de vida a nível mundial sem que daí resulte uma excessiva utilização dos recursos ambientais e consequente incapacidade de renovação do meio. No entanto, o mesmo já havia sido acordado dez anos antes no Rio de Janeiro, daí que não seja de estranhar que o sentimento anterior à realização da Cimeira fosse de apreensão e frustração face aos resultados entretanto obtidos. No que concerne à Cimeira propriamente dita, o documento essencial é o Plano de Implementação, que se desenvolve ao longo de 153 parágrafos (e muitos sub-parágrafos). No entanto, e apesar da sua extensão e declaração de intenções, o Presidente do WorldWatch Institute considera-o fraco em metas e calendários. A isto acresce o facto de ser de difícil aplicação, visto não prever quaisquer penalizações para os não cumpridores. Assim, a corrente que reúne mais adeptos é a de que, no balanço final, Joanesburgo culminou num sentimento de fracasso e frustração, levando organizações nãogovernamentais de todo o mundo a expressar o seu desalento. Nas palavras de Francisco Ferreira, membro da direcção da Quercus- Associação Nacional de Conservação da Natureza (citado no Site do Jornal Público, acedido em 30/10/200236): “Confirmaram-se as 36 Sempre que nos referirmos ao Site do Jornal Público, a data de consulta é a acima indicada. Recorreremos a este expediente para todos as restantes referências análogas. 21 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 expectativas pessimistas. As decisões de Joanesburgo ficaram muito aquém das necessidades reais do planeta, quer a nível do Ambiente, quer a nível do Desenvolvimento”. “Charles Secrett, Director dos Amigos da Terra (uma prestigiada organização ambientalista internacional), considerou-a como «o pior acordo político que o mundo viu em décadas». Em comunicado datado de 4 de Setembro de 2002, a Liga para a Protecção da Natureza «não [pôde] deixar de fazer um balanço negativo dos resultados alcançados». Mesmo o ministro português do ambiente, Isaltino de Morais - que integrou a comitiva nacional - declarou ao diário «Público» que «a União Europeia não se pode sentir satisfeita com o resultado desta Cimeira.»” 37 Segundo o Jornal Público, organizações como a Greenpeace, a WWF (World Wildlife Fund for Nature) e a Oxfam, defenderam que “a Cimeira de Joanesburgo fica para a história como uma ocasião desperdiçada para levar energia aos dois mil milhões de pessoas que dela estão privadas e de lançar a revolução das energias renováveis, necessárias para proteger o clima”. No entanto, esta opinião não é partilhada por todos: “O Secretário-Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, declarou que a Cimeira «nos vai colocar num caminho que reduz a pobreza ao mesmo tempo que protege o ambiente, um caminho que funciona para todas as pessoas, ricas e pobres, hoje e amanhã».” 38 Citado no Jornal Público, o presidente da Comissão Europeia, Romano Prodi, lembra que no futuro teremos outras Cimeiras sobre Desenvolvimento Sustentável. “Estas Cimeiras dão uma direcção para um novo período de dez anos e, nesse sentido, a Cimeira de Joanesburgo foi um sucesso”. No entanto, parecem não restar dúvidas que este modelo de megacimeiras, com agendas demasiado vastas e abrangentes conduzem a uma overdose de negociações e concertações. Tal como Rui Nobre Gonçalves (2002) refere no Diário de Notícias: “a «Declaração de Joanesburgo» e o Plano de Acção limitam-se a reafirmar a importância que os líderes mundiais atribuem ao Desenvolvimento Sustentável (...)Primeiro, não havia nenhum objectivo concreto a alcançar. A esperança de conseguir a entrada em vigor do Protocolo de Quioto em simultâneo com a realização da Cimeira foi antecipadamente perdida (...)Segundo, a agenda era demasiado complexa e o número de participantes era excessivo. Como disse o primeiro-ministro da Dinamarca, não será com «megacimeiras» que se conseguirão aplicar medidas decisivas para o ambiente. Terceiro, o presidente dos EUA, a nação mais rica e mais poluidora do mundo, não se deslocou a Joanesburgo.” 37 38 Retirado do site Naturlink, acedido em 16/11/2002 Idem 22 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Em nosso entender, o não regressar dos Estados Unidos ao multilateralismo, tal como desejado por todos, revela-se o maior revés aos intentos da Cimeira. Deste modo, Joanesburgo não conseguiu, como se propunha, reforçar o acordado em Quioto, cinco anos antes. Ao invés, assistiu-se (e ainda se assiste) a um processo de esvaziamento do acordo, transformando-o num mero tratado entre alguns dos inúmeros países do globo, deixando de fora uma grande parte da população mundial e também dos causadores da poluição. Este facto, por si só, permite classificar os resultados da Cimeira como, no mínimo, limitados, na medida em que Desenvolvimento Sustentável é um conceito que se aplica à Humanidade, não conhecendo fronteiras políticas, e uma actuação não concertada a nível mundial dificilmente poderá ter sucesso. Em termos teóricos, e face ao exposto no Capítulo II, podemos dizer que, na actualidade, a teoria da Sustentabilidade Fraca, pouca ou nenhuma aderência terá à realidade na medida em que se assume a urgência de preservar determinados recursos escassos e não renováveis sob pena de, sem eles, o futuro da Humanidade estar comprometido. É assim assumida a especificidade do que se designa por capital natural, nomeadamente no que respeita à irreversibilidade na sua utilização, e nesse sentido não é razoável assumir a hipótese da substituibilidade. Na medida em que na Cimeira de Joanesburgo não foi preconizada uma avaliação monetária do capital natural39, podemos deduzir que a aplicabilidade da teoria da Escola de Londres se restringe à consideração do capital natural em termos fisícos o que é em tudo comum à teoria da Sustentabilidade Forte. Assim, e nos dias que correm, preconiza-se um Desenvolvimento Sustentável que compatibilize o crescimento económico com a preservação do Meio Ambiente e com a promoção das condições de vida sociais e humanas. Por forma a alcançar tal, estabelecemse limites acima dos quais não se deve poluir, pescar e cultivar, enfim, limites para além dos quais a Sustentabilidade fica em risco. Isto em tudo corrobora a teoria da Sustentabilidade Forte na medida em que esta defende que existe uma componente do capital natural que é crítica à sobrevivência, o capital crítico40. 39 40 Apenas houve o anúncio da disponibilização de verbas para projectos que previam medidas para a promoção da Sustentabilidade, Como contraponto, podemos indicar a utilização de certificados como uma forma de quantificação da poluição, através do sistema de preços, e deste modo verifica-se a aplicabilidade da Escola de Londres na sua vertente mais próxima da Sustentabilidade Fraca. 23 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 Em suma, quer a teoria quer a Cimeira afirmam a necessidade de encontrar um ritmo de crescimento económico que não comprometa as Sustentabilidades actual e futura. 24 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 IV. CONCLUSÃO Apesar de todas as limitações apontadas, é prematuro fazer um balanço definitivo da Cimeira de Joanesburgo dada a sua proximidade temporal: para tal bastará recordar a Cimeira do Rio de Janeiro em 1992 que na altura deixou uma imagem de optimismo mas que revelou pouco mais do que intenções que demoram a passar do papel à prática. No entanto, não podemos deixar passar outros dez anos para depois constatarmos que a situação se encontra na mesma ou ainda pior. Em Joanesburgo era sobretudo necessário enveredar por um novo rumo: aquele “deveria ter sido o palco dos compromissos, dos calendários, da partilha de recursos; por outras palavras, do «mãos-àobra»”, tal como referido no site Naturlink. Citado no Jornal Público, Romano Prodi afirmou que “o resultado desta conferência é satisfatório, o problema agora é saber como o vamos pôr em prática. Não podemos cair no mesmo erro do Rio onde avançámos com palavras fortes mas lentas para aplicar”. Decerto haverá registo de vitórias alcançadas pelo Homem ao longo dos anos em prol do ambiente e da Sustentabilidade. Mas as tragédias e as nefastas consequências sobre o meio que o rodeia são mais que muitas: tome-se por exemplo o relatório divulgado pelo Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas41 em 2001, segundo o qual existem provas seguras de que a maior parte do aquecimento observado nos últimos 50 anos é atribuível a actividades humanas. E o desastre ecológico mais recente passa-se aqui bem perto de nós: o afundar do petroleiro Prestige e o mais que provável derrame das toneladas de fuelóleo que transportava (fazendo recordar o sucedido em 1989 com um petroleiro de nome Exxon Valdez). É urgente passar das intenções à prática. Os acordos alcançados são importantes: mas é igualmente importante a implementação de instrumentos que promovam a acção, os mecanismos de verificação de cumprimento, assim como as respectivas sanções. A mudança não está apenas nas mãos de autoridades a nível mundial. A sociedade civil assume um papel cada vez mais relevante: a participação de cidadãos já não é simplesmente um acessório. Afinal de contas, só temos um mundo e a economia está cada 41 O PIAC é um grupo formado pelas Nações Unidas de centenas de cientistas do clima (retirado do site Naturlink, acedido em 16/11/2002). 25 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 vez mais globalizada. Do mesmo modo, o papel das autoridades locais é insubstituível na transição para uma sociedade sustentável. Como refere a própria Agenda 21, “os poderes locais criam, dirigem e mantêm infraestruturas económicas, sociais e ambientais, supervisionam processos de planeamento, estabelecem políticas e normas de ambiente locais e participam na implementação nacional e subnacional de políticas ecológicas. Como nível de governação mais próximo das pessoas, eles desempenham um papel vital na educação, mobilizando e respondendo ao público para promover o Desenvolvimento Sustentável”. Deste modo, concluímos que a Humanidade não pode perder tantas oportunidades de dar início ao verdadeiro rumo para se alcançar o Desenvolvimento Sustentável. Já se passaram 30 anos desde que o primeiro alarme soou em Estocolmo... é imperativo passar das intenções às acções. 26 Desenvolvimento Sustentável e a Cimeira de Joanesburgo de 2002 V. Bibliografia Annan, Kofi (2002), Towards a Sustainable Future http://www.johannesburgsummit.org/html/media_info/speeches/sg_speech_amnh.pdf [acedido em 30/10/2002] Arrow, Kenneth J. e Fischer, Anthony C. (1974), “Environmental Preservation, Uncertainty, and Irreversibility” in Wallace E. Oates (ed.) 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