Madagascar © Chan Hong Men Pierrot A AFD E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A serviço do crescimento equilibrado UM DESAFIO NO ÂMAGO DA MISSÃO DA AFD Ao longo dos últimos vinte anos, as agências de desenvolvimento colocaram a exigência do desenvolvimento mais sustentável no cerne de suas diretrizes estratégicas. Foi o caso da Agência Francesa de Desenvolvimento que, atenta às condições de desenvolvimento em longo prazo de seus parceiros, se interessa há muito pela pauta socioambiental. © Irène Alvarez Uma primeira etapa tratou de limitar os impactos negativos dos projetos financiados, tanto sobre o planeta como sobre a vida das populações (medidas de mitigação e compensação). Hoje, as três dimensões do desenvolvimento sustentável – econômica, social e ambiental – são consideradas simultaneamente e não isolada ou sequencialmente, e já na fase mais inicial possível dos projetos. O rio Níger, um capital natural a ser preservado DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: TANTO UM PROCESSO QUANTO UM CONCEITO O conceito de desenvolvimento sustentável contempla compromissos de diversos tipos em matéria de proteção ambiental, inclusão social e geração sustentável de renda e emprego. Para alguns, também é a emergência de um novo modelo de desenvolvimento. Embora não sejam novas, essas ideias não estão nem um pouco desgastadas, tamanhas a diversidade dos pontos de vista e a riqueza dos debates controversos sobre a sua tradução em políticas públicas, estratégias empresariais e projetos de campo. Vinte anos depois da Cúpula da Terra da Rio 92 que o consagrou, o desenvolvimento sustentável segue sendo um desafio coletivo, apesar dos esforços ensejados. Não é de surpreender: o desenvolvimento sustentável pode ser interpretado como uma tentativa de administrar a crescente complexidade do mundo, onde novos desafios planetários, como as mudanças climáticas, a preservação da biodiversidade ou a depleção das energias fósseis e dos recursos naturais, vieram se entremear com os desafios locais, relacionados com a pobreza e as desigualdades sociais, ou até mesmo agravá-los. Gerenciar a complexidade é sinônimo de negociações e arbitragens permanentes entre interesse local e global e entre curto, médio e longo prazo. Paralelamente a AFD desenvolveu suas atividades nas áreas onde são mais prementes os desafios de equilíbrio planetário e de longo prazo. Assim, a luta contra as mudanças climáticas se tornou um dos pilares da sua atuação, a ponto de posicioná-la entre os principais financiadores públicos internacionais do clima, com uma média de 2,2 bilhões de euros por ano, no período 2008-2011. Mais modesta em volume, a atividade em prol da biodiversidade também cresceu, alcançando hoje cerca de € 100 milhões anuais. Mas o desenvolvimento sustentável não se limita aos desafios globais apontados pelos convênios assinados no Rio em 1992 (luta contra as mudanças climáticas e preservação da biodiversidade). Também diz respeito à luta contra a desertificação e, mais amplamente, à preservação do capital natural, ao manejo sustentável das florestas e dos recursos hídricos, ou ainda, à qualidade dos solos. Da mesma forma, as suas vertentes sociais, em especial em torno da redução das desigualdades, ocupam hoje um espaço maior. O PLANO DE DESPOLUIÇÃO DA LAGUNA DE NADOR, NO MARROCOS: UMA ABORDAGEM INOVADORA A cidade de Nador ameaça, com os seus efluentes, a maior laguna do litoral mediterrâneo. Em complemento de um programa de investimentos, foi lançado um plano de despoluição e proteção da laguna, inspirado nos “contratos de baía” franceses, que recebe o apoio da AFD, do FFEM e da Fundação Mohammed VI. Esse instrumento participativo, que reúne os diferentes atores (políticos, gestores de serviços públicos, construtoras, indústrias, pescadores, sociedade civil...) se tornou peçachave para pôr em coerência os papeis de cada um e coadministrar os desafios ambientais. DADOS DE SATÉLITE PARA MONITORAR A COBERTURA FLORESTAL © Bruno Barbey – Magnum photos As imagens de satélite são fundamentais na elaboração, na execução e no monitoramento das políticas de manejo sustentável das florestas e para o acesso aos financiamentos de apoio à redução das emissões geradas pelo desmatamento e a degradação das florestas (REDD+). Com o apoio da AFD, foi iniciado, em 2010, um ambicioso programa de disponibilização gratuita de dados de satélites para o monitoramento da cobertura florestal dos países da África central. O acordo foi negociado com a EADS-Astrium, acionista majoritário da Spot Image. Um programa de fortalecimento de capacidades, cofinanciado com o FFEM, complementa o acordo. Vilarejo de Koizo, Burkina Faso – Mulheres carregando água De ano em ano, o imperativo de desenvolvimento sustentável vem estruturando as operações da AFD em todos os países onde atua. Nos países emergentes, fundamenta o seu mandato de “crescimento verde e solidário”. Em 2011, foram contratados cerca de € 3,8 bilhões em financiamentos relacionados com essa temática nos países em desenvolvimento, dos quais 300 milhões em benefício da agricultura e do desenvolvimento rural sustentáveis, mais de 700 milhões para água e saneamento, cerca de 120 milhões para a educação, 1,7 bilhão com o planejamento territorial e urbano, ou ainda 630 milhões para a energia sustentável. Todavia, não existe metodologia em nível internacional para medir a parte do fomento que constitui uma contribuição para o desenvolvimento sustentável, tendo este conceito diversas acepções. O desenvolvimento sustentável lança mão de todo o leque dos instrumentos financeiros de fomento, conforme a natureza das atividades financiadas e do grau de desenvolvimento dos países. As subvenções, por exemplo, são preferidas para proteger e valorizar a biodiversidade, acompanhar as evoluções das políticas públicas, subsidiar o desenvolvimento humano ou apoiar projetos inovadores desenvolvidos pelas ONGs, em especial nos países mais pobres. Subvenções ou financiamentos com taxas de juros subsidiadas apoiam os projetos de agroecologia ou manejo da água. Preferem-se empréstimos com condições pouco ou não subsidiadas para projetos de eficiência energética, mobilidade urbana ou ainda, linhas de credito, junto a bancos locais, focalizadas em questões ambientais ou Responsabilidade Socioambiental. Os projetos inovadores que têm impacto positivo para o meio ambiente mundial podem ser beneficiados com o apoio do Fundo Francês para o Meio Ambiente Mundial (FFEM), no intuito de possibilitar a sua reprodução em escala maior. © Jean Gaumy – Magnum photos UMA EXPERIÊNCIA DE CAMPO QUE CONVOCA TODOS OS INSTRUMENTOS FINANCEIROS A AFD tem uma experiência diversificada no financiamento de programas de desenvolvimento sustentável. Nos países mais pobres, a relação entre meio ambiente, desenvolvimento e inclusão social faz mais sentido ainda na medida em que as economias e as condições de vida das populações são altamente dependentes dos recursos naturais. Tomohon, Indonésia – Empresa de aproveitamento geotérmico RESPOSTAS DIFERENTES E PARTICIPATIVAS AFD © Jean-Pierre Barral Através da sua presença, a AFD procura enriquecer e multiplicar as maneiras de pensar e agir, com uma atenção especial dedicada aos desafios de longo prazo e à inovação nos seus modos de ação. A Velha Déli, Índia – Um exemplo do necessário controle do desenvolvimento das cidades do Sul CIDADES E TERRITÓRIOS SUSTENTÁVEIS O desenvolvimento urbano ilustra as abordagens globais promovidas pela AFD. O crescimento das cidades é um dos maiores desafios para as próximas décadas, resultando da combinação, até então inédita, de um êxodo rural maciço e um elevado crescimento demográfico. As cidades do Sul deverão receber dois bilhões de moradores adicionais, até 2030. Metade dos espaços urbanos necessários ainda não é edificada. Por outro lado, para atender a necessidade de aproximação do poder político e das populações, está se generalizando a descentralização institucional e financeira. A relevância das competências atribuídas à esfera local, para administrar serviços essenciais, como também planejar e organizar cidades e territórios, faz dos governos subnacionais atores-chaves do desenvolvimento sustentável, de agora em diante. Os territórios urbanos concentram a maior parte das produções e constituem importantes polos de emprego, inovação e intercâmbio. Contudo, o crescimento das cidades, muitas vezes, envolve exclusões sociais e tensões ambientais. Ao passo que uma urbanização bem planejada é um formidável vetor de desenvolvimento econômico e de redução das desigualdades, o seu controle insuficiente, pelo contrário, pode ter consequências dramáticas (pobreza, criminalidade, poluição). O apoio aos governos subnacionais é uma diretriz fulcral na atuação da AFD em prol do desenvolvimento sustentável. Ao lado dos seus parceiros, a AFD promove uma abordagem integrada das diferentes funções urbanas: morar, circular, trabalhar, consumir, sobrepujando dessa forma a abordagem setorial tradicional, menos adequada para propiciar a coerência em matéria territorial. A experiência da AFD comprova que não existe marco conceitual incontestável e universal para o desenvolvimento sustentável. Este se aparenta a um enfoque em movimento permanente, amparado em um processo social, político e institucional. Passa por um envolvimento maior dos diversos atores nos processos, ao Norte como ao Sul, nacionais como locais, públicos como privados ou das ONGs. A abertura de espaços de debate sobre as mudanças de modelos nas suas dimensões ambiental, econômica e social, alavanca um “desenvolvimento mais sustentável”. VALORIZAÇÃO DAS ÁREAS IRRIGADAS DO RIO SENEGAL O Senegal é altamente dependente, no tocante às suas necessidades alimentares, importando 80% do arroz consumido. O planejamento sustentável do potencial hidroagrícola do vale do rio Senegal (240.000 hectares, sendo apenas 60.000 aproveitados) pode vencer os desafios de segurança alimentar, bem como da luta contra a pobreza. A AFD está investindo e acompanhando as evoluções institucionais necessárias para o bom manejo das águas, a regularização fundiária, a estruturação dos arranjos produtivos e a sua autonomia financeira, a coordenação dos atores, a manutenção e perenização das infraestruturas, e a diversificação e intensificação da agricultura. DESENVOLVER A GERAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA EM OLKARIA (QUÊNIA) Para atender a demanda de energia, o Quênia é obrigado a acionar a sua geração térmica de emergência, com custo proibitivo. Dependente das importações para as energias fósseis, o país pretende instalar 5.000 MW adicionais, através da geração geotérmica, até 2030. A AFD apoia este setor há vários anos, atuando junto à entidade pública Geothermal Development Company (GDC), responsável pela operação e comercialização de vapor, e cofinanciando a instalação de 280 MW de capacidade de geração adicionais em Olkaria, no vale do Rift. © Thomas Dworzak – Magnum photos MEDELLÍN, TRANSFORMAÇÃO SUSTENTÁVEL DE UMA CIDADE E SUA ÁREA METROPOLITANA Com 3,8 milhões de habitantes, Medellín é a segunda maior metrópole da Colômbia. Durante muitos anos, seus bairros carentes foram o palco de grande violência criminal, social e simbólica. Para enfrentá-la, as autoridades municipais definiram um plano de desenvolvimento que visava instaurar uma política proativa e simultânea de investimentos pesados em todos os setores, nos bairros mais pobres. A AFD está acompanhando essa prática de “urbanismo social”, quando apoia o Projeto urbano integral (PUI), na zona centro-leste da cidade. Medellín, Colômbia – Vista para o teleférico “Metrocable” MOBILIZAR OS BANCOS LOCAIS E O SETOR PRIVADO PARA O CRESCIMENTO VERDE NA CHINA O Governo chinês adotou uma política voluntarista de redução da intensidade energética. A AFD está acompanhando esse esforço, ao conceder linhas de crédito a bancos locais, para investimentos de conservação de energia: recuperação de calor, melhora dos rendimentos energéticos, eficiência energética na moradia, energia renovável. Além disso, um programa de fortalecimento das competências, cofinanciado pelos bancos parceiros e o FFEM, capacitou cerca de 200 bancários chineses, e divulgou, em grande escala, um “guia de auxílio ao financiamento verde”. MAURÍCIO, ILHA SUSTENTÁVEL Pequeno país insular, com a economia amplamente baseada no turismo, Maurício é especialmente vulnerável à degradação do meio ambiente. Cientes do desafio, as autoridades lançaram, em 2008, o projeto “Maurício, Ilha Sustentável”, para promover a sinergia entre as diversas políticas setoriais e maior atenção às questões ambientais. Desde 2010, AFD oferece seu apoio financeiro e técnico no planejamento de projetos inovadores, no fortalecimento das competências, no aprimoramento das políticas públicas e na divulgação mais ampla de práticas e tecnologias sóbrias. A economia moçambicana se sustenta principalmente nos seus recursos naturais: agricultura, florestas, pesca, hidroeletricidade, gás natural, minérios, etc. Um estudo desenvolvido pelo CERNA e a AFD, com o apoio do Banco Mundial, apontou que o custo das degradações ambientais geradas pelo modo de desenvolvimento do país é equivalente ao crescimento anual do PIB (7%). Além disso, a destruição de recursos naturais (florestas) e a exploração de recursos não renováveis (gás, minérios) vão corroendo a riqueza, no ritmo de 15%, a cada seis anos. O estudo desencadeou um amplo debate sobre a necessária revisão do projeto de sociedade do Moçambique. © Fabien Dubessay VALORIZAR O CAPITAL NATURAL NO MOÇAMBIQUE Preservação da biodiversidade em Maurício. Rizicultura no Camboja Estabelecimento público, a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) atua há mais de setenta anos no combate à pobreza e na promoção do desenvolvimento nos países do Sul e na França ultramarina. É executora da política definida pelo Governo francês. Presente em quatro continentes, onde dispõe de uma rede de 70 agências e escritórios de representação no mundo, sendo nove na França ultramarina e um em Bruxelas, a AFD financia e acompanha projetos que melhoram as condições de vida das populações, fomentam o crescimento econômico e protegem o planeta: escolarização, saúde materna, apoio ao agricultor e à pequena empresa, abastecimento de água, preservação da floresta tropical, luta contra o aquecimento do planeta... AFD © Éric Beugnot AGÊNCIA FRANCESA DE DESENVOLVIMENTO (AFD) 5 rue Roland Barthes 75598 Paris Cedex 12 – France Tel: +33 (0)1 5344 3131 Fax: +33 (0)1 4487 9939 www.afd.fr Em 2011, a AFD dedicou cerca de € 6,9 bilhões ao financiamento de ações nos países em desenvolvimento e em benefício da França ultramarina, contribuindo assim, e em especial, para a escolarização de quatro milhões de crianças no ensino fundamental e dois milhões no ensino médio, e para a melhora do abastecimento de água potável para 1,53 milhão de pessoas. No mesmo ano, os projetos de eficiência energética gerarão uma economia de cerca de 3,8 milhões de toneladas de equivalente CO2 por ano. Subsidiária da AFD, a Proparco tem como missão promover o investimento privado em prol do crescimento, do desenvolvimento sustentável e do alcance dos objetivos do milênio, nos países emergentes e em desenvolvimento. Oferece financiamentos capazes de atender às necessidades específicas dos investidores no setor produtivo, nos sistemas financeiros, nas infraestruturas e no capital-investimento. FFEM www.ffem.fr O Fundo Francês para o Meio Ambiente Mundial é um fundo público bilateral, criado em 1994 pelo Governo francês, após a Conferência de Rio 92. Tem como objetivo promover a proteção do meio ambiente mundial, através de projetos de desenvolvimento sustentável nos países em desenvolvimento. O FFEM apoia realizações concretas nos países beneficiários, com um enfoque de aprendizado e testando abordagens inovadoras ou exemplares. A impressão dessa publicação, com tintas vegetais e sobre papel PEFC™ (manejo sustentável das florestas), respeitou o meio ambiente. Execução: Planet 7 – Junho de 2012 www.proparco.fr