ATIVIDADE DE FORRAGEAMENTO POR CASTAS SEXUADAS EM NINHOS DE
Trachymyrmex fuscus EMEY (FORMICIDAE: ATTINI)
João Paulo Ribeiro-Oliveira1; Lucas.P. Nunes1; Robson Greguer Ferreira1; Márcio da Silva Araújo2
1
Acadêmicos do Curso de Agronomia, UnU Ipameri - UEG.
2
Orientador, docente dos Cursos de Agronomia e Engenharia Florestal, UnU Ipameri – UEG.
RESUMO
Colônias de Trachymyrmex fuscus são comumentes encontradas na região sudeste de Goiás.
Este trabalho teve como objetivo principal, registrar um comportamento atípico de
forrageamento em uma colônia de Trachymyrmex fusus, localizado em área de cerrado do
campus da Unidade Universitária de Ipameri-UEG, Ipameri, GO. Nesta colônia foi verificada
a atividade de forrageamento sendo executada somente por castas sexuadas (com e sem asas).
Durante o mês de novembro de 2007, investigou-se o ritmo diário de forrageamento dessa
colônia, comparando o padrão de forrageamento dela, com outra dessa mesma espécie, onde
tal atividade era regularmente executada por castas assexuadas. Posteriormente ao estudo,
ambas as colônias foram escavadas para caracterização das mesmas (porte dos ninhos,
composição populacional e dimensionamento da massa de fungo simbionte).
Palavras-chave: Formicídae, ritmo de forrageamento, polietismo, polimorfismo.
Introdução
O gênero Trachymyrmex é um dos representantes da tribo Attini (cultivadoras
de fungo), que ainda apresenta os seguintes gêneros: Atta, Acromyrmex, Apterostigma,
Cyphomyrmex, Mycetophylax, Mycocepurus, Myrmicocrypta, Mycetosoritis, Mycetarotes,
Sericomyrmex e Pseudoatta (=Acromyrmex) (HÖLLDOBLER & WILSON, 1990), incluídas
entre as mais de 10.000 espécies conhecidas até então (FERNANDES, 2003).
Diferentemente dos principais representantes do grupo, as verdadeiras formigas
cortadeiras Atta e Acromyrmex (que utilizam folhas e outros materiais vegetais frescas para
cultivo de seu fungo simbionte), as espécies do gênero Trachymyrmex utilizam, principalmente,
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matéria orgânica morta, fezes e carcaças de insetos para o mesmo fim (HÖLLDOBLER &
WILSON, 1990).
Ritmo diário de forrageamento de T. fuscus em Minas Gerais e São Paulo, foi
investigado por Araújo et al. (2002), Moreira et al. (2002), respectivamene. Entretanto, em
nenhum desses trabalhos, é mencionado a execução de atividade forrageadora por castas
assexuadas. Vale ressaltar que fêmeas desaladas de Acromyrmex subterraneus subterraneus e
Acromyrmex niger desempenhando atividades de forrageamento em colônias mantidas em
laboratório já foi mencionado por Della Lucia et al. (1993), entretanto, essa atividade era
esporádica e, quem, de fato executava tal atividade eram as operárias das colônias.
Assim, o objetivo deste trabalho foi relatar este comportamento atípico de
forrageamento por fêmeas assexuadas de T. fuscus, bem com caracterizá-lo.
Material e Métodos
O evento atípico, (castas sexuadas forrageando), foi acompanhado semanalmente,
durante três ciclos consecutivos de 24 horas, no mês de (novembro de 2007) e, comparando
ao ritmo diário de forrageamento de uma colônia onde somente castas assexuadas (operárias)
executavam o forrageamento. As colônias localizavam-se no Campus da Universidade
Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Ipameri, Ipameri, GO (Lat. 17043’ 19’’S, Long.
480 09’ 35’’ W, Alt. 773,0 m). A vegetação predominante da área nas proximidades dos ninhos
era parca, o que facilitou a visualização das operárias e formas sexuadas forrageadoras.
Terminado o estudo da atividade forrageadora, ambos os ninhos das colônias
estudadas foram escavadas para sua caracterização. Tal escavação foi realizada com uso de
enxadão, onde gradativamente eram expostos os canais e panelas, objetivando coletar todo o
material presente nas câmaras e canais (fungo, formas jovens e adultos das colônias).
Resultados e Discussão
O fato de essas colônias possuírem pequeno número de operárias e formas sexuadas
forrageadoras dificulta a visualização de jornadas de trabalho bem definidas, como verificado
por Araújo et al. (2004). Entretanto, picos de forrageamento foram verificados. O horário de
execução da atividade forrageadora em ambas as colônias foi praticamente o mesmo,
entretanto, com menor intensidade, na colônia atípica. De modo geral, iniciava-se das 14:00
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as 21:00 horas; e, das 6:00 as 10: 00 h. As castas sexuadas apresentavam picos de
forrageamento predominantemente entre 18:00 e 21:00 h e entre 7:00 e 8:00 h (Figura 1).
Condições climáticas típicas do mês de novembro na região em estudo (tempo
nublado alternado com insolação direta na colônia) podem ter contribuído para o fato das
formigas terem apresentado atividade forrageadora mesmo a pleno sol, fato esse, já retratado
para essa espécie, por Araújo et al. (2002). Tal como verificado por esses mesmos autores, o
material vegetal transportado pelas operárias era fragmentos vegetais desprendidos de plantas
Fluxo de formigas forrageadoras / 10 minutos
já secos e, eventualmente, plântulas.
70
60
50
Atividade forrageadora executada por operárias
Atividade forrageadora executada por fêmeas
40
30
20
10
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Horário
Figura 1. Ritmo diário de forrageamento de colônias de Trachymyrmex fuscus. Ipameri, GO,
em setembro de 2007.
Terminado o estudo da atividade forrageadora, ambos os ninhos das colônias
estudadas foram escavadas para sua caracterização. A colônia atípica possuía 466 indivíduos
(cinco castas assexuadas, 432 castas sexuadas ápteras + 29 aladas, distribuídos em uma massa
de fungo medindo em torno de 0,7 L); Já a típica apresentava 728 indivíduos (719 operárias
assexuadas e nove formas sexuadas ápteras, distribuídos em massa de fungo medindo em
torno de 1,1 L).
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A verificação de larvas e pupas de operárias sexuadas (45 e 43, respectivamente) na
massa de fungo da referida colônia atípica, bem como a visível incorporação de substrato
vegetal fresco na massa de fungo, e inexpressivo número de operárias (5), indicaram, também,
que essas castas sexuadas desempenham atividades relevantes no interior da colônia como
cuidado de fungo e de formas jovens, garantindo assim sua sobrevivência, até provável
restabelecimento de população de operárias assexuadas.
Conclusões
O ritmo diário de forrageamento das colônias foi similar. Entretanto, as castas
sexuadas forragearam com menor intensidade. A Presença de larvas e pupas de operárias
sexuadas na massa de fungo da referida colônia atípica, bem como a visível incorporação de
substrato vegetal fresco na massa de fungo, e inexpressivo número de operárias, sugerem,
também, que essas fêmeas desempenhavam atividades comumente executadas por operárias,
como cuidado da prole e do fungo, garantindo assim sua sobrevivência, até provável
restabelecimento de população de operárias.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, M.S.; DELLA LUCIA, T.M.C.; MAYHÉ-NUNNES, A. J. Caracterização de ninhos e
atividade forrageadora de Trachymyrmex fuscus Emery (Hymenoptera: Formicidae)em
plantio de eucalipto. Revista Brasileira de Zoologia, v. 19, p. 419-427, 2002.
ARAÚJO, M.S.; DELLA LUCIA, T.M.C.; PICANÇO, M.C. Impacto da queima da palhada da
cana-de-açúcar no ritmo de forrageamento de Atta bisphaerica Forel (Hymenoptera,
Formicidae). Revista Brasileira de Zoologia, v. 21, p. 33-38, 2004.
FERNANDES, W.D. Biodiversidade de formigas no pantanal sul-matogrossense. Anais...,
XVI Simpósio de Mirmecologia, Florianópolis, 2003, p.7-11.
DELLA LUCIA, T.M.C.; FOWLER, H.G.; ARAÚJO, M.S. Castas de formigas cortadeiras.
p. 43-53. In: Della Lucia, T.M.C. (ed.) As formigas cortadeiras. Viçosa: Folha de
Viçosa, 1993, 262p.
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HÖLLDOBLER, B.; WILSON, E. O. The ants. Cambridge: Harvard University Press, 1990.
732p.
MOREIRA, A .A. ; BUENO, O. C. ; BUENO, F.C. ; OLIVEIRA, C.G. ; SILVA, A.T. ;
DINIZ, E.A. Padrão de atividade de forrageamento de Trachymyrmex fuscus
(Hymenoptera: Formicidae) em área degradada. In: Resumos...19º Congresso Brasileiro
de Entomologia, 2002, Manaus, v. 1. p. 196-196.
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