PESCANDO IDÉIAS: AS COLÔNIAS DE PESCADORES ENQUANTO
ESPAÇO DE EDUCAÇÃO POLÍTICA
Sérgio Cardoso de Moraes
PPGED/UFRN
Nos registros que conhecemos acerca das atividades extrativistas desenvolvidos pelo
homem, a pesca encontra-se dentre as primeiras. Desde a fundação das colônias de pescadores, sob
a tutela do Estado, no início do século XX, os pescadores artesanais estiveram sob o controle e
dominação política de órgãos governamentais. A partir da promulgação da Constituição Federal de
1988, os pescadores artesanais conquistaram avanços no que tange aos direitos sociais e políticos,
quando as colônias de pescadores, através do artigo 8º foram equiparadas aos sindicatos de
trabalhadores rurais, recebendo a configuração sindical.
A partir de um estudo de caso, compreendendo este período que apresenta uma nova
configuração para as colônias, estamos desenvolvendo uma pesquisa na colônia de pescadores Z-03
do município do Rio do Fogo, litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte, buscando analisar
nas relações entre os pescadores artesanais e sua entidade representativa, as orientações educativas a
partir das práxis empreendidas no caminho traçado pela colônia para desenvolver suas atividades
sindicais de defesa dos direitos e interesses dos pescadores artesanais.
As primeiras colônias de pescadores do Brasil foram fundadas a partir de 1919, e foi
levado a cabo pela Marinha de Guerra. Dois grandes fatores contribuíram para essa investida do
Estado: primeiro, o país começou o século XX importando peixes, apesar de possuir um vasto
litoral e uma diversidade de águas interiores; segundo, após a primeira guerra mundial, aumentou o
interesse do Estado em defender a costa brasileira. O discurso instituído para fundar as colônias
baseou-se na defesa nacional, pois ninguém melhor do que os pescadores, empiricamente
conhecera os “segredos” do mar. O lema adotado pela Marinha para a fundação das colônias de
pescadores foi: Pátria e Dever, evidenciando o pensamento positivista.
O primeiro estatuto das colônias de pescadores, data de 1º de janeiro de 1923,
assinado sob a forma de aviso, proveniente da Marinha. As colônias eram definidas como
agrupamento de pescadores ou agregados associativos. Para poder desenvolver a atividade
pesqueira os pescadores eram obrigados a se matricular nas colônias.
Em 1920 foi criada a Confederação dos Pescadores do Brasil. Até então, as relações
instituídas entre pescadores e Estado se caracterizavam pelo paternalismo e pelo assistencialismo.
No processo de “conquista” da confiança dos pescadores, o Estado prestou serviços gratuitos em
embarcações, doou redes, ofereceu serviços de saúde, além de ter criado algumas escolas para os
filhos dos pescadores, denominadas de Escoteiros do Mar, com finalidade de militarização e
treinamento para os jovens, além do cultivo ao civismo.
Com a instituição do Estado Novo, na era Vargas, a organização dos pescadores
passou por algumas mudanças. Através do decreto nº 23.134/33 foi criada a Divisão de Caça e
Pesca, cujo objetivo seria gerenciar a pesca no país. Os pescadores deixaram de estar subordinados
ao Ministério da Marinha e passaram para controle do Ministério da Agricultura. Este, elaborou o
primeiro Código de Pesca em janeiro de 1934, subordinando os pescadores à Divisão de Caça e
Pesca. Em meio ao surgimento dos primeiros sindicatos de trabalhadores, predominantemente
urbanos, as relações entre os pescadores e o Estado assumiram diferentes configurações daquela do
período de sua fundação.
Com o advento da segunda guerra mundial (1939-1945), novas mudanças são
introduzidas na organização dos pescadores artesanais. Através do Decreto-Lei nº 4.890 de outubro
de 1942, foi transferida a subordinação dos pescadores do Ministério da Agricultura para o da
Marinha. Na década de sessenta, foi criada a Superintendência do Desenvolvimento da Pesca –
SUDEPE, sendo extinta a Divisão de Caça e Pesca. O novo órgão teve como finalidade a promoção,
desenvolvimento e fiscalização da pesca. Com o golpe militar (1964), as relações entre o Estado e
os movimentos sociais, de um modo geral, foram cortadas culminando com fechamento dos
sindicatos. O novo Código de pesca foi instituído, em pleno AI-5 do regime militar, através do
Decreto nº 221 de 28 de fevereiro de 1967, estabelecendo as normas para o exercício da atividade
da pesca. Apesar de vários projetos de lei estarem tramitando no Congresso Nacional, é esse decreto
que ainda vigora na atualidade.
Ressaltamos que no final da década de sessenta, o Estado incentivou a implantação
da indústria pesqueira nacional, principalmente através de mecanismos como os incentivos fiscais,
da isenção de impostos, buscando atingir divisas para o país através da atividade pesqueira
industrial. Em favor dessa nova forma de captura do pescado, a atividade pesqueira artesanal foi
perdendo incentivos. “A pesca artesanal, entre 1967/1977, havia recebido somente 15% do
equivalente aos fundos investidos na indústria pesqueira através de incentivos fiscais” (DIEGUES,
1983, p. 137).
Desde então, a organização dos pescadores retornou para a tutela do Ministério da
Agricultura, que instituiu um novo estatuto para as colônias de pescadores através da portaria nº 471
de 26 de dezembro de 1973. As colônias se mantiveram sob a denominação de sociedade civil,
porém, subordinadas ao controle do Estado, das Federações e da Confederação Nacional de
Pescadores, conforme podemos verificar no §2º do art. 1º: “ As colônias de pescadores se obrigam a
estreita colaboração com as autoridades públicas, com as respectivas Federações e com a
Confederação Nacional de Pescadores”; e letra c) do art. 26: “Compete à diretoria da colônia,
cumprir e zelar pelo cumprimento deste Estatuto, do Regimento Interno, das deliberações da
SUDEPE, da Confederação Nacional dos Pescadores e Federação, bem como das autoridades
navais”. Este estatuto ainda prevalece até os dias de hoje em muitas colônias do país.
No ano de 1985, a Confederação Nacional de Pescadores, fez uma convocação a
todas as Federações Estaduais, encaminhando a realização de assembléias, e que elegessem
delegados para compor um grupo que veio a denominar-se de “Movimento Constituinte da Pesca”.
Este movimento teve como finalidade discutir, elaborar e apresentar propostas aos deputados e
senadores constituintes, reivindicando a inclusão das propostas dos pescadores artesanais na nova
Constituição. Na capital federal, os pescadores artesanais somavam com outras categorias de
trabalhadores urbanos e rurais, entre eles, agricultores, professores e outros, que também
reivindicavam seus direitos sociais e políticos.
Após a promulgação da nova Constituição, em 05 outubro de 1988, identificamos
alguns avanços acerca da organização dos pescadores artesanais. As colônias foram equiparadas,
em seus direitos sociais, aos sindicatos de trabalhadores rurais. Abriram-se possibilidades das
colônias elaborarem seus próprios estatutos, adequando-os à realidade de seus municípios. O artigo
8º da referida Constituição trata exclusivamente de questões comuns à colônias e aos sindicatos de
trabalhadores rurais. Destacamos o inciso I do referido artigo: “a lei não poderá exigir autorização
do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao
Poder Público a interferência e a intervenção na organização sindical”.
Ao nível estrutural, a Lei nº 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, extinguiu a SUDEPE
e criou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA,
vinculado ao Ministério do Interior. Este novo órgão passa a ter a responsabilidade de gerenciar e
promover o desenvolvimento do setor pesqueiro do país. Através da Lei nº 8.746, de 09 de
dezembro de 1993, é criado o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, que passa a
incorporar as representações de pescadores artesanais. Por fim, no ano de 1998, o Ministério da
Agricultura volta a incorporar os pescadores artesanais dentro de sua estrutura.
Dentro desse contexto, estamos desenvolvendo um trabalho junto a colônia de
pescadores Z-03 do município do Rio do Fogo, no litoral norte do Estado do Rio Grande do Norte.
Esta colônia foi fundada em 1930, e como muitas outras, estão sentindo os reflexos das mudanças
introduzidas a partir de uma nova legislação. A escolha deste município justifica-se por apresentar o
maior número de pescadores tradicionais na costa do Rio Grande do Norte, aqueles que pescam
com pequenas jangadas, denominadas pelos pescadores de “paquete”.
Nosso processo de inserção no campo de investigação junto aos pescadores
artesanais do Rio do Fogo, foi facilitado pela mediação de um integrante do quadro social da
colônia de pescadores residente no próprio município. A partir do contato com a diretoria desta
entidade representativa, apresentamos o nosso projeto de pesquisa buscando o devido apoio para
desenvolvê-lo naquele município. Na ocasião nos foi proporcionada a autorização para transitar na
sede da colônia, assim como a própria diretoria se colocou à disposição para colaborar com a
referida pesquisa. Destacamos que o atual presidente exerce este cargo desde 1991, e através dele,
poderemos ter acesso a toda documentação da colônia, inclusive os registros em ata, e ainda contar
com o apoio da liderança que exerce enquanto direção da entidade representativa.
Adotamos como procedimentos de investigação a coleta de dados no ambiente
natural, associada às fontes secundárias (legislação, planos, relatórios e outros). Em caráter
exploratório do campo de investigação, realizamos no segundo semestre do ano de 2000, as
primeiras entrevistas. Optamos por trabalhar com entrevistas não estruturadas, “aquela que busca
obter do entrevistado o que ele considera os aspectos mais relevantes de determinado problema: as
suas descrições de uma situação de estudo” (Richardson, 1999, p.208). Mediante as primeiras
entrevistas, fomos delimitando o objeto de estudo, procurando identificar como se caracterizam as
relações entre os pescadores e sua entidade representativa. Voltando ao campo de investigação,
desta feita, empregando a entrevista semi-estrututrada “aquela que parte de certos questionamentos
básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem
amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem
as respostas do informante” (Trivinõs, 1987, p.146). Este momento retomamos algumas questões
levantadas na visita exploratória. Enquanto técnica de pesquisa, a observação foi empregada desde a
visita exploratória do campo de investigação, realizada concomitante às entrevistas, como nas
conversas com os pescadores na praia do Rio do Fogo e no interior da sede da colônia. Os próximos
passos acerca do empreendimento estão sendo realizado através do acompanhamento de reuniões e
assembléias gerais que acontecem no decorrer do ano 2001. O acesso a estes eventos está garantido
pela atual diretoria da colônia.
As observações e as notas de campo, estão dando suporte para identificarmos pontos
convergentes e divergentes das falas dos entrevistados. Os conteúdos das falas, transcrições das
fitas cassete, transformados em textos são analisados e organizados na forma de famílias de códigos
a serem identificados, constituindo-se em categorias de análise: empíricas e teóricas, conforme
orientação de Bogdan (1994).O levantamento documental, envolve documentos oficiais, através dos
quais buscamos analisar o discurso instituído pelo Estado, as orientações aplicadas às entidades
representativas dos pescadores artesanais, assim como identificar condutas por eles instituídas. Os
documentos referentes à organização dos pescadores artesanais, entre os quais: o código de pesca,
portarias, estatutos da Confederação Nacional de Pescadores, da Federação Estadual de Pescadores,
e da colônia de pescadores do Rio do Fogo, além de atas que registram reuniões e Assembléias
Gerais; buscam identificar como os pescadores se inserem nesse contexto.
Diante das falas dos entrevistados, observamos que a colônia enquanto entidade
representativa dos pescadores artesanais apresenta uma forma peculiar de organização. A
pluralidade de associados está explícita nos referenciais que passamos enfocar, como o tipo de
pescaria, onde encontramos pescadores que capturam apenas peixes, enquanto outros capturam
camarões, outros lagostas, ainda assim encontramos aqueles que capturam, ao mesmo tempo,
peixes, camarões e molúsculos. Acerca das relações de trabalho, nos deparamos com pescadores
que são proprietários das embarcações nas quais trabalham e, aqueles que pescam em barcos de
outrens. Alguns em barcos motorizados, outros em barcos à vela, sendo o mais comum pescarem
em pequenas jangadas, o chamado paquete.
Nas primeiras entrevistas identificamos dados de diversas origens: produção,
comercialização assim como indícios das relações entre os sujeitos no interior da entidade
representativa, a partir de reuniões e assembléias gerais, além de menções acerca de reuniões com
representantes de instituições governamentais. São utilizadas expressões como: “iludir, enganar, só
acredita em quem tem história bonita...”. A compreensão da utilização dessas expressões, bem
como o direcionamento a quem se destinam, em alguns casos, ficou claro que seria para a SUDEPE
(hoje IBAMA). Tais referências configuram aspectos das relações entre os associados.
As ações, a partir da influência que os indivíduos exercem nas colônias, partem
inicialmente daqueles inclusos no quadro social, ou seja, daqueles que estão associados nas
colônias, não importando como eles chegaram até lá, nem os motivos que os levam a tornarem-se
associados dela. No caso do município do Rio do Fogo, verificamos que dentre os principais fatores
que influenciaram no ingresso na colônia, encontram-se a herança da “profissão” de seus
antepassados. Seus avós, bem como seus pais eram pescadores, e desde cedo ensinavam o ofícios
aos filhos, que ainda adolescente já os acompanhavam nas pescarias. Outrossim, dentro do
município de Rio do Fogo, onde a economia básica gira em torno de pequenos comércios e
principalmente da pesca, as oportunidades de trabalho são bastante escassas, não restando muitas
opções para aqueles que estão ingressando no mercado de trabalho.
Os pescadores enquanto produtores de alimentos, mantém relações estreitas com a
natureza. O convívio com o mar, principalmente quando a pescaria se estende por dias, acaba por
contribuir para um certo isolamento dos demais companheiros de trabalho, uma característica
singular dos pescadores que diferenciam-se de outros trabalhadores.
Os interesses de grupos ou indivíduos, quando revelados, adotam um discurso,
exprimindo seus anseios a partir da efetiva participação em reuniões, conversas, seminários e
principalmente nas assembléias gerais. Através do discurso vem à tona a identidade de seu autor.
Podemos exemplificar aqueles pescadores que trabalham em barcos de terceiros, têm como
reivindicação primordial o financiamento para a aquisição de suas próprias embarcações, enquanto
que a mesma reivindicação tem peso diferenciado para os proprietários, que já vislumbram novos
investimentos, como o incremento à criação de peixes e camarões. A revelação através do discurso
e da ação de quem o indivíduo é, quais são seus interesses, só é possível a partir da convivência
humana. Aquele que renuncia manifestar a sua identidade, suas idéias, renuncia a si próprio. Deixa
se ser ator, para ser mero espectador no interior de uma entidade de representação social. Quando o
discurso é renunciado, a ação perde seu caráter específico de revelação, o ato de se revelar só é
possível mediante um discurso entre indivíduos.
Com os mesmos poderes que os sindicatos de trabalhadores rurais, a colônia de
pescadores Z-03 do Rio do Fogo a partir do amparo da atual Constituição, conseguiu elaborar seu
estatuto social próprio, aproximando o seu regimento à realidade da pesca deste município. Vale
ressaltar que o antigo estatuto das colônias de pescadores era a portaria nº 471/73 do Ministério da
Agricultura, válida para todas as colônias de norte a sul do país. Esta iniciativa fortaleceu o poder
de ação dos pescadores a partir do momento em que eles próprios, utilizando-se do discurso da
autonomia, redigiram suas normas de direitos e deveres para com a categoria dos trabalhadores na
pesca em todo o município.
Nos encaminhamentos das questões acerca de tomadas de decisões, onde ocorrem a
partir das relações políticas, os debates são permeados de discursos que trazem consigo a revelação
de seus agentes. Em dada situação, os pescadores na condições de segurado especial da previdência
sociais, reivindicam de sua diretoria a concessão de benefícios previdenciários, como o seguro
desemprego, que contempla aos pescadores artesanais um salário mínimo mensal no período em
que é fechada a pesca, para a procriação das espécies.
Enquanto esfera pública, nas colônias de pescadores um elemento que merece
destaque, no que concerne ao processo de encaminhamento das demandas da categoria, é o poder:
“O poder só é efetivado quando a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são
vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são usadas para velar intenções mas para
revelar realidades, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas
realidades” (ARENDT, 2000, p. 82).
O exercício da ação enquanto poder, demanda habilidades de seus agentes. A
condução dos encaminhamentos nas colônias de pescadores são normalmente mediadas pela sua
diretoria. Na condição de direção, aqueles profissionais da pesca, têm papel fundamental a
desempenhar para garantir o êxito da gestão. O discurso empreendido buscará satisfazer os
interesses da maioria.
A convivência entre os indivíduos, é indispensável para a geração do poder. Uma das
grandes dificuldades encontradas na colônia de pescadores do município de Rio do Fogo, é a
renúncia ao poder. Um grande número de pescadores isola-se, deixa de participar da vida política de
sua unidade de representação, parece viver no anonimato. O discurso não existe, consequentemente
não há revelação, a ação de estar associado na colônia não traz à tona a identidade destes. Parece
conter-se com o acesso a mínimos benefícios previdenciários garantidos por lei. Ainda assim,
encontramos dentro deste município vários pescadores que sequer fazem parte do quadro social da
colônia, não tendo acesso nem aos direitos previdenciários pois não possuem nenhum tipo de
registro enquanto trabalhadores da pesca. A realização de assembléias gerais quando acontecem,
revelam a identidade de parcela minoritária dos pescadores que a compõem. O espaço de discussões
política gira em torno de pequenos grupos que, utilizando-se do discurso voltado para seus
interesses, buscam persuadir os demais.
O estágio em que se encontra a pesquisa nos apresenta indícios de mudanças nas
relações entre os pescadores, a partir de novas orientações com outras instituições, porém, as
condições de vida e de trabalho não apresentam grandes modificações.
Considerações finais
Enquanto espaço de discussão e de orientações políticas, as colônias tem apresentado
um vasto campo para a educação política dos pescadores artesanais. Esta educação está presente no
cotidiano da colônia do Rio do Fogo. Identificamos algumas instituições que influenciam no
processo desta educação, cada uma a seu modo:
O Estado, inseri-se na colônia de pescadores através de vários órgãos: 1) A Capitania
dos Portos, no processo de formação de pescadores profissionais, ou seja, para aqueles pescadores
que pretendem exercer a atividade pesqueira em alto mar, este órgão ministra cursos teórico e
prático no próprio município. As orientações transmitidas pelos militares da Marinha responsáveis
pelos cursos, são pautadas de discursos inflamados, evidenciando a própria formação militar,
tratando os pescadores como recrutas. 2) O Ibama, enquanto órgão de gerenciamento da pesca,
realiza visita às colônias, orientando e principalmente fiscalizando os pequenos pescadores
artesanais. No discurso instituído, busca repassar às colônias a competência e responsabilidade pela
fiscalização. 3) O Banco do Nordeste, depois de muitos financiamentos fracassados para a pesca
artesanal, hoje volta à colônia Z-03 do Rio Fogo discutindo a possibilidade de financiar
equipamentos de pesca através do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar).
A Igreja Católica, também tem influência sobre os pescadores no município, através
do trabalho pastoral da paróquia local, que está discutindo junto aos pescadores a sua realidade,
buscando alternativas para melhoria na qualidade de vida destes. O discurso empreendido revela a
doutrina católica, a partir de sua espiritualidade. Apesar de conhecermos neste município
pescadores que congregam outras religiões, o catolicismo é muito forte. Basta levarmos em
consideração o dia de São Pedro, padroeiro dos pescadores segunda a Igreja Católica, comemorado
em 29 de junho. É uma festa tradicional, envolvida por ritos, que incluem desde a procissão fluvial
até ao hasteamento do mastro.
As ONG’s (Organizações não-governamentais), se fazem presente principalmente
através de uma organização denominada de “Movimento Nacional de Pescadores”. Este movimento
vem realizando diversas atividades envolvendo questões relevantes ao interesse dos pescadores,
como esclarecimentos acerca de direitos previdenciários e meio ambiente. O discurso pautado
nestes eventos sugere o fortalecimento da organização dos pescadores artesanais, aumentando o
poder reivindicatório, que as colônias assumiram a partir da nova Carta Magna.
Enfim, este é momento em que se apresenta a pesquisa, onde identificamos uma
colônia composta por pescadores que de um modo geral, pouco participam das atividades voltadas
para o amadurecimento da consciência crítica da realidade. Porém, as investidas da atual diretoria,
através dos órgãos que circulam a colônia, vem aos poucos apresentando indícios de mudanças
neste quadro, quando parte dos pescadores participam de encontros estaduais e até de eventos
nacionais acerca da pesca e dos pescadores.
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