A IDENTIDADE PROFISSIONAL E O PAPEL DAS EMPRESAS JUNIORES NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO DA UCG: PRINCÍPIOS, CONCEPÇÕES E PRÁTICAS. Prof. Dr. Antônio Pasqualetto Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Engenharia Departamento de Engenharia – UCG - [email protected] 1 QUAL O PROFISSIONAL QUE A SOCIEDADE QUER? O jovem profissional não basta ter apenas diploma, deve ser criativo, independente, comunicativo, flexível, saber estabelecer metas e correr riscos, isto é, sem empreendedor no trabalho, na escola e na vida pessoal. As mudanças nas relações produtivas e do trabalho tem desencadeado alterações na relação empregado-empregador, e cada vez mais, os empregadores não querem assalariados que os atrelem as causas trabalhistas. É crescente a solicitação de empresas ind ependentes para prestar serviços a estes mesmos empregadores. Tanto é verdade, que o próprio conceito de empregado tornou-se obsoleto, sendo substituído pela expressão mais aconchegante de colaborador. Esta nova estratégia desencadeia a busca de jovens por abrir um negócio próprio, ou meios que lhe permitam conseguir trabalho, ou seja, sua capacidade de conquistar um espaço no novo mercado de trabalho. Dizem que o sol nasceu para todos, mas sombra apenas para alguns. Esta expressão embora antiga, retrata com sutileza como deve ser o comportamento dos jovens acadêmicos universitários frente a vida profissional. A sociedade brasileira valoriza o emprego, a estabilidade financeira e o nível universitário, como instrumental para sucesso e realização pessoal. To davia, a educação da criança e jovens deve ser facilitada para compreender os princípios de autonomia, independência, capacidade de gerar o próprio emprego, de inovar e gerar riqueza, capacidade para ousar e assumir riscos, crescer em ambientes instáveis, porque estes são os valores sociais que irão conduzir os países ao desenvolvimento (DOLABELA, 1999) A idéia/noção de cuidado como parte do fundo profissional que o profissional deve cumprir na sociedade; a compreensão da responsabilidade e do benefício último que obtém pelo que faz no ensino e pesquisa universitária; a percepção da permanência de uma imagem (a ser superada) que reduz a visibilidade social da profissão; o reconhecimento da complexidade das demandas sociais já correspondidas, em termos operacionais, por uma multiplicidade de conhecimentos e formas de atuação e intervenção profissional que ultrapassam os parâmetros tradicionais da profissão; a percepção da história social e econômica brasileira como contextos para a mutação da identidade profissional e de sua interferência na percepção do nome profissional; a compreensão da mutabilidade da realidade que exige novas habilidades e novas respostas profissionais como ponto de partida para uma reflexão em torno de um nome profissional que atraia ou que não afaste a sociedade (ECN., 2003) Esta nova tendência tem sido foco de atenção pelas instituições de ensino, pesquisa e extensão, onde o empreendedorismo passa a ser modelo para reformular os objetivos dos cursos de graduação, cultivando a cultura do empreendedora. Esta preocupação com preparo para enfrentar mudanças já é manifestada há algum tempo. O novo regulamento da LDB - Lei de Diretrizes e Bases - no. 9.394/96, dando certa autonomia para as instituições de ensino na elaboração de sua grade curricular talvez tenha sido sua manifestação oficial. Ótimo para as instituições, que podem conduzir seus cursos dentro de um perfil mais próximo de suas áreas de atuação e ótimo para os alunos, que serão beneficiados com uma bagagem mais adequada a um mund o em transformação (FRANÇA et al., 2002) 2 COMO CATIVAR E CULTIVAR PARA A VISÃO EMPREENDEDORA? Conforme David et al. (2001), as instituições devem possuir além do ensino tradicional, seja na área tecnológica ou não, programas de ensino que contemplem o desenvolvimento interpessoal e intrapessoal, além da geração de idéias, negociação, desenvolvimento estratégico e de produtos, tomada de decisões e resolução de problemas. Deve ser um cidadão consciente de seus papel social, com visão comunitária, de livre acesso e flexível, acessível a inovação e à idéias de sucesso. Estes conteúdos serão norteados para as seguintes atividades: a) promover seminários e cursos com o objetivo de desenvolver o espírito empreendedor; b) estimular a criação de novas empresas juniores; c) Trazer empresários de sucesso para prestarem seus depoimentos ou palestras sobre suas experiências bem sucedidas; d) Estimular o desenvolvimento de projetos e idéias inovadoras; e) Analisar o potencial de mercado aos produtos ou serviços desenvolvidos, que podem ser facilitados através de uma incubadora de empresas; f) Instituir videotecas ou bibliotecas setorizadas com revistas, livros, filmes e programa sobre o tema empreendedorismo; g) Instituir a semana da empregabilidade e empreendedorismo; h) Participar ativamente de programas do SEBRAE ou governo federal, estadual e municipal sobre empreendedorismo; i) Criar peças teatrais que sirvam de veículo a disseminação da cultura empreendedora; j) aproximar o acadêmico do profissional. Necessita-se de profissionais que não apenas saibam fazer como aprenderam, mas que saibam pensar para criar e ter idéias de sucesso 3 COMO VIABILIZAR O EMPREENDEDORISMO NA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS? Nitsch et al. (1998) definiu um programa de empreendedores, que foi adaptado por Mayer e David (2003), consistindo basicamente, numa seqüência de cinco etapas a serem vencidas, com complexidades crescentes e periodicidade anual, culminando com a criação de empresas de serviços tecnológicos ou indústrias tecnológicas. Enquanto as primeiras atividades abrangem vasta clientela, ou seja, maior número possível de alunos, o mesmo não ocorre à medida que avança-se para as fases subsequentes, onde a complexidade aumenta e o número de membros integrantes diminui substancialmente. Não tenho a intenção de criar um novo modelo, mas adaptá-lo a realidade da Universidade Católica de Goiás, com seus 38 cursos de graduação. Neste sentido, sugere-se as seis etapas poderiam que se seguem: 1) sensibilização; 2) carreira empreendedora; 3) empreendedores de sucesso; 4) cursos sobre empreendedorismo; 5) projeto empresas nascentes; 6) Incubadora; Procura-se discorrer sobre cada fase, considerando as peculiaridades da Instituição onde o projeto tenta ser viabilizado. 3.1 Sensibilização Na vida corrida que todos tem, a tendência é não parar para refletir sobre a missão que temos. Se alguém se deparar com esta pergunta, dificilmente terá resposta de imediato, ainda mais um jovem que muitas vezes fez opção em cursos de graduação por influências que não propriamente as que se encaixam com o seu perfil. Esta fase visa desencadear um movimento interno de pensar de maneira empreendedora. Sensibilizar para o tema empreendedorismo requer campanhas de out-door, cartazes, folders, que permanecerão expostos na instituição. Palestras, mini- cursos podem esclarecer dúvidas e suscitar perguntas novas sobre o tema, que conduziram a novos projetos. Para que não se torna uma campanha em si mesmo, deve estar vinculada a uma periodicidade, que ao meu ver, pode ser anual, onde um dia ou uma semana é voltada para abordar o assunto empregabilidade e empreendedorismo. Associado a isto, faz-se a divulgação dos projetos existentes e do funcionamento do sistema na Instituição de Ensino, destacando as empresas juniores e a importância da cultura empreendedora. 3.2 carreira empreendedora Reverter a imagem formada não é fácil. Uma cultura que nos induz a sermos empregados e não colaboradores, dificulta a visão empreendedora. Os pais tendem a conduzir os filhos a terem um bom emprego, mas não atentam para despertar no filho o fato de que ele mesmo pode gerar seu emprego, criando uma empresa. Nesta fase, após ser sensibilizado, o acadêmico reflete sobre suas condições, as oportunidades, sua formação, desejos e realizações, sua missão, a descoberta de novos recursos e oportunidades de uma carreira empreendedora. É um momento de análise reflexiva, onde o passado, permite olhar para o presente, que nos orienta a escolher o caminho do futuro, neste caso de empreendedor. Por ser uma momento de estudos críticos, sugere-se que a estrutura funcional passe a ser seminários, os quais permitem o aprofundamento de temas e geração de idéias. Um acadêmico disposto, com orientação correta, permitirá que a semente germine, mesmo após anos de dormência. Mayer e David (2003) listam algumas frases de impacto que podem ser abordadas: “O único risco e não partir” – Almir Klink “Em cada sonho uma oportunidade” – Peça do grupo Lanteri “Os 7 pecados profissionais” – um espetáculo de Lorena Horn e Roberto Burgel, com produção de Cleonice de Queiroz 3.3 Empreendedores de sucesso Depoimentos de profissionais, que passaram por projetos empreendedores na Instituição ou fora desta, permitem enriquecer a vida acadêmica. A identidade e o perfil profissional dos acadêmicos começa a delinear-se. Um dos termômetros começa a ser revelado pela curiosidade despertada, por meio de perguntas sobre sucessos e fracassos na viabilização da idéia empreendedora. O estímulo a montagem do novo negócio é desencadeada, no momento em que o empreendedor de sucesso rompe com o temor que acometia o acadêmico futuro empreendedor. Os mitos rompem-se e uma nova relação passa surgir, como um desafio que pode ser vencido a depender da dedicação individual ao trabalho. As características básicas da pesquisa qualitativa podem ser descritas como tendo o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental; é descritiva na sua forma de coleta de dados e apresentação dos resultados. A preocupação do pesquisador é o processo e não simplesmente o resultado, acreditando que não é possível compreender o comportamento humano sem entender o quadro referencial onde este comportamento ocorre. Através de um enfoque indutivo na análise dos dados, as abstrações são construídas a partir dos dados, sendo que o quadro teórico é construído à medida em que acontece a coleta dos dados. Os dados qualitativos, por sua vez, são descrições detalhadas de situações, eventos, pessoas, interações e comportamentos observados, citações literais do que as pessoas falam sobre suas experiências. (ALVES MAZOTTI, 1998). Os resultados das pesquisas que empregam a abordagem qualitativa, assim como em outras abordagens, devem obedecer a alguns critérios de validação para que sejam aceitos no campo científico. O mé todo de pesquisa deve produzir o tipo de informação desejado ou esperado (ex. pontos de vista, experiências, etc.) dando validade aparente aos seus resultados. A validade interna, uma noção freqüentemente vista como particularmente adequada à pesquisa qualitativa, refere-se à adequação de concordância entre os dados e as descobertas ou conclusões. A validade instrumental, a meu ver uma das maiores evidências da desconfiança científica em relação à abordagem qualitativa, procura a combinação entre os dados fornecidos por um método de pesquisa e aqueles gerados por algum procedimento alternativo aceito como válido, e pode envolver comparações em nível individual ou entre amostras mais ou menos combinadas com certo cuidado. Validade teórica refere-se à legitimidade dos procedimentos da pesquisa em termos de teoria estabelecida - psicológica, sociológica, etc. Validade consultiva refere-se à validação dos dados ou informações através da consulta dos envolvidos no processo da pesquisa, particularmente os respondentes mas também incluindo os clientes e entrevistadores. (ALVES-MAZOTTI, 1998) Visita a empresas de sucesso, entrevistas com empreendedores e/ou o convite destes para darem seus depoimentos na Instituição consolidam a trajetória de empresas nascentes. Goiânia e região tem condições de atender esta demanda para todas as áreas da Universidade Católica de Goiás. Mayer e David (2003) relatam suas experiências no CEFET-PR, de forma que a experiência é produtiva para grupos em torno de 100 alunos. 3.4 Cursos sobre empreendedorismo Sugere-se que cursos de extensão ou viabilizados pelas coordenações de cursos de graduação, bem como pelas empresas juniores já instaladas possam ser oferecidos, tais como: negociação, registros e patentes, plano de negócios, comunicação, marketing, criatividade, vendas, análise de custos, qualidade total, atendimento a clientes, postura social, dentre outros, que permitam uma visão por um lado das especificidades do empreendimento, por outro darão visão sistêmica do negócio. 3.5 empresas nascentes Neste momento, espera-se que as idéias estejam afloradas e manifestem-se na forma de documentos como projetos a serem viabilizados. É importante que os acadêmicos possam ter assistência para descrever suas idéias, ou ao menos ser facilitada a exposição de seu potencial empreendedor. É uma fase em que um acadêmico ou um grupo destes, se dirige a aglutinar forças afim de viabilizar a idéia empreendedora, que pretendem possa se constituir em uma nova empresa, ou seja, empresa nascente. 3.6 Incubadora O termo incubadora nos lembra o nascimento, que neste caso, constitui-se no nascer de uma nova empresa e os cuidados necessários a sua sobrevivência até tornar-se apta a ingressar atividade no mercado e não mais depender, pelo menos, acredita-se da incubadora. Como a incubadora tem capacidade de suporte, a seleção deve ser feita com base nos projetos elaborados na fase de empresas nascentes. As melhores idéias e as de maior potencial de viabilização serão acolhidas pela incubadora, que lhes ensinará os primeiros passos. É uma espécie de hospedagem, mas não pensando a incubadora como hospedeiro. A incubadora disponibilizará infra-estrutura básica e capacitação gerencial a projetos de empresas nascentes de acadêmicos da instituição ou mesmo de ex-alunos. O suporte administrativo, técnico, gerencial e mercadológico visa a efetivação de empresa de serviços ou produtos, até a fase de protótipo. Para que haja rotatividade e novas oportunidades sejam oferecidas, o período de hospedagem deve ser de 18 meses com possibilidade de prorrogação de mais 6 meses. Durante este período, avaliações serão realizadas por meio de relatórios específicos, reuniões e outras atividades programadas. A incubadora, à medida que surgem novas vagas, organiza a dinâmica de seleção de novos projetos, os quais serão avaliados por banca examinadora. A incubadora na UCG, organizaria a implantação de várias empresas juniores em seu interior e também seria hotel para futuras novas empresas, mediante seleção, que estariam em processo de nascimento. Dentre as vantagens de estar na Incubadora, destacam-se: a) minimiza custos, pois utiliza gratuitamente de infra-estrutura operacional; b) facilidade de acesso a professores, laboratórios de análise da Instituição e parceiros; c) possibilidade de freqüentar cursos e treinamentos que oportunizem novas aprendizagens; d) assessoria na elaboração de projetos para solicitação de apoio financeiro; e) minimiza riscos. Na figura 1 está o esquema resumido na forma piramidal da proposta empreendedora Incubadora empresas nascentes Cursos empreendedorismo Empreendedor de sucesso Carreira empreendedora Sensibilização Figura 1. Estrutura piramidal empreendedora Por fim, vale lembrar os versos de Fernando Pessoa, que nos lançam um desafio como instituição e como indivíduos. De tudo ficaram três coisas A certeza de que estamos sempre começando... A certeza de que precisamos continuar... A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar... Portanto, devemos: Fazer da interrupção um caminho novo... Da queda, um passo de dança... Do medo, uma escada... Do sonho uma ponte... Da procura, um encontro. Fernando Pessoa REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTI, Alda, GEWANDSZNAJDAR, Fernando. O método nas ciências naturais e sociais. Pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998. Cap. 6 e 7. DAVID, D. E. H. ROVEDA, M. V.; REDIVO, R. B. GAUTHER, F. A. O.; COLOSSI, N. FRANZONI, A. M. Aspectos pedagógicos no ensino do empreendedorismo. In: III ENCONTRO NACIONAL DE EMPREENDEDORISMO. Anais... Florianópolis, 2001 DOLABELA, F. Uma revolução no ensino universitário de empreendedorismo no Brasil. A metodologia da oficina do Empreendedor. Junho, 1999. ENC. Bibli: R. Eletr. Bibliotecon. Ci. Inf., Florianópolis, n.15, 1º sem. 2003. 1 FRANÇA, F.; TONDATO, M. P.; PEGORIN, F.; GOBBI, P.; VENDRUSCOLO, C. F.; A . W. MIYAWAGA o ensino e a prática de relações públicas no brasil. In: VI CONGRESO LATINOAMERICANO DE CIÊNCIAS DE LA COMUNICACIÓN, Santa Cruz de la Sierra, Bolívia - 5 a 8 de junio - 2002 MAYER, R. e DAVID, D. E. H. Programa jovem empreendedor CEFET-PR disseminando a cultura empreendedora. Disponível <http://www.cefetpr.gov.br>. Acesso em 25 de outubro de 2003. NITSCH, J. C.; DAVID, D. E. H.; JANUÁRIO NETTO, E. Programa jovem empreendedor: espírito empreendedor & mudança de comportamento. Revista Educação e tecnologia. Ano 2, no. 03. Curitiba. 1998.