BASE – Revista de Administração e Contabilidade da Unisinos
7(4):328-340, outubro/dezembro 2010
c 2010 by Unisinos - doi: 10.4013/base.2010.74.06
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM
A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F
BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
ANALYSIS OF THE VARIABLES THAT INFLUENCE FIRMS’ ADHESION
TO THE BM&F BOVESPA CORPORATE SUSTAINABILITY INDEX
JULYANA GOLDNER NUNES
[email protected]
ARIDELMO J.C. TEIXEIRA
[email protected]
VALCEMIRO NOSSA
[email protected]
FERNANDO CAIO GALDI
[email protected]
RESUMO
Este estudo objetiva analisar as variáveis que influenciam a adesão das empresas ao Índice Bovespa
de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Foram verificadas as variáveis: tamanho da empresa, setor de
atividade, concentração acionária, localização do controle acionário, o fato de a empresa ser emissora
de ADR e ser de propriedade estatal. A coleta inicial de dados baseou-se na seleção das 150 ações
mais líquidas listadas na BM&F Bovespa presentes em pelo menos 50% dos pregões no período de
junho de 2006 a junho de 2007. Foram selecionadas 124 empresas para a composição da amostra. A
partir dessa amostra, verificaram-se as empresas detentoras das ações que se enquadraram ou não
na carteira teórica anual do ISE – dezembro 2007/novembro 2008. Foi aplicado o modelo Logit de
regressão linear múltipla para avaliar a contribuição de cada variável explicativa na chance de adesão
ao índice. Concluiu-se que, estatisticamente, há indícios de que o tamanho das empresas e o setor de
atividade são determinantes que influenciam a adesão das empresas ao ISE. As variáveis localização,
concentração acionária, ser emissora de ADR e ser de propriedade estatal, estatisticamente, não
apresentaram relação de influência para a inclusão das empresas ao ISE.
Palavras-chave: responsabilidade social corporativa, sustentabilidade empresarial, setor de
atividade, tamanho das empresas.
ABSTRACT
This article examines the variables that influence the decision of firms to adhere to the Corporate
Sustainability Index of the São Paulo Stock Exchange (Bovespa). We investigated the following
variables: firm size, sector of activity, shareholding concentration, location of controlling shareholder,
issuance of ADRs and public-sector versus private-sector control. The initial data came from selecting
the 150 most liquid shares listed for trading at the BM&F Bovespa, with transactions during at least
50% of the trading sessions in the period from June 2006 to June 2007. From these, we chose 124
firms to compose the final sample, which we classified into firms included and not included in the
hypothetical portfolio making up the sustainability index from December 2007 to November 2008.
We applied the logit multiple linear regression model to assess the contribution of each variable to
explain the chance of adhering to the index. The results suggest there is a statistically significant
indication that size and sector influence this inclusion, while the other variables statistically did
not have any influence.
Key words: corporate social responsibility, corporate sustainability, sector of activity, firm size.
JULYANA GOLDNER NUNES • ARIDELMO J.C. TEIXEIRA • VALCEMIRO NOSSA • FERNANDO CAIO GALDI
INTRODUÇÃO
A Responsabilidade Social Corporativa (RSC) é cada
vez mais debatida por acadêmicos, por administradores e por
toda a sociedade, originando diversas questões ainda sem
respostas claras, como a própria delimitação da dimensão da
responsabilidade social empresarial no cenário dos negócios
(Borba, 2005).
Há mais de 50 anos, o termo RSC vem assumindo as
mais variadas definições conceituais. Carroll (1979) apresenta
uma definição de que a ideia das responsabilidades sociais
supõe que a corporação possua não apenas obrigações
econômicas e legais, mas também responsabilidades para
com a sociedade. Entretanto, Friedman (1970) afirmou que a
única responsabilidade social dos negócios seria puramente
econômica, isto é, a organização, ao maximizar seus lucros,
geraria bem-estar para toda a sociedade.
Carroll (1979) defende que a RSC vai além das
expectativas puramente econômicas, abrangendo também as
expectativas legais, éticas e discricionárias que a sociedade
possui em relação às empresas em determinado período.
Ashley (2005) corrobora os argumentos de Carroll: em
um mundo em que a realidade de mercado muda com uma
velocidade cada vez maior, a empresa precisa saber exatamente
qual é a sua missão, e a procura por um sentido ético para sua
continuidade deve voltar-se tanto para as relações de mercado
quanto para as relações além do mercado. Da mesma forma que
a empresa preza por sua qualidade, por suas marcas e por seus
produtos, ela deve zelar por seus valores morais e não fazer
do compromisso social meramente uma carta de intenções.
Nos últimos anos, um grande movimento de resposta
às demandas sociais tomou conta do mundo empresarial. Clientes, empregados, fornecedores, comunidade, governos e alguns
acionistas têm encorajado as empresas a investirem em RSC.
Algumas empresas respondem com mais investimentos em
RSC, outras empresas resistem, com o argumento de que investimentos em RSC são inconsistentes em relação aos esforços
de maximização dos lucros dos acionistas (McGuire et al., 1988).
Apesar da contraditoriedade de ideias de Carroll (1979) e
Friedman (1979), o mercado financeiro percebeu o movimento
de adesão das empresas ao desenvolvimento sustentável, que
equivale ao compromisso permanente com a integridade do
meio ambiente e aos princípios da responsabilidade social. Assim,
foram implementadas mudanças institucionais, como indicadores,
ratings e fundos de investimentos socialmente responsáveis.
A criação de indicadores socioambientais, por exemplo o
Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado em 2005
pela Bolsa de Valores de São Paulo, e o Índice Dow Jones de
Sustentabilidade, instituído em 1999 com intuito de “premiar
as empresas que procuram aliar desenvolvimento com ecoeficiência e responsabilidade social” (May et al., 2003, p. 189),
ainda segundo May et al. (2003, p. 189), é um ato que começa
a incorporar os riscos sociais e ambientais no mercado de
capitais brasileiro.
VOLUME 7 · Nº 4 · OUTUBRO/DEZEMBRO 2010
329
O ISE consiste em um índice de sustentabilidade
empresarial nos moldes dos índices Dow Jones Sustainability
Index (DJSI), FTSE4Good Series e Johannesburg Stock
Exchange SRI Index. A criação desse indicador se deu para
propiciar um ambiente de investimento compatível com as
demandas de desenvolvimento sustentável da sociedade
contemporânea e estimular a RSC, considerando aspectos
de governança corporativa e sustentabilidade empresarial
(eficiência econômica, equilíbrio ambiental e justiça social)
(Bovespa, 2008).
Desde 2005, empresas listadas na BM&F Bovespa que
negociam as 150 ações mais líquidas recebem, anualmente,
um extenso questionário que trata de questões gerais, natureza
do produto, governança corporativa e aspectos econômicofinanceiros, ambientais e sociais. Para tentar fazer parte da
carteira teórica do ISE, que é composto por até 40 empresas,
as firmas precisam, primeiro, responder ao referido questionário
e, posteriormente, atender aos pré-requisitos para fazer parte
da carteira.
No ano de lançamento do ISE, foram enviados 121
questionários de avaliação de desempenho nos quatro
requisitos: eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça
social e governança corporativa, e 63 foram respondidos. No
2° ano, em 2006, foram enviados 120 questionários e 61 foram
respondidos. Em 2007, 137 empresas receberam o questionário
e 62 responderam. Dessa forma, nem todas as empresas que
recebem o questionário ISE têm interesse em respondê-lo, cada
uma delas com sua razão específica (Bovespa, 2008).
Friedman (1970), Hackston e Milne (1996), Neu et al.
(1998), Sternberg (1999), Nossa (2002), Kent e Chan (2003)
e Michelon (2007), entre outros autores, trazem em suas
pesquisas observações empíricas de que as evidenciações de
responsabilidade social podem estar relacionadas às variáveis:
tamanho das empresas, setor de atividade, concentração
acionária, localização (país), entre outras.
As afirmações e os comentários mostram a necessidade
de se conhecer o que leva as empresas que recebem o
questionário ISE a tentar compor ou não a carteira teórica do
Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial.
Desse modo, esta pesquisa procura investigar, no âmbito
brasileiro, a seguinte questão:
Qual a relação das variáveis tamanho da empresa,
setor de atividade, concentração acionária, localização
do controle acionário, ser emissora de ADR e ser de
propriedade estatal com a adesão das empresas ao Índice
Bovespa de Sustentabilidade Empresarial?
O objetivo geral deste estudo é verificar a relação
do tamanho da empresa, setor de atividade, concentração
acionária, localização do controle acionário, ser emissora de
ADR e ser de propriedade estatal à adesão das empresas ao
Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial.
330
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
Para o atendimento do objetivo geral são apresentados
os seguintes objetivos específicos:
• Selecionar as empresas que integram o ISE e as que
não integram;
• Verificar os setores de atividade conforme metodologia
de análise do ISE.
A pesquisa em contabilidade financeira, principalmente
em um país como o Brasil, com suas características
peculiares, pode ser bastante enriquecida pelo entendimento
mais detalhado dos incentivos presentes na atuação dos
administradores no que se refere à adoção de práticas de RSC.
Grandes empresas sob forte observação de natureza
política estão mais propícias a ter altos custos e, assim, tendem
a optar por procedimentos contábeis que diminuam os lucros.
Nesse contexto, uma forma de atuação dos administradores
é investir em políticas socioambientais, que geram despesas
para ocultar os lucros e ainda atrair a atenção diferenciada
de órgãos reguladores, ambientalistas, imprensa, entre outros
(Watts e Zimmerman, 1986; Dias Filho e Machado, 2004.
Diante disso, essa pesquisa se justifica pela discussão
sobre o tema da RSC e sobre quais os determinantes que
influenciam a adesão das empresas à carteira teórica do Índice
Bovespa de Sustentabilidade Empresarial.
REFERENCIAL TEÓRICO
Machado Filho e Zylbersztajn (2004) afirmam que a questão
da RSC é alvo de crescentes debates no meio acadêmico. A ideia
de que a atividade de negócios possui uma dimensão ética, além
da econômica e da legal, é aceita amplamente. Porém, não existe
um consenso sobre a natureza da dimensão ética e sobre quem
deve se responsabilizar por ela. Segundo Machado Filho (2002),
as empresas têm uma função social a cumprir na sociedade e,
dessa forma, possuem atribuições éticas, mas a discordância
fundamental é sobre a natureza das atribuições éticas e quem se
beneficiará com elas. Para a visão dos stakeholders, a relação entre
RSC e desempenho financeiro das empresas deveria ser positiva,
pois demonstra que quanto maior o nível de responsabilidade
social, melhor seria o desempenho financeiro da empresa,
revelando a eficiência da administração. No entanto, para a
visão dos shareholders, ocorre uma relação negativa entre RSC e
desempenho financeiro, pois a RSC pode ocasionar uma redução
de valor da empresa caso o nível de responsabilidade social seja
alto (McGuire et al., 1988; Friedman in Laróz, 2005).
Em conjunto com a visão dos stakeholders e a visão
dos shareholders, opiniões sobre custos políticos e a teoria da
agência com seus conflitos de interesses vêm complementar
o referencial teórico dessa pesquisa.
TEORIA DOS SHAREHOLDERS NO CENÁRIO
DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
A teoria dos shareholders, ou teoria da maximização
da riqueza dos acionistas, está ligada às teorias de finanças
e de economia. Para Brealey e Myers (2000), o administrador
financeiro deve agir no interesse dos proprietários, para
maximizar sua própria riqueza.
Se, por um lado, a teoria dos shareholders argumenta que
o alto nível de responsabilidades resulta em custos adicionais
que podem colocar as empresas em desvantagem econômica,
em relação a outras firmas que possuem menos ações e práticas
de responsabilidade social (McGuire et al., 1988), por outro
lado as empresas que investem alto em responsabilidade social
podem, no longo prazo, por exemplo, obter resultados positivos
relativos à melhoria da imagem da empresa.
Friedman in Lahóz (2005, p. 37), questionado sobre se a
empresa deve ter responsabilidade social, ressalta que:
Se os acionistas quiserem investir em responsabilidade
social, não há motivos para contrariá-los, principalmente
se os acionistas chamarem de responsabilidade social
uma atitude que visa beneficiar a própria empresa, por
meio da imagem positiva passada ao público.
TEORIA DOS STAKEHOLDERS E A SUA RELAÇÃO COM
RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA
A visão da corrente dos stakeholders defende que os
gestores têm deveres para com diversos grupos – clientes,
fornecedores, empregados, comunidade todos eles afetados
pelas decisões da firma (Machado Filho e Zylbersztajn, 2004).
A teoria que trata da relação positiva entre RSC e
desempenho financeiro é a teoria dos stakeholders, e a
sua doutrina baseia-se na ideia de que o resultado final da
atividade de uma organização empresarial deve levar em
consideração os retornos que otimizam os resultados de todos
os stakeholders envolvidos, e não apenas os resultados dos
acionistas (Freeman, 1984).
As ações de responsabilidade social com base na teoria
dos stakeholders se justificariam, de acordo com Wood (1991),
pois o conceito básico da RSC é que a atividade de negócios
e a sociedade são entidades conectadas e não diferentes.
Assim, a sociedade tem certas expectativas em relação ao
comportamento e aos resultados das atividades dos negócios
das empresas.
Por um lado, a teoria dos stakeholders, em seu aspecto
instrumental, aproxima-se do conceito de RSC (Carroll, 1979),
uma vez que identifica vantagens estratégicas para a adoção
de uma administração voltada para os interesses de todos
os grupos envolvidos direta e indiretamente nas atividades
da empresa. Por outro lado, Sternberg (1999) e Jensen
(2001) criticam negativamente a teoria dos stakeholders,
fundamentando-se principalmente na falta de um objetivo
principal, com clara defesa da teoria dos shareholders, em
que uma única função-objetivo prevalece: a maximização da
riqueza dos sócios ou acionistas.
Sternberg (1999) critica a responsabilidade múltipla
atribuída à empresa, que dificulta a existência de propósitos
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JULYANA GOLDNER NUNES • ARIDELMO J.C. TEIXEIRA • VALCEMIRO NOSSA • FERNANDO CAIO GALDI
claros e de maior importância, pois cada grupo estabelece suas
prioridades e define seus próprios objetivos, ocasionando vários
problemas estratégicos para a empresa.
Para Jensen (2001, p. 9), os múltiplos propósitos da teoria
dos stakeholders são, na verdade, estratégias, e a criação de
valor é o principal objetivo a ser seguido como referência pelas
empresas. A teoria não possui clareza de uma missão fornecida
por um único objetivo corporativo, pois as “[...] companhias
que adotam a teoria dos stakeholders acabarão passando por
confusão gerencial, conflito, ineficiência, e talvez, fracasso
corporativo” (Jensen, 2001, p. 9).
OS CONFLITOS DE AGÊNCIA NA ÓTICA
DOS STAKEHOLDERS
Friedman (1970) é um dos principais defensores da
ótica dos shareholders, em contraposição à dos stakeholders
e ressalta que se os administradores incrementam os lucros
e utilizam-se deles para aumento do valor da empresa,
eles estão respeitando os direitos de propriedade dos
acionistas da empresa e, dessa forma, promovem de forma
agregada o bem-estar social. Mas se, em vez disso, os
administradores se limitam a problemas de cunho social
em decisões diárias, por exemplo, eles podem violar suas
atribuições de defesa dos interesses da empresa e interferir
na capacidade do mercado de promover o bem-estar social
geral (Friedman, 1970).
A opinião crítica da relevância das atividades de RSC
considera que esses esforços são incompatíveis com o objetivo
da maximização de lucro da empresa. Friedman (1970) enfatiza
que o engajamento em práticas de responsabilidade social
pode levar a um problema de agência, ou seja, a um conflito
de interesses entre o principal (acionista) e o agente (gestor).
Jensen (2001) descreve que a relação agente-principal
é sempre conflituosa quando determinado indivíduo (agente)
age em nome de outro, o chamado principal, e os propósitos
de ambos não coincidem integralmente.
Machado Filho e Zylbersztajn (2004) explicam que numa
relação empregador/empregado, o principal busca praticar uma
estrutura de incentivos e de monitoramento, procurando alinhar
os interesses do agente aos seus interesses, e que a eficiência nas
relações de agência ocorre quando, para os agentes, há ausência
de assimetria informacional (informações ocultas) e, para o
principal, há completa informação sobre as ações e os resultados.
Essas premissas que embasam uma relação de eficiência de
agência, de acordo com Jensen (2001), estão claramente em
choque com os objetivos difusos da teoria dos stakeholders.
Segundo Sternberg (1999, p. 2), longe de se tornar uma
forma de melhorias, a visão dos stakeholders é basicamente
alterada e impossibilitada de fornecer boas práticas de
governança corporativa, desempenho e comportamento
dos negócios. É internamente conflitante com as atividades
da empresa e enfraquece os direitos de propriedade e a
transparência dos negócios.
VOLUME 7 · Nº 4 · OUTUBRO/DEZEMBRO 2010
331
ESTUDOS EMPÍRICOS SOBRE A RELAÇÃO DE FATORES
QUE INFLUENCIAM AS PRÁTICAS DE RESPONSABILIDADE
SOCIAL CORPORATIVA
Friedman (1970), Hackston e Milne (1996), Neu et al.
(1998), Sternberg (1999), Nossa (2002), Kent e Chan (2003) e
Michelon (2007) ressaltam que práticas de RSC, conceituada
por meio do disclosure (evidenciação) das informações,
indicadores, ratings e fundos de investimentos socialmente
responsáveis, podem ser influenciadas por variáveis, tais como:
tamanho da companhia, setor de atividade, concentração
acionária, localização, atitudes dos gerentes, tempo de
existência da companhia, entre outras.
Hackston e Milne (1996) analisaram empresas da Nova
Zelândia e procuraram descrever as suas práticas de disclosure
socioambiental de acordo com as práticas de outros países. A
metodologia foi elaborada com base no relatório anual das 50
maiores empresas da Nova Zelândia. As variáveis independentes
foram: tamanho da companhia, setor de atividade, lucratividade
da empresa e país de propriedade. A variável dependente foi o
disclosure socioambiental. As análises estatísticas mostraram
evidências de uma relação positiva entre o nível de disclosure
socioambiental e as variáveis independentes.
Neu et al. (1998) pesquisaram as informações ambientais
incluídas nos relatórios anuais de 33 empresas do Canadá dos
setores de extração mineral, óleo e gás, química e florestal, nos
períodos de 1982 a 1991. Para o estudo empírico, consideraram
como variável dependente o nível de disclosure nos relatórios
anuais. Consideraram como variáveis independentes:
preocupação dos stakeholders financeiros, penalidades
regulamentares, críticas de ambientalistas, preocupações da
sociedade e tamanho da empresa. As conclusões evidenciam
resultados em que as variáveis apresentadas possuem uma
correlação positiva com o nível de disclosure das informações
ambientais das empresas pesquisadas. Portanto, os resultados
evidenciam que o nível de disclosure ambiental é influenciado
por essas variáveis.
Nossa (2002) analisa o nível de disclosure ambiental nos
relatórios anuais das empresas do setor de papel e celulose
em nível internacional. Por meio de uma análise de conteúdo,
foi medido o nível de disclosure, relacionando-o com outras
variáveis, como tamanho da empresa e localização dos países.
Nossa (2002) concluiu que as informações ambientais do setor
de papel e celulose são evidenciadas em relatórios específicos;
o país de localização influencia o nível de disclosure; quanto
maior a empresa, mais informações são evidenciadas; e as
empresas brasileiras possuem menor nível de disclosure em
relação aos demais países.
O disclosure ambiental foi objeto de estudo de Kent
e Chan (2003), que analisaram as 500 maiores empresas
australianas de capital aberto de acordo com a publicação
da Business Review Weekly em 1995. A amostra considerou
49 empresas que possuem disclosure socioambiental e 53
que não possuem. O trabalho relaciona o nível de disclosure,
332
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
medido por meio da análise de conteúdo, com as variáveis
independentes: poder dos stakeholders, poder do credor,
desempenho econômico, tamanho da empresa, risco ou tempo
de existência da empresa, grupos de pressão (lobby) e missão
socioambiental. As variáveis positivamente relacionadas com
o nível de disclosure são: poder dos stakeholders, grupos
de pressão, missão e tamanho das empresas, enquanto as
variáveis poder do credor e desempenho econômico são
negativamente relacionadas.
Michelon (2007) explora um estudo comparativo entre
disclosure socioambiental de companhias e sua reputação.
Sua amostra consiste em 57 empresas da carteira do Índice
de Sustentabilidade Dow Jones e um grupo de controle de
empresas pertencente ao Índice Global Dow Jones. O grau
de disclosure socioambiental é determinado a partir de uma
análise de conteúdo, desempenhada por meio de várias fontes
(relatórios sociais, ambientais e de sustentabilidade). Usando
variáveis independentes como localização, setor de atividade
e tamanho da empresa, a pesquisa testa empiricamente se a
reputação afeta a disclosure de atividades de RSC e encontra
evidências empíricas que mostram que a reputação impacta o
grau desse disclosure. Além disso, os resultados indicam que as
empresas europeias divulgam mais que as norte-americanas.
Roberts (1992) testou empiricamente a capacidade
da teoria dos stakeholders para explicar o disclosure
socioambiental. Para isso, utilizou como variáveis
independentes em sua pesquisa: poder dos stakeholders,
poder dos shareholders, influências governamentais e
regulatórias, influência dos credores, postura estratégica,
relações públicas, fundações filantrópicas, idade da empresa,
setores, tamanho e variáveis econômicas. Os resultados
suportam essa explicação procurando mensurar que o poder
dos stakeholders, a postura estratégica e o desempenho
econômico estão significativa-mente relacionados com o
mesmo nível de disclosure social corporativo.
Diante do referencial teórico apresentado, parte-se para
a apresentação da metodologia utilizada nesta pesquisa para
buscar evidências empíricas sobre as determinantes que possam
influenciar a composição da carteira teórica do Índice Bovespa
de Sustentabilidade Empresarial.
METODOLOGIA
INSTRUMENTOS DE COLETA DOS DADOS
De acordo com a Bovespa (2008), o ISE foi criado
em 2005, e, no ano de lançamento do ISE, foram enviados
121 questionários de avaliação de desempenho nos quatro
requisitos: eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça
social e governança corporativa, e 63 questionários foram
respondidos.
Uma vez que essas informações são públicas no site
da BM&F Bovespa, entrou-se em contato com o comitê
de organização e elaboração do índice (ISE) no intuito de
verificar a lista de empresas que receberam o questionário.
No questionário as empresas declaram as informações sobre:
eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e
governança corporativa. A resposta foi negativa, ou seja, os
pesquisadores não teriam acesso à lista de empresas que
receberam o questionário.
Diante da resposta do ISE de que pesquisadores não
teriam acesso à lista de empresas que responderam ao
questionário em 2006 para entrar ou não no ISE de 2007, foi
desenvolvida uma nova estratégia de pesquisa: trabalhou-se
com informações financeiras de 2006 de todas as empresas
listadas na BM&F Bovespa e testou-se a probabilidade de
a empresa estar ou não no ISE em 2007. Da mesma forma,
utilizaram-se informações financeiras das empresas de 2007
e testou-se a probabilidade de a empresa estar ou não no ISE
em 2008. Essa estratégia foi possível porque a pesquisa foi
desenvolvida ex-post à divulgação da lista de empresas do
ISE de 2007 e 2008.
As variáveis financeiras utilizadas são descritas posteriormente no tópico metodologia deste estudo.
Informações fornecidas no site da BM&F Bovespa indicam
que, em 2006, foram enviados 120 questionários às empresas
e 61 foram respondidos. Em 2007, 137 empresas receberam
o questionário e 62 responderam. Dessa forma, nem todas
as empresas que recebem o questionário ISE têm interesse
em respondê-lo, cada uma delas com sua razão específica
(Bovespa, 2008).
A coleta de dados financeiros ocorreu por meio do
software Economática e de acordo com o critério da BM&F
Bovespa, que seleciona as 150 (cento e cinquenta) ações mais
líquidas presentes em pelo menos 50% dos pregões no período
de junho de 2006 a junho de 2007. O número de empresas
corresponde a 130 (cento e trinta) com ações preferenciais
e ordinárias, sendo que 6 (seis) empresas foram excluídas da
amostra por falta de informação.
Nesta pesquisa, os dados financeiros de 2006, disponíveis
na Economática, foram utilizados para testar a hipótese de
a empresa entrar no ISE de 2007, e os dados financeiros em
2007, disponíveis na Economática, foram utilizados para testar
a hipótese de a empresa entrar no ISE em 2008.
A partir da amostra de 124 (cento e vinte e quatro)
empresas, foram verificadas aquelas que se enquadraram
ou não na carteira teórica anual do ISE – dezembro 2007/
novembro 2008. Os critérios acima foram aplicados na amostra
da pesquisa devido à não divulgação da relação das empresas
elegíveis ao ISE pelo comitê de organização e elaboração
do índice, formado por representantes da BM&F Bovespa,
associações e ONGs.
Foi aplicado o modelo Logit de regressão linear múltipla
para avaliar a contribuição de cada variável explicativa e
estimar a variável dependente dummy (adesão ou não ao
ISE). As variáveis independentes estudadas são as seguintes:
tamanho, setor de atividade, concentração acionária,
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localização do controle acionário (nacional ou estrangeiro),
ser emissora ou não de ADR e propriedade (privada ou estatal).
A descrição e fundamentação das variáveis explicativas
estudadas nesta pesquisa são apresentadas a seguir.
VARIÁVEIS DE ANÁLISE DA ADESÃO DAS EMPRESAS AO
ÍNDICE BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
As pesquisas de Friedman (1970), Hackston e Milne
(1996), Neu et al. (1998), Sternberg (1999), Nossa (2002), Kent
e Chan (2003) e Michelon (2007) sobre RSC têm mostrado
que itens componentes dos indicadores socioambientais
apresentam relação com variáveis que influenciam a adesão
ou não das empresas. Destacam-se nessas pesquisas: tamanho
das empresas, setor de atividade, concentração acionária e
localização (país).
TAMANHO DAS EMPRESAS
Para Michelon (2007), o tamanho das empresas é uma
variável, encontrada em muitas pesquisas, positivamente
associada com as evidenciações das informações socioambientais,
indicando que grandes empresas possuem alto grau de
evidenciação. A autora destaca os trabalhos de Kelly (1981),
Trotman e Bradley (1981), Cowen et al. (1987), Belkaoui e Karpik
(1989), Patten (1992) e Hackston e Milne (1996).
O tamanho das empresas é mensurado normalmente nos
trabalhos pelo número de empregados, valor do ativo total,
receita de vendas ou de acordo com o ranking de periódicos.
Verifica-se que Belkaoui e Karpik (1989) utilizaram a receita
de vendas; Trotman e Bradley (1981) usaram receita de vendas
e ativos totais; Cowen et al. (1987) utilizaram o ranking de um
periódico; Patten (1992) usou a receita de vendas, mas também
utilizou o ranking de um periódico; Kimberly (1976) utilizou
o número de empregados, as receitas de vendas e os ativos
totais, enquanto Kent e Chan (2003) usaram capitalização de
mercado (Michelon, 2007).
As grandes empresas sofrem um maior impacto dos
seus stakeholders, que são as partes interessadas na atividade
da empresa, diretamente e indiretamente. Ahmed e Courtis
(1999), por meio de uma análise, afirmam que o custo político
e os argumentos da teoria da agência demonstram que as
maiores companhias têm mais probabilidade de evidenciar
suas informações (Michelon, 2007).
A hipótese do tamanho ou dos custos políticos, uma
das três hipóteses básicas relacionada à teoria positiva da
contabilidade, prevê que grandes empresas usarão técnicas
para diminuir os lucros com maior frequência do que empresas
de menor porte, já que o tamanho da firma é um fator de
avaliação da atenção política que a empresa recebe (Watts e
Zimmerman, 1986).
A evidenciação das informações nas grandes empresas,
causada por sua visibilidade, pode resultar em custos
políticos potenciais. Dessa forma, altos lucros podem chamar
desfavorável atenção de órgãos reguladores, de entidades de
VOLUME 7 · Nº 4 · OUTUBRO/DEZEMBRO 2010
333
classe, da imprensa, de ambientalistas, de grupos de defesa
de consumidores, etc. Essa situação ocorre devido ao fato
de que bons resultados podem estar associados a alguns
comportamentos não aceitáveis, como a deterioração do meio
ambiente (Watts e Zimmerman, 1986).
Hackston e Milne (1996) citam que não há nenhuma
sustentação teórica para mensurar o tamanho das empresas
e que as medidas mais usadas são: capitalização de mercado,
receita de vendas e ativos totais.
SETOR DE ATIVIDADE
Para a avaliação da composição do ISE, a variável setor de
atividade das empresas é levada em consideração. A variável setor
de atividade é avaliada, segundo a Bovespa (2008), de acordo
com a dimensão ambiental, considerando-se a importância e a
diferença de impactos sobre o meio ambiente dos vários setores e
a natureza dos negócios. Ainda de acordo com a Bovespa (2008),
as empresas do setor financeiro que são candidatas a compor
o ISE têm um questionário adaptado às características dessas
empresas, enquanto que “as demais empresas são divididas em
dois grupos de impacto (alto e moderado)”.
Os questionários enviados às empresas candidatas a compor
o ISE são separados de acordo com o Impacto, considerando-se a
dimensão ambiental. Impacto Moderado considera os seguintes
setores: Aluguel de Carros, Análises e Diagnósticos, Comércio,
Hotelaria, Jornais/Livros e Revistas, Livrarias e Papelarias,
Tecnologia da Informação, Telefonia Fixa, Telefonia Móvel, TV por
Assinatura, Utilidades Domésticas e Vestuário. O Alto Impacto
considera os demais setores (Bovespa, 2008).
No Quadro 1 destacam-se os setores que foram
analisados nesta pesquisa, classificados de acordo com os
mesmos critérios de participação no ISE no que se refere ao
aspecto dimensão ambiental.
Em sua pesquisa, Roberts (1992) classificou os setores
em alto perfil e baixo perfil. As empresas do alto perfil são
aquelas com visibilidade para o consumidor, com nível elevado
de risco político e competição intensa concentrada. O autor
sugere que os estudos prévios que incluem esses setores
podem ter capturado um relacionamento sistemático entre tais
características e atividades de RSC. Os setores de alto perfil são:
metal-mecânico, automobilístico, óleo, substância química,
linhas aéreas, agricultura, automóvel, tabaco. Os meios de
comunicação, os setores de alimentos, os hotéis e os produtos
de higiene e saúde são classificados como de baixo perfil.
Para Michelon (2007), o setor de atividade de uma
companhia afeta a prática de evidenciação das informações
socioambientais. A autora realiza uma revisão de trabalhos
que abordam a divisão dos setores de atividades de acordo
com a RSC:
• Dierkes e Preston (1977) demonstram que as empresas
cujas atividades econômicas modificam o ambiente, como
as empresas de recursos naturais (minas, silvicultura,
334
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
Quadro 1- Dimensão ambiental.
Chart 1 – Enviromental dimension.
Setores
Classificação
Aspectos ambientais mais importantes
Água, Saneamento, Energia Elétrica.
Alto Impacto
Consumo intensivo de recursos naturais e
interferências no território.
Extrativistas: mineração, papel e
celulose, petróleo e gás, siderurgia, etc.
Alto Impacto
Consumo de recursos naturais e emissões
(processo produtivo).
Transformação: laticínios, produtos uso
pessoal, máquinas e equipamentos,
medicamentos, etc.
Alto Impacto
Consumo de matérias primas e emissões
(processo produtivo).
Logística e armazenagem: transporte
aéreo, rodoviário, serviço de
armazenagem, etc.
Moderado Impacto
Emissões.
Serviço: exploração de rodovias, análises
e diagnósticos, telefonia, etc.
Moderado Impacto
Consumo de energia, água e materiais
(processos administrativos).
Setor financeiro.
Moderado Impacto
Aspectos indiretos, consumo de energia, água e
materiais (processos administrativos).
Fonte: adaptado de Roberts (1992).
óleo e gás, etc.) são mais monitoradas quanto ao seu
desempenho ambiental do que outras empresas.
• Deegan e Gordon (1996) demonstram que as empresas
com consumidores orientados têm maior preocupação
com a comunidade do entorno, desde que seja provável
que tal preocupação afete a reputação da empresa
e influencie as suas vendas. Dierkes e Preston (1977)
afirmam que as empresas com alta evidenciação de
informações socioambientais participam de setores
ambientalmente sensíveis ou potencialmente poluidores.
CONCENTRAÇÃO ACIONÁRIA
Roberts (1992) afirma que a concentração acionária é
medida considerando-se os acionistas ordinários que possuem
um percentual maior que 5% das ações. No Brasil, a estrutura
da propriedade acionária é concentrada, colaborando para o
conflito de agência entre acionistas minoritários e acionistas
majoritários (Procianoy e Caselini, 1997).
Espera-se que a variável concentração acionária tenha
uma relação negativa com a adoção de práticas socialmente
responsáveis. Foi considerado que quanto maior a concentração
acionária, menor a preocupação com gastos em ações sociais e
sustentáveis, pois o controle acionário e a administração estão
em poder do dono da empresa e as chances das empresas (com
maior concentração acionária) terem altos gastos com essas
práticas diminuem.
Para Procianoy (1994, p. 20), as empresas familiares têm
presença marcante no mercado brasileiro, e nelas o controle
acionário e a administração da empresa estão em poder do
proprietário da empresa. O autor aborda a influência da família
na gestão dos negócios, em que “o controlador, na maioria dos
casos, é o próprio presidente do conselho de administração da
empresa, quando até mesmo não exerce a presidência da diretoria”.
Para Okimura (2003, p. 44), não há na literatura uma
unanimidade sobre a opção de medidas de estrutura de controle
acionário. Dessa forma, esse trabalho optou pela metodologia
utilizada no estudo de Okimura et al. (2007), que mede a
concentração acionária por meio da soma percentual de ações
ordinárias detidas pelos maiores investidores (normalmente os
cinco maiores).
LOCALIZAÇÃO DO CONTROLE ACIONÁRIO
A localização por país do controle acionário demonstra a
importância dos impactos sociais, ambientais e políticos que as
empresas enfrentam, possuindo reflexo no seu comportamento
ético. Para Michelon (2007), as diferenças evidenciadas em
alguns estudos são difíceis de determinar, pois as empresas
das amostras são de setores e tamanhos diferentes.
Se, por um lado, fatores como origens legais e culturais
de cada país continuam sendo de interesse dos pesquisadores
que investigam as variações das práticas de RSC de acordo
com os limites nacionais, por outro lado destaca-se a crescente
quebra de fronteiras, uma vez que empresas possuem unidades
em diversos pontos do país e do mundo, porém demonstrações
contábeis ou relatórios de sustentabilidade únicos.
EMISSÃO DE ADR (AMERICAN DEPOSITARY RECEIPT)
A variável emissão de ADR (American Depositary Receipt),
ou Recibo de Depósito Americano, é utilizada no modelo
devido ao rigor das normas americanas quanto às práticas
de governança corporativa, pois a empresa que está num
ambiente de regulamentação considerado de fraca proteção
BASE – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNISINOS
335
JULYANA GOLDNER NUNES • ARIDELMO J.C. TEIXEIRA • VALCEMIRO NOSSA • FERNANDO CAIO GALDI
ao investidor passaria voluntariamente a um ambiente mais
forte, aumentando assim o seu nível de governança; além
disso, porque o Brasil é um dos países estrangeiros com o maior
número de empresas que emitem ADRs (Silveira et al., 2004).
Como a prática de governança corporativa é uma das
seis dimensões da estrutura do questionário pelo qual as
empresas elegíveis ao índice de sustentabilidade empresarial da
Bovespa são avaliadas, ser uma empresa emissora de ADR pode
influenciar positivamente a adesão das empresas ao índice.
As empresas que emitem ADR precisam se adequar às
práticas de governança corporativa superiores, em decorrência
das exigências da Securities and Exchange Commission (SEC),
para o lançamento de títulos de empresas brasileiras no
mercado norte-americano. Assim, a listagem dessas empresas no
mercado norte-americano de capitais e a submissão a estruturas
regulatórias que exigem maior nível de governança corporativa
podem aumentar a visibilidade da empresa (Silveira et al., 2004).
PROPRIEDADE ESTATAL
Outra característica das empresas brasileiras, além de
possuírem grande concentração acionária, é a presença do
Estado no controle de algumas empresas. De acordo com fatores
de ordem histórica, cultural, política e econômica, algumas
das grandes empresas brasileiras apresentam como principal
acionista o governo (controle estatal) (Sarlo Neto, 2004).
Para Sarlo Neto (2004, p. 94), a função e a atividade da
empresa estatal brasileira, conforme sua natureza, possuem um
papel social e complementar à atividade privada; de acordo
com o autor:
Assim, não existe uma pressão estruturada para que essas
empresas trabalhem de forma a maximizar o resultado de
suas atividades. Além disso, as estatais estão submetidas
às políticas macroeconômicas dos governos, tornando as
suas atividades passivas a políticas de controle de preços e
a restrições de investimentos [...] (Sarlo Neto, 2004, p. 94).
As empresas de propriedade não estatal, com controle de
grupos privados, objetivam maximizar a sua riqueza. No que se refere
às empresas estatais, controladas pelos governos federal, estadual
ou municipal, elas possuem interesses diferentes e encaminham
os seus investimentos para suprir alguma necessidade, sendo ela
de natureza econômica ou social (Sarlo Neto, 2004). Dessa forma,
espera-se que empresas estatais apresentem uma relação positiva
com a adesão ao índice de sustentabilidade empresarial, pois tendem
a praticar com maior rigor essas ações.
Quadro 2 – Variáveis.
Chart 2 – Variables.
Variável
ISE
(Dependente)
TM
(Independente)
CA
(Independente)
Denominação
Adesão ao ISE
Empresas que receberam o questionário e
aderiram ao ISE
Tamanho
Ativo Total
Concentração
Acionária
A existência de acionistas controladores.
SA
(Independente)
Setor de Atividade
LO
(Independente)
Localização
ADR
(Independente)
American
Depositary Receipt
EST
(Independente)
Construtos
Logaritmo de Ativo Total
Percentual da soma dos 05 maiores
acionistas com poder de voto
Variável dummy:
Classificação de acordo com metodologia do ISE.
D=1 – alto impacto
D=0 – impacto moderado
Controle acionário que indica o país de origem do
Variável dummy:
acionista controlador. Empresas multinacionais
D=1 – empresas estrangeiras
controladas por holding constituída no Brasil são
D=0 – empresas
classificadas pelo país de origem do acionista
brasileiras
controlador final.
Papel emitido e negociado nos EUA.
Empresa de
Empresa que tenha participação do governo.
Propriedade Estatal
VOLUME 7 · Nº 4 · OUTUBRO/DEZEMBRO 2010
Proxy
Variável dummy:
D=1 – empresas no ISE
D=0 – empresas fora do ISE
Variável dummy:
D=1 – empresas emissoras de ADR
D=0 – empresas não emissoras de
ADR
Variável dummy:
D=1 – empresas de propriedade
estatal
D=0 – empresas de propriedade
não estatal
336
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
FORMULAÇÃO DAS HIPÓTESES
Esses pressupostos teóricos e empíricos das variáveis
conduzem às seguintes hipóteses:
H1: O tamanho das empresas está relacionado
positivamente com a adesão das empresas ao ISE.
H2: Os setores de atividade de alto impacto estão
relacionados positivamente com a adesão das empresas
ao ISE.
H3: A concentração acionária está relacionada
negativamente com a adesão das empresas ao ISE.
H4: A localização do controle acionário estrangeiro está
relacionada positivamente com a adesão das empresas
ao ISE.
H5: A emissão de ADR está relacionada positivamente
com a adesão das empresas ao ISE.
H6: A empresa ser de propriedade estatal está relacionada
positivamente com a adesão das empresas ao ISE.
MODELO ECONOMÉTRICO
Na Equação 1, é demonstrado o modelo Logit de regressão
linear múltipla proposto, que expressa a relação causal entre
a variável dependente, “adesão ao ISE”, que consiste na
variável explicada, e as respectivas variáveis independentes ou
explicativas:
ISE = β0 + β1 TM + β2 SA + β3 CA + β4 LO + β5 ADR + β6 PRI + ε (1)
Por meio da regressão proposta formulou-se, no Quadro
2, a relação de construtos e proxies das variáveis utilizadas na
formulação das hipóteses do modelo Logit de regressão linear
múltipla a serem testadas na presente pesquisa.
Após a obtenção dos dados referente às empresas, foram
analisadas e interpretadas as variáveis por meio da análise
estatística descritiva e regressão logística.
Dessa forma, por meio do estudo, buscou-se conhecer
se a chance de adesão ao ISE é explicada pelas variáveis
independentes, de forma a evidenciar se as práticas das
empresas consideradas socialmente responsáveis pelos critérios
do índice estão relacionadas com o tamanho das empresas,
com a concentração acionária, com o setor de atividade, com
a localização do controle acionário, com a emissão de ADR e
com o fato de uma empresa ser estatal.
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS
ANÁLISE DA FREQUÊNCIA E ESTATÍSTICA DESCRITIVA
A análise da frequência das variáveis tem como propósito
obter informações a respeito da composição da amostra e
dos dados a serem analisados a seguir. A Tabela 1 mostra
resultados de medidas de frequência da variável dependente
Adesão ao ISE. Do total de 124 empresas selecionadas, 32
empresas (25,81%) aderiram ao índice e 92 (74,19%) não
aderiram de acordo com os critérios estabelecidos.
Tabela 1 - Frequência da variável Adesão ao ISE.
Table 1 – Frequency of the variable Adesão ao ISE.
Dummy
Frequência
Percentual %
Não
Sim
Total
92
32
124
74,19
25,81
100,0
Conforme apresentado na Tabela 2, 62 empresas (50%)
compõem o setor de atividade de alto impacto e 62 (50%)
fazem parte do setor de impacto moderado.
Tabela 2 - Frequência da variável Setor de Atividade.
Table 2 - Frequency of the variable Setor de Atividade.
Dummy
Alto impacto
Impacto Moderado
Total
Frequência
62
62
124
Percentual %
50,0
50,0
100,0
Conforme apresentado na Tabela 3, 12 empresas (9,68%)
possuem seu controle acionário fora do Brasil e 112 (90,32%)
têm seu controle acionário no Brasil.
Tabela 3 - Frequência da variável Localização.
Table 3 - Frequency of the variable Localização.
Dummy
Estrangeiro
Brasileiro
Total
Frequência
12
112
124
Percentual %
9,68
90,32
100,0
Na Tabela 4, 29 empresas (23,38%) são emissoras de
ADR e 95 (76,62%) não são emissoras de ADR.
Tabela 4 - Frequência da variável ADR.
Table 4 - Frequency of the variable ADR.
Dummy
Emissora ADR
Não emissora ADR
Total
Frequência
29
95
124
Percentual %
23,38
76,62
100,0
Conforme apresentado na Tabela 5, 12 empresas (9,68%)
são estatais e 112 (90,32%) não são estatais.
Tabela 5 - Frequência da variável Estatal.
Table 5 – Frequency of the variable Estatal.
Dummy
Estatal
Não estatal
Total
Frequência
12
112
124
Percentual %
9,68
90,32
100,0
BASE – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNISINOS
337
JULYANA GOLDNER NUNES • ARIDELMO J.C. TEIXEIRA • VALCEMIRO NOSSA • FERNANDO CAIO GALDI
Na Tabela 6, a estatística descritiva da variável não
dicotômica Tamanho que compõe o modelo tem valor médio
de 15,01, sendo 9,67 o menor valor e 19,50 o maior, com desvio
padrão de 1,83 em torno da média.
Tabela 6 - Estatística descritiva da variável dicotômica Tamanho.
Table 6 - Descriptive statistics of dichotomous Tamanho.
N
Tamanho
Mínimo Máximo
Média
124 9,67464 19,50707 15,01028
Desvio
Padrão
1,834602
Na Tabela 7, a estatística descritiva da variável não
dicotômica Concentração Acionária que compõe o modelo tem
valor médio de 74,06, sendo 11,20 o menor valor e 100 o maior,
com desvio padrão de 20,25 em torno da média.
Tabela 7 - Estatística descritiva da variável dicotômica
Concentração Acionária.
Table 7 – Descriptive statistics of dichotomous Concentração
Acionária.
N
Concentração
124
Acionária
Mínimo Máximo Média
11,20
100
relativa de uma empresa aderir ao ISE, com base nas variáveis
independentes.
Para avaliar o ajuste do modelo, por intermédio da
comparação entre as frequências observadas e as frequências
esperadas, foi realizado o teste de Hosmer-Lemeshow, que
confirmou o bom ajuste do modelo, conforme a Tabela 8,
indicando uma significância de 0,7889.
Tabela 8 - Teste de Hosmer-Lemeshow.
Table 8 - Hosmer-Lemeshow test.
Número de
observações
124
ANÁLISE DA REGRESSÃO LOGÍSTICA
Neste trabalho, por meio do programa Stata 9.1, utilizouse a técnica de regressão logística para identificar a chance
Prob > Chi 2
0,7889
As Tabelas 9 e 10 apresentam os resultados da regressão Logit.
Tabela 9 - Estimação do modelo Logit.
Table 9 - Estimation of the Logit model.
Número de observações
Prob > Chi 2
Pseudo R2
124
0,0000
0,2930
Desvio
Padrão
74,06 20,25846
Hosmer-Lemeshow
Chi 2
4,70
O modelo de regressão logística que foi usado nesta pesquisa
não atende ao pressuposto de ausência de multicolinearidade.
Essa condição é constatada por meio da Tabela 11, demonstrando
a baixa correlação entre as variáveis independentes.
O coeficiente positivo e significativo da variável TM,
demonstrado em P>|Z| (Tabela 8), com uma margem de
Tabela 10 - Resultados do modelo Logit.
Table 10 - Logit model results.
ISE
TM
CA
SA
LO
ADR
EST
Odds Ratio
1,456018
0,9863589
11,55026
0,7331581
2,701201
0,9543494
Std. Err.
0,2793866
0,14055
7,767438
0,6013446
1,80135
0,7239565
Z
P>|z|
1,96
-0,96
3,64
-0,38
1,49
-0,06
0,050
0,335
0,000
0,705
0,136
0,951
[99% conf.
0,8882028
0,9508121
2,043141
0,0886448
0,4847865
0,1352386
Intervalo]
2,386829
1,023235
65,29582
6,063761
15,05093
6,734636
Tabela 11 - Teste de correlação.
Table 11 - Correlation test.
E (V)
TM
CA
AS
LO
ADR
EST
CONS
TM
1,0000
-0,0534
-0,1005
-0,0518
-0,4606
-0,2607
-0,9291
VOLUME 7 · Nº 4 · OUTUBRO/DEZEMBRO 2010
CA
SA
1,0000
-0,2391
-0,0631
-0,1766
0,0124
-0,2600
1,0000
-0,1444
-0,2885
-0,2245
0,0076
LO
1,0000
0,1000
0,1881
0,0565
ADR
1,0000
0,0265
0,4112
EST
1,0000
0,2517
_CONS
1,0000
338
ANÁLISE DAS VARIÁVEIS QUE INFLUENCIAM A ADESÃO DAS EMPRESAS AO ÍNDICE BM&F BOVESPA DE SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
confiança de 1%, indica que a chance relativa de uma grande
empresa aderir ao ISE aumenta em 1,45 vezes. O tamanho
das empresas é uma variável analisada em vários trabalhos,
com resultados que evidenciam relação positiva associada às
práticas socioambientais das empresas.
A variável SA foi considerada positivamente significativa
ao nível de 1%, através do P>|Z|, Tabela 8, indicando que a
chance relativa de uma empresa do setor de alto impacto
aderir ao ISE aumenta em 11,55 vezes. Em consonância com
os estudos anteriores sobre o tema, o setor de atividade
considerado de “alto impacto” é um fator determinante de
práticas socioambientais, pois o alto risco político das empresas
inseridas nesses setores conduz a uma alta visibilidade para o
mercado, governo e sociedade. Além disso, trata-se de empresas
cujas atividades econômicas modificam o ambiente e que,
consequentemente, sofrem um maior monitoramento quanto
ao seu desempenho ambiental, o que se reflete em mais ações
de RSC por parte dessas empresas.
A variável CA não apresentou significância com margens
de confiança de 1%, 5% e 10% na amostra estudada. Ou
seja, não influenciou a adesão das empresas ao ISE. Isso pode
ser pelo fato de a carteira teórica ser formada por empresas
com ações de maior liquidez e com possibilidade de controle
acionário pulverizado, devido a fatores como práticas de
governança corporativa, entre outros.
Na amostra pesquisada, a variável LO também não
apresentou significância, com margens de confiança de 1%,
5% e 10%. A localização do controle acionário da empresa não
evidenciou influência nas práticas de RSC. Isso pode ser explicado
pelo processo de internacionalização da economia, que se refere
à forma com que as empresas se organizam internamente ou
com outras empresas para alcançar mercados externos.
As duas variáveis incluídas no modelo relacionadas à
emissão de ADR e ao fato de a empresa ser de propriedade
estatal se mostraram estatisticamente sem significância, ao
nível de 1%, 5% e 10%.
CONCLUSÕES
A pesquisa em contabilidade financeira, principalmente
em um país como o Brasil, com suas características
peculiares, pode ser bastante enriquecida pelo entendimento
mais detalhado dos incentivos presentes na atuação dos
administradores no que se refere à adoção de práticas de RSC,
com base em uma das hipóteses básicas, a do tamanho ou dos
custos políticos, relacionada à teoria positiva da contabilidade.
As empresas que integram os índices de sustentabilidade
empresarial possuem o perfil destacado na hipótese citada. São
grandes organizações atuando em mercados que podem atrair a
atenção diferenciada de órgãos reguladores, de ambientalistas,
da imprensa, entre outros.
Dessa forma, essas empresas, de acordo com a hipótese
do tamanho ou dos custos políticos, seriam investidoras
potenciais nas práticas socioambientais, porém com o objetivo
de ocultar os seus lucros, pois, como estão sob atenção política,
podem ser submetidas a custos elevados de impostos, reajustes
salariais, demandas judiciais, boicote a produtos, multas
ambientais e demandas judiciais (Dias Filho e Machado, 2004).
Diante disso, essa pesquisa se justifica pela discussão
sobre o tema da RSC e sobre quais os determinantes que
influenciam as empresas a desejarem compor a carteira teórica
do Índice Bovespa de Sustentabilidade Empresarial.
O presente estudo teve como objetivo investigar a relação
do tamanho, setor de atividade, concentração acionária,
localização do controle acionário, emissão de ADR e ser de
propriedade estatal à adesão das empresas ao Índice Bovespa
de Sustentabilidade Empresarial.
A coleta de dados ocorreu por meio do software
Economática e de acordo com os critérios da BM&F Bovespa,
que seleciona as 150 ações mais líquidas e que tiveram pelo
menos 50% de presença em bolsa, correspondendo a 130 (cento
e trinta) empresas com ações preferenciais e ordinárias, sendo
que 6 (seis) empresas foram excluídas da amostra por falta de
informação. O período estudado foi de junho de 2006 a junho
de 2007. A partir da amostra de 124 (cento e vinte e quatro)
empresas, foram verificadas as que se enquadraram ou não na
carteira teórica anual do ISE – dezembro 2007/novembro 2008.
Os critérios acima foram aplicados na amostra da pesquisa
devido à não divulgação da relação das empresas elegíveis ao
ISE pelo comitê de organização e elaboração do índice, formado
por representantes da BM&F Bovespa, associações e ONGs.
Foi aplicado o modelo Logit de regressão linear múltipla
para avaliar a contribuição de cada variável explicativa para
estimar a variável dependente dummy (adesão ou não ao ISE).
Para as hipóteses levantadas em relação às variáveis
tamanho da empresa e setor de atividade, há evidências de uma
relação estatisticamente significativa entre elas e a adesão ao
ISE, o que confirma o resultado positivo esperado.
As evidências empíricas encontradas no mercado
brasileiro, analisando-se informações de 2006 e 2007 das
empresas listadas na BM&F Bovespa, corroboram os resultados
das pesquisas de Hackston e Milne (1996), Nossa (2002) e
Michelon (2007) de que o tamanho das empresas e o setor de
atividade são fatores determinantes na adesão ao ISE.
As outras variáveis verificadas: concentração acionária,
localização do controle acionário, emissão de ADR e
propriedade estatal, estatisticamente, não apresentaram
influência na adesão da empresa ao índice.
O tamanho das empresas é uma variável analisada
nos trabalhos de Hackston e Milne (1996), Nossa (2002)
e Michelon (2007), com resultados que evidenciam uma
relação positiva associada com as práticas socioambientais
das empresas, confirmando a teoria dos stakeholders, que
defende que as grandes empresas sofrem maiores impactos das
partes interessadas nas suas atividades. Sendo assim, grandes
empresas estão mais preocupadas em aplicar os fundamentos
da Responsabilidade Social Corporativa, destacada nesta
BASE – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNISINOS
JULYANA GOLDNER NUNES • ARIDELMO J.C. TEIXEIRA • VALCEMIRO NOSSA • FERNANDO CAIO GALDI
pesquisa como a adesão ao Índice de Sustentabilidade
Empresarial da Bolsa de Valores de São Paulo.
A relação positivamente significante entre o tamanho da
empresa e a adesão ao ISE é confirmada também pela hipótese
do tamanho ou custos políticos relacionada à teoria positiva
da contabilidade, em que grandes empresas usam técnicas de
redução de lucros para desviar a atenção política. No caso de
tais empresas, a técnica usada seria o alto investimento em
ações socioambientais.
O setor de atividade considerado de “alto impacto” é
um fator determinante dessas práticas, pois, de acordo com as
pesquisas de Hackston e Milne (1996) e Michelon (2007), o alto
risco político das empresas inseridas nesses setores conduz a uma
alta visibilidade para o mercado, governo e sociedade. Além disso,
o fato de empresas cujas atividades econômicas modificam o
ambiente sofrerem, consequentemente, um maior monitoramento
do seu desempenho ambiental pode se refletir em mais ações de
Responsabilidade Social Corporativa por parte delas.
A variável concentração acionária na amostra estudada
não influenciou na adesão das empresas ao ISE. Isso pode
ser explicado pelo fato de a carteira teórica ser formada por
empresas com ações de maior liquidez e com possibilidade de
controle acionário pulverizado, devido a fatores como práticas
de governança corporativa, entre outros.
Os resultados contribuem, principalmente, para o debate
existente em relação aos determinantes que influenciam as
empresas na adoção de práticas de responsabilidade social
com base em escolhas de práticas contábeis adotadas pelos
gestores das empresas.
Os resultados desta pesquisa estão sujeitos a limitações
devido à não divulgação pela BM&F Bovespa da relação das
empresas e devido ao período em que as mesmas receberam
o questionário para tentar se enquadrar no Índice Bovespa
de Sustentabilidade Empresarial (ISE). Sugerem-se, para o
desenvolvimento de novas pesquisas, replicações futuras,
considerando-se novos períodos e a utilização de outros
critérios de RSC, tais como fundos de investimentos, ratings
internacionais e formas de disclosure das informações
socioambientais das empresas.
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characteristics and disclosure levels in annual reports:
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Submetido em: 10/03/2009
Aceito em: 01/09/2010
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BASE – REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE DA UNISINOS
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