23/09/2014 13h37 - Atualizado em 23/09/2014 20h30
Diretor de parque diz que principal nascente do Rio São Francisco secou
'Nunca vi essa situação em toda a história', afirmou Luiz
Bacia abrange 5 estados; biodiversidade está ameaçada, diz especialista.
Arthur
Castanheira.
Caroline Aleixo e Carolina Portilho *Do G1 Centro-Oeste de Minas
O diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra, Luiz Arthur Castanheira, disse em entrevista ao G1 na tarde
desta terça-feira (23) que a nascente do Rio São Francisco, situada em São Roque de Minas, secou. Segundo Castanheira,
essa nascente é a principal de toda a extensão do rio, que tem 2.700 km. O São Francisco é o maior rio totalmente
brasileiro, e sua bacia hidrográfica abrange 504 municípios de sete unidades da federação – Bahia, Minas Gerais,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás e Distrito Federal. Ele nasce na Serra da Canastra, em Minas, e desemboca no
Oceano Atlântico na divisa entre Alagoas e Sergipe.
Principal
nascente
do rio está seca (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Segundo Castanheira, o motivo é a estiagem. "Essa nascente é a original, a primeira do rio e é daqui que corre para
toda a extensão. Ela é um símbolo do rio. Imagina isso secar? A situação chegou a esse ponto não foi da noite para o dia.
Foi de forma gradativa, mas desse nível nunca vi em toda a história”, afirmou.
O presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda, disse
ao G1 que, embora a notícia ainda não tenha chegado oficialmente ao conhecimento do comitê, não causa surpresas em
virtude de essa ser uma das estiagens mais graves desde que foi iniciado o acompanhamento histórico do rio. Para ele, a
situação é preocupante, já reflete no nível das barragens e ameaça a biodiversidade do São Francisco.
“Isso não é comum, é preocupante. Não há dúvida de que algo em grande escala está mudando em nosso ecossistema. As
principais barragens do Alto São Francisco, que são a de Três Marias e Sobradinho, estão sendo ameaçadas e se
aproximam do limite de volume útil de água. Ou seja, a água dos principais afluentes está chegando ao nível zero, e a
biodiversidade do rio está comprometida, além de a qualidade do rio estar se deteriorando", explicou Miranda.
O volume útil da Represa de Três Marias, que é a primeira barragem construída ao longo do rio, chegou a registrar 6%
nesta semana. A de Sobradinho, 31%. “São níveis baixíssimos e que causam impactos catastróficos, como já vem
ocorrendo no Baixo São Francisco. Com o nível baixo, o oceano está invadindo o rio e salinizando a água doce”, concluiu
Miranda.
Ele ressaltou que, apesar de a nascente em São Roque de Minas, no Centro-Oeste do estado, não ser determinante
para o volume de água da bacia, ela serve como um "termômetro", uma vez que o nível dos reservatórios da região é
fundamental para o São Francisco.
Soluções
O presidente do Comitê da Bacia do rio diz que não se pode contar com o período mais úmido que deve vir após
outubro. Ele defende que, independente das mudanças climáticas, a questão é emergencial e, para ser amenizada, deve-se
mexer no modelo da bacia enérgica do São Francisco, realizando um grande pacto das águas.
Anivaldo Miranda pontuou ainda que o poder público deve tratar a bacia hidrográfica com prioridade por ser uma das
principais do Brasil e estar entre as mais vulneráveis. “O rio atravessa quase 1 milhão de quilômetros quadrados de região
semiárida, atende a região nordeste e grande parte de Minas, onde há grande vulnerabilidade hídrica”, afirmou.
Diante dessa situação crítica, que na visão do especialista começou a se agravar em abril do ano passado, o Comitê da
Bacia do São Francisco vai realizar audiências públicas com pessoas diretamente ligadas à bacia. O diálogo terá duração de
18 meses e será feito com o governo federal, municípios, usineiros, mineradores, pescadores, população nativa das
comunidades ribeirinhas e comunidade civil. O objetivo das audiências será discutir sobre o futuro da bacia e apresentar a
urgência de investir na recuperação hídrica do São Francisco.
Principal nascente que secou fica na
cidade mineira de São Roque de Minas (Foto: Anna Lúcia Silva/G1)
Incêndios
Para piorar a situação, a seca tem causado vários focos de incêndio no Parque Nacional da Serra da Canastra nos
últimos meses – levando à utilização da pouca água do São Francisco para apagá-los. Em julho, o fogo devastou cerca de
40 mil hectares de vegetação nativa. “Combatemos as chamas usando água do parque, mas isso não foi o fator mais
agravante. O que pesa mais é a seca, a falta de chuva. Corre pouquíssima água, e essa realidade é triste”, disse o diretor do
parque. O incêndio mais recente durou quatro dias e, pouco depois, outros focos foram registrados.
A estiagem deste ano ocorre em todo o país há vários meses, exceto na região Sul. Em Minas, diversas regiões enfrentam o
problema da seca, entre elas cidades do Triângulo Mineiro, Zona da Mata e Centro-Oeste do estado, que já chegaram a
decretar situação de emergência pelo desabastecimento e a multar moradores flagrados desperdiçando água.
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E as previsões são pouco animadoras. A primavera começou às 23h29 desta segunda-feira (22) e, de acordo com o
meteorologista Marcelo Pinheiro, da empresa Climatempo, a tendência é que na estação a temperatura fique de 2ºC a 3ºC
acima da média nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No Sul, a temperatura pode ficar até 3ºC acima da
média.
Além disso, a primavera deve ser caracterizada por temperaturas um pouco acima do normal e chuvas dentro da
média na maior parte do país – porém ainda insuficientes para resolver o problema de falta d’água nos reservatórios.
Especificamente para a região afetada pela seca no Centro-Oeste de Minas Gerais, a previsão é de que o período de
chuvas só comece em outubro.
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