ESTUDO RETROSPECTIVO DA DENGUE NO DISTRITO FEDERAL
Fabiana Marques Caixeta 1
Juliana Patrícia Ferraz de Souza Guedes 2
1
Biomédica. Aluna da Pós-Graduação em Vigilância Sanitária pelo IFAR/PUC-GO.
2
Bióloga. Professora do IFAR/PUC-GO de epidemiologia. Endereço: IFAR Instituto de Estudo Farmacêuticos.
SHCGN 716 Bl B Lj 05 Brasília-DF CEP: 70770-732. E-mail: [email protected]
RESUMO
A dengue no Brasil incide tipicamente nos meses mais quentes do ano, ocorrendo de forma continuada,
intercalando-se com a ocorrência de epidemias. O presente artigo teve por objetivo analisar a incidência da
dengue no Distrito Federal, no período de 2006 a 2011 utilizando o sistema de informação de dados do
Ministério da Saúde e Sistema de Informação de Agravos de Notificação. Através da análise dos dados pôde-se
perceber que não há nenhuma evidência de surto de dengue no Distrito Federal, em nenhuma localidade. Além
do estabelecimento de medidas preventivas adequadas, se forem executadas as ações de controle e a população
mantiver os cuidados dentro dos domicílios, será possível manter esse índice.
Palavras-chaves: Dengue. Epidemiologia da dengue. Dengue nas regiões do Brasil.
RETROSPECTIVE STUDY OF DENGUE IN FEDERAL
DISTRICT
ABSTRACT
Dengue in Brazil is typically focused in the hottest months of the year, occurring continuously, inserting
amongst epidemic occurrences. The goal of this article was analyze dengue incidence in Federal District, during
the period from 2006 to 2011 using the Health Ministry data information system and Information System of
Notification Grievances. Through data analysis, it was possible to perceive that there are no evidence of dengue
outbreaks in any Federal District location. In addition to the establishment of appropriate preventive measures, if
the control actions are executed and the population is able to maintain the caution within their residences,
maintaining these rates will be possible.
Key-words: Dengue. Dengue epidemiology. Dengue at the Brazilian regions.
INTRODUÇÃO
A dengue é uma enfermidade febril aguda, de caráter endêmico-epidêmico que pode
ser de curso benigno ou grave dependendo da forma como se apresente: infecção inaparente,
dengue clássico, febre hemorrágica da dengue ou síndrome do choque da dengue. Atualmente,
é a mais importante arbovirose que afeta o ser humano, entre as doenças reemergentes é a que
se constitui o mais sério problema de saúde pública no mundo em questão de mortalidade,
morbidade e situação econômica. Ocorre e dissemina-se especialmente nos países tropicais,
onde as condições do meio ambiente favorecem o desenvolvimento e a proliferação do
mosquito Aedes aegypti (nas Américas) e Aedes albopictus (na Ásia), principais vetores da
doença. O agente etiológico da doença é um arbovírus RNA do gênero Flavivírus. São
conhecidos quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 (GUIA DE
VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA, 2005; TAUIL, 2002).
Essa doença tem estado presente nas Américas há séculos. Dados históricos sugerem
que surtos da doença ocorreram nas Índicas Ocidentais e no Panamá no século 17, no Peru,
México, Colômbia, Estados Unidos (Filadélfia) e Caribe no século 18 e no Brasil, Venezuela e
Argentina nos séculos 19 e 20 (WILSON; CHEN, 2002).
No Brasil, a primeira epidemia documentada clinica e laboratorialmente ocorreu na
região de Boa Vista no estado de Roraima em 1982 e foi causada pelo sorotipo DENV-1.
Ocorreram também epidemias no Rio de Janeiro e em alguns estados do nordeste no ano de
1996. Desde então a dengue vem ocorrendo no país de forma continuada com ocorrências de
epidemias geralmente associadas à introdução de um novo sorotipo em áreas anteriormente
ilesas ou a modificação do sorotipo predominante. Na década de 90 houve um aumento
significativo da incidência da dengue, um reflexo da ampla dispersão do Aedes aegypti no
território nacional. A presença do vetor em conjunto com a mobilidade da população levou à
disseminação dos sorotipos 1 e 2 para 20 dos 27 estados do país. Muitas epidemias foram
registradas no período de 1990 a 2000, principalmente nos grandes centros urbanos das
regiões Sudeste e Nordeste. As notificações referentes ao acometimento das regiões Centrooeste e Norte foram mais tardios, pois as epidemias só foram registradas a partir da segunda
metade
da
década
de
EPIDEMIOLÓGICA, 2005).
90
(FIGUEIREDO,
2010;
GUIA
DE
VIGILÂNCIA
Nos últimos anos o Brasil tem sido acometido por sucessivos surtos da doença sendo
que na última década foram reportados 700.000 casos por ano. No início do século se tornou o
país com a maior quantidade de casos de dengue registrados, ocupando assim o primeiro lugar
no ranking internacional do número total de casos da doença com mais de 3 milhões de casos
reportados de 2000 a 2005. Esse número representa 78% dos casos nas Américas e 61% do
total de casos reportados à Organização Mundial da Saúde (OMS). Grande parte dos estados
brasileiros continua infestada pelo principal mosquito vetor com manutenção dos índices de
transmissão da doença. A idade média dos pacientes acometidos pela dengue hemorrágica tem
reduzido afetando uma porção cada vez maior de crianças. Além disso, os surtos de dengue
têm levado a vários casos atípicos como miocardite, hepatite, meningoencefalite e
insuficiência renal aguda bem como aumento nos índices de mortalidade (FIGUEIREDO
2012; WHO apud TEIXEIRA et al, 2009).
Tem sido observado um padrão sazonal de incidência da dengue coincidente com o
verão, devido à maior ocorrência de chuvas e ao aumento da temperatura nessa estação. É
mais comum nos núcleos urbanos, onde é maior a quantidade de criadouros naturais ou
resultantes da ação do ser humano (GUIA DE VIGILANCIA EPIDEMIOLOGICA, 2005).
São bem conhecidas a etiologia e os mecanismos de transmissão da dengue. O seu
espectro clínico é muito amplo, variando de formas assintomáticas ou oligosintomáticas até
formas graves e letais. Por outro lado, apesar de muito pesquisada, ainda não está disponível
uma vacina preventiva eficaz. O foco para o controle da dengue é baseado no combate ao
Aedes aegypti. O Brasil tem investido muitos recursos no combate ao vetor, apesar de este
apresentar limitações. O atual programa de controle adota um modelo integrado focado em
diversas atividades que não focam apenas na eliminação do mosquito, mas também na
vigilância sanitária ambiental, vigilância epidemiológica, apoio laboratorial e medidas de
educação em saúde. Ainda assim, as atividades de vigilância sanitária em nível municipal
carecem de legislação de apoio ou práticas de fiscalização, fatores que dificultam ainda mais a
tentativa de combate ao mosquito (TAUIL, 2002; TEIXEIRA et al, 2009).
Diante do exposto o referido artigo teve por objetivo analisar a incidência da dengue
no Distrito Federal, no período de 2006 a 2011, partindo da ideia que a taxa de incidência
serve como parâmetro para a programação e a avaliação epidemiológica das ações de controle
da dengue, permitindo um dimensionamento da morbimortalidade e da tendência da
enfermidade na comunidade.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória desenvolvida por meio de dados
secundários, utilizando o sistema de informação de dados do Ministério da Saúde
(DATASUS) e Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), usando o método
de inclusão no Distrito Federal-DF e Brasil e que compreendesse o período de 2006 à 2011. A
pesquisa foi realizada no período de 01 a 20 de julho de 2012 utilizando também dados de
artigos científicos e publicações da Secretaria de Saúde no mesmo período.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No ano de 2011, até o dia 26 de fevereiro, fim da 8ª semana epidemiológica, foram
notificados, no SINAN, 873 casos suspeitos de dengue (dados preliminares), sendo 6 o
número de óbitos. Comparando-se com o mesmo período de 2010, época do surto, observouse uma queda acentuada, de 94,4%. Porém, comparando ao ano de 2009, existe um acréscimo
de 91,1%, podendo-se atribuir este fato a uma consequência natural do surto, o aumento da
circulação viral, mesmo não sendo considerado um período epidêmico. Ressalte-se, que,
apesar do aumento no percentual, o número absoluto é baixo (Figura 1). Comparando-se os
dados de 2008 com o mesmo período do ano anterior, verificou-se uma redução de 55,3% dos
casos notificados. (Informativo epidemiológico 2002)
Em 2007 tem-se 1.594 casos, sendo 4 óbitos (Figura 2). Em 2006, a Secretaria de
Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde registrou, até a semana epidemiológica nº
52, 345.922 casos de dengue, dos quais 263.984 (76%) ocorreram entre os meses de janeiro a
maio, tendo 1 óbito, o que confirma a manutenção do padrão de sazonalidade da dengue no
Brasil, que acompanha a estação chuvosa (verão).
Figura 1 - Incidência de casos de dengue notificados em Brasília, 2006 a 2011
O grande número de casos notificados, em relação aos confirmados, também é um
indicador positivo de eficiência da assistência prestada aos usuários. Mostra que a rede de
saúde, pública e privada do DF, está atenta e sensível para os casos suspeitos, o que descarta a
possibilidade de subnotificação e é fundamental para atuar a tempo e prevenir as
complicações próprias das formas graves da doença. (FILHO, ANO). (Informativo
epidemiológico 2002)
Figura 2 - Óbitos prováveis por dengue em Brasília-DF, 2006 a 2011
É importante ressaltar que, apesar do aumento no percentual, o número absoluto é
baixo (Tabela 1).
Tabela 1 - Número de casos notificados e confirmados em Brasília-DF de 2009 a
2011
Casos
Período (semanas 1 a 8 )
fev/09
fev/10
fev/11
Notificados
383
4437
873
Confirmados
79
2965
159
Fonte: SinanNet/NEDTE/GEDCAT/DIVEP/SVS/SES-DF
A tabela 2 mostra a distribuição dos casos notificados no Distrito Federal em 2009,
2010 e 2011 por local de residência. Quando comparado a 2009, a distribuição dos casos
suspeitos por local de residência nas oito primeiras semanas de 2011 mantém o padrão
esperado.
Tabela 2 - Comparação de casos notificados, de dengue por local de residência. DF, 2009,
2010 e 2011*.
Localidade
Águas Claras
Asa Norte
Asa Sul
Brazlândia
Candangolândia
Celândia
Cruzeiro
Estrutural
Gama
Guará
Itapoã
Jardim Botânico
Lago Norte
Lago Sul
N. Bandeirantes
Paranoá
Park Way
Planaltina
Rec.das Emas
Notificados
2009
2010
2011
5
36
9
5
576
23
1
99
11
27
27
13
2
23
10
35
188
73
3
43
12
10
64
14
12
60
22
14
184
58
3
377
9
0
5
0
1
16
6
2
32
9
4
23
9
5
192
23
3
7
3
42
956
103
24
103
57
Riacho Fundo I
Riacho Fundo II
Samambaia
Santa Maria
São Sebastião
S.I.A
Sobradinho
Sobradinho II
Sudoeste/octog.
Taguatinga
Varjão
Vicente Pires
TOTAL
2
5
40
10
17
0
17
10
2
42
1
0
344
35
58
281
47
250
0
71
76
17
230
9
17
4102
11
7
91
8
67
0
22
41
2
57
1
6
777
Fonte: SinanNet/NEDTE/GDCAT/DIVEP/SVS/SES-DF
*Dados atualizados até 28/02/2011 (8ª semana epidemiológica de início de sintomas) . Sujeito a alterações
CONCLUSÃO
A conclusão é que não há nenhuma evidência de surto de dengue no DF, em
nenhuma localidade e, pelo período do ano em que estamos, se mantivermos as
ações de controle e, a população, os cuidados dentro dos domicílios, não teremos
uma epidemia como no ano que passou.
REFERÊNCIAS
1.
CÂMARA, Fernando Portela et al. Estudo retrospectivo (histórico) da dengue no
Brasil: características regionais e dinâmicas. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina
Tropical, Uberaba, v. 40, n. 2, p.192-196, mar./abr. 2007.
2.
PENNA,G.O. Guia de Vigilância Epidemiológica, 7º edição. Disponível
em:<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/gve 7ed web atual.pdf>. Acesso em: 02
ago.2012
3.
TAUIL, P. L. Aspectos críticos do controle do dengue no Brasil. Caderno de Saúde
Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, p.867-871, maio/jun. 2002.
4.
FILHO, D.O.A. Informativo Epidemiológico de Dengue. Disponível
<http://www.saude.df.gov.br/sites/100/163/00009877.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2012
em:
5.
INFORMATIVO EPIDEMIOLÓGICO. Dengue no DF. Semana Epidemiológica nº5.
Disponível em: www.saude.gov.br/sites/pdf. Acesso em: 02 ago.2012
6.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Semana Epidemiológica nº52.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/boletim dengue dez2006.pdf>
7.
SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Balanço Dengue Janeiro a Julho de
2007. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/ pdf/dengue 0210.pdf
8.
GUIA de vigilância epidemiológica / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância
em Saúde. – 6. ed. – Brasília: Ministério da Saúde, 2005.
9.
FIGUEIREDO, L. T. M. Dengue in Brazil during 1999-2009: A review. Dengue
Bulletin, Ribeirão Preto, v. 34, 2010. p. 6-12.
10.
FIGUEIREDO, L. T. M. Dengue in Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de
Medicina Tropical, Uberaba, v. 45, n.3, May/June 2012.
11.
WILSON, E. M; CHEN, L. H. Dengue in the Americas. Dengue Bulletin, Cambridge,
v. 26, 2002. p. 44-61.
12.
TEIXEIRA, G. M. et al. Dengue: twenty-five years since reemergence in Brazil.
Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, 2009.
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