INSTITUIÇÕES ESCOLARES E PRÁTICAS EDUCATIVAS: ANÁLISE DO CURRÍCULO NA ESCOLA VILA ZILDA NATEL (GUARUJÁ) NOS ANOS DE 1980 A 1990. Célia Maria Siqueira Gomes1 RESUMO Este trabalho é resultado da análise de dados parciais coletados por meio da pesquisa intitulada: O Ensino de Arte e o currículo nas séries iniciais: Um estudo de caso na Escola Vila Zilda Natel (Guarujá) entre os anos de 1980-1990. O objetivo deste estudo foi investigar as práticas educativas e o currículo de Arte nas séries iniciais do ensino fundamental em uma escola da rede pública estadual no município de Guarujá- SP. O problema de pesquisa que orienta a reflexão abordada é: Como ocorreram as práticas educativas de Arte ministradas por professoras das séries iniciais da educação básica e como essas práticas se articulavam com as propostas curriculares da época? Quanto à metodologia trata-se de um estudo histórico, documental, de abordagem qualitativa. Como fundamentação teórica, trabalhou-se com os conceitos de currículo, história, memória, arte, instituição e cultura escolar. A pesquisa encontrou nos estudos de Barbosa (2002), Bosi (1999), Buffa (2002), Faria Filho (1999), Fusari (1993), Gatti Júnior (2002), Silva e Silva (2005), Thompson (1992), Vidal (2005) e Zotti (2004) o suporte teórico para o seu desenvolvimento. Os dados levantados estão sendo tabulados, categorizados e interpretados por meio da análise de conteúdo segundo Bardin (1977). O estudo apresenta memórias das práticas educativas de Arte, história oral, por nos possibilitar dar vozes às professoras, que por meio da técnica de entrevista e dos relatos autobiográficos, revelam suas experiências com a arte nas séries iniciais, nos cursos de formação e na docência. Palavras - chave: Prática Educativa de Arte, Instituição Escolar e Currículo 1 Professora da rede pública estadual da disciplina de Artes na Escola de Educação Básica “Milton Borges”, no município de Guarujá (SP) e aluna do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos (UNISANTOS). [email protected] Considerações Iniciais A memória é gaveta dos guardados. Não somos o que somos não o que virtualmente seríamos capazes de ser. Minha bagagem são os meus sonhos (CAMARGO, 1998, p.31). As gavetas guardadas se transformaram no trabalho, ora apresentado, como parte da dissertação de Mestrado, na linha de pesquisa “Instituições Educacionais, Gestão e Cultura Escolar” do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Santos. Com este trabalho, busco analisar e compreender um pouco mais sobre o ensino de Artes nas escolas, ao dar especial enfoque ao status dessa disciplina, à sua composição curricular e função no ensino infantil em geral. Esta análise transcorreu por meio da reconstrução histórica de como essa disciplina foi ministrada no passado em uma escola em Guarujá, pela identificação e caracterização dos professores que a lecionavam e dos seus alunos. A minha história de vida, as experiências pessoais de infância e juventude e a minha trajetória profissional são os fatores que me motivaram a desenvolver tal trabalho. Iniciei minha carreira profissional em 1985. Despreparada, percebia que os conhecimentos adquiridos na graduação não haviam me ensinado o fundamental: como ser professora. Questionava na licenciatura a pouca ênfase nas questões pedagógicas e nos conteúdos. Perguntava-me se, afinal, ensinar se aprende na escola ou no dia a dia. Continuava a ler sobre arte e educação, mas sentia que meus estudos eram incompletos. Diariamente, as situações em sala de aula levavam-me a observar a necessidade de relacionar conteúdos, que deveriam ser transmitidos aos alunos, com a realidade por eles enfrentada em seu meio social. A organização do tempo e do espaço escolar, as propostas curriculares impostas com moldes rígidos e inflexíveis e as reações dos professores frente a essas propostas têm atraído a minha atenção e interesse enquanto pesquisadora.. Em relação ao ensino de Arte, mais especificamente, percebia a insatisfação dos professores no cumprimento das propostas curriculares, como as da Secretaria de Educação do Governo do Estado de São Paulo, que interferem diretamente na escolha, organização e execução do currículo escolar. Percebendo a necessidade de avançar e me aprofundar nas discussões sobre a importância do ensino da Arte na escola pública e refletir sobre a formação e as práticas desenvolvidas pelos professores das séries iniciais do ensino fundamental, busquei o Mestrado em Educação da Universidade Católica de Santos. Ao ingressar no Mestrado no ano de 2009 foi possível selecionar algumas das questões que me interessavam e definir um projeto de pesquisa. O curso proporcionou momentos de reflexão sobre a Educação e foi possível observar as reformas no Ensino da Arte, a re-configuração do currículo e as novas propostas de práticas pedagógicas. É neste cenário que teve origem esta dissertação. Portanto, O Ensino de Arte e o currículo nas séries iniciais: Um estudo de caso na Escola “Vila Zilda Natel” (1980-1990) se constitui no tema desta pesquisa. O tema nasceu da necessidade de retomar a minha história de vida, formação acadêmica e experiência profissional enquanto momentos de minha formação docente. Esse recorte pode contribuir para o entendimento do ensino da Arte no cotidiano escolar nas séries iniciais do ensino fundamental, pois ele permite repensar a prática do professor das diversas áreas do conhecimento e as exigências pela atuação polivalente. O final dos anos 80 e o início dos anos 90 foram marcados por mudanças significativas no cenário político brasileiro, com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e com a reorganização do movimento social, proporcionando novas perspectivas para a vida do brasileiro. No que tange à educação, foi um momento de mudanças na compreensão do processo educativo: reorganizações curriculares com a implantação do ciclo básico, em 1983; reestruturação curricular com a elaboração das propostas curriculares para o ensino de 1º grau, em 1985 e o repensar do papel da escola. Diversos grupos se organizaram em todo o país e realizaram encontros, passeatas e eventos que promoviam a discussão, a troca de experiências e a elaboração de estratégias de mobilização. Surgem nessa fase movimentos para valorização da educação partindo das influências da pedagogia histórico-crítica (Saviani, 1980). Surgem também propostas para a educação popular idealizadas por organizações não-governamentais (ONGs) e movimentos sociais fundamentados no pensamento de Paulo Freire. Elas propunham oferecer aos alunos acesso aos conhecimentos da cultura para uma prática social transformadora. E não foi diferente com o Ensino da Arte. Em 1985 o ensino de arte passa, novamente, por transformações. Barbosa (2005) apresenta uma nova maneira de ensinar arte: a Proposta Triangular. Esta proposta tem como objetivo trabalhar com três ações básicas nas aulas: fruir, produzir e refletir a arte, principalmente no campo das Artes Visuais. A Escola “Vila Zilda Natel” O lócus desta pesquisa é a própria Escola “Vila Zilda Natel”, que se torna espaço revelado e fundamental para a compreensão das práticas curriculares em Arte. Para identificar como tais práticas ocorreram na escola, se faz necessário tomar conhecimento da história desta instituição. Criada em 1980, pelos interesses dos grupos sociais da época, em conseqüência da expansão do bairro em áreas loteadas pertencentes a particulares e de uma antiga reivindicação da população local aos representantes do governo do Estado de São Paulo, iniciou suas atividades em um lugar provisório. Funcionou como uma creche pertencente à Escola Estadual Jacinto do Amaral Narducci com apenas duas salas de aula, na Rua 2, bairro Vila Zilda. Ela atendia crianças da própria comunidade, mas com o aumento da população do bairro, foi necessário construir uma escola maior que atendesse às necessidades da comunidade local. Com o tempo a escola sofreu várias reformas com a ampliação dos espaços internos. Mais salas de aula foram construídas, uma nova secretaria, cozinha e zeladoria. A escola também aumentou o seu quadro de professores e funcionários e se transformou em uma escola pública da rede estadual com regimento escolar próprio. Partindo do cenário desta instituição e do contexto educacional da época a pesquisa tem como objetivo central investigar o currículo e as práticas de professoras que desenvolveram o ensino de Arte nas séries iniciais do ensino fundamental e como essas práticas se articulavam com as propostas curriculares da época. Ao lançar um olhar sobre o Ensino de Arte no contexto da educação brasileira, percebe-se o quanto a arte está inserida no processo histórico e, portanto não pode estar desarticulada da situação social, política e ideológica de cada época ou momento. Portanto, reconhecer a relação da escola com os processos externos a ela amplia a percepção do currículo como um campo de lutas e conflitos de diferentes grupos, de relações de poder e de diferentes concepções sociais e políticas, materializadas por meio das disciplinas. Isso fica claro nas considerações de Silva (2004), em seu livro “Documentos de identidade. Uma introdução às teorias do currículo”. O autor aborda as diferentes temáticas entre as diversas correntes de currículo, mostrando a clara relação entre a formulação do currículo e o interesse do poder estabelecido em dado momento histórico. Segundo o autor, O currículo tem significados que vão muito além daqueles aos quais as teorias tradicionais nos confinaram. O currículo é lugar, espaço, território. O currículo é relação de poder. O currículo é trajetória, viagem, percurso. O currículo é autobiografia, nossa vida, curriculum vitae: no currículo se forja nossa identidade. O currículo é texto, discurso, documento. O currículo é documento de identidade. (Silva, 1999, p.150) Podemos entender dessa maneira, o currículo como um espaço no qual se produzem e se criam significados sociais e valores culturais em um determinado tempo, espaço e grupo social. A seleção e organização dos conteúdos constituem um processo de escolha e de decisão, portanto, o currículo pode ser tudo, menos neutro. Para Freire (1996), “é impossível a neutralidade na educação” (p.124). Toda escolha e ação do professor e da instituição escolar são indicadores políticos de uma determinada forma de ver e pensar o mundo e, assim, determinantes de uma cultura. Para o desenvolvimento da pesquisa foi necessário recorrer à história da instituição, lócus da investigação, com vistas ao conhecimento do seu passado. Buffa (2002) recomenda a descrição do processo de instalação da escola, caracterização do seu espaço físico, conteúdos curriculares, legislação e normas como processos de reconstrução da história, pois este percurso nos permite dar visibilidade ao objeto que está sendo estudado. Por esta razão é importante contextualizar a escola, conhecer os seus professores, o currículo e as práticas pedagógicas. É importante para essa reconstrução caracterizar de onde se fala, quem fala e do que se fala. A Legislação A década de 1970 foi marcada pelo modelo tecnicista de educação que direcionava seus métodos para a mera transmissão de conhecimentos de forma técnica, por meio de uma seqüência de conteúdos, geralmente sistematizados nos livros didáticos. Com a reforma de 1971, a Lei nº 5692 (BRASIL,1971) institui a obrigatoriedade do ensino da Arte nos currículos das escolas de 1º e 2º graus do sistema educacional brasileiro (Art. 7º), com o título de Educação Artística. A introdução da Educação Artística no currículo escolar por esta LDB foi um avanço, tanto pelo aspecto de sustentação legal para esta prática, quanto por ter sido considerada importante na formação dos indivíduos. Porém, essa alteração criou questões novas a serem enfrentadas, principalmente para os professores de cada uma das disciplinas artísticas. Após esta Lei, os professores de desenho, música, trabalhos manuais, canto, coral e artes aplicadas, que utilizavam para as aulas os conhecimentos específicos de suas linguagens, passaram a ver esses saberes transformados em atividades artísticas. Os alunos, por sua vez, passaram a reproduzir modelos artísticos impostos pelo professores, como pinturas, confecção de caixinhas, quadros e objetos, sendo, a maioria, oriunda de culturas estrangeiras, nada que representasse a própria cultura brasileira. Mesmo passando a fazer parte do currículo, a Educação artística foi tratada de modo indefinido pela própria lei de educação, conforme o expresso no Parecer nº 540/77: “não é uma matéria, mas uma área bastante generosa e sem contornos fixos, flutuando ao sabor das tendências de interesses”. Assim, o ensino de educação artística, sem um currículo definido, tornou-se para os professores uma matéria em que poderiam trabalhar com conteúdos de acordo com os seus conhecimentos e critérios. Essa metodologia em nada contribuiu para o desenvolvimento artístico dos alunos, tornando-se uma educação tradicional, em que o professor é o detentor do conhecimento e o aluno é incapaz de produzir e criar sem o professor. O ensino da arte “passa a ser compreendido como uma atividade, não como uma disciplina, de acordo com a interpretação da lei educacional nº 5692/71 (Barbosa, 2001, p.12). Na realidade, a referida Lei, no campo do ensino de arte, caracterizou-se como uma ação não planejada, pois as atividades eram desenvolvidas, apenas, para cumprir as formalidades e ocupar os horários, sendo ministradas por professores de outras áreas que não compreendiam o significado da Arte na Educação. Encontramos ainda hoje nas escolas práticas pedagógicas tais como: cantar músicas da rotina escolar, preparar para apresentações em datas comemorativas, fazer decoração da escola para as festas cívicas, sendo vistas como parte da disciplina “Arte”. Essa informalidade e fragmentação vêm caracterizando o ensino de Educação Artística. Sobre a pesquisa Nesta perspectiva a pesquisa tem com foco principal problematizar: Como ocorreram as práticas de Arte desenvolvidas por professoras das séries iniciais na referida escola e como essas práticas se articulavam com as propostas curriculares da época? A pesquisa é descritiva, de abordagem qualitativa em que primeiramente foi feito um estudo bibliográfico, que consistiu no levantamento de obras e leituras a respeito do tema (livros, artigos científicos, dissertações, e outras) no sentido de ampliar a compreensão sobre o objeto em estudo. Em seguida, realizou-se a pesquisa empírica tendo como instrumento de coleta de dados, um questionário semi-estruturado que foi aplicado a 06 docentes que atuavam nas séries iniciais da escola Vila Zilda Natel. Nesse questionário, buscou-se informações sobre formação, tempo de docência, e as práticas pedagógicas de Arte. Visando a compreensão da temática investigativa se faz necessário recorrer aos fundamentos teóricos, no intuito de explicitar os conceitos de instituição escolar, história, memória, cultura escolar, currículo e Arte. 1. Instituição Escolar O estudo a respeito das histórias das instituições escolares nasceu na Europa, mas já se espalhou entre os historiadores brasileiros. Ela veio trazer novo fôlego para a História da Educação, buscando e trazendo para o campo de estudos novos elementos. Para Gatti, a instituição está inserida “no plano histórico, como no plano pedagógico, uma totalidade em construção” (p. 68), formando assim, sua própria “identidade”. A instituição tem sua própria rotina, seus hábitos, suas leis, voltada para uma determinada clientela, com o seu elenco montado para dar conta deste determinado processo. O historiador deve, na análise das fontes, se apropriar de todo esse processo para poder analisá-lo melhor. Portanto, mergulhar no interior de uma Instituição Escolar, com os olhos voltados para a História é buscar as suas origens, o seu desenvolvimento no tempo, as alterações arquitetônicas pelas quais passou; é buscar a identidade dos sujeitos que a habitaram, das práticas pedagógicas que ali se realizaram, do mobiliário escolar e de tantos outros aspectos que se transformaram com o passar dos anos. Segundo Buffa (Apud Araújo, 2002) para que se possa incorporar a idéia de História das Instituições Escolares é preciso compreender que pesquisá-la é se debruçar sobre estudos de “filosofia e história da educação” no Brasil, imersos nas políticas que são elaboradas no país, o que acaba deixando alguma “marca” nestas instituições. Estudá-las, porém, requer reconstituir documentos, textos, memórias orais, arquivos, fotos e todo o material que possa ajudar a reconstituir a história como um todo. É preciso imergir no cotidiano de uma instituição, para entender o processo e os sujeitos envolvidos. Logo, a análise de uma instituição não pode se dar apenas estudando o seu espaço físico, a sua arquitetura. Todas as emoções, lembranças, relações interpessoais, projetos fazem parte e contam a história de sua identidade e de sua importância histórica. 1.1 Memória e História Reconstituir o passado, com base nas lembranças de pessoas que, de fato vivenciaram esse tempo é o resultado de um encontro, no qual as experiências de uma geração anterior são evocadas e repassadas para outra, dando continuidade ao fio da história. Para tanto, a noção de “memória” se constitui elemento imprescindível para a problemática estabelecida, tendo em vista o componente “temporal”, que perpassa as narrativas dos sujeitos, suas histórias de vida e práticas sociais. Bosi (1999) faz menção aos estudos de um sociólogo que estudou a memória, afirmando que o modo de lembrar é tanto individual quanto social. Desta forma, a memória do indivíduo está presa à memória do grupo social a qual esse pertence e a memória do grupo diretamente ligada à tradição que configura um âmbito maior: a memória coletiva de cada sociedade. Em relação à discussão que trata da memória como momento de rememoração, o estudo contempla como metodologia de pesquisa, o diálogo com moradores do bairro onde a escola está inserida, no sentido de recomposição histórica do cenário onde o nosso objeto de estudo se inscreve e circunscreve. Convém ressaltar que tanto a História quanto a memória se constituem em representações narrativas que se configuram como uma reconstrução social do passado, tendo em vista que o indivíduo e os grupos que interagem “refazem” o passado ao rememorá-lo. Nesta direção, ao nos lançar na tarefa de reconstituir a história por meio da memória das práticas, seja docente, curricular ou mesmo pedagógica, a cultura escolar se apresenta como um elemento indispensável, sobretudo, para quem pesquisa no campo da Educação. 1.2 Cultura Escolar Sabe-se que, a cultura escolar se deixa atravessar por diversos elementos, entre os quais é possível destacar as mudanças sociais, políticas e econômicas. Nas últimas décadas, essas mudanças têm se manifestado de forma mais intensa, contribuindo, portanto, para as novas regras, ou seja, estrutura legal para o funcionamento do sistema de ensino. As novas tecnologias, com as suas linguagens vêm causando também, mudanças significativas e que se refletem diretamente na relação e na convivência escolar. Recorrer, porém, às noções de cultura escolar é condição necessária para a rigorosidade metodológica nas pesquisas no âmbito da História da Educação, contribuindo assim, para o fortalecimento do diálogo com a Sociologia, Psicologia, Literatura entre outras áreas do conhecimento. Para Faria Filho (2007), a cultura escolar privilegia uma situação histórica articulada e representada pelos sujeitos escolares, às dimensões espaços-temporais do fenômeno educativo escolar, os conhecimentos, as sensibilidades e os valores a serem transmitidos; a materialidade e os métodos escolares. A cultura escolar, portanto, perpassa todas as ações do cotidiano escolar, seja na influência sobre os seus ritos ou sobre a sua linguagem, seja na determinação das suas formas de organização e gestão, seja na constituição dos sistemas curriculares. Conforme Viñao Frago (2000, p.100), a cultura escolar pode ser explicada como um “conjunto de idéias, princípios, critérios, normas e práticas sedimentadas ao longo do tempo, o que significa dizer que são modos de pensar e agir dos sujeitos dentro da organização curricular”. Conhecer a cultura escolar de uma instituição é estudá-la a partir de seu funcionamento interno, como por exemplo, o que acontece nas aulas, como o conjunto de disciplinas se transforma em conhecimento, o que acontece nos recreios, nas festas, como as normas disciplinares moldam o comportamento dos alunos e influenciam em sua vida adulta. Abordar a história da instituição implica em levantar novas fontes: os cadernos, os textos, os diários, planos de aula dos professores, mobiliário escolar, lousa, arquitetura, relação professor e aluno, pois esse é o espaço por excelência, onde se materializa o estudo das disciplinas. Sob essa mesma ótica, Vidal (2009, p.25-41) explica a pesquisa educacional como uma ação que se reporta a Instituição Escolar como lócus investigativo, demandando olhar a escola pelas lentes da cultura escolar e não apenas, visando ampliar “nosso entendimento sobre o funcionamento interno da Instituição como nos provoca a rever as relações estabelecidas historicamente entre escola, sociedade e cultura”. 1.3 Currículo Escolar e Arte Currículo é o conjunto de experiências e atividades voltadas para a formação do indivíduo. Em sentido mais amplo, Duarte (1986) conceitua currículo como a soma de todas as situações de aprendizagem que permitem ao aluno a aquisição de experiências. Os conteúdos ensinados na escola é um dos elementos do currículo e não a única forma de aquisição de conhecimentos. Evidencia-se, contudo, que existem diferentes aspectos que são trabalhados pela e na escola e que, portanto, se constitui base para a formação dos envolvidos, mas que apesar de não estar prescrito nas listas de conteúdos, ainda assim, se caracteriza como currículo escolar. Compreender o currículo, na perspectiva histórica permite o entendimento dos processos de pensamento e de ação em determinadas circunstâncias sociais. Assim, o levantamento histórico das propostas curriculares de um determinado sistema de ensino, aliado as interpretações realizadas pela escola possibilita o entendimento do papel que essas instituições desempenham na construção social do conhecimento. O currículo escolar pode ser entendido, portanto, como processo social constituído de lutas e conflitos, nos quais diferentes concepções, ideologias e tradições entram em cena, considerando e selecionando em determinado contexto histórico. Para pensar sobre o currículo escolar é necessário nos atentar para o que é ensinado formalmente, por meio de conteúdos e o que é ensinado informalmente, por intermédio do currículo oculto. Atitudes e valores são faces do currículo que se vivencia na e pela Escola, seja na relação do professor com o aluno; do aluno com o professor; dos pais com os professores; dos professores com os pais; dos pais com a direção e da direção com os pais. O estudo das práticas curriculares e pedagógicas nos possibilita mergulhar no contexto histórico e cultural da Educação, tal como o cenário normativo da Lei nº 5.692/71, que incluiu a Arte no currículo sob a denominação de Educação Artística, naquele tempo, considerada “atividade educativa”, com ênfase no processo expressivo e criativo dos alunos. 1.4 Tendências Pedagógicas no Ensino de Arte: Considerações Históricas Visando a compreensão do campo teórico de onde se originam nossas práticas pedagógicas, é indispensável fazer uma revisão histórica das tendências pedagógicas no ensino da arte na escola. Instituída no currículo escolar pela LDB nº 5.691/71, em plena época da ditadura militar, com o nome de Educação Artística, esta disciplina fundamentava-se principalmente, nos princípios da Escola Nova e na concepção da Pedagogia Liberal de tendência tecnicista. Neste sentido, Fusari e Ferraz (1992, p.15) explicam que: [...] com relação à Educação Artística que foi incluída no currículo escolar pela Lei 5692/71, houve uma tentativa de melhoria do ensino de Arte na educação escolar, ao incorporar atividades artísticas com ênfase no processo expressivo e criativo dos alunos. Com essas características passou a compor um currículo que propunha valorização da tecnicidade e profissionalização em detrimento da cultura humanística e científica predominante nos anos anteriores. Paradoxalmente, a Educação Artística apresentava, na sua concepção uma fundamentação de humanidade dentro de uma lei que resultou mais tecnicista. Tratava-se de uma tentativa de superar a Pedagogia Tradicional, onde o ensino das artes visuais foi praticamente reduzido ao desenho, apresentado com um sentido utilitário de preparação técnica para o trabalho. Este valorizava o traço, o contorno e a repetição de modelos que vinham principalmente de fora do país. O “desenho de ornatos, a cópia e o desenho geométrico visavam à preparação do estudante para a vida profissional e para as atividades que se desenvolviam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais” (FERRAZ e FUSARI, 1993, p.30). No ensino Tradicional, o ensino e aprendizagem de Arte visavam apenas à transmissão de conteúdos reprodutivistas e completamente desvinculados da realidade social e cultural. No entanto, na década de 70 do século XX, mais especificamente, a partir de 1973, quando as primeiras Licenciaturas de Educação Artística foram implantadas no Brasil para atender as demandas da recém instituída disciplina escolar, os professores destes cursos ensinavam principalmente a desenvolver técnicas artísticas. Os estudantes destes cursos de graduação aprendiam que era necessário respeitar a liberdade de expressão das crianças e adolescentes. Esta crença fortemente calcada nos princípios da Escola Nova incentivava a livre expressão. Ensinava-se também o Desenho Geométrico. Essa é uma herança do século XIX e dos pressupostos difundidos naquela época e conforme Barbosa (2002, p.11): A idéia da identificação do Desenho Geométrico que é compatível com as concepções liberais e positivas dominantes naquele período ainda encontram com cem anos depois em nossas salas de aula e na maioria dos compêndios de Educação Artística, editados mesmo depois da reforma de 1971. Na Pedagogia Tecnicista, o aluno e o professor assumem uma posição secundária na construção do conhecimento escolar. O papel principal é delegado ao sistema técnico de organização escolar. De acordo com esta tendência pedagógica, o uso de recursos audiovisuais e tecnológicos na escola assinalava para uma suposta modernização do ensino. Havia a crença de que, desta forma a escola atenderia a finalidade de preparar o estudante para o moderno mundo do trabalho, centrado agora cada vez no uso das tecnologias. As finalidades do ensino da arte eram o “saber construir” e o “saber expressar-se” espontaneísta, com o uso de materiais diversos, tais como sucata. Portanto, para Ferraz e Fusari (1993), o ensino era totalmente descontextualizado e reduzido aos aspectos técnicos. Ao lado da tendência pedagógica tradicional do Escolanovismo e do Tecnicismo, um educador pernambucano, chamado de Paulo Freire apresentava a sua concepção de Educação e de prática educativa, entre os anos de 1961-1964. Neste sentido, Fusari e Ferraz (1993, p.33) explicavam que esta nova concepção estava diretamente voltada para: [...] o diálogo educador-educando e visando à consciência crítica, influencia principalmente movimentos populares e a educação nãoformal. Retomado a partir de 1971, é considerado nos dias de hoje como uma Pedagogia Libertadora, em uma perspectiva de consciência crítica da sociedade. Inspirados nos ideais de Paulo Freire, aos poucos, arte-educadores passaram a rever suas práticas, apostando no papel da Escola e da Educação com agentes de transformação sociocultural. Nesta perspectiva, o professor começa a rever seu papel de mero transmissor ou facilitador para o de mediador. O ensino da arte passou a ser concebido como área de conhecimento. Em relação às tendências pedagógicas, pode-se integrar a Histórico-Crítica, na década de 1980, que tinha como objetivo a fusão da prática e da teoria para o ensino mais realista, porém, muito questionada nos dias atuais quanto as suas especificidades no que diz respeito à educação. Pois, como notamos no meio escolar a prática educativa ainda permeia o caráter tradicional, problema este não muito fácil de abolir. A Escola dos nossos tempos é vista como parte integrante do processo educativo, cabendo-lhe desenvolver a visão crítica na formação humana do aluno quanto à alienação e subordinação ao capital, para que inserindo na sociedade possa ser um agente de transformação. Na tendência histórico-crítica, a ênfase está na prática inicial, a qual prioriza a prática do cotidiano; o professor atua como mediador do conhecimento entre aquele que o aluno possui, instigando a reconstruí-lo inserindo novas descobertas. Esta se volta para o ensino de arte, desempenha papel relevante quanto à prática de ensino em sala de aula, pois a mesma defende a contextualização histórica como meio de proporcionar o conhecimento. Atendendo a este pressuposto teórico e filosófico para fundamentar a prática pedagógica, a proposta triangular de Ana Mãe Barbosa integra as três faces do conhecimento artístico: o fazer artístico, a análise das obras e a história da arte. Essas, portanto, contribuem para um ensino de artes mais realistas e críticas, com o desenvolvimento de aulas significativas para os alunos. Procedimentos Metodológicos Cabe lembrar que com este estudo pretendeu-se analisar, compreender e interpretar o ensino de Arte e o currículo da Escola Vila Zilda Natel, no município de Guarujá, entre os anos de 1980 a 1990. Para tanto, se faz necessário nesse percurso, recorrer à reconstituição da história da referida instituição. Do ponto de vista metodológico, a investigação foi básica, de natureza qualitativa e segundo Lüdke e André (1986) revelam-se descritiva, com o encontro de um ambiente rico em informações. A coleta foi realizada tendo como suporte o registro no diário de campo e análise documental. Este diário também será utilizado para reflexões que incluirá: problemas, sentimentos, idéias, impressões, dúvidas, surpresas, decepções, ou seja, procuraremos registrar todas as impressões que encontramos durante o processo de observação que serão utilizadas para as reflexões analíticas, metodológicas e que servirão para orientar possíveis mudanças na perspectiva da observação ou de esclarecimentos se necessários. Utilizou-se, também, a entrevista, por propiciar ao pesquisador “obter informes contidos na fala dos atores sociais” (MINAYO, 1994, p. 56). Neste sentido, Minayo e André (1986, p.33) aponta que, por ter “o caráter de interação que permeia a entrevista, havendo uma atmosfera de influência recíproca entre quem permeia e quem responde”. A entrevista na concepção de Bodgan e Biklen (1994, p.134-135), pode ainda, revelar com detalhes a experiência vivida pelos sujeitos, uma vez que essa é utilizada para: [...] recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo [...] As entrevistas qualitativas variam quanto ao grau de estruturação, algumas, embora relativamente abertas, centram-se em tópicos determinados ou podem ser guiadas por questões gerais. Mesmo quando se utiliza um guia, as entrevistas qualitativas oferecem ao entrevistador uma amplitude de temas considerável, que lhe permite levantar uma série de tópicos e oferecem ao sujeito a oportunidade de moldar o seu conteúdo. Nesta perspectiva, é o procedimento mais usual no trabalho de campo, pois, a sua utilização de acordo com Minayo (1994, p.56) permite ao pesquisador não somente uma “conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma realidade que está sendo focalizada”. Lüdke e André (1986, p. 33-34) afirmam que, a entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados, em especial quando: [...] não há a imposição de uma ordem rígida de questões, o entrevistado discorre sobre o tema proposto com base nas informações que ele detém e que no fundo é a verdadeira razão da entrevista. Na medida em que houver um clima de estímulo e de aceitação mútua, as informações fluirão de maneira notável e autêntica. A grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre os mais variados tópicos. Sendo assim, a escolha pela entrevista se deu pelo fato dela possibilitar a especificidade das informações de cada sujeito, permitindo que os sujeitos falem livremente sobre seus pontos de vista, revelando com detalhes a sua experiência vivida. Mapeamentos das Fontes Documentais Além da pesquisa bibliográfica, foi realizado também, um levantamento de fontes documentais, no sentido de fundamentar evidências ligadas à história da Escola Vila Zilda Natel com as práticas curriculares de Arte. Esse procedimento se torna importante no sentido de garantir a compreensão de fatores ligados diretamente ao processo de escolarização. No percurso metodológico, o levantamento de dados foi viabilizado, tomando parte do acervo documental da escola, constituído de atas, planos de escola, fotografias, croquis, termos de visita supervisores, livros de matrículas, livro-ponto, decretos e leis, envolvendo a rotina pedagógica da referida instituição. De acordo com Magalhães (2004), os documentos e registros educacionais ainda não receberam o merecido reconhecimento como importantes fontes para o desenvolvimento da pesquisa histórica em educação. Contudo, sua utilização vem crescendo nos últimos anos, pois a partir dos mesmos o historiador pode encontrar pistas, vestígios da cultura escolar de uma instituição de ensino, bem como dos conjuntos de relações sociais, políticas e econômicas que permearam a história da instituição, conforme menciona Medeiros (2004, p.6): Diante dos arquivos escolares a imaginação e o trabalho científico irão explorar inúmeras possibilidades construirão biografias escolares, elaborarão sucessivos conceitos de cultura ou de educação sistemática, esclarecerão a didática viva, discutirão formas de ensino dominantes em cada época, dirão como a escola estava inserida na comunidade. No que se refere ao tratamento das informações, encontramos alguns documentos em péssimas condições de conservação, dificultando a sua leitura e transcrição, o que recorreu providências de restauração e higienização. Após a coleta, os dados foram cuidadosamente, transcritos e categorizados para posterior interpretação, cujo método foi à análise de conteúdo. Registro de Fontes Escritas Recorremos ao diário de campo, que é uma técnica utilizada na coleta de dados de uma pesquisa de cunho qualitativo, pois pode ser entendido, de acordo com Triviños (1987), como todo processo de coleta de análise de informações, ou seja, ele engloba as descrições de fenômenos sociais e físicos, explicações levantadas a respeito das mesmas e a compreensão da situação em estudo. Elencamos ainda, como instrumento de análise do currículo, os documentos capazes de subsidiar e contribuir na pesquisa. Sendo assim a análise documental foi por meio dos seguintes documentos: Proposta Pedagógica da referida escola, Plano de Escola, Diários de classe, Grade Curricular e Planejamento das professoras. Estes foram utilizados como mais um meio de obter informações e conhecimentos, pois são documentos que pontuam uma concepção e organização do currículo em Arte. Registro de Fontes Orais Para Bosi (1994, p.53), o testemunho vivo é uma forma extremamente válida de (re) escrever a história: A lembrança é a sobrevivência do passado. O passado, conservandose no espírito de cada ser humano, aflora à consciência na forma de imagens lembrança. [...] A recriação do passado feita por pessoas simples, testemunhas vivas da história, é diferente da versão oficial que se lê nos livros. Os velhos contam a história vivida e sofrida por eles. [...] Suas lembranças se prendem a velhos lugares. [...] E a cidade emerge cheia de alma, com sua memória política, sua memória de trabalho, as vozes de suas igrejas e ruas, seus pregões e cantigas, seus assobiadores das madrugadas. Ao descrever sobre a história da Escola Vila Zilda Natel, visando a análise do ensino de Arte e o currículo nos anos de 1980 a 1990, procurou-se contemplar as “falas” dos entrevistados. Nesse sentido, Thompson (1992, p. 22) explica que: A história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo [...] Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. As perguntas foram estruturadas em três blocos. O primeiro abordou as concepções, os saberes das professoras sobre o ensinar e o aprender, a importância do ensino de arte. O segundo, as questões relativas às ações das professoras, à prática pedagógica no ensino de Arte, à sua concepção ao planejar, à maneira e à freqüência com que a linguagem da Arte estava presente no planejamento, o relato de uma experiência significativa; e, o último bloco, acerca do compromisso docente com a sua formação e como se constituíram. As entrevistas foram realizadas conforme a disponibilidade das professoras e no local de sua preferência. Conversei com elas sobre a necessidade desses momentos serem gravados, o que me foi permitido. Posteriormente transcritas, auxiliaram-me na interpretação e análise dos dados. Contudo, cumpre destacar que a pesquisa encontra-se em andamento e que até o momento pode-se dizer que a coleta de dados já aponta para contextos ricos e interessantes que nos permitem recuperar as práticas educativas e curriculares de arte. Mas, ao mesmo tempo, também tem exposto a fragilidade da instituição com relação à preservação da memória. Mesmo assim, foram encontradas fontes, referentes ao recorte cronológico determinado (1980-1991): Livro termo de visita supervisores; croquis e plantas da reforma e ampliação das salas de aula; livro ponto administrativo e docente; decreto da criação da Escola Vila Zilda Natel (1980); decreto que dá a denominação de Escola Estadual Milton Borges Ypiranga (1991); diários de classe (1ª à 4ª séries); registro de matrículas (1983); plano de escola (1988 e 1989) contendo: identificação da escola; aspectos sociais e econômicos; característica da clientela; ocupação dos pais (profissão); instalações; relação pessoal administrativo; relação professores da unidade; QE (Quadro Escolar); calendário escolar; planos de serviços de limpeza; croquis do prédio; plano da APM (Associação de Pais e Mestres); fotografias, banners. Considerações Finais O caminho percorrido entre os limites e as possibilidades de tudo que compõe este estudo, leva-nos a crer que há muito que refletir, repensar e fazer em relação a um tema tão complexo e abrangente. Os dados foram parcialmente obtidos da análise documental, do levantamento bibliográfico da literatura existente e das entrevistas e questionários respondidos por docentes da escola pesquisada. Em relação ao currículo verificou-se que persistia uma visão tradicional dele, dentro de uma perspectiva conservadora. Foi notável nas falas das professoras e nos diários de classe a preocupação em cumprir o programa, a estrutura curricular estabelecida pela Secretaria Estadual da Educação, reverenciando as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, com pouca ou nenhuma alteração, discussão e transformação. O que se percebeu no discurso e na prática curricular das docentes é que o currículo de modo geral é estruturado em disciplinas isoladas e o seu ensino se concentra, na maioria dos casos, de forma mecânica dos manuais escolares oficiais. As docentes apontaram como suas dificuldades, terem de pensar em como tornar os conhecimentos mais acessíveis à aprendizagem dos alunos. Evidenciaram em suas opiniões a necessidade de formação continuada oferecida pela Secretaria da Educação, Universidade ou própria escola, principalmente quando promovida em forma de oficinas, sobre como desenvolver os conteúdos de Arte tornando-os mais próximos da compreensão dos alunos. O surgimento de uma nova proposta e prática de currículo pelo docente na escola, não é tarefa fácil, mas não é impossível. Os professores precisam entender que o currículo se faz no cotidiano, nas histórias diárias, a partir do conhecimento sensitivo, empírico trazido pelos alunos. Assim, tendo como base fundamental os pressupostos teóricos evidenciados nesse texto, concluo parcialmente esta discussão acreditando na possibilidade de que se abram novos caminhos para novas discussões que contemplem as lacunas que ficam em qualquer estudo, pois o conhecimento é dinâmico e não se esgota jamais. Espero que este trabalho contribua com os professores, com a escola, com a comunidade, possibilitando um novo olhar, um novo significado, um novo fazer pedagógico frente às práticas curriculares e culturais que se aproximem das experiências cotidianas. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e Mudanças no Ensino da arte. Editora Cortez. 2007. ____________ Imagem no Ensino da Arte, A. Anos oitenta e Novo Tempos. 6. ed. São Paulo: Perspectiva, 2005. _________________ Arte educação no Brasil: das origens no modernismo. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1978. BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de Velhos. 15ª edição. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 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