AVALIAÇÃO DAS CONDIÇÕES DE VIDA NO ACOMPANHAMENTO DO TRATAMENTO DAS PESSOAS COM AIDS Leidyanny Barbosa de Medeiros1 Moema Brandão de Albuquerque 2 Oriana Deyze Correia Paiva Leadebal3 Jordana de Almeida Nogueira4 RESUMO Nos últimos anos as pessoas que vivem com o HIV/Aids, estão enfrentando um grande processo de mudança, em decorrência dos grandes avanços relacionados ao surgimento da terapia antirretroviral (TARV). Tais avanços contribuíram de maneira bastante positiva para a vida das pessoas que vivem com HIV, beneficiando na sobrevida e qualidade de vida desses indivíduos. Em contrapartida fez com que a infecção pelo HIV adquirisse um aspecto crônico. Neste contexto, a adesão ao tratamento assume importância categórica diante da perspectiva de uma vida longa e com qualidade. O presente estudo objetivou avaliar a importância dada pelos profissionais de saúde, as condições de vida de pessoas que vivem com Aids e a influência desta para uma maior adesão ao tratamento antirretroviral. Trata-se de um estudo descritivo, tipo inquérito, desenvolvido no Complexo Hospitalar Clementino Fraga (CHCF), referência especializada para atendimento das pessoas com HIV/Aids no Estado da Paraíba; que envolveu 50 usuários com AIDS, maiores de 18 anos, residentes em João Pessoa, em uso de TARV por período superior a seis meses e não pertencentes ao sistema prisional. Os resultados mostraram que os entrevistados, em sua maioria, definiram-se satisfeitos com relação à averiguação da regularidade do uso de medicamentos 90% (45/50), da ocorrência de efeitos colaterais da terapêutica medicamentosas 76% (38/50) e da averiguação de intercorrências relacionadas à doença 70% (35/50), no entanto, no que 1 Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba. Rua Joana Batista Cardoso, 150 Aptº 102, Ed. Vilas do Sul – Jardim São Paulo. João Pessoa – PB CEP: 58.053-170 / E-mail: [email protected] 2 Enfermeira, egressa da Universidade Federal da Paraíba 3 Profª. Ms. do Departamento de Enfermagem Clínica. Pesquisador do Núcleo de Estudos em HIV/Aids Saúde e Sexualidade do Programa de Pós-graduação em Saúde em Enfermagem do CCS/UFPB. 4 Profª. Dra. do Departamento de Enfermagem Clínica e do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Enfermagem do CCS/UFPB. Líder do Núcleo de Estudos em HIV/Aids Saúde e Sexualidade. diz respeito à averiguação das condições de vida, 54% dos entrevistados mostraram-se insatisfeitos com a avaliação dos profissionais. Portanto, fica evidenciada a importância de se avaliar as condições de vida do paciente uma vez que para uma maior e melhor adesão ao TARV é necessário toda uma adaptação no cotidiano do individuo, com isso os profissionais de saúde precisam atentar para a importância do seu papel no contexto da assistência de pessoas vivendo com HIV/Aids, e nesta perspectiva valorizar os desafios para o controle da doença e as suas necessidades de apoio; investindo na adesão à TARV. Palavras-chaves: Condições Sociais, AIDS, Adesão ao Tratamento Medicamentoso INTRODUÇÃO A situação clínica e imunológica das pessoas que vivem com o HIV/Aids, ao longo dos anos vem se modificando, em decorrência dos grandes avanços relacionados ao surgimento da terapia antirretroviral (TARV). Tais avanços contribuíram de maneira bastante positiva para a vida das pessoas que vivem com HIV, resultando na melhoria da qualidade de vida e aumento da sobrevida. Em contrapartida fez com que a infecção pelo HIV passasse a ser vista como uma infecção que deu origem a uma doença de caráter crônico (1). Essa característica de cronicidade da doença provoca mudanças em diferentes âmbitos do viver, alterando o ritmo e a direção do cotidiano do individuo ao longo do tempo, incluindo aspectos físicos, sociais e emocionais. Essa condição traz certas particularidades, como a persistência e a necessidade de um nível de cuidados permanentes; alto impacto, tanto nos serviços de saúde quanto na vida das pessoas e de suas famílias; além de consequências econômicas e sociais para a sociedade (2). Mesmo com tantos avanços, para garantir a efetividade da terapia antirretroviral, é necessário que haja uma adesão total a essa nova prática de vida. Desde então, a adesão ao tratamento se destaca entre os maiores desafios da assistência às pessoas vivendo com HIV/Aids, uma vez que demanda de seus usuários mudanças comportamentais, dietéticas, o uso de diferentes medicamentos por toda a vida, além da necessidade, por parte dos serviços, de novas adaptações e oferta de atividades específicas em adesão (1). Neste contexto, a adesão ao tratamento assume importância categórica diante da perspectiva de uma vida longa e com qualidade. E os profissionais de saúde, responsáveis pela assistência, surgem como participantes ativos desse processo de adesão e devem focar suas ações não apenas nos medicamentos em si, mas ampliando suas ações de forma compartilhada com os usuários para fora dos espaços tradicionais utilizados, de maneira que possam avaliar o processo de adesão como um todo, dando importância a fatores que possam limitar sua efetividade. Frente ao exposto esse estudo objetivou avaliar a importância dada pelos profissionais de saúde, as condições de vida de pessoas que vivem com Aids e a influência desta para uma maior adesão ao tratamento antirretroviral. MÉTODO Trata-se de um estudo descritivo, tipo inquérito, desenvolvido no Complexo Hospitalar Clementino Fraga (CHCF), referência especializada para atendimento das pessoas com HIV/Aids no Estado da Paraíba; que envolveu 50 usuários com AIDS, maiores de 18 anos, residentes em João Pessoa, em uso de TARV por período superior a seis meses e não pertencentes ao sistema prisional. As informações foram coletadas em julho e agosto de 2011, através de fontes primárias utilizando-se instrumento estruturado segundo possibilidades produzidas por escala intervalar tipo Likert. Os dados foram analisados segundo a frequência de respostas em que os entrevistados avaliaram as ações como satisfatória e/ou insatisfatórias. Os dados recortados na presente pesquisa integram o projeto aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Lauro Wanderley, sob protocolo 612/10, folha de rosto nº. 372583. RESULTADOS E DISCUSSÃO Variável Averiguação da regularidade do uso dos medicamentos Averiguação da ocorrência de efeitos colaterais medicamentosos Averiguação das intercorrências relacionadas à doença Avaliação das condições de vida Não satisfatório n % 3 6% Regular Satisfatório n 2 % 4% n 45 % 90% 8 16% 4 8% 38 76% 13 26% 2 4% 35 70% 27 54% 4 8% 19 38% Quadro 1: Distribuição das respostas segundo a frequência da avaliação do andamento do tratamento pelos profissionais do serviço. João Pessoa, 2011. Fonte: CHCF João Pessoa – PB/ Julho - Agosto 2011. Observamos nos percentuais apresentados, que a maioria dos entrevistados reconhece que os profissionais de saúde, averiguam de modo satisfatório, a regularidade do uso de medicamentos 90% (45/50), a ocorrência de efeitos colaterais 76% (38/50) e a existência de intercorrências relacionadas à doença 70% (35/50) no momento da consulta. Todavia, ao serem questionados sobre a existência de avaliação das suas condições de vida, como; estrutura familiar, emprego, condições de moradia, dificuldades financeiras, em meio a tantas outras, durante a consulta pelos profissionais de saúde, estes se mostraram insatisfeitos, correspondendo a 54% dos entrevistados. Desde o surgimento, a TARV objetivou reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas com HIV/Aids, por meio da supressão viral, o que permite retardar ou evitar o surgimento da imunodeficiência. Os resultados obtidos com o tratamento, como a redução progressiva da carga viral e a manutenção e/ou restauração do funcionamento do sistema imunológico, estão associados a benefícios marcantes na saúde física das pessoas soropositivas, permitindo que elas retomem e concretizem seus projetos de vida (3). Considerando-se as contribuições e os benefícios advindos com essa terapia para o tratamento das pessoas que vivem nesta condição, atualmente, é necessário que os profissionais de saúde estejam atentos e valorizem a regularidade desse tratamento, bem como os efeitos destes medicamentos para os indivíduos que dele fazem uso, averiguando com regularidade a ocorrência de fatores que interferem no cumprimento adequado da terapêutica. Dados suplementares mostram que os percentuais de satisfação dos entrevistados, com relação ao acompanhamento da TARV, estão diretamente interligados aos profissionais médicos, entre 70 a 90%, e que os demais profissionais da saúde, estão com uma atuação insatisfatória quando relacionada à avaliação dos fatores que possam interferir no tratamento. O enfermeiro como profissional comprometido com o cuidado, deve intervir no estabelecimento de vínculos com o cliente e/ou cuidador, avaliando e desenvolvendo mecanismos que propiciem a adesão à terapêutica, de forma que a pessoa doente possa conhecer a importância e se comprometa com a realização do seu tratamento corretamente, assim como acompanhar e avaliar esse processo (4). A atuação dos profissionais da saúde juntamente com outros fatores pode influenciar diretamente a adesão desses pacientes à TARV, como a grande quantidade diária de comprimidos, a rigidez dos horários de administração dos medicamentos, os efeitos colaterais adversos e as restrições alimentares podem dificultar o que se chama de adesão ao regime de tratamento estabelecido. É fundamental que os profissionais de saúde reconheçam que a adesão deve ser um processo de construção, e que o usuário tenha a compreensão de que o tratamento tem importância significativa para a eficácia na melhoria da sua saúde (5). A não adesão aos novos medicamentos para a Aids é considerado como um dos mais ameaçadores perigos para a efetividade do tratamento, no plano individual, e para a disseminação de vírus-resistência, no plano coletivo. Esse fenômeno deve ser trabalhado junto ao paciente de forma sistematizada, com desenvolvimento de ações que favoreçam uma atuação efetiva dos profissionais e uma incorporação do tratamento pelo paciente. Para tanto, a equipe de saúde deve conhecer os fatores que possam vir a interferir na adesão, sendo imperativo o reconhecimento das especificidades da sua clientela em particular (4). Embora as condições de vida do paciente, como, estrutura familiar; emprego; condições de moradia; dificuldades financeiras; sejam descritas na literatura como fator de baixo risco para a não-adesão ao tratamento, pode-se observar, que pouco esforço tem sido empreendido para investigar as condições de vida desses pacientes, visto que os percentuais mostram a insatisfação dos usuários com relação à avaliação desse aspecto em seu tratamento e consequentemente sua avaliação por parte dos profissionais que os atendem. Embora as condições de vida não estejam, segundo a literatura, fortemente relacionadas à maior adesão à TARV, estas estão diretamente interligadas à qualidade de vida, sendo colocadas como um primeiro nível de necessidade, como aquilo que dá condições para aspirar um viver melhor. Alimentação, lazer, trabalho e moradia incluem este conjunto de condições elementares para ter qualidade de vida. De forma direta ou não, as pessoas que vivem com HIV/Aids, buscam a cada dia por uma melhoria na sua qualidade de vida, e atualmente, a TARV surge como protagonista dessa busca, uma vez que proporciona uma longevidade muito maior a essas pessoas (2). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os profissionais de saúde precisam atentar para a importância do seu papel no contexto da assistência de pessoas vivendo com HIV/Aids, e nesta perspectiva valorizar os desafios para o controle da doença e as suas necessidades de apoio; investindo na adesão à TARV, de modo que considere não apenas a tomada dos medicamentos, mas sim os fatores que podem influenciar nessa adesão eficaz ou não, que se configuram como importantes potencializadores da qualidade de vida dos indivíduos (2). Dessa forma, é fundamental que os profissionais de saúde estejam preparados para identificar os principais fatores de riscos para a não-adesão e, assim, propor intervenções que efetivamente viabilizem a promoção da adesão do cliente/cuidador ao tratamento proposto (1) . A eficácia do tratamento, possibilita concomitantemente uma melhoria na qualidade de vida bem como contribui para o atendimento mais humanizado às pessoas que vivem com HIV/Aids, direcionando o cuidado para além dos aspectos clínicos, instrumentalizando estas pessoas na busca por um viver bem. Diante do exposto, fica evidenciada a importância de se avaliar as condições de vida do paciente, uma vez que para uma maior e melhor adesão ao TARV é necessário toda uma adaptação no cotidiano do individuo, visto que se trata de uma doença crônica que necessita de acompanhamento ao longo da vida, e, portanto, as pessoas que vivenciam essa condição de saúde precisam de subsídios para aderir com eficácia ao tratamento, tendo uma assistência de qualidade tanto por profissionais de saúde, como pela sociedade de um modo geral, com condições de vida para isto. REFERÊNCIAS 1. Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de adesão ao tratamento para pessoas vivendo com HIV e Aids. Brasília (DF); 2008. 2. Meirelles BHS, Silva DMGV, Vieira FMA, Souza SS, Coelho IZ, Batista R.. Percepções da qualidade de vida de pessoas com HIV/Aids. Rev. Rene. Fortaleza 2010; 11(3): 68-76. 3. Bastos FI. AIDS na Terceira Década. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2006. 4. Colombrini MRC, Lopes MHBM, Figueiredo RM. Adesão à terapia antiretroviral para HIV/AIDS. Rev Esc Enferm USP 2006; 40(4): 576-81. 5. Branco CM. Adesão ao tratamento anti-retroviral por cuidadores de crianças e adolescentes soropositivos de uma unidade de saúde do Estado do Pará. [dissertação] Belém (PA): Universidade Federal do Pará; 2007.