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VITILIGO: INFLUÊNCIA NA AUTOESTIMA DAS PESSOAS ACOMETIDAS
VITILIGO: INFLUENCE ON SELF-ESTEEM OF PEOPLE AFFECTED
Denise Gonzaga Costa
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais –
UNILESTE/MG. [email protected]
Josiane Alves Moreira
Discente do curso de Enfermagem do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais –
UNILESTE/MG. [email protected]
Neila Maria de Morais Pinto
Enfermeira Especialista em Saúde Pública. Especialista em Ativação de Processos de Ensino na
Formação Superior de Profissionais da Saúde. Docente do Curso de Enfermagem do Centro
Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MG.
RESUMO
O vitiligo é uma dermatose caracterizada por máculas acrômicas que resultam em
hipopigmentação da cor natural da pele podendo surgir em qualquer parte do corpo, sendo sua
etiopatogenia desconhecida. Sabe-se que uma vez instalada, pode provocar alterações
emocionais, comprometimento da autoestima e das relações sociais do indivíduo com vitiligo.
Trata-se de um estudo exploratório descritivo qualitativo, desenvolvido com o objetivo de conhecer
como o vitiligo influencia na auto-estima das pessoas por ele acometido. Foi realizado no município
de Ipatinga/MG, em janeiro de 2009, utilizando-se como instrumento para coleta de dados uma
entrevista aplicada a 12 pessoas acometidas por vitiligo. Os resultados evidenciaram algum grau
de comprometimento emocional nos participantes, como tristeza, preocupação, constrangimento
na sociedade, falta ou dificuldade de recursos financeiros para tratamentos adequados, mas,
também o enfrentamento e superação foram perceptíveis, que vão desde a aproximação com
outros portadores de vitiligo, assim como a busca por apoio e conforto religioso. Ressalta-se a
importância de desenvolvimento de políticas públicas voltadas para este segmento da população
assim como a necessidade de assistência multiprofissional, onde o enfermeiro tem papel
fundamental no acompanhamento aos portadores de vitiligo desenvolvendo ações que privilegiem
também o suporte emocional.
PALAVRAS CHAVE: Vitiligo. Auto-estima. Tratamento.
ABSTRACT
Vitiligo is a dermatosis characterized by macules achromic resulting in hypopigmentation of the
natural color of the skin may appear anywhere on the body, and its pathogenesis unknown. It is
known that once installed, can cause emotional disorders, impairment of self-esteem and social
relations of the individual involved. Exploratory descriptive qualitative study, carried out to know as
vitiligo affects self-esteem of people affected by it. Was conducted in the municipality of Ipatinga /
MG, in January 2009, using as an instrument for data collection an interview with 12 patients with
vitiligo. The results showed some degree of emotional involvement in the participants, as sadness,
concern, embarrassment in society, difficulty or lack of financial resources for appropriate treatment,
but also to confront and overcome are apparent, ranging from the proximity with other people with
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vitiligo and the search for religious support and comfort. It is the importance of developing public
policies for this segment of the population and the need for multidisciplinary care, where nurses
have key role in monitoring the patients with vitiligo develop priority actions that also the emotional
support.
KEYWORDS: Vitiligo. Self-esteem.Treatment.
INTRODUÇÃO
O vitiligo foi descrito há mais de 3500 anos, primeiramente, no Egito (no
Papiro de Ebers), na Índia (no livro sagrado Atharva Veda) e na Bíblia, no antigo
Testamento, era chamada de “Zara’at”. Quanto à etiologia, o vitiligo ainda é uma
doença de causa desconhecida. Não se pode afirmar que tenha origem na
predisposição genética, uma vez que esta só é observada em apenas 30% dos
casos (SANT’ANNA et al, 2003). Existem, porém, algumas hipóteses etiológicas
que veem o vitiligo como uma resposta autoimune ou associado a fatores
neurogênicos. É uma dermatose que se caracteriza por manchas acrômicas,
geralmente bilaterais e simétricas, que acomete o maior órgão do corpo humano –
a pele (SILVA; MULLER, 2007).
Como patologia autoimune, o próprio corpo gera uma reação que faz com
que haja destruição das células melanócitos, causando assim, extinção da
pigmetação natural da pele. Os melanócitos podem ser destruídos pela ação dos
radicais livres ou de componentes tóxicos do ambiente externo. A existência de
uma reserva de melanócitos nos folículos pilosos, constituindo a área não afetada
pelo vitiligo, é um fator que deve ser considerado no processo de repigmentação
natural da pele (FONSECA; PRISTA, 2000; ELDER; LEVER, 2001; STEINER et
al, 2004).
O vitiligo acomete cerca de 0,5 a 4% da população mundial, sendo que 50%
dos casos se iniciam antes dos 20 anos e 25% antes dos 10 anos. Seu
aparecimento pode ser precoce, com alguns relatos de casos com início nos
primeiros seis meses de idade (SILVA et al, 2006).
Muitas teorias tentam explicar a doença e, por isso, várias são as propostas
de tratamento que vão do uso de esteróides, fotoquimioterapia, terapia tópica,
micropigmentação até terapia cirúrgica. A terapia integral deve envolver o
tratamento clínico e psicoterápico que contribuirão eficazmente no processo de
repigmentação da pele. Sendo que a psicoterapia consiste num tratamento de
distúrbio psicológico ou emocional mediante o estabelecimento de uma relação
entre profissional treinado e um ou mais pacientes, ajudando-os a tomarem
condutas frente às situações de estresse, para melhoria da qualidade de vida e
até da própria pele (KANTORSKI et al, 2005; SILVA; MULLER, 2007).
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A pele é formada por três camadas, epiderme que é a camada mais
superficial, composta de queratinócitos e melanócitos, a derme é a camada
intermediária, composta de fibras colágenas e elásticas que dão sustentação à
pele e, ainda vasos sanguíneos, nervos, e a hipoderme que é a camada profunda,
composta de gordura, que auxilia na regulação da temperatura corporal. Dentre as
funções da pele tem-se sensibilidade cutânea, defesa imunológica através de
células imunes, proteção para as estruturas internas do corpo, proteção contra os
raios ultravioleta, síntese de vitamina D, defesa contra corpos estranhos e,
produção de queratina (KEDE; SABATOVICH, 2004).
A pele transmite informações sensoriais através de nervos nela situados,
sendo que a inter-relação pele-psiquismo é estreita, desde a sua origem
embrionária, pois tanto a epiderme quanto o sistema nervoso têm sua origem no
folheto embrionário, ectoderma. As ligações existentes entre o sistema nervoso e
a pele fazem com que esta seja muito sensível às emoções, independente da
consciência; as alterações dermatológicas, muitas vezes, causam impactos
psicossociais nas pessoas que apresentam vitiligo, levando ao comprometimento
psicossociocultural (HOFFMANN et al, 2005).
O vitiligo é uma dermatose que não leva à incapacidade funcional, mas
causa grande impacto psicossociocultural. Pode ser desfigurante, influindo
negativamente na autoestima da pessoa, sobretudo nos casos extensos e em
pessoas de pele negra. Existem queixas de discriminação social, sendo que
muitas vezes as pessoas que apresentam vitiligo chegam a ser estigmatizadas,
retardando ainda mais o tratamento (SILVA et al, 2006).
A sociedade atual está sempre buscando novidades e inovações de rótulos
de vaidade quanto aos caracteres corporais fazendo com que grande parte das
pessoas esforce-se em alcançar um padrão de beleza único e aceitável por
muitos. O estresse emocional gerado por esta pressão social costuma
acompanhar os problemas dermatológicos e, influenciar as alterações da pele.
Com isso, o problema de pele, acaba gerando na pessoa frustração,
descontentamento, rejeição quanto à aparência física e, até mesmo naquelas que
se encontram em fase de recuperação, pois o fato ainda é insuficiente para
amenizar a insatisfação quanto ao ideal estético exigido pela sociedade (KEDE;
SABATOVICH, 2004; FONSECA; PRISTA, 2000).
De acordo com Muller; Ramos (2004), o vitiligo causa grande impacto na vida
da pessoa acometida, levando o sujeito a afastar-se da sociedade. Sendo que,
muitas pessoas com vitiligo, apresentam reação negativa de constrangimento
mediante a dermatose. Por isso, muitos usam produtos para tampar as manchas,
evitam atividades, se envergonham e se isolam.
Este estudo se justifica devido à importância que a enfermagem tem na
assistência às pessoas que apresentam vitiligo, atuando com alternativas e
estímulos de forma a ajudar e encorajar a pessoa a uma visão positiva e
esperançosa deste evento produtor de estresse e, ainda promovendo ações
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preventivas para diminuir os agravos psicológicos, emocionais e sociais.
É dentro da temática descrita, que este trabalho teve como objeto de estudo
a percepção das pessoas que apresentam vitiligo quanto à dermatose e sua
influência na auto-estima das mesmas
O caminho a ser percorrido a partir do objeto de estudo se aportará ao
seguinte objetivo: conhecer como o vitiligo influencia na auto-estima das pessoas
por ele acometido.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo exploratório descritivo com abordagem qualitativa.
Estudos qualitativos, segundo Minayo (1999), oferecem entre outras
possibilidades, a decodificação do significado das informações, sem quantificação
das mesmas, respeitando a experiência natural do pesquisado com o tema em
estudo. Pesquisa exploratória descritivo estuda com detalhe um ambiente, um
sujeito ou mesmo uma determinada situação, levando em consideração, a opinião
dos sujeitos contextualizados nessa realidade (GODOI, 1995 apud DUBY, s.d.).
Para elaboração deste estudo foi realizada entrevista com 12 pessoas
moradoras do município de Ipatinga – MG, no período de 13 a 31 de janeiro de
2009. A amostragem da pesquisa é do tipo bola de neve ou amostragem de rede,
que consiste em uma técnica de amostragem não probabilística em que um grupo
inicial de entrevistados é selecionado aleatoriamente. Selecionam-se
entrevistados subseqüentes com base em informações fornecidas pelos
entrevistados iniciais. Assim, foram entrevistadas primeiramente pessoas já
conhecidas das autoras que apresentavam vitiligo, e em seguida outras pessoas
indicadas pelos primeiros entrevistados. Os critérios de inclusão na pesquisa
foram pessoas que apresentavam vitiligo, com idade igual ou superior a 18 anos
que aceitaram participar.
O estudo utilizou os seguintes instrumentos para coleta de dados: formulário
para caracterização da amostra, abrangendo as categorias sexo, idade, raça,
escolaridade, emprego, renda, situação conjugal, filhos, religião, participação em
grupo de apoio, tratamento. E uma entrevista semi-estruturada, que abordou as
perguntas: o vitiligo trouxe ou trás para você alguma alteração no seu cotidiano?
Qual é o seu sentimento sobre o vitiligo? Já fez ou está fazendo tratamento? Cada
pessoa foi abordada uma única vez, com tempo estimado de 1 hora para duração
do encontro. Como forma de resguardar o conforto, segurança e liberdade dos
participantes, as entrevistas foram realizadas no próprio domicílio, com horário
disponível ou compatível ao tempo do entrevistado.
Na análise dos dados da pesquisa foram feitas leituras repetidas das
respostas obtidas, identificação das argumentações presentes no conteúdo das
respostas, que resultou em duas grandes categorias de análise: vitiligo alterando o
cotidiano e recursos de apoio e tratamento que foram discutidas de acordo com a
literatura pertinente. Partes dos discursos foram selecionados e transcritos no
texto como forma de elucidação das respostas abertas. Visando preservar a
identidade dos participantes, optou-se por nomeá-los com codinomes de pedras
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preciosas.
Previamente à coleta de dados, os participantes deste estudo assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que continha informações sobre os
objetivos da pesquisa, a garantia do anonimato e o uso dos dados obtidos
somente para fins da pesquisa. Esta pesquisa contemplou a Resolução n. 196 de
10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta
pesquisa com seres humanos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A TAB. 1 apresenta os dados de caracterização da amostra. Dos 12
participantes, 10 (83,4%) eram do gênero feminino. As mulheres são geralmente
mais acometidas do que os homens, porém estudos mais recentes sugerem que o
vitiligo pode acometer tanto homens quanto mulheres na mesma proporção
(STEINER et al, 2004).
A faixa etária que predominou na pesquisa foi de 41 a 60 anos, sendo que
oito (66,6%) participantes relataram que apresentam o vitiligo desde a infância,
com a idade de início da doença variando de cinco a onze anos de idade. O
resultado condiz com estudos de Silva et al (2006) no qual afirmam que o
aparecimento do vitiligo pode ser precoce, ou seja, trabalhos demonstram que
25% dos casos de vitiligo se iniciam na infância, antes dos 10 anos, e 50% dos
casos se iniciam antes dos 20 anos de vida.
Dos entrevistados, cinco (41,7%) consideraram-se de etnia parda seguido de
quatro (33,3%) mulatos. O vitiligo afeta todas as etnias, mas acredita-se que nas
pessoas de pele escura, como a despigmentação causa maior destaque na pele,
isto gera maior impacto neste grupo (SILVA et al, 2006). A maior ocorrência do
vitiligo em pessoas pardas e mulatas, desta pesquisa, provavelmente reflete as
características da cor da pele do maior conjunto racial da população brasileira.
Em relação à escolaridade, seis (50%) pessoas tinham feito até o ensino
fundamental incompleto, uma (8,4%) era analfabeta e uma (8,4%) pós-graduada.
Participantes da pesquisa relataram que a dermatose as impediam de irem com
freqüência à escola, porque tinham vergonha de estar em público e, ainda sofriam
discriminação por parte de alguns colegas, fato este que pode ter contribuído para
o baixo nível de escolaridade apresentado por metade da amostra.
Dos participantes, sete (58,4%) são casados e 10 (83,4%) têm filhos. A partir
destes dados é possível afirmar que a presença do vitiligo não foi fator de
impedimento para o estabelecimento de relacionamento estável e exercício da
maternidade ou paternidade.
Quanto ao emprego, sete (58,3%) já exerceram atividades no mercado
formal de trabalho e, se encontravam aposentados no momento, inferindo-se
assim, que essas pessoas não se ausentaram de atividades profissionais na fase
adulta devido à dermatose vitiligo. Em relação à renda 11 (91,6%) participantes
possuíam renda entre um a três salários mínimos. Foi demonstrado que cinco
(41,7%) nunca fizeram tratamento e quatro (33,3%) não faziam o tratamento no
momento da entrevista, mas que já o fizeram; os dois grupos justificaram a
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ausência ou interrupção da terapêutica por questões financeiras. A questão da
renda familiar pode ter influenciado na auto-estima destas pessoas, pois a renda
não oferecia condições financeiras para manter um tratamento adequado, devido
ao alto custo dos medicamentos e do tratamento no geral.
Os 12 participantes da entrevista relataram nunca ter participado de grupos
de apoio, porém quando questionados sobre a prática religiosa seis (50%)
disseram que são evangélicos e seis (50%) relataram que são católicos,
demonstrando assim que a participação freqüente na igreja, mesmo não tendo
sido por eles considerada como um grupo de apoio ofereceu conforto e suporte
emocional.
TABELA 1 Caracterização da amostra
Variáveis
Freqüência
Gênero
Masculino
2
Feminino
10
Percentual (%)
16,6
83,4
Faixa etária
21 – 40
41 - 60
61 – 80
1
8
3
8,4
66,6
25
Etnia
Branco
Pardo
Mulato
3
5
4
25
41,7
33,3
Escolaridade
Analfabeto
Ensino Fundamental Incompleto
Ensino Fundamental Completo
Ensino Médio Incompleto
Ensino Médio Completo
Pós-Graduação
1
6
1
1
2
1
8,4
50
8,4
8,4
16,6
8,4
Emprego
Sim
Não
Aposentada (o)
4
1
7
33,3
8,4
58,3
Renda
1 – 3 Salários Mínimo
7 – 9 Salários Mínimo
11
1
91,6
8,4
Situação Conjugal
Solteiro (a)
Casado (a) / União estável
Viúvo (a)
3
7
2
25
58,4
16,6
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Filhos
Sim
Não
10
2
83,4
16,6
Religião
Evangélica
Católica
6
6
50
50
Participação em Grupo de Apoio
Não
12
100
Tratamento
Sim
Não
Já fez
3
5
4
25
41,7
33,3
Com base nos relatos e informações dos participantes, foi possível
identificar aspectos importantes dos informantes que originaram dois temas
principais para discussão.
Vitiligo alterando o cotidiano
A convivência com doenças crônicas como o vitiligo modifica o cotidiano das
pessoas fazendo surgir sentimentos como vergonha e culpa que podem trazer
conseqüências sobre a percepção da qualidade de vida por parte dos acometidos
e de suas famílias.
Os entrevistados relataram que sentiam constrangimento de interagir na
sociedade, sentiam-se rejeitados pelas pessoas, enquanto outros disseram que
com o passar do tempo, aprenderam a superar a dificuldade que sentiam para
realizar as atividades do cotidiano devido à doença.
[...] por não ter que sair no sol, se saio no sol fico descascando, com
bolhas e, sei que não tem cura ainda [...]. (Quartzo)
[...] continua trazendo alteração no cotidiano, sinto muita vergonha de ter
essas manchas, eu me sinto uma pessoa rejeitada, fico perto das pessoas
e, sinto vergonha delas pensarem que é contagioso. (Rubi)
No começo fiquei constrangido, com medo de ir em cachoeiras, piscinas,
as pessoas, ficavam me olhando retraídas, fazendo brincadeiras, piadas,
as pessoas brincam maldosamente, pensam que é micose e, falam que é
contagioso. (Berilo)
Uma doença de pele causa impacto na pessoa acometida alterando não só
sua estrutura física como a emocional e social. Dias et al (2007), relacionam casos
de dermatoses que levam a privação do sono, mudanças nas rotinas familiares,
prejuízo de socialização e perdas de forma geral. Quanto às alterações da
convivência familiar é preciso verificar como o ambiente pode ter colaborado na
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condição de adoecimento. Uma das entrevistadas exemplifica esta situação:
[...] após cinco anos de tratamento ininterrupto, eu cheguei a ficar sem
nenhuma mancha, aí teve um final de ano, que eu me lembro que passei
por uns problemas familiares, que abalou o meu emocional, aí as
manchas voltaram [...]. (Ametista)
Estudos recentes apontam dados sobre estresse psicológico e outros fatores
estressantes da vida como desencadeadores ou agravadores do vitiligo (PICARDI
et al, 2003 apud MULLER, RAMOS, 2004; TABORDA, WEBER, FREITAS, 2005).
Estes autores avaliando a prevalência de sofrimento psíquico em pacientes com
dermatoses psicocutâneas, as que constavam em seus estudos foram acne
vulgar, vitiligo, psoríase, urticária, dermatite atópica e alopécia areata, apontaram
que as doenças crônicas, de longa duração e inestéticas, como o vitiligo, podem
estar associadas a maior grau de sofrimento psíquico com prejuízo emocional
destes pacientes.
Cada pessoa acometida pelo vitiligo tem uma percepção da doença que é
única. Diferentes reações emocionais foram manifestadas de acordo com a forma
de enfrentamento, positivo ou negativo, ao vitiligo. Sentimentos como tristeza,
melancolia, preocupação, mas também superação foram perceptíveis nas falas.
[...] tem pessoa que repara a pigmentação da pele da gente, aí a
pessoa acha estranho, a auto-estima abaixa muito [...]. (Berilo)
Acho triste, [...]. (Diamante)
De espalhar para todo corpo, me preocupo com isso. (Esmeralda)
[...] aprendi a conviver, aprendi a superar a situação com o tempo.
(Pérola)
As pessoas que apresentam vitiligo têm suas próprias crenças sobre a
identidade, causa, duração e até mesmo cura de sua doença, que refletem em
respostas emocionais diversas como sentimentos autodepreciativos, vergonha,
medo e estigma social, estresse psicossocial e baixa autoestima que podem
causar ou agravar distúrbios emocionais (LEVENTHAL, s.d, apud HOFFMANN et
al, 2005).
Nesse sentido, deve-se levar em consideração a singularidade de cada
pessoa, pois a forma de interpretar a sua doença e de lidar com a mesma
depende também de aspectos muito individuais, o que é reforçado pelo estudo de
Silva et al. (2006), que avaliaram stress e estratégias de coping em pacientes com
psoríase, buscando identificar as diferentes formas do paciente perceber e lidar
com as situações de vida.
Recursos de apoio e tratamento
São várias as opções para o tratamento do vitiligo. Nesta pesquisa a terapia
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combinada, oral e tópica, foi relatada como sendo a mais utilizada pelos
participantes. Foi marcante nos relatos a necessidade de interromper o tratamento
por dificuldades financeiras dos entrevistados. Verifica-se que os medicamentos
para controle do vitiligo possuem custos altos e são ainda de difícil acesso aos
usuários, fato que dificulta ou limita o tratamento das pessoas que apresentam
vitiligo. Os fatores mencionados acima podem ser claramente percebidos nos
relatos de alguns participantes:
Comecei a fazer o tratamento e parei, é por causa financeira e, tempo
para relaxar, fiz o tratamento na época com medicamentos oral e
pomada. (Safira)
Eu pagava os medicamentos, agora ta sendo financiado pela prefeitura
de Ipatinga, meu tratamento é oral e pomada. (Turquesa)
Há muito tempo se achava o Vitcromin só em BH, então você imagina, é
muito difícil, a gente tinha que ir em BH, encomendar o remédio, comprar
o remédio, então havia muita dificuldade. (Turmalina)
A literatura da área expõe que a terapia oral oferece melhores resultados e
com menos efeitos colaterais. Já a terapia tópica também é eficaz no tratamento
do vitiligo, apresentando como principal complicação o aparecimento de reações
bolhosas fototóxicas (STEINER et al, 2004).
O tratamento de doenças crônicas sobrecarrega o Sistema Público de
Saúde, pois tanto as consultas recorrentes quanto os medicamentos para controle
apresentam custos elevados o que contribui para o agravamento do sofrimento
psíquico, social, econômico e cultural da pessoa acometida, gerando um
desequilíbrio do estado de saúde (SILVA; MULLER, 2007).
Devido ao alto custo do tratamento, tanto dos medicamentos e das consultas
recorrentes, percebe-se que é de grande importância que o governo desperte para
incluir o tratamento do vitiligo nas políticas públicas de saúde, ou seja, o Sistema
Único de Saúde (SUS).
As formas de enfrentamento das doenças de pele podem ser classificadas
em formas ativas ou de aproximação que estão relacionadas aos esforços
cognitivos ou condutas para manejar diretamente o fator estressante, e a outra
forma seria evitar o problema, ou seja, estabelecer ações para não confrontar com
o problema, através de condutas de fuga (SILVA; MULLER, 2007).
O vitiligo causa respostas de estresse à pessoa acometida, assim, o ideal é
que esta procure recursos para enfrentar as situações que lhe exige adaptação,
no qual ajudariam a ter êxito com a saúde.
Foi marcante nos relatos dos entrevistados a aproximação com outros
portadores de vitiligo e procura por apoio e conforto religioso, na figura de Deus e
nos membros da Igreja a qual freqüentavam para lidarem com a dermatose. Nos
relatos fica claro a ajuda da Igreja, seja através de recursos financeiros ou pelo
apoio espiritual, exemplificados abaixo:
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[...] tinha irmãos da Igreja que me ajudava a comprar uns creme pra
mim, aí eles ajudavam [...]. (Rubi)
[...] se não fosse Jesus, para mim dar forças, para mim sustentar esses
anos todinho, porque na palavra de Deus a gente acha conforto, para
não olhares as complicações da vida, porque todo mundo tem aflições e
complicações. (Turmalina)
[...] todas as vezes que a gente vai à igreja, a gente nem lembra de ter
esse problema, se sente à vontade. (Ágata)
Em momentos de fragilidade, o apoio de outras pessoas fortalece a
autoconfiança, o que possibilita um melhor enfrentamento das situações de
sofrimento.
Existe uma comunidade virtual, cujo endereço eletrônico é o
www.vitiligo.com.br, que tem como objetivos a ampliação da rede de
relacionamentos entre pessoas que convivem com este problema dermatológico,
dando-lhes a oportunidade de elevarem a auto-estima, a partir do
compartilhamento de experiências; colaborar para ampliar divulgação de
informações corretas sobre a doença, inibindo os inexplicáveis preconceitos e
rejeições sociais a esta dermatose; proporcionar à comunidade esclarecimentos
que possibilitem a convivência amistosa, harmoniosa e saudável entre as pessoas
que apresentam vitiligo e a sociedade em seus mais variados segmentos enfrentar
de maneira adequada.
CONCLUSÃO
As pessoas acometidas pelo vitiligo em geral sofrem impactos psicossociais
que desequilibram o organismo, trazendo alterações físicas, emocionais e sociais.
A pesquisa confirmou esta afirmativa, pois os participantes relataram ter tido
mudanças em várias áreas de suas vidas relacionadas ao surgimento da
dermatose.
Notou-se que todos os participantes tiveram algum grau de
comprometimento na auto-estima, pois a doença trouxe constrangimento, tristeza
e preocupação com a avaliação de outras pessoas quanto à modificação da
estética da pele. Além disso, a falta de recursos financeiros para realização de
tratamento adequado foi outro fator presente nos depoimentos que também
contribuiu negativamente para o emocional dessas pessoas.
Por fim, os resultados desta pesquisa reforçam a necessidade de uma
assistência psicoterapêutica e equilíbrio emocional, além da terapia
medicamentosa, para que tenha eficiência o tratamento. O acompanhamento
multiprofissional tem como objetivo a busca por um estado de saúde integral
dentro das possibilidades individuais e coletivas.
O enfermeiro, membro da equipe multiprofissional para melhor assistir ao
indivíduo portador desta dermatose, deve buscar embasamento científico que
norteie o conhecimento do vitiligo, estabelecendo orientações corretas e tem como
maior desafio tentar enxergar este indivíduo para além da sua pele, assim como
auxiliá-lo para que ele próprio consiga fazer o mesmo.
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REFERÊNCIAS
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