1. A influência dos Meios de Comunicação na vida das pessoas e a sua contribuição à educação Na maioria dos lares brasileiros existe, pelo menos, um aparelho de TV. Milhares de telespectadores estão ligados a essa telinha durante grande parte de suas vidas, recebendo informações através de um emaranhado de sons e imagens que nos transformam de uma civilização verbal, para urna civilização essencialmente visual e auditiva. A televisão tem o poder de induzir a determinado hábito, gosto ou atitude, promovendo entre as pessoas várias discussões em tomo de um mesmo assunto. Os cartazes e folhetos, espalhados pela cidade, também conseguem transmitir o seu recado, chamando a atenção por suas cores, formas e mensagens. Um cartaz que realmente atraia a atenção das pessoas pode levá-Ias a parar durante minutos e provocar alguns instantes de concentração e reflexão sobre a mensagem. Um folheto bem elaborado pode ser guardado, servindo como instrumento auxiliador na propagação de uma informação feita de uma pessoa a outra, através da mensagem boca a boca, fazendo com que um produto, uma idéia ou uma forma de comportamento seja disseminada entre o público em geral. Existem ainda tantos meios, como por exemplo: rádio, outdoors, entre outros, que servem para o desenvolvimento de técnicas de comunicação que facilitem o diálogo entre as pessoas. Afinal, a comunicação é uma necessidade comum a todo ser humano. A capacidade de comunicação humana abre novos caminhos às ciências da educação através de técnicas que possam oferecer ao processo educativo uma nova forma de diálogo. Os gestos, as palavras, os sons e as imagens permitem ampliar o sentido que a educação tem dado à comunicação, já que cabe à escola oferecer ao educando possibilidades de autoexpressão. 1.2. A Educação e os Meios de Comunicação A imagem é um modo de expressão. Ela pode ser traduzida como uma representação visual dos seres vivos e abstratos; a re-criação da realidade. Através das imagens e dos sons nos comunicamos com os nossos semelhantes desde as mais remotas épocas pré-históricas. Podemos dizer que a linguagem das imagens é hoje uma linguagem universal e eterna. O fascínio da imagem provém exatamente da sua representação imediata da realidade. Uma representação dos seres e do mundo produz um choque direto entre afetividade, sensibilidade e intuição. Por outro lado, esses sentimentos geram uma influência poderosa sobre o consumidor de imagens que escapa ao controle dos métodos tradicionais de aprendizagem, provocando vários tipos de comportamentos. É por essa razão que a comunicação social gera atitudes de participação. De acordo com Gutierrez: Ao oferecer-nos a representação da realidade, a imagem nos proporciona informação e significados específicos; toda imagem, por mais simples que seja, está carregada de um sentido que lhe é próprio. Em outras palavras, existe uma significação primeira que é a que provém de sua analogia com o objetivo que representa. As imagens, porém, e especialmente as imagens cinematográficas, têm uma segunda significação que vai mais além da simples representação. A imagem se nos apresenta carregada de uma intenção, com possibilidades de comunicar uma mensagem. Esta significação conotativa é a relação da imagem com o seu sujeito criador.1 As múltiplas representações dos sons e imagens (TV, rádio, cinema, histórias em quadrinhos, imprensa, pôsteres etc), não modificam o homem apenas enquanto indivíduo, mas sim, todo o seu meio cultural. Somos agora homens-massa, pertencentes a "uma cultura de massa", unidos por uma comunicação visual que rompe barreiras entre o indivíduo culto e o não culto, levando a diferentes povos a conquista do tempo e do espaço, ultrapassando os nossos meios naturais. ____________________ 1 Francisco GUTIERREZ. Linguagem total: uma pedagogia dos meios de comunicação, p. 18. Uma câmera, ao registrar imagens, leva os fatos ao telespectador com maior precisão de dados do que se estivéssemos no local do acontecimento. Ao realizar qualquer tipo de filmagem, os sons e imagens mantêm entre nós qualquer pessoa, independente de sua presença física. Portanto, a cultura de massa é um desafio social. Cada vez mais, os meios de comunicação possibilitam uma maior participação cultural. Até bem pouco tempo, as elites eram círculos impenetráveis; hoje, não existe mais uma civilização de privilegiados e sim lima civilização de massas, que tende a se transformar em uma cultura popular. Essa universalização toma-se possível a partir do momento em que a cultura popular nivela todos os gostos culturais, ou seja, todas as camadas sociais passam a receber os mesmos produtos culturais. Os programas de TV, o cinema e a imprensa chegam até as pessoas sem nenhuma distinção de classe social ou nível cultural. Por outro lado, o fato de ter uma cultura mais acessível provoca nas camadas populares um grande apetite por informações, despertando nelas o desejo de não serem taxadas como uma classe inferior às demais. Com as novas tecnologias desenvolvidas nos últimos anos (o computador, a TV a cabo e a internet, por exemplo) surgiram novas formas de comunicação fundamentais para a aprendizagem e a inserção do indivíduo na sociedade de maneira mais crítica, participativa e atuante. E a utilização desses meios como uma alternativa educacional torna-se mais viável ao aprendizado das crianças dessa nova era, que já crescem adaptando-se naturalmente a esses novos instrumentos. Os meios de comunicação criaram um mundo que ultrapassa os muros da escola; ou melhor, muitas vezes acabam por deslocar totalmente o estudante do ambiente escolar. Não existem mais limites geográficos. Com o uso do telefone, por exemplo, podemos nos comunicar aonde quisermos, quando quisermos. O estudante de hoje, não é aquela criança ou aquele adolescente tímido cuja visão corresponde aos horizontes do seu bairro, mas ele é sim, um cidadão do mundo com um habitat cultural diferente. Mesmo não podendo escapar de todas essas influências, é preciso gerar novos procedimentos e metodologias para integrar os meios de comunicação à educação atual. Nas proximidades do terceiro milênio os estudantes não poderão chegar a uma mínima culturalização sem terem, pelo menos, um conhecimento básico sobre as linguagens dos meios de comunicação. O homem do século XX é diferente dos homens de outras épocas mesmo quando, essencialmente, continua sendo o mesmo. Este novo 'habitat' proporciona ao homem uma rede extraordinariamente densa de estímulos, condicionamentos e provocações sensoriais. O homem muda porque tudo muda ao seu redor. Criou-se e continuamos criando um meio (habitat) muito distinto. A civilização moderna, com seus meios técnicos de transporte (trens, automóveis, aviões), seus meios de comunicação (imprensa, rádio, cinema, TV), enfim, com seus meios mecânicos e até eletrônicos de interrelação, está oferecendo ao homem novas formas de perceber, de intuir, sentir e pensar.2 Por isso, este é o momento de romper barreiras, confrontar-se com a realidade cultural imposta pela mídia, criar novas necessidades e desmistificar os estereótipos criados pelos meios de comunicação. Conhecendo essa linguagem, o indivíduo estará habilitado a fazer parte de um mundo de relações (aproximando-se do contato entre alunos, pais, professores, comunidade) e possibilitando uma maior compreensão dos saberes popular e científico. Principalmente na escola, que é o ambiente ao qual a criança estará propensa durante a maior parte de sua. vida, solidificando seus valores e adquirindo conhecimentos não se pode utilizar desses instrumentos apenas para ilustrar ou reforçar conceitos e conteúdos e dar às aulas uma nova dinâmica. A dimensão dos desdobramentos comunicacionais que as linguagens das mídias propiciam é sugestiva de que a relação da escola com os meios de comunicação precisa ir além da formação do receptor crítico que configurava uma educação para a mídia, cuja preocupação maior se completa numa relação lúcida de usuário com o meio de comunicação. A abordagem pedagógica precisa, ainda, superar o uso dos meios como recursos auxiliares de um ensino preocupado com a ilustração de suas proposições que freqüentemente se completa com a tomada da ‘representação’ pela ‘realidade’, subaproveitando a potencialidade reveladora da representação utilizada e distorcendo a realidade que pretende ser focalizada.3 ____________________ 2 Ibidem, p. 24. 3Tania Maria Esperon PORTO. Educação para a mídia/pedagogia da comunicação: caminhos e desafios. In: Pedagogia da Comunicação: teorias e práticas, p. 28. Mas a escola ainda não descobriu a melhor maneira de se utilizar dos meios de comunicação para cumprir satisfatoriamente o seu papel e nem os próprios meios de comunicação sabem exatamente qual deveria ser a sua função. Talvez pela falta de incentivo aos professores, pelo despreparo em relação ao manuseio dos equipamentos ou até mesmo pelo desconhecimento de métodos de trabalho. A programação gerada pelas emissoras de radio e TV, atualmente, estão dispostas a tudo em busca de audiência. Apresentando programas com informações superficiais ou que cultivam o sensacionalismo - enfocando a violência e colocando à mostra as tragédias presentes no dia-a-dia de nossa sociedade; ou ainda, satisfazendo curiosidades sobre a vida de pessoas famosas e tocando músicas da moda -, contribuem para a alienação das pessoas, que estão cada vez mais distantes da realidade. No caso do computador, a Internet faz com que os Jovens saibam mais sobre outras localidades do mundo do que sobre o seu próprio país. Como interpreta Gutierrez, "os meios de comunicação, tal como são utilizados pela sociedade de consumo, constituem, também, uma ‘escola’ muito mais vertical, alienadora e massificante do que a escola tradicional.”4 E isso não acontece só em relação à programação diária dos veículos, mas também em mensagens transmitidas durante seus intervalos, com informações superficiais e unicamente voltadas para o consumo. Se não há controle da qualidade das informações transmitidas através dos meios de comunicação, é preciso ter cuidado na hora de definir o melhor método para inserir esses instrumentos na escola. Na verdade, a educação nos próximos anos se apresenta ainda como um beco sem saída, principalmente no que diz respeito aos países de terceiro mundo. Talvez a grande dificuldade em lidar com os meios técnicos de comunicação seja o fato deles serem uma massa unilateral; não existe diálogo entre o emissor e o receptor. Estamos de certa forma, condicionados a "'aceitar" a mensagem sem que tenhamos condições de debater e modificar direta e imediatamente o seu conteúdo. ____________________ 4 Francisco GUTIERREZ. Op. cit., p. 29. É necessário utilizar mecanismos para que o indivíduo possa receber a mensagem, refletir sobre o seu conteúdo e usar esses mesmos instrumentos para dizer a sua palavra; levar às massas novos conhecimentos e novas críticas sobre o mundo no qual ele está inserido. Nesse sentido, será muito importante proporcionar aos jovens outros caminhos que possam ser percorridos, expandindo o seu pensamento crítico além da linguagem tradicional (oral e escrita), utilizando-se também de formas plásticas fotografia, pintura etc), sonoras (rádio) e audiovisuais (cinema, televisão, videoteipe etc). Para que possamos obter resultados positivos no âmbito escolar, não se trata de desenvolver uma pedagogia sobre os meios de comunicação e sim, de aplicar uma pedagogia que estabeleça “comunicação escolar com os conhecimentos, com os sujeitos, considerando os meios de comunicação. Dialoga-se com os meios e suas linguagens, em vez de falar dos meios.”5 Portanto, a comunicação é necessária a todas as pessoas. As formas de expressão desenvolvem-se nos seres humanos de maneira espontânea e natural; sendo assim, a capacidade comunicativa do homem abre diversas oportunidades para que os meios de comunicação sejam incorporados aos métodos educacionais, podendo ser aplicados como novas técnicas de ensinoaprendizagem. 1.3. Por que é preciso educar sobre a AIDS A comunicação enquanto fator determinante de mudanças psicossociais é, antes de mais nada, um campo totalmente novo e revolucionário; e que, na América Latina, está abrindo enormes perspectivas no campo educacional. Dessa forma, o diálogo, por si só, não significa uma ação. ____________________ 5 Tania Maria Esperon PORTO. Op. cit., p. 29. O ato de comunicar implica um pensar crítico, sem ele não pode existir comunicação e sem comunicação não há a verdadeira educação. Afinal, antes de ser um processo unicamente técnico, a comunicação é um processo eminentemente humano. A comunicação dialógica traz ao homem infinitas possibilidades para desenvolver a sua capacidade de auto-expressão. Em nenhuma outra época o homem, enquanto ser comunicativo pode valer-se de tantos recursos para expressar-se com tanta plenitude, vivendo intensamente o seu próprio mundo. No que se refere à AIDS, para que as pessoas possam realmente prevenir-se com segurança, é preciso que haja informação - uma informação consistente, que esclareça dúvidas e eduque para uma vida saudável; que seja levada ao público em grande quantidade, com materiais distribuídos em todo o país. É fundamental que exista informação para que se possa estabelecer o diálogo sobre a doença. O indivíduo tem condições de interagir sobre si mesmo ou sobre o meio em que vive, ou ainda, sobre outras pessoas, a partir do momento que tem a capacidade de, através de seus conhecimentos, analisar situações e discernir suas atitudes. Na prática, o processo educativo para a comunicação contribui para a formação deste indivíduo, desenvolvendo a sua consciência crítica além da realidade apresentada. Dessa forma, é evidente que o próprio processo de comunicação contém um elemento educativo e que, na educação, o jovem deva receber uma ‘orientação’ para sua atuação presente e futura, desde que o processo de comunicação ocorra em ‘sistemas abertos’ (quer dizer, transformáveis).6 ____________________ 6 Ibidem, p. 19. Assim, as informações sobre a AIDS devem ser transmitidas no sentido de provocar uma mudança de atitude ou a adoção de um novo comportamento. Controlar a epidemia significa chamar a atenção para questões fundamentais, que dependem exclusivamente do nosso tipo de postura em relação à doença: falar clara e abertamente sobre o assunto. Neste sentido, a informação e a educação são requisitos básicos para a execução de um trabalho decisivo no combate à epidemia; juntamente com a participação dos públicos-alvo – as pessoas as quais os programas de prevenção pretendem atingir. Não basta que apenas alguns especialistas decidam que tipo de informações serão repassadas à população. Mas isso também não é o suficiente. Outro fator que deve ser levado em consideração é a importância da incorporação dos serviços sociais e de saúde ao programa desenvolvido, pois as mensagens veiculadas direcionam o público para uma determinada atitude que nem sempre será tomada em virtude da falta de planejamento e das deficiências dos serviços locais. Por exemplo: uma campanha que incentive o uso da camisinha pode não surtir um efeito positivo se as pessoas não tiverem meios de obter um produto de qualidade a um preço acessível. Por fim, tão essencial quanto os dois elementos já apresentados, mas complexo, é promover um ambiente social adequado; no qual as pessoas não sejam coagidas e nem discriminadas, usufruindo de seus direitos enquanto seres humanos e encontrando apoio, como ressaltam Mann, Tarantola e Netter: A capacidade de elaborar, promover e aperfeiçoar esse conjunto de elementos de prevenção envolve a participação dos indivíduos e seus parceiros, os programas de prevenção do HIV e os sistemas sociais. Independentemente do envolvimento de homens homossexuais, usuários de drogas injetáveis, profissionais do sexo ou adolescentes, a combinação desses tais elementos de formas criativas, inovadoras e corajosas demonstrou sua capacidade de reduzir a velocidade de transmissão do HIV. Contudo, se um desses elementos estiver ausente, pode-se afirmar inequivocamente que as chances de sucesso da prevenção não estão sendo satisfatórias.7 ____________________ 7 Jonathan MANN, Daniel J. M. TARANTOLA, Thomas W. NETTER (orgs.). A AIDS no mundo, p. 163164. As pessoas; enquanto indivíduos, ou pertencentes a grupos sociais não podem ser subestimados, todos são importantes no trabalho de educação sobre a AIDS. Cada um de nós deve ser responsável pelo que faz consigo e com os outros. O primeiro elemento: Informação e Educação A informação sempre foi considerada como o elemento principal para provocar uma mudança de comportamento em relação à AIDS. Por isso, as campanhas preocupavam-se em aumentar a conscientização sobre os modos de transmissão da doença como forma de evitar a infecção. Essas medidas tiveram os seus resultados positivos, diminuindo, em alguns casos, a disseminação da epidemia. Mas a última década mostrou que apenas a informação não foi suficiente para conter o seu avanço e levar as pessoas a uma mudança mais efetiva de comportamento. Nem mesmo a possibilidade da morte causada pela AIDS não fez com que a doença diminuísse de forma regular e confiável. Esse fato pode ser comprovado em várias culturas, demonstrando a necessidade de uma abordagem mais abrangente, envolvendo outros elementos fundamentais. A informação acaba não sendo totalmente confiável a partir do momento que interpretações errôneas e mal-entendidos tornam-se comuns nos programas de combate à AIDS; servindo como obstáculo na adoção de um comportamento preventivo. Ao ver que a doença é urna coisa inevitável, a pessoa não se sente motivada a uma mudança de comportamento, pois não tem nenhuma esperança de redução das chances de infecção através de uma nova atitude. Esses programas de prevenção acabam causando um sentimento de ansiedade que pode se transformar em rejeição, negação ou sensação de fatalidade. Dizer que manter práticas sexuais com parceiros fixos é mais seguro, também pode comprometer uma mudança de comportamento. Apesar de ser muito difundida, esta é uma informação perigosa. Na verdade, mais do que a informação e a interação entre os parceiros, é preciso mostrar a importância de praticar e manter um comportamento sexual mais seguro. Portanto, as mensagens serão mais eficazes quando dirigidas a um público específico, com uma linguagem que reflita as suas necessidades, chegando, assim, Às soluções próprias de cada comunidade. O conteúdo da mensagem nunca deve ser ambíguo, e sim, colocado da forma mais clara possível. Na última década, as mensagens de prevenção do HIV eram extremamente cautelosas ao falar sobre uso de drogas, práticas sexuais e camisinha. Contudo, informavam e confundiam ao mesmo tempo. Ao advertir sobre a troca de líquidos corporais (em meados da década de 80), esta mensagem não foi ofensiva, mas incluiu de maneira incorreta o suor, a saliva e as lágrimas, que até hoje não foram comprovadas como formas de contágio. Um outro obstáculo para o uso da informação é a lacuna existente entre o nível de instrução do público em comparação à linguagem utilizada nos textos das campanhas. Principalmente em pesquisas realizadas nos Estados Unidos onde se descobriu que os textos impressos nos folhetos sobre o HIV eram superiores ao nível de instrução do público-avo. O desenvolvimento de mensagens claras e adequadas é parte essencial do componente informativo/educativo do processo de prevenção do HIV. Outra parte é certificar-se de que as mensagens foram ouvidas. Poucos programas começam com uma análise formal de seu ambiente de comunicação e muitos não levam em consideração a melhor combinação de canais para alcançar um determinado público-alvo: rádio, jornais ou televisão; folhetos ou posters; aconselhamento, grupos de teatro ou auto-ajuda. Ao invés disso, a maioria dos programas começa com um canal a priori – porque esta foi a opção predefinida ou simplesmente porque o canal já estava disponível para o programa.8 ____________________ 8 Ibidem, p. 168-169. Na maioria dos casos, a mídia impressa é usada com mais freqüência nos programas de prevenção à epidemia, seguida pela mídia eletrônica. O alto custo de uma campanha publicitária influencia tanto no volume de materiais produzidos quanto na escolha dos meios de comunicação para a difusão da mensagem. O segundo elemento: Serviços Sociais e de Saúde Diferentes serviços de apoio podem servir como um instrumento auxiliador na difusão da informação e uma posterior mudança de comportamento. Entre os serviços sociais e de saúde que podem ajudar neste trabalho, podemos citar: testagem e aconselhamento, grupos de apoio e uso da camisinha e programas de tratamento para usuários de drogas injetáveis. Os programas informativos/educativos precisam ser acompanhados em nível local para que sejam garantidas e satisfeitas as necessidades previsíveis de cada serviço social e de saúde. A eficácia da resposta ao HIV/AIDS depende do grau de acesso geográfico e financeiro dos serviços criados para atender as necessidades da comunidade, do grau de receptividade do ambiente, qualidade de contato interpessoal, confiança, tolerância, compaixão), da qualificação do pessoal responsável e do tempo de duração desses serviços. Portanto, os serviços sociais e de saúde exigirão o uso de vários canais de comunicação, a participação de recursos humanos treinados, o gerenciamento e a coordenação eficazes e a disponibilidade contínua de recursos humanos.9 Urna seleção de estudos mostra que a informação/educação, complementada por serviços de apoio, já conseguiu aumentar o uso da camisinha, a diminuição de parceiros sexuais e mudanças na prática de compartilhamento de agulhas e comportamentos sexuais. ____________________ 9 Ibidem, p. 172. O terceiro elemento: Ambiente Social Adequado Mesmo com uma informação/educação eficiente e um serviço social e de saúde com qualidade, é muito importante que o indivíduo esteja inserido em um ambiente social adequado; livre de barreiras, com autonomia para determinar o seu próprio comportamento. Não é fácil abordar alguns assuntos em um clima de repressão. A liberdade de discussão em relação à prevenção da AIDS deve estar associada à saúde pública (através do repasse de informações e formas de prevenção) e aos costumes e normas da sociedade (que algumas vezes julga determinada mensagem como prejudicial ou inaceitável) impondose de forma moralista. A escolha das palavras é importante porque está associada, por um lado, a luta entre os esforços de prevenção e assistência ao HIV/AIDS e, por outro lado, ao status quo do pensamento da comunidade. As palavras têm muitos significados ou códigos diferentes.10 Algumas palavras que podem exemplificar a evolução da linguagem da AIDS são: prostitutas (profissionais do sexo), paciente/vítima da AIDS (pessoa com AIDS), viciado (designado ao usuário de drogas), hemofílicos (para as pessoas com hemofilia), pessoa promíscua (para determinar uma pessoa que possui vários parceiros) e grupo-alvo (comportamento-alvo). Ações políticas também ajudar a estabelecer um trabalho efetivo de prevenção através de leis que diminuam o custo e aumentem a disponibilidade da camisinha, medidas para impedir a discriminação e o desemprego, ou ainda bons programas de aconselhamento. Outras mudanças políticas como os grupos de apoio, workshops (para o uso da camisinha) e leis que dêem ao indivíduo maior autonomia, podem ser, em determinadas situações, mais importantes para a prevenção da AIDS do que a distribuição de camisinhas. ___________________ 10 Ibidem, p. 173. distribuição de camisinhas. Um exemplo está na África, onde mulheres monogâmicas, que por falta de autonomia não conseguem influenciar o comportamento de seus maridos (que possuem várias parceiras), estão sendo cada vez mais infectadas. Após essa explicação sobre a comunicação, sua função na publicidade e a sua importância para a educação e prevenção da AIDS, teremos condições de, no capítulo três, analisar as peças publicitárias desenvolvidas pelo Ministério da Saúde. A avaliação do conteúdo de suas informações, a partir de seus textos e ilustrações; demonstrará se as mensagens apresentadas são suficientes ou não para a educação, prevenção e, uma conseqüente, mudança de comportamento. Bibliografia recomendada LIVROS: ALVES, Nilda & GARCIA, Regina Leite (orgs.). O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A,1999. AQUINO, Júlio Groppa (org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1997. ATHAYDE, Be1chior Maia de. Fundamentação filosófica da educação. São Paulo: Pioneira, 1975. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Ed. 70, 1977. BÉRIA, Jorge (org.). Ficar-transar ... a sexualidade do adolescente em tempos de AIDS. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1998. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. 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