ILHA SOLTEIRA XII Congresso Nacional de Estudantes de Engenharia Mecânica - 22 a 26 de agosto de 2005 - Ilha Solteira - SP Paper CRE05-FS02 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BIOCÉLULAS A COMBUSTÍVEL E CÉLULAS A COMBUSTÍVEL ELETROQUÍMICAS George Cassani Gatti1 e Sílvio Carlos A. de Almeida2 Programa de Engenharia Mecânica – Universidade Federal do Rio de Janeiro Cid. Universitária-Centro de Tecnologia-Bloco G, sala 204, Ilha do Fundão – Caixa Postal 68503, CEP: 21945-970, Rio de Janeiro, RJ – Tels.:(021) 2562.8366, 8371 FAX.: (021) 2562.8383 1 [email protected], [email protected] Introdução e Objetivos Diversas tecnologias têm sido estudas como alternativas aos derivados de petróleo. Dentre estas se destaca a tecnologia das células a combustível devido ao seu diversificado campo de aplicação que abrange desde dispositivos portáteis até a geração estacionária, incluindo o uso automotivo. Embora o seu elevado custo ainda inviabilize a aplicação desses dispositivos em larga escala, a diminuição do custo, do peso e o aumento da eficiência, propiciará um rápido crescimento na utilização das células a combustível. A tecnologia das células a combustível é divida em duas categorias as células a combustível eletroquímicas (também chamadas de convencionais) e as biocélulas a combustível (ou células a combustível biológicas), tendo estas últimas recebido bastante atenção nos últimos 3 anos. O presente trabalho visa apresentar e comparar a tecnologia das biocélulas a combustível (especificamente das células a combustível enzimáticas) com as células a combustível eletroquímicas. Existem dois tipos básicos de biocélulas a combustível, que se distinguem pelo biocatalisador utilizado: as células a combustível microbianas (MFC – Microbial Fuel Cell) e as células a combustível enzimáticas (EFC – Enzymatic Fuel Cell), que utilizam como biocatalisadores bactérias e enzimas, respectivamente. O princípio de funcionamento delas é similar ao das células a combustível eletroquímicas. Contudo é importante ressaltar que, além da enzima a EFC, necessita de co-fatores (por exemplo: NAD+, NADP+ e FAD) e de mediadores, que funcionam como transportadores biológicos de elétrons entre as enzimas e o ânodo. No caso da EFC, as enzimas oxidam o combustível através da redução do NAD+ que, em seguida, reduz o mediador que fornece os elétrons para a superfície do anodo de ouro (que são conduzidos a uma corrente externa, gerando eletricidade, (ver figura 1) e gerando íons H+, que serão transportados através da membrana até o catodo onde reagem com O2 formando H2O. Na literatura encontra-se que fatores como: variação do pH, número de membranas e resistência influenciam o desempenho da EFC. Figura 1: Esquema de funcionamento do ânodo de uma EFC alimentada por lactato que utiliza a enzima LDH com uma camada única de PQQ/NAD+ (mediador/co-fator) e o eletrodo de ouro [2] Para uma comparação adequada das células a combustível, consideraremos uma PEMFC (Proton Exchange Membrane Fuel Cell – célula a combustível de membrana de permuta protônica) como referência. Devido ao fato dessa possuir uma configuração semelhante ao de uma EFC, pois ambas utilizam membrana de permuta protônica como eletrólito e o cátodo está em contato direto com o ar (onde acontece a reação de redução do oxigênio). A diferença estrutural básica entre as duas tecnologias é a utilização de enzimas na EFC ao invés dos dispendiosos catalisadores empregados nos ânodos da PEMFC. Além disso, a EFC pode ser construída sem utilizar a membrana protônica (permitindo uma diminuição considerável no custo do dispositivo, sem prejuízo da eficiência da mesma), conseguem realizara oxidação direta de combustíveis líquidos, como o etanol, metanol, glicose (importante para aparelhos implantados no corpo humano), assim como o aproveitamento de resíduos, como matéria orgânica em decomposição, lixo, resíduos urbanos e industriais. A tabela 1 compara a PEMFC com a EFC. Tabela 1: Comparação das propriedades entre a PEMFC e a EFC PEMFC [5] EFC [6] Combustível Temperatura pH H2 80 ºC 0,70 V – 600 mA/cm Etanol, Metanol 20 ºC 7,15 Saída Densidade de Potência Pressão 2 0,60 V – 1,93 mA/cm 2 420 mW/cm2 0,285 MPa 1,16 mW/cm2 Ambiente ADH (“alcohol dehydrogenase”) Catalisador Pt ou Pt/Ru As células a combustível eletroquímicas possuem um maior campo de aplicação, uma maior densidade de potência e encontram-se num estágio mais avançado de desenvolvimento que as biológicas, embora ainda existam muitos desafios tecnológicos que dificultem a disseminação comercial das mesmas. Por outro lado, a EFC é uma opção interessante para aplicações como: geração descentralizada (devido a versatilidade de combustíveis e principalmente por utilizar etanol diretamente), acionamento de robôs (principalmente em robôs implantáveis utilizados na medicina já que pode gerar energia a partir da glicose presente no sangue) e acionamento de equipamentos portáteis. No que diz respeito ao custo a EFC é mais interessante, pois uma PEMFC pode ser adquirida por US$ 4000/kW, sendo o catalisador e a membrana responsáveis por cerca de 70 % deste valor, enquanto o custo da EFC é estimado em torno de US$ 2000/kW de acordo com dados da literatura, pois de acordo com o mencionado acima, além de utilizar enzimas como biocatalisadores (ao invés de Pt), pode ser fabricada sem membrana. Conclusão De acordo com a análise feita acima uma alternativa para viabilizar o uso de células a combustível em algumas aplicações específicas, consiste na utilização de biocélulas a combustível (especificamente da EFC), que apresentam menores custos e permitem a utilização de combustíveis renováveis e aproveitamento de resíduos. Entretanto apesar de ser uma tecnologia interessante em diversos aspectos não se deve esquecer que é necessário evoluir a pesquisa e desenvolvimento da EFC, principalmente no que diz respeito a miniaturização e ensaios de vida útil do dispositivo, para uma futura comercialização deste produto. Referências Bibliográficas Sweet, W., M. Lozano, and S. Alia., “Biological Fuel Cell Final Report”, University of California, San Diego, 2003. Eugenii Katz, Andrew N. Shipway and Itamar Willner, “Biochemical fuel cells”, Chapter 21, Institute of Chemistry and The Farkas Center for Light-Induced Processes, The Hebrew University of Jerusalem, Jerusalem, Israel, 1904 Shaun Alia, Wendi Sweet, Monica M. Lozano, “Final Project Report”, Prof. Jan B. Talbot, University of California, San Diego, Chemical Engineering Program, CENG 176B. Mano, N., Mao, F., Heller, A., “Characteristics of a miniature compartment-less glucose-O2 biofuel cell and its operation in a living plant”. J. Am. Chem. 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