Universidade Metodista de São Paulo
Ciências Sociais
Diversidade Cultural e Formação da Identidade Brasileira
Professora Luci Praun
Cultura, identidade e ideologia
Análise dos textos de Marilena Chauí e Renato Ortiz e dos vídeos baseados na obra de
Darcy Ribeiro
Vanessa Cristina Barbosa da Costa e Silva
Matrícula: 160692
Análise dos textos de Marilena Chauí e Renato Ortiz e dos vídeos baseados na obra
de Darcy Ribeiro
A partir da análise das produções de Chauí, Ortiz e Ribeiro, vemos diferentes
pontos de vista quanto aos temas “cultura brasileira” e “identidade nacional”. Darcy
Ribeiro acredita num “ser brasileiro”, que ele diz ser “um gênero novo de uma
humanidade tropical” que surgiu da mistura das matrizes tupi, afro e portuguesa. Ele
ainda afirma que a mestiçagem gerou “uma cultura grandemente homogênea” que “se
comporta como uma só gente”.
Obviamente, isso não pode ser verdade. Não somos uma cultura homogênea e
até mesmo a experiência prática e diária nos revela isso. Vemos diversos grupos,
diversas comunidades, diversas classes sociais; cada uma se comportando de uma
maneira. Mas então, como o brasileiro pode se reconhecer como brasileiro e acreditar
numa cultura brasileira, apesar de viver uma realidade que nega isso? Podemos tirar a
explicação para isso através do raciocínio de Renato Ortiz.
Ortiz, ao contrário de Ribeiro, reconhece que a cultura popular é heterogênea e
acredita, portanto, em culturas populares. Para explicarmos, baseados no pensamento
dele, como acontece a crença numa identidade nacional, iniciaremos pela diferenciação
entre memória nacional e memória coletiva, as quais estão relacionadas à identidade
nacional e identidade coletiva. Memória coletiva é fundada na vivência, na tradição e se
manifesta no cotidiano das pessoas, como exemplo disso temos o candomblé e uma
folia de reis. Já a memória nacional pertence ao domínio da ideologia, ela transcende os
sujeitos e se impõe a todos os grupos, mas não pertence a nenhum; é uma construção de
segunda ordem que busca uma unidade na prática inexistente. “Nada unifica um
candomblé, um reisado, uma folia de reis, uma cavalhada, a não ser um discurso que se
sobrepõe à realidade social” (ORTIZ). Discurso que afirma: isso é cultura brasileira.
Mas para quê criar uma identidade nacional? E como as pessoas podem acreditar que
são parte dessa cultura, quando, na verdade, cultura nacional é uma criação que nada
tem a ver com o cotidiano delas?
A criação de uma identidade nacional serve ao projeto do Estado, é esse Estado a
própria “cultura nacional”, pois é ele “que transcende e integra os elementos concretos
da realidade social (...). É através de uma relação política que se constitui a identidade
nacional”. (ORTIZ). É interessante para o Estado, tal como surgiu e temos hoje, que o
nordestino e o sulista, que pouco têm em comum, além de falarem português, que eles
acreditem pertencerem a um mesmo povo, à cultura brasileira, pois isso poderá fazer
com que eles, por exemplo, lutem pelo Brasil, pela unidade territorial, o que muito
interessa a esse Estado. Quem faz com que as pessoas acreditem nessa homogeneidade
são os intelectuais, como o próprio Darcy Ribeiro. É através deles que o Estado, passa a
considerar as culturas populares como manifestação de uma brasilidade. Nas palavras de
Ortiz: “Os intelectuais são os artifícios deste jogo de construção simbólica”.
Dentro dessa construção simbólica, realizada por muitos intelectuais ao longo do
processo de formação do Estado brasileiro, muitos mitos são apontados por Marilena
Chauí. Mitos que a maior parte da população brasileira acredita como sendo verdade.
Assim, muitos intelectuais disseram que o Brasil é um país sem preconceitos, por ser
mestiço, e a população repete esse discurso. Mas muitas são as provas de que esse
discurso não passa de mito e para tê-las basta ouvirmos as pessoas conversando: “índios
são ignorantes”, “negros são indolentes”, “nordestinos são atrasados”, “portugueses são
burros”, “mulheres são inferiores”. Além desse mito temos o do brasileiro como povo
ordeiro e pacífico. Esse mito também pode ser desmascarado se observarmos tantas
chacinas cometidas pela polícia contra populações marginalizadas; tantas crianças nas
ruas e tantos que apóiam o massacre aos sem-terra, muitas vezes chegando a cometêlos.
Esses mitos precisam ser desfeitos e isso significa que é preciso haver uma luta
contra a ideologia dominante, representada no Estado, pois uma população que acredita
em mitos, como os citados, não percebe a realidade e, por isso, não consegue lidar com
ela. Esses mitos permitem que “uma sociedade que tolera a existência de milhões de
crianças sem infância e que, desde seu surgimento, pratica o apartheid social possa ter
de si mesma a imagem positiva de sua unidade fraterna” (CHAUÍ). Só com a destruição
desses mitos, o povo perceberá a realidade na qual vive e lutará pelo fim de tantas
injustiças e explorações que existem. Só uma educação ética é capaz de destruir esses
mitos e permitir que se desenvolva uma consciência histórica na população, que a
permita saber de onde veio e escolher para onde quer ir. Sem essa educação o “povo
brasileiro” continuará sendo enganado por esses mitos e não construirá um país melhor
e mais justo, afinal, para que mudar as relações que foram construídas por um povo que
não tem preconceitos e é amoroso e pacífico para com o próximo?
Vanessa C. B. da Costa e Silva
REFERÊNCIAS
Bibliográficas
CHAUÍ, Marilena. Brasil – mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo:
Editora e Fundação Perseu Abramo.
ORTZ, Renato. Cultura Brasileira e Identidade Nacional. São Paulo:
Brasiliense, 2006, p. 127 – 142.
Outras
Filme – Documentário: O povo brasileiro. Ano: 2000. Direção de Isa Grinspum
Ferraz.
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