‘Desescondendo’ o Brasil: olhares sobre a cultura brasileira Curso à distância 1 Abril de 2009 Coordenação Técnica Patrocínio 2 Estamos vivendo um tempo de avaliar as pegadas que constituíram o nosso caminhar. O modo como caminhamos nos avalia. Pode-se dizer que avaliamos e somos avaliados. Uma questão-eixo seria: como veio sendo planejado o caminhar? Com cuidado, com leveza e acuidade estivemos e estamos trabalhando. Ao avaliar e sermos avaliados podemos fazer projeções, apostando em algumas características na cultura brasileira; haveria os “3E” que marcaram nossas ações: ética (o cuidado), estética (a leveza) e economia (acuidade). Esses “3E” produziriam (conforme o planejado) mais participação. Mais poetas, pessoas e grupos mais musicais, dramaturgia mais sofisticada e comunicativa, mais expressividade nas coreografias, vigor nos repentes e nos improvisos, melhor atenção dos brasileiros às farinhas, aos bilros, às estórias e repentes, melhor pertença gastronômica de panelas e potes, mais presença e sociabilidade de bonecas negras e bonecos gigantes, mais ciranda, menos preconceito contra as artes dramáticas e contra os saberes da tradição afro-americana... enfim: mais vivência consciente do pluralismo cultural. Estamos fazendo e sendo parte de políticas publicas em construção. Segundo a concepção de gestão em rede é isso: fazemos e somos parte da política. Buscamos eficiência em nossos planejamentos e presenças; encontramos (como demanda) que mais eficiência advém de melhor democracia nas interações estado-sociedade. Isso exigiu de nós coragem intelectual, confiança no presente e aquela seriedade de habitar os nossos referenciais, sendo tradicionais em nossas recriações. ¹ Revista Nova. No artigo: Luis Aranha ou a poesia preparatoriana. São Paulo, 1932. Penso que seria oportuno correlacionar aqui trechos de uma reflexão do Mario de Andrade: (...) nosso atualismo é consequente com a observação direta da realidade contemporânea. Isso significa amor ao jogo e não amor de ganhar o jogo. Nos permitiu conceber o que temos que ser, brasileiros e americanos, pra contribuirmos de alguma forma com o enriquecimento da humanidade. De aí que o universalismo seja pragmático: pesquisamos o nacional ao mesmo tempo em que nos libertamos de tendências estreitamente regionalistas; a procura das tradições favorece e ilumina o Aleijadinho, revitaliza o ameríndio e persegue a ressonância histórica de nossa tristeza. E, quanto ao realismo psicológico, importa verificar não apenas que a submissão e pesquisa de realidade contribuíram para o excesso de personalismos e multiplicar teorizações estéticas; o fenômeno realmente importante e decisivo foi a fixação do conceito de intelectual. Nós hoje nos debatemos ante problemas do homem e da sociedade com consciência e desejo de solução, com aquele desespero inerente ao intelectual de verdade: jamais nossos artistas do passado fizeram isso com tal intensidade. (...) Hoje estamos preocupados em voltar às nascentes de nós mesmos e da arte (...). 1 Reinventar seria assim. A contemporaneidade artística dos brasileiros toma pra si a responsabilidade e o prazer do “fazer cultura”, aprimorando o que vem sendo feito. O viver se torna mais culto e mais jogo, o gosto de jogar é mais pleno do que a mera incerteza de “vencer na vida”. No esforço de amar e compreender nós, estado e sociedade, aprimoramos a crítica do que estamos fazendo. Penso que estamos retomando e aprimorando o Mario de Andrade... Célio Turino Secretário de Programas e Projetos Culturais Ministério da Cultura Coordenador do Programa Cultura Viva 3 4 Nesta edição especial do Prêmio Cultura Viva, Por meio desse Programa, procuramos ações e que apresenta um projeto de formação, seguimos oportunidades a parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e o capacitação, além da produção de documentação e Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, materiais que possibilitam a troca e a circulação de Cultura experiências, bens e produtos do campo da cultura e Ação Comunitária (Cenpec), promovendo a aproximação e capacitação de profissionalizantes e de em estreito vínculo com a educação. representantes de mais de 300 iniciativas atuantes no território nacional. Nos reconhecemos como parceiros de todos os contemplados nas duas primeiras edições do Como a maior patrocinadora das artes e da Prêmio Cultura Viva e também de todas as cultura da sociedade brasileira, a nossa atuação demais iniciativas dos Pontos de Cultura, que aqui para viabilização deste projeto assume o foco também para uma formação de agentes culturais que se promover grandes encontros, formar redes e soma às linhas estruturadas no Programa Petrobras ampliar as possibilidades de intercâmbio e Cultural, desenvolvido desde o ano de 2003. fortalecimento das ações. acolhemos com o objetivo de 5 6 A mobilização produzida pelas duas edições do Prêmio Cultura Viva (2005/2006 e 2007) alcançou 4.175 inscrições de iniciativas de 1.078 municípios brasileiros. Essas iniciativas, oriundas de proponentes diversos – Escolas Públicas de Ensino Médio, Fundações e Instituições Empresariais, Gestores Públicos, Grupos Informais, Organizações da Sociedade Civil e Pontos de Cultura – desenvolvem práticas que revelam a diversidade e a riqueza da cultura presente em todo o território nacional. O processo descentralizado de avaliação das iniciativas inscritas agregou ao longo das duas edições 350 avaliadores de todo o País, constituindo um grupo composto por diversos perfis profissionais do campo da cultura, da educação e da assistência social, representantes de governo, de universidades e da sociedade civil. Esses números apontam que o Prêmio Cultura Viva, em apenas duas edições, conquistou legitimidade e reconhecimento público, desencadeando o compromisso dos seus realizadores - MinC, Petrobras e Cenpec - com sua continuidade e aprimoramento. Visando a esse aprimoramento, a partir de 2008 é apresentada a proposta de intercalar na realização do Prêmio Cultura Viva duas linhas de ação que se complementam: desenvolver o processo de inscrição, avaliação e seleção das iniciativas e realizar encontros com a finalidade de mobilizar e promover a formação de agentes culturais - provenientes das instituições e dos grupos participantes do Prêmio -, proporcionando o intercâmbio de experiências, o fortalecimento das ações e a composição de redes. Ao longo de sua trajetória de 21 anos o Cenpec vem apostando na formação de diversos agentes sociais. Formação entendida como mudança intencional e partilhada, como desenvolvimento e transformação pessoal num contexto de socialização, como encontro e diálogo entre os vários sujeitos com vistas à construção do sentido de pertença a uma rede de ações sócio-culturais de base comunitária. Ao destacar o valor da prática como elemento de investigação e autoria, o projeto de formação do Prêmio Cultura Viva encontra-se com os princípios do Programa Cultura Viva – fortalecimento da comunidade, protagonismo, autonomia e empoderamento dos indivíduos – assegurando o direito de aprender e respondendo ao desejo de participação e desenvolvimento dos territórios. Maria Alice Setubal Presidente do Conselho de Administração do Cenpec Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária 7 8 Caminhos e Trilhas Chegamos à reta final do processo de formação do Prêmio Cultura Viva, iniciado com o encontro nacional, em novembro de 2008, em Brasília. Desde então, temos percorrido diversos caminhos e trilhas. Após a primeira etapa do projeto, demos sequência à segunda fase da formação, à distância, por meio da Comunidade Virtual Ponto de Encontro – Prêmio Cultura Viva e do curso Desescondendo o Brasil: olhares sobre a cultura brasileira. Para a terceira e última etapa – encontros regionais – os participantes foram divididos em quatro grupos: - Sudeste – Belo Horizonte/MG – de 22 a 25/04 - Norte/Centro Oeste – Belém/PA – de 06 a 09/05 - Sul – Porto Alegre/RS – de 13 a 16/05 - Nordeste – Recife/PE – de 27 a 30/05 Nesses encontros regionais temos o prazer de apresentar esta publicação, desenvolvida a partir de alguns dos materiais produzidos por vocês na Comunidade Virtual e no curso à distância. Durante quase quatro meses mantivemos contatos constantes, trocamos inúmeras ideias e informações no ambiente da Comunidade. Neste Caderno, reunimos as reflexões que surgiram no Fórum sobre o tema formação. Algumas atividades do curso à distância também estão aqui registradas. As discussões geradas a partir das atividades sobre o conceito de cultura, festas tradicionais e o papel transformador da cultura são apresentadas com o objetivo de reunir pontos de vistas diversos e enriquecer a discussão proposta. Ao final dessa caminhada em conjunto nos sentimos satisfeitos com as várias trilhas percorridas. Acreditamos que ao encerrar este projeto tenhamos conseguido alcançar nosso objetivo de construir uma reflexão compartilhada com todas as iniciativas. Deixamos como palavras finais um verso da poetisa Cora Coralina: A estrada da vida pode ser longa e áspera. Faça-a mais suave Caminhando e cantando com as mãos cheias de sementes. Até breve! Equipe Prêmio Cultura Viva Formação 9 10 Caleidoscópio da Cultura A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Ruth Benedict 11 Estou há dias procurando algo que defina cultura como eu a vejo, algo complexo e simples, complexo porque surge de uma mistura de coisas, pensares e fazeres distintos. Simples porque quando tudo isso vai sendo separado cada um vai se enxergando nas pequenas partes que a compõem, para mim a cultura é a folha de papel que o Mestre Zen fala e nós, parte dos elementos que a compõem. Raquel do Nascimento Barbosa Papéis Culturais Alternativos – Pendências/RN Quem nunca chegou a percorrer a Floresta Amazônica de avião ou de barco de Manaus a São Gabriel é muito fácil falar! Mas quem já percorreu essa imensa floresta já sabe que o desafio é longo e cansativo, pois quando falamos da cultura do alto rio Negro falamos das 23 etnias indígenas da região do alto rio Negro (...) Cultura para nós é o costume que passa no dia-dia na aldeia, onde vivemos e onde estamos, é uma coisa que fica gravada na memória dos nossos velhos ‘detentores do conhecimento dos conhecimentos’ dos nossos antepassados. Cultura significa nome. Por quê? Porque o nome que recebemos, valorizamos e gravamos na nossa memória... Ninguém desvaloriza seu próprio nome, então a nossa cultura é o símbolo de um nome... Moisés Maadzero Keerada Inewikite Irapakape Grupo de Dança Baniwa do Mestre Luiz Laureano – São Gabriel da Cachoeira AM O que é cultu Aqui tem nome e memória: (...) Lembro os barbadianos da minha família paterna e, particularmente da minha avó não me deixando dormir a sesta ‘para não ser preguiçosa como essas mulheres paraenses’; do meu pai que, à noite, depois que a minha mãe rezava conosco as orações cristãs, nos fazia repetir 20 vezes uma mensagem esotérica de que ‘todos os dias sob todos os pontos de vista vou cada vez melhor’. Minha mãe, cujo pai professor normalista era filho de um escravo alforriado nos passava a informação de que jamais deveríamos atribuir quaisquer fracassos em nossas vidas ao fato de sermos negros. (...) Meu pai, que era comunista, já havia morrido quando eu era pequena. Minha mãe não tinha qualquer simpatia pelo comunismo e muito se preocupava com possíveis influências (...) A busca teórica me levou ao Gilberto Freyre, Roberto Da Matta, Sérgio Buarque de Hollanda e Darcy Ribeiro. Quando fiz o doutorado em 1994 havia muita dificuldade de aceitação na academia ‘desses teóricos conservadores’. (...) Estou vendo que esta minha escrita está parecendo uma autobiografia. Então vamos: o mais importante no século XX para a minha vida foi o nascimento dos meus filhos Justo e Alegria, cujos belos nomes foram sugeridos pelo meu marido poeta argentino Alberto Antonio Soria, que cultuava o Sol. Ao contrário da minha avó, dizia que o povo brasileiro é muito trabalhador (...) Infelizmente, até agora não consigo dormir a sesta! (...) Heliana Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA 12 Cultura como olhar, jeito de estar, é citado por Juliana e José Carlos: A cultura é como uma lente através da qual o homem vê o mundo. Frase de Ruth Benecdit, no livro do Laraia, citado por Juliana Noleto Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF Existem definições que nos deixam restritos... existem definições que nos impedem de voar mais alto! Prefiro aquelas que nos aproximam do coração! Falar de cultura é bem assim, difícil, quase um desafio! Sabe aquilo que amamos, criamos, exploramos e pouco dela sabemos? Cultura minha soa bem assim, quase um enigma! José Carlos SACEM – Semana de Artes e Cultura do Col. Est. Manoel Vilaverde – Inhumas/GO ra para você? Mas também tem a cultura como algo não estático, movimento. Como citam Betânia, Josemeire e Vânia: Cultura nasce, cresce, desenvolve, envelhece... e nunca morre! Cultura está na genética, no comportamento, no pensamento. Na infância conhecemos sua mais nobre expressão, como o tempo, o aperfeiçoamento e autenticação. E depois, a mais bela forma de educação. Mas só para os que sabem... os que sentem... os que vêem... os que reconhecem... os que respeitam... os que entendem! Betânia Canto das Artes – arte, cultura e meio ambiente– Palmas/TO Cultura tem forma? De onde vem tanta criatividade e gosto estético de pessoas que nunca tiveram uma experiência estética, contato com arte e, no entanto, sai de suas mãos e apenas de seu repertório imaginário, obras que nos levam a diversos graus de reflexão? Isso muda uma cultura, interfere nela ou cria-se uma nova? Continuo a pensar... Para mim cultura é CRIAÇÃO! E criação de seres que são puro imaginário, sentimento e vida (todos nós seres humanos). E o melhor de tudo é que passa do imaginário para a concretização e se perpetua na MEMÓRIA imaginária de quem VIVE (respira) e no CORAÇÃO de quem SENTE (pulsa), pelos séculos e séculos e séculos e séculos... graças a todos os deuses de todas as culturas, assim seja!! Josemeire Vieira Coelho Artes Táteis – Brasília/DF Vânia Rego Caravanas de Arte-Educação – Santarém/PA 13 O que é cultura para você? E por falar em criação, Rubens concretiza conceitos e cria poesia como a de Joaquina Juruna, citada por Déa: A poesia da indígena, Joaquina Juruna, que vive no Sul do Pará, Altamira, é a síntese de como entendo cultura. Déa Peneirando – Belém/PA Oh! formoso pai do céu Que me ouve nessa hora Daí-me entendimento E uma boa memória Para falar de uma árvore Na qual me refiro agora É uma árvore pequena Que parece não ser nada Mas, para quem lhe conhece Merece ser preservada Por toda nação do mundo Merece ser respeitada Essa árvore serve muito Pra quem sabe lhe usar Serve para fazer rede Lençol para se embrulhar Tipóia pra por do lado E linha pra costurar (...) ARTE CORTE X CULTURA COSTURA E Rubens poderia continuar de forma concreta a poesia de Joaquina: Os conceitos erudito e antropológico são complementares. O meio ambiente determina a cultura local (se houver rocha no local, haverá reflexo na arquitetura, no artesanato, na escultura; se houver palha, abundará a cestaria, tapetes, objetos; argila proporcionará a cerâmica que será empregada nas formas mais diversas...) A memória também é determinante, e aí eu lanço mão da mitologia grega, onde a memória é a mãe de todas as artes, como elemento crucial na sobrevivência e difusão da memória cultural. Rubens Costa Marques Projeto de Educação Patrimonial - Campo Grande/MS 14 E se a gente fosse continuar, faria uma imensa roda: nome, memória, jeito de estar, movimento, criação, meio: O que é cultura para você? E eu acrescentaria resistência e luta. Heliana Luamin: peças interventivas na realidade – Belém/PA O conceito de cultura é bastante amplo e variado; é uma questão de perspectiva. No entanto vou tentar agora passar o meu conceito do que é cultura. É o conjunto de características inerentes a pessoa, quer seja na área artística, aí incluo música, dança, teatro; religiosa tanto na crença quanto em seus rituais ou ainda manifestações religiosas ou sociais como o modo que uma determinada sociedade se organiza. São elementos que em conjunto caracterizam determinada sociedade, povo, grupo, os quais são transmitidos de geração em geração. Cultura é inerente a pessoas e lugares que fazem parte da construção de nossa personalidade em um constate movimento sem perder suas origens e sempre adicionando novas formas, por meio de cooperação social. Conhecer a nossa cultura, conhecer o que nos distingue e nos assemelha dos outros seres, conhecer o que nos é próprio e nos identifica, é caminho fundamental ao crescimento e construção do futuro para cada indivíduo, grupo ou sociedade. Eder Ponto de Cultura a Bruxa Tá Solta Boa Vista/RR Jarbas Santos Tudo que Fizerdes ao Adolescente Brasília/DF Cultura é a referência de tudo e de todos, é como reconhecemos e referenciamos a maneira de ser. As pessoas assumem e se comportam culturalmente e se expressam de maneira a serem identificadas através dos costumes e valores que consolidaram ao longo do tempo. Quando vimos essa procissão fluvial na Amazônia, percebemos toda a participação coletiva numa manifestação cultural legitimada pelos seus costumes. Esta procissão fluvial é em comemoração ao Círio na comunidade de Serraria Pequena, no município de Afuá/PA. Após a parte religiosa vem a festa profana com danças e jogos. José Roberto Navegar Amazônia –Macapá/AP Foto postada pelo Walter Santos Dias. Comunidade Capoeira, Teresina/PI É a manifestação advinda de qualquer expressão cultural, seja artística, social, lingüística. É toda a capacidade de produção que nos diferencia e que nos identifica. É toda prática que dá real sentido à nossa vida! Rubia Goreth Cuias de Santarém – Santarém/PA 15 Cultura é a humanidade avançando ao encontro de si mesma. Em cada passo de homens e mulheres que continuam palmilhando o caminho, apesar das pedras. M. Fulgência PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA O que é cultura para você? A cultura está presente em todos os momentos de nossa vida. Cíntia Arreguy Cestas de Memória – Belo Horizonte/MG Segundo os meus conhecimentos, a cultura representa a identidade, em constante transformação de um povo, conforme seus significados, épocas, lugares e sua relação com o outro, consigo e seu meio. Conforme SCHIMITI, descrevendo o ensino de música nas escolas públicas e privada, pode-se compreender o conceito de cultura como: “Contribuições relativas à experiência de vida das crianças e dos jovens somente a cultura pode oferecer. Seu poder de expansão da criatividade e da auto-expressão favorece uma interação social positiva e faz com que as crianças conheçam e participem dos rituais da sociedade de forma eminente mais expressiva”. (p.15) O conceito e as possibilidades da cultura se ampliam como descreve MARTINS: “sendo o conjunto das manifestações dos modos de vida, alguns bastante característicos, que formam o patrimônio cultural das diversas regiões... que fazem uso das linguagens das artes visuais;artes cênicas; artes da palavra; artes musicais; audiovisual;... tradições; tecnologia” e acrescentando o imaginário.(p15) Compreende-se, portanto, que cultura é importante, não somente pela análise estética, mas como reconhecimento de sua capacidade, conhecimento, desenvolvimento de potencialidades pessoais que provocam uma melhoria do equilíbrio geral do ser humano. Cleotilde, A Vivência Musical como Instrumento de Socialização no Ambiente Escolar – Boa Vista/RR Idéia de cultura como dia-a-dia, como pequenas experiências e não grandes marcos. Cultura como mosaico de saberes, de vivência, de quereres. Como movimento coletivo do sensível, do prazer, da vida. Como pedaços particulares Que formam e transformam O dia a dia. Marina Abib Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP Eu,paulistana Eu, Bororo Eu,Terena Nós, brasileiros Cutura é identidade. Dulcilia, Gilmar e Agostinho O Museu na Aldeia: Comunicação e Transculturalismo Campo Grande/MS 16 Cultura é “tudo o que o povo acredita, sabe, imagina, vê, ouve, come, comenta, discute, defende, tem medo, nojo, é a favor e/ou é contra...” O que é cultura para você? Ariane Piñeiro Projeto Animação - Núcleo Animazul – Vitória/ES Cultura é tudo o que o homem produz em um grupo ou em uma comunidade. É muito interessante conhecer a cultura de outros países, cidades, grupos e outros para entrar em contato com a diversidade de linguagens, festas, cultos, vestimentas, comidas e uma infinidade de itens diferentes. Roseli Aparecida Brincando na Universidade: LABRIMP e MEB como Espaços de Cultura – São Paulo/SP Cultura é (cultivar/cuidar) dos valores dos indivíduos de um determinado local, como eles pensam e como eles são. Ocorrem mutações com o tempo... mas o jeito de ser e estar ficam definitivamente agradados. Cida Marques Escola de Artes Sacras e Ofícios – Barueri/SP Sou caipira, Pirapora Nossa Senhora de Aparecida Ilumina a mina escura e funda O trem da minha vida (2x) Me disseram, porém Que eu viesse aqui Pra pedir de Romaria e prece Paz nos desaventos Como eu não sei rezar Só queria mostrar Meu olhar, meu olhar Meu olhar (Renato Teixeira) Foto de Natanael de Andrade, que mostra alunos da Comunidade de São Miguel do Cajuru preparando-se para entrar no palco do Teatro Municipal de São João del Rei. A peça foi uma criação livre a partir da obra de Ariano Suassuna, "O Auto da Compadecida". Os alunos transportaram o enredo para o local onde vivem, uma comunidade rural distante 40 km do centro da cidade. Para isso, reconheceram histórias e personagens locais e criaram, inventaram, brincaram... Frase de uma aluna: "com o Projeto, eu aprendi que eu posso ser o que eu quiser". Juliano Pereira Projeto Arte por Toda Parte – São João del Rei/MG Monumento Romeiros, em Pirapora do Bom Jesus (SP), que retrata a letra da música 17 O que é cultura para você? Diante de um conceito tão complexo e difuso, as imagens têm mais força. Arheta Festa da Rua – Rio de Janeiro/RJ A valorização da cultura e da identidade popular nos ajuda a fincar raízes, nos redescobrindo e dando novo significado a nossa história de vida. (...) Somos coloridos de cores e sabores... Todos temos muita coisa em comum e ao mesmo tempo tanta diversidade. Elaíse Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES Cultura é tudo o que move um povo, que dá sentido às suas iniciativas e crenças, ao seu jeito de viver e conviver. São suas histórias, brinquedos e brincadeiras, as festas e celebrações; é tudo aquilo que os sustenta e lhes garante a unidade e o espírito comunitário, promovendo o seu desenvolvimento. Eliete R de Araújo Casinha de Cultura - Espaço de Celebração do Conhecimento Coronel Murta/MG Cultura refere-se a tudo que nos traz conhecimento, permitindo assim, a socialização, a participação, as experiências, a arte. Também entendo a cultura como um potencial educativo, que possibilita a qualificação e a mediação necessárias para a construção e o exercício da cidadania, fortalecendo o tecido social e o desenvolvimento das comunidades. Rosa Hiroko Projeto Cultural a Gente Não Quer Só Comida Campinas /SP 18 Cultura é a ferramenta libertadora de expressões, potencial e o instrumento mais capaz de empoderar o ser humano em toda sua ‘riqueza e essência humana’. A única capaz de competir com o assédio do tráfico, narcotráfico e capaz de abrir caminhos reais para a vivência da Cidadania. O que é cultura para você? Lucinara Reis Circo de Todo Mundo – Belo Horizonte/MG Como dizia o filósofo, “cultura é tudo que não é natureza”. A cultura nasce da necessidade; o ser humano transforma a natureza para satisfazer suas necessidades. O vazio interior da alma humana busca por uma razão, por uma explicação da existência. O desejo de criação através da ação, do trabalho gera o ser cultural. Paulo César Grupo de Fandango da Juréia – Iguape/SP Nosso mestre do baião imortalizou o conceito de cultura através da música: “é tudo aquilo que o povo sente, que vem de dentro do coração...”. Cultura é “o aconchego de sentir-se humano. Humanizado, sentindo, vivenciando, produzindo e reproduzindo. É a arte e o artista, o público que se encanta. São as raízes que alimentam nossa identidade, fortalecem nossas tradições, nos ajudam a saber quem somos. Em cada jeito de ser, acreditar e sonhar, construído e manifestado em cada cantinho de nosso Brasil, dando gosto e sabor ao nosso viver. Mãos calorosas, que tecem com diferentes retalhos, cada pedacinho de nossa colcha chamada vida”. Cultura é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, lingüísticas e comportamentais de um povo ou civilização. Mãos que sabem o segredo do barro... iniciam mãos guardiãs do legado. Falo das Paneleiras de Goiabeiras de Vitória do Espírito Santo, que passam seus saberes e fazeres de geração para geração. Isso é a nossa cultura, mostrando as manifestações artísticas e sociais de nosso povo. Elizete Terezinha Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES Elaíse Carla, Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES Cultura é mobilização interna, transformação através dos estímulos da vida, olhares e percepção de beleza, oportunidades, jogo de mãos, olhos e espírito focados no crescimento e desenvolvimento humano. Pessoal mais pessoal, individual ou coletivo e devolutiva acrescida de um toque a mais para continuidade e crescimento de cada um que puder ou quiser dela se apropriar. Bolo com muito fermento... Cultura é “o conjunto de saberes e fazeres de um grupo, os conhecimentos e prática que descrevem e definem o modo de vida de uma comunidade e que a torna ciente da sua posição no mundo”. Heloísa Helena Programa Cultura Caiçara Viva – Teia – Cananéia/SP Inez Waack Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP 19 O que é cultura para você? Somos riquíssimos em arte e cultura, de norte ao sul deste Brasil, por isso a minha compreensão de cultura é que é algo orgânico, se misturando e se mexendo o tempo todo e resgatando as nossas origens, os nossos sabores, os nossos cheiros, as nossas fantasias e alegrias. Cultura é cultivar amor, unidade, consciência, liberdade, sabedoria e não somente conhecimento. Jacqueline Projeto Rodas e Brincadeiras Cantadas – São José dos Campos/SP Cultura para mim é a forma que temos de nos expressar e a interação resultante dessa expressão (fotos do trabalho das crianças do projeto Anima Escola). Destaque à “necessidade da interlocução, da colaboração, da comunicação para o enriquecimento humano, fator necessário para que tenhamos uma ‘travessia’ feliz e de qualidade”. Algumas palavras que definem cultura: Conhecimento / Saber / Coletividade / Valores / Interação / Instrumento / Pensamento / Ação / Rede / Diversidade... Maria das Graças Souza Rocha Gerando Cidadania e Cultura – São Gonçalo /RJ Joana Sobra Projeto Anima Escola – Rio de Janeiro/RJ Marilene de Lucca Cultura & Cidadania – Timotéo/MG 20 Cultura como identidade. O que é cultura para você? Lucas Pablo Rocinha Ontem e Hoje: Histórias Brincantes - Rio de Janeiro/RJ Cultura é misturar tudo e todos... todas as linguagens e pensamentos, conceitos e deixar os resultados acontecerem (...) Suassuna, expert em cultura popular que critica e desconsidera o funk, uma manifestação artística cultural com forte expressão, que é representado pelas camadas mais populares do país. Isso tudo pode ser misturado e resultar em uma atraente experiência, que permite o conflito de linguagens, mas não descartam a experimentação de ambas. O que produzimos em nossa sociedade. O nosso modo de vida é cultura. O futebol, o forro pé de serra, as lendas e histórias verdadeiras de personagens como o Lampião, manifestações de determinadas comunidades. Antonia Valesca Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da Meninada do Sertão – Crato/CE Rômulo Oficinas Culturais no Programa de Ensino Nova Iguaçu/RJ ”Não fiz vestibular, nem tão pouco a faculdade, a minha universidade só me ensinou a cantar. Na cultura popular foi onde eu ganhei troféu, meu professor esta no céu, me corrige e da ‘aprovo’, o meu diploma é o povo, vale mais do que papel...” Coloco-me de joelhos em terra ao olhar para o passado que tanto reflete o presente. Lanço o olhar no velho pilão próximo ao fogão à lenha é o mesmo sabor de tudo. Ao amanhecer oração. Ao longo do dia trabalho e ao entardecer prosa e viola. O batuque e os batuqueiros. A lua onde mora São Jorge e a fogueira que anuncia o nascido São João. Pequeninos atos cotidianos que desde o início da minha genealogia se instalam com sons, sabores, suor, dança, prosa... Ainda é o mesmo tengo tengo mango mango, em vestes ousadas na labuta para o pão e o esconder da dor. Margarida Cassimiro Gasparino Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio Belo Horizonte/MG Mestre João Paulo, Maracatu Leão Misterioso citado por Sérgio Ricardo, Oficinas Ternodamata – Nazaré da Mata/PE Cultura é um conjunto de manifestações e hábitos culturais em lugares diferentes. São hábitos desenvolvidos pela convivência nas várias comunidades. Cultura é uma maneira de criar e construir os objetos de vida. Cultura que vão e voltam em cada passar de ano. Isso é cultura. Daiane Fausto Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE 21 O que é cultura para você? Tratar de Cultura é tratar do conjunto extremamente variado de manifestações tradicionais e também inovadoras do povo de uma região. Cultura é todo e qualquer produto humano, identidade de um povo, costumes, crenças, manifestações, tradições. Dança, teatro, artesanato, pintura, escultura, xilogravura, dentre outros, são muitas as manifestações que envolvem a palavra cultura. Fazer Cultura significa fazer história e esta se revela no cotidiano e imaginário das pessoas num processo criativo e criador. Falando do povo Nordestino as manifestações são originadas da vivência cotidiana que mesmo pela seca que fez do sertanejo um forte; da sua luta pela vida, a esperança de vencer cada desafio. E ainda em meio as adversidade produzir as tão belas manifestações artísticas que definem os traços culturais do povo do sertão e fascinam aos amantes e admiradores. Este tema é, sem dúvida, muito instigante, até porque, como aluno de antropologia e artista, venho perseguindo esta resposta há muito tempo... bem, na verdade, vejo que podemos falar de CULTURAS, buscando uma abordagem mais ampla, que envolve todo o FAZER humano! Henrique José Oficinas de Fotografia e Identidade – Natal/RN Cícero Programa Saberes – Senador Pompeu/CE Fazer cultura é fazer história, e a partir do momento em que criamos algo em nossa comunidade, contribuímos para que ela cresça e nós também. E podemos mudar um pouco o rumo da nossa história, pois quando acontece algo novo, na comunidade, há uma mudança radical e é aí onde descobrimos o que somos capazes de fazer. Quando vamos participar de algum movimento usamos nossos cinco sentidos, pois pensar também é cultura. E penso que o imaginário que ele fala é isso, a questão mesmo do criar, botar a mão na massa e fazer. Tirar tudo da mente e botar em papel, depois por em prática. E que também podem estar ligadas às lendas e histórias que o povo conta, “o imaginário popular”. Valêsca Cordeiro Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da Meninada do Sertão – Crato/CE O imaginário está no poder que temos de transformar, criar, desenvolver, resgatar... Cícero Programa Saberes – Senador Pompeu/CE 22 O que é cultura para você? No meu olhar a cultura é toda forma de expressão de um povo, a língua, as idéias, as crenças, os costumes, os códigos, as instituições, as ferramentas, a arte, a religião, a ciência, enfim, todas as esferas da atividade humana. Essa cultura também pode ser pensada como a identidade desse povo e sob esse olhar ela é plural. Lucinda Consciência, Cor e Arte - A África Está em Nós – Santa Cruz da Baixa Verde/PE “Não é possível qualidade de vida plena com mediocridade cultural, intolerância, incitamento à violência sexual e ao alcoolismo! Escrevendo essas linhas, recordo de minha infância em Serra Talhada, ouvindo o mestre Moacir Santos e meu querido tio Edésio em seus encontros musicais, cada um com o seu sax em verdadeiros diálogos poéticos! Hoje são estrelas no céu de Pajeú das Flores! Eu quero o meu sertão de volta!” * Anselmo Alves é jornalista, cineasta, sertanejo de Serra Talhada/PE, com larga compreensão do Nordeste. Edivânia Valorização da Cultura Popular Sertaneja – Valente/BA Eu procuro entender a cultura como algo capaz de transformar a atuação, a percepção do indivíduo no tempo e no espaço, eu entendo que não da pra definir cultura como costume simplesmente. (...) sei que é muito complexo o assunto e remete a um bom debate (...). Cultura é o que define a humanidade. São as ações humanas, vivenciadas e ‘horizontalizadas’ em cada ambiente, protagonizadas por todos, mas acima de tudo respeitadas quanto à sua origem e poder de repercussão. Ana Lúcia Auricchio Casa da Ecologia: Ponto de Cultura Ambiental – Arujá/SP Cultura verdadeira é aquela que herdamos. Nossos pais, avós, bisavós ou adquirimos dentro de uma comunidade, e até mesmo repassado por outras pessoas. Não basta só herdar, temos que cultivá-la também. A cultura popular para mim é um ótimo exemplo de cultura, e o nosso imenso Brasil está repleto dessas culturas. Marcio Fernandes Projeto Arte na Praça – Guaraciaba do Norte/CE Marcos Antonio Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN A cultura é líquida. Francisco Cinema de Animação: Mercado de Inclusão do Terceiro Milênio – Fortaleza/CE 23 O que é cultura para você? Não precisamos de muito conhecimento para se chegar em um jardim bem cuidado, precisa-se primeiro plantar as sementes, aguar, podar, ter uma certa dedicação para se chegar num belo jardim, pois se não cuidar morre e isso pode ser um trabalho em conjunto, que passa de geração para geração. Katja Grupo de Tradições Folclóricas Samba de Matuto Leão da Primavera – Maceió/AL Cultura é uma maneira de criar e construir os objetos da vida. Cultura que vão e voltam em cada passar de ano. Isso é cultura. Daiane Fausto Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE Acredito que quando converso com eles/as (alunos) sobre as manifestações como expressão de quem somos, não apenas estou conceituando do ponto de sentir, pensar e agir, mais vivenciando a experiência cultural que dialoga com os tantos saberes com os quais não nos damos conta que temos. Que uma ação que propõe o passado como referência através das tradições e do patrimônio material, pode estar sendo ressignificada a partir de um novo olhar e das atitudes diante do diferente que parece contrário aos valores que se defendem, do que parece exótico e do que imprime desigualdades entre as pessoas. Esculpir o tempo, como Tarkovski, viver a arte, arte e vida. João Simão, Escola Pernambucana de Circo - Trupe Circus Protagonizando o Espetáculo da Vida – Recife/PE (...) acredito que Cultura é o modo de ser de um povo. É aquilo em que vivem ‘com-unidade’. Que Cultura está em todas as ações, que Cultura é a maneira de viver naquele espaço geográfico, portanto não é possível importar cultura. José Nilo, Associação Carnaubeira de Arte-Educação – Limoeiro do Norte/CE Hoje entendo muito bem porque minha avó nunca quis sair de lá, mesmo quando estava doente. Vivia humildemente, mas com verdade, com naturalidade, pisando na terra, fumando seu cachimbo, abençoando as centenas de afilhados, se balançando na cadeira na calçada em frente de casa. Sempre que a gente tomava a benção a ela, ela dizia: “Deus te dê Fortuna!” E temos recebido realmente muita Fortuna ao longo dessa vida. Ela se foi tendo o maior sonho da vida dela realizado: ver o filho vencedor nesse mundo de tantas contradições. Luciana Rabelo Ventilador Cultural – Recife/PE Darcy Interação indio-estudantes de escolas de Maringá-Paraná Maringá/PR A meu ver, a cultura é o ser e o estar dos povos, das comunidades, dos coletivos. Janaina No Campo da Cultura – Teatro e Literatura na Cultura Camponesa Porto Alegre/ RS Queiramos ou não, tudo que influencia nosso comportamento é cultura, somos em nosso corpo, o reflexo do espelho da verdade, daquilo que aceitamos como certo culturalmente para nossa vida. Nosso modo de vestir, de nos alimentar, de nos movimentar. Muitas e muitas vezes sabemos que o que fazemos é errado, enterramos nossos entes queridos e nossos amigos vendo os erros, e continuamos errando... porque continuamos vivendo sem ter a coragem de falar o que é verdadeiro quando o falso nos favorece. Nereuvaldo Projeto Viagem da Leitura – Bituruna/PR 24 O que é cultura para você? Caros leitores amigos Leiam com atenção A história que estou contando Com respeito e emoção Pois são saudades que trago Guardadas no coração Estou escrevendo este livro Com respeito e cuidado Usando o palavreado Da gente do interior Para que o homem letrado Ao ler não vá reparar A nossa linguagem matuta Que a gente aprendeu a falar E tentando resgatar O que já desapareceu Da cidade de Bombinhas Depois que ela cresceu São histórias verdadeiras Da gente do meu lugar Eu escrevo em verso e prosa Para a cultura preservar. ................................... DO LIVRO “RETALHOS DA NOSSA VIDA” Autora: Nadir Tomázia Pinheiro da Silva (publicado em julho de 2007) Essa pequenina e grande poetisa de olhos azuis tão simples assim como é a Sabedoria Popular, guardou na memória o que ela chama de “progresso”, ou seja, o desenvolvimento e a transição do velho “mundo” até o novo município, passando pelas transformações que esse processo acarreta. Para sorte das futuras gerações, ela não sucumbiu à memória e manteve suas origens latentes no coração, traduzindo em poesia as mudanças geradas com o crescimento da, então, Vila de Pescadores, que conheceu muito bem! Essa beleza e criatividade da Literatura Popular do descendente de açoriano, transmitida através de versos como forma de expressar sentimentos, contar algum causo ou falar da Saudade é ainda, felizmente, encontrada em nosso cotidiano. Assim, essa memória viva e ativa, é Nadir Tomázia Pinheiro da Silva, aos 55 anos, que em “Retalhos da Vida”, escreveu fragmentos da história Bombinense, desenhados em verso e prosa. Sendo esta a primeira publicação escrita, rimada e “consertada” por uma nativa, que aos dez anos de idade já não freqüentava a escola para ajudar os pais na lida da roça, é sem dúvida, um marco literário para o município de Bombinhas. Como entusiasta das expressões populares e minha dedicação ao estudo da cultura de base açoriana desde 1995, esta rica literatura fica por mim assinalada com alegria. Rosane, Unindo Gerações - Oficinas de Cidadania, Bombinhas /SC 25 O que é cultura para você? Cultura é pensamento É movimento. É criação, pertencimento. É ser igual na diferença. É unimultiplicidade. Cultura é Campo, é Cidade Cultura é cor e alegria. É o significado. É o amor descontrolado. Cultura é quem fez e o que fiz Cultura é fruto e raiz É passagem, é mensagem É saudade, é memória É cada folha da história cantada da boca pro ouvido Cultura é o que foi vivido Pensando em porque viver Cultura é permanecer É não querer entender É jamais se conformar Cultura é dar água aos brotos Cultivar e ver crescer A esperança de todos Cultura é lutar pelo ninho Pra nunca deixar sozinhos Nossos sonhos passarinhos Cultura é o sentido da vida, aquilo que move o que somos, o que sabemos e o que sentimos, é o exercício da presença no mundo. E o futuro? O nosso vir-a-ser depende do que fizermos aqui e agora com o encontro desses “universos culturais”. Maria Inez Flores Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS Somos toda uma fração de Cultura, reunidos aqui em um Todo “Multi”, que é o que representa no que é dito, lido, escutado, sentido e enxergado, a minha visão e o que defino como CULTURA e que quero compartilhar com todos! Tadeu FUMPROARTE – Porto Alegre/RS (...) quando penso em cultura logo penso na diversidade, nas inúmeras culturas que nos encantam o Brasil a fora. (...) A palavra cultura ganha mais significado quando a penso no plural, (...) Claudia Feijó Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro / Memorial da Família Remião – Porto Alegre/RS Cultura = Exercício da presença no mundo. Maria Inez Flores Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS Ivan Therra, Jornal O Marisco – Cidreira/RS 26 Olhares para as festas de minha região 27 28 Todas as quatro regionais do Prêmio Cultura Viva - Formação falam sobre as festas juninas, mas é interessante observar que as formas do falar variam de região para região. No Nordeste, por exemplo, os relatos apresentam as festas juninas com muito colorido e vida. No Sul, a festa é analisada em contraponto com a tradição local; na região Sudeste emerge o aspecto econômico e no Centro Oeste e Norte a migração e a influência nordestina são relembradas. Em vários depoimentos outras festas são lembradas e nesse conjunto temos quase que um levantamento do repertório deste grupo... 29 30 Quem fala sobre as festas juninas? Nós nordestinos, mais do que ninguém sabemos o impacto e a importância que essa festa representa para os senhores, senhoras, crianças, jovens... do nosso nordeste como um todo. Entendo que uma das coisas que possibilita é o envolvimento da própria comunidade em realizar a festa: a comunidade organiza a quadrilha, enfeita sua rua, divide a comida de milho com seus vizinhos, vai para fogueira uns dos outros. A interação das pessoas para que a festa permaneça viva, forte, mesmo com toda essa evolução me parece de grande significado, possibilita a união dos povos. Dificilmente a gente vê violência nas festas juninas: entre os participantes então é uma união só. Eu digo isso devido há 11 anos me envolver diretamente nessa manifestação e procuro acompanhar de perto o passo a passo. É importante dizer que uma coisa é a manifestação junina onde toda comunidade se envolve, se integra, se une para realizá-la. Outra coisa são os festivais. Eu entendo que precisa que os quadrilheiros e a própria comunidade discutam melhor os impactos causados por esses festivais organizados pelas prefeituras, que na sua grande maioria visa meramente a politicagem e que vem desfazendo o sentido da cultura junina no nordeste. Marcos Antonio Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN 31 Do ponto de vista estético, a festa possibilita muita animação, diversão, criação. Para os brincantes é um momento mágico e de muita alegria. Dão o melhor de si para fazer mesmo a festa acontecer. Aqui na minha cidade, o pessoal que dança nas quadrilhas começa a ensaiar meses antes. Preparam figurinos, cenários e a história é muitas vezes baseada na história aqui do nosso nordeste. Já trabalharam com vários temas, como: a guerra de Canudos, Lampião e Maria Bonita entre outros. Isso possibilita aos espectadores conhecer um pouco da nossa história. Principalmente os que não tiveram chance de estudar. E a cidade toma outra cara. Fica viva! Antonia Valêsca Cordeiro Escola de Gestão Cultural e Formação de Platéia da Meninada do Sertão – Crato/CE Durante a festa há um grande comércio. A costureira que costura os figurinos das quadrilhas, as vendas de confecção e os vendedores ambulantes. Quem sai ganhando mais são as bandas de fora, que vem cantar. Isso é em todo lugar que as prefeituras pagam: além de serem ruins, não valorizam a cultura local. Do ponto de vista social e político, acredito que o melhor da festa junina é rever os familiares que vem de muito longe. Daiane Fausto Projeto Canoa de Tolda – Brejo Grande/SE Na Ilha de Itaparica as preparações para as festas juninas mobilizam toda a comunidade. E isso era muito mais forte antigamente. Minha avó me conta que na comunidade dela era muito esperada a festa. Todos arrumavam suas casas e preparavam muita comida e licor. Na noite de São João uns visitavam os outros para dançar forró, comer e beber licor. E as visitas de casa em casa iam até o amanhecer, acabando no nascer do sol com muito samba de roda. Antonio Sergio Espaço Cultural Pierre Verger – Salvador/BA 32 Todas as manifestações presentes nas festas juninas expressam um repertório rico em danças, músicas, crendices, costumes, gastronomia, tradições: enfim toda a vida do povo do semi-árido nordestino. O “São João”, como é chamado todo o ciclo junino, é a festa de maior identificação com o povo da região. São as fogueiras acesas, tanto na zona rural como pelas ruas das cidade, onde a vizinhança reunida em torno de uma mesa repleta de comidas típicas, contam “causos”, acompanham as crianças na queima de fogos, dançam ao som do triângulo, sanfona e zabumba e bebem quentão, licor e cachaça. As festas populares do interior ganharam espaço no calendário turístico e, a partir disso, recebem recursos do estado para sua implementação como evento oficial. O lado bom é que há geração de empregos diretos e indiretos. Artesãos vendem seus produtos, há divulgação dos artistas locais. A cidade melhora sua infra-estrutura, há um incremento no comércio local. O turismo começa a ser visto como uma nova fonte de renda. O ciclo junino tem significativa importância tanto na vida social como política da comunidade, refletindo as interações, as trocas, as fusões, as rupturas e as permanências. Mas há de se pensar em desenvolver ações sustentáveis que estimulem a base social, econômica, ambiental e cultural dando maiores oportunidades aos moradores locais. Lucinda Consciência, Cor e Arte – A África Está em Nós - Santa Cruz da Baixa Verde/PE Nosso município tem como padroeiro São João Batista, portanto, esta festa está diretamente ligada com a história, a religiosidade e a vida de nossa comunidade. Durante anos ao ciclo junino associaram-se as vaquejadas, que servia para promover grandes festas na comunidade. O ciclo junino começa no primeiro dia do mês e se estende até o dia de São Pedro, onde outra festa encerra esse espaço de tempo. Neste período a cidade se renova; pessoas que moram longe retornam para visitar familiares, as bandeirolas enfeitam ruas e as tradicionais fogueiras ainda brilham nas noites de Santo Antônio, São João e São Pedro, aqui no interior. A socialização, o retorno dos filhos que moram fora, a mobilização da comunidade em torno das festas. A igreja, os jovens, as escolas, grande parte da sociedade se mobiliza para organizar a festa. Sendo assim, o povo exercita seu fazer social e seu agir político mesmo sem perceber. Raquel do Nascimento Barbosa Papéis Culturais Alternativos – Pendências/RN 33 As festas juninas proporcionam a mais pura expressão da cultura popular regional nordestina. Toda a região ganha uma cor e uma nova alma, explícita através das diversas formas de expressão do nosso povo, quais sejam: dança (quadrilha junina, dança do coco, dança das fitas etc.), teatro (casamento matuto), crendices populares (simpatias), ornamentação (fogueiras, chitão, bandeirolas e balões) e música (baião, xote, xaxado) e dos diversos ritmos e estilos que compõem a rica cadeia musical nordestina. A realização das festas juninas na minha região, além dos benefícios sócio-culturais, cria uma cadeia produtiva a qual proporciona a geração de trabalho e renda através das atividades de produção e confecção de figurino e adereços dos grupos juninos, contratação dos músicos para os grupos regionais, bem como das atividades de comercialização de artesanato e comidas típicas. Tal atividade proporciona a formação de lideranças junto aos grupos juninos envolvidos no processo de produção das festas juninas. Alem de propiciar a todo o povo um lazer sadio e alternativo. A cidade não pode deixar de fazer sua festa: o Pátio de São Pedro e o Sitio da Trindade são locais que recebem um grande público durante todo o mês junino para shows, concursos de quadrilha, grupos culturais e brincadeiras no parque de diversão, onde se encontram as barracas de comidas típicas que todos fazem questão de saborear e levar para casa. Ao pensar o Recife como uma capital litorânea, acredito que a festa muda a estética da cidade ao criar outros movimentos e sentimentos nas pessoas que aqui permanecem sem ir ao interior ou aos grandes centros de festa como Caruaru/PE e Campina Grande/PB. João Simão Escola Pernambucana de Circo - Trupe Circus protagonizando o espetáculo da vida – Recife/PE Cícero Programa Saberes – Senador Pompeu /CE 34 Possibilita a inserção da comunidade, a participação, (...) proporciona o lazer, a alegria de uma comemoração tão importante, principalmente na ativação da cultura local. Surge um grande impacto para os pequenos comerciantes da própria comunidade, tendo uma renda nessas festas nas quais os mesmos vendem amendoim, licor, pamonha, milho cozido e assado para ganhar o pão de cada dia, sem contar com o lucro da entidade responsável pela festa. É claro que quem vender algo vai contribuir também para garantir seu espaço, dependendo do lugar de acesso. Traz uma excelente contribuição, pois estará beneficiando a comunidade geral e o município. Ambos ganham com essas festas juninas, porque a renda socioeconômica circula ao redor de toda região, pois os convites nessa época não faltam para contar com a presença e a participação das pessoas de cidades vizinhas. Edivânia Valorização da Cultura Popular Sertaneja – Valente/BA A festa de São João faz parte da cultura nordestina e aqui em Pernambuco é uma forte manifestação artístico-social. Não só a música (forró, baião), como a indumentária e as comidas típicas (canjica, milho, pamonha, bolo Souza leão, pé de moleque...) marcam a festa. Em praticamente todos os municípios o São João é comemorado, alguns com mais investimentos e fama (Caruaru, Arcoverde) e outros menos. Costumes como soltar fogos e acender fogueiras estão presentes em todas as localidades pernambucanas na época junina. A quadrilha é uma dança típica bem participativa e animada. Apesar de guardar traços tradicionais da brincadeira, ao longo do tempo vem sendo ‘elitizada’. Hoje em dia é comum a competição de quadrilhas no Recife. Há sim uma forte movimentação econômica nas comunidades, seja pela comercialização de adereços (bandeiras, balões...), roupas ‘matutas’, fogos, madeira, comidas, e nas cidades onde a festa tem mais fama, há ainda a circulação dos turistas. Há oportunidades de lazer, de troca, diálogos, vivências. Além disso, o próprio fato de muitas famílias ganharem uma renda extra interfere positivamente na sociedade. Quanto a uma manifestação artística, possibilita à comunidade o conhecimento das tradições locais e seus processos de criação. Quanto à economia, os festejos juninos proporcionam aos trabalhadores locais e de outras cidades próximas um impacto positivo, uma vez que há um aumento significativo de visitas. Pois a comercialização de produtos locais é mais intensa nesses períodos, assim como outros produtos alimentícios. Do ponto de vista sócio-político, as contribuições são, por exemplo, de maiores trocas de experiências através de contatos informais, além de uma exposição diferenciada da cultura local, passando do “simplesmente ver” para o ver e participar da cultura local. Mas penso que o ideal seria uma política que trouxesse sustentabilidade em outros períodos do ano. Ana Olga Samba de Roda Suerdieck – Cachoeira/BA Luciana Rabelo Ventilador Cultural – Recife/PE 35 As festas juninas, enquanto manifestações culturais, resgatam a vivência de costumes e hábitos caipiras cultivados desde nossos avós e sempre revividos no mês de junho/julho, oportunizando também momentos de recreação e congraçamento. É comum todas as escolas realizarem em suas instituições atividades alusivas às festas juninas, sempre com a participação de pais e comunidade. Do ponto de vista econômico não há nenhum impacto significativo: geralmente as roupas e indumentárias dos participantes são preparadas pela própria família e pela escola. Por ocasião das festas, a comunidade organiza as vendas de comida típica sem fins lucrativos. A contribuição que as festas juninas trazem para a comunidade é altamente significativa, pois a realização das mesmas não está atrelada a geração de recursos, tendo como foco o resgate e valorização da manifestação cultural. Abrese espaço para a interação entre pais, alunos e professores (aqui em nossa cidade as festas são organizadas pelas escolas), num ambiente de muito congraçamento e diversão. Nereuvaldo Projeto Viagem da Leitura – Bituruna/PR Em relação ao ponto de vista estético o São João é a festa tradicional mais bela que nós possuímos, porque todo o Nordeste insiste até hoje em trazer a vida da roça, o jeca, o povo trabalhador... E através dessa insistência vai abrindo possibilidades do povo se mostrar, lembrar da nossa cultura, da vida na roça, dos nossos avós e até mesmo dos nossos pais; poder ver como era alegre aquele povo, como a arte era mais confortável, mais solta, mais dançante, mais cantada. É com tudo isso que eu acho que a festa de São João possibilita as nossas comunidades, revitalizando a nossa cultura local e trazendo nossas alegrias. Ângela Santana Artes Cênicas e Musicais – Simões Filho/BA 36 “Se em 200 anos de história festejaram-se as datas juninas e seus respectivos santos através da particularidade de cada região, incentivar a realização de festas caipiras, fantasiando nossas crianças de forma que ridiculariza o homem do interior, transformando-as em imitações de pequenos Jecas Tatus, é aplaudir um erro de Vargas, que tentou esmagar despoticamente todo legado cultural regional. É lamentável, mas decisões arbitrárias há 75 anos promovem a centralização da cultura nacional, ditando através da mídia o que devemos vestir, comer ou ouvir. Mas como tentar reverter esta situação se continuarmos aprendendo que em festa junina nos fantasiamos de caipiras, na Semana Farroupilha de gaúchos e no Carnaval do que quisermos? Devemos conscientizar as crianças de que a pilcha não é uma fantasia, mas um traje histórico, que representa toda a identidade cultural gaúcha. Respeitar a cultura regional é respeitar a própria origem, as raízes que sustentam toda organização social vigente. Com o coração triste acompanharei mais um ano em que a televisão nos enfiará goela abaixo músicas e roupas ‘caipiras’ em detrimento da cultura regional. Assim fica muito mais fácil vender novelas, músicas e informações. Desta forma, cada vez mais ‘Egüinhas Pocotó’ e ‘Tô Ficando Atoladinha’ farão parte da cultura musical de nossos filhos.” (LEANDRO DE ARAÚJO - Acadêmico de História, declamador, é um dos coordenadores da Confraria de Declamadores do Rio Grande do Sul) A única coisa que direi é que a pilcha hoje, é tão fantasia quanto as roupas das festas caipiras que denotam a simplicidade das pessoas que moram no campo. Para o autor a pilcha denota toda a identidade gaúcha (grande equívoco), mas na minha opinião a festa junina também denota parte da cultura do homem do campo no Brasil. No mais, JUNHO é o mês de comemorar São João, setembro é o mês em que se comemora a GUERRA Farroupilha. Para quem não considera como sendo uma festa típica de sua região, esse é o momento de expandir o horizonte cultural que não deve se limitar apenas aos nossos próprios costumes: é um momento até mesmo de respeito e conhecimento das tradições de outros grupos. Acredito que do ponto de vista econômico, esse tipo de festa movimenta economicamente a comunidade local onde ela acontece, além do que, mesmo que as vestimentas sejam simples - e na maioria das vezes se reaproveite algumas peças do dia-a-dia - outras tantas pessoas procuram o comércio para comprar adereços etc. Acredito que é um bom momento para que as "quituteiras" possam vender sua produção caseira também. Portanto, acredito que existe uma movimentação econômica que em outros momentos não seria possível. Claudia Feijó Museu Comunitário da Lomba do Pinheiro / Memorial da Família Remião – Porto Alegre/RS 37 Em muitos lugares é um momento de mutirão, de trocas, de ajuda mútua. Isso promove integração econômica entre famílias de uma comunidade. Em alguns lugares é o espaço para formar fundos comuns, quando as festas são promovidas para solução de problemas coletivos, como reformas de centros comunitários etc. Em alguns lugares a festa junina tomou conotação comercial. Ela é promovida por grupos empresariais e tem objetivo de dar lucro para estes mesmos grupos. Do ponto de vista social e político, que contribuições esta festa permite? Festa Junina possibilita o encontro de gerações. Quem nunca foi a uma festa junina? Por mais que tenha se modificado ao longo dos anos sua essência é a mesma, a alegria e a diversão. Mesmo os que não curtem tanto sempre dão uma passadinha para comer um delicioso pedaço de bolo de milho. Movimenta ruas inteiras, colégios, paróquias dos bairros. É lindo de se ver! As festas juninas na sua maioria são feitas no processo colaborativo, aquelas feitas nas ruas ou nos sítios. Nas paróquias e colégios também vivem do processo colaborativo, mas o produto final gera renda. O comércio tem um movimento de caixa pequeno. Permite estar perto das pessoas e sabores da terra e das tradições. De cantar e ouvir uma boa música, festejar os santos do mês de junho. E Viva Santo Antônio! Viva São João! e Viva São Pedro. Elaine Caixinhas de Memória – Londrina/PR Este é um ponto importante, pois a integração que a festa propicia é fundamental para o reforço do tecido social em muitos lugares do Brasil, especialmente no interior. Janaina No Campo da Cultura – Teatro e Literatura na Cultura Camponesa – Porto Alegre/RS As festas juninas são alegres e trazem alegria, comidas típicas, músicas e trajes de regiões que fogem dos padrões das grandes cidades como São Paulo e outras. Do ponto de vista econômico, as escolas, igrejas, clubes e outros conseguem arrecadar dinheiro extra para pequenas inovações nas comunidades a que atendem. Do ponto de vista social, é um momento de encontro das comunidades. A festa junina ainda é uma festa tradicional muito comemorada e que não foi esquecida. Roseli Mônaco Brincando na Universidade: LABRIMP e MEB como Espaços de Cultura – São Paulo/SP 38 As Festas Juninas são muito aguardadas por todas as pessoas da nossa comunidade. Há uma celebração da alegria, onde crianças, jovens e adultos se unem num momento de celebração dos seus costumes, onde a alegria, sem dúvida, se faz presente. É uma festa atraente, onde há a valorização dos tocadores; onde a sanfona tem o seu lugar privilegiado e assim, traz à praça toda a comunidade, como também pessoas que morando fora, privilegiam na agenda o retorno ao seu lugar (...) a praça se torna palco das comidas típicas, onde escolas, grupos de jovens, e aquelas pessoas já consagradas pela arte dos pratos tradicionais e especiais têm a oportunidade de angariar um recurso financeiro. Eliete R. de Araújo Casinha de Cultura - Espaço de Celebração do Conhecimento – Coronel Murta/MG Somos de São Paulo e embora aqui ocorram diversas manifestações culturais e cada vez mais as Organizações Sociais, comunidades e grupos da sociedade civil e escolas busquem realizar outras festas, tais como a Congada, o Boi, geralmente o que mais aparece são as festas juninas. Muitas são realizadas com intuito de arrecadar dinheiro através de quermesses. Coleta de prendas, comidas e jogos que envolvem convites a serem vendidos ou divulgação através do boca a boca dos participantes. Pela diversão, a coleta de músicas, as comidas típicas, a maquiagem brejeira e as representações de uma certa cultura que já não encontramos por aqui. Pertinente é falar das músicas, que além da quadrilha contam histórias, relembram amores e nos colocam em contato com as raízes do personagem da casinha branca, do balão que sobe sem provocar danos, da pipoca acompanhada do quentão... Enfim. Reflexos de uma manifestação cultural. Acho que hoje já não está carregada dos simbolismos autênticos da comemoração. Maria Inez Silva Waack Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP As Festas Juninas são realizadas na Grande Vitória e em vários municípios do Estado do Espírito Santo. E para manter a tradição trazida pelos portugueses, e por outros imigrantes europeus de países cristianizados e incorporados aos costumes das populações indígenas e afro-brasileiras, diversas atividades são realizadas para homenagear os três santos católicos: São João, São Pedro e Santo Antônio. A temporada começa em junho e se estende até julho. A festa mais tradicional em nosso município é a de São Pedro, no bairro Praia do Suá Elizete Terezinha, Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES É uma festa que inspira minha comunidade (Complexo da Maré) a estender bandeirinhas, pintar os rostos, fazer quadrilhas. É o momento em que as comidas típicas são procuradas, e o momento que todos se reúnem em uma grande roda, independente de facção ou qualquer fator que os separem em outras épocas. É uma festa que gera pouco impacto econômico (no local onde moro), pois as barraquinhas que são montadas são feitas geralmente pela igreja católica e os produtos são vendidos a preço popular para todos terem acesso. (...) Essa festa permite uma integração social, pois há o encontro de pessoas de locais que têm facções rivais, pessoas de diversas religiões, até mesmo um encontro familiar, entre outros. Josy Cristina Cinemaneiro – Rio de Janeiro/RJ 39 Apesar do Estado de Roraima ser um estado pluricultural sim, pois é um estado jovem criado pela Constituição de 1988 e sua população é formada por brasileiros de todos os cantos, ainda busca uma identidade cultural que traduza esse estado (o que já esta acontecendo). No entanto, por sua população ser formada por uma grande quantidade de nordestinos, a manifestação que mais se destaca é a festa junina, com concursos de quadrilhas, comidas típicas e muito forró, levando à população a possibilidade de conhecer um pouco desta arte. Do ponto de vista econômico possibilita a centenas de famílias uma renda extra durante as festividades, tanto trabalhando durante o evento nas barracas quanto antes, na confecção do figurino, cenários e adereços. A maioria dos grupos que se apresentam no Arraial é formado por pessoas carentes que na sua maioria mora na periferia da capital, portanto, contribuem no fator social,pois possibilitam à esses jovens uma atividade cultural e os tiram da ociosidade. Ao falar no ponto de vista político não me refiro à política de Estado ou de políticos, e sim na possibilidade que as organizações tiveram de se organizar politicamente em uma federação e uma associação,dessa forma ganhando força para buscar a melhoria coletiva. Eder Ponto de Cultura A Bruxa Tá Solta – Boa Vista/RR Foto postada pelo Aurimar Rabecas da Amazônia: Preservação e Ensino – Bragança/PA Aqui em Campo Grande/MS as festas mais características são as das comunidades japonesa, árabe, paraguaia, negra, entre outras, também as festas juninas. Vou falar um pouco do banho do São João, no Rio Paraguai. A festa junina é uma festa brasileira, sem dúvida, todavia em Corumbá/MS acontece algo peculiar. A festa tem no programa as procissões características com muita gente local e turistas que levam os andores, estandartes e mastros com bandeiras dos santos juninos em meio a cânticos, danças e muita guloseima. O momento de culminância acontece quando as pessoas levam o santo até às margens do Rio Paraguai, onde a imagem é banhada em meio a êxtase e catarse coletiva. A título de enriquecimento da discussão, as danças e consequentemente, as festas em que estão inseridas (que faltaram no script) características do Mato Grosso do Sul, especialmente no Pantanal, são as herdadas do velho Mato Grossão: o sirirí e o cururú! Rubens Costa Marques, Projeto de Educação Patrimonial - Campo Grande/MS 40 Centro Oeste, Norte, Sul e Nordeste comentam sobre os festejos do Boi. Seria o mesmo Boi? Vejam a diversidade e a riqueza desse tema: brincadeiras, história e tradição, elementos locais interligando-se com elementos tradicionais... 41 42 Quem fala sobre Boi Bumbá? O Bumba meu Boi, ou Boi Bumbá, é uma das maiores manifestações culturais do Brasil que surgiu com a cultura da criação de gado. Envolve a comunidade e é uma brincadeira que preserva nossa história, a dança, a confecção das fantasias algumas luxuosas, outras mais simples -, mas a alegria é sempre contagiante em nossa região sul do Piauí, mais precisamente a cidade de Oeiras, que foi a primeira capital do Estado do Piauí, de onde partiu a colonização. O Piauí foi o único estado em que a sua colonização começou do interior para o litoral. Tem uma história, que os mais antigos relatam, de um índio que encontrou uma carcaça de boi e colocou uma vara na cabeça da carcaça e chegou brincando na aldeia. Esses índios, que habitavam todo o Piauí, foram dizimados e expulsos; muitos fugiram para o Maranhão. Do ponto de vista econômico, a festa movimenta a economia da confecção das fantasias (...) gerando renda para o artesão e o comércio em geral. A sociedade se envolve com a brincadeira, onde o respeito pelos velhos Mestres vê preservado seus ensinamentos e atrai políticas públicas e educacionais para a comunidade envolvida. Valter dos Santos Comunidade Capoeira – Teresina/PI Na minha região, o Boi é uma manifestação que envolve vários personagens. Cada um dos personagens tem relação com outros brinquedos populares (maracatu rural, bloco rural), e desta forma, do ponto de vista estético, serve para fortalecer e garantir a continuidade da cultura popular, fruto da criatividade dos trabalhadores da cana-de-açúcar e das relações sociais existente na região ao longo dos séculos e décadas, misturando as matrizes indígenas, africana e européia. Do ponto de vista econômico, infelizmente não existe uma renda ou políticas de valorização econômica para o brinquedo, pelo contrário, essas manifestações são apropriadas pelos políticos oportunistas que utilizam a cultura popular para interesses particulares. Nesse ponto é muito interessante a relação que se estabelece entre os brincantes: eles gostam muito de participar e de fazer o brinquedo sair, mesmo com tamanha dificuldade, sem dinheiro algum. Em alguns casos, os políticos partidários se apropriam do momento, dando alguma contribuição em dinheiro para comprar o material que tiver faltando, garantindo a saída do Boi, e em troca do apoio, homenagens ao político “bondoso”. Todos fazem questão de sair e realizar uma bonita apresentação, aumentando a autoestima e a possibilidade de serem visto de forma diferente na sociedade. Sérgio Ricardo Oficinas Ternodamata – Nazaré da Mata/PE 43 O Boizinho, aqui no sul, e especialmente na região praieira, ganha elementos distintos, diversos das demais manifestações no Brasil. Aqui na beira da praia, são agregados ao auto elementos do imaginário popular praieira, como o boto encantado, a sereia e o minhocão. A história base permanece a mesma, porém o ritmo do Boizinho ganha características especiais da musicalidade gaúcha com forte influência dos ritmos africanos, originais da região litorânea do estado. Acreditamos que em pouco tempo poderemos ver nossas comunidades, novamente apropriadas desta manifestação do folclore que já lhe pertencia, mas que o tempo e as imposturas culturais fez serem desusadas. Esta manifestação original da cultura popular praieira gaúcha é demasiado importante, haja vista que carrega em si uma riqueza de informações sobre a construção do pensamento cultural do nosso povo. Contendo os ritmos fortes de origem africana, a história das colonizações e a formação das oligarquias rurais gaúchas, os modos e relacionamentos dos detentores do poder frente as classes menos privilegiadas, as soluções cotidianas que estão encravadas nas nossas culturas, ordenando os saberes e fazeres conforme as vontades e desígnios dos donos do poder e também toda a riqueza iconográfica do imaginário popular das comunidades que vivem na beira do mar dos gaúchos. O auto folclórico do "Boizinho" é uma ópera popular que conta e canta histórias de todas as culturas, revelando toda a riqueza da diversidade cultural produzida pelo povo gaúcho. Penso que esses BOIS inventados e preservados espontaneamente é “coisa” do povo brasileiro. Que para desvendar, teríamos que ter um curso e um encontro presencial de uma semana somente para este assunto. E... penso que não será o suficiente. Mas arrisco provocar os amigos: quem quer discutir este assunto? Rosane Unindo Gerações - Oficinas de Cidadania - Bombinhas/SC Ivan Therra Jornal O Marisco – Cidreira/RS José Carlos SACEM – Semana de Artes e Cultura do Col. Est. Manoel Vilaverde – Inhumas/GO O Boi Bumbá, na minha opinião, é uma festa riquíssima que trabalha com toda uma simbologia e nos remete fortemente à cultura popular. A comunidade sai enriquecida destas experiências na medida em que amplia o contato humano e trabalha valores como solidariedade, respeito às individualidades e senso de coletividade. Na economia, ela impulsiona o turismo onde é realizada e ajuda os membros de uma determinada localidade a mostrarem o que de típico a região produz. Do ponto de vista social, acredito que é um resgate às tradições populares e que se mantêm muito viva principalmente nas regiões norte e nordeste do país. Politicamente está relacionada aos itens citados anteriormente. Uma atividade nunca vêm dissociada da outra. 44 Andei passeando por todas as tradições oferecidas nesta atividade, e confesso que não conhecia o Balaio (...). De fato o Brasil é uma diversidade só e ainda que pesquisando há pelo menos sete anos, sempre me deparo com algo novo, do que é "antigo", ou seja da tradição da cultura brasileira. Devo dizer que escolhi o Boi Bumbá por não ter encontrado outra opção que mais se aproximasse do que é essa cultura no Pará. Não é o Bumbá Boi do Maranhão, que é Nordeste, nem o Boi Bumbá de Parintins, Amazonas. São sotaques diferentes e formas também diferenciadas de manutenção dessas tradições. Hoje vivemos um movimento de retorno, de valorização a essas raízes, mas com um longo caminho a percorrer, para que políticas públicas realmente se estabeleçam, para atender não apenas os grupos folclóricos, mas grupos tradicionais, que estão lá nas suas comunidades ou bairros distantes. O Boi Bumbá do Mestre Alarico, O Boi Malhadinho do Guamá, são bois de bairros distantes, mas muito antigos, porém não são conhecidos muitas vezes nem pelos e pelas paraenses; e sobrevivem simplesmente porque seus "amos" fazem dessa cultura sua razão de viver. Neste sentido, vejo que as festas que já se popularizaram - e que muitas vezes para isso tiveram que abrir mão de sua essência e até de alguns de seus símbolos e/ou rituais mais importantes -, conseguiram movimentar publicidade, adesão e uma economia inquestionavelmente, importantes até para a sobrevivência desses mestres de cultura. A questão é como manter esse mestre na sua comunidade, como manter essa festa viva lá, com seus ritos, símbolos e valores resguardados entre rios e florestas, para que a função educativa, formadora e transformadora da cultura não se transforme apenas em mais um "produto" do turismo cultural, a serviço da chamada indústria cultural, que quase sempre é causa de desagregação, de fragilização de um povo, de perda de identidade e de degradação ambiental. É o que trata também o Edmilson Pereira no seu texto. Mais ou menos por aí... Abraços-bumbás. Déa Peneirando – Belém/PA Com certeza trata-se de um dos grandes patrimônios culturais do país, embora no Amapá a maior expressão seja o Marabaixo, também existem manifestações festivas do Boi. Observando a nossa região e essa festa maravilhosa, do ponto de vista estético, acredito que as diferenças em proporções e grandeza não influenciam a intensidade de orgulho e auto-estima proporcionados a comunidade em seus festejos, ou seja, tanto a festa do Boi de Parintins como em outras comunidades tem para a comunidade local a mesma emoção e orgulho. A diferença se reflete no aspecto econômico, de acordo com a grandeza da exploração e dimensão turística, o volume econômico é maior ou menor, mas sempre existe um benefício. Quanto ao social e político só pode contribuir positivamente ao estabelecer a integração, auto-estima e orgulho de toda a comunidade envolvida. José Roberto Navegar Amazônia –Macapá/AP 45 46 Quem fala sobre Balaio? A Maria Inez fala um pouco sobre essa manifestação tradicional do Sul do Brasil. Sob o ponto de vista estético, possibilita momentos de abertura para o conhecimento de um patrimônio cultural e de fruição. Conforme Duarte Jr. (2004), quando falamos em arte é importante considerar além da criação, também a outra via de acesso à arte que é a fruição. É ela que nos proporciona a experiência estética, a percepção pelos sentidos da ”experiência que temos diante de um quadro, uma música, no cinema, no teatro etc.” (p. 56 do livro de João Francisco Duarte Junior) Configura-se como importante oportunidade para a comunidade vivenciar momentos estéticos e ampliar o universo cultural no sentido de perceber que além dos gostos particulares de cada um, há um contexto maior no qual fazem parte as manifestações tradicionais. A fruição colabora para a tomada de “consciência do valor e da necessidade de preservação dessas manifestações”. (Paulo Garcez) Dá visibilidade para a comunidade que ao realizar a festa é “dada” a conhecer, isto é, ao colocar em evidência a sua manifestação artística, coloca-se também como comunidade presente no mundo. Possibilita um elemento motivador que resulta na auto-estima positiva da comunidade que se vê como protagonista de importantes momentos nos quais a sua cultura está pulsando, está sendo vivenciada, mostrada. Oportuniza a integração, o contato entre as pessoas e desencadeia uma rede de relações culturais e interpessoais que podem reforçar a manutenção do patrimônio cultural. Maria Inez Flores Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR – Santa Rosa/RS 47 48 Quem fala sobre a Congada? A Congada é uma festa típica da região sudeste do Brasil e os participantes da Formação trouxeram suas contribuições sobre o tema. Do ponto de vista estético, o teatro, a dança, a música, os figurinos presentes aí demonstram um cuidado, uma atenção e uma prontidão para com a manifestação, que ultrapassa o caráter religioso (mesmo estando em função dele) e expõe, tanto para os participantes como para os apreciadores, uma cumplicidade do coletivo que transparece no grau de riqueza que é alcançado. A comunidade se organiza em torno da festividade. Se reconhece e se une em torno do fazer artístico. Do ponto de vista social e político a comunidade se organiza para fazer acontecer a festa. Como roupas e instrumentos serão levados, quem fará a comida que será servida aos participantes, onde essa comida será servida e assim por diante. Além disso, a manutenção do folguedo é dada pela oralidade (de pai para filho, neto, sobrinho, amigo), que só funciona e apresenta resultados se houver um envolvimento considerável da comunidade, ou pelo menos dos próprios participantes, incluindo os mais jovens. Marina Abib Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP Aqui no Espírito Santo conhecemos e participamos, desde crianças, dos cortejos das bandas de congo, manifestação típica do Espírito Santo (que são bastante desconhecidas em outros estados e muito diferente do congado mineiro, seja em ritmo, tipo de instrumento, indumentária, mas com alguns traços de semelhanças). Conhecemos bem as repercussões econômicas no Espírito Santo que são bastante significativas e depois podemos detalhar. De uma forma geral, sabemos que o congado expressa tradições profundas da origem afro-brasileira que formou amálgama do que é hoje o povo mineiro. Wander Silva de Oliveira Instrumentarte Capixaba – Serra/ ES 49 A partir da leitura dos textos propostos, comecei a refletir sobre o patrimônio cultural intangível, a importância de sua preservação e como essas manifestações populares, além de serem uma maneira de resistência cultural, são instrumentos de aprendizagem. Bem, então uma história... Trabalho desde 2005 em uma comunidade rural de São João del Rei/MG, distante 40 km do centro da cidade, chamada São Miguel do Cajuru. Bem, após dois anos de trabalho na comunidade me senti a vontade para trabalhar com o grupo de jovens um tema que eu percebia mais delicado para eles, o preconceito racial. No Cajuru, em suas ruas de terra, negros e brancos estão afastados por endereços, sobrenomes e poder econômico. A miscigenação é mínima, apesar de haver uma interação grande entre todos, e o tema não é abordado. Propus aos alunos uma pesquisa dos ancestrais... de todos! E fomos andando até as gerações mais antigas, os bisavôs, tataravôs e, enquanto os alunos brancos traziam orgulhosos histórias européias, os alunos negros não reconheciam as origens africanas. Fomos então falar com as senhoras negras mais antigas da comunidade, em busca de histórias, costumes e cantigas, mas elas não lembravam de nada, ou não queriam falar. O único caminho que encontrei então foi buscar na biblioteca histórias africanas. Lemos essas histórias e começamos a criar cenas a partir deste material. Imaginamos e inventamos no teatro uma história de amor iniciada no continente africano, separada pela escravidão, que atravessava o oceano de canoa (é, no teatro isso é possível) e se reencontrava em um quilombo, referência direta a um local próximo ao Cajuru, que todos sabem que existiu, mas para variar, ninguém tem a informação precisa, nem tem uma história para contar. Assim, fizemos através de livros e da imaginação, uma viagem histórica e cultural a África e ao passado. Viagem esta que foi partilhada com todas as famílias no momento da apresentação no Teatro. Uma viagem na busca deste patrimônio imaterial que está se perdendo, ou que já se perdeu. Juliano Pereira Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG A plástica das congadas com suas indumentárias carregadas de significados, histórias e representatividade permitem à comunidade expressar de forma significativa toda sua ancestralidade, com ritmos próprios que embalam os ritos que caracterizam essa manifestação. Do ponto de vista econômico, a atividade folclórica gera potencialização do turismo, renda, visibilidade à comunidade, ao mesmo tempo em que divulga o potencial cultural da região. Outro aspecto interessante de se destacar é a injeção de auto-estima com os praticantes e o fortalecimento da comunidade em torno de um interesse comum. A sociedade para saber aonde vai deve saber de onde veio e quem é. A valorização das raízes e identidade de um povo e a preservação de suas tradições é essencial para trilhar este caminho. Elaíse Carla Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES A congada é bem cultural brasileiro que se apresenta em algumas regiões do Brasil, em especial podemos citar, Minas Gerais e Espírito Santo. A congada e a "Irmandade do Rosário dos Homens Pretos" são fruto de muita criatividade popular desde o princípio. Essa criatividade não é só de beleza e fé, mas principalmente de necessidade de expressão e sobrevivência da cultura popular. Esse tipo de manifestação geralmente é bancada pela própria comunidade, que em suas organizações elegem um encarregado responsável pela produção e organização da festa. (...) Toda a comunidade participa com: doações de alimentos, dinheiro e mão de obra. Por outro lado temos também o aspecto turístico que atrai vários espectadores que contribuem também para a economia dessas comunidades. A questão política esta implícita na escolha dos Reis do Congo e encarregados das festas que são escolhidos através de eleição. Marcio Bello Tambores do Tocantins – Porto Nacional/TO Do ponto de vista estético, é importante observar a diferença de um grupo para o outro (o canto, a dança, o fardamento e os adereços usados). Do ponto de vista econômico, a comunidade comerciária se prepara com “fome de lobo” na época dos festejos, vendendo salgados e bebidas que durante dois meses inteiros não venderiam. Do ponto de vista social e político, um grande entrosamento e/ou congraçamento de idéias, projetos e outros. Exemplo: por diversos anos a Semana do Folclore (BH/MG) foi programada durante o cortejo após a Missa Conga, onde grande parte dos possíveis participantes e/ou colaboradores estariam presentes. Margarida Cassimiro Gasparino Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio - Belo Horizonte MG 50 Quem fala sobre a Cavalhada? Aqui temos os depoimentos do pessoal do Pará, Distrito Federal e do Rio Grande do Sul. As Cavalhadas acontecem na cidade de Perinópolis que infelizmente só conheci há três anos atrás. Sempre ouvi falar dessa festa, mas nunca tive a oportunidade de conhecer. Somente os comentários de quem vive lá ou mesmo de quem já assistiu.. Josemeire Vieira Coelho Artes Táteis, Brasília/DF Vivi 41 anos em Brasília e só quando cheguei aqui na Paraíba (Campina Grande) é que entendi de verdade PORQUE as pessoas se referem a nossa capital como Ilha da Fantasia. É, determinantemente sem raízes. Agora é que seus filhos estão tendo filhos e iniciando sua própria história. Vânia Rego, Caravanas de Arte-Educação – Santarém/PA Na região da Serra Gaúcha acontecem várias cavalgadas durante o ano. Porém, elas não têm esse cunho folclórico e toda a indumentária linda apresentada no vídeo. As cavalgadas aqui estão mais ligadas às tradições gauchescas. Acontecem em ocasiões ou datas específicas: Semana Farroupilha, em memória a uma figura tradicionalista ou no aniversário de fundação do CTG (Centro de Tradições Gaúchas), em vista da manutenção ou divulgação desta tradição. Osvair Protagonismo Infanto-juvenil da ACPMen – Caxias do Sul/RS 51 O auto popular em que eram rememoradas as lutas entre cristãos e mouros, e justas entre cavalheiros e cavaleiro, não está mais na reminiscência dos participantes da Cavalhada; ou porque esta festa popular já aqui tenha chegado incompleta no enredo do auto, o fato é que sua origem é ignorada. (...) os proprietários de cavalos aproveitam essa oportunidade para exibirem as excelentes qualidades e os bons andares de suas montarias.(...) A cavalhada, aqui em Bragança, apresenta um aspecto garboso, com os cavaleiros ostentando camisas de cores variadas, calças brancas, gorro de tecido branco na cabeça ou chapéus de palha, algumas vezes, cobertos de pano e ornados de flores de papel, azul ou vermelho. Suas montarias, bem tratadas, se apresentam com arreios simples ou bem ajaezados. Olá amigos. Gostaria de falar um pouquinho sobre a Cavalhada, uma manifestação festiva que é realizada há mais de um século na minha Bragança. Antigamente, à véspera do dia de São João ou de São Pedro, à tarde, realizava-se a Cavalhada. Hoje o acontecimento só ocorre no mês de dezembro, acompanhando a Festividade da Marujada de São Benedito de Bragança, festa que ocorre há mais de 200 anos também em Bragança. O Jogo das Argolinhas, do Brasil colônia, admiravelmente descrita por José de Alencar, em "As Minas de Prata"; por Luiz Edmundo em "O Rio de Janeiro ao tempo dos Vice-Reis"; por Manoel Querino, em "A Bahia de outrora" e em outros autores, é praticado em Bragança até o presente, com a denominação de Cavalhada, nome vulgarizado em todo o país. (...) Em veloz arrancada os cavaleiros levando na mão direita uma pequena lança de madeira, porfiam uns após outros, para enfiar e tirar a disputada argolinha, numa demonstração invulgar de agilidade. A argolinha conquistada é oferecida às senhoras e senhoritas, que retribuem essa gentileza amarrando no braço esquerdo do cavaleiro uma vistosa fita, que comprovará as argolinhas obtidas. Assim prossegue o torneio até a última argolinha. É interessante notar-se entre os cavaleiros um palhaço, correndo desengonçado e com trejeitos ridículos, ora sentado de frente na sela, ora de costas, ora tentando tirar uma argolinha ou causando atrapalhação entre os disputantes. É a parte cômica do espetáculo, quero dizer, do jogo.. Findo o torneio os cavaleiros não deixam escapar o ensejo para por em destaque as qualidades de seus cavalos. Estabelecem-se as porfias em marcha baixa, em meia marcha e em marcha alta ou equipado sob a admiração e os aplausos dos circunstantes. Fora muito bom que tivéssemos a Cavalhada como parte deste exercício. Ao menos fez-nos relembrar a graciosidade daquele lindo espetáculo. No entanto, não basta apenas narramos a cavalhada, vale-nos lançar ainda sobre ela um olhar crítico, principalmente que marque algumas negativas influências que aquele jogo tem sofrido. Parece que a Cavalhada tem sido mais apreciada por visitantes, por turistas do que pelos próprios bragantinos. (...) Outro ponto negativo tem sido a forma como algumas pessoas têm visto o jogo, as que possuem mais influência econômica não participam do evento, julgando ser coisa de "pobre", ou como alguns preconceituosos admitem, coisa de "gentinha". Apesar disso a festa está viva! É cultura! Independe do poder econômico e dominativo. Alias, sobre este último aspecto, a realização da cavalhada é algo que por depender deste povo humilde que gosta, que tem suas raízes campesinas profundamente ligadas ao acontecimento, jamais deixaram morrer esse patrimônio, que dá a eles um sentido de pertença da festa. Essas são as minhas singelas contribuições sobre a Cavalhada de Bragança. Aurimar Rabecas da Amazônia: preservação e ensino - Bragança/PA 52 Como podemos criar identidades num lugar sem raiz? O que são as nossas raízes? Como podemos atuar quando uma comunidade não olha para a sua história ou não a vê como importante? Vamos pensar nisso? Ampliando possibilidades Existem manifestações folclóricas no Brasil quase desconhecidas fora de determinada região ou mesmo fora de determinados estados. É o caso dos PÁSSAROS, manifestação registrada apenas no Pará e que, algumas vezes, usam outros animais da floresta como símbolo. São grupos de teatro dramático-burlesco-popular e teatro de revista cujo tema remete sempre à proteção do animal e da mata. Fidalgos são os personagens que, com armas de fogo, tentam matar o animal. Os personagens índios cumprem a tarefa de evitar a morte do animal de estimação da princesa. Quando ocorre a morte do animal ele é salvo pelo príncipe ou por uma fada. Em Belém, os grupos começaram a ser formados na primeira metade do século XX dentre os quais: o "Tem-tem", o "Rouxinol", o "Beija-flor", o "Tucano", o "Caboclo Lino Pardo", o "Bem-Te-Vi", o "Arara". Dentre tantas manifestações típicas do folclore paraense, o CARIMBÓ também encontra-se em processo de instituição como patrimônio imaterial do Brasil. A DANÇA DO CARIMBÓ é a mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense. Criada pelos índios Tupinambá que, segundo os historiadores eram dotados de um senso artístico invulgar, chegando a ser considerados nas tribos como verdadeiros semi-deuses. Inicialmente, a Dança do Carimbó era apresentada num andamento monótono, como acontece com a grande maioria das danças indígenas. Quando os africanos tomaram contato com essa manifestação começaram a introduzir um andamento vibrante como uma espécie de variante do batuque africano. O ritmo contagiava também os portugueses que, excepcionalmente, participavam da manifestação, acrescentando traços da expressão corporal característicos das danças portuguesas. Não é à toa que a Dança do Carimbó apresenta, em certas passagens, alguns movimentos das danças folclóricas lusitanas, como os dedos castanholando na marcação certa do ritmo agitado e absorvente. A DANÇA DO SIRIÁ: A mais famosa dança folclórica do município de Cametá é uma das manifestações coreográficas mais belas do Pará. Do ponto de vista musical é uma variante do batuque africano, com alterações sofridas através dos tempos, que a enriqueceram de maneira extraordinária. Contam os estudiosos, que os negros escravizados iam para o trabalho na lavoura quase sem alimento. Só tinham descanso no final da tarde, quando podiam caçar e pescar. Como a escuridão dificultava a caça na floresta, iam para as praias tentar capturar alguns peixes. Contudo, a quantidade não era suficiente para saciar-lhes a fome. Certa tarde, como se fora um verdadeiro milagre, surgiram na praia centenas de siris que se deixavam pescar com a maior facilidade, saciando a fome de todos. Como esse fato passou a se repetir todas as tardes, os negros tiveram a idéia de criar uma dança em homenagem ao fato extraordinário. Já que chamavam “cafezá” para plantação de café, “arrozá” para plantação de arroz, “canaviá” para a plantação de cana, passaram a chamar de “síria” para o local onde todas as tardes encontravam os siris com que preparavam seu alimento diário. Heliana Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA 53 Ampliando possibilidades Permitam-me entrar na conversa novamente. Na verdade quando se vê um grupo folclórico dançando o Carimbó e um grupo tradicional, há uma diferença significativa. Os povos tradicionais trazem bem presentes a matriz indígena nos pés e a matriz africana nos quadris; e no batuque também, de uma forma muito natural, sem exageros nos movimentos, o que se vê nos espetáculos produzidos pelos grupos folclóricos. Embora ajam leituras e releituras, uma dança que lembra bem mais essa relação com a dança cigana é o Lundu do Marajó, embora com alguns elementos perdidos da dança tradicional. No oeste do Pará, por exemplo, região de Santarém, vi um jeito totalmente diferente do Marajó de dançar o Lundu, com uma matriz bem mais ancestral, que por sua vez tem toda uma relação com o Retumbão da tradição da Marujada do Nordeste paraense. Vale lembrar que no Norte do Brasil foi o único local onde o Lundu sobreviveu também como dança, além da música. Pelo menos foi o que pude ver e vivenciar até agora. Déa Peneirando – Belém/PA Concordo com a resposta da Dea, o grande desafio desses rituais é como podemos apoiá-los sem que eles virem um mero "produto". As manifestações culturais têm muito mais poder e sentido do que apenas o momento do "show". Elas dizem respeito também a um modo de vida e a produção de sentido para a vida... os mestres é quem sabe disso com mais propriedade... Do ponto de vista estético e social, acho que essas manifestações são possibilidades de "empoderamento" comunitário, de valorização do que há para ser mostrado enquanto cultura e modo de vida. Boaventura de Sousa Santos fala que temos que trabalhar com a possibilidade de fazer emergir grupos sociais e iniciativas que ficam a margem do universo de relações políticas e sociais. A grande questão é que devemos valorizar o saber dessas iniciativas, não somente como uma "manifestação folclórica". Mas como atores sociais cujo potencial de transformação do mundo é grande e é real. O diálogo de saberes, nesse sentido, é essencial e ele precisa ser exercitado para encontrarmos o caminho... Juliana Noleto Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF Pirapora do Bom Jesus é uma cidade eminentemente religiosa. São 70 romarias organizadas que atraem anualmente milhares de pessoas levadas pela fé e devoção ao Padroeiro, o Senhor Bom Jesus. A própria história do município está ligada à imagens de santos. A do Bom Jesus foi encontrada às margens do rio Tietê, que corta a cidade, e esse fato unido ao primeiro milagre deu origem ao município. As imagens sacras fazem parte do perfil da cidade e sua comercialização é uma importante fonte de renda. O projeto tem o objetivo de perpetuar esse segmento de artes em todas suas manifestações e estilos e ensinar uma verdadeira profissão aos jovens carentes, garantindo fonte de renda digna, abastecer o comércio local. As peças são produzidas uma a uma e são exclusivas. O baile de fandango, como é tradicionalmente conhecido pelo caiçara, integra o mutirão que normalmente acontece quando uma família precisar fazer uma roça de mandioca. Citando um exemplo, no mês de junho acontece o baile de fandango na comunidade de Cachoeira do Guilherme e Grajaúna, ambas na Juréia, e a meia noite tem o momento de passar a fogueira descalço. O baile dá uma pausa e todos vão para perto da fogueira ver quem tem coragem de passar descalço sobre as brasas. Quem consegue saí dela com a confiança de ser agraciado durante o ano! Depois, segue o baile animado até o amanhecer!!! O fandango, além de reunir as pessoas para realizar uma atividade prática e social, também serve de escola para transmitir os conhecimentos tradicionais dos mais idosos para os jovens. Cida Marques Escola de Artes Sacras e Ofícios – Barueri/SP Paulo César Grupo de Fandango da Juréia – Iguape/SP 54 A cultura transforma? Algumas poucas pessoas, em alguns poucos lugares, fazendo algumas poucas coisas, podem mudar o mundo. (Grafite anônimo no Muro de Berlim) 55 Cultura popular e mobilização Para que essa mobilização seja transformadora é necessário ir além. Mais do que motivados (as) e/ou mobilizados (as) é necessário empreender uma jornada visceral para transformar nossas realidades, primeiramente pessoais, individuais, para ter literalmente pernas, braços e mãos para chegar na comunidade local, nacional e planetária. Déa Melo Peneirando – Belém/PA Mobilizamos através das nossas ações como rodas de teatro, cinema livre, rodas de leituras, poesias, oficinas, eventos. Sempre abrindo o diálogo com a comunidade, escolas e pais dos participantes das oficinas, formando parcerias com outros artistas da comunidade, onde a gente abre nosso espaço físico e equipamentos para que os mesmos possam desenvolver sua atividade cultural e, em contrapartida, eles se apresentam nos eventos que realizamos. Marcos Antonio da Silva Ode aos Mestres e Griôs – Santa Cruz/RN Coletivo: visão do trabalho em conjunto, da união As danças circulares como principal ferramenta de trabalho, para levar essa compreensão para além do mental, da lógica, da razão; incluindo o corpo, a espiritualidade, os sentimentos e o imaginário pessoal e coletivo; pois quando estou na roda dançando, estou comigo mesma, ativando e revelando meus potenciais e valores ao mesmo tempo em que estou com o outro (a), de mãos dadas colaborando também com o grupo. Déa Melo Peneirando – Belém/PA 56 Identidade É um processo de construção da identidade étnica nas escolas e nas comunidades rurais. Maria Fulgência PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA A partir do início deste projeto, a iniciativa cultural chamou a atenção de dezenas de mulheres que passaram a perceber a importância cultural e econômica desta atividade para a sua vida, viram ali a possibilidade de mudar a sua história ou torná-la ainda mais bonita. Notaram então que aquilo que a natureza ofertara gratuitamente poderia lhes dar mais qualidade de vida. Não somente pelo valor em dinheiro, mas por todo o valor agregado ao seu trabalho, sobretudo o valor cultural que lhes identifica. Hoje, nos orgulhamos pela autoestima das artesãs e de suas famílias envolvidas, bem como de todos aqueles que, mesmo indiretamente, são beneficiados pela atividade. Aritapera é uma comunidade que tem identidade cultural! Rúbia Almeida Cuias de Santarém – Santarém/PA 57 Agentes propagadores do saber e da tradição O nosso fazer se pauta na ‘vivência’ como possibilidade de nos apropriar da nossa identidade de povo brasileiro (...). O RESPEITO é defendido como possibilidade de convívio, um caminho capaz de nos conduzir a um outro mundo possível. Acesso Emicléia Pinheiro Pluralidade Cultural e Educação – Goiás/GO A iniciativa cultural do Cultura Viva, Timbira, mobiliza e transforma a vida desses indígenas na medida em que os fortalece enquanto populações diferenciadas, porque valoriza, dignifica sua condição de indígena e forma pesquisadores, empodera. Além disso, aos jovens é uma possibilidade de não se ‘perderem’ no universo da sociedade envolvente. Juliana Noleto Arquivo Musical Timbira – Brasília/DF Protagonismo Interação A produção de conhecimentos sobre o ser brasileiro poderá constituir-se uma das maiores contribuições de projetos político-pedagógicos de todas as áreas de conhecimento na transferência de resultados para a sociedade. Heliana Baia Luamim: peças interventivas na realidade – Belém/PA É um projeto que ensina um pouco da arte para crianças e desperta nelas o desejo por coisas novas. É importante porque até então só tínhamos noção do que era uma peça de teatral através de anúncios de TV. (Aline Rios, 28 anos, mãe de uma aluna da Comunidade Tejuco) Juliano Pereira Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG 58 Juliano Pereira Projeto Arte por Toda Parte – São João Del Rei/MG (...) apropriação didático-pedagógica de expressões culturais como: Capoeira, Maculelê, Samba de roda, Dança afro e Projetos de intervenção para a Cultura da Paz Capoeira, tais como: Em-Papoeira – Fórum permanente de avaliação da capoeira, Intercâmbio Cultural Rodas Populares, Quinta Xirê e Encontro Xirê nas Escolas. Maria Fulgência PROCURO - Projeto Cultural do Rosário – Feira de Santana/BA Reflexões Ponto de encontro Estudo Apoiar, incentivar e resgatar. Cícero Leonardo de Oliveira Programa Saberes – Senador Pompeu/CE Ponto de partida para festas Trouxe de volta os derradeiros artesãos tradicionais. Daiane Fausto Canoa de Tolda - Brejo Grande/SE “Um número significativo de egressos de nossa instituição já sobreviveu uma fase de sua vida de ofícios que aprenderam aqui. Por outro lado, ao resgatar a auto-estima através das atividades de valorização dos talentos pessoais, muitas pessoas levaram para a sua vida”. Lugar de discussões Rituais Incentivo para criação de outros locais É um projeto que não ensina só teatro e sim a conviver com as pessoas. (Emerson Souza, 11 anos, aluno da Comunidade Senhor dos Montes) Osvair Morgan Protagonismo Infanto-juvenil da ACPMen – Caxias do Sul/RS 59 Troca, diálogo, comunhão, expressão, compartilhamento (...) trazendo a elas autonomia, daí o povo começa a se mobilizar, porque passa a confiar em si próprio, começa a perceber que a cultura os enriquece de alguma forma e que através dela podemos mudar o nosso Nordeste. Produzir cultura Um lugar Ângela Santana Artes Cênicas e Musicais – Simões Filho/BA Despertar Formação Capacitação para serem promotores de leitura. Elizete Caser Rocha Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES Exercitar a ‘consciência patrimonial, ambiental e de preservação’ através de programas educativos. Rosa Gonçalves Pró-Arte – São Raimundo Nonato/PI Crescimento e desenvolvimento Perpetuar Reconhecimento 60 Lugares Para crianças De conexão De encontro da comunidade Desenvolve a imaginação e criatividade das crianças e adolescentes por meio do ouvir histórias, realizando oficinas de dramatização, desenho, dobraduras, dedoches etc. No dia 1º de maio, parte dos componentes se reúne em nossa sede para iniciar a nossa festividade, rezando um terço dedicado aos antepassados. Após este, há a saída do Boi da Manta (Bumba-meu-Boi) que tem a responsabilidade de convidar toda a vizinhança do bairro e circunvizinhos para as festividades em comemoração da Abolição da Escravatura e colher donativos. Esta andança ocorrerá todos os dias, isto é, noites, sendo que no segundo dia até a véspera do Hasteamento da Bandeira dos Santos Padroeiros; o Boi da Manta sai antes da realização do terço, onde cada dia é de responsabilidade de um Rei/Rainha e/ou simpatizante devoto. Já nesses momentos temos pouca participação da comunidade, isto é, para rezar, pois grande parte estará acompanhando o Boi pelas ruas. Neste período, muitos levam cartazes para colar em escolas, bares e outros estabelecimentos. Elizete Caser Rocha Projeto Viagem pela Literatura – Vitória/ES Margarida Gasparino Guarda de Moçambique e Congo 13 de Maio – Belo Horizonte/MG As pessoas traziam no brilho dos seus olhos toda a dor de suas gargantas trancadas. Era preciso fazer alguma coisa, e resolvemos criar uma ferramenta de comunicação comunitária. Somente após algum tempo é que as comunidades se deram conta que podiam falar, reclamar, reivindicar, e virar notícia no jornal. Ivan Therra Jornal O Marisco – Cidreira/RS 61 Transformação é criação e arte. Darcy Dias Interação indio-estudantes de escolas de Maringá-Paraná Maringá/PR Nos utilizamos do instrumento rádio, que é dinâmico e capaz de cativar, comunicar e congregar. Elaíse Soneguetti Projeto Rádio Instrumental Educativa CBM – Serra/ES Uma ferramenta Inclusão Ver quem mora no campo, quem é responsável por produzir nosso alimento, também se convencer de que é capaz de nos alimentar o espírito, é maravilhoso. Janaina Strunzak, No campo da cultura – Teatro e Literatura na Cultura Camponesa Porto Alegre/RS 62 Construir junto Instrumentalizar Divulgar aos educadores a diversidade da cultura brasileira, tem como objetivo preparar esses profissionais para o uso dessas manifestações artísticas. Marina Abib Teatro Escola Brincante – São Paulo/SP Falar sobre mobilização comunitária através do Religare, ou transformação local é complexo. Quando iniciamos as atividades na Barra Funda em SP, fomos vistos logo como o local que trabalhava com meninos que saíram da Febem... Nada mais do que o estigma embora o galpão estivesse lindo, cheio de cores, aberto para o público... Foi preciso muita interação com a vizinhança para quebrar preconceitos e através de parcerias com outras organizações de conhecimento de cada um dos envolvidos na gestão da Organização, fomos trazendo cada vez mais atividades de fora para dentro e, dentro, cada vez mais a possibilidade de mostrar o trabalho realizado. Estamos hoje no terceiro imóvel locado, mantido pela Fundação Marrie Spears, que é nossa parceira desde o inicio. Nesse espaço foi possível montar um teatro enfim. Uma sala de aulas e atividades gerais, a biblioteca , o trabalho com a videoteca e a administração, onde também acontece o espaço de criação gráfica e tudo o que é postado no site (www.religare.org.br). Já não são mais os egressos da atual Fundação Casa, embora tenhamos recebido do sistema judiciário o primeiro adolescente a cumprir medida socioeducativa com arte e cultura em São Paulo. As aulas de trabalho corporal, os grupos de estudo, os ensaios do teatro (estamos em cartaz com o “Lupanar dos Anjos”, uma montagem de poemas de Augusto dos Anjos, por sinal maravilhoso). Os vídeos postados no youtube mostram um pouco das produções realizadas com todos os jovens que hoje freqüentam o espaço. Os depoimentos registrados no site são comoventes, verídicos e difíceis de serem reproduzidos aqui. A comunidade assiste e participa dos eventos com periodicidade. Maria Inez Waack Ponto de Cultura do Religare - Artes aos Quatro Ventos – São Paulo/SP 63 Referência “Nossa proposta dialoga com as ruas e retira as crianças desse universo e o mais interessante, de forma natural. Os filhos de algumas famílias desses cortiços passam o dia nas dependências do projeto mesmo fora do horário de atividades, basta haver alguma atividade extra. Assim, o ambiente familiar que é inerente às tradições é mantido e as crianças podem ter acesso a realidades sociais diferenciadas”. Rodrigo Bruno Casa Mestre Ananias - Centro paulistano de capoeira e tradições baianas – São Paulo/SP A instituição serve como referência pública à prática de pesquisa e iniciação científica sobre o universo hip hop e temáticas afins, disponibilizando um acervo e banco de dados para tais com livros, pesquisas acadêmicas, periódicos, vídeos, fotos, música etc. Dilma de Andrade Centro Integrado de Estudos do Movimento Hip Hop (CIEMh²) – Macaé/RJ 64 A Comunidade Virtual Ponto de Encontro Prêmio Cultura Viva 65 66 Em novembro de 2008 iniciou-se o projeto Prêmio Cultura Viva - Formação e uma das ferramentas utilizadas para o desenvolvimento das ações foi a Comunidade Virtual Ponto de Encontro – Prêmio Cultura Viva, um espaço para reflexão, discussão, troca de experiências e divulgação das iniciativas. Durante todo o processo da Formação a Comunidade esteve presente. Criou vida quando cada um de vocês propôs uma ideia nova, ilustrou sua iniciativa com uma fotografia, acrescentou um contraponto ao ponto de partida, apresentou com um vídeo o seu dia-a-dia, sinalizou em palavras as suas expectativas, compartilhou com o grupo os seus devaneios; entre tantas outras coisas que não podem ser mensuradas com as palavras. São sementes que começam a brotar. Dentre os Fóruns propostos tivemos: “O que viram?”, sobre o primeiro encontro presencial; “Isso também é da gente!”, sobre as manifestações tradicionais; “Eu, você e todos nós”, sobre o Carnaval; “Gestão”, sobre a gestão de projetos na área da cultura e “Formação”, sobre as diversas formas de aprender e educar. Para ilustrar o que esse processo significou, apresentamos aqui a síntese do Fórum sobre Formação. Primeiramente vocês lerão o texto que abriu o Fórum e, na sequência, o texto construído a partir das mensagens encaminhadas pelos participantes. Boa colheita! A cultura é potente e potência. Não é de um ou de outro, É de todos e para todos. É direito, é suspiro, é oxigênio. Transforma e não permite o silêncio. Mariana Cetra 67 68 Reconhecer-se, descobrir o outro e ser reconhecido Ninguém ensina ninguém Tampouco ninguém aprende sozinho Os homens aprendem em comunhão Mediatizados pelo mundo. (Paulo Freire) Ao propor um processo de formação para os agentes culturais representantes das iniciativas semifinalistas das primeira e segunda edições do Prêmio Cultura Viva e Pontos de Cultura contemplados com o Prêmio Escola Viva, temos como objetivo proporcionar a troca e o fortalecimento das ações desenvolvidas, bem como também possibilitar a composição de redes entre os grupos e instituições participantes. desse processo, pois “(...) é a indagação sobre suas experiências significativas que lhes permite não apenas constituir-se como autores, mas também aprender consigo mesmos e com os outros. Dessa aprendizagem decorre o conhecimento que se encarna na práxis”¹. Tradicionalmente, a formação é entendida como um processo realizado pela transmissão de conhecimentos daqueles que sabem àqueles que se colocam na posição de não saber. Outro modo de realizar a formação é entendê-la como um processo de mudança intencional e partilhada, como desenvolvimento e transformação pessoal num contexto de socialização, como encontro e diálogo entre os vários sujeitos com vistas à construção do sentido de pertencimento a uma determinada rede. A aprendizagem acontece na relação entre as pessoas, tem como foco aquele que aprende e valoriza o compartilhar, a percepção do outro e de si. O aprendizado acontece com o outro, na troca de ideias e na convivência. É um processo ativo e participativo e acontece em vários espaços e de diferentes maneiras. O educador está sempre lá: compartilha, é cúmplice, se coloca no processo também aprendendo. Um educador constrói uma prática dialógica, contribui para o reconhecimento dos saberes e fazeres daquele grupo ou daquelas pessoas, assume criticamente seu trabalho e se coloca junto ao outro. Consideramos que o processo de formação e seu conteúdo devem partir dos sujeitos participantes Nesta segunda etapa do Prêmio Cultura Viva – Formação, propomos dois diferentes espaços de ¹ HERNÁNDEZ, Fernando; SANCHO, Juana María. “A formação a partir da experiência vivida”. In: Revista Pátio. Ano X, nº. 40, nov. 2006/jan.2007. p.10. 69 • Comunidade Virtual • Curso à distância A Comunidade Virtual Ponto de Encontro – Prêmio Cultura Viva, é um convite para a troca de experiências, ideias, propostas, a busca dos iguais e dos diferentes. Você pode ler as mensagens postadas nos fóruns ou em outros espaços, como também postar suas mensagens, seus vídeos, suas fotografias..., pois é um espaço livre para que você se exponha e divulgue as informações que quiser. O curso à distância é outra ferramenta da formação no qual fizemos uma seleção de temas a serem compartilhados por todos: pressupõe a composição de um grupo, coordenado por uma moderadora, e a realização de atividades executadas dentro de um determinado período. Um dos fundamentos do curso consiste em fortalecer as relações de grupo, de maneira a promover a valorização de combinados e produções coletivas dos participantes. Cada atividade está prevista para atender a um objetivo específico: elas foram planejadas e construídas considerando as diferentes formas de aprender. Aprendemos lendo, discutindo, refletindo, trocando, observando, ouvindo, interagindo, avaliando etc. A formação proposta pelo Prêmio Cultura Viva se totaliza com a vivência nos três momentos: encontro nacional em Brasília, curso à distância e encontro regional. O conjunto de atividades propostas busca atender a demanda do grupo e possibilitar espaços de diálogo e trocas, de modo a permitir o reconhecer-se, o descobrir o outro e ser reconhecido. Ana Regina Carrara Izabel Brunzisian 70 Foto enviada por Leide Souza do Ponto de Cultura ABD Antares (Teresina/PI) Fórum Formação Quando caminhamos por uma trilha como essa, nos deparamos com diversos caminhos. Escolher entrar à direita, à esquerda ou ir em frente fará diferença na chegada. O fórum sobre Formação, que se iniciou a partir do texto que vocês acabaram de ler, rendeu boas conversas e questões. Aqui entrelaço as idéias de uma teia que foi construída a 12 mãos: Ana Olga, da Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana (BA); Elizete Caser Rocha, do Projeto Viagem pela Literatura / Prefeitura de Vitória (ES); Inez Waack, do Instituto Religare (SP); Leide Sousa, do Ponto de Cultura ABD Antares (PI); Maria Inez Flores Pedroso, do Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR (RS) e Sérgio Brito, do Espaço Cultural Pierre Verger (BA). Quando pensamos no processo intencional de troca de experiências, ou seja, tendo um interlocutor para traçar as linhas que pretendem a construção do saber, a formação toma forma de mediadora do processo. A interatividade, seja pessoal ou à distância, desenha esse caminho, que é contínuo; gerando assimilação, reflexão e complementação do que foi sugerido. Para Sérgio Brito “todo processo de compartilhamento do saber e multiplicação de idéias pode ser chamado de formação, desde que represente algo para o indivíduo e o faça refletir”. Informação X Formação é o que Leide Souza propõe: “a informação gera formação. Quanto mais informados, mais formados em determinadas áreas seremos. Com a seleção de informação o processo de formação torna-se mais claro e completo. Tudo que fazemos, até mesmo ir a uma esquina, precisa de informação. Claro que uma boa seleção dessa informação torna nosso caminho mais completo.” 71 Em uma sociedade midiatizada e informatizada como a nossa, em que somos bombardeados o tempo todo com informações, precisamos ter em mente que a informação só será transformada em formação, ou em conhecimento, ao passar pelo processo de análise, criticidade e contextualização. Caso contrário, a informação fragmentada pode gerar a ‘ilusão do conhecimento’. Essa reflexão trazida pela Maria Inez é complementada quando ela diz que a palavra formação lembra conhecimento e junto vem a pergunta: o que é conhecimento? Para responder a essa questão, ou melhor, ampliar as possibilidades e abrir mais portas a serem visitadas, Maria Inez prossegue: “Além do ato pelo qual um sujeito cognoscente e um objeto se relacionam, também é o produto resultante dessa relação. No decorrer da história, temos filósofos que deram primazia a um dos dois pólos, ao sujeito, ou ao objeto. Hoje, século XXI, Edgar Morin relaciona a questão do conhecimento aos princípios do conhecimento pertinentes a esse século: o contexto, o global (as relações entre o todo e as partes), o multidimensional e o complexo (tudo está interligado, a unidade esta ligada à multiplicidade).” “O conhecimento é o guia das ações do ser humano, e este é, ao mesmo tempo, biológico, psíquico social, afetivo e racional. É preciso reconhecer esse caráter multidimensional do conhecimento. Penso que, a palavra formação não pode ser separada desses aspectos. Também é preciso lembrar que os dois lados, eu e o outro, o outro e eu, somos formados e formadores; ambos, em sua singularidade, ‘contém de maneira hologrâmica o todo do qual faz parte e que ao mesmo tempo faz parte dele’ (Edgar Morin)”. Como vimos, falamos e ouvimos, a formação pode ser realizada de diversas formas e Elizete nos traz uma reflexão sobre a importância da leitura na formação indivíduo/cidadão: “A leitura enquanto oportunidade de enriquecimento e experiência é primordial à formação do indivíduo e do cidadão. A formação de leitores se configura como imperativo da sociedade atual. Pessoas afeitas à leitura, aptas a penetrar os horizontes veiculados em textos mais críticos, são capazes de melhor desempenho em suas atividades e apresentam melhor aptidão para o enfrentamento de problemas sociais. Nesse contexto, a aprendizagem da leitura está intimamente relacionada ao processo de formação geral de um indivíduo e a sua capacitação para práticas sociais, tais como: a atuação política, econômica e cultural, além do convívio em sociedade, seja na família, nas relações de trabalho, dentre outros espaços ligados à vida do cidadão.” Esse assunto não se esgota aqui. Aliás, qual assunto se esgota quando falamos em descortinar a realidade e reinventar a vida? QUEM FEZ O FÓRUM ACONTECER: Ana Olga, da Associação Cultural do Samba de Roda Dalva Damiana (Cachoeira / BA), Elizete Caser Rocha, do Projeto Viagem pela Literatura / Prefeitura de Vitória (Vitória / ES), Inez Waack, do Instituto Religare (São Paulo / SP), Leide Sousa, do Ponto de Cultura ABD Antares (Teresina / PI), Maria Inez Flores Pedroso, do Grupo de Teatro Estudantil ATIVAR (Santa Rosa / RS), Sérgio Brito, do Espaço Cultural Pierre Verger (Salvador / BA). 72 Formato Tipologia Páginas Tiragem Projeto Gráfico Impressão e acabamento 21 x 29,7 cm BaaBookMk Gapstown AH Myriad Pro 74 350 exemplares CAMARIM – Produção em Multimeios Cópias e Companheiros 73 Coordenação Técnica Patrocínio 74