Stomatos
ISSN: 1519-4442
[email protected]
Universidade Luterana do Brasil
Brasil
Bertani Ottoni, Andréia; Grazziotin Soares, Renata; Duarte Irala, Luis Eduardo; Azevedo Salles,
Alexandre; Limongi, Orlando
Mensuração da tensão superficial de diferentes substâncias utilizadas na terapia endodôntica
Stomatos, vol. 13, núm. 24, janeiro-junho, 2007, pp. 11-20
Universidade Luterana do Brasil
Río Grande do Sul, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=85002403
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Mensuração da tensão superficial de
diferentes substâncias utilizadas na terapia
endodôntica
Andréia Bertani Ottoni
Renata Grazziotin Soares
Luis Eduardo Duarte Irala
Alexandre Azevedo Salles
Orlando Limongi
RESUMO
A proposta deste estudo foi mensurar a tensão superficial de diferentes substâncias
utilizadas na terapia endodôntica através do método da ascensão capilar. Para a realização
deste experimento, foi utilizado um tubo capilar de vidro com diâmetro interno de 0,5 mm e
20 cm de comprimento que propiciava a ascensão dos líquidos após imersão em um volume
fixo das soluções testes. Posteriormente, aspiraram-se tais líquidos, aguardando sua estabilização no interior do capilar, sendo então determinada a coluna líquida do capilar. Como
resultado obtiveram-se as seguintes tensões superficiais, em ordem decrescente: NaOCl 1%
(60,7 dinas/cm), tricresol formalina (27,2 dinas/cm), PMCC (25,5 dinas/cm). Também se
verificou a hipótese de reduzir a tensão superficial em soluções de EDTA, quando da adição
de doses crescentes de detergente, onde se obteve os seguintes resultados: EDTA 17% +
0,1% de tergentol (45,60 dinas/cm), EDTA 17% + 0,5% de tergentol (45,69 dinas/cm), EDTA
17% + 1% de tergentol (28,34 dinas/cm), EDTA 17% + 5% de tergentol (24,58 dinas/cm),
EDTA 17% + 10% de tergentol (17,68 dinas/cm).
Palavras-chave: Tensão superficial. Endodontia. Substâncias químicas.
Measurement the surface tension’s substances used in endodontic
therapy
ABSTRACT
This research purpose measure the surface tension’s substances used in endodontic therapy
by means of creeping. The authors used a tube glass capillary with inside diameter 0,5 millimeter
and length 20 centimeter. The tube propitiate the liquid’s ascension. Liquids were aspirated
and after stabilization into the tube glass capillary was measured the capilar’s liquid column.
Andréia Bertani Ottoni é mestre em Odontopediatria pela Universidade Luterana do Brasil.
Renata Grazziotin Soares é aluna do Curso de Mestrado em Endodontia da Universidade Luterana do Brasil.
Luis Eduardo Duarte Irala é Professor do Curso de Odontologia Universidade Luterana do Brasil.
Alexandre Azevedo Salles é Professor do Curso de Odontologia Universidade Luterana do Brasil.
Orlando Limongi é Professor do Curso de Odontologia Universidade Luterana do Brasil.
Endereço para correspondência: Renata Grazziotin Soares. Rua Pinheiro Machado, 2463/06 – Bairro São
Pelegrino – CEP 95010-002 – Caxias do Sul/RS. E-mail: [email protected]
Stomatos
p.11-20
v.13
n.24
Stomatos,
v.13,
n.24, jan./jun.
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The surface tension’s result were: sodium hypochlorite 1% (60,7 dynes/c), tricresol formalin
(27,2 dynes/c), PMCC (25,5 dynes/c). Besides the authors testify the hypothesis the surface
tension’s reduction of EDTA solutions when increased cleanser’s crescent doses. The findings
were: EDTA 17%+0,1% tergentol (45,60 dynes/c); EDTA 17%+0,5% tergentol (45,69 dynes/
c); EDTA 17%+1% tergentol (28,34 dynes/c); EDTA 17%+5% tergentol (24,58% dynes/c) e
EDTA 17%+10% tergentol (17,68 dynes/c).
Key words: Surface tension. Endodontics. Chemical compounds.
INTRODUÇÃO
Durante o tratamento endodôntico é precípuo que a substância irrigante entre
em íntimo contato com as paredes do canal e adentre o máximo possível nos canalículos
dentinários (ANDERSEN et al., 1992). No tratamento de dentes infectados, a
capacidade de um irrigante endodôntico dissolver tecido necrótico aumenta na medida
em que ele entra em contato com as paredes dentinárias e, consequentemente, com os
tecidos em decomposição (HAND et al., 1978).
A propriedade físico-química responsável pela capacidade de molhamento da
superfície é chamada tensão superficial. A tensão superficial é a força existente entre
as moléculas de uma superfície e a substância que se encontra em contato com esta
superfície, isto é, é o efeito físico-químico que faz com que uma gota de líquido quando
colocada sobre uma superfície, esparrame-se ou fique concentrada em um local. Esta
propriedade está na dependência dos valores de duas forças: a força coesiva (Fc), que
é a força resultante da atração entre duas moléculas pertencentes ao líquido entre si, e
a força adesiva (Fa), sendo resultante das forças que a as moléculas da superfície em
contato exercem sobre o líquido. Através do efeito entre essas forças pode-se entender
por que uma gota de água quando colocada sobre um vidro limpo estende-se sobre
ele. A atração da água pelo vidro (Fa) é maior que a atração que as moléculas de água
exercem entre si (Fc) (GUIMARÃES et al., 1988). Tem-se como padrão de maior e
menor tensão superficial respectivamente a água: 71,9 dinas/cm (MILANO et al.,
1983) e o álcool 70° GL: 27,5 dinas/cm (PÉCORA et al., 1991).
O hipoclorito de sódio e o EDTA (ácido etileno diamino tetracético), utilizados
como substâncias auxiliares na irrigação do canal radicular, necessitam atingir o sistema
de canais e os túbulos dentinários para serem efetivos, assim como os fármacos
utilizados como curativo de demora, tais como o PMCC e o tricresol formalina.
Como os sólidos, no caso as paredes do canal radicular, exercem força de atração
sobre as moléculas dos líquidos, quando essa força é maior do que a tensão superficial dos
líquidos, ocorre o molhamento ou umectação das paredes do canal. Esta interação também
explica a capilaridade, que é o poder de o líquido se elevar em tubos capilares ou entre
duas superfícies próximas entre si. A capilaridade, que é inversamente proporcional à
tensão superficial, traduz o comportamento do líquido em anfractuosidades, reentrâncias
ou ramificações na cavidade pulpar. Estudos in vivo e in vitro mostram que a tensão
superficial das soluções químicas auxiliares determina a profundidade de penetração do
líquido no canal. Portanto, quanto menor a tensão superficial de uma substância, maior
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será a sua capacidade de umectação e penetração, aumentando a efetividade de limpeza
das paredes do canal radicular (LOPES et al., 2004).
Em relação à tensão superficial do hipoclorito de sódio, Guerisoli et al. (1998)
encontraram o valor de 75.0 dinas/cm de tensão superficial para o hipoclorito de sódio
1%. Já Milano et al. (1983), medindo a tensão do hipoclorito1% e 5,25% encontraram,
respectivamente, os valores de 63,5 dinas/cm e 59,7 dinas/cm.
Existem substâncias que, em solução, são capazes de reduzir a tensão superficial
de outras. São os agentes tensoativos, entre os quais se incluem os detergentes e o
hipoclorito de sódio (LOPES et al., 2004).
Giardino et al. (2006) mediram a tensão superficial do hipoclorito de sódio 5,25%
e do EDTA 17%. A água produzida pelo sistema Milli-Q, que foi usada como referência,
o hipoclorito de sódio e o EDTA tiveram a mais alta tensão superficial quando
comparados com as substâncias Tetraclean (detergente) e MTAD (uma mistura de
isômero da tetraciclina, um ácido e um detergente). Os autores concluíram que o MTAD
e o Tetraclean, usados como coadjuvantes aos irrigantes endodônticos, podem aumentar
a intimidade de contato com as paredes dentinárias.
Em relação à capacidade molhante do agente EDTA, Guimarães et al. (1988)
ratificam que tal propriedade pode ser melhorada quando se adiciona um tensoativo à
solução de EDTA.
A solução aquosa de EDTA apresenta uma tensão superficial de 69,25 dinas/cm.
Com a adição de cetavlon ao EDTA, formando o EDTAC, reduz-se a tensão superficial
para 33,92 dinas/cm. De acordo com Paiva, Antoniazzi (1985), a combinação de EDTA
com tergentol, isto é, o EDTAT, reduz a tensão para 31,09 dinas/cm. Guimarães et al.
(1988) comprovaram que a adição de um agente tensoativo reduz a tensão superficial
do EDTA em até 50%.
Ainda, estudando soluções endodônticas quelantes, Zehnder et al. (2005) avaliaram
o efeito de redução da tensão superficial de soluções endodônticas quelantes em relação
a sua capacidade de remover cálcio dos canais radiculares instrumentados. Soluções
aquosas contendo 15,5% de EDTA, 10% de ácido cítrico ou 18% HEBP (1hidroxietilideno-1 1-biofosfonato) foram preparadas com a adição ou não de polisorbato/
propilenoglicol. A tensão superficial dessas soluções foi medida usando o método
Wilhelmy. 64 dentes humanos extraídos foram instrumentados e irrigados com solução
de hipoclorito de sódio 1% e randomicamente designados para receber um toalete final
com 5 ml da solução teste, água ou solução aquosa pura de propilenoglicol/polisorbato.
A incorporação dos agentes de umedecimento (propilenoglicol e polisorbato) resultou
em redução dos valores de tensão superficial em aproximadamente 50% em todas as
soluções testadas. A maioria das soluções com redução de tensão superficial conseguiu
remover mais cálcio dos canais do que sua solução oposta, a pura.
Tasman et al. (2000) também avaliaram a tensão superficial de um agente de
umedecimento, a Cetrexidina, que reduz a tensão superficial na interface de um líquido
e um sólido e, por isso, evita a formação de bolhas. Cetrexidina demonstrou o mais
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baixo valor de tensão superficial, entre as substâncias testadas que foram: o hipoclorito
de sódio 2,5% e 5%, o EDTA, solução salina e água destilada. Os autores explicam
que a Cetrexidina, quando adicionada às soluções endodônticas irrigantes, promove
abaixamento da tensão superficial destas soluções.
Relativamente aos fármacos utilizados na endodontia como curativo de demora,
o PMCC desempenha sua atividade antimicrobiana pelo contato direto do líquido
com os microrganismos ou pela ação dos vapores liberados no ambiente. Além disso,
graças a sua baixa tensão superficial, atua por capilaridade, conseguindo agir a distância
na massa dentinária e ramificações do canal radicular (SIQUEIRA Jr., LOPES, 2004).
Existe uma íntima relação entre a tensão superficial de um anti-séptico e seu
poder antibacteriano. De acordo com Feirer, Leonard (1927), quanto mais baixa é a
tensão superficial, maior é a difusão do medicamento através da membrana das
bactérias, aumentando, conseqüentemente, seu poder bactericida. Nesse aspecto, sob
o ponto de vista de penetrabilidade a qualidade tensoativa é de grande importância.
Um medicamento penetra nos sulcos e reentrâncias se sua tensão superficial for baixa,
pois se for elevada haverá uma tendência a menor interação líquido-superfície,
impedindo o alcance nas regiões mais profundas de uma superfície irregular
(LEONARDO, SILVA, 2005).
No que tange ao tricresol formalina, é um potente agente bactericida e age tanto
por contato como a distância, isto é, por meio de vapores (ELLERBUCH, MURPHY,
1977), além de atuar sobre alguns produtos originados da necrose pulpar, inativando-os.
Dessa forma, o fármaco possui uma tripla ação: antibacteriana, neutralizadora e de fixação
celular. A ação desse medicamento, não é seletiva ao conteúdo dos canais radiculares,
pois a sua baixa tensão superficial permite que o medicamento atue a distância, podendo
atingir os tecidos perirradiculares, causando toxicidade (SIQUEIRA Jr., LOPES, 2004).
Enfim, é importante que o profissional tenha conhecimento dos valores de tensão
superficial das substâncias utilizadas na terapia endodôntica, pois disso depende a
atuação do agente químico dentro dos canais radiculares. Ademais, o estudo desta
característica físico-química pode facilitar o aperfeiçoamento das soluções para uso
na endodontia.
METODOLOGIA
As substâncias cuja tensão superficial foi medida são: a água ultrapura deionizada
(Sistema Milli-Q), álcool 70° (ambas as substâncias serviram como parâmetro de
valores de tensão superficial), hipoclorito de sódio 1%, EDTA 17% e EDTAT (EDTA
+ tergentol), todos os medicamentos provenientes da Farmácia-escola da Universidade
Luterana do Brasil/ULBRA – RS. Além dos fármacos tricresol formalina e PMCC,
fabricados pela SS-White, Rio de Janeiro – RJ, Brasil.
O pH das soluções foi obtido por meio de um peagômetro (Quimis, São Paulo
– SP, Brasil). As medidas de tensão superficial foram realizadas a temperatura
ambiente de 25ºC.
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Um volume fixo da solução teste foi acondicionado dentro de um tubo de ensaio
e, dentro deste, um capilar de 0,5 mm de diâmetro e 20 cm de comprimento foi
mergulhado na solução. O capilar foi imerso em 1 cm da solução teste. O interior do
capilar foi lavado por duas vezes, por aspiração, e deixado descender até o repouso,
estabilizando-se na altura específica de cada líquido. Após estabilização, a coluna
líquida, dentro do capilar, foi determinada com papel milimetrado. O papel milimetrado
era posicionado a 1 mm abaixo da solução teste na porção externa do tubo de ensaio.
Entre cada uma das mensurações, o tubo de ensaio e o capilar eram lavados e
secados em estufa a uma temperatura de 150°.
Para obter os valores de densidade, cada solução teste foi colocada separadamente
em uma proveta volumétrica de 100 ml e pesada em uma balança digital analítica
(Marotec modelo pw, São Paulo SP-Brasil). O valor obtido foi utilizado para a
determinação do valor da densidade.
Os valores da altura da coluna líquida juntamente com o raio do capilar e os
resultados da densidade de cada solução foram utilizados para determinar a tensão da
solução teste.
Para a determinação da tensão superficial do EDTA associado às diferentes
concentrações de tergentol realizou-se, pelo menos, cinco experimentos separadamente.
Os resultados estão expressos como média + – desvio padrão. Utilizou-se o teste
ANOVA para comparar estatisticamente os resultados obtidos, com α = 0,05.
RESULTADOS
Os resultados dos valores de tensão superficial estão expressos nas Tabelas 1 e 2
e Gráfico 1.
TABELA 1 – Valores de tensão superficial de diversas substâncias utilizadas na terapia endodôntica.
Substância
Tensão Superficial
NaOCl 1%
60,75
Água (Sistema Milli-Q)
57,83
EDTA 17%
51,50
Tricresol Formalina
27,17
PMCC
25,50
Álcool 70 GL
19,56
Nota: as mensurações foram realizadas como descrito na seção Materiais e Métodos com, pelo menos, cinco
repetições.
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TABELA 2 – Valores de tensão superficial obtidos pela combinação da solução de EDTA 17% com doses
crescentes de Tergentol.
Substância
Tensão superficial (dinas/cm)
EDTA 17% + 0,1% Tergentol
45,60
EDTA 17% + 0,5% Tergentol
45,69
EDTA 17% + 1% Tergentol
28,34
EDTA 17% + 5% Tergentol
24,58
EDTA 17% + 10% Tergentol
17,68
Nota: as mensurações foram realizadas conforme descrito na seção Materiais e Métodos com, pelo menos,
cinco repetições.
¦ EDTA 17%
GRÁFICO 1 – Valores de tensão superficial obtidos pela combinação da solução de EDTA 17% com doses
crescentes de Tergentol. Grupos com letras diferentes diferem significativamente (p<0,0001). (One way
analysis of variance, ANOVA)
DISCUSSÃO
Muitas substâncias químicas podem ser utilizadas no campo da odontologia,
porém seu emprego e eficácia nas diversas áreas estão ligados às suas propriedades
físico-químicas. Dentre essas propriedades, a tensão superficial é de grande
relevância. No caso da endodontia há necessidade que o líquido irrigante dos canais
radiculares ou medicação intracanal tenha o maior contato possível com as paredes
dentinárias e sistema de canais. Desta forma, é importante mencionar que se depende
da capacidade de molhamento da substância irrigante ou do medicamento, para que
o efeito químico esperado seja atingido.
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No que tange à maneira pela qual mensuramos a tensão superficial das substâncias
preconizadas neste estudo, utilizou-se o método da ascensão capilar preconizado por
Bueno, Degrève (1980), por ser prático e de relativa fidedignidade, como já
demonstrado nos estudos de Pécora et al. (1991).
Conforme Lopes et al. (2004), a tensão superficial é uma propriedade
característica de cada líquido, variando com a temperatura e com o tipo de
superfície contatada. Por exemplo, a água a 20°C possui tensão superficial de
72,75 dinas/cm, quando em contato com o ar e 21,00 dinas/cm, quando em contato
com o óleo de oliva. A solução de hipoclorito de sódio 2,5% a 24°C possui tensão
superficial de 76,00 dinas/cm e a 37°C de 70,30 dinas/cm. Este pesquisa realizou
as medidas de tensão superficial a uma temperatura constante de 25°C, a fim de
eliminar a possibilidade de variação nos valores em função da mudança de
temperatura.
Quanto ao número de repetições em cada averiguação da tensão superficial,
este estudo as fez por cinco vezes, duas a mais que o trabalho de Pécora et al.
(1991).
Assim como Giardino et al. (2004), como parâmetro de substância de alta
tensão superficial utilizou-se a água ultrapura deionizada (57,83 dinas/cm), pois é
um dos líquidos mais puros e sem íons que podemos obter; ao contrário, outros
estudos valeram-se da água destilada para este fim (MILANO et al., 1983;
GUIMARÃES et al., 1988; PÉCORA et al., 1991). Como limiar de menor tensão
superficial adotou-se o álcool 70°GL conforme Pécora et al. (1991) e Pécora et al.
(1998).
Relativamente ao hipoclorito de sódio, optou-se por medi-lo a 1%, por ser a
concentração mais utilizada nas diversas escolas de odontologia e nos consultórios
dentários. A tensão superficial encontrada para o hipoclorito de sódio 1% foi de 60,75
dinas/cm, ficando próximo ao encontrado por Siqueira Jr., Lopes (2004) que mediu
63,5 dinas/cm.
Entretanto parece uma contradição o hipoclorito de sódio ser um fármaco tão
difundido se este tem pouca capacidade de contato com as superfícies, em razão de
sua tensão superficial ser de 60,75 dinas/cm. Porém, é plausível mencionar que o
hipoclorito de sódio ao reagir com as gorduras forma sabões que agem de forma a
melhorar as forças adesivas do fármaco com o meio.
O valor de tensão superficial do EDTA foi de 51,50 dinas/cm, ficando um
pouco discrepante com o resultado de Pécora et al. (1991), que foi de 69,25
dinas/cm.
Dos resultados encontrados pode-se deduzir que o EDTA, assim como o
hipoclorito de sódio, também possui alta tensão superficial. Dessa forma, durante a
irrigação do canal, a manobra de introdução da agulha irrigadora próxima ao
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comprimento de trabalho é fundamental, para que haja penetração da substância por
todo o interior do sistema de canais.
Autores como Guimarães et al. (1988) encontraram um meio de reduzir as
forças coesivas do EDTA, quando adicionaram 0,1% de um detergente chamado
Cetavlon à solução de EDTA, resultando em 33,92 dinas/cm de tensão superficial.
Assim, esse experimento testou a adição do detergente Tergentol nas
concentrações de 0,1%, 0,5%, 1%, 5% e 10%, evidenciando uma redução na tensão
superficial do EDTA melhorando assim sua capacidade de molhamento.
Os resultados deste trabalho mostraram que o PMCC, como medicação
intracanal, tem uma baixa tensão superficial, 25,50 dinas/cm, colocando-o no rol
das substâncias com boa capacidade de molhamento. No entanto, em razão de possuir
uma baixa tensão superficial, cautela deve ser tomada para que o PMCC não atinja
os tecidos periapicais causando toxicidade. Grossman (1963), ao estudar a atividade
residual do clorofenol canforado afirma que ela perdura por até 3 semanas dentro
do canal, mesmo após a remoção do fármaco do canal e a secagem com cone de
papel absorvente.
Com respeito ao tricresol formalina, a tensão superficial atingiu 27,7 dinas/cm,
ficando em desacordo com o trabalho de Pécora et al. (1991), que observou 37,33
dinas/cm. Com nosso resultado, pode-se afirmar que o tricresol formalina tem uma
grande capacidade de molhamento de superfícies. É fundamental, então, que seja
removido o máximo possível do fármaco do penso de algodão, antes de ser deixado
como medicação intra-canal, pois, devido à volatilização da substância, pode atingir
os tecidos periapicais causando irritação.
Enfim, apesar deste trabalho ter aumentado o número de repetições na aferição
da tensão superficial, em relação ao clássico estudo de Pécora et al. (1991) e de seguir
uma metodologia de confiabilidade, faz-se jus que estudos posteriores possam ratificar
estes resultados.
CONCLUSÕES
Diante dos resultados encontrados, pode-se concluir que:
- Em ordem decrescente de tensão superficial tem-se o hipoclorito de sódio
1%, a água ultrapura deionizada, EDTA 17%, tricresol formalina, PMCC e o álcool
70°GL.
- A adição de um detergente ao EDTA tende a diminuir a sua tensão superficial.
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Recebido em: 20/2/2007
20
Aceito em: 27/5/2007
Stomatos, v.13, n.24, jan./jun. 2007
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