Lina Miranda1, Anabela Paiva 2, José Barbosa Vieira 3
1Aluna
do Mestrado em Engenharia Civil, Dept.. Engenharia, Escola de Ciências e Tecnologia da UTAD, [email protected]
2Professora Associada, Dept.. Engenharia, Escola de Ciências e Tecnologia da UTAD, [email protected]
3Professor Auxiliar, Dept.. Engenharia, Escola de Ciências e Tecnologia da UTAD, [email protected]
INTRODUÇÃO
A cal foi utilizada, durante muito tempo, para o revestimento directo das alvenarias, sendo actualmente utilizada
como aditivo na argamassa de cimento, devido à elevada finura dos grãos e consequente capacidade de proporcionar
fluidez, coesão e retenção de água, contribuindo para a melhoria da qualidade das argamassas. Esta confere uma
maior plasticidade às pastas e argamassas, permitindo que elas tenham maiores deformações, sem fissuração, do que
teriam somente com cimento. As argamassas de cimento, contendo cal, retêm mais água de amassadura e assim
permitem uma melhor aderência.
A adição de cal hidratada em argamassas de cimento reduz significativamente o módulo de elasticidade, sem afectar
na mesma proporção a resistência à tracção, que em última análise é a máxima resistência de aderência da argamassa
e, assim, tende a aumentar a vida útil do revestimento. A cal hidráulica proporciona uma boa trabalhabilidade,
aderência às superfícies, um bom acabamento, maior rentabilidade de mão-de-obra, melhorando assim
consideravelmente a qualidade da construção.
Este artigo tem como principal objectivo a comparação entre argamassas de cimento e cal hidratada e argamassas de
cimento e cal hidráulica, quando utilizadas como revestimento.
Esta comparação foi realizada através de ensaios à flexão e à compressão dos dois tipos de argamassas.
Argamassa
DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL
No sentido de analisar o comportamento de argamassas de revestimento de cimento com adição de cal hidráulica
ou de cal hidratada, foi realizado um estudo experimental. Foram realizados ensaios à flexão e à compressão de
provetes de argamassas com as composições apresentadas na Tabela 1.
Para se efectuar uma melhor análise do comportamento destas argamassas elaboraram-se 18 provetes, 6 de
argamassa mista com cal hidráulica, 6 de argamassa mista com cal hidratada e 6 de argamassa de cimento. Para
cada tipo de argamassa foram considerados 2 traços diferentes. Os traços escolhidos são dos mais usuais para cada
tipo de argamassa.
Os ensaios foram elaborados seguindo os critérios da Norma Portuguesa EN 196-1 [5].
Composição
Tipo
Designação
Traço
Constituintes
Argamassa de
Cimento
A1
1:2
Cimento Portland (classe 42,5): areia média
A2
1:3
Cimento Portland (classe 42,5): areia média
1:1:6
Cimento Portland (classe 42,5): cal hidráulica (NH5):
areia média
1:1:7
Cimento Portland (classe 42,5): cal hidráulica (NH5):
areia média
1:1:6
Cimento Portland (classe 42,5): cal hidratada: areia
média
1:1:7
Cimento Portland (classe 42,5): cal hidratada: areia
média
A3
Argamassa com
cal hidráulica
A4
A5
Argamassa com
cal hidratada
A6
Tabela 1 – Composição das argamassas
Ensaios realizados
Tensão de rotura (MPa)
8
Resistência á flexão
Para a realização dos ensaios à flexão a máquina utilizada foi a Seydner mega 10/250/15D. O ensaio à flexão
permite o estudo de materiais com o objectivo de determinar a tensão e flecha de rotura, permitindo também
avaliar outras propriedades mecânicas, como o módulo de elasticidade à flexão. No entanto, de forma a ter em
conta alguma dispersão de resultados, devem-se ensaiar vários provetes de cada tipo de argamassa para assim se
estabelecer um valor médio. Para a determinação da resistência à flexão, foi usado o método de carga concentrada
a meio vão.
Os provetes das seis argamassas foram ensaiados à flexão (Figura ) aos 7 dias e aos 28 dias, obtendo-se os
resultados apresentados na Figura 2.
Tensã o de rotura
a os 7dia s
7
6
Tensã o média de
rotura a os 28
dia s
5
4
3
2
1
0
A1
A2
A3
A4
A5
A6
Argamassa
Figura 1 - Ensaio de flexão
Tensao média de rotura (Mpa)
Resistência à compressão
Figura 2 - Resistência à Flexão
A resistência à compressão pode ser entendida como um esforço axial, distribuído de modo uniforme em toda a
secção, que tende a provocar um encurtamento do corpo submetido a este esforço.
Os provetes utilizados na análise da resistência à compressão (Figura 3) foram todas as metades partidas no
ensaio de flexão. Os ensaios de compressão foram realizados para as seis argamassas aos 7 dias, obtendo-se os
resultados apresentados na Figura 4.
Tensão média
de rotura aos
7 dias
50,0
45,0
40,0
35,0
30,0
25,0
20,0
15,0
10,0
5,0
0,0
Tensão média
de rotura aos
28 dias
A1
A2
A3
A4
A5
A6
Argamassa
CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos nos ensaios laboratoriais, realizados para determinar a resistência à flexão e
compressão aos 7 dias e 28 dias de cura, pode verificar-se que a resistência aumenta com o aumento da cura, ou seja a
resistência é maior aos 28 dias. Pode também concluir-se que quando se aumenta a quantidade de areia a resistência
da argamassa diminui à flexão e à compressão.
Verifica-se ainda que as argamassas mistas com cal possuem idêntica resistência aos 7 dias para o mesmo traço em
volume.
Conclui-se ainda que uma argamassa de cimento apresenta maiores resistências que as argamassas mistas com cal. As
argamassas mistas com cal hidráulica apresentam melhor resistência à compressão do que as com cal hidratada, aos
28 dias de cura.
Verifica-se, ainda que nas argamassas A4 (argamassa com cal hidráulica com o traço 1:1:7), A5 (argamassa com cal
hidratada com o traço 1:1:6) e A6 (argamassa com cal hidráulica com o traço 1:1:7) a resistência diminui para menos
de metade da resistência da argamassa de cimento (A1).
Numa análise global todas as argamassas possuem maior resistência à compressão que à flexão, sendo este aumento
de quase seis vezes mais para a argamassa A1, de cerca de cinco vezes mais para a A2, A3 e A6, e de cerca de quatro
Figura 3 - Ensaio de compressão
Figura 2 - Resistência à Compressão
vezes mais para as argamassas A4 e A5.
Com este estudo pode verificar-se que as argamassas mistas com cal hidráulica possuem uma resistência mais baixa
que as argamassas tradicionais, aos 28dias de cura, apresentando no entanto outras vantagens, tais como o facto de
perderem água lentamente evitando assim as retracções iniciais, terem boa trabalhabilidade e de por serem mais
compactas impedirem as infiltrações.
Concluí-se ainda que as argamassas mistas constituídas por cal hidratada possuem fraca resistência quer à flexão quer
à compressão aos 28 dias. No entanto, dependendo do tipo de utilização, pode ser mais vantajoso o seu uso,
nomeadamente pelo facto de estas argamassas possuírem boa tolerância às variações térmicas e boa trabalhabilidade.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
[1] Branco, J.Paz. Manual do Pedreiro. Lisboa, LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1981.
[2] Bauer, L.A. Falcão. Materiais de Construção 1. s.l., Editora Afiliada, 5ª Edição : 1994.
[3] Espada, J. G. Carvalho. Paredes de Edifícios. Lisboa, LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil, 1975.
[4] Filipa Ezequiel Penas. Argamassas de Cal Hidráulica para Revestimentos de Paredes
https://dspace.ist.utl.pt/bitstream/2295/24056/1/dissertacao.pdf, Outubro de 2009.
[5] Norma Portuguesa EN 196-1. Método de ensaio de cimentos. Setembro de 1996.
[6] Norma Portuguesa NP EN 459-1. Cal de Construção - Parte 2: Métodos de ensaio. 2002.
[7] Veiga, M. Rosário – Argamassas para revestimento de paredes de edifícios antigos. Características e campo de
Mestrado em Engenharia Civil 2009/2010
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
aplicação de algumas formulações correntes. Actas do 3º ENCORE, Encontro sobre Conservação e Reabilitação de
Edifícios. Lisboa, LNEC, Maio de 2003.
[8] Margalha, G.; Veiga, M. R.; Brito, J. – Influência das areias na qualidade de argamassas de cal aérea. In 2º
Congresso Nacional de Argamassas de Construção, APFAC, Lisboa, Novembro de 2007.
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