MAC - Museu de Arte Contemporânea de Niterói Abordagem Educativa MAC como Obra de Arte Material de Apoio Pedagógico - Estratégias Educativas Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Material de Apoio Pedagógico Abordagem Educativa: MAC COMO OBRA DE ARTE Apresentação A abordagem Educativa MAC como Obra de Arte toma a arquitetura do MAC e a poética criativa de Oscar Niemeyer como proposta transdisciplinar que busca enfocar o Museu como objeto de instigações educativas, artisitcas e apreciação estética. O que significa trazer o legado de criação de Niemeyer, artista-arquiteto, idealista – construtor de sonhos de um Brasil mais justo, como abordagem educativa que toma a arquitetura do MAC como campo de aprendizagem. A partir dessas instigações este material inaugura visões ampliadas tanto para a arte como para o entendimento hoje do papel dos centros públicos de cidadania cultural e consciência contemporânea. Nesta proposta de aprendizagem pela arquitetura e arte um foco especial se dá aos saberes com o corpo – caminhante nas práticas de um leitor móvel de intuições ou percepções expandidas, articulando uma sinergia com novos paradigmas do conhecimento para uma iniciação de valores para a arte e a educação. O MAC como obra de arte é uma proposta conceitual que instiga a criação de novos sentidos para um museu: um lugar aberto da criação, como um laboratório de percepções. Programa especial e material de apoio pedagógico enfocando a trajetória do arquiteto e sua poética criativa. Devemos destacar que a obra de Oscar Niemeyer abriu caminhos para a evolução da arquitetura brasileira. O seu processo criativo revela sua habilidade de congregar arte, arquitetura e poesia, promovendo o interrrelacionamento de elementos que fazem com que suas criações mais do que construções arquitetônicas sejam consideradas obras artisticas. É importante destacar que Oscar Niemeyer considera que a vida é mais importante do que a arquitetura, seu posicionamento politico revela sua visão socialista e preocupação com as desigualdades sociais e engajamento na construção de um mundo mais justo. A poética criativa de Oscar Niemeyer materializada no projeto do MAC de Niterói apresenta aos educadores a oportunidade de desenvolver, com seus alunos, projetos que enfoquem as variadas vertentes que congregam a constução da modernidade brasileira. Destacando-se os campos das artes plásticas,da música, da literatura, do esporte e da politica. A partir dessas premissas organizamos esse material que busca contribuir como apoio para o desenvolvimento de propostas pedagógicas e abordagens educativas interdisciplinares abrangendo diversificadas areas de conhecimento. Desejamos que esse encontro pedagógico colabore para uma prática pedagógica compartilhada e inovadora entre o Museu e a Escola. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte II. Sintese da Trajetória Biográfica de Oscar Niemeyer Oscar Niemeyer nasceu no Rio de Janeiro em 15 de Dezembro de 1907. Concluiu o ensino secundário aos 21 anos, mesma idade com que casa com Anita Baldo, filha de imigrantes Italianos da província de Pádua, com quem teve somente uma filha. Após o casamento começa a trabalhar na oficina tipográfica do pai e ingressa na Escola Nacional de Belas Artes, de onde sai formado como engenheiro arquiteto em 1934. Na época passava por dificuldades financeiras, mas mesmo assim decidiu trabalhar sem remuneração no escritório de Lucio Costa e Carlos Leão. Em 1937, o escritório de Lucio Costa e Carlos Leão onde trabalhava é chamado pelo ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema (que anulara o concurso público ganho por Archimedes Memória), para projetar o novo edifício do Ministério da Educação e Saúde no Rio de Janeiro. Este projeto estava inserido no contexto político do Estado Novo, quando Getúlio Vargas, presidente do Brasil, usava a arquitetura e o urbanismo como ferramentas para ilustrar os novos rumos da nação em uma fase intermediária, tentando se transformar de potência agrícola exportadora de café em um país industrializado. Lucio dividiu a autoria do projeto com outros arquitetos: Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos, Jorge Moreira, Carlos Leão e também um dos grandes expoentes mundiais do Movimento Moderno, o arquiteto franco-suíço Le Corbusier. O edifício, terminado em 1943, eleva-se da rua apoiando-se em pilotis: sistema de pilares de concreto que mantém o prédio "suspenso", permitindo o trânsito livre de pedestres por debaixo do mesmo (um espaço público de passagem). O prédio uniu os maiores nomes do modernismo brasileiro, com azulejos de Portinari, esculturas de Alfredo Ceschiatti e jardins de Roberto Burle Marx. Em 1939, Niemeyer viaja com Lucio Costa para projetar o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque. Associa-se ao escritório de Paul Lester Wiener, responsável pelo detalhamento dos interiores e stands de exposição. Em 1940, Niemeyer conheceu Juscelino Kubitschek. Este era na época o prefeito de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, e tinha interesse em desenvolver uma área ao norte da cidade, chamada Pampulha. Chamou Niemeyer para projetar uma série de prédios que seriam conhecidos como conjunto da Pampulha. Este seria o primeiro trabalho individual de Niemeyer, com 33 anos de idade. Prontos em 1943, os prédios renderam muitas críticas e admiração. A Igreja católica negou-se a benzer a Igreja de São Francisco de Assis (Belo Horizonte), em parte por sua forma não ortodoxa, em parte pelo mural moderno pintado por Portinari. No conjunto da Pampulha Niemeyer começa um estilo que irá marcar o seu trabalho quase todo: utiliza-se das propriedades estruturais do concreto armado para dar formas sinuosas aos prédios. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte No início dos anos 40, Niemeyer foi contratado pelo industrial e intelectual Francisco Inácio Peixoto para elaborar dois projetos em Cataguases: uma casa e um colégio. O projeto arquitetônico da residência de Chico Peixoto foi entregue em 1940. Os projetos contaram com jardins de Burle Marx. Como ornamentos para o prédio do colégio, o arquiteto sugeriu a instalação de um painel em mosaicos de Paulo Werneck e de um mural de Cândido Portinari. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista Brasileiro e manifesta seu idealismo politico defendendo um mundo mais justo e igualitário. Durante alguns anos da ditadura militar do Brasil auto-exilou-se na França. Em 1947, seu reconhecimento mundial é atestado: Niemeyer viaja para os Estados Unidos para compor uma equipe de arquitetos renomados que farão o projeto da sede das Nações Unidas em Nova Iorque. No ano anterior havia recebido um convite para lecionar na Universidade de Yale, porém teve seu visto negado devido à sua posição política. Em 1950, o primeiro livro sobre seu trabalho (The Work of Oscar Niemeyer) é publicado nos EUA, por Stamo Papadaki. No Brasil, projeta em São Paulo o Conjunto do Ibirapuera (um parque com pavilhões de exposições em homenagem ao aniversário de 400 anos da cidade) e o COPAN, em 1951 e no ano seguinte constrói sua própria casa no Rio de Janeiro. Esta, chamada a Casa das Canoas, nome da estrada em que se encontra, tornar-se-á muitos anos mais tarde parte da Fundação Oscar Niemeyer. Juscelino Kubitschek, eleito presidente do Brasil em 1956, volta a entrar em contato com Niemeyer. Desta vez tem um projeto político mais ambicioso, e o chama para a direção da Novacap, empresa urbanizadora da nova capital, um projeto para mover a capital nacional para uma região despovoada do centro do país. Por trás da construção de Brasília, uma campanha monumental para construir uma cidade inteira a partir do nada, no centro árido do país, estava a intenção de Kubitschek de alavancar a industria do país, integrar suas áreas distantes, povoar regiões inóspitas e levar o progresso para onde havia somente vaqueiros. Brasília é projetada, construída e inaugurada no intervalo de tempo de um mandato presidencial, 4 anos. Após sua construção, Niemeyer é nomeado coordenador da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. Em 1963 é nomeado membro honorário do Instituto Americano de Arquitetos dos Estados Unidos, no mesmo ano em que ganha um prêmio soviético de paz, o Prêmio Lênin da Paz. Em março o presidente João Goulart, (Jango), que assumira após o presidente eleito Jânio Quadros renunciar, havia sido deposto por um golpe dos militares. Os militares assumem o controle do país que se torna uma ditadura. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Em 1965, duzentos professores, entre eles Niemeyer, pedem demissão da Universidade de Brasília, em protesto contra a política universitária. No mesmo ano viaja para França, para uma exposição sobre sua obra no Museu do Louvre. No ano seguinte, impedido de trabalhar no Brasil, muda-se para Paris. Começa aí uma nova fase de sua vida e obra. Abre um escritório nos Champs-Élysées, e tem clientes em diversos países, em especial na Argélia, onde desenha a Universidade de Constantine e, em 1970, a mesquita de Argel. Na França, cria a sede do Partido Comunista Francês, e na Itália a da Editora Mondadori. Nos anos 80 se distende uma abertura política lenta e gradual. É neste contexto que Niemeyer volta ao seu país. Nesta época Niemeyer fez o Memorial JK (1980), o prédio-sede da Rede Manchete de Televisão (1983), os Sambódromos do Rio de Janeiro (1984) e de São Paulo (1991), o Panteão da Pátria de Brasília (1985) e o Memorial da América Latina (1987), em São Paulo, este último tem uma bela escultura representando uma mão ferida como um Cristo, de cuja chaga na palma sangram a América Latina. Em 1988, foi criada a Fundação Oscar Niemeyer com o objetivo de preservar o seu acervo. Em 1996, já com 89 anos, criou o Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Um museu em um lugar improvável, com uma forma bela e original, uma escultura que se projeta no Mirante de Boa Viagem sob a Baía de Guanabara no Rio de Janeiro. Em 2003, Niemeyer foi escolhido para projetar um anexo provisório na Serpentine Gallery -uma galeria londrina que constrói a cada ano um pavilhão em seu jardim. Niemeyer permanece envolvido em diversos projetos, entre esculturas e reformas ou readaptações de antigas obras. As obras passaram a ser consideradas como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Em 2002 inaugura o Museu Oscar Niemey na cidade de Curitiba no Paraná. Em novembro de 2006, supreende a todos ao casar-se com sua secretária, Vera Lúcia Cabreira, de 60 anos. Em 15 de dezembro de 2006, com quase 50 anos de atraso, foi inaugurado o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, que formam, juntas, o maior centro cultural do Brasil, denominado Complexo Cultural da República, na Esplanada dos Ministérios em Brasília. A inauguração foi programada para coincidir com o aniversario 99 de Oscar Niemeyer. Recentemete, foi inaugurado no dia 15 de dezembro de 2006 o Complexo Cultural da República João Herculino, o maior centro destinado à cultura no Brasil. O Complexo, de 91,8 mil metros quadrados teve um gasto de R$ 110 milhões do Governo do Distrito Federal, conta com o Museu Nacional Honestino Guimarães e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola,Museu Nacional, Complexo Cultural da República, Brasilia, D.F. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Oscar Niemeyer também foi convidado a elaborar o projeto arquitetônico do novo centro administrativo do governo de Minas Gerais. Este centro localiza-se entre a capital mineira e o aeroporto internacional Tancredo Neves (Confins). Mais um projeto ousado que dentre outras edificações no local - prevê uma laje de quase 150 metros apoiada em apenas dois pilares. Fora do Brasil, em 2007, o arquiteto prepara-se para iniciar as obras do seu primeiro projeto na Espanha: um centro cultural com o seu nome, em Avilés, com inauguração prevista para antes de 2010. Em 2007 , Niemeyer completa 100 anos de vida e se mantém lúcido e ativo. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte III. O Princípio de criação na concepção de Oscar Niemeyer “Considero que uma obra de arquitetura, para assumir categoria de obra de arte propriamente dita, precisa, como condição básica, apresentar um conteúdo mínimo de criação, ou seja, uma contribuição pessoal do arquiteto. Sem isso, ela se limita a uma repetição de formas e soluções já conhecidas, produções de escolas que aos poucos se vão tornando acadêmicas e superadas. Sou a favor de uma liberdade plástica quase ilimitada, liberdade que não se subordine servilmente às razões da técnica ou do funcionalismo, mas que constitua, em primeiro lugar, um convite à imaginação, às formas novas e belas, capazes de surpreender e emocionar pelo que representam de novo e criador; liberdade que possibilite - quando desejável – uma atmosfera de êxtase, de sonho e poesia. (...)” Depoimentos e reflexões de Oscar Niemeyer sobre o processo de criação de um projeto arquitetônico “Não e o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai e a curva livre e sensual . A curva que encontro nas montanhas do meu país, na mulher preferida, nas nuvens do céu, nas ondas do mar. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.” “Arquitetura é vencer espaços. Respeito o trabalho dos outros . Mas não compreendo quem tem medo dos vãos livres. O espaço faz parte da arquitetura” "Penso que para ser uma obra de arte, no verdadeiro sentido da palavra, uma obra arquitetural deve, esta é uma condição fundamental, conter um mínimo de criatividade, ou seja, uma contribuição pessoal do arquiteto. Senão, ela se contentará em reutilizar as formas e soluções já conhecidas, produtos de escolas que caem rapidamente no academismo e se encontram ultrapassadas." PETIT, Jean. Niemeyer: poeta na arquitetura. s.l. : Fidia Edizione d'Arte, c1995. p.61. A natureza do terreno, o ambiente em que será inserida a construção, o sentido econômico que ela representa, a orientação etc. E somente depois de se inteirar de tudo isso é que ele começa a desenhar, fazendo croquis, na procura da idéia desejada. É nesse momento de imaginação e fantasia que a solução aparece e nela o arquiteto se detém, entusiasmado como alguém que encontrou um diamante e o examina com a esperança de ser verdadeiro e, lapidado, transformar-se numa bela pedra preciosa. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte E os desenhos prosseguem. O arquiteto verifica então se a solução atende internamente ao programa fornecido, se os técnicos do concreto armado aceitam o sistema estrutural imaginado, se o dimensionamento corresponde às seções fixadas, se tudo pode funcionar bem. E se o seu método é adotado, ele começa então a redigir um texto explicativo, procurando sentir, se lhe faltam argumentos, que alguma coisa deve no projeto ser acrescentada. É curioso (...) sentir como a imaginação varia, como as idéias vão surgindo diferentes, (...) ora simples, caminhando para o monumental. Em todas prevalece a curva, essa liberdade plástica que preferimos, decorrente de “tudo que vimos e amamos na vida”, como me disse um dia André Malraux do seu museu imaginário. (...) Não raro o próprio terreno nos dá o caminho a seguir. No Museu de Niterói, por exemplo, ele me guiou – como no projeto do Museu de Caracas, criando a superfície lisa que sem interrupção sobe em curvas e retas até a cobertura. (...) Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos: “Oscar desenha na areia seu edifício”. E tinha razão o nosso amigo. De um risco inicial nasce a arquitetura e até na areia isso pode acontecer. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Primeiro croqui para o MAC Texto escrito por Niemeyer sobre a concepção do projeto arquitetônico do MAC de Niterói: A Explicação Necessária : Às vezes um projeto custa a se definir. Outras, ele surge de repente como se, antes, nele nos tivéssemos detido cuidadosamente. E isso aconteceu com este projeto. O terreno era estreito, cercado pelo mar e a solução aconteceu naturalmente, tendo como ponto de partida o apoio central inevitável. Dele, a arquitetura decorreu espontânea como uma flor. A vista para o mar era belíssima e cabia aproveita-la. E suspendi o edifício e sob ele o panorama se estendeu mais rico ainda. Defini então o perfil do museu. Uma linha que nasce do chão e sem interrupção cresce e se desdobra, sensual, até a cobertura. A forma do prédio, que sempre imaginei circular, se fixou e, no seu interior, me detive apaixonado. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte À volta do museu criei uma galeria aberta para o mar, repetindo-a no segundo pavimento, como um mezanino debruçado sobre o grande salão de exposições. E me preocupei com os interiores, desejoso que fossem bonitos e variados, convidando os visitantes para conhecê-los melhor. No terreno, minha idéia foi acentuar a entrada do museu, desenhando a rampa externa. Um passeio ao redor da arquitetura. E senti que o museu seria bonito e tão diferente dos outros que ricos e pobres teriam prazer em visitá-lo. Org. NIEMEYER, Oscar. Museu de Arte Contemporânea de Niterói. Rio de janeiro, Editora Revan, 1997. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte A inauguração de Novos Paradigmas O MAC de Niterói pode ser visto como uma escultura contemporânea – abrigo poético ou uma obra arquitetônica inauguradora de novos paradigmas – tanto para a arte e arquitetura, assim como para os desafios da própria função social e educativa dos museus – um lugar para a criação e participação de todos. A forma circular livre e suspensa sobre a baía de Guanabara, foi desenhada para exercer a função de museu, abrigando a importante coleção de arte contemporânea brasileira de João Sattamini. O que significa exercer a função museu de arte contemporânea e ao mesmo tempo ser uma forma artística monumental inusitada, totalmente aberta em comunhão com a paisagem, o mundo lá fora? É a partir do encontro com a magnífica paisagem, de onde nasceu toda a idéia e forma deste museu. É também na paisagem que enunciam e inscrevem as diferentes visões do paraíso que compõem a história do Brasil, desde a chegada dos europeus no séc. XVI. A visita no MAC começa lá fora, assim como a inspiração de Niemeyer. A proposta de explorar o MAC como obra de arte inaugura também estes roteiros de experiências poéticas para uma educação ampliada, que nasce com a iniciação do olhar. Este material faz um percurso muito especial de experiências educativas a partir do que se chamou – MAC como obra de arte, onde se coloca em foco a arqueologia da criação de Niemeyer explorada sob lentes multifocais. O ponto de partida para a abordagem entre arte-arquitetura e educação é a experiência da forma, dos espaços, quando se experimentam novas lentes de leituras de mundo. Inspirado pela força poética de Niemeyer. Das curvas que nasceram em sua prancheta de trabalho pode-se reconhecer as linhas que fecundaram os principais monumentos que marcaram os desejos de mudanças do Brasil moderno. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Estes percursos de realizações e conquistas acumuladas por Niemeyer se convergem na arquitetura do MAC de Niterói, apontando para dois princípios constantes de sua evolução criadora, tão importantes para a nossa época, para a história do Brasil, ou mais ainda, para a arte do século XXI. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte VI. Comentários Críticos "É utilizando curvas desenvoltas e magistrais que Oscar Niemeyer ergue formas imateriais e transparentes. Livres e fluidas, equilibradas apesar da veemência do seu impulso, elas alternam delicadamente com faces de sombra e de luz modelando seu concreto com uma total compreensão, o arquiteto, escultor do espaço, harmoniza espontaneamente valores culturais e valores espaciais... As primeiras obras de Oscar Niemeyer, como o projeto para a Casa Henrique Xavier e a Obra do Berço, no Rio de Janeiro, são diretamente influenciadas pelas realizações de Le Corbusier. Mas pouco a pouco a sua obra vai de desligar da arquitetura funcionalista do início da sua carreira, para desenvolver uma pesquisa cada vez mais livre. Em 1942, quando Juscelino Kubitschek, então governador de Minas Gerais, empreendeu em Belo Horizonte a criação de um bairro de lazer em Pampulha, ele encomenda os planos a Oscar Niemeyer. Este então abandonará deliberadamente a linha reta para experimentar a curva. Uma curva utilizada com lirismo, por vezes arbitrariamente, mas pouco a pouco conduzida a se tornar o complemento indispensável da linha reta. Verdadeiro manifesto construído, contra um funcionalismo ortodoxo e geralmente sistemático, as construções de Pampulha marcaram o aparecimento de uma nova liberdade plástica, provocadora de emoção. A experiência espacial de Oscar Niemeyer, considerando-se o espaço como a própria essência da arquitetura, nunca se afasta dos fatores econômicos, sociais, técnicos e plásticos. Dentro da grande massa dos seus projetos e realizações, o arquiteto vai empregar todos os recursos do concreto para criar um mundo de formas estranhas, surpreendentes e imprevistas. Seu vocabulário plástico desenvolverá uma concepção cada vez mais livre, em constante evolução. A espontaneidade de expressão e a exuberante invenção da sua arquitetura sabem falar aos seus usuários. Além disso, a perfeição estrutural e o sopro poético da sua obra impedem a imitação dos seguidores, preservando assim a sua pureza." PETIT, Jean. Niemeyer: poeta na arquitetura. s.l.: Fidia Edizione d'Arte, c1995. p. 88. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte V.Material de Apoio Pedagógico: Reunimos nesse material textos, propostas de abordagem e estratégias educativas que poderão servir como apoio para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares nas escolas. Propostas de Roteiros e Instigações A VISITA COMEÇA LÁ FORA! A mediação educativa, no pátio do MAC, considera a arquitetura do próprio Museu como obra de arte. A observação e descrição da forma arquitetônica do MAC, da paisagem e do entorno são objeto de análise. As questões que se destacam são: Quais são as intenções do arquiteto Oscar Niemeyer ao conceber o edifício do Museu? Quais as são as poéticas da forma do MAC? A observação de uma obra de arte, assim a forma do MAC, tem sempre uma intenção artística, e que nós enquanto espectadores devemos adotar uma posição de leitores e interpretes. A etapa fundamental para a interpretação é a descrição,“pois constitui a passagem das percepções visuais para a linguagem verbal. A verbalização da mensagem visual manifesta processos de escolhas perceptivas e de reconhecimento que presidem sua interpretação.” Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Diálogos e Instigações sobre a arquitetura do MAC de Niterói O que este prédio tem que chama tanto a atenção? Observem os outros prédios a nossa volta e o MAC, quais as diferenças das formas arquitetônicas? Como podemos descrever a forma do MAC? Ela se parece com muitas outras formas – uma taça, um disco voador, um prato, um funil, etc. – mas ela é realmente alguma destas formas? Podemos dizer então que ela é uma forma abstrata? O que é abstrato? Existem formas no MAC que vocês reconhecem? Quais? (o círculo, a esfera, o cilindro, a espiral) O que todas essas formas tem em comum? A linha curva! Trabalhe a percepção do grupo para a forma do MAC no espaço, as montanhas e a cidade. Peça para desenharem com o dedo no espaço experimentando o contorno dos morros, das praias e da cidade. As formas do MAC se harmonizam mais com as formas encontradas na cidade ou na natureza? Observe e converse junto com o grupo sobre a escolha e intenção do arquiteto ao conceber o edificio . Quais são os dálogos que se estabelecem entre o Museu e a Paisagem? Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Instigações sobre a relação Forma x Função do projeto aequitetônico do MAC • • • • • • • • Museu suspenso x vista total da paisagem – “um apoio central e a arquitetura solta no espaço.” Museu redondo x baia de Guanabara x vista 360o Museu envidraçado x paisagem dentro e fora do museu Espelho d´agua x continuidade com o mar, uma forma que nasce de dentro da paisagem A curva x montanhas x a linha contínua do desenho do museu x movimento contínuo do círculo A espiral x rampa x o leitor móvel do mundo x paisagem A rampa vermelha x a entrada do museu x um museu para todos Forma x função - um museu com uma forma do futuro x um museu para a arte contemporânea. A Idéia - a linha - o desenho A partir do desenho de Niemeyer do esboço do MAC compare com a forma real do museu. O esboço é o início e a idéia principal de um projeto, observando o esboço de Niemeyer, o que seria então o essencial na forma do MAC? Como saber o que é essencial para descrever uma forma? O que seria suficiente para descrever uma árvore, uma flor ou uma montanha? Observe com o grupo como no desenho de Niemeyer a linha é única e contínua, curva e solta, assim como a paisagem. Quantas formas é possível fazer usando apenas uma linha? Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Sugestões de Atividades Desenhando com as Linhas de Niemeyer Propomos a exploração do uso da linha curva e solta de Niemeyer e suas infinitas possibilidades de construção. Experiemente desenhar com apenas um pedaço de corda ou linha, quantas formas são possíveis de se fazer? Observe a mutiplicidade de formas e resultados obtidos a partir de cada pequeno movimento com a corda. Os desenhos de Niemeyer são apenas a essência de um projeto, uma idéia em poucos traços. Suas idéias e projetos se resumem a poucas linhas, apenas o essencial, através de linhas soltas, livres e contínuas. Brincando com a corda, mudando sua posição, crie diferentes desenhos e formas inspiradas nas curvas da natureza e nas formas do MAC. Depois passe esses desenhos criados para o papel, tente trabalhar apenas com uma linha contínua, sem tirar o lápis do papel e monte uma história juntado essas imagens. Uma história para Niemeyer. A Linha Essencial Proponha a seus alunos a observação das formas presentes na paisagem proponha o desvelamento das linhas sinteses. Como desdobramento o grupo poderá a fazer registros através de desenhos. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Poetizando A partir da leitura de poesias de Oscar Niemeyer proponha ao seu grupo a interpretação formal e estética dos textos escolhidos. Proponha a releitura criativa através da criação de pequenos poemas individuais. O trabalho pode ser conjugado com a criação de desenhos que ilustrem os poemas. Compartilhe a produção do grupo expondo os trabalhos. Arquitetura como Poesia Lição de Arquitetura De: Ferreira Gullar (Buenos Aires, 22/01/76) Dedicado: A Oscar Niemeyer No ombro do planeta em caracas Oscar depositou para sempre uma ave flor (ele não faz de pedra nossas casas: faz de asa) No coração de Argel sofrida faz aterrizar uma tarde uma nave estelar e linda como ainda há de ser a vida (com seu traço futuro Oscar nos ensina que o sonho é popular) Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Nos ensina amar mesmo se lidamos com matéria dura o ferro o cimento a fome da humana arquitetura Nos ensina a viver no que ele transfigura no açúcar da pedra no sono do ovo na argila da aurora na alvura do novo na pluma da neve Oscar nos ensina que a beleza é leve O Poema da Curva Não é o ângulo reto que me atrai Nem a linha reta,dura,inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Nuvens Sempre que viajava de carro para Brasília minha distração era olhar as nuvens do céu. Quantas coisas inesperadas elas sugerem! Às vezes são catedrais enormes e misteriosas, as catedrais de Exupéry com certeza; outras vezes, guerreiros terríveis, carros romanos a cavalgarem pelos ares; outros ainda, monstros desconhecidos a correrem pelos ventos em louca disparada e, mais freqüentemente porque sempre as procurava lindas e vaporosas mulheres recostadas nas nuvens, a sorrirem para mim dos espaços infinitos. Mas logo tudo se transformava: as catedrais se desvaneciam em branco nevoeiro, os guerreiros viravam préstitos carnavalescos intermináveis; os monstros se escondiam em escuras cavernas, para surgirem adiante mais furiosos ainda, e as mulheres iam se esgarçando, se estendendo, transformadas em pássaros ou negras serpentes. Muitas vezes pensei fotografar tudo isso, tão exatas eram as figuras que apareciam. Nunca o fiz. Mas, sempre que viajo olhar para as nuvens é minha distração predileta, curioso, procurando decifra-las como se estivesse em busca de uma boa e esperada mensagem. Naquele dia, porém, a visão foi mais surpreendente. Era uma bela mulher, rosada como uma figura de Renoir. O rosto oval, os seios fartos, o ventre liso, e as pernas longas a se entrelaçarem nas nuvens brancas do céu. E fiquei a olhá-la embevecido, com medo de que se diluísse de repente. Mas os ventos daquela tarde de verão me deviam estar ouvindo e durante muito tempo ela ali ficou a me olhar de longe, como a convidar-me para subir e com ela, entre as nuvens, brincar um pouco. Mas o que temia tinha de acontecer. E pouco a pouco minha namorada foi se diluindo, os braços se alongando com desespero, os seios a voarem como se destacando do corpo, as longas pernas se contorcendo em espiral, como se dali ela não quisesse sair. Só os olhos continuavam a me fitar, cada vez maiores, cheios de espanto e tristeza, quando uma nuvem maior, densa e negra, a levou para longe de mim. E continuei a segui-la, inquieto, vendo-a entre nuvens que a envolviam, fustigada pela fúria dos ventos que a dilaceravam impiedosamente. E senti como aquela metamorfose perversa se assemelhava ao nosso próprio destino, obrigados a nascer, crescer, lutar, morrer e desaparecer para sempre, como ocorria com aquela bela figura de mulher. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Orientações para Visitação de Grupos Escolares Os grupos escolares deverão estar acompanhados por um número suficiente de professores representantes das instituições, os quais deverão se responsabilizar pela organização e controle do grupo de alunos durante toda a visita ao Museu. Dinâmica da Visita: No Pátio do Museu: Ao chegar ao MAC o grupo deverá esperar no pátio a autorização para a entrada no Museu enquanto o professor se dirige à recepção para comunicar a chegada do grupo, receber os ingressos/adesivos e tomar conhecimento das normas de visitação ao interior do Museu. A Subida da Rampa de Acesso: O percurso pela rampa de acesso ao interior do Museu é um momento especial da visita. A rampa promove uma experiência visual e interativa do visitante com o MAC e seu entorno, fazendo parte da preparação do grupo para a entrada no espaço museológico. O grupo, ao subir a rampa, deve ser instigado a perceber e descobrir elementos presentes na paisagem que dialogam com a arquitetura do MAC. Se o seu grupo não estiver participando de uma visita mediada pelos educadores da Divisão de Arte Educação, tente você mesmo mediar essa experiência. No Espaço Museológico: As exposições apresentam conceitos que devem ser desvelados pelos próprios alunos através da mediação educativa dos educadores do MAC ou do próprio professor do grupo. Para que o professor possa participar do trabalho de mediação é importante que tome conhecimento antecipadamente do contexto das exposições em cartaz. A Divisão de Arte Educação oferece mensalmente um programa para professores, com enfoque pedagógico, que busca preparar e oferecer material de apoio para a visita ao MAC. Você também pode acessar os textos e materiais sobre as exposições no site da instituição: www.macniteroi.com No interior do Museu não é permitido: Tocar nas obras de arte. Correr e falar alto. Comer e beber. Informe-se sobre a permissão para fotografar as obras de arte. Em algumas exposições não é permitido ao visitante o registro fotográfico das obras expostas no Museu. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Bibliografia NIEMEYER,Oscar. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Urbanismo. Rio de Janeiro, 1998.) Ponty, Maurice Merleau. A fenomenologia da Percepção. Martins Fontes: São Paulo, 1998. Material de Apoio Pedagógico - MAC como Obra de Arte Equipe: Chefe da Divisão de Arte Educação Márcia Campos Arte Educadores Bruno Albert, Eduardo Machado, Igor Valente, Leandro Crisman Produtora Cultural Fernanda Fernandes Assistente Administrativo Marcus Vinícius Verçosa Agendamento de grupos para visitas mediadas Divisão de Arte-Educação pelos tel. (21) 2620 2400 / 2620 2481 ramal 29, de segunda a sexta, das 10 às 18h. [email protected] www.macniteroi.com.br