Alunos com multideficiência e
com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Alunos com multideficiência e
com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Ficha Técnica
EDITOR
Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular
Direcção de Serviços da Educação Especial e do Apoio Sócio-Educativo
TÍTULO
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
DIRECTOR-GERAL
Luís Capucha
COORDENAÇÃO
Filomena Pereira
ORGANIZAÇÃO
Clarisse Nunes
REVISÂO DE TEXTOS
Alexandra Crespo
Graça Breia
SUPERVISÃO CIENTÍFICA
Isabel Amaral
DESIGN
Manuela Lourenço
DESENHO DA CAPA
Inês Neves (20 anos) 9º ano, da EB 2,3 Pedro Nunes - Alcácer do Sal
PAGINAÇÃO
Olinda Sousa
2008
2
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Índice
Introdução............................................................................................... 5
1. Os alunos com multideficiência ........................................................... 9
2. Os alunos com surdocegueira congénita............................................ 13
3. Pressupostos básicos a considerar na sua educação ......................... 17
4. Organização das respostas educativas .............................................. 19
4.1 Centrar a intervenção em actividades da vida real ........................... 22
4.2 Focalizar o currículo na comunicação e na orientação e mobilidade .... 37
Conclusão .............................................................................................. 65
Bibliografia ............................................................................................ 67
3
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
4
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Introdução
O acesso à educação em estabelecimentos de ensino regular
por parte dos alunos com limitações acentuadas, como é o caso
dos alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita,
tem vindo a tornar-se uma realidade nacional.
A características específicas destes alunos colocam desafios
muito significativos às escolas e aos profissionais que com eles
trabalham, designadamente aos docentes de turma que ficam,
por
vezes,
desenvolver
apreensivos
com
quanto
estes
ao
alunos,
tipo
de
trabalho
especialmente
a
pelo
desconhecimento sobre o que é necessário ensinar-lhes e a
forma como os podem incluir nas experiências desenvolvidas
pelos seus pares sem Necessidades Educativas Especiais (NEE).
Este desafio é também sentido pelos seus familiares e pela
comunidade em geral.
Neste sentido, há ainda, um longo caminho a percorrer no que
diz respeito ao que temos de aprender para conseguir dar a
estes alunos uma educação de qualidade, nomeadamente nos
contextos regulares de ensino.
Proporcionar
experiências de
aprendizagem
significativas
Considera-se que um dos maiores desafios que se coloca na
educação destes alunos é o de lhes proporcionar experiências
de aprendizagem significativas que:
ƒ
sejam similares aos dos seus colegas sem NEE;
ƒ
respondam às necessidades de aprendizagem de
cada aluno;
ƒ
sejam realizadas nos contextos naturais, incluindo o
contexto da sala de aula/actividades.
5
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Precisam de ter
serviços e
apoios
específicos
Para Giangreco e Doyle (2000) e Jackson (2005) os alunos com
limitações
acentuadas,
nomeadamente
os
alunos
com
multideficiência e com surdocegueira congénita, necessitam de
serviços e apoios específicos que permitam maximizar as suas
oportunidades
educativas
e
ter
sucesso
nos
contextos
educativos que frequentam. Muitos destes alunos necessitam,
ainda, de opções curriculares específicas e de práticas de ensino
altamente especializadas.
Currículo
acessível a
todos os alunos
Torna-se importante considerar a forma como as escolas
organizam o currículo para os alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita e encontrar formas inovadoras para
que o currículo possa ser acessível a todos os alunos e se
adeqúe às suas necessidades.
Na opinião de Jackson (2005) numa escola de qualidade para
todos os alunos o seu currículo deve:
ƒ
ser flexível para que responda à diversidade dos
alunos;
ƒ
ser
organizado
de
modo
a
que
os
conteúdos
curriculares sejam adequados às capacidades dos
alunos;
ƒ
criar condições para que cada aluno possa envolver-se
activamente no processo de aprendizagem.
Aspectos
essenciais a
considerar para
melhorar a
qualidade da
educação
prestada
De que forma é que o sistema educativo e em particular e a
escola, se deve organizar para proporcionar uma educação de
qualidade aos alunos com multideficiência e com surdocegueira
congénita?
Entre outros aspectos é essencial:
ƒ
analisar a educação destes alunos a partir de múltiplas
perspectivas e de enquadramentos alternativos, que
diferem das abordagens tradicionais;
ƒ
proporcionar serviços educativos e apoios adequados e
eficazes;
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Só assim, será possível perceber as capacidades destes alunos e
responder adequadamente às suas necessidades únicas.
Trabalho em
equipa
É igualmente importante desenvolver um trabalho colaborativo,
que envolva todos os intervenientes na educação destes alunos:
família, profissionais da educação, da saúde, da segurança
social entre outros.
Preparação dos
profissionais e
apoio
individualizado
Porém, ao não existir uma abordagem específica que conduza
todos os alunos ao sucesso, é importante os profissionais
estarem preparados para responderem às suas diferenças
individuais, prestando atenção e apoio individualizado aos
alunos.
Objectivo da
publicação
Com o objectivo de contribuir para que os profissionais
aumentem as suas competências no que diz respeito à
educação dos alunos com multideficiência e com surdocegueira
congénita, e consequentemente possam melhorar a qualidade
da
educação
prestada
a
estes
seguidamente,
descrever
algumas
alunos,
propomo-nos,
orientações
relativas
à
organização da resposta educativa para estes alunos, com
especial incidência na intervenção e na organização curricular.
Organização da
publicação
Para concretizar estes objectivos começamos por especificar as
características mais comuns destes alunos e seguidamente
abordamos os pressupostos básicos a ter em consideração na
sua educação e na organização das respostas educativas. Neste
último salientamos a importância de centrar a intervenção em
actividades naturais e de focalizar o currículo nas áreas da
comunicação e da orientação e mobilidade.
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
1. Os alunos com multideficiência
Quem são os
alunos com
multideficiência
Os alunos com multideficiência apresentam combinações de
acentuadas limitações, as quais põem em grave risco o seu
desenvolvimento levando-os a experienciar graves dificuldades
no processo de aprendizagem e na participação nos diversos
contextos
em
que
estão
inseridos:
educativo,
familiar
e
comunitário. Estas limitações e o seu nível de funcionalidade
resultam da interacção entre as suas condições de saúde e os
factores ambientais.
Segundo Orelove, Sobsey e Silberman (2004) e Saramago et
al., (2004:213), as crianças com multideficiência:
“...apresentam acentuadas limitações no domínio
cognitivo, associadas a limitações no domínio motor
e/ou no domínio sensorial (visão ou audição), e que
podem
ainda
necessitar
de
cuidados
de
saúde
específicos. Estas limitações impedem a interacção
natural com o ambiente, colocando em grave risco o
acesso ao desenvolvimento e à aprendizagem”.
No âmbito desta descrição e a observação da figura 1 conclui-se
que
os
alunos
com
multideficiência
podem
apresentar
características muito diversas, as quais são determinadas,
essencialmente, pela combinação e gravidade das limitações
que
apresentam,
pela
idade
em
que
surgem
e
pelas
experiências vivenciadas.
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Figura 1- Alunos com multideficiência
(Adaptado de Nunes, 2005)
Grupo
heterogéneo
Constituem,
portanto,
consequentemente,
são
um
grupo
alunos
muito
com
heterogéneo
necessidades
e
de
aprendizagem únicas e excepcionais que evidenciam um quadro
complexo e precisam de apoio permanente na realização da
maioria das actividades quotidianas, como seja a alimentação, a
higiene, a mobilidade, o vestir e o despir.
Características
comuns a nível
das várias
funções
Embora constituam uma população heterogénea é comum
manifestarem acentuadas limitações ao nível de algumas
funções mentais, bem como acentuadas dificuldades ao nível da
comunicação
e
da
linguagem
(de
referir
dificuldades
na
compreensão e na produção de mensagens orais, na interacção
verbal com os parceiros, na conversação e no acesso à
informação) e ao nível das funções motoras, nomeadamente na
mobilidade (por exemplo: no andar e na deslocação, na
mudança de posições do corpo, na movimentação de objectos e
na motricidade fina). Podem apresentar também, limitações nas
funções visuais ou auditivas, sendo frequente coexistirem
graves problemas de saúde física, nomeadamente epilepsia e
problemas respiratórios.
Relativamente à actividade e participação destes alunos, as
suas maiores dificuldades situam-se a nível:
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Organização da resposta educativa
ƒ
Dificuldades ao
nível das
actividades e
participação
dos processos da interacção com o meio ambiente
(com pessoas e objectos);
ƒ
da compreensão do mundo envolvente (dificuldade
em aceder à informação);
ƒ
da selecção dos estímulos relevantes;
ƒ
da
compreensão
e
interpretação
da
informação
recebida;
ƒ
da aquisição de competências;
ƒ
da concentração e atenção;
ƒ
do pensamento;
ƒ
da tomada de decisões sobre a sua vida;
ƒ
da resolução de problemas.
De realçar, ainda, que a qualidade e quantidade de informação
recebida e percebida é normalmente limitada e distorcida,
devido, em parte, às suas limitações mas também ao facto de
terem poucas experiências significativas (Amaral, 2002).
Necessidade de
participarem em
experiências
significativas
Como se depreende estas limitações e dificuldades fazem com
que estes alunos compreendam o mundo de modo diferente,
precisem de ter mais experiências significativas para manterem
as competências já desenvolvidas e necessitem de vivenciar
situações idênticas em diferentes contextos que facilitem a
generalização de competências.
Dificuldades
influenciam a
quantidade e
qualidade das
interacções
Normalmente manifestam um tempo de resposta mais lento do
que os alunos sem problemas, dão menos respostas e estas são
mais
difíceis
de
compreender,
apresentando
um
desenvolvimento comunicativo inferior ao esperado para a sua
faixa etária. Estes aspectos têm naturalmente influência na
quantidade e na qualidade das interacções estabelecidas com o
meio envolvente levando estes alunos a um reduzido número de
parceiros e de ambientes (ibid).
Dificuldades de
comunicação
Estes alunos, normalmente, não usam a linguagem oral, o que
lhes dificulta significativamente a comunicação com os outros. A
incapacidade para usar a fala tem um impacto muito forte no
desenvolvimento das capacidades individuais, no controlo do
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ambiente que as rodeia (mesmo o mais elementar aspecto da
vida
diária),
para
além
das
suas
repercussões
no
desenvolvimento social.
Principais
necessidades
As
barreiras
que
se
colocam
aprendizagem
são
muito
à
sua
significativas
participação
e
faz
como
e
à
que
necessitem de:
ƒ
apoio intensivo quer na realização das actividades
diárias, quer na aprendizagem;
ƒ
parceiros que os aceitem como participantes activos e
sejam responsivos;
ƒ
vivências idênticas em ambientes diferenciados;
ƒ
ambientes
comuns
onde
existam
oportunidades
significativas para participar em múltiplas experiências
diversificadas;
ƒ
oportunidades
para
interagir
com
pessoas
e
com
objectos significativos.
(Amaral et al, 2004)
Consequentemente, estes alunos precisam do apoio de serviços
específicos, nos seus contextos naturais, sempre que possível,
de
modo
a
responderem
à
especificidade
das
suas
necessidades. Estes apoios devem estar consubstanciados no
seu plano educativo individual.
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
2. Os alunos com surdocegueira congénita
Quem são os
alunos com
surdocegueira
congénita
A
surdocegueira
descreve
uma
condição
que
combina
acentuadas limitações nos domínios sensoriais visão e audição
em graus distintos (Deafblind International, 2006 e Sense,
2006). Segundo Chen (1999) as combinações das limitações
visuais e auditivas apresentadas pela criança com surdocegueira
podem variar entre percas moderadas a profundas. Miles e
Riggio (1999) indicam que se podem constituir quatro grupos
distintos:
Impacto das
limitações
auditivas e
visuais
ƒ
os que são surdos profundos e cegos;
ƒ
os que são surdos com baixa visão;
ƒ
os que têm percas auditivas e são cegos;
ƒ
os que têm alguma visão e audição.
A existência de limitações visuais e auditivas multiplicam e
intensificam o impacto de cada uma destas limitações isoladas,
criando dificuldades únicas ao surdocego e desafios específicos
aos profissionais que com ele trabalham. Grande parte da
informação recebida (95%) chega através dos órgãos sensoriais
de distância: visão e audição. A pessoa com surdocegueira
experiencia graves problemas na comunicação, no acesso à
informação e na mobilidade. As suas necessidades específicas
diferem muito de acordo com a idade em que a surdocegueira
surge,
isto
é,
se
é
congénita
ou
adquirida
(Deafblind
International, 2006 e Sense, 2006).
Quando existem simultaneamente limitações acentuadas nestes
dois órgãos dos sentidos a experiência que as pessoas têm do
mundo
é
única.
Estas
limitações
dificultam
o
acesso
à
informação e à aprendizagem através da observação e da
exploração
autónoma.
Estas
dificuldades
fazem-nos
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
experienciar situações significativamente diferentes das pessoas
que conseguem ver e ouvir sem dificuldades. Na generalidade
as experiências que têm da realidade são distorcidas e
fragmentadas.
Sendo
a
visão
e
a
audição
capacidades
essenciais
à
compreensão do meio envolvente, à manutenção da saúde
mental e da qualidade de vida, a perca destes sentidos torna
mais difícil o desenvolvimento das capacidades comunicativas e
de movimentação. Como se descreve na figura 2 estas
limitações dificultam o acesso à informação, à exploração do
meio ambiente e têm repercussões significativas ao nível da
aprendizagem.
Figura 2- Alunos com surdocegueira
Dificuldades
sentidas
A combinação de acentuadas limitações auditivas e visuais
causa dificuldades singulares na comunicação, na compreensão
do mundo, no desenvolvimento cognitivo, na mobilidade e nas
competências
sociais,
embora
nem
sempre
limite
as
capacidades de aprendizagem dos alunos. As dificuldades de
comunicação e de compreensão levam, frequentemente, a
pessoa com surdocegueira a manifestar problemas emocionais e
comportamentais (Miles, 1999).
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Limitações
apresentadas
por referência à
CIF
Analisando as características dos alunos com surdocegueira por
referência à Classificação das Incapacidades e Funcionalidade
(CIF), estes apresentam acentuadas limitações ao nível de
algumas funções auditivas e visuais, da comunicação e da
linguagem e de algumas funções mentais.
Dificuldades
sentidas a nível
da participação
e actividades
Quanto às actividades e à participação podem evidenciar
acentuadas dificuldades a nível da:
ƒ
compreensão
e
produção
de
mensagens
orais,
da
interacção verbal e não verbal com os parceiros, da
conversação e do acesso à informação;
ƒ
aquisição
de
competências,
da
concentração
e
da
atenção, do pensamento, da resolução de problemas, da
interacção com o meio ambiente, compreensão do
mundo envolvente e na formação de conceitos;
ƒ
autonomia pessoal e social;
ƒ
orientação e mobilidade.
Estas limitações e dificuldades podem ser mais ou menos
acentuadas de acordo com as capacidades visuais e auditivas
que os alunos apresentam. Se a ausência de visão e de audição
é total o seu mundo é muito reduzido e as suas experiências
“estendem-se apenas até onde os seus dedos conseguirem
chegar” (Smithdas, 1958 e Miles, 1998:1). Alguns sentir-se-ão
sozinhos, no caso de ninguém lhes tocar. Os conceitos que têm
acerca do mundo dependem basicamente das oportunidades
que têm para contactar fisicamente com pessoas e com
objectos. Para estes alunos pode ser muito difícil compreender
claramente o que se passa à sua volta.
Grupo
heterogéneo
Quando os alunos têm algumas capacidades visuais e auditivas
os
conhecimentos
que
têm
do
mundo
podem
ser
mais
facilmente alargados. Alguns podem ter visão suficiente para se
movimentarem no ambiente, para reconhecerem pessoas e ver
gestos ou a linguagem escrita ampliada. Outros podem ter
audição suficiente para entenderem a fala, ouvirem alguns sons
do ambiente e inclusivamente usarem a fala para comunicar
(Miles, 1998).
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
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Desafios que
enfrentam
Independentemente das capacidades de cada aluno, os desafios
que estes enfrentam são inúmeros. Os maiores desafios
colocam-se a nível da interacção com o ambiente (pessoas e
objectos),
do
movimentação
desenvolvimento
autónoma.
Estes
da
alunos
linguagem
e
da
precisam
de
ser
ajudados a dar sentido ao mundo usando a informação sensorial
de que dispõem. As pessoas que com eles interagem devem
esforçar-se por tentar organizar o ambiente de uma forma que
seja facilmente compreensível e ajudá-los a envolverem-se em
interacções que lhes possibilitem desenvolver todo o seu
potencial (Ibid).
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
3. Pressupostos básicos a considerar na sua
educação
Necessidades
básicas
Todas as pessoas, com ou sem deficiência, partilham as
mesmas necessidades básicas. Enquanto seres humanos todos
nós necessitamos de ter experiências ao longo da nossa vida
que nos permitam:
ƒ
ser autónomos e independentes;
ƒ
ter a nossa individualidade;
ƒ
ser aceites e amados através da nossa presença e
participação na família e na comunidade;
ƒ
ter estabilidade;
ƒ
continuar a crescer e a aprender;
ƒ
sentir
segurança
e
ser
respeitados
enquanto
pessoas.
As
pessoas
com
deficiência
não
têm
necessidades
qualitativamente diferentes das que não têm deficiência. A
diferença revela-se no facto das pessoas com deficiência
(designadamente
os
alunos
com
multideficiência
e
com
surdocegueira congénita) não terem capacidade para, de uma
forma
independente,
criarem
condições,
situações
e
experiências nas suas vidas que permitam responder a algumas
ou a todas as suas necessidades básicas.
É necessário
encontrar o
meio o menos
restritivo
possível e o
mais adequado
Para Jackson (2005) na educação destes alunos é necessário
encontrar o meio o menos restritivo possível e simultaneamente
o
mais
adequado
para
responder
às
suas
necessidades
específicas, ou seja, o meio que ofereça mais condições
humanas e materiais para proporcionar uma educação de
qualidade que ajude o aluno a ter sucesso social e escolar.
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Satisfazer as
necessidades
básicas
Para
que
as
necessidades
básicas
dos
alunos
com
multideficiência e com surdocegueira congénita possam ser
satisfeitas, é importante:
ƒ
criar condições para interagirem com os outros e para
se envolverem activamente nessas interacções;
ƒ
proporcionar oportunidades de aprendizagem reais.
Ter oportunidade para interagir com pares sem necessidades
educativas especiais (NEE) nos contextos regulares de ensino e
ter experiências significativas nesses contextos educativos é um
aspecto relevante a ter em consideração na educação destes
alunos.
Pressupostos
básicos
Considerando o acima mencionado bem como, as características
dos alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
descritas
anteriormente,
educativas
para
estes
a
organização
alunos
deve
das
partir
dos
respostas
seguintes
pressupostos:
ƒ
A educação destes alunos deve orientar-se por modelos
centrados na actividade e não apenas no desenvolvimento;
ƒ
A
escola
perspectiva
tem
de
de
considerar
alargamento
as
da
suas
sua
acções
numa
participação
e
actividade em ambientes significativos;
ƒ
Um
programa
de
qualidade
inclui
oportunidades
de
aprendizagem centradas em experiências da vida real;
ƒ
A comunicação deve ser uma área a desenvolver em todas
as actividades;
ƒ
O ensino deve ser individualizado e implementado de uma
forma sistemática e os ambientes de aprendizagem devem
ser
estruturados
de
modo
a
responderem
às
suas
necessidades específicas;
ƒ
Os contextos educativos devem envolver estes alunos nas
actividades para que possam participar activamente na
aprendizagem e sentirem-se aceites no grupo de pares.
(Amaral et al, 2004)
18
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
4. Organização das respostas educativas
Criar
oportunidades
para realizarem
aprendizagens
significativas
A organização das respostas educativas para os alunos com
multideficiência e com surdocegueira congénita não difere, no
essencial, da desenvolvida com todos os outros alunos, na
medida em que a inclusão na comunidade e a qualidade de vida
são objectivos comuns a todos os seres humanos. Assim, na
sua educação devem ser dadas oportunidades para que cada
um alcance o máximo de independência possível, participe na
vida da comunidade, de acordo com as suas potencialidades e
faça aprendizagens significativas.
Será de considerar que, não existe um protótipo de aluno e que
a aprendizagem se realiza de maneiras muito diferentes, dado
que cada cérebro processa a informação recebida de uma forma
diferenciada. Pesquisas recentes a nível da neurociência indicam
que, o modo como se aprende é tão individual como é o ADN e
a impressão digital (Jackson, 2005).
Estas
pesquisas
dizem-nos
que
é
indispensável
ter
em
consideração que a aprendizagem é um processo multifacetado
distribuido por três redes cerebrais primárias (ibid) que se
interrelacionam, e que se descrevem na figura 3.
Figura 3- Papel das redes cerebrais primárias na aprendizagem
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Organização da resposta educativa
Redes de
reconhecimento
Uma das redes é especializada na recolha e na análise da
informação e relaciona-se com o modo como cada um de nós
identifica e categoriza o que vê, o que ouve e o que sente. São
as “redes de reconhecimento” e relacionam-se com «o quê» da
aprendizagem.
Redes
estratégicas
Outra rede é especializada nas tarefas de planeamento e de
realização de acções, tem a ver com a forma como se organiza
e se expressa as ideias e o que se aprende. São designadas
“redes
estratégicas”
e
correspondem
ao
«como»
da
aprendizagem.
Redes afectivas
A
terceira
rede
estabelecimento
de
é
especializada
prioridades,
na
está
avaliação
relacionada
e
com
no
o
interesse pelo que se passa à nossa volta. Estas redes são
denominadas “redes afectivas” e representam o «porque» se
aprende.
A organização modular destas três redes de aprendizagem e dos
seus sub-processos altamente especializados significa que cada
pessoa transporta em si capacidades e necessidades únicas.
Portanto, não existem dois alunos com o mesmo padrão de
capacidades, necessidades e preferências em cada um destes
domínios.
Conclui-se, que o envolvimento das três redes neuronais na
aprendizagem influencia a forma como cada aluno pode ser
ensinado e como a organização do ambiente de aprendizagem
pode constituir um elemento de sucesso ou uma barreira à
aprendizagem.
As redes e a
organização das
respostas
educativas
Segundo Rose e Meyer (2002) estas redes devem ser tidas em
consideração na educação de todos os alunos, para que cada
um possa encontrar o seu modo de aprendizagem preferido.
Consequentemente a organização das respostas educativas para
qualquer aluno deve oferecer:
ƒ
Múltiplas formas de representação - de modo a que
o aluno possa ter oportunidades para receber/adquirir
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Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
informação de várias formas (as adequadas às suas
características e necessidades);
ƒ
Múltiplos meios de expressão – que permitam ao
aluno obter formas alternativas de demonstrar o que
sabe, responder usando os meios de comunicação
preferidos e ter algum controlo sobre o que se passa ao
seu redor;
ƒ
Múltiplos meios de envolvimento - de modo a: i) ir
ao encontro dos interesses do aluno, ii) desafiá-lo
adequadamente e iii) motivá-lo para a aprendizagem.
Respostas
educativas
altamente
flexíveis
Transportando estas informações para a educação dos alunos
com
multideficiência
necessário
e
com
implementar
surdocegueira
respostas
congénita,
educativas
é
altamente
flexíveis, que utilizem materiais e estratégias diversificadas e
adequadas às características de cada aluno, de forma a
minimizar as barreiras colocadas à sua aprendizagem. Neste
sentido, torna-se premente que os ambientes de aprendizagem
apoiem a sua educação e os desafiem a aprender.
Assim, na educação destes alunos é fundamental organizar e
implementar respostas educativas que:
ƒ
respondam às necessidades específicas de cada aluno e
ao
seu
estilo
de
aprendizagem,
bem
como
às
necessidades da sua família;
ƒ
proporcionem experiências diversificadas e significativas;
ƒ
ajudem
os
alunos
a
participarem
activamente
nas
actividades que desenvolvem nos diversos contextos;
ƒ
proporcionem
oportunidades
de
aprendizagens
significativas;
ƒ
promovam a independência e a autonomia dos alunos;
ƒ
disponibilizem os apoios de que necessitam;
ƒ
assegurem um progresso efectivo;
ƒ
criem oportunidades de acederem ao currículo comum,
sempre que possível.
Para concretizar estas indicações é importante:
21
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
desenvolver uma intervenção centrada em actividades
ƒ
da vida real;
organizar oportunidades para os alunos vivenciarem
ƒ
experiências significativas e diversificadas, participando
activamente nas mesmas;
determinar as competências a desenvolver nos alunos
ƒ
quando participam nessas actividades, considerando as
competências
que
são
necessárias
para
o
seu
funcionamento actual e futuro.
4.1 Centrar a intervenção em actividades da vida real1
Actividades de
vida real
Ao
centrar
a
organização
das
respostas
educativas
em
actividades da vida real é indispensável considerar o nível de
participação dos alunos nessas situações, ou seja o seu grau de
envolvimento
em
todos
os
passos
que
as
constituem.
Independentemente das capacidades dos alunos é vital fazê-los
passar por situações significativas realizadas em diferentes
contextos, mesmo que isso represente participarem com ajuda
total em alguns ou em todos os passos das tarefas de uma
actividade.
Envolvimento
activo em
experiências
significativas
É o envolvimento activo dos alunos nessas experiências, as
quais devem ser realizadas em ambientes naturais, apropriados
e
socialmente
relevantes,
que
possibilita
uma
melhor
compreensão dos ambientes social e físico que os cerca. São
essas
experiências
em
contexto
e
as
interacções
que
estabelecem com as pessoas e os objectos aí existentes que vão
permitir
desenvolver
as
suas
capacidades,
realizar
aprendizagens e ter um controlo mais significativo sobre os
objectos, as rotinas pessoais e os eventos realizados. Estes
alunos aprendem fazendo.
Ambientes
Consequentemente, os ambientes educativos devem:
ƒ
1
Ver Amaral et al., 2004:117.120
22
ser estimulantes;
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
reflectir os interesses e as necessidades dos alunos e das
suas famílias;
ƒ
respeitar os seus ritmos de aprendizagem;
ƒ
considerar o seu desenvolvimento futuro;
ƒ
proporcionar situações de aprendizagem, de modo a
motivá-los a aprender e a adquirir o máximo de
independência possível.
Ter
oportunidades
para interagir e
participar
Por
conseguinte,
é
essencial
proporcionar
oportunidades
sistemáticas para os alunos interagirem com os seus pares e
com os objectos, de modo a efectivarem a sua participação, e a
praticarem as competências que que vão desenvolvendo.
Organização da
intervenção
Em síntese ao organizar-se a intervenção para estes alunos é
inevitável responder a questões, como por exemplo:
ƒ
quais as actividades mais significativas para os alunos
actualmente e no futuro?
ƒ
quais os contextos naturais onde essas actividades
devem ser desenvolvidas?
ƒ
qual
o
nível
de
funcionalidade
dos
alunos
nas
actividades actuais?
ƒ
como organizar e desenvolver as actividades e quais as
estratégias mais eficazes a usar de modo a permitir que
os
alunos
participem
activamente
nelas
e
façam
aprendizagens contextualizadas?
ƒ
como interagir com os alunos nessas actividades?
ƒ
como
é
que
os
adultos
devem
funcionar
nessas
actividades?
ƒ
o que precisam os alunos de saber e o que é
significativo aprenderem?
ƒ
como criar oportunidades para que os alunos possam
participar em actividades com os seus pares sem
necessidades especiais?
ƒ
que adaptações são necessárias implementar para que
tal aconteça?
ƒ
como vamos avaliar o seu progresso na aprendizagem e
a sua evolução na independência.
23
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Estabelecer
prioridades
A resposta a estas questões permite estabelecer as prioridades
para cada aluno, atendendo às suas necessidades actuais e
futuras, o que implica, basicamente:
ƒ
saber quais são as actividades mais significativas para o
aluno e os contextos onde são desenvolvidas;
ƒ
definir as actividades a desenvolver e como vão ser
desenvolvidas;
ƒ
determinar o nível de participação dos alunos nessas
actividades e o que vão aprender.
Escolher as
actividades a
usar na
intervenção
A escolha das actividades para a intervenção constitui um
desafio para os responsáveis da organização e planificação das
respostas educativas. Estes devem assegurar que o tempo
despendido na educação dos alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita é utilizado para aumentar o seu nível
de funcionamento e de participação nas situações da vida diária,
nos diversos contextos, tendo em consideração os ambientes
que são significativos para eles (no presente e no futuro) e a
sua idade cronológica.
Seleccionar
diferentes tipos
de actividade
Considera-se
actividades
importante
que
seleccionar
proporcionem
diferentes
experiências
tipos
de
diversificadas,
novas, interessantes e assegurem também o envolvimento
activo destes alunos em actividades desenvolvidas em conjunto
com os seus pares sem NEE. Contudo, nem sempre é fácil
materializar esta indicação.
Fazer
inventários
ecológicos
Para estabelecer as prioridades para cada aluno, a literatura
indica que os profissionais têm recorrido ao uso de inventários
ecológicos, os quais implicam que a equipa faça um registo das
actividades mais significativas para os alunos nos diversos
contextos.
Usar
instrumentos
para registar as
actividades
Nesta perspectiva, pode ser útil a equipa utilizar instrumentos
de trabalho que permitam registar o tipo de actividades
actualmente desenvolvidas pelo aluno e as que consideram
benéficas para o seu desenvolvimento e compreensão do
24
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
mundo.
É
importante
que
esses
instrumentos
permitam
registar, ainda, onde essas actividades se inserem, de forma a
existir um equilíbrio entre diferentes esferas de actividades.
Segundo Tellevik e Elmerskog (2001) a existência deste
equilíbrio é importante para se poder ter uma qualidade de vida
satisfatória.
A título de exemplo apresenta-se um instrumento de registo
que permite à equipa ficar com uma imagem mais precisa do
tipo de experiências em que o aluno participa permitindo tomar
decisões adequadas quanto ao seu futuro.
Escolher
actividades e
experiências
Em síntese, na organização das respostas educativas e na
planificação da intervenção para o aluno com multideficiência e
com
surdocegueira
congénita
a
equipa
deve
escolher
actividades e experiências que:
ƒ
façam sentido para o aluno e sejam interessantes para
ele;
25
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
tenham em consideração as suas capacidades, o seu
nível de funcionamento e as suas necessidades actuais e
futuras;
ƒ
encorajem o aluno a participar activamente e a fazer
novas aprendizagens;
ƒ
estimulem a generalização dessas aprendizagens;
ƒ
envolvam o aluno em interacções sociais e com o
ambiente físico;
ƒ
tenham
em
atenção
as
ofertas
da
escola
e
da
comunidade;
ƒ
apresentem um equilíbrio entre as várias esferas de
actividade.
Definidas as actividades a usar na intervenção com o aluno é
importante determinar:
ƒ
em
que
contextos
essas
actividades
vão
ser
desenvolvidas e com quem;
ƒ
como é que essas actividades se vão desenrolar;
ƒ
qual o nível de participação do aluno em cada actividade;
ƒ
quais as adaptações que são necessárias implementar;
ƒ
quais as estratégias que os adultos devem utilizar para
que o aluno possa participar
o mais
activamente
possível;
ƒ
como é que o processo de comunicação entre o aluno e
as pessoas envolvidas na actividade se estabelece;
ƒ
o que se pretende que aprendam;
ƒ
a forma como vão ser avaliados os seus progressos e
evoluções.
Na sequência destas tomadas de decisão é importante registar
em documentos próprios estes aspectos, sugerindo-se que
esses
documentos
incluam
tópicos
relevantes
intervenção, como o exemplo que se segue.
26
para
a
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
A recolha destes dados permite à equipa:
ƒ
definir
as
actividades
mais
relevantes
a
usar
na
intervenção;
ƒ
determinar o nível de participação dos alunos nessas
actividades e os apoios necessários;
ƒ
seleccionar os contextos mais adequados para:
- ensinar competências básicas, como o ser capaz de
comunicar e de interagir socialmente;
- desenvolver competências funcionais relevantes para o
aluno.
ƒ
definir as estratégias e os materiais mais adequados a
usar;
Escolhidas as actividades a usar na intervenção considera-se
importante planificá-las descrevendo: quem vai intervir na
actividade; qual é a rotina da actividade; como é que o aluno
vai participar na actividade; quais são as adaptações que são
necessárias implementar; quais as estratégias que os adultos
terão de usar para ajudar o aluno a participar da forma mais
autónoma possível e como é que o processo comunicativo se vai
estabelecer entre o aluno e os outros intervenientes. Para o
efeito,
podem
nomeadamente
utilizar-se
o
instrumento
instrumentos
“Planificação
específicos
centrada
em
27
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
actividades naturais” elaborado pelo Centro de Recursos para a
Multideficiência (Amaral et al., 2004).
Planificação centrada em actividades naturais
CRM, Adaptado de “Considerations for Planning Routine Based Intervention” –
Project TaCTICS IN: Saramgo et al, 2004
Pode ser útil usar, ainda, outros instrumentos que permitam ter
uma visão global da intervenção definida para o aluno. Apesar
de terem finalidades diferentes os exemplos que seguidamente
se apresentam procuram cumprir este objectivo e designam-se
por “Matriz para a planificação da rotina diária” (auxilia na
planificação da rotina diária) e “Planificação semanal da
intervenção” (ajuda na planificação da semana).
28
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
O instrumento de trabalho “Planificação semanal das actividades
a desenvolver” serve para descrever as actividades que o aluno
desenvolve semanalmente, considerando as cinco esferas de
actividades. Consequentemente, permite à equipa ficar com
uma imagem mais completa sobre o tipo de actividades em que
o aluno se encontra envolvido no decorrer da semana e
perceber
se
existe
equilíbrio
em
termos
das
actividades
desenvolvidas, considerando as esferas de actividade.
29
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Envolver os
alunos em
diferentes
actividades
Considera-se importante planificar a semana de modo a
envolver os alunos em actividades pertencentes às diferentes
esferas de actividade. Julga-se, ainda, útil que as actividades
desenvolvidas pelo aluno diariamente se distribuam por duas ou
três esferas de actividade diferentes, para que exista um
equilíbrio nas experiências que vivencia.
Planificar a
semana e a
rotina diária
Concluído o preenchimento destes instrumentos de planificação
semanal e da rotina diária, a equipa deverá reflectir sobre os
dados que contém e verificar se:
ƒ
o aluno tem oportunidades para participar activamente
nas
actividades?
O
aluno
tem
experiências
diversificadas? As actividades são significativas para o
aluno ou é necessário definir outras que respondam
melhor às suas necessidades específicas? O tempo de
duração das actividades é adequado?
ƒ
as
actividades
proporcionam
oportunidades
de
aprendizagem? Há alguma competência relevante que
30
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
não tenha oportunidades suficientes para o aluno a
praticar?
ƒ
é possível fazer algo mais?
Na rotina diária, os alunos podem estar envolvidos em
actividades em que o principal objectivo é a sua participação
nessas actividades ou a vivência de situações em que para além
da
participação
aprendizagens
são
proporcionadas
específicas.
Nestas
oportunidades
últimas
de
situações
é
necessário determinar o que devem aprender e definir a forma
e o local onde devem aprender.
O que ensinar
a partir das
actividades
escolhidas
Quanto ao que se vai ensinar nessas actividades é preciso ter
em atenção:
ƒ
os contextos de vida onde se pretende que os alunos
façam as aprendizagens: casa, escola, comunidade, etc.;
ƒ
as necessidades e as prioridades definidas pela família;
ƒ
as necessidades e as capacidades dos alunos.
As decisões devem ainda ser individualizadas quanto ao tempo
despendido em cada contexto e em cada actividade (PASA,
s/d), sendo importante que as experiências destes alunos
evidenciem
um equilíbrio entre o tempo despendido em
actividades:
ƒ
que proporcionam aprendizagens funcionais;
ƒ
de participação realizadas com os pares com e sem NEE;
ƒ
que
conduzam
à
aquisição
e
desenvolvimento
de
competências sociais e comunitárias;
ƒ
socioculturais que se enquadram nos momentos de
lazer;
ƒ
educacionais que promovam o seu desenvolvimento e a
aprendizagem de conteúdos mais académicos.
(Gee, 2004)
Relativamente ao que se considera significativo estes alunos
aprenderem, na opinião de Giangreco e Doyle (2000) quanto
mais complexas são as limitações, mais difícil se torna tomar
decisões a este nível, tendo em atenção que os conteúdos de
31
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
aprendizagem
a
introduzir
devem
ser,
obviamente,
individualizados e significativos para o aluno.
Definir o que
ensinar em
cada
actividade e
as estratégias
a usar
Para planificar o que se considera importante ensinar aos alunos
com multideficiência e com surdocegueira congénita, numa
perspectiva
centrada
em
actividades
naturais2,
é
útil
os
profissionais definirem o que vão ensinar em cada actividade e
determinar o que é, ainda, necessário realizar para que os
alunos aprendam.
Usar
instrumentos
de
planificação
centrados em
actividades
A construção de instrumentos específicos por parte da equipa
para planificar estes aspectos ou a utilização de outros
existentes,
nomeadamente
o
instrumento
“Planificação
da
Intervenção” elaborado pelos profissionais do «Centro de
Recursos para a Multideficiência» (Amaral et al, 2004) podem
ajudar nesta tarefa.
Os
dois
exemplos
que
seguidamente
se
apresentam,
correspondem à utilização deste instrumento de planificação da
intervenção com duas crianças: uma com multideficiência de
três anos de idade (G./2006) e uma outra com acentuadas
limitações cognitivas e algumas limitações motoras de sete anos
de idade (R./2006). Estes exemplos procuram documentar
como uma intervenção centrada em actividades pode integrar o
que se considera essencial ensinar, considerando as orientações
curriculares para a educação pré-escolar e para o currículo do
ensino básico.
2
Ver o manual “Avaliação e Intervenção em Multideficiência”, Amaral et al, 2004
32
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
PLANIFICAÇÃO DA INTERVENÇÃO
Fonte: Centro de Recursos para a Multideficiência
33
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Fonte: Centro de Recursos para a Multideficiência
Na organização das respostas educativas pode ser igualmente
útil criar oportunidades para os alunos explorarem conteúdos
curriculares que coincidam com os dos seus colegas sem
necessidades educativas especiais. Naturalmente que esses
conteúdos devem basear-se no actual nível de funcionamento e
de participação dos alunos, nas suas características especificas
e nos seus interesses individuais, sendo preciso determinar as
modificações que são necessárias introduzir. Esta indicação
surge no sentido de que se devem criar oportunidades para que
estes alunos possam surpreender-nos com as suas capacidades.
No
desenvolvimento
de
actividades
de
aprendizagem
em
conjunto com os pares sem NEE, é pertinente colocar-se a
questão: como é que se pode articular o desenvolvimento de
conteúdos
curriculares
individualizados
com
os
conteúdos
propostos para os outros alunos? Para Giangreco e Doyle
34
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
(2000) esta indicação pode concretizar-se individualmente ou
simultaneamente, consoante as situações.
Currículo “multilevel”
A primeira é designada por currículo «multi-level» e implica que
os alunos com multideficiência ou com surdocegueira congénita
e os pares sem NEE participem conjuntamente numa mesma
actividade.
Porém
os
resultados
da
aprendizagem
são
adequados individualmente a vários níveis numa mesma área
curricular. Pode incluir variações nos tópicos dos conteúdos e ou
no nível dos resultados que se espera que os alunos alcancem.
Esta
alternativa
permite
trabalhar
para
resultados
de
aprendizagem individualizados dentro da mesma área curricular
proposta para os seus colegas.
Currículo
“overlapping”
A
segunda
alternativa
é
denominada
por
currículo
«overlapping» e acontece quando os alunos com e sem NEE
participam conjuntamente numa mesma actividade e os alunos
têm resultados de aprendizagem individualizados e adequados,
mas em duas ou mais áreas curriculares distintas. Esta
alternativa pode incluir outras áreas curriculares que não fazem
parte do currículo comum.
Construir
instrumentos de
trabalho para a
planificação e
intervenção
Quer se utilize uma ou outra alternativa, ou ambas, para ajudar
neste processo pode a equipa construir instrumentos de
trabalho que permitam planificar:
ƒ
as actividades a desenvolver com os alunos com e sem
NEE;
ƒ
os conteúdos do currículo comum a ensinar aos alunos
da turma/grupo onde o aluno com multideficiência ou
com surdocegueira congénita se encontra;
ƒ
o que vai ser ensinado especificamente ao aluno com
multideficiência ou com surdocegueira congénita;
ƒ
as modificações que vão ser necessárias introduzir para
que ele adquira as competências definidas;
ƒ
a descrição dos apoios necessários.
Para que a participação possa ser o mais activa possível (pode
corresponder apenas a uma participação parcial na actividade) e
35
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
se alcancem as competências estabelecidas pode ser necessário
usar estratégias específicas nomeadamente a análise de tarefas,
o encadeamento regressivo e progressivo, a modelação, etc.3.
Dada a especificidade dos alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita o tipo de apoio a dar varia muito de
aluno para aluno. Porém, a maioria necessita de ter apoios
específicos e intensos para mediar os contactos sociais e para
responder
às
suas
necessidades
comunicativas
e
de
movimentação, os quais devem ser muito bem planificados e
implementados, para que haja sucesso e participação activa nas
actividades. Além destes apoios, os alunos que apresentam
limitações
intervenção
visuais
de
ou
surdocegueira
recursos
exigem,
altamente
ainda,
a
especializados
nomeadamente profissionais de orientação e mobilidade e a
inclusão de áreas curriculares específicas (Jackson, 2005).
Profissionais
precisam de ter
conhecimentos
específicos
Todavia, manter o apoio adequado e qualificado por parte dos
profissionais que trabalham com estes alunos pode constituir,
em si mesmo, um grande desafio, dado que esses profissionais
precisam de ter conhecimentos teóricos específicos e de ter
tempo para se prepararem adequadamente, o que nem sempre
é fácil de concretizar.
Dada a especificidade dos alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita é essencial organizar as actividades em
que participam de forma a:
ƒ
criar oportunidades para poderem compreender melhor
o mundo onde se encontram;
ƒ
desenvolver competências específicas, nomeadamente
comunicativas e de orientação e mobilidade.
3
Ver Nunes, 2001:41-55
36
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
4.2 Focalizar o currículo na comunicação e na orientação
e mobilidade
Implementar
um currículo
flexível
O
currículo
dos
alunos
com
multideficiência
e
com
surdocegueira congénita deve ser suficientemente flexível e as
estratégias a utilizar devem ser seleccionadas de modo a
permitir responder às necessidades individuais de cada um e a
alargar, progressivamente, a sua participação em contextos de
vida cada vez mais diferenciados.
Assim, é importante organizar o seu currículo de forma a
possibilitar o aumento gradual de conhecimentos acerca deles
próprios e do mundo que os rodeia, partindo de aspectos
básicos relacionados com o seu corpo (figura 4). A organização
de um currículo em espiral, no geral e em cada área curricular
em particular, dá-lhes essa possibilidade.
Figura 4- Currículo em espiral
Conceitos a
ensinar
Os conceitos a ensinar devem ser significativos para cada aluno
e as competências a desenvolver devem ser funcionais e, na
maioria dos casos, em número relativamente limitado, pois
estes alunos necessitam de muitas experiências antes de
conseguirem generalizar o que aprenderam.
37
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Começando por conceitos relacionadas com os próprios alunos a
primeira tarefa consiste em desenvolver o sentimento de
segurança e de confiança no outro, para que possam criar
vínculos com as pessoas mais significativas e a partir daí
adquirir e desenvolver outras competências. Com base numa
perspectiva de currículo em espiral, a figura 5 descreve
sugestões de competências básicas importantes a desenvolver
nestes alunos.
Figura 5- Competências básicas a desenvolver
Criar
vínculos
Como se pode observar na Fig. 5, no círculo mais próximo do
centro,
devem
ser
as
competências
mais
básicas
(nomeadamente confiar no outro; criar vínculos com o outro;
prestar atenção aos outros; responder às interacções; alterar o
que se passa à sua volta; prestar atenção aos objectos; pegar a
vez; perceber noções de permanência do objecto e de causaefeito; etc.). Progressivamente o mundo vai-se alargando a
38
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
outros contextos e situações, o que conduz a um maior
conhecimento do mundo e consequentemente à aquisição e
desenvolvimento de competências cada vez mais complexas nas
diferentes áreas de conhecimento.
A participação activa em actividades realizadas em contextos
reais e significativos, em situações que façam naturalmente
parte da vida destes alunos (actividades naturais e funcionais)
como se referiu no ponto 4.1, facilita a aquisição destas
competências, passando a fazer sentido para eles.
Incluir no
currículo
várias áreas
Em síntese, é importante que a organização do currículo para
estes alunos contemple o desenvolvimento de competências
referentes a diferentes áreas curriculares:
ƒ
comunicação;
ƒ
orientação e mobilidade - O&M - (no caso dos alunos
com
surdocegueira
ou
com
multideficiência
que
apresentam baixa visão ou cegueira -MDVI);
ƒ
desenvolvimento
relacionadas
com
pessoal
a
e
social:
autonomia
actividades
pessoal
(higiene,
alimentação, vestir e despir) e com a vida doméstica;
ƒ
compreensão do meio que o rodeia e a sua relação com
o mesmo;
ƒ
Áreas
centrais do
currículo
académica: leitura, matemática, expressões, etc.
Do conjunto das áreas curriculares existem algumas que podem
ser
consideradas
complementares,
enquanto
outras
são
centrais, nomeadamente as áreas da Comunicação e da
Orientação e Mobilidade.
Considera-se que desenvolver competências nestas duas áreas
curriculares é determinante para que estes alunos possam:
ƒ
interagir com os objectos e as pessoas;
ƒ
ter acesso a informação significativa;
ƒ
realizar aprendizagens significativas;
ƒ
compreender melhor o mundo que os rodeia;
39
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
desenvolver-se globalmente.
ƒ
ƒ Comunicação:
Comunicaçãoárea central
no currículo
A comunicação deve ser a área central do currículo dos alunos
com multideficiência e com surdocegueira congénita, pois só
através da comunicação e da interacção social com o ambiente
que
os
rodeia
poderão
ter
acesso
à
informação
e
à
aprendizagem.
Como diz Serpa (2003) ser capaz de comunicar com sucesso:
ƒ
contribui para a melhoria da auto-estima;
ƒ
aumenta as possibilidades de participar activamente
em experiências significativas;
ƒ
possibilita
a
satisfação
das
necessidades
físicas,
emocionais e sociais;
ƒ
apoia a aquisição de conhecimentos.
É, portanto, imprescindível dar uma maior ênfase à área
curricular da comunicação, proporcionando ambientes ricos em
comunicação com condições para que os alunos desenvolvam
competências comunicativas básicas, nomeadamente, serem
capazes de:
ƒ
prestar atenção a pessoas e a objectos existentes nos
contextos;
ƒ
alterar o que se passa à sua volta;
ƒ
comunicar intencionalmente;
ƒ
perceber as rotinas e, quando possível, serem capazes
de as alterar;
ƒ
antecipar acontecimentos;
ƒ
estabelecer a atenção conjunta;
ƒ
pegar a vez nas interacções sociais, com turnos cada
vez mais prolongados;
ƒ
interagir com vários parceiros em contextos variados;
ƒ
iniciar, manter e terminar interacções comunicativas
subordinadas
diversificados;
40
a
tópicos
progressivamente
mais
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
mostrar preferências e fazer escolhas;
ƒ
expressar-se usando formas de comunicação variadas
(não simbólicas e/ou, sempre que possível, simbólicas);
ƒ
usar símbolos e/ou tecnologias de apoio à comunicação
para se expressarem;
ƒ
comunicar por diferentes razões: para indicar as suas
necessidades básicas, os seus sentimentos, os seus
desejos, os seus interesses, para indicar rejeições, para
comentar; para fazer pedidos diversos, para regular o
comportamento dos outros, para interagir, etc.
Criar
ambientes
confortáveis e
seguros
Para desenvolverem as competências anteriormente referidas e
outras, é extremamente importante envolver os alunos em
ambientes onde estes tenham oportunidade para criarem
vínculos e laços afectivos com o outro. Este facto implica que o
adulto:
ƒ
identifique os seus comportamentos potencialmente
comunicativos;
ƒ
interprete o significado desses comportamentos;
ƒ
responda contingentemente.
Dessa forma os alunos sentem-se mais confortáveis e seguros,
o que possibilita:
ƒ
estabelecer uma relação de confiança com os adultos;
ƒ
desenvolver vínculos afectivos.
O sentimento de segurança e de confiança na(s) pessoa(s) com
quem
interage(m)
ajuda
os
alunos
a
sentirem-se
mais
motivados para interagir com o meio ambiente (pessoas e
objectos) e as interacções com “o mundo social” desenvolvemse facilitando a motivação para a participação em novas
situações, o que, habitualmente, é difícil.
A introdução de uma nova experiência implica:
ƒ
o estabelecimento de uma comunicação eficaz com os
alunos, que os ajude a compreender os passos/tarefas
dessa actividade e o que se espera deles nessas
situações;
41
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
a movimentação e a interacção com pessoas e objectos
nos
ambientes
naturais
em
que
decorrem
essas
experiências.
Estabelecer uma
comunicação
eficaz
Para se estabelecer uma comunicação eficaz com estes alunos é
importante:
ƒ
usar uma abordagem conversacional, em que ambos os
interlocutores (adulto e aluno) têm oportunidade de
intervir;
ƒ
utilizar
formas
de
comunicação
adequadas
à
capacidade de simbolização e de compreensão do
aluno;
ƒ
desenvolver oportunidades de desempenho de funções
comunicativas
diversificadas
(regulação
dos
comportamentos, interacção social, comentar, etc.).
Abordagem conversacional4:
A conversação é definida por Hagood (s/d:1) como sendo “um
diálogo entre dois parceiros, consistindo na existência de
múltiplos turnos equilibrados entre os parceiros”.
Para que a conversação integre interacções equilibradas é
preciso encorajar os alunos a responderem e a “pegar a vez” na
interacção, devendo acontecer no desenvolvimento das rotinas
e das actividades naturais, de modo a expandir a frequência da
comunicação e das suas funções (Moss, 1995).
Inicialmente estas interacções:
ƒ
incluem pequenos turnos entre os parceiros quando
estão envolvidos em acções com ou sem objectos;
ƒ
seguem os interesses do aluno partilhando a atenção
conjunta sobre objectos;
ƒ
desenvolvem-se
em
ambientes
onde
ambos
os
parceiros sintam prazer durante o tempo em que estão
juntos;
4
Ver Saramago et al, 2004:165-174
42
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
resultam de descrições, de pedidos de informação
ƒ
sobre os tópicos partilhados e de comentários.
Hagood (s/d:1) refere que a conversação difere dos outros tipos
de interacções comunicativas porque:
centra-se na partilha de um tópico e não tanto na
comunicação de necessidades específicas.
O que é
preciso para
conversar
Para se conversar é preciso ter algo para dizer, os alunos têm
de ter temas e interesses para dividir com os parceiros (Serpa,
2003), sendo que, se não existirem tópicos para partilhar é
mais difícil conversar com alguém. Para que estes alunos
possam ter assuntos sobre o que conversar precisam de viver
experiências significativas, que incentivem a sua curiosidade e a
partilha de informação.
O sucesso deste tipo de interacções depende, também, do
respeito pelo tempo de resposta do aluno, o qual pode ser
lento. Portanto, fazer pausas na interacção, dando-lhes tempo
para que processem a informação e para que respondam tornase essencial para o desenvolvimento desta competência.
Outro aspecto extremamente importante a considerar são as
formas de comunicação usadas por ambos os parceiros. Para a
maioria das pessoas conversar com alguém implica usar
palavras ou gestos. No entanto, também se pode conversar
utilizando
outras
formas
de
comunicação,
nomeadamente
acções, objectos, expressões faciais, movimentos, imagens, etc.
Este é um aspecto relevante dado que a maioria dos alunos com
multideficiência e com surdocegueira congénita não usa a fala
para comunicar. Para que seja possível estabelecer uma
conversa
com
estes
alunos
é
essencial
usar
formas
de
comunicação adequadas ao seu nível de compreensão e de
simbolização.
Formas de comunicação:
A maioria dos alunos com multideficiência utiliza formas de
comunicação
não
formas
comunicação
de
verbal
para
não
comunicar,
nomeadamente
simbólica,
especialmente
43
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
vocalizações; expressões faciais; olhar para os objectos; locais
ou pessoas; gestos naturais; movimentos generalizados do
tonús muscular; toque; etc. as quais podem ser mais ou menos
subtis.
Torna-se
essencial
perceber
quais
são
as
formas
de
comunicação que estes alunos usam para receber a informação
(comunicação receptiva) e para se expressar (comunicação
expressiva),
as
quais
podem
corresponder
a
níveis
de
simbolização diferentes.
É
necessário
ter
informações
acerca
das
capacidades
comunicativas dos alunos, designadamente saber quais são as
formas
de
comunicação
mais
adequadas
para
apoiar
as
interacções, identificando as formas de comunicação usadas, e
as razões que os levam a comunicar, sobretudo, durante as
actividades da vida real realizadas nos diversos contextos
(Chen, 1999,a).
Canais de
aprendizagem
disponíveis
Para se conhecer as capacidades dos alunos é importante
perceber quais são os canais de aprendizagem que estes têm
disponíveis para receber a informação do ambiente que os
envolve (visão, audição, tacto, olfacto, etc.). Torna-se então
necessário a realização de uma avaliação das suas capacidades5
e o uso dessa informação nas interacções que se estabelecem
com os alunos. Na maioria das vezes, é útil usar pistas de
informação6 adequadas ao nível de compreensão dos alunos,
permitindo-lhes antecipar o que vão fazer e responder às
interacções que acontecem no decorrer das rotinas significativas
(ao longo do dia e em cada actividade que realizam7).
É importante ter ainda em atenção as formas de comunicação
que os alunos usam para se expressarem (comunicação
expressiva).
5
confrontar com Nunes, 2001: 86-110 e Saramago et al, 2004:
pistas tácteis, pistas de objecto, pistas de imagem, pistas gestuais, etc. (ver Saramago et al, 2004:132-144 e Nunes,
2001:87-96)
7
ver Saramago et al, 2004: 121-124
6
44
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Sempre que as capacidades dos alunos o permitam considerase vital:
ƒ
implementar estratégias que os ajudem a usar formas
de
comunicação
cada
vez
mais
simbólicas
para
expressarem as suas necessidades básicas e para
interagirem com os outros, em contextos cada vez mais
diversificados;
ƒ
ensinar os alunos que uma coisa pode ser representada
por outra. O uso de objectos de referência8 e de gestos
simples pode acompanhar a introdução da palavra ou
do gesto da língua gestual (no caso dos alunos com
surdocegueira congénita) e servem como símbolos que
representam eventos, actividades, pessoas, etc.
Funções comunicativas:
É essencial ajudar os alunos a comunicarem por razões cada
vez mais diversificadas, nomeadamente para:
ƒ
manifestar sentimentos;
ƒ
formular pedidos: pedir para parar ou para iniciar algo,
pedir objectos ou acções, pedir a realização de rotinas
sociais, pedir afecto, pedir a atenção de alguém sobre
si, etc.;
ƒ
protestar, recusar;
ƒ
interagir socialmente;
ƒ
fazer escolhas;
ƒ
chamar a atenção de alguém para algo através de um
comentário
sobre
objectos,
eventos,
acções
ou
informações;
ƒ
fazer declarações / comentários.
Na generalidade das situações para ajudar os alunos a
desenvolverem as competências comunicativas analisadas é
essencial:
ƒ
usar
uma
educação
individualizada
o
mais
cedo
possível;
8
ver Amaral et al, 2004: 145-164
45
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
aproveitar
as
actividades
reais
realizadas
nos
ambientes naturais e nas rotinas diárias;
ƒ
assegurar que os alunos têm parceiros que respondem
contingentemente aos seus comportamentos;
ƒ
criar necessidade para os alunos comunicarem;
ƒ
oferecer oportunidades de escolha;
ƒ
proporcionar múltiplas oportunidades para os alunos
praticarem as suas competências comunicativas;
ƒ
reconhecer outras razões para comunicar que não
apenas para fazer pedidos e para responder;
ƒ
criar
ambientes
físicos
e
sociais
facilitadores
do
desenvolvimento de competências comunicativas.
ƒ Orientação e Mobilidade (O&M)
Esta é também uma área curricular central no currículo dos
alunos
com
multideficiência
que
apresentam
acentuadas
limitações visuais (baixa visão ou cegueira) e dos que são
surdocegos congénitos.
A importância do movimento:
Importância
do movimento
na
aprendizagem
A capacidade para se movimentar de forma independente no
espaço é uma competência que a generalidade das pessoas
toma como segura, no entanto, no caso destes alunos isso não
acontece9. Estes alunos precisam de ter experiências que os
ajudem a desenvolver competências nesta área. A participação
activa nessas experiências é de extrema importância dado que
o movimento:
•
é uma capacidade essencial à aprendizagem;
•
permite integrar e ancorar as informações recebidas
nas redes neuronais existentes10.
Sempre que nos movimentamos de uma forma organizada, todo
o cérebro é activado, a integração da informação acontece e a
porta da aprendizagem abre-se.
9
10
Ver Nunes, 2001:159
(DISH, s/d)
46
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
A aprendizagem implica acção. As crianças aprendem por se
envolverem em actividades que implicam movimento e a
exploração dos ambientes.
Como
dizem
Miles
e
Riggio
(1999)
as
crianças
fazem
aprendizagens à medida que se movimentam no mundo e
interagem com os objectos e com as pessoas nele existentes.
As
experiências
que
aí
vivenciam
permitem
desenvolver
capacidades motoras e conceitos sobre o seu próprio corpo,
ajudando-as a:
•
compreender o mundo físico;
•
fazer aprendizagens acerca do modo como as pessoas
e os objectos se relacionam;
•
compreender o mundo onde se encontram;
•
desenvolver a curiosidade.
Através do movimento e da interacção com pessoas e objectos
as crianças obtêm ainda a base para o desenvolvimento da
comunicação, da linguagem e das regras sociais.
As cores e os sons dos objectos e das pessoas motivam as
crianças a movimentarem-se, a aventurarem-se no espaço e a
fazerem
descobertas.
reconhecem
informações
e
Nessas
interpretam
sensoriais.
uma
Essas
experiências
quantidade
informações
recolhem,
enorme
de
permitem
movimentarem-se com segurança e com finalidades específicas.
Papel da visão e
da audição
Para a maioria das crianças são os sentidos da visão e da
audição os principais motivadores para se movimentarem.
Segundo Gense e Gense (2004:1)
“o movimento constitui uma oportunidade para as
crianças recolherem informações sensoriais, para
comunicarem e para fazerem escolhas”.
As
crianças
aprendem
a
movimentar-se,
nomeadamente
gatinhar e andar, motivadas pelo desejo de alcançar algo que
estão a ver, mas que não conseguem tocar. A aquisição de
competências nesta área ajuda-as a desenvolver, também, as
47
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
competências comunicativas: tornam-se mais conversadoras,
protestam,
fazem
pedidos
aumentam
as
ambientes
desenvolvem
suas
e
perguntas.
capacidades
igualmente
de
as
À
medida
que
movimentação
nos
suas
capacidades
comunicativas e as relações sociais (Miles e Riggio, 1999).
O movimento e os alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita:
Precisam de ajuda
de profissionais
Dadas as características únicas dos alunos com multideficiência
com baixa visão ou cegueira e dos alunos com surdocegueira
congénita, alguns sentem-se inseguros e/ou com receio quando
se movimentam nos ambientes, uma vez que não conseguem
ver e/ou ouvir claramente. A falta de informação sensorial
impede-os de perceber a existência dos estímulos envolventes,
inibe a sua curiosidade natural e cria dificuldades no processo
natural de aprendizagem. As dificuldades na movimentação
afectam, ainda, a forma como percebem e organizam o mundo,
interferindo no desenvolvimento de conceitos básicos (NYSTAP,
s/d).
Para se desenvolverem é essencial terem oportunidades de
aprendizagem e de participação em actividades interessantes,
realizadas em ambientes que facilitem o movimento com
finalidades específicas e que as ajudem a explorar o mundo.
Precisam, para isso, de ajuda de profissionais que os motivem a
movimentarem-se
e
criem
oportunidades
para
viverem
experiências significativas.
Conceitos de Orientação e de Mobilidade (O&M):
Conceito de
Orientação
Para Griffin-Shirley e Kelley (2006), Gense e Gense (2004) e
Martinez (1998) a orientação:
ƒ
envolve o uso da informação sensorial para ajudar a
perceber qual é a nossa posição no espaço;
ƒ
ajuda a ter consciência do local onde estamos e a saber
para onde vamos;
48
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
implica pensar e planear estratégias para conseguirmos
chegar ao destino;
ƒ
ajuda a compreender e a resolver os problemas que
podem surgir quando nos movimentamos no ambiente.
Conceito de
Mobilidade
e a mobilidade envolve a movimentação de um local para
outro de forma segura e implica:
ƒ
compreender que somos um ser separado das coisas
que nos cercam;
ajuda a ter consciência do esquema corporal;
ƒ
ƒ
conhecer o local onde as coisas se encontram no
espaço;
ƒ
saber para onde se quer ir, para se movimentar no
espaço;
ƒ
ser capaz de se movimentar com segurança.
Segundo Martinez (1998) os profissionais de O&M ensinam os
indivíduos a deslocarem-se o mais independentemente possível
e com segurança, em ambientes familiares e também em
ambientes desconhecidos. Este ensino inclui, por vezes, o uso
de tecnologias de apoio para a mobilidade, designadamente o
andarilho, a cadeira de rodas e a bengala.
A
O&M
e
os
alunos
com
multideficiência
e
com
surdocegueira congénita:
A O&M e os alunos
com multideficiência
e com surdo-cegueira congénita
Na opinião de Gense e Gense (2004) o ensino de competências
na área da Orientação e Mobilidade (O&M) ajuda as crianças
com multideficiência e baixa visão ou cegueira e as que
apresentam surdocegueira a:
ƒ
usarem adequadamente as informações sensoriais que
recebem do ambiente;
ƒ
compreenderem melhor os ambientes em que se
encontram;
49
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
sentirem-se mais motivadas para se movimentarem
ƒ
nos ambientes;
O que se pode
ensinar nesta área
curricular
ƒ
sentirem-se mais seguras;
ƒ
serem mais independentes.
Para o NYSTAP (s/d) a inclusão da área de O&M no currículo
destes alunos é de extrema importância porque, de uma forma
sistemática:
ensina-os a orientarem-se e a movimentarem-se com
ƒ
finalidade e de forma tão independente quanto as suas
capacidades o permitem;
cria oportunidades para compreenderem melhor os
ƒ
ambientes onde se encontram, sendo relevante para o
seu desenvolvimento futuro, para a sua independência
e sucesso.
De sublinhar ainda, que ao implementar um programa de
intervenção
nesta
área
desenvolvem-se,
simultaneamente,
competências comunicativas, motoras, sensoriais e cognitivas,
especialmente
no
que
se
refere
ao
desenvolvimento
de
conceitos.
Para isso, é essencial prestar atenção não só ao espaço físico
imediato que rodeia estes alunos, mas também ao espaço mais
alargado para que sintam vontade e curiosidade pela descoberta
do que os envolve.
Agindo sobre os objectos e as pessoas nos ambientes onde
vivem, os alunos integram as experiências que vivenciam
sequencializadas no tempo e no espaço, o que os
ajuda a
compreender melhor o mundo.
Para
o
NYSTAP
competências
que
(s/d)
as
a
maioria
crianças
sem
dos
conceitos
problemas
e
das
adquirem,
acontece de uma forma incidental, o mesmo não sucede com as
que apresentam multideficiência e surdocegueira congénita. A
inclusão da área de O&M no currículo destas crianças cria
50
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
oportunidades
Participação em
experiências
significativas
para
que
possam
aprender
muitos
desses
conceitos e desenvolver competências específicas.
Através
da
participação
destes
alunos
em
experiências
diversificadas nos ambientes em que se encontram, é possível
integrar no seu currículo o desenvolvimento de conceitos e
competências
relacionados
com
o
desenvolvimento
motor
(deslocação), mas também conceitos e competências ligadas a
outros domínios do seu desenvolvimento, nomeadamente o
cognitivo (conceitos de: permanência do objecto, causa-efeito e
posição e relações no espaços) e o sensorial (ensinar o aluno a
deslocar-se
utilizando
técnicas
específicas11
aumenta
a
quantidade de informação sensorial que recebe e ensina-o a
usar
os
resíduos
sensoriais
de
uma
forma
funcional
e
significativa).
Contactar
fisicamente com
os materiais
O contacto físico com os materiais existentes nos ambientes cria
oportunidades para desenvolverem conceitos pois os alunos
aprendem através da acção. Os contactos com o meio físico
permitem-lhes aprender conceitos que se relacionam com o
meio físico imediato, tornando-os concretos e naturalmente
funcionais. O desenvolvimento de conceitos relacionados com o
corpo, o espaço, o ambiente e as relações no espaço são
exemplos que se podem citar12. A existência de repetições
facilita estas aprendizagens.
Desenvolver
competências
comunicativas
A participação dos alunos em experiências significativas e
diversificadas facilita ainda o desenvolvimento de competências
comunicativas: há mais tópicos sobre que falar, mais razões
para comunicar e um leque maior de escolhas para fazer em
ambientes variados. Através do movimento os alunos têm
oportunidade de mostrarem as suas preferências, aumentando,
por conseguinte, as oportunidades de escolha e de controlo dos
ambientes.
11
12
Ver Nunes, 2001:169-171
Ver Nunes, 2001:173-175
51
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Conceitos a ensinar e competências a desenvolver:
Os conceitos a
ensinar dependem
das capacidades
dos alunos e das
suas necessidades
Para Gense e Gense (2004) o que se vai ensinar a estes alunos
nesta área curricular depende muito das suas capacidades e das
suas necessidades, pelo que os conteúdos curriculares devem
ser individualizados. Para alguns pode ser razoável e desejável
ensiná-los a movimentarem-se de forma independente nos
ambientes interiores e exteriores assim como a compreendêlos.
A independência pode consistir no uso de uma bengala quando
atravessam uma rua ou se deslocam nos transportes públicos.
Para
outros
será
desenvolvimento
necessário,
de
um
competências
maior
que
enfoque
lhes
no
permita
movimentarem-se dentro do espaço escolar e familiar.
No caso dos alunos que apresentam limitações neuromotoras
graves, como acontece com muitos alunos com multideficiência,
é essencial desenvolver competências mais básicas. Aumentar a
independência
destes
alunos
pode
significar
ajudá-los
a
perceber melhor as informações sensoriais que recebem do
meio ambiente assim como a deslocarem-se com a cadeira de
rodas.
Começar o mais
cedo possível
Não existe uma idade específica para se começar a desenvolver
competências nesta área curricular, sendo importante começar
o mais cedo possível.
Para Simmons (1999) e Martinez (1998) nas primeiras idades a
principal
preocupação
deve
relacionar-se
com
o
desenvolvimento de conceitos e de competências que permitam
às crianças:
ƒ
participar activamente nas actividades e nos eventos;
ƒ
compreender os espaços onde se encontram;
ƒ
desenvolver capacidades para se deslocarem nesses
espaços;
52
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
ƒ
interagir com as pessoas e os objectos existentes
nesses espaços.
Em termos concretos Martinez (1998) menciona ser importante
desenvolver conceitos e competências relacionadas com:
ƒ
a consciência sensorial – usar e receber informação
sensorial através dos órgãos sensoriais disponíveis,
nomeadamente o tacto, a visão, a audição, o cheiro e a
propriocepção, para compreender o mundo e interagir
com ele;
ƒ
a consciência do seu corpo – quem é e como se
relaciona com as pessoas e os objectos nos ambientes;
ƒ
os conceitos espaciais – perceber que os objectos e as
pessoas existem mesmo quando não se vêm, ouvem ou
sentem e compreender as relações existentes entre os
objectos e as pessoas;
ƒ
a movimentação independente, qualquer que seja a
forma utilizada;
ƒ
a procura dos objectos no espaço de forma eficiente;
ƒ
o
uso
de
técnicas
específicas
de
orientação
e
mobilidade.
Consciência sensorial:
Desenvolver
competências a
nível da
consciência
sensorial
É indispensável desenvolver competências ligadas à consciência
sensorial, uma vez que os sentidos são necessários para
efectuar deslocações em segurança e para se encontrar os
objectos e as pessoas existentes nos ambientes. Os alunos
precisam de aprender a interpretar a informação sensorial que
recebem, nomeadamente os sons, os cheiros e as texturas que
experienciam ajudam-nos a compreender os locais onde se
encontram e podem ser usados como marcas ou como pontos
de referência para a deslocação (Gense e Gense, 2004).
Os sons
Considera-se importante referir que os sons quando não são
cruzados com a informação visual podem tornar-se confusos,
53
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
pelo que é necessário ter em atenção este aspecto. Os alunos
que têm capacidades auditivas precisam de ajuda para aprender
a usar essas capacidades e para interpretar o que ouvem.
Aprender a localizar sons e a usar as pistas sonoras é
importante para a orientação e deslocação com segurança.
O tacto
Quanto ao uso do tacto, este é de extrema importância
nomeadamente para os alunos com surdocegueira congénita,
uma vez que é primordial para a percepção do que se passa à
sua volta. Contudo, Martinez (1998) refere que algumas
crianças podem tornar-se resistentes a usar o tacto para
interagir com as pessoas e os objectos do ambiente se
percepcionarem as coisas como algo que, de alguma forma, as
pode magoar.
O cheiro
Relativamente
ao
cheiro,
este
pode
fornecer
informação
sensorial relevante para uma melhor compreensão, por parte
destes alunos dos locais onde se encontram. Os cheiros podem
ser usados como marcas de referência para que os alunos
tenham consciência dos ambientes onde estão.
Resumindo, é necessário os alunos participarem em actividades
que lhes permitam usar os órgãos dos sentidos disponíveis e
aprender a interpretar a informação que recebem por essas
vias.
Conceitos espaciais:
Conceitos
espaciais
Muitos dos conceitos espaciais habitualmente aprendidos de
forma incidental através da participação em experiências e do
uso da visão não são aprendidos dessa forma pelos alunos com
multideficiência e com surdocegueira congénita. Estes alunos
precisam de participar em actividades e em experiências que
Ter consciência e
conhecimento do
seu corpo
possibilitem o desenvolvimento de conceitos relacionados com o
conhecimento do seu corpo (e a compreensão de que o seu
corpo
é
constituído
por
diferentes
partes)
movimentação no espaço (Gense e Gense, 2004).
54
e
com
a
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Estes alunos, necessitam ainda de desenvolver conceitos sobre
as relações espaciais que os ajudem a perceber a posição do
seu corpo no espaço, a relação perante os objectos e as pessoas
e a consciência do espaço existente entre os objectos. Envolve
igualmente conceitos sobre a compreensão e conhecimento dos
ambientes (Martinez, 1998 e Tanni, 2003). O desenvolvimento
de conceitos espaciais exige que os alunos tenham consciência
do seu próprio corpo.
Movimentação independente:
Movimentar-se de
forma
independente
É essencial ajudar os alunos a deslocarem-se da forma mais
independente possível, ajudando-os a movimentarem-se nos
ambientes, consoante as suas capacidades. Para alguns pode
envolver o ensino de competências ligadas ao uso da bengala
ou da cadeira de rodas, para outros o serem capazes de
colaborarem na mudança de posicionamento, para outros
conseguirem controlar a velocidade a que se deslocam com o
andarilho.
Técnicas específicas de orientação e mobilidade:
Técnicas para
se deslocar e
movimentar
Existem técnicas específicas de mobilidade para ajudar os
alunos a deslocarem-se nos ambientes, nomeadamente:
ƒ
técnicas de deslocação com guia (envolve o andar com
outra pessoa como guia)13;
ƒ
técnicas de protecção (permite ao aluno deslocar-se
independentemente
de
forma
segura
em
espaços
familiares e localizar objectos enquanto protege o seu
corpo);
ƒ
técnicas de “deslize”14 (permite ao aluno manter o
alinhamento, ter alguma protecção enquanto se desloca
e recolher alguma informação sobre o ambiente);
ƒ
técnicas
relativas
ao
uso
de
equipamentos
de
mobilidade, que servem de extensão dos braços, mãos
13
14
Ver Nunes, 2001:169-170
Ver Nunes, 2001:169
55
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
e dedos do aluno e protegem-nos dos obstáculos
existentes nos ambientes. O equipamento mais usado é
a bengala, podendo haver adaptações específicas para
os alunos com multideficiência e com surdocegueira
congénita15.
(Gense e Gense, 2004)
Relativamente ao uso destas técnicas é de salientar que a
tomada
de
adequada(s)
decisão
a
sobre
usar
qual(ais)
com
a(s)
determinado
técnica(s)
aluno
mais
é
da
responsabilidade dos técnicos de Orientação e Mobilidade,
sendo importante consultar esses especialistas, para informação
adicional.
Em resumo, para desenvolver os conceitos e as competências
descritas
os
alunos
necessitam
de
oportunidades,
de
encorajamento e de reforços positivos, de forma a motivá-los a
movimentarem-se
nos
ambientes
consoante
as
suas
potencialidades.
Necessidades
básicas
Embora os conceitos e as competências de orientação e de
mobilidade dependam das capacidades e necessidades dos
alunos, considera-se que estes partilham algumas necessidades
básicas que podem orientar a intervenção. Para Perla e Ducret
(s/d) todos eles têm necessidade de:
15
Ver Nunes, 2001:171
56
ƒ
sentir segurança;
ƒ
comunicarem;
ƒ
controlarem os ambientes onde se encontram;
ƒ
contactarem com o ambiente físico;
ƒ
terem algum tipo de movimento independente;
ƒ
terem ambientes consistentes e com rotinas;
ƒ
deslocarem-se com objectivos definidos.
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Necessidade de sentir segurança:
Sentir segurança
para explorar os
ambientes
Para quem tem dificuldade em ver e em ouvir, explorar o
desconhecido pode ser bastante assustador. Só com confiança e
com segurança no outro e no ambiente físico sentirão vontade
para interagir com o mundo à sua volta.
A intervenção deve começar nos contextos familiares, prestar
atenção à iluminação existente, aos ruídos do ambiente, à
temperatura, etc. Para alguns alunos pode ser necessário o
adulto funcionar como uma ponte entre eles e os objectos
existentes nos contextos. Usando as mãos e o corpo do adulto
como intermediários16, os alunos podem tocar e interagir com
os objectos, sentindo-se desta forma mais seguros e protegidos.
Necessidade de comunicar:
Oportunidade
para
comunicar
Segundo o NYSTAP (s/d) a O&M constitui uma boa oportunidade
para desenvolver competências comunicativas, uma vez que
proporciona experiências concretas nos ambientes naturais,
sendo necessário encontrar formas de comunicar com o aluno
adequadas a cada um, atendendo às suas capacidades.
Profissionais
sentem
dificuldades em
comunicar com os
alunos
Os profissionais podem sentir dificuldade na comunicação com
estes alunos, uma vez que a maioria não utiliza a fala para
comunicar, nem sistemas de comunicação tradicionais, mas sim
formas de comunicação não verbal. Estas características tornam
difícil perceber as formas de comunicação que utilizam para
expressar as suas necessidades, sentimentos e vontades. No
entanto, todos eles sentem necessidade de comunicar, pelo que
é imprescindível perceber como comunicam para poder interagir
e comunicar com eles.
16
através do uso da estratégia mão sob mão (ver Nunes, 2001:37)
57
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Necessidade de controlo:
Controlar o que se
passa à sua volta
A generalidade destes alunos depende de outros para satisfazer
as suas necessidades básicas de deslocação. São transportados
para os espaços onde é necessário sem que seja solicitada a
sua
participação
ou
compreensão
do
que
aconteceu.
A
deslocação acontece, frequentemente, como se de um passo de
magia se tratasse.
Na opinião do NYSTAP (s/d) a criação de oportunidades para os
alunos colocarem questões e tomarem decisões permite que
estes participem activamente nas actividades e cometam erros.
Desta forma podem sentir a responsabilidade de chegarem com
sucesso
ao
seu
destino,
ou,
pelo
contrário,
viverem
a
experiência de estarem “perdidos” e aprenderem a resolver
esse problema.
Necessidade de contactarem com o ambiente físico:
Manter contacto com o ambiente físico ajuda os alunos a
sentirem
segurança,
a
saber
onde
se
encontram
e
a
desenvolverem conceitos. Por exemplo, a aprendizagem da
técnica de deslize pode ser adaptada para que os alunos
possam tocar nos espaços e nos objectos que os cercam, à
medida que se deslocam. Quando têm dificuldade em tocar com
o seu corpo directamente nesses espaços e nos objectos pode
usar-se um objecto intermediário que os ajude a sentir as
portas, as esquinas e os outros pontos de referência existentes
no ambiente.
Necessidade
de
adquirirem
algum
tipo
de
movimento
independente
Mesmo os alunos que não conseguem andar apresentam, na
generalidade, capacidades para conseguir executar alguns
movimentos de forma independente. Segundo o NYSTAP (s/d) o
chão é sempre um bom contexto para começar, pois permite
58
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
que
os
alunos
sintam
diferentes
texturas
e
o
próprio
movimento.
Conhecer as
preferências dos
alunos
Na intervenção com estes alunos é importante conhecer as suas
preferências em termos de actividades, de objectos e de
contextos por forma a integrar esses aspectos na intervenção,
como factores motivadores para o movimento. Inicialmente
pode ser necessário manter distâncias curtas, dar o apoio
desejável,
usar
tecnologias
de
apoio
para
a
mobilidade.
Progressivamente as ajudas devem diminuir, no sentido de se
tornarem o mais autónomos possível nas suas deslocações
(Perla e Ducret, s/d).
Necessidade de consistência e de rotina
Criar ambientes
previsíveis e
organizados
Os alunos com multideficiência e com surdocegueira aprendem
melhor em ambientes organizados e previsíveis, pelo que a
organização
do
ambiente
físico
deve
ser
relativamente
constante e ter áreas específicas que servem para realizar
determinadas actividades. A organização do ambiente ajuda os
alunos a construírem a ideia de que os locais onde se
movimentam têm funções específicas (NYSTAP, s/d).
Trabalho em
equipa
Outro
aspecto
importante
a
referir,
relaciona-se
com
o
desenvolvimento de um trabalho colaborativo na equipa. Só
havendo colaboração entre todos os profissionais da equipa é
possível estabelecer procedimentos consistentes (Griffin-Shirley
e Kelly (2006) e Gense e Gense (2004).
O trabalho isolado dos técnicos de O&M tem pouco impacto nos
alunos se os outros profissionais não estiverem também
envolvidos no processo. É importante a equipa tomar decisões
conjuntas, nomeadamente quais as estratégias a usar, quando
efectuam a passagem de uma actividade para outra e quais os
caminhos a utilizar diariamente na deslocação de um espaço
para o outro (Perla e Ducret, s/d).
59
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Necessidade de se deslocarem com objectivos definidos:
Integrar a O&M
nas actividades
diárias e
significativas
A orientação e a mobilidade estão presentes em quase todas as
actividades diárias que desenvolvemos em qualquer ambiente,
no decorrer do dia (Perla e Ducret, s/d: 3), pelo que não há
necessidade de criar momentos específicos para desenvolver
competências nesta área. As actividades escolhidas para a
intervenção devem ser planeadas de modo a incorporar
oportunidades para desenvolver competências na área da O&M.
Desta forma o movimento acontece quando é preciso, tornandose funcional e significativo para os alunos, incluindo as
brincadeiras
com
os
pares
sem
Necessidades
Educativas
Especiais (NYSTAP, s/d).
Contudo, é importante planear também actividades novas e
criativas
que
satisfaçam
esta
e
as
outras
necessidades
anteriormente analisadas.
Técnicas e estratégias específicas a usar:
Movimentar-se
com finalidades
específicas
As técnicas e as estratégias tradicionalmente usadas com as
pessoas com limitações visuais para desenvolver competências
nesta área têm, por vezes, pouco sucesso com os alunos com
multideficiência e com surdocegueira congénita. Para Perla e
Ducret (s/d) o maior desafio que se coloca é ser capaz de:
ƒ
encorajar estes alunos a movimentarem-se com
finalidades específicas;
ƒ
Avaliar as
capacidades e
necessidades dos
alunos
comunicar eficientemente com eles.
Para diminuir as dificuldades existentes é preciso, antes de
mais, conhecer muito bem os alunos, o que implica a realização
de uma avaliação que permita conhecer as suas capacidades e
necessidades.
Usar formas de
comunicação
adequadas ao
aluno
60
De acordo com Gense e Gense (2004) a principal adaptação a
fazer é ao nível da comunicação. Os profissionais devem usar
formas de comunicação que os alunos compreendam, podendo
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
envolver o uso de um intérprete, de pistas tácteis ou de pistas
de objecto17.
Estratégias a usar
Uma das regras fundamentais consiste em falar sempre com o
aluno antes de o deslocar para outro local, comunicando-lhe
exactamente para onde vai e o que vai fazer. A antecipação do
que vai acontecer, possibilita que o aluno esteja disponível para
novas aprendizagens e para sentir prazer nas suas interacções.
No entanto é necessário utilizar formas de comunicação
adequadas ao seu nível de compreensão. Pode ser útil utilizar
pistas tácteis ou de objecto que facilitem a antecipação. Para
Gense e Gense (ibid) é, ainda, importante:
ƒ
proporcionar
oportunidades
para
participarem
em
experiências ligadas à actividade física, à exploração
dos ambientes, à exploração de uma variedade de
superfícies e de objectos;
ƒ
dar feedback aos alunos das experiências em que
participam;
ƒ
assegurar que a iluminação é adequada aos alunos com
baixa visão;
ƒ
usar materiais com contraste visual e ou táctil para os
ajudar a compreender melhor os espaços em si e a
transição entre diferentes espaços;
ƒ
usar marcas de referência e pista naturais do ambiente
de uma forma consistente e ensinar os alunos a usálas, para os auxiliar na compreensão dos ambientes;
ƒ
criar oportunidades para os alunos participarem em
actividades que impliquem diferentes posicionamentos;
ƒ
adaptar tecnologias de apoio que apoiam o movimento
dos alunos18;
ƒ
criar múltiplas oportunidades para os alunos fazerem
escolhas;
ƒ
17
18
trabalhar com profissionais especializados na área.
Ver Nunes,2001:88-93 e Saramago et al, 2004:132-144
Ver Nunes,2001:171
61
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Para
encorajar
os
alunos
a
movimentarem-se
de
forma
independente em casa, na sala de aula/actividades e na
comunidade e a interagir com as pessoas existentes nesses
ambientes Simmons (2003:2-3) refere ser útil implementar
estratégias específicas, designadamente:
ƒ
sinalizar o cabide e a cadeira dos alunos com uma
marca táctil e ou visual com alto contraste, para
facilitar a sua identificação e a dos seus colegas;
ƒ
fazer adaptações nos ambientes para os tornar mais
seguros e estimular a independência possível (por
exemplo: colocar uma textura perto da porta, dos
degraus de uma escada, dos corrimãos, etc. para
indicar a sua aproximação);
ƒ
arrumar os brinquedos por categorias e em locais
específicos, para que os alunos saibam onde os podem
encontrar e se possível ir buscá-los com o mínimo de
ajuda;
ƒ
dar informação aos alunos sempre que há alteração na
organização
compreendê-lo
do
e
ambiente,
ter
para
consciência
que
de
possam
como
está
organizado;
ƒ
usar pistas sonoras, tácteis e visuais com alto contraste
para dar informação sobre a posição dos objectos no
espaço19;
ƒ
criar
oportunidades
para
os
alunos
vivenciarem
experiências em superfícies variadas, como caixas de
areia, relva, floresta, piscinas, passeios, carpetes,
soalhos, etc.;
ƒ
usar as actividades naturais e funcionais para o
desenvolvimento de conceitos e de competências nesta
área;
ƒ
organizar o mobiliário de forma a não existirem
espaços muito amplos, para que os alunos não se
19
Ver Nunes,2001:65,176-178
62
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
percam no espaço (nomeadamente no caso dos alunos
que têm capacidade motoras para se deslocarem).
Em síntese:
ƒ
O desenvolvimento de competências de Orientação e
Mobilidade é fundamental para alunos com acentuadas
limitações visuais, uma vez que os ajuda a explorarem o
seu mundo e desta forma melhorar a sua qualidade de vida
(Huebner & Wiener, 2005, cit in: Griffin-Shirley e Kelley,
2006 e Tanni, 2003).
ƒ
As competências a desenvolver nesta área curricular devem
procurar, sobretudo, que os alunos consigam movimentarse de forma independente, de acordo com as suas
capacidades,
e
compreender
os
ambientes
onde
se
encontram.
ƒ
Não existem “receitas” específicas que ajudem os alunos
com multideficiência e com surdocegueira congénita a
desenvolver
eficazmente
competências
em
termos
de
orientação e de mobilidade.
ƒ
Os
profissionais
de
Orientação
e
Mobilidade
devem
colaborar com a equipa que trabalha com estes alunos na
escolha das actividades mais adequadas para desenvolver
competências
relacionadas
com
o
movimento
e
a
compreensão do ambiente (Gense e Gense, 2004).
ƒ
É importante desenvolver um trabalho em equipa, onde
exista partilha de informação e de experiências, definindose para tal objectivos e estratégias comuns e consistentes
(NYSTAP, s/d).
ƒ
É essencial existirem oportunidade para os alunos repetirem
as experiências significativas.
63
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
64
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
Conclusão
Dada a especificidade dos alunos com multideficiência e com
surdocegueira congénita e as barreiras que se colocam à sua
aprendizagem e participação nas actividades que realizam nos
diferentes ambientes é fundamental:
ƒ
centrar a intervenção em actividades da vida real;
ƒ
focalizar
o
currículo
competências
no
comunicativas
desenvolvimento
e
de
de
orientação
e
mobilidade.
Desta forma podemos ajudar estes alunos a desenvolver as
suas potencialidades, a ser tão independentes quanto as suas
capacidades o permitem e a ter uma melhor qualidade de vida.
Com as orientações descritas esperamos contribuir, de alguma
forma, para que nos contextos educativos onde estes alunos
estão inseridos, as respostas educativas sejam organizadas de
modo a criarem oportunidades para que eles:
ƒ
possam alcançar as mesmas finalidades educacionais
dos seus pares;
ƒ
beneficiem das adequações de que necessitam para
diminuir
o
impacto
das
suas
limitações
no
seu
desempenho e nas suas aprendizagens;
ƒ
progridam até ao máximo das suas potencialidades.
65
Alunos com multideficiência e com surdocegueira congénita
Organização da resposta educativa
66
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