Etimologia:
Incluir: o arquivo de palavras em anexo.
A B S O L V E R: do latim absolvere, desatar, separar, desligar,
absolver. Ganhou os sentidos de despedir, perdoar e de libertar.
No latim eclesiástico perdurou o sentido de despedir, pois só pode
ir embora quem, depois de confessar os pecados, é perdoado. No
episódio em que Jesus, instado a julgar uma mulher adúltera, cuja
pena era o apedrejamento, ele pede que atire a primeira pedra
quem não tiver pecado. Jesus está sentado. São João, o mais culto
dos evangelistas, assim conta o episódio, traduzido para o latim por
São Jerônimo: “Erigens autem se Iesus dixit ei: ‘Mulier, ubi sunt? Nemo
te condemnavit?’ Quae dixit: ‘Nemo, Domine’. Dixit autem Iesus: ‘Nec
ego te condemno; vade et amplius iam noli peccare’”. (Levantando-se em
seguida Jesus disse a ela: “Mulher, onde estão? Ninguém te
condenou?”. Ela disse: “Ninguém, Senhor”. Disse então Jesus:
“Nem eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar”).
A C A D E M I A: do latim academia, por sua vez derivado do
grego akademeia. As primeiras escolas da civilização ocidental foram
ao ar livre. O jardim onde Platão ensinava filosofia, em Atenas,
chamava-se Akademos, herói grego ao redor de cuja estátua mestre e
alunos perambulavam.
A C E R V O: do latim acervu, originalmente montão, cabedal,
passando depois a designar o conjunto de livros de uma biblioteca
ou das obras de um museu. A idéia de amontoado, porém, está
presente numa passagem do livro Memórias do Cárcere, de
Graciliano Ramos, comentando o tratamento dispensado aos
prisioneiros políticos: “Formávamos juntos um acervo de trastes,
valíamos tanto como as bagagens trazidas lá de baixo e as
mercadorias a que nos misturávamos”.
A C E S S A R: neologismo formado a partir de acesso, do latim
accessu, ingresso. Tornou-se vocábulo freqüente com os avanços da
informática, indicando o ato de entrar num programa de
computador, mas seu significado é mais abrangente. O dicionário
Aurélio já nos permite o acesso a este vocábulo.
A C O R D O: do italiano acordo, instrumento musical da família
das violas graves. Tem de 12 a 15 cordas e foi muito popular na
Itália, nos séculos XVII e XVIII. Mas como sinônimo de
concordância mútua, obtida através de negociação, é provável que
derive das formas latinas accordare, acordar, e concordare, concordar,
pôr-se de acordo com alguma coisa. É vocábulo dos mais referidos
atualmente, dado que o Brasil passa por momentos de negociações
decisivas entre os vários segmentos da sociedade, muitos deles
defendendo interesses opostos, donde a dificuldade de vários dos
acordos propostos. Ainda assim, célebres acordos de cavalheiros,
em que se dispensa a palavra escrita, foram substituídos por artigos
que passaram a integrar a Constituição.
A C U S A Ç Ã O: do latim accusatio, acusação, ação de acusar, do
latim accusare, verbo reduzido da expressão ad causam provocare, dar
causa à demanda, provocá-la, isto é, propriamente pro vocare,
chamar para, desafiar.
A D A P T A R: do latim adaptare, tornar apto, adaptar.
Significando também acomodar, tem o sentido de transpor texto
literário para outros meios de expressão, como o teatro, o cinema e
a televisão. O roteirista Walter George Durst, que adaptou
magistralmente para a TV os romances Jorge, um Brasileiro, de
Oswaldo França Júnior, e Gabriela Cravo e Canela, de Jorge Amado,
definiu deste modo o seu ofício: “Adaptar é trair por amor”.
A D V O G A D O: do latim advocatu, profissional que, tendo
cursado Direito, está legalmente habilitado a prestar assistência
jurídica a seus clientes, defendendo-lhes os interesses, atuando
também como consultor ou procurador em juízo. São Ivo,
padroeiro dos advogados, estudou Direito na Universidade de Paris
e notabilizou-se por defender os pobres, que não podiam pagar por
um excelente profissional como ele. Sua festa é comemorada a 19
de maio. O sentido original da palavra, que entrou para o
português ainda no século XIII, é dado pela etimologia: ad (a, para)
e vocare (chamar). Os primeiros advogados foram defensores
chamados a cuidar de interesses de pequenas comunidades
religiosas, conventos e abadias.
A G R A D E C E R: do latim gratu, grato, formou-se agradar, de
que agradecer é incoativo (verbo que começa em outro). O
agradecimento não é tão freqüente nas relações humanas, a ponto
de o dito popular ter invertido a proposição, perguntando: “não te
fiz nenhum favor, por que estás me perseguindo?”. Jesus curou dez
leprosos e apenas um voltou para agradecer, resultando em taxa de
retorno de 10 por cento. Quando o alvo da gratidão não é Deus,
porém, a taxa cai ainda mais. Com base nesse desconcerto, foi
instituído o Dia de Ação de Graças, celebrado a 25 de novembro.
Ação de Graças vem do latim gratias agere, expressar
agradecimentos. Nos finais de ano são comuns cerimônias de Ação
de Graças, que incluem missas, visando manifestar gratidão a Deus
pelos benefícios concedidos durante o ano que está terminando.
A L A M B I Q U E: do árabe alanbiq, caldeira, tendo vindo do
grego ámbix, onde tinha o significado de vaso de beira erguida. O
alambique é um aparelho de destilação, muito utilizado no Brasil
na fabricação da bebida número um do país, a cachaça. O
alambique e a cana-deaçúcar, que têm o álcool e a cachaça como
derivados importantes, foram trazidos pelos portugueses no século
XVII. A destilação já era conhecida dos alquimistas, mas foram os
árabes os responsáveis por sua introdução na Europa no século XII,
primeiramente na Itália, de onde se espalhou por diversos países
nos dois séculos seguintes.
A L A R M E: do italiano alle arme, às armas. Grito das sentinelas
que, com essa interjeição militar, anunciavam a aproximação do
inimigo. Passou depois a designar outros tipos de inquietação e de
sinais de atenção. Assim, as águas de um rio que começam a subir
são motivo de alarme, como também a presença de casos, ainda
que isolados, de doenças endêmicas e epidêmicas, ainda que a
chamada seja a outras armas, entre as quais estão as seringas e
conta-gotas empregadas em vacinas.
A L Í Q U O T A: Do latim aliquota, declinado de aliquot,
originalmente indeclinável, alguns. No direito tributário, o
percentual calculado sobre o valor das transações, das rendas
auferidas ou de outros tributos. As alíquotas podem ser reduzidas,
mas ainda que cheguem a zero, não se pode confundi-las com
isenção. Esta deve ser conferida por lei. Por enquanto, as alíquotas
só têm aumentado.
A L M A: do latim anima. A alma está vinculada à imortalidade, à
identidade e à consciência, tendo implicações morais, religiosas e
metafísicas. Sua existência é dada como eterna. Quem morre é o
corpo, seu cavalo de batalha, que às vezes a põe pela boca, quando
muito ofegante devido ao galope que ela lhe impõe. Cessat corpus,
incipit anima (cessa o corpo, começa a alma), ensinaram os latinos,
dando conta de sua eternidade. Nem sempre pacífica. Às vezes, as
almas voltam penadas e ficam vagando extraviadas por este mundo,
banidas do Outro Mundo, depois de entregues a Deus – que,
entretanto, deve ter recusado o recebimento, pois diversas delas, de
acordo com fundas crenças populares, não pagam todas as penas
do lado de lá, voltando para resgatar certos males. Parece que
alguns só podem ser remidos onde foram praticados.
A L T U R A: do latim tardio altura, derivado de altum, do verbo
alere, crescer, aumentar, nutrir, sustentar, educar, a mesma raiz de
alumnus, criança a quem se dá o leite do peito e a educação. A
dimensão de altura, em oposição à de profundidade, é aplicada em
sentidos denotativos – a altura de um monte, de uma pessoa, de
um edifício – e também em sentido conotativo, onde é ainda mais
freqüente, em geral por meio de palavras assemelhadas radicadas
em alt, de que é exemplo Alteza, título honorífico de elevação
moral, surgido no português do século XII e aplicado, a partir do
século XV, a reis, ficando depois exclusivo para príncipes. De resto,
em sentido figurado ou conotativo, o Bem foi posto no alto, e o
Mal nas profundezas.
A L U N O: do latim alumnu, declinação de alumnus,
primitivamente designando criança dada para criar; aluno, pupilo,
discípulo. Com o nascimento das escolas, passou a indicar quem lá
era entregue para ser educado. Alumnus era mais aplicado à criança
de peito, ao escravo nascido na casa e à criança recolhida nas ruas,
tornada cativa pelos que a alimentavam e educavam. Na escola
romana, o aluno era designado discipulus, radicado no verbo discere,
aprender, em oposição a docere, ensinar, conduzir, de onde
derivaram no português discente e docente, o primeiro aplicado
aos alunos, o segundo aos professores. Na escola média
predominou professor ou professora, reservando-se mestre e doutor
para os cursos superiores. Tal denominação tem raízes cristãs. Os
professores das primeiras escolas, nascidas como extensão das
sacristias, professavam, isto é, declaravam publicamente, os três
famosos votos: pobreza, obediência e castidade. O primeiro parece
ter-se consolidado como estigma da profissão nas últimas décadas,
revelando o descaso de sucessivos governantes. A escolaridade foi
sempre optativa, tornando-se obrigatória apenas a partir de 1819,
na Prússia, e, desde a Constituição de 1934, também no Brasil.
Mas foi a Constituição de 1937 que declarou: “O ensino primário
é obrigatório e gratuito”. Até chegar ao curso superior, o aluno faz,
porém, um percurso longo e difícil, coroado com o vesti bular:
onze anos de estudo, sendo oito no primeiro grau e três no
segundo.
A L V A R Á: do árabe albar’at, quitação, tendo também o
significado de licença oficial para exercício de alguma atividade. Foi
com este último sentido que se consolidou em nossa língua. A
empresa ostenta o alvará, mostrando que pagou todos os impostos
devidos para estabelecer-se. O preso, cumprida a pena, recebe
alvará de soltura. Em 12 de outubro de 1808, Dom João VI baixava
alvará criando o Banco do Brasil. Poucos meses depois de sua
chegada, fugindo das tropas francesas que tinham invadido
Portugal, o príncipe regente abolira outro alvará, de 1785, que
proibia a instalação de indústrias no Brasil. Foi pelo trabalho
pioneiro desse rei que a Biblioteca Nacional, cuja sede fica no Rio
de Janeiro, está entre as oito mais preciosas do mundo. Dom João
VI partiu de Portugal como príncipe regente, em 1807, e era rei
havia cinco anos quando para lá voltou, em 1821, já que a rainha
dona Maria I morrera ainda em 1816, aos 82 anos, e apresentara
sinais de demência ainda em 1792, aos 58 anos. O exagero da
sentença contra Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes,
enforcado e esquartejado no Rio de Janeiro, a 21 de abril de 1792,
aos 46 anos, pode ter explicação na insanidade real. E assim o
patrono da nação brasileira ficou sendo um enforcado.
A N A L O G I A: do latim analogia, analogia, ponto de
semelhança entre coisas diferentes. Às vezes lembra a metáfora,
como nessa passagem do Tratado da Natureza Humana, do filósofo
escocês David Humes: “O que a velhice é para a vida, a noite é para
o dia. Por isso dizemos que a noite é a velhice do dia e a velhice é a
noite da vida”.
A N A L O G I A: do latim analogia, analogia, ponto de
semelhança entre coisas diferentes. Às vezes lembra a metáfora,
como nessa passagem do Tratado da Natureza Humana, do filósofo
escocês David Humes: “O que a velhice é para a vida, a noite é para
o dia. Por isso dizemos que a noite é a velhice do dia e a velhice é a
noite da vida”.
A N A T O M I A: do latim anatomia, por sua vez radicado no
grego anatomía, designando a ciência que trata da forma e da
estrutura dos seres organizados. O prefixo “an” indica negação. O
grego tomos, o latim tomus e o português tomo indicam pedaço,
parte, divisão, como se pode verificar em coleções de livros. A
anatomia examina o conjunto e para tanto disseca os corpos. O
famoso pintor e gravador holandês Rembrandt, num de seus
quadros mais famosos, Lição de Anatomia, mostra autópsia de um
cadáver, fazendo não apenas expressão artística reveladora do
desempenho de um dos maiores mestres da pintura, mas também
documentando prática científica essencial aos avanços da medicina
no século XVII. A humanidade estava aos poucos se livrando das
pesadas restrições das autoridades religiosas que consideravam o
corpo o templo do Espírito Santo e por isso concebiam como
sacrilégio a tarefa da dissecação, entretanto já praticada por árabes
e chineses, entre outros. “Comigo a anatomia enlouqueceu: sou
todo coração”. Utilizando como inspiração esses versos do célebre
poeta que cantou o triunfo da Revolução de Outubro de 1917 na
Rússia, Vladimir Maiakóvski, o médico e poeta gaúcho Jaime Vaz
Brasil diz em Livro dos Amores, obra agraciada com o Prêmio
Açorianos de Literatura, um dos mais importantes do Brasil
meridional: “Amor de morder montanhas/ de publicar os sigilos/ de
saltar de pára-quedas/ e não pensar em abri-lo/ amor em formas e faces/
nu, decantado ou exposto/ há que segui-lo em tempo/ de ainda espremerlhe o gosto/ cada amor, a si pretende/ mais real e verdadeiro/ diverso não
sendo múltiplo/ e último, sendo o primeiro”.
A N T R O P O L O G I A: palavra formada do grego anthropos,
homem, e logos, estudo, designando ramo das ciências humanas
que se ocupa em descrever o ser humano. Dá atenção às suas
especificidades
biológicas
e
socioculturais,
detendo-se
principalmente nas diferenças e variações presentes nas várias
formações sociais. Nas últimas décadas, a antropologia socorreu-se
de disciplinas de domínio conexo, como a arqueologia, a etnologia
e a lingüística, estudando costumes, crenças, comportamentos e
formas de organização das sociedades examinadas. Os maiores
antropólogos estão radicados nos EUA e na Europa, especialmente
na França e na Grã-Bretanha.
A N U I D A D E: do francês annuité, anuidade, por sua vez
formado a partir do latim annuu, anual, para designar quantia que,
a princípio, era paga uma vez por ano, fosse para constituir um
determinado capital, fosse para amortizar uma dívida. Dado o
avanço das dificuldades econômicas pelo mundo afora, das quais a
inflação é caso emblemático, a anuidade logo foi dividida em
mensalidades, com o fim de, por meio de parcelas, facilitar os
pagamentos contratados. A anuidade que mais aflige as famílias
brasileiras é a escolar, já que as escolas privadas, para conduzir os
alunos a esse arco do triunfo que é o vestibular, exigem antes elevar
o valor das diversas anuidades, parceladas em mensalidades.
Transposto o vestibular, caso os rebentos não consigam entrar para
a universidade pública, recomeçam outras anuidades ainda mais
pesadas.
A P O L O G I A: do latim apologia, defesa, louvor, elogio. A
palavra foi muito utilizada nos embates travados entre os que
lutavam pelas privatizações de empresas estatais e os que faziam a
apologia do Estado-empresário.
A P U R A R: de puro, do latim purus, significando purificar, livrar
da impureza. É o que deve ser feito com rumores e fofocas que
podem ou não virar notícia, daí ser verbo essencial para jornalismo.
Comentando um dos jornais mais respeitados do mundo, o francês
Le Monde, fundado em 1944 e que introduziu o caderno literário
intitulado Le Monde des Livres, em 1967, o jornalista, doutor em
literatura e professor Felipe Pena diz no livro Jornalismo Literário
(Editora Contexto) que o célebre periódico é forte na tarefa de
apurar as notícias, destacando-se também pela qualidade do estilo
na linguagem: “O jornal é influente e tem credibilidade. Nas
palavras de Pierre Bourdieu, alia news (notícia) e views (pontos de
vista), proporcionando análises contextualizadas a partir de
informações bem apuradas”. O autor elaborou também uma nova
teoria para apurar a vida alheia: a biografia sem fim, que desenvolveu
em seu doutorado na PUC do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2002.
Ele a exemplificou nos livros Adolpho Bloch: Histórias, perfis e outros
fractais biográficos (Editora Univercidade) e 1000 Perguntas de
Jornalismo (Editora Rio).
B A C A N A: de origem controversa, sendo plausível que sua
procedência mais antiga esteja nas formas latinas Baccha,
designando a bacante, mulher que celebrava os mistérios do deus
Baco, na antiga Roma, dançando e se embriagando nas bacanais,
festas a ele dedicadas. Baco é o nome latino do deus grego Dioniso.
Recebeu tal designação porque a divindade trazida da Grécia para
Roma depois da conquista presidia ao sexo e ao vinho. E o galho
ou ramo da videira em latim é bacchos. O significado de bacana
pode ter sido influenciado pelo italiano baccano, indicando
balbúrdia, algazarra e também o mercado de peixe. Nas lenaionas,
festas celebradas na Grécia nos meses de janeiro e fevereiro,
Dioniso era representado por um adolescente cuja máscara estava
enfeitada de ramos. Eurípides, um dos mais famosos autores das
tragédias gregas, classifica Dioniso em As Bacantes como polygethés,
alegre, cujo projeto divino é “rir e acalmar nossas inquietações”. Os
sinônimos de bacano – alegre, divertido, bom, excelente – resultam
em indícios de que bacana, variante feminina que se consolidou,
tenha designado originalmente quem participava da bacanal. Pode
ter havido ainda influência do lunfardo bácan, bacana, esperto,
legal, luxuoso, simpático, constituindo-se na gíria portenha como
palavra-ônibus, carregadora de vários significados.
B A C H A R E L: de origem controversa, provavelmente do latim
vulgar baccalaris, variante do latim medieval baccalarius, pelo francês
bachaler, designando o jovem herdeiro de terras ou possessões, que
ainda não é cavaleiro, e o noviço de ordem religiosa, ambos
estudantes. Há indícios de que na formação da palavra tenha
entrado o latim bacca lauri, baga de louro. Pode ainda ter havido
relação entre a palavra beca, do judeu-espanhol beca, pensão,
pagamento do estudante, com origem no hebraico bécah, moeda
utilizada em Israel. Na formatura, recebendo a beca, laureado com
o diploma, estava pronto o baccalaris, o bacharel. Embora sem
comprovação, é preciso atentar para a possível influência de títulos
da nobreza territorial sobre as denominações universitárias, de que
são exemplos campus, propriedade rural cedida para instalar ali
prédios universitários, e magnificus, título dado ao reitor, então
proprietário das terras onde foram instalados os ditos prédios.
Nessa linha, bacharel seria apenas o aluno que se forma nesses
campi, em qualquer curso, mas como predominava o Direito,
bacharel vinculou-se mais a este.
B A D E R N A: do latim baderna, que no francês deu baderne e no
italiano baderna, todos os vocábulos com o significado de
desordem, bagunça. Pode ter vindo do inglês bad, mau, e yam, fio,
numa das campanhas romanas pela Grã- Bretanha. Os europeus
que aqui viveram longos anos, tendo reprovado a bagunça
brasileira, marca de muitos de nossos usos e costumes,
principalmente na economia, ao voltarem para as antigas pátrias
lembram-se, saudosos, ‘de nossa bagunça’, que sempre exerceu um
charme insólito sobre sua proverbial organização. Pode ter havido
influência das brigas de rua travadas no Rio, na segunda metade do
século XIX, pelos fãs da bailarina Marietta Baderna, sobre quem o
escritor brasileiro Moacir Werneck de Castro criou uma lenda,
depois levada a sério pelo ex-deputado comunista e estudioso de
literatura, o italiano Silverio Corvisieri, que publicou um livro
sobre a conterrânea prefaciado por Luciana Stegagno Picchio, cuja
especialidade é a literatura brasileira.
B A F Ô M E T R O: junção de bafo e metro, designando aparelho
que detecta a presença de álcool no organismo. A embriaguez
ocorre quando a concentração de álcool situa-se entre 1,5 e 2
gramas por litro de sangue. Um dos métodos utilizados na perícia é
o de Martini, apesar de que são ingeridas bebidas de outras marcas.
O bafômetro, por ser muito prático e requerer pouca habilidade, é
usado com êxito pelos policiais rodoviários, com o fim de impedir
que os bebuns atentem contra sua vida e a dos outros, servindo-se
dos veículos como armas. Foi inventado pelo professor doutor
Aymar Batista Prado, do Departamento de Toxicologia e
Farmacologia da Faculdade de Farmácia da USP, campus de
Ribeirão Preto. Uma concentração de oito decigramas de álcool
por litro de sangue, segundo o Conselho Nacional de Trânsito,
constitui prova de que o motorista está dirigindo embriagado.
B Á L S A M O: do hebraico besem, passando pelo grego bálsamon e
pelo latim balsamu. É extraído de plantas aromáticas, que o
derramam espontaneamente ou por corte apropriado, tal como as
seringueiras. Seu uso foi muito freqüente antigamente em
cerimônias, principalmente religiosas. Os egípcios e os judeus
embalsamavam seus mortos. Sua alusão é freqüente nos
Evangelhos, como no episódio em que Maria Madalena passa
bálsamo nos pés de Jesus. Em sentido metafórico, é muito usado
como alívio para os sofrimentos amorosos e consolo para os que
padecem. O sentido conotativo veio do fato de o bálsamo ser uma
das primeiras pomadas do mundo, usado em ferimentos cotidianos
e de guerra. A medicina quase não o utiliza mais. Há substâncias
mais apropriadas hoje em dia. E para os males do coração, a
terapêutica aconselhada tem sido outra: um novo amor.
B A N C O: do italiano banco, banco, assento e também casa de
crédito. Sua origem remota é o germânico banki, significando
apenas o móvel, sem encosto, onde podem sentar-se várias pessoas,
ao contrário da cadeira, que é individual. As casas de crédito
receberam este nome porque em cidades de grande comércio
exterior, como Veneza, na Itália, os cambistas estendiam moedas
sobre bancos de madeira na praça de São Marcos e ali faziam as
trocas, sempre com a ajuda de balanças, pois as moedas de ouro,
prata ou cobre, às vezes procedentes de países distantes,
apresentavam variações de peso, dado que algumas delas chegavam
com as bordas gastas ou quebradas.
B A N D E I R A: o gótico bandwa, sinal, transformou-se em
bandaria no latim, de onde veio ao português com a forma atual.
Prestando-se a muitos significados, as bandeiras mais famosas entre
nós são a do Brasil, retangular como é de praxe entre as nações, as
dos desbravadores que entre fins do século XVI e começos do
XVIII exploraram o interior do país, as que disciplinam tarifas nos
táxis e as de escolas de samba, alegremente carregadas por graciosas
porta-bandeiras, personagens das mais importantes e muito
observadas no Carnaval. Temos também a expressão dar bandeira,
indicando a revelação de gesto ou intenção que deveriam
permanecer ocultos.
B A R G A N H A R: do italiano bargagnare, vender com fraude,
trocar. Seu sentido evoluiu para designar atos de negociação
política que implicam concessões mútuas. O ex-presidente FHC,
professor universitário e sociólogo, usava o verbo com a maior
candura, proclamando a necessidade de se fazer barganhas com o
Congresso.
B A R R O C O: provavelmente de Broakti, cidade da Índia onde
eram produzidas pérolas muito irregulares. Na complexa prosódia
lusitana, passou a soar como Baroquia, depois o ‘r’ foi duplicado e
barroca transformou-se em barroco e assim foi grafado. Pode ter
havido cruzamento com o italiano barocco, que designava também
uma figura de silogismo que os renascentistas aplicavam às
formulações absurdas. Consolidou-se, porém, como designação de
estilo artístico, particularmente na pintura, escultura, arquitetura e
torêutica, com origem na Itália, tendo depois se espalhado pela
Europa e América nos séculos XVI e XVII. No estilo barroco
predominam linhas curvas e abundância de ornamentação. Na
literatura barroca, há profusão de figuras de linguagem. O barroco
brasileiro mereceu recente exposição em Paris, patrocinada pelo
governo francês. O poeta, ensaísta e professor Affonso Romano de
Sant’Anna realizou densas, profundas e sagazes pesquisas sobre o
tema, reunindo-as num livro deslumbrante, intitulado Barroco,
Alma do Brasil. E o ex-presidente Jânio Quadros, cuja linguagem era
marcada por frases enfeitadas de ornamentos insólitos, tinha seu
domicílio paulistano na Rua Estilo Barroco.
B E C A: do judeu-espanhol beca, pensão, pagamento do
estudante, com origem no hebraico bécah, pensão, remuneração de
estudante. Bécah, no hebraico, é a medida correspondente à
metade de 1 siclo, siclus em latim, antiga moeda dos hebreus que
valia 6 gramas de prata e deu também na moeda israelense de hoje,
shekel. Na formatura, ao receber a beca e laureado com o diploma,
estava pronto o baccalaris, o bacharel. Pode ter havido influência
dos italianos beca, bolsa de estudos, e bicco, ponta, por força dos
bicos do chapéu de formatura e das pontas do traje do formando.
Antigos jesuítas denominam beca um copo de vinho dado a
noviços convalescentes. No quicongo mbéka, derivado de békama,
designa saia de tecido preto, machetada, que negras baianas
envergavam em dias de festa. O quimbundo tem dibeka, veste que
de tão longa cobre os pés e é arrastada pelo chão enquanto a
mulher caminha, segundo nos informa Nei Lopes no Dicionário
Banto do Brasil (Rio de Janeiro, edição da Secretaria Municipal de
Cultura).
B I B L I O T E C A: do grego biblion, o livro, e theké, caixa. Das
caixas, onde ficavam deitados, os livros logo migraram para as
estantes, onde mudaram de posição, ficando em pé. Em
compensação, estão cada vez mais raros os que lêem e escrevem de
pé, como Voltaire.
B I E N A L: do latim biennalis, de dois em dois anos. A
denominação preferida para eventos culturais, literários e artísticos,
realizados com essa periodicidade. Em São Paulo, temos duas
grandes bienais: a Bienal Internacional do Livro, onde os leitores
encontram livros de escritores brasileiros e de muitos outros do
mundo inteiro, e a Bienal Internacional da Arte.
B I O G R A F I A: do grego bios, vida, e graph, radical de grapho,
escrever, e sufixo ia. Escrever a vida de uma pessoa. É um gênero
de livro de muita aceitação no mundo inteiro, principalmente
quando feito sem a anuência do biografado. Neste caso, os autores
costumam destacar a falta de autorização como chamariz para o
livro. O mais comum é fazer como o jornalista e ex-secretário de
Estado da Cultura de São Paulo, Fernando Morais, que em seu
livro Chatô, o Rei do Brasil, limita-se a contar a vida do célebre
jornalista e político brasileiro Assis Chateaubriand, deixando para
os leitores a tarefa de julgar os atos do biografado.
B O L E T I M: do italiano bolletino, publicação periódica. Tomou
também o sentido de registro de ocorrências policiais e por isso é
conhecido pela sigla BO, boletim de ocorrência. Há ainda o
boletim meteorológico, indicando as tendências do tempo, e o
boletim escolar, este último informando sobre as tempestades
havidas com o estudante no processo ensino/aprendizagem. Com
exceção dos informes sobre o clima, os outros boletins envolvem
laços familiares de várias ramificações.
B U R L A R: derivado de burla, do latim burrica, derivado de
burra, arca para guardar tesouros, dinheiro. Guardar tem também o
sentido de esconder, proteger. Veio daí o significado de engano.
No espanhol, burla e seus derivados são aplicados a quem engana
por motivos amorosos, de que é exemplo famoso o personagem
Don Juan, o burlador de Sevilha
C A D A S T R O: do grego bizantino katástichon, livro de registros
comerciais, como relação de impostos, notícias econômicas e listas
afins. Passando pelo latim catastru e pelo provençal cadastre.
Designa a ficha de um cliente ou empresa junto a estabelecimentos
comerciais, instituições financeiras e órgãos de registro de dados.
Designou originalmente livro de registros comerciais, como relação
de impostos, notícias econômicas e listas afins. O provençal
cadastre, do baixo latim catastrum, provável alteração de catasta, era
o estrado em que os escravos eram postos à venda.
C A L E N D Á R I O: do latim calendarium, radicado em calare,
convocar, e calenda, o primeiro dia de cada mês. Um escravo
anunciava nesse dia os acontecimentos fastos (felizes) e nefastos
(infelizes) do período. Os gregos não tinham calendas. Sabedor
disso, Suetônio criou a expressão “pagar nas calendas gregas”, isto
é, nunca. As divisões do calendário baseiam-se, desde as mais
antigas culturas, nos movimentos da Terra e da Lua. O ano é o
tempo que a Terra demora para dar uma volta ao redor do Sol. O
mês, o tempo que a Lua leva para dar volta ao redor da Terra. A
semana equivale a cada uma das quatro fases da Lua: minguante,
crescente, nova e cheia. O dia equivale ao período que nosso
planeta leva para dar uma volta sobre seu próprio eixo. É célebre o
poema de Frei Antônio das Chagas sobre o tempo “Deus pede
estrita conta do meu tempo / e eu vou do meu tempo dar-lhe
conta, / mas como dar, sem tempo, tanta conta, / eu que gastei,
sem conta, tanto tempo? / Para ter minha conta feita a tempo, / o
tempo me foi dado e não fiz conta / não quis, sobrando tempo,
fazer conta, / hoje quero acertar conta e não há tempo. / Ó vós
que tendes tempo sem ter conta, / não gasteis vosso tempo em
passa-tempo. / Cuidai, enquanto é tempo, de vossa conta, / pois
aqueles que sem conta gastam o tempo, / quando o tempo chegar
de prestar contas, / chorarão, como eu, o não ter tempo”.
C A N D I D A T O: do latim candidatus, vestido de branco. Na
Roma antiga, aqueles que postulavam cargos vestiamse de branco
para vincular suas figuras à idéia de pureza e honradez que a cor
branca sempre teve. Nas democracias, marcadas por escolhas
periódicas de representantes do povo, os candidatos passaram a
vestir-se de muitas outras cores, mas permaneceu a etimologia do
vocábulo. Entretanto, dado o que aprontam vários deles, inclusive
depois de eleitos, a pureza foi sacrificada em nome de
pragmatismos diversos, que incluem alianças dos supostamente
puros com os comprovadamente corruptos.
C A R I C A T U R A: do italiano caricatura, caricatura,
representação deformada de imagem ou idéia. Firmou-se como
gênero nos séculos XVIII e XIX com a popularização da imprensa.
O primeiro caricaturista brasileiro foi Manuel José de Araújo Porto
Alegre, que estudara pintura com Jean Baptiste Debret, autor de
gravuras sobre paisagens, usos e costumes de nosso país, reunidas
em Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
C A R I D A D E: do latim caritate, caridade, uma das três virtudes
teologais. As outras duas são a fé e a esperança. Há numerosas
instituições encarregadas de prestar assistência aos mais
desamparados e em tais trabalhos notabilizou-se Agnes Gonxha
Bajaxhiu, mais conhecida como madre Teresa de Calcutá, que
recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979, fundadora de uma
ordem religiosa que conta com mais de 4 500 freiras atuando em
600 casas de caridade espalhadas em 111 países. No século II foram
martirizadas três irmãs que se chamavam Caridade, Fé e Esperança.
C A R T E L: do italiano cartello, diminutivo de carta, com fim de
desafiar alguém; e do provençal cartel, com significado semelhante.
Hoje é mais utilizado para designar ações nefastas de grupos
empresariais que combinam preços de produtos, repartindo entre
si os mercados por área de atuação, tudo em forma de sindicato
informal, pois continua autônoma sua organização interna. Assim
procedendo, eliminam um dos pilares do capitalismo, pois
suprimem a livre concorrência. Este é um livro sobre palavras, por
isso convém dar nome correto para ações econômicas desse tipo:
crime organizado.
C A T Á S T R O F E: do latim catastrophe, por sua vez tirado do
grego katastrophé, ambos com o significado de reviravolta. Entre os
gregos designava o momento em que na tragédia clássica um
acontecimento decisivo esclarecia as ações e restabelecia o
equilíbrio. Foi também a primeira designação para terremoto.
Depois o sentido generalizou-se para outras desgraças igualmente
extraordinárias, de efeitos devastadores.
C I V I L I Z A Ç Ã O: do latim civile, civil, designando o cidadão,
sem intermediações eclesiásticas ou militares, formou-se civilizar,
ação de polir incultos com o fim de adaptá-los à vida em sociedade,
quando são derrogados diversos artigos de uma suposta lei das
selvas. Quase sempre se fez o contrário, de que são exemplos os
numerosos extermínios de povos indígenas. O famoso médico
brasileiro Noel Nutels, que integrou a expedição Roncador-Xingu,
disse ao voltar: “É um erro pensar que o índio prefere a civilização.
Para morar numa favela? Ele está feliz tal como é, adaptado à região
em que vive”.
C O N C O R R E R: do latim concurrere, correr com alguém,
concorrer, disputar. Quem mais concorre no Brasil, além dos
desportistas, são as empreiteiras, apresentando suas propostas nas
licitações. Mas em 1996 nosso país enfrentou uma concorrência
internacional muito bonita e famosa. Foi o Oscar de melhor filme
estrangeiro com O Quatrilho, baseado no romance homônimo do
escritor gaúcho José Clemente Pozenato, que tem no elenco
Patrícia Pillar e é dirigido por Fábio Barreto. A última vez que
tínhamos disputado o celebérrimo Oscar fora em 1962, com O
Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, que perdeu, mas ganhou
a Palma de Ouro em outro festival, o de Cannes, na França.
C O N F I R M A R: do latim confirmare, confirmar, demonstrar,
afirmar de modo absoluto. Com esse sentido o verbo apareceu em
várias manchetes de nossos jornais para assegurar ao público que
houvera homicídio, seguido de suicídio, nos eventos trágicos
ocorridos em Alagoas na manhã de 23 de junho de 1996, que
resultaram nas mortes da comerciante Suzana Marcolino e do
empresário PC Farias, personagem de ações decisivas nos eventos
que levaram ao impeachment do então presidente Fernando Collor,
em 29 de dezembro de 1992, apesar de ter renunciado momentos
antes.
C O N H E C I M E N T O: de conhecer, mais sufixo mento. Na
formação do vocábulo, houve, naturalmente, elisão de er,
substituído por ‘i’. São complexos os conceitos de conhecimento.
Paracelso, um dos pais da medicina, escreveu: “Meus acusadores
sustentam que eu não entrei no templo do conhecimento pela
porta certa. Mas qual é a porta certa? Entrei pela porta da Natureza,
pois foi a luz da Natureza, não a lâmpada do boticário, que
iluminou meu caminho”. O Dia do Médico é comemorado a 18 de
outubro.
C Ú M P L I C E: do latim tardio complice, cúmplice, co-autor de
algum delito ou crime. O cúmplice costuma estar envolvido em
maracutaias. Na cosmética moderna, não se sabe bem por quais
razões, são comercializadas essências com nomes cujas etimologias
lembram azar, veneno, delito. E cúmplice é também denominação
de conhecido perfume.
C U M P R I M E N T O: do português arcaico comprimento, de
comprir, depois cumprir, do latim complere, completar, concluir uma
conversa, por exemplo. Da mesma raiz é salvare, salvar, do latim
tardio. Os antigos romanos utilizavam três tipos de saudações no
cotidiano. Pela manhã, cumprimentavam-se com um “Salve, salve”,
em intenção de Salus, a deusa da saúde, que era filha de
AEsculapius, Esculápio, deus da medicina, vindo do grego
Asklepiós, Asclépio, citado na Ilíada, não como deus, mas como
hábil médico. Esculápio era filho de Apolo e da deusa Coronis. À
tarde, depois da hora sexta, o cumprimento mudava para “Ave,
ave”, dito até o fim da tarde e começo da noite. Da hora nona em
diante, vinham as despedidas para o recolhimento, formalizadas
com a última saudação do dia, que era “Vale, adeus”. Depois da
vitória de Constantino sobre Maxêncio, na célebre batalha em que
ele disse aos soldados ter visto uma cruz no céu na qual estava
escrito “in hoc signo vinces” (com este sinal vencerás), vários cultos e
símbolos pagãos foram cristianizados, a começar pela própria cruz,
já existente nos estandartes romanos, mas sem a figura do
crucificado, pois a crucifixão era execução humilhante, não
aplicada a cidadãos romanos. Das adaptações não escapou nem o
Natal, que passou a ser comemorado a 25 de dezembro, dia do
deus Sol Invicto, que ao lado da deusa Vitória, estava entre as
divindades preferidas do imperador. Passou a render homenagens
também a um deus fluvial porque seu rival Maxêncio, cujo cadáver
mandou decapitar, morrera afogado no rio Milve depois de cair do
cavalo.
D A T A: do latim data, dada, particípio passado do verbo dare,
dar. Designa a indicação do ano, mês e dia em que teve ou terá
lugar um fato. O ano de 2002, por exemplo, equivale ao de 7504
da Era Alexandrina, que começou a 29 de agosto do ano 5502 a.C.
É também o ano 1380 da Hégira Maometana, iniciada em 16 de
julho de 622.
D E B A T E: do inglês debate, debate, discussão. No debate são
alegadas razões a favor e contra determinado tema. Mas antes de
ser prática parlamentar e acadêmica, designou poema dialogado, de
tom satírico e alegórico, muito em voga na Idade Média. O folclore
parlamentar brasileiro registra curioso debate entre dois deputados.
Ao ouvir de um colega que ele estaria sendo um verdadeiro
purgante, o outro replicou: “E Vossa Excelência é o efeito”.
D E F E N S O R: do latim defensor, defensor, aquele que faz a
defensa, defesa, que desvia, seja goleiro ou advogado. O mais
conhecido na linguagem jurídica é o defensor público, em cargo
análogo ao do promotor, com a diferença de que, em vez de acusar,
defende. Na Roma antiga as duas funções estiveram reunidas nos
primórdios do Direito nas figuras dos defensores civitatis, defensores
da cidade, órgão criado durante os reinados dos imperadores
associados Valente e Valentiniano com o fim de defender os
cidadãos da injustiça de poderosos. Foi o embrião do Ministério
Público. A lei atual concebe no Brasil o defensor público como
aquele que, pago pelo Estado, presta orientação jurídica e defesa,
em todos os graus, aos pobres ou desprovidos de recursos.
D É F I C I T: forma verbal latina do verbo deficere, faltar, falhar. É
usada para indicar despesa maior do que a receita. Quando o
governo gasta mais do que arrecada, tem déficit. Muitos
economistas acham que o déficit das contas públicas e a sonegação
de impostos são as maiores causas da inflação.
D E L A Ç Ã O: do latim delatione, ato de entregar. Passou depois a
significar denúncia. Há célebres delatores na História do Brasil,
como o militar Domingos Fernandes Calabar que, lutando a
princípio ao lado dos portugueses contra os holandeses, passou
depois para o outro lado e, graças ao conhecimento que tinha do
terreno, mudou o rumo da guerra. Foi, porém, aprisionado e
enforcado. Chico Buarque e Ruy Guerra dedicaram-lhe uma peça
de teatro, proibida durante os anos 1970, cuja trilha sonora ainda
hoje compõe a fortuna musical do famoso cantor e compositor.
D E L E T A R: do inglês to delete, apagar. Trata-se de neologismo
que veio para ficar. O português já possuía um vocábulo de
domínio conexo: deletério, com o significado de prejudicial,
danoso. A origem remota é o latim delere, apagar, destruir,
suprimir.
D E P E N D Ê N C I A: do latim dependentia, dependência,
sujeição. Diversificaram-se ultimamente os tipos de dependência,
como aquela que vitima os que não podem viver sem o consumo
habitual de cocaína. Recentemente surgiu outra modalidade: a
dependência sexual. Já é doença reconhecida pela Organização
Mundial da Saúde. Sua primeira vítima famosa foi o ator
americano Michael Douglas, que internou-se numa clínica para
viciados em sexo depois de atuar no filme Instinto Selvagem, onde
contracenou com Sharon Stone, cujo cruzar de pernas no mesmo
filme fez coxos andarem e mortos ressuscitarem. São ainda muito
poucos os que se queixaram da patologia. A castidade tem sido um
remédio anterior à doença – caso inédito na medicina comum, em
que a enfermidade precede a terapêutica.
D E P O I S: do latim post, com significado semelhante ao que
temos hoje. Parece o advérbio símbolo de nossa pátria, onde quase
tudo é postergado. Menos os impostos, talvez.
D E P O R T A R: do latim deportare, levar para longe, para fora
das portas da cidade. O vocábulo, além de sua óbvia ligação com
porta, do latim porta, tem vínculos também com porto, do latim
portus. Antes das lides náuticas, o porto era seco e já designava
lugar de passagem, de entrada ou de saída. Deportar passou, então,
de expulsar para fora das portas da cidade a expulsar para fora do
país, levando o condenado ao porto, onde era embarcado para o
degredo ou para outro país que o aceitasse, mediante consulta.
D E S C O B R I R: do latim cooperire, cobrir inteiramente, ocultar,
formou-se cobrir em português. Antecedido do prefixo de negação
des, indica mostrar, dar a conhecer, destapar, destampar. Cinco
séculos depois do descobrimento, a América continua sendo
descoberta. Recentemente, pesquisadores localizaram no fundo do
Lago Titicaca, entre a Bolívia e o Peru, as ruínas de uma antiga
cidade, datada de mil anos antes da chegada dos espanhóis. Foram
identificadas áreas de lavouras, estradas e templos. No mais, fomos
ensinados que Cristóvão Colombo descobriu a América, mas sutis
complexidades não são devidamente estudadas. Outros
navegadores provavelmente chegaram à América muito antes, mas
não registraram a viagem. Em 2002, Gavin Menzies, oficial
aposentado da marinha britânica, lançou o livro 1421: The Year
China Discovered América (1421, o ano em que a China descobriu a
América), no qual defende que o navegador chinês Zheng He esteve
na América em 1421. Depois da morte de Zheng He, a dinastia
Ming, inconformada com os altos custos das viagens, proibiu a
exploração dos oceanos, sob pena de morte.
D E S V I A R: do latim deviare, provavelmente através da
formação de ex-viare – tirar do caminho direito, desviar, tirar da via,
isto é, do caminho, mudar a direção. Dá-se, por exemplo, em
estradas e ruas, quando, por necessidade de reparo em seu leito,
pedestres e automóveis devem seguir por uma variante. No sentido
figurado, designa o ato de furtar, desviando o pagamento de seu
destino e fazendo-o confluir para a conta do larápio. Ultimamente,
a palavra que mais tem acompanhado o verbo é a verba. E não por
matrimônio entre vocábulos, mas sim porque tem havido muitos
desvios da última, que nem sempre tem chegado a seu destino
correto, não por estar atravancado o seu caminho normal, e sim
porque espertalhões encontraram caminhos melhores. Para eles,
claro.
D I Á L O G O: do grego diálogos, que os romanos adaptaram para
o latim dialogu. Aplica-se a várias situações: numa conversa, com o
fim de buscar-se o entendimento; nos romances, filmes e peças de
teatro, indicando as falas dos personagens. É também muito
utilizado em política internacional. Ainda hoje fala-se com
freqüência em diálogo Norte-Sul e Leste-Oeste, e todos entendem
que não se trata de situação surrealista, em que os pontos cardeais
tenham resolvido conversar depois de manifestações
meteorológicas, como ventos, tempestades, enchentes, tornados e
furacões. A palavra polida deve ser a única arma do diálogo, mas de
vez em quando algumas pessoas usam outros reforços, como gritos,
gestos abruptos, socos, pontapés, empurrões e, quando tudo falha,
facadas e tiros.
D I P L O M A T A: do francês diplomate, diplomata, aquele que
estuda diplomas, documentos. A origem remota é o grego diploma,
papel dobrado em duas partes, já metáfora, pois originalmente
designou vaso duplo, com dois recipientes, um para aquecer em
banho-maria. O verbo grego para dobrar é diplóo. O célebre político
e orador romano Cícero foi um dos primeiros a registrar a palavra
latina diploma para indicar passaporte, salvo-conduto. Prevaleceu a
forma do papel dobrado para instituir o significado. Napoleão
Bonaparte expressou curioso conceito de diplomacia, anotado por
Honoré de Balzac, que pretendia escrever um romance sobre o
poder e a forma como o corso o conquistou: “uma mulher da velha
aristocracia entregará seu corpo a um plebeu e não lhe revelará os
segredos da aristocracia; assim, os tipos elegantes são os únicos
embaixadores capazes”. Entre outros juízos sobre diplomacia,
exarou também estes: “os tratados se executam enquanto os
interesses estão de acordo; impor condições muito duras é
dispensar de cumpri-las; nas questões do mundo, não é a fé que
salva, é a desconfiança; um congresso é uma convenção fingida
entre os diplomatas, é a pena de Maquiavel unida ao sabre de
Maomé”.
D I R E I T O: do latim directus, direito, reto, certo. Entre
inúmeros significados, designa o sistema de regras jurídicas
observadas pelos povos civilizados, herdeiros do direito romano,
institucionalizados na antiga Roma, entre os séculos VIII a.C. e VI
d.C. Daí a presença de palavras e frases que os especialistas
preferem citar em latim, a língua original em que foram escritos,
com o fim de recuperar o sentido exato, indispensável na aplicação
da justiça. Vírgulas podem resultar em condenação ou absolvição
na letra fria da lei. Por isso, entre os direitos garantidos aos
cidadãos está o de serem julgados antes de eventualmente
condenados, conforme ratificado na Assembléia Geral das Nações
Unidas, no dia 10 de dezembro de 1948, em documento de trinta
artigos, intitulado Declaração Universal dos Direitos Humanos, dia
desde então dedicado à celebração da conquista. Talvez porque sua
aplicação demore tanto em muitos lugares, no Brasil é também o
dia do palhaço.
D O C E N T E: do latim docente, docente, aquele que ensina. Seu
significado primitivo é ensinar a aprender, o que parece uma
tautologia. Os primeiros docentes atuaram em adestramento
militar, preparando os soldados para a guerra. Depois é que o
vocábulo migrou para a sala de aula, antes, porém, passando por
outras significações de domínio conexo, de onde vieram palavras
como dócil e docilidade, designando quem aprende com facilidade
e dando-lhe a respectiva qualidade. O dicionário Aurélio dá como
origem de docente o alemão dozente. De todo modo, também os
alemães radicaram o vocábulo no latim.
E C U M Ê N I C O: do grego oikoumenikós, pelo latim oecumenicus.
Indica a parte da Terra que é habitada, referindo-se por
conseguinte a todos os povos. Conceito bastante utilizado pelos
documentos da Igreja, principalmente em tempos de sucessão no
papado, vez em que os papas podem ser divididos em dois grandes
grupos: aqueles que fecham a Igreja em sua ortodoxia e os que a
abrem às outras religiões. O Concílio Vaticano II, obra do papa
João XXIII, continuada por Paulo VI, o papa que mais valorizou a
mulher, foi ecumênico, abrindo diálogo entre o catolicismo e as
outras crenças. Nas especulações sobre a sucessão do atual papa,
aparecem com freqüência nomes de cardeais brasileiros, entre os
quais o gaúcho Claudio Hummes, arcebispo de São Paulo, e
Geraldo Majella Agnelo, de Savador.
E D U C A Ç Ã O: do latim educatione, nome que os romanos
davam ao processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral
do ser humano, realizado em escolas e dirigido por docentes, os
principais responsáveis pela formação integral dos alunos. A
educação está entre os principais problemas brasileiros. A tarefa de
educar, em escolas privadas e também na rede pública, está
custando muito dinheiro.
E M I G R A R: do latim emigrare, pela formação “e”, para fora, e
“migrare”, mudar, radicado originalmente no indo-euroupeu
“mei”, mudar, trocar. A raiz aparece em outras palavras de domínio
conexo, como imigrar, “in”, para dentro, e “migrar”, mudar. Está
presente também em remigrar, pouco usado, que significa voltar
para o lugar de onde saiu, e transmigração, com significado de
exílio, desterro, cujo sinônimo em certa doutrina é metempsicose,
crença segundo a qual quem emigra e imigra são as almas, que
deixam corpos que animaram e podem reencarnar-se até mesmo
em seres de outra espécie ou em vegetais. O brasileiro que muda
para o exterior é emigrante para nós e imigrante para o país onde
chega.
E M I N Ê N C I A: do latim eminentia, designando originalmente
elevação, saliência, relevo, pequeno morro, sendo depois aplicado a
algo que se destacasse acima de determinada superfície, fosse a
ponta de uma lança no corpo do guerreiro ferido ou a sacada de
uma casa. O latim tem ainda o verbo eminere, com o significado de
sobressair-se, destacar-se, surgir, aparecer. Em sentido conotativo,
consolidou-se para indicar auxiliar de autoridades religiosas, civis e
militares, ainda que eminência seja também o tratamento devido
aos bispos. A eminência era figura intermediária decisiva entre o
súdito e o soberano nos tempos monárquicos, tendo as repúblicas
preservado a função. A mais famosa de todas as eminências foi o
cardeal Richelieu. Junto dele atuava com grande desenvoltura, mas
à sombra do chefe, imitando os procedimentos deste junto ao rei, o
padre capuchinho mais conhecido pelos que o procuravam como
Pére Joseph. Foi ele a primeira eminência parda, éminence gris, no
francês. O adjetivo qualifica funcionário ou membro externo ao
quadro de assessores, que entretanto se faz ouvir pela eminência
mais bem posta junto à autoridade a qual serve e que também
manipula, por vezes, dada a sua intimidade com o poder.
E M P R É S T I M O: composição latina de in, em, e praestitu,
particípio passado do verbo praestare, emprestar. Os empréstimos
de dinheiro, mediante juros, foram primitivamente reprovados
pela Igreja, por menor que fosse a taxa utilizada para a
remuneração do capital. As recentes pesquisas em história das
mentalidades têm revelado que o purgatório pode ter sido criado
para abrigar os banqueiros, uma vez que, ao providenciarem capital
para as instituições religiosas, eles passaram a merecer um lugar
intermediário entre o inferno e o paraíso. O Brasil pratica taxas
pecaminosas de juros, ainda que a Constituição de 1988 tenha
tabelado os juros em 12 por cento ao ano. Como muitas das leis
brasileiras, divididas entre aquelas que pegam e outras que não
pegam de jeito nenhum, essa também não pegou.
E M U L S Ã O: do latim emulsu, ordenado, com acréscimo do
sufixo ão, indicando aumentativo. Esta denominação fixou-se em
razão do aspecto leitoso da maioria das emulsões. Entre os anos de
pós-guerra e até a década de 1970, muitas crianças foram obrigadas
a tomar um composto de óleo de fígado de bacalhau, de gosto
amargo e difícil de tragar, chamado Emulsão de Scott, depois
vendido em cápsulas, apresentado como suplemento vitamínico
importante para a saúde.
E N A L T E C E R: do espanhol enaltecer, calcado no verbo latino
altere, aumentar, fazer crescer, tendo também o significado de
elogiar, prática, aliás, adotada também por vendedores ao
exagerarem na qualidade das mercadorias que querem empurrar
aos clientes. Caso interessante o do nova-iorquino David
McConnel, vendedor de livros de porta em porta. Poucos
compravam os livros que ele queria vender e, para seduzi-los,
oferecia um mimo a quem comprasse algum volume: um vidro de
perfume. Os clientes, principalmente as mulheres, preferiam o
perfume aos livros. E o vendedor trocou de ramo, alcançando
grande sucesso não apenas nos EUA, mas em muitos outros países,
inclusive no Brasil. Deu ao perfume o nome Avon, para
homenagear a cidade em que ele e William Shakespeare nasceram,
a cidadezinha de Strafford-on-Avon.
E N D O S S A R: do latim medieval indorsare, pela formação in
dorsum, no dorso, nas costas. Mas antes fez escala no francês
endosser, vestir, colocar nas costas, vergar, já presente nas Viagens de
Carlos Magno, publicadas no século XII, mas ocorridas nas diversas
campanhas militares realizadas pelo rei dos francos, coroado
soberano do Sacro Império Romano-Germânico pelo papa Leão
III. No sentido figurado e linguagem comercial, endossar, ato de
avalizar, abonar, dar crédito a documento de terceiro, surgiu no
francês no século XVII. Chegou ao português no século seguinte e
foi registrado pela primeira vez no Dicionário da Língua Portuguesa,
de Antonio de Morais Silva, publicado em Lisboa em 1789.
Perseguido pela Inquisição, o dicionarista refugiou-se na Inglaterra
e teve de abandonar os estudos jurídicos na Universidade de
Coimbra. O endosso, como no cheque, é feito por assinatura do
favorecido no verso do documento e está regido pelo Código
Comercial.
E N S I N A R: do latim insignare, transmitir conhecimentos,
ensinar. A igreja forneceu as sacristias para as primeiras escolas e
por isso o trabalho do professor foi visto durante muitos séculos
como sacerdócio, e não como profissão. E os mestres deveriam ser
castos. O lugar por excelência para o ensino é a escola, que no
Brasil compõe-se de ensino fundamental, ocupando a criança por
oito anos; de ensino médio, que dura três anos; do curso superior,
que se estende de três a cinco anos; e da pós-graduação, que inclui
especialização, mestrado e doutorado, com duração variável,
podendo ir de um a dez anos ou mais. Há ainda os cursos especiais,
aqui e no exterior, como aqueles freqüentados por turistas no
Disney Institute, só para terem o gosto de ser alunos de
personalidades como o ator cubano-americano Andy Garcia, que
trabalhou em O Poderoso Chefão 3, e o cineasta Martin Scorsese,
diretor de A Última Tentação de Cristo. A humanidade caminha na
direção de uma educação permanente, em que a imprensa cumpre
função importante, não mais exclusiva das escolas tradicionais. Em
1999, segundo o Ministério da Educação, no Brasil 54 milhões de
alunos estavam aprendendo com 2 milhões de professores,
incluídos o ensino infantil, fundamental, médio e superior. O
ensino noturno é largamente utilizado pelos trabalhadores, que às
vezes estudam à luz de velas ou lamparinas, já que 63 mil escolas
estavam sem luz nos finais do século XX! O ex-ministro Paulo
Renato Sousa declarou que este é um problema menor, já que são
escolas com menos de 100 alunos. É o que dá nomear economista
para cuidar da educação. Pelo menos as contas ele poderia fazer
direito. Afinal 63 mil escolas vezes 100 alunos indicam que há
cerca de 6,3 milhões de alunos estudando no escuro.
E S C R E V E R: do latim scribere, escrever, redigir, compor, tendo
também o significado de celebrar. A composição em versos, como
as atuais letras de músicas, tem sua origem remota nas sociedades
ágrafas. Desconhecendo a escrita, os compositores criavam as rimas
que, além de ornamentar seus versos, facilitavam a memorização.
Escrever não escolhe idade: Álvares de Azevedo e Castro Alves,
dois de nossos maiores poetas, produziram obras geniais ao redor
dos vinte anos. Goethe escreveu as Afinidades Eletivas já na terceira
idade, aliás estação propícia à criatividade também na música:
Verdi estava com 74 anos quando compôs Otelo. Na ciência não é
diferente: Isaac Newton ainda trabalhava aos 85 anos. Não se sabe
se o estado de absoluta castidade ajudou-o nisso, já que morreu
virgem.
E S T Â N C I A: do latim stantia, coisas que estão de pé, paradas.
Indica lugar onde se fica por algum tempo e neste sentido é
sinônimo de estação. Tem também o significado de estrofe, grupo
de versos que apresentam sentido completo. No Brasil meridional,
derivando do espanhol platino estancia, designa fazenda ou
propriedade rural destinada à agricultura e à pecuária, onde são
criadas ovelhas, mas sobretudo o gado vacum e cavalar. É também
comum a denominação de estância hidromineral a estações onde é
engarrafada a água mineral, que contam com hotéis destinados a
descanso e terapia pela água. Os portugueses, não sem razão,
acham que nós cometemos uma redundância ao qualificarmos esse
tipo de água como mineral.
Ê X T A S E: do grego ékstasis e do latim extase, mudança de
estado, tendo também o significado de estar nu. Uma pessoa fica
em êxtase quando o espírito sai do corpo para dar uma voltinha.
Às vezes, demora a retornar, assustando os amigos daquele que
partiu. Famosos místicos tiveram êxtases deslumbrantes, como é o
caso de Santa Teresa de Ávila.
F A C Ç Ã O: do latim factione, facção, maneira de fazer, poder de
fazer. Passou a designar grupo separatista dentro de um mesmo
conjunto, seja um partido político ou um bando sedicioso que
acolha divergências devidamente agrupadas. As facções unem-se
essencialmente ao resto dos aglomerados aos quais pertencem, mas
têm divergências que as diferenciam no interior do grupo, de que
são exemplos as várias facções do Partido dos Trabalhadores (PT),
denominadas “campo majoritário” e “articulação”, que
apresentaram candidatos próprios à presidência da agremiação. Na
seqüência da crise que levou ao afastamento de José Genoíno, foi
eleito o ex-ministro Ricardo Berzoini, que derrotou Raul Pont. O
antigo MDB, de onde se originou o PMDB, tinha uma facção que
se tornou famosa por suas dissidências: este grupo se
autodenominava e era reconhecido como “grupo dos autênticos”.
F A N F A R R Ã O: do espanhol fanfarrón, festeiro, alegre,
tocador de fanfarra. O percurso do vocábulo pode ter incluído
também o francês fanfare, imitação onomatopaica do som da
trombeta, e o árabe farfar, leviano. No português, ganhou o sentido
de quem blasona valentia para esconder covardia.
F A N I Q U I T O: do árabe annicd, desfeito em pedaços. A pessoa
que tem um faniquito parece que foi demolida. Mas o vocábulo é
quase sempre usado em sentido pejorativo, para indicar um
nervosismo sem motivo.
F E R I R: do latim ferire. Tem também o sentido de atingir. Assim
se pode dizer que um objetivo atingido foi ferido. Seu significado
usual, porém, é de machucar. O grande general e escritor romano
Júlio César, bissexual convicto e praticante, que defendia ser
necessário sua esposa Calpúrnia, além de ser, parecer honesta,
enquanto ele se deliciava com seus comandados mais jovens,
recomendou aos veteranos, na célebre batalha de Farsália, que os
inimigos fossem feridos no rosto: “vultum feri” (feri no rosto). Eram
quase todos jovens, orgulhosos do viço juvenil, e abandonaram o
campo de batalha para não terem o rosto desfigurado. E César
venceu outra vez. Nossos procuradores estão levando corruptos a
ser feridos no rosto por luzes e câmeras, mas há quem queira
protegê-los por julgarem que tal exposição é excessiva.
F I M: do latim fine, fim. De gênero ambíguo no latim antigo, foi
feminino nos primórdios da língua portuguesa, tal como se pode
ler no Cancioneiro da Ajuda em expressões como “até o fim do
mundo”, “de boa fim” etc. Outras línguas neolatinas conservaram
o gênero feminino, ao contrário do português, que consolidou o
masculino. Dramaturgo, roteirista e membro da Academia
Brasileira de Letras, Dias Gomes escreveu o argumento da
telenovela O Fim do Mundo, exibida pela TV Globo.
F O C O: do latim focus, fogo, é o ponto para o qual converge ou
do qual diverge alguma coisa. O foco é importantíssimo para que
uma imagem seja bem visualizada por uma câmera ou para que um
problema seja bem compreendido. Focus tem também o sentido de
lume, habitação, casa, que no português tomou o sentido de lar, de
onde deriva lareira. Entre os romanos, lar era preferencialmente a
cozinha, sempre com algum tipo de fogo aceso. Divindades
chamadas Lares e Penates protegiam a casa ou domus, palavra que
deu origem a domicílio – onde as pessoas moram. Enquanto os
Lares cuidavam mais da cozinha, os Penates estavam encarregados
do interior da residência, onde estavam os bens, incluindo víveres,
na despensa, do latim dispensa. Cada família romana reverenciava
dois Penates. As casas romanas costumavam ter três altares, onde
ficavam os Lares, os Penates e Vesta, esta última com lugar de
destaque, na sala, logo depois do vestibulum, entrada, que deu
origem à palavra vestibular (entrada na universidade).
F U T U R O: do latim futuru, futuro, que há de ser. Em gramática
temos os tempos verbais futuro do presente e do passado. Entre os
que vaticinaram excelências para o futuro de nosso país está o
escritor judeu-austríaco Stefan Zweig, que escreveu o livro Brasil,
país do futuro. Suicidou-se, juntamente com a esposa, abalado pelo
rumo que estava tomando a Segunda Guerra Mundial. Alguns
filósofos negam o futuro. Outros negam o passado. Outros ainda,
o presente, baseados em que nada é, tudo já foi ou está por vir.
Economistas e ciganas não negam o futuro, pois vivem de prevê-lo,
mas quando os primeiros fazem previsões, o contribuinte faz
provisões, adotando a precaução do passarinho que come pedra:
sabe o que lhe advém. As ciganas lêem mãos, mas no romance Os
Guerreiros do Campo, em que o personagem frei Nabon pode ter
sido inspirado na figura de frei Betto, célebre escritor e frade
brasileiro, uma cigana lê o pé de Gregório, amigo do religioso, com
o fim de desvendar sua vida amorosa e seu futuro.
G A L E R A: do grego bizantino galéa, designando tipo de peixe
semelhante ao tubarão, pelo espanhol e o catalão galera,
embarcação grande que, por seus movimentos, foi comparada
àquele peixe. Era movida por 15 a 30 remos, cada um manejado
por três a cinco homens, em geral escravos, em apoio às velas. No
filme Ben-Hur, Charlton Heston é remador numa galera, que é
variante de galé. Na linguagem coloquial dos jovens passou a
designar qualquer aglomeração deles em shows, campos de futebol
e outros espetáculos públicos. Alta autoridade do STJ manifestouse inconformada com essa auto-identificação da rapaziada,
atribuindo-a à ignorância da etimologia e significado do vocábulo,
que está presente no nome de Daniel Galera, jovem escritor do Rio
Grande do Sul, autor de Dentes Guardados e de textos avulsos que
aparecem com freqüência em portais da internet.
G A R A N T I A: do francês garantie, garantia, ato ou palavra com
que é assegurado o cumprimento de obrigação, promessa,
compromisso. Designa, na indústria moderna, documento que
atesta ser bom o produto que o consumidor adquiriu e que o
fabricante se responsabiliza por repará-lo ou substituí-lo em caso de
defeito, mas apenas durante um certo período. Nos alimentos, a
garantia indica o prazo de validade. Infelizmente, não há o mesmo
recurso para políticos. O eleitor volta num candidato e ele muda
de partido sem consultar os eleitores, ainda que o Partido não
possa proceder do mesmo modo, trocando também os eleitos. E o
eleitor só pode trocar de quatro em quatro anos, exceto no caso
dos senadores, cujo mandado é de oito anos.
G E N E R A L I D A D E: do latim generalitate, declinação de
generalitas. Pico de la Mirandola, um dos filósofos mais
encantadores e curiosos do Renascimento, deveria ser o patrono de
certos jornalistas. O famoso humanista italiano jactava-se de poder
discutir todo o conhecimento universal. Adotou a divisa latina “De
omni re scibil” (De todas as coisas sabíveis). O irônico Voltaire, cujo
nome completo é François-Marie Arouet de Voltaire, acrescentou
como deboche: “et quibusdam aliis” (e mais algumas). Picolo tinha
apenas 23 anos quando foi a Roma defender 900 teses tiradas de
sábios greco-latinos, hebraicos e árabes que tratavam dos mais
diversos temas. Sua tese de número 11 tem um título extenso,
como então era de praxe: “Ad omnis scibilis investigationem et
intellectionem (Pesquisa e entendimento de tudo o que é sabível).
G Ê N E R O: do latim generu, declinação de genus, gênero. Na
língua portuguesa não temos o neutro, somente o masculino e o
feminino. Vocábulo utilizado em muitas acepções, tem recebido
novos significados depois que a Organização das Nações Unidas
instituiu o Ano Internacional da Mulher e a Década da Mulher,
em 1975. Na avaliação das lutas contra a discriminação da mulher,
travadas no decênio a ela dedicado, realizada em 1985, em Nairobi,
capital do Quênia, a conclusão foi de que em algumas regiões a
situação da mulher tinha piorado. Foram traçadas outras
estratégias cujos resultados foram examinados na Conferência
Mundial da Mulher, em setembro de 1995, em Pequim. O tema
fundamental da conferência foi a questão do gênero, com o fim de
avaliar outra vez a situação da mulher no mundo face às
discriminações sexuais, desdobradas em muitas outras formas de
restrição, agravadas em períodos de crises e guerras, quando os
direitos humanos são ainda mais desrespeitados se a vítima é do
sexo feminino
G E S T Ã O: do latim gestione, declinação de gestio, designando ato
de gerir, administrar. Os puristas consideram que veio do francês
gestion, caracterizando-o como galicismo, modo de falar ou de
escrever muito apegado ao francês. Seu primeiro registro no
português, segundo o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de
José Pedro Machado, data de 1873. Mas Antonio Houaiss, apoiado
no Dicionário da Língua Portuguesa, de Antonio de Morais Filho,
recua a anotação para 1858. Já Antenor Nascentes em seu
Dicionário Etimológico, às vezes tão pródigo em muitos verbetes,
limita-se a reconhecer a origem latina do vocábulo. Inicialmente,
era usual a gestão de recursos ou patrimônios não ser remunerada.
Foi a profissionalização na esfera administrativa, nos setores
privado e público, que a consolidou como serviço contratado
mediante pagamento. Em empresas familiares, a modernização da
economia e a globalização dos negócios acabaram por retirar a
gestão dos parentes e atribuí-la a profissionais, em busca de maior
eficiência. Uma das formas de gestão econômica, embora muito
rara, é o perdão das dívidas. O Brasil perdoou dívidas públicas de
países como a Polônia e Moçambique. E na tradição judaica, o ano
sabático incluía a remissão das dívidas. No jargão político e
administrativo, gestão passou a denominar o período de governo
do principal ocupante do cargo.
G U E I X A: do japonês goi, arte, e xa, pessoa, significando
literalmente pessoa de arte, vocábulo que designa cantoras e
dançarinas. Passou a nomear outras profissões, surgidas da
combinação de costumes ocidentais com a tradição japonesa. E
nesse sentido indica também a moça que trabalha nas casas de
massagem.
também certa máquina de G U E R R A: do antigo alemão werra,
discórdia, peleja. A independência dos Estados Unidos foi obtida
em célebre guerra travada pelas 13 colônias contra o Reino Unido,
que culminou com a Declaração de Independência, proclamada
em 4 de julho de 1776. Entre 1812 e 1814 o país volta a enfrentar
a ex-metrópole, que só reconhece a independência americana em
1783. O primeiro presidente, o general George Washington, foi o
comandante-chefe das forças rebeldes. A vocação militar da nova
nação pode ser comprovada nas numerosas guerras que travou e
continua travando desde então.
H A B E A S C O R P U S: da expressão latina que significa “que
tenhas o corpo”, cuja origem remota é a Magna Carta inglesa de
1215, mas que, embora tenha vigorado durante a Idade Média, é
datado oficialmente de 1679. Designa “garantia constitucional
outorgada em favor de quem sofre ou está na iminência de sofrer
coação ou violência na sua liberdade de locomoção por ilegalidade
ou abuso de poder”.
H A B I T A T: do latim habitat, terceira pessoa do singular do
presente do indicativo: ele habita. Passou a indicar a localidade
onde vive determinada espécie. O habitat pode mudar com o
tempo. O dos sete anões era a floresta, mas depois, em companhia
de Branca de Neve, foram flagrados pela CPI da corrupção na
Comissão de Orçamento.
H E R A N Ç A: do latim haerentia, designando os bens deixados
aos vivos pelos mortos por meio de testamento, quando eles
podem prever a hora da partida, ou outros documentos. Por vezes,
nem bem são enxugadas as lágrimas derramadas no velório, já
começam a esguichar outras, não mais de compaixão, mas de raiva
deflagrada nos conflitos nascidos entre os candidatos à distribuição
das riquezas. Talvez tenha sido por isso que algumas culturas
antigas enterraram seus mortos com tudo o que lhes pertencia.
H I L Á R I O: do grego hilarós, pelo latim hilaris, contente, alegre,
jovial. Na cultura greco-romana o riso e a alegria eram atributos dos
jovens. Mas nas hilárias, festas celebradas em honra da deusa
Cibele, no começo da primavera, todos os romanos riam. O gás
hilariante é assim denominado porque ao ser inalado provoca
contrações espasmódicas na musculatura da face semelhando o
riso. Extraído do nitrato de amônia, é um gás muito usado pela
polícia na dispersão de protestos públicos. Hilário é também nome
de pessoa e vários Hilários mereceram a honra dos altares, um dos
quais é Santo Hilário de Poitiers, bispo e doutor da Igreja, autor de
vários cânticos religiosos, comemorado a 13 de janeiro. Na
Inglaterra, há o Hilary Term, que denomina o período de
funcionamento de universidades e cortes de justiça.
H I M E N E U: do latim hymenaeu, por sua vez vindo do grego
himénaios, ambos com o significado de canto nupcial. Derivou de
hymên, a membrana que, intacta, garantia a virgindade da noiva,
preciosa moeda em tempos antigos, com a qual os pais podiam
arranjar um bom casamento. A virgindade feminina – a masculina
jamais foi obrigação – deixou de ser imposta às casadouras,
constituindo-se em importante conquista da mulher nos anos
rebeldes, a década de 1960, que mudou radicalmente usos e
costumes. São do poeta Álvares de Azevedo estes versos: “É doce
amar como os anjos/ da ventura no himeneu/ minha noiva ou
minh’amante/ vem dormir no peito meu”.
H O M O L O G A R: do grego homologéo, de homo, semelhante,
igual; e logos, linguagem, juízo, conceito, idéia. Em português,
homologar é aprovar, concordar, exarar o mesmo juízo constante
no documento recebido de outra instância, a ser ratificado em
instância superior ou mais abrangente. Os compostos gregos homo e
logo estão presentes em numerosas palavras, de que são exemplos
homogêneo, homossexual, do primeiro composto; e filologia,
fisiológico e logotipo, este designado às vezes apenas como logo, do
segundo. É difícil encontrar abonamentos de homologar e
homologação em textos literários, pela marca excessivamente
burocrática que tais vocábulos adquiriram ao longo do tempo. A
menos que seja seguido o exemplo do matemático inglês Charles
Babagge, autor da primeira máquina de calcular, que,
inconformado com os versos do poema The Vision of Sin (Visão de
Pecado), “a cada minuto morre um homem,/ a cada minuto outro
nasce”, escreveu ao autor, o poeta Alfred Tennyson, fazendo-lhe
insólita crítica literária, ao argumentar que se assim fosse a
população não aumentaria nem diminuiria, além de que minuto
deveria ser substituído por momento. O escritor aceitou a correção
e fixou no original: “Ev'ry moment a man dies,/ ev'ry moment one is
born.” A correção foi aceita, mas Babagge replicou que, pensando
melhor, o verso deveria ser “a cada momento, 1 homem morre,/ a
cada momento 1/16 homem nasce”, que era a taxa de crescimento
da população mundial naquela época. O poeta mandou o cientista
pastar. Babagge recusava-se a homologar crenças consolidadas e de
outra vez, inconformado com a autoria da quebra de vidraças,
creditada a bêbados, mulheres e crianças, fez cálculos complexos
para provar que, de 464 vidraças quebradas, apenas 14 tinham sido
quebradas por bêbados, mulheres e crianças.
H U M I L D A D E: do latim humilitate, declinação de humilitas,
humildade, baixeza. A etimologia indica que a humildade é coisa
apegada ao humus, chão. A doutrina cristã tornou virtude o que era
considerado pejorativo. Por isso, Jesus adverte nos Evangelhos que
“Quem se humilha, será exaltado, e quem se exalta, será
humilhado”.
I D E M: do latim item, significando igualmente, do mesmo modo.
Em caso de repetição seqüencial, usa-se ibidem, muito usado em
citações bibliográficas. No Rio Grande do Sul, achou-se este primor
de tabela num açougue: “Carne sem osso; idem, com osso; ibidem,
sem idem; idem, sem ibidem”. E o preço ia diminuindo, sendo o
último item gratuito.
I D E N T I D A D E: do latim escolástico identitate, declinação de
identitas, identidade. No latim, a palavra foi formada a partir de
idem, o mesmo, a mesma, e entitate, declinação de entitas, entidade,
ser. A identidade, conjunto de marcas singularíssimas de uma
pessoa, faz com que a existência dos sósias seja um fenômeno raro,
explorado pelos meios de comunicação social. O sujeito parece-se
com alguém, podendo ser ou não ser quem se imagina, dúvida que
as impressões digitais ou o exame da arcada dentária podem
dirimir, como aconteceu com o carrasco nazista chamado de “o
anjo da morte”, Joseph Mengele, cuja identificação foi feita por
peritos da Polícia Federal e da Universidade Estadual de Campinas
em 1985, muitos anos depois de ter vivido anonimamente em
Embu, onde morreu, nas proximidades de São Paulo. Nem todos
acreditaram nessa história, principalmente depois que um dos
peritos que integraram a equipe que identificara o famoso
criminoso de guerra andou cometendo erros primários no exame
dos corpos de Paulo César Farias e Suzana Marcolino, assassinados
na cama, à noite, numa casa de praia do empresário, em Maceió.
I G N O R Â N C I A: do latim ignorantia, desconhecimento. Dá
título a um breve poema de O Soldado Raso, do escritor alagoano,
membro da Academia Brasileira de Letras, Ledo Ivo: “Quem, em
seu gabinete,/ fala em nome do povo/ não sabe que a galinha/
nasceu antes do ovo”. A origem do ovo e da galinha é grave
questão filosófica, apesar de surgida provavelmente num
galinheiro.
I M O R T A L: do latim immortale, declinação de immortalis,
imortal, que não está sujeito à morte. O prefixo “im”, no latim
como no português, indica negação, sendo às vezes escrito “in” em
nossa língua, de que é exemplo “inativo”, aquele que não está
ativo, sinônimo de aposentado. Os primeiros imortais latinos
foram os deuses pagãos. Os primeiros escritores imortais foram
franceses, pois a Academia utilizou como critério para eleição
aqueles autores cujas obras seriam perenes, jamais esquecidas, e por
isso os escritores seriam sempre lembrados, como se vivos fossem.
A Academia Brasileira de Letras adotou a concepção francesa.
Entretanto, alguns imortais renunciaram à imortalidade. E nesses
casos as vagas somente foram preenchidas segundo o método
tradicional, isto é, depois da morte dos titulares. Foi o caso de
Clóvis Bevilacqua, que renunciou em 1914 porque naquela época
a ABL ainda não aceitava mulheres e ele queria eleger a esposa,
Amélia de Freitas Bevilacqua. Houve outras renúncias: Graça
Aranha, José Veríssimo, Oliveira Lima e Rui Barbosa.
I M P A C T O: do latim impactu, impacto, colisão, choque. A
palavra foi formada com o afixo im, indicativo de negação. Em
latim, pactu significa pacto, ajuste, contrato, acordo. O impacto
pressupõe o uso da força.
I M P A S S E: do francês impasse, sendo im o prefixo que indica a
negação de passe, canal, passagem, mas ainda nas vias marítimas e
fluviais. Em terra, o impasse tinha a denominação chula cul-desac,
beco. Foi no francês que a palavra ganhou sentido conotativo,
primeiramente com François Marie Arquet, mais conhecido como
Voltaire, e mais tarde com Denis Diderot, os grandes iluministas e
autores de obras literárias que até hoje são referências
indispensáveis. Das navegações, impasse veio para o jogo de cartas,
designando lance que impedia a passagem de cartas ao jogador.
Voltaire reprovou o chulo cul-de-sac na boca e na pena de homens
cultos, propondo a variante impasse. Mas foi Diderot o primeiro a
empregar a palavra como sinônimo de situação em que não há
saída ou que ela é quase impossível, a menos que sejam feitas
concessões mútuas, isto é, que alguém deixe o adversário passar.
Ou o vença, claro, hipótese que em tais casos é tarefa considerada
impossível por qualquer das partes envolvidas. No futebol, quando
surge o impasse, a impossibilidade do passe para a frente, para
avançar, cabe ao jogador que domina a bola buscar outra
alternativa, que pode ser o recuo. Na política, também.
J A N G A D A: do malaiala changadam, balsa. Inicialmente
designou junção de madeiras para salvamento de náufragos. Alguns
pesquisadores tinham dado como origem o tupi-guarani hangada,
mas depois ficou demonstrada a origem asiática da palavra. A
jangada, embarcação tosca, utilizada por pescadores nordestinos, é
construída com cinco paus roliços. O do centro chama-se meio; os
dois mais grossos, bordos; os outros dois, amarrados às
extremidades, são denominados mimburas. O mastro das jangadas
é chamado de boré. O escritor português José Saramago é autor de
Jangada de Pedra, um romance em que a Península Ibérica é
comparada a esse tipo de embarcação.
J E I T O: do latim jactu, lançado. No português passou a designar
a feição e os modos das pessoas. O escritor irlandês George
Bernard Shaw, famoso pelo humor com que temperava seus textos
e conversações, assim se definiu em A Outra Ilha de John Bull: “Meu
jeito de brincar é dizer a verdade. É a brincadeira mais engraçada
do mundo”.
J E J U M: do latim jejunium, jejum, abstinência de alimentos. O
jejum como ritual está presente em várias culturas e religiões. Os
muçulmanos jejuam no ramadã, como é chamado o nono mês
lunar, abstendo-se de alimentos, bebidas e atos sexuais entre o
alvorecer e o pôr-de-sol. Iniciado em dezembro, é um dos cincos
pilares do islamismo. Os outros quatro são: aceitar que há um só
Deus, Alá, e que Maomé é seu profeta; ir a Meca pelo menos uma
vez na vida; rezar cinco vezes por dia; e pagar contribuições aos
pobres e necessitados. O final do mês lunar de ramadã ocorre em
janeiro, quando é celebrada a Eid el Fitr, a festa do desjejum.
J O R N A D A: do provençal jornada, marcha ou caminho que se
faz durante um dia inteiro de viagem. Teria derivado de jorn, que
também no provençal designa o dia, tendo vindo provavelmente
do latim diurnum, forma neutra do adjetivo diurnus, diurno, o que
se faz no espaço de um dia, uma vez que os viajantes caminhavam
apenas durante o dia, reservando a noite para descansar.
Primeiramente o vocábulo foi aplicado a marchas militares. Com a
industrialização, que demanda horários fixos de trabalho, passou a
designar o total de horas que um trabalhador dedica ao serviço. Em
geral, as jornadas são de 8 horas diárias, de segunda a sexta-feira,
totalizando 44 horas semanais, dado que aos sábados o expediente
vai até o meio-dia.
J U I Z: do latim vulgar judice, declinação de judex, judicis,
designando aquele que tem por função dizer (dicere) o direito (jus).
No Brasil, o juiz mais impopular é o de futebol. Ele e sua mãe são
agraciados com os piores desaforos durante as partidas. Já o juiz de
direito é figura muito bem acolhida no imaginário popular,
principalmente pela convicção de que promoverá a justiça, doa a
quem doer. Ultimamente, porém, o Judiciário tem sido alvo de
pesadas críticas, não apenas pelas denúncias de enriquecimento
ilícito de alguns membros ilustres, mas também por sua insistência,
em possível acordo com os parlamentares, em fixar o teto salarial
de ambas as categorias em quase mil salários mínimos por ano,
quantia que o trabalhador levaria mais de 80 anos para ganhar.
Naturalmente, terá morrido antes. Seguindo tal exemplo, o direito
não será mais do que o torto autorizado.
J U R I S C I Ê N C I A: do latim juris, caso genitivo de jus, direito,
e scientia, ciência, palavra criada por Eros Roberto Grau, gaúcho de
Santa Maria, Doutor em Direito pela USP e ministro do STF, por
analogia com jurisprudência, assim explicada em entrevista ao
jornalista Ricardo Noblat: “Na hora que você olha aqueles caras
[ministros de tribunais] decidindo... Um, por exemplo, passou pelo
Colégio Salesiano e por isso concede ou não concede o habeas
corpus pedido (Eros foi aluno salesiano). Outro levou uma vida
mais dura quando era criança. É por causa de coisas que se
passaram lá atrás que se dá uma decisão com maior ou menor
amplitude”. Autor de dezenas de livros de direito, o ministro
apimentou as redações ano passado com a publicação do romance
Triângulo no ponto, que registra expressões como “peitinhos de
perdiz”, “válvula de sucção” e “pote de mel”. O livro é ambientado
nos anos duros da ditadura militar pós-64. Como se vê, também a
prosa de ficção subsidia a jurisciência, assim como os bilhetinhos
trocados pelos ministros nos laptops, como ocorreu recentemente
no STF, em fotos feitas por Roberto Stuckert Filho, de O Globo.
Nas mensagens eletrônicas, os ministros dispensaram o juridiquês
do excelso pretório, alcândor conselho ou egrégio sodalício, três
das muitas denominações inusitadas do STF, e utilizaram o
português coloquial para tratar de estranhos comportamentos de
seus pares, de que é exemplo o bilhete enviado pela ministra
Carmen Lúcia Antunes Rocha ao colega Enrique Ricardo
Lewandowski: “O Cupido acaba de afirmar aqui do lado que não
vai aceitar nada”. O Cupido da frase é o criador do neologismo
jurisciência.
K A R A O K Ê: do japonês karaokê, espaço vazio. Designa casa
noturna onde qualquer cliente pode cantar acompanhado de
músicos da casa ou de trilha sonora que não foi feita para aquela
situação. O espaço vazio, no caso, é preenchido pelo canto dos
improvisados cantores.
K E T C H U P: vocábulo da língua inglesa que entrou para nossa
língua sem alteração de grafia, mas com variação de pronúncia:
kétchâp, como é pronunciado pelos americanos., e a literal. Designa
um molho denso de tomate, quase uma pasta, que serve de
condimento, principalmente para lanches.
K Í R I E: do grego Kyrie, vocativo de Kyrios, Senhor. É palavra
inicial de uma das rezas da missa e por isso lhe dá nome. Vinda da
igreja grega, hoje chamada de ortodoxa, entrou para as formas
latinas da liturgia cristã no século IV.
K I T: do inglês kit, equipamento. Entrou para nossa língua
designando conjunto de ferramentas, utensílios e itens diversos,
reunidos em estojos e pastas, para atender às necessidades básicas
de um determinado ofício.
L Á P I S: do latim lapis, pedra. De fato os lápis são feitos de um
tipo de pedra, a grafita, forma alotrópica do carbono. Quem
escreve em muros e paredes é chamado de grafiteiro, dado que
primitivamente não eram usados pincéis para isso e, sim, carvão e
grafite.
L A P S O: do latim lapsu, lapso, espaço de tempo, erro
involuntário, esquecimento. Seu sentido primitivo era o de
escorregão, deslizamento, queda, designando também o vôo da ave
para baixo – donde seus cognatos, de sentido semelhante, como
colapso e relapso, o primeiro indicando caída, parada, e o segundo,
falta cometida em repetição. Com sua ironia habitual e o
refinamento que lhe é próprio, Machado de Assis utiliza este
vocábulo num conto de Histórias Sem Data: “Há uma doença
especial... um lapso de memória; o Gonçalves perdeu inteiramente
a noção de pagar”. Boa parte dos brasileiros hoje indexados nos
serviços de proteção ao crédito deixaram de pagar suas contas, não
por falta de memória como aquele Gonçalves, mas por falta de
pecúnia. Todos os que têm o ato de escrever como ofício principal,
entre os quais escritores e jornalistas, são pródigos em oferecer
lapsos a seus leitores, alguns dos quais antológicos, como o
ferimento do Dr. Watson, que passa dos ombros para as pernas,
em surpreendente negligência de Arthur Conan Doyle, que fazia
do detalhe a sua arma. Eugene O’Neill, famoso dramaturgo norteamericano, apresenta um personagem apoiado nos cotovelos, com
a cabeça entre as mãos, depois de ter o braço direito amputado em
trecho anterior. William Shakespeare faz soar o relógio nos tempos
do imperador Caio Júlio César e recua a imprensa para alguns
séculos antes de sua invenção. E o poeta norte-americano Carl
Sandburg, em sua alentada biografia de Abraham Lincoln,
apresenta a mãe de Lincoln cantando uma canção que só seria
composta 22 anos depois do assassinato do filho, então presidente
dos Estados Unidos.
L A S E R: do inglês laser, que se pronuncia “lêiser”. Neologismo já
incorporado à nossa língua, originário do acrônimo LASER (Light
Amplification by Stimulated Emission of Radiation). Forma de luz
aperfeiçoada que, ao contrário das fontes luminosas convencionais,
produz um raio intenso e concentrado, chamado vulgarmente de
raio laser, capaz de atingir grandes distâncias. O laser é usado em
astronomia, medicina, indústria e espetáculos públicos, podendo
nesses últimos resultar em belíssimos efeitos visuais. Na indústria,
pode cortar chapas de aço; na medicina, explodir cálculos renais.
Os dicionaristas ainda não registram uma forma correspondente à
pronúncia aportuguesada, lêiser. Por isso, há alguns anos cerca de
quinze mil vestibulandos obtiveram zero em redação em prova de
Língua Portuguesa da Universidade Federal do Paraná, ao
confundirem laser com lazer.
L A S T I M A R: do latim vulgar blastemare, apoiado no latim
culto blasphemáre, blasfemar, ofender, ultrajar, injuriar, por
influência do grego blasphéméó, dizer palavras de mau agouro ou
proibidas enquanto o sacerdote fazia seus sacrifícios aos deuses. No
português ganhou o sentido de queixar-se, como se vê neste belo
poema de Carlos Drummond de Andrade, Fonte Grega, em que
uma deusa se queixa da forma que o artista lhe deu em pedra que
deve ser banhada por água eternamente: “A vida inteira mijando –
lastima-se a deusa – e nem sobra tempo para viver. Não sei abrir as
pernas senão para isso. Para isto fui concebida? Para derramar este
jacto morno sobre a terra, e nunca me enxugar, e continuar a
expeli-lo, branca e mijadora, fonte, fonte, fonte? A deusa nem
suspende veste nem arria calça. É seu destino mijar. Sem remissão,
corpo indiferente e exposto, mija nos séculos”.
L E I: do latim lege, declinação de lex, lei. Somos um país com
muitas leis, divididas entre as que pegam e as que não pegam. E a
maioria delas ainda não pegou. Porém, há uma que é chamada Lei
Áurea porque foi assinada pela princesa Isabel, a Redentora, com
sua caneta de ouro, no dia 13 de maio de 1888, depois de aprovada
no Senado, com apenas um voto contra. Na Câmara, no dia
anterior, passara com 9 votos contrários. É a lei mais concisa que o
Brasil já teve: “Art. 1º: É declarada extinta a escravidão no Brasil;
art. 2º: Revogam-se as disposições em contrário”. Nesses 110 anos
que se seguiram ninguém mais fez uma lei tão boa, tão clara e tão
fácil de entender.
L E I T U R A: do latim lectum, ajuntado, recolhido, lido,
particípio do verbo legere, ler, resultou lectura, leitura. A leitura de
entretenimento ou de estudo é recomendada no período das férias.
Para tanto, são necessários bons meios de transporte, dado que
pesquisas entre leitores habituais comprovaram que se lê muito em
viagens, sejam livros, revistas ou jornais. No Brasil, os editores de
livros estão organizados na Câmara Brasileira do Livro, cuja sede
fica em São Paulo. Houve influência de Lectus, que designava ainda
um móvel de madeira ou pedra, que indicava diversos leitos: para
dormir, descansar, apoiar-se à mesa ou para estudar. O ato de ler
recebeu essa denominação porque os primeiros livros, muito
pesados, eram apoiados sobre tal artefato. A leitura de jornais e
revistas é mais freqüente que a de livros. De acordo com o Instituto
Verificador de Circulação (IVC) e a Distribuidora Nacional de
Publicações (Dinap), as revistas vendem cerca de 50 vezes mais que
os jornais diários. Em nosso país, apenas nove jornais ultrapassam
a tiragem diária de 100 000 exemplares. Deles, sete estão no eixo
Rio-São Paulo e dois no Rio Grande do Sul.
L E M A: do grego lêmma, que em latim passou a ser grafado
lemma, ambos com o significado de proposição. Em geral é uma
frase que sintetiza a doutrina de certos movimentos políticos,
associações, corporações e estamentos, de caráter emblemático. O
lema dos inconfidentes, libertas quæ sera tamem, escrito em latim,
está hoje nas bandeiras dos Estados de Minas Gerais e do Acre. Sua
tradução é “a liberdade, ainda que tarde”, mas tem uma palavra a
mais.
L E M B R A N Ç A: de lembrar, do português arcaico nembrar, do
latim memorare, memorar, isto é, trazer à memória, fazer algo para
lembrar alguém ou alguma coisa, como revela o sinônimo presente.
Memorar virou membrar e depois lembrar, por dissimilação. Dá-se
dissimilação quando ocorre supressão ou alteração fonética
motivada por outros fonemas presentes no vocábulo. Presente é
sinônimo de lembrança porque quer indicar que quem o dá não se
esqueceu daqueles a quem o dá. Há ocasiões em que lembranças
em forma de presentes têm um significado especial, como é o caso
do Natal, com presépios, árvores e outros arranjos cercados deles.
O antônimo esquecimento esclarece o significado, pois esquecer
veio do latim excadere, cair para fora, escorregar, desfalecer, seja cair
no meio do combate ou escorregar do navio, quando poderia
morrer, na terra ou no mar, ferido ou afogado, resultando em ficar
esquecido. O ditado “quem é vivo sempre aparece” remonta a essas
lembranças. Aparece no navio, depois da tempestade, e na tropa,
cessado o combate. E nas festas, para dar e receber presentes.
Fundada por Danio Braga, existe no Brasil, trazida de costumes
italianos da região de Parma, a Associação dos Restaurantes da Boa
Lembrança. Quem faz refeições em qualquer dos estabelecimentos
da rede, pode levar um prato como lembrança, com o logotipo do
associado.
L I Ç Ã O: do latim lectione, lição. A Igreja forneceu as sacristias
para as primeiras escolas e por isso o trabalho de ensinar a lição foi
visto durante muitos séculos como sacerdócio e não como
profisssão. E os mestres deveriam ser castos. O professor e filósofo
Pedro Abelardo, que ensinava na catedral de Notre Dame, então
em construção, transou com sua aluna Heloísa, sobrinha de um
rico e avarento cônego, e pagou caro a transgressão. Foi capado. Ele
e ela escreviam cartas de amor em latim. Sua história serviu de base
para o filme Stealing Heaven (Céu roubado). Em português, com
nossa mania de falsificar os títulos e às vezes também a música, a
cor, o brilho, o contraste etc., chama-se Em Nome de Deus.
L I C E N Ç A: do latim licentia, licença, autorização para que
alguma seja feita ou deixe de ser feita. Aparece em palavras
compostas como licença-maternidade e licença-paternidade,
designando no primeiro caso o período de quatro meses
concedidos à gestante, a partir do nono mês, para que possa
dedicar-se à criança e, no segundo, o intervalo de cinco dias,
concedidos ao pai por ocasião do nascimento do filho. Está
presente ainda em licença-prêmio, período de três meses gozados
pelo funcionário, sem trabalhar e remunerado, depois de cinco
anos de serviço público. A mesma raiz aparece em licenciado,
aquele que obteve, mediante curso superior, licença para praticar
algum ofício: licenciado em Letras, por exemplo. É também a base
do verbo licenciar, como neste trecho do jornalista Ricardo Noblat:
“O Palácio do Planalto tem pressionado o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), a se licenciar do cargo caso seja
absolvido em plenário”.
L U N Á T I C O: do latim lunaticu, lunático, aquele que está sob
os domínios da Lua. Os antigos acreditavam que os loucos
sofressem influência desse satélite da Terra, que demora 27 dias e 8
horas para dar uma volta ao redor do planeta, gastando o mesmo
tempo para dar uma volta sobre si mesmo, mostrando-nos, por
conseguinte, sempre a mesma face. O mundo da lua, de acordo
com o imaginário popular, é muito propício a despreocupações.
M A G I S T R A D O: do latim magistratu, cujo prefixo, do latim
magis, maior, indica superioridade. É o juiz togado vitalício,
enquadrado regularmente na carreira judiciária. Juiz togado é
magistrado profissional.
M A G N A T A: do inglês americano magnat, designando o
grande capitalista. Como é freqüente na língua inglesa, o vocábulo
veio do latim magnatu, usado por São Jerônimo com o sentido de
personagem ilustre.
M A J E S T O S O: do latim majestas, majestade, formou-se
majestatoso, cheio de majestade, isto é, de poder. Por isso o termo
foi aplicado a reis e príncipes. Com o correr do tempo recebeu a
forma atual, por haplologia, isto é, por redução de majestatoso para
majestoso. O atual centro de cultura da prefeitura de Porto Alegre,
no Rio Grande do Sul, foi originalmente um hotel chamado
Majestic, onde viveu por muitos anos o poeta Mário Quintana que
ali escreveu muitos livros.
M A N D A R I M: da corruptela do sânscrito e do neo-árico
mantri, conselheiro, ministro. A troca do ‘t’ pelo ‘d’ pode ter tido
influência do português mandar. Designava alto funcionário da
antiga China.
M A N U S C R I T O: do latim manu scriptu, escrito à mão. É o
nome que ainda hoje se dá aos originais de um livro ou texto. Os
manuscritos antigos, de autoria de personalidades famosas, podem
valer uma fortuna. Um texto de Leonardo da Vinci foi comprado
por 30 milhões de dólares. Quem pagou tornou-se célebre por
inventos cada vez mais sofisticados, que estão dispensando o ato de
escrever à mão: o bilionário Bill Gates.
M A T R Í C U L A: do latim matricula, diminutivo de matrix,
matriz. Passou a designar inscrição, conforme adoção do termo
pelo sistema escolar e em repartições públicas. O sistema de
matrículas nas escolas evoluiu, no caso do ensino superior, para
inscrição em disciplinas, em modalidade de créditos, e não mais
em turmas, contribuindo para a dispersão dos universitários no
campus durante os anos de aprendizagem.
M E D I O C R I D A D E: do latim mediocritate, declinação de
mediocritas, mediocridade. Hoje a palavra tem sentido pejorativo, ao
contrário do latim, língua em que designava moderação. A
recomendação pelo meio-termo, pelo comedimento, pelo
ecletismo, aparece em vários autores latinos, entre os quais Marcial,
Cícero e Horácio. Este último propôs a “aurea mediocritas” –
expressão hoje viciada pelos significados pejorativos que as palavras
“mediocridade” e “medíocre” receberam no português – e exaltou a
vida medíocre, que evitaria a humilhação da pobreza e a inveja
causada pela ostentação da riqueza.
M E N T I R A: derivado de mentir, do latim mentire. Primeiro de
abril é o dia da mentira, mas a verdade não tem o seu dia. A
celebração está deslocada porque esse é o dia em que se mente
menos, vez que as mentiras são falsas, ao passo que nos outros dias
é provável que as mentiras sejam verdadeiras. Para que não sejam
desmascaradas pelo Esplendor da Verdade – título de uma bonita
encíclica do papa João Paulo II – as mentiras devem estar
hermeticamente fechadas. O advérbio deriva do deus egípcio
Thoth, cujo nome grego é Hermes Trismegistos, que significa
‘Hermes Três-Vezes-Grande’, a quem eram atribuídas revelações
filosóficas e literárias ocultistas. Mas as mentiras, grandes ou
pequenas, têm pernas curtas, segundo o ditado popular.
M E N T O R: do grego Mentor, nome de um ancião amigo de
Ulisses na Odisséia, poema épico da autoria de Homero. Contra a
opinião da maioria, ele aconselha Penépole a recusar seus devassos
pretendentes e aguardar a volta do marido. Mais tarde a deusa
Atena toma a forma do ancião para dar seus conselhos a Telêmaco,
filho de Odisseu, nome grego de Ulisses. A partir do século XIX, o
vocábulo, já escrito com inicial minúscula, tornou-se sinônimo de
conselheiro.
M Í D I A: do latim media, plural de medium, meio. Passou a
designar o conjunto dos meios de comunicação social, como o
jornal, a revista, o rádio, o cinema e a televisão. Para chegar à
língua portuguesa, entretanto, fez escala no inglês, cristalizando-se a
deformação da pronúncia na escrita. Nossos gramáticos aceitaram a
submissão ao erro prosódico, registrando-o tal como era
pronunciado nos Estados Unidos. E assim passamos a pronunciar
e a escrever arrevesadamente um vocábulo que em sua origem
latina estava mais próximo de nossa língua.
M O N O P Ó L I O: do latim monopoliu, por sua vez vindo do
grego monopólion, venda única, privilégio exclusivo de possuir,
explorar e comercializar determinados produtos. Várias empresas
estatais brasileiras foram estabelecendo reservas de domínio sobre
determinadas atividades econômicas, de que é bom exemplo a
exploração do petróleo e seus derivados. Mas as novas diretrizes
econômicas estão levando ao rompimento da ortodoxia dominante
nas últimas décadas no rumo de uma flexibilização de tais
monopólios.
M U C A M A: do quimbundo mu’kama, escrava jovem que
ajudava nos serviços caseiros, tendo a confiança dos donos da casagrande e servindo por vezes também como ama-de-leite,
encarregada de amamentar o bebê da sinhá. Nosso processo
escravista tinha várias contradições e, por isso, alguns historiadores
referem-se às mucamas como moças de estimação, que eram
amadas e escravizadas ao mesmo tempo, e pelas mesmas pessoas.
N A R C I S I S T A: do grego Nárkissos, pelo latim Narcissu,
formou-se este vocábulo para designar a pessoa excessivamente
vaidosa, que só admira a si mesma. O adjetivo derivou-se do nome
de uma personagem da mitologia grega, o jovem Narciso. Durante
uma caçada, o guapo rapaz abaixou-se junto a uma fonte para
matar a sede e viu sua bela imagem refletida naquelas águas claras –
os gregos desconheciam a poluição. O mancebo tomou-se de
excessivo amor por si mesmo, entrando em narké, entorpecimento.
Desesperado, feriu-se e morreu. Os deuses o transformaram numa
flor que ainda hoje leva seu nome.
N A U F R Á G I O: do latim naufragium, navio quebrado, já que
em latim navis significa navio, nau, embarcação, e fragium,
quebrado, fraturado. A costa brasileira tem sido palco de muitos
naufrágios desde o descobrimento do país pelos portugueses há
500 anos. Embora sete dos treze navios da esquadra de Pedro
Álvares Cabral tenham naufragado, nenhum deles afundou perto
do Brasil. O primeiro dos 11 mil naufrágios em águas brasileiras foi
o da nau de Gonçalo Coelho, em 1503, perto de Fernando de
Noronha.
N E G A R: do latim negare, negar, dizer que não é verdade. O
primeiro papa, a quem São Paulo chamou de cínico numa de suas
epístolas, negou por três vezes, na noite em que Jesus foi preso, que
fosse seu discípulo. Tudo aconteceu antes que o galo cantasse,
cumprindo profecia do Mestre. Arrependido, chorou
amargamente. Por isso, antes de tornar-se o primeiro papa, São
Pedro teve de afirmar por outras três vezes que amava
verdadeiramente o seu Mestre. Só então recebeu ordem de
apascentar as suas ovelhas.
N E G O C I A Ç Ã O: do latim negotiatione, ação de negociar. É a
denominação que damos a um entendimento que visa a um acordo
entre partes conflitantes. Sua formação neg + otium, significando
negação do ócio, indica trabalho. Negociar designa
preferencialmente tratos comerciais, aplicando-se também a
concessões em litígios. Os romanos já aplicavam o negotialis,
utilizado para dirimir controvérsias por meio de mútuas
concessões, em oposição ao iuridicialis, determinado juridicamente,
com base em leis. Às vezes, negocia-se melhor bem longe, como se
depreende da expressão negócio da China, “transação muito
lucrativa, numa alusão aos primórdios do comércio marítimo com
o Oriente”, segundo Eduardo Martins em Com Todas as Letras: o
português simplificado. O latim negotium, transação, seria para alguns
um bom sinônimo para preguiça criativa. O negócio seria, pois, o
trabalho – uma explicação muito plausível desde os burgos
nascentes até a consolidação da economia de mercado.
N O B R E Z A: de nobre, do latim nobilis, nobre, conhecido,
radicado no verbo noscere, conhecer, donde o antônimo ignobilis,
ignóbil, desconhecido. Nem sempre a palavra teve o sentido
positivo com que se consagrou (o conjunto de famílias possuidoras
de títulos nobiliárquicos ou grandeza de caráter). No latim
designava apenas alguém ou algo muito conhecido, existindo a
expressão nobilissima inimicitia, inimizade muito conhecida. A
expressão sangue azul para designar a nobreza surgiu no reino de
Castela, na Espanha, num contexto de preconceito étnico,
religioso, cultural. Os nobres invocavam a cor clara da pele sob a
qual destacavam-se veias azuis, quase invisíveis na pele de mouros e
judeus, mais expostos ao Sol por muito trabalharem, enquanto os
nobres ficavam na sombra dos palácios. Da Espanha, por força da
aliança dos reis católicos com o Vaticano, a expressão ganhou o
mundo. Entretanto, outras línguas têm registrado a expressão
sangue azul e alguns dicionários, como o prestigioso The Oxford
Dictionary of Etymology, assim explicam a expressão blue blood
(sangue azul): “Tradução do espanhol sangre azul, sangue, blood +
azul, blue, provavelmente das veias visíveis na compleição dos
aristocratas.”
N O C A U T E: do inglês, knock-out. A expressão foi
aportuguesada pela pronúncia. Golpe violento com o qual um
boxista põe fora de combate o seu adversário. Quando o nosso
Maguila enfrentou Holyfield, nos Estados Unidos, foi vencido por
nocaute, ficando estendido no tablado como se tivesse sido
atropelado por uma jamanta. Houve até quem pensasse em
acender ali uma vela para o nosso herói.
N O C I V O: do latim nocivu, declinação de nocivus, nocivo, que
prejudica. No latim o verbo é nocere, causar dano, radicado no
indo-europeu nok-eyo, acusativo de nok, matar. O inglês neck,
pescoço, aparece em expressões idiomáticas que remetem o étimo a
prejudicar, submeter-se, arriscar-se, como em “to risk one’s neck”,
arriscar o pescoço, que no português mudou para “arriscar a
própria pele”. Ivan Lins, porém, usou “até o pescoço”, não para
designar afogamento ou complicação, mas esperança, na letra de
Cartomante, gravada por Elis Regina: “Nos dias de hoje não lhes dê
motivo,/ Porque na verdade eu te quero vivo,/ Tenha paciência, Deus está
contigo/ Deus está conosco até o pescoço”. E continua: “Já está escrito, já
está previsto,/ Por todas as videntes, pelas cartomantes,/ Tá tudo nas
cartas, em todas as estrelas,/ No jogo dos búzios e nas profecias”. Para
concluir: “Cai o rei de Espadas/ Cai o rei de Ouros/ Cai o rei de Paus/
Cai não fica nada”. Ele fez esta canção quando os aparelhos de
Estado, criados para proteger os cidadãos, era mais nocivo do que
os malfeitores que precisavam ser combatidos. E os poderosos,
semelhando cartas fortes do baralho, foram derrubados pela
redemocratização pós-1985.
N U D E Z: do latim nudu, nu, ao qual foi acrescentado o sufixo ez,
com elipse do ‘u’. A situação primitiva da humanidade era de
completa nudez, como indicam várias mitologias e religiões. O
pudor, sobretudo dos órgãos genitais, vem com a noção de pecado.
Por isso, a nudez de Eva foi coberta com os cabelos, e a de Adão,
com a clássica folha de parreira. No Renascimento, porém, quando
a arte européia, mesmo a mais cristã, inspirouse na Antiguidade
clássica, figuras humanas e divinas voltaram a ser representadas
nuas. Algumas religiões, entretanto, como certas seitas hindus,
prescrevem a nudez como condição para seus adeptos participarem
dos cultos, querendo com isso reforçar a idéia de despojamento. É
freqüente nos textos bíblicos algum profeta irado rasgar suas
próprias vestes, ficando nu, como símbolo de uma inconformidade
sem limites.
O B J E T I V O: do latim objectu, lançado adiante, o que se quer
atingir. No Brasil é também o nome de uma rede de escolas e
universidades.
O B R I G A T Ó R I O: do latim obligatus, ligado ou amarrado à
volta de, que em português deu obrigado, formou-se este vocábulo.
É freqüente em nossa língua a transformação do ‘l’ em ‘r’ nesses
casos. O processo é semelhante à oposição entre ‘claro’, em sua
forma culta, e ‘craro’, vigente nas formas dialetais de certas regiões
brasileiras, principalmente no interior de São Paulo.
O C A S I Ã O: do latim occasione, declinação de occasio, ocasião,
oportunidade. Dava nome a uma deusa alegórica que presidia ao
momento mais favorável para se ter êxito em alguma empresa. Foi
inspirada no deus grego Kairós e era representada sob a forma de
uma mulher inteiramente despida, tendo calva a nuca, significando
que, depois que tinha passado, não podia mais ser apanhada. E
naqueles tempos a ocasião ainda não fazia o ladrão, nem a sorte
podia ser agarrada pelos cabelos.
Ó C I O: do latim otium, ócio, descanso, repouso. Ganhou alguns
significados de domínio conexo, como a palavra negócio, sua
negação. Os antigos romanos proclamaram o direito de não fazer
nada e cunharam a expressão otium cum dignitate (ócio com
dignidade), tributo que o trabalho rende à preguiça, já que
ninguém é de ferro. Há sutis variações na escala que vai do ócio à
vadiagem. Ao contrário do ócio, a vadiagem não pode ser exercida
com dignidade, constituindo-se em contravenção penal. Incorre em
vadiagem quem se entrega habitualmente à ociosidade, sem contar
com rendimentos que lhe assegurem a subsistência. Em resumo, o
que é ócio para o rico, é vadiagem para o pobre.
Ó C U L O S: do latim oculum, olho. O imperador Nero já usava
uma esmeralda para ver melhor, utilizando-a como lente
convergente, mas os óculos foram inventados por monges italianos
no século XIII e aperfeiçoados nos séculos XVII e XVIII, quando as
armações tornaram-se mais leves com o aproveitamento dos cascos
de tartaruga.
Ó D I O: do latim odium, ódio, aversão, antipatia, repugnância. O
célebre poeta catarinense Cruz e Sousa, introdutor do simbolismo
no Brasil, talvez magoado com tanta incompreensão por ser filho
de escravos alforriados, referiu-se a um ódio bom que o alimentaria
nos combates ao obscurantismo epocal: “Ódio são! Ódio bom! Sê
meu escudo/ Contra os vilões do Amor, que infamam tudo/ Das
sete torres dos mortais Pecados!”. E Alessandro Manzoni, em sua
obra clássica Os Noivos, escreveu: “É uma das vantagens deste
mundo poder odiar e ser odiado sem se conhecer”.
O F E N S A: do latim offensa, de offendere, bater, esbarrar ao
encontrar, passando depois ao sentido conotativo de proferir
palavra que magoe. Paradoxalmente, palavras que em outros
séculos eram elogios transformaram-se em ofensas, de que é
exemplo este trecho de uma das mais antigas canções de amor, o
Cântico dos cânticos, atribuído ao rei Salomão, que amou mil
mulheres: “A uma das éguas do carro de faraó eu te comparo,
amada minha”, diz um dos versos do poema de Salomão, e a
mulher deveria entender como elogio! Hoje, porém, égua, vaca,
perua, cadela, galinha e outros bichos domésticos são utilizados
para ofender a mulher.
O F I C I A L: do latim tardio officialis, oficial, radicado em
officium, por sua vez contração de opificium, palavra formada de opus
facio, faço a obra, designando dever, obrigação. O étimo é origem
comum de outras palavras semelhantes, como oficina, do latim
officina, mas escrita opificina pelo escritor romano Plauto. Como
adjetivo de dois gêneros, oficial é tudo aquilo que é proposto por
instância legal ou de que dela emana, como é o caso do caráter
oficial da língua portuguesa no Brasil. Nosso país é o único de tais
dimensões com apenas uma língua oficial. O Paraguai é bilíngüe:
são aceitos oficialmente o Castelhano e o Guarani. A Suíça, cuja
língua nacional é o Romanche, é plurilingüe, aceitando como
oficiais o Francês, o Italiano e o Alemão. A Bélgica adota como
oficiais o Francês e o Flamengo. No Brasil há municípios que, sem
ferir a Constituição, que determina que a Língua Portuguesa é o
idioma oficial da República Federativa do Brasil, adota outras
línguas co-oficiais – a palavra “cooficial” ainda não está nos
dicionários. Este é o caso de São Gabriel da Cachoeira, município
do Amazonas, que desde 11 de dezembro de 2002, pela Lei 145,
adotou como oficiais, além do Português, o Nheengatu, o Tukano
e o Baniwa. Nas Antilhas Holandesas – Curaçau, Aruba, Bonaire –
pode-se ver num azulejo a mostra de um Pai-Nosso em papiamento,
língua crioula de base espanhola, com influências do Português e
do Holandês, que os espanhóis jamais tornaram oficial. A oração
era rezada assim: “Nos Tata cu ta na cielo, bo Nomber sea santifica,
laga bo Reino bini na nos, bo boluntad sea haci na tera como na cielu.
Duna nos awe nos pan di cada dia, i pordona nos nos debe, mescos cu nos
ta pordona nos deberdonan e nos laga nos cai den tentacion, ma libra nos
di malu”. Já em Timor Leste, são oficiais o Português e o Tétum,
mas o Inglês e o Indonésio, conhecido por Bahasa, são aceitos
como línguas de trabalho.
O P O R T U N I D A D E: do latim opportunitate, declinação de
opportunitas, decorrência da atividade de ventos que empurram o
barco em direção ao porto. Antigos romanos tinham um deus para
os portos, Portunus, e outros para os mares, Neptunus. Importunar
equivalia a impedir que naus e embarcações alcançassem o porto,
mas depois o sentido foi aplicado por metáfora a quem atrapalhava
qualquer atividade, não mais em alto mar, mas em terra. E
oportunidade passou a designar ocasião favorável, semelhante
àquela vivida pelos marinheiros e pilotos nas lides da navegação.
O R Á C U L O: do latim oraculu, resposta que os antigos deuses
davam àqueles que os consultavam. Tais respostas eram, porém,
fornecidas por meio de curiosos sinais. O crente poderia fazer a
pergunta diante de seu deus preferido, deixando à divindade
algumas alternativas para as respostas, como nos vestibulares das
universidades de hoje. Se ao deixar o templo encontrasse um
ancião, um menino ou uma linda jovem, o fiel dava à visão um
significado divino, diretamente ligado à consulta que acabara de
fazer. Os oráculos eram também obtidos pelo estado em que se
encontravam as vísceras de animais especialmente sacrificados para
esta leitura. Depois passaram a ser dados pelos próprios homens e
hoje oráculo é metáfora de político muito consultado por seus
colegas. Neste caso, os sacrificados costumam ser o eleitor, o
contribuinte e outras figuras que habitam o cidadão brasileiro.
O R I G E M: do latim origine, declinação de origo, começo,
procedência, princípio, que em Português deu origem, com vários
significados, um dos quais refere às famílias das quais
descendemos. Serve também para identificar os primeiros eventos
ligados a alguma coisa, como nesta frase do famoso crítico
brasileiro, nascido na Áustria, Otto Maria Carpeaux, autor de uma
História da Literatura Ocidental em oito volumes: “O teatro grego é
de origem religiosa: nunca houve dúvida a esse respeito”.
P A C I Ê N C I A: do latim patientia, paciência. No latim, o
significado está vinculado a verbo que tem o sentido de passar,
suportar. O maior exemplo de paciência em nossa cultura vem da
Bíblia e por isso foi criada a expressão “Paciência de Jó”. O enredo
do Livro de Jó é o seguinte: Deus pergunta a Satanás se ele conhece
Jó, o mais justo dos homens. Satanás responde que as virtudes de
Jó devem-se à generosidade de Deus, que o cumulou de todos os
bens. Deus autoriza Satanás a deixar Jó na miséria. O pobre
homem perde tudo, mas não perde a fé. E não aceita de jeito
nenhum os sofrimentos impostos. Ao contrário, deles se queixa
amargamente. Mas o povo deduziu que Jó é paciente por suportar
tant P A I - D O S - B U R R O S: da profissão do pai do
lexicógrafo e filólogo brasileiro Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira, autor do famoso Dicionário Aurélio, o mais consultado do
país. Imortal da ABL, foi também tradutor e ensaísta. Seu pai
fabricava carroças e charretes muito confortáveis, não apenas para
os usuários que iam sentados, mas também para os burros que as
puxavam. Já era então comum a expressão “Não tenho palavras
para agradecer”, com que os usuários elogiavam a perfeição
daquelas charretes. Aurélio as tinha e por isso fez um pequeno
compêndio de elogios, na verdade o seu primeiro dicionário. Nele
os usuários encontravam as palavras adequadas para endossar o
trabalho de seu pai. E o filho do fabricante pouco a pouco foi
deixando de ajudar o pai na confecção daquele meio de transporte
tão concreto e passou a cuidar de outros transportes, o das
palavras, tornando-se autor do dicionário brasileiro mais traduzido
no mundo (cerca de oitenta idiomas). Um dos pesquisadores a
registrar tal versão foi Diógenes Praxedes (Jornal de Brasília, DF,
edição de 8/12/2001). O Almanaque Santo Antônio 2003 endossa a
mesma versão, usando como referência o citado jornal.
P A I N E L: do baixo latim panellu, diminutivo de pannus, pano.
Hoje pode-se fazer um painel sobre qualquer assunto,
principalmente em empresas e universidades, sem que seja
utilizado pano algum, a não ser aqueles que cobrem os
participantes, naturalmente. Mas nas origens, sem cartazes e sem os
recursos eletrônicos de retroprojetores e telões, um pano estendido
cumpria, entre outras, a função dos modernos painéis sobre
determinados assuntos. No sentido de debate organizado com
especialistas e que contam com a participação do público, o termo
deriva do inglês panel, reunião de personalidades que discutem um
tema de suas competências específicas, previamente escolhido, para
que as personalidades possam preparar-se para melhor desempenho
e melhor proveito do público comparecente.
P A L A D A R: do latim vulgar palatare, derivado do mesmo latim
palatu, sede do gosto. O verbo remonta a palatum, palato, palácio
ou palais de la bouche, palácio da boca, como o denominaram
poeticamente os antigos franceses. A origem da palavra palácio, ao
qual foi primitivamente comparado o céu da boca, remonta ao
monte Palatino, em Roma, onde o imperador Augusto mandou
edificar sua residência oficial. Os romanos haviam trazido da
Grécia a deusa Palas, que protegera Tróia. Por atração mútua e
semelhança, consolidaram-se as palavras palatum e palatium. Sem o
conhecimento preciso que depois a anatomia obteve, indicando a
exata localização das papilas gustativas, os romanos achavam que
comes e bebes eram mais bem saboreados no céu da boca que,
junto a língua, é dos órgãos mais importantes na decifração do
gosto de cada alimento ou bebida.
P A L C O: do lombardo palko, viga, que passou ao italiano como
palco, denominando primeiramente as vigas de sustentação dos
tablados e depois o próprio local das representações teatrais. É
usado também em sentido metafórico, tal como aparece neste
trecho de Vida e História, de José Honório Rodrigues: “O Rio foi o
palco da mais renhida exibição das virtudes e pecados do
personalismo nacional”.
P A L E S T R A: do grego palaístra, lugar onde eram realizados os
exercícios físicos, as lutas corporais, as instruções verbais para as
lutas e os embates de idéias. Por isso, o vocábulo manteve o sentido
guerreiro que preside uma palestra, onde idéias podem lutar,
vencer e ser vencidas.
P Ó S - G R A D U A Ç Ã O: de pós, do latim post, e graduação,
do latim graduatione, graduação, designando ato de passar pelo
gradus, grau ou degrau. No Brasil, é a parte do ensino que tem o
melhor desempenho, estando à altura de países do primeiro
mundo. Em avaliação feita em 1999, a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) demonstrou
que 32 por cento dos alunos de pós-graduação situam-se em
parâmetros considerados excelentes. A maioria, 63 por cento, está
classificada entre os conceitos de bom e regular. Apenas 5 por
cento são fracos ou deficientes.
P O S S E: do latim posse, poder. Decorridos os prazos regimentais,
os eleitos tomam posse, isto é, passam a exercer o poder que
pleitearam com suas candidaturas. São empossados por autoridades
mais altas ou equivalentes aos cargos que passam a ocupar. Outros
tomam posse sem eleição, caso dos ministros e secretários de
Estado, nomes de livre escolha do presidente da República e dos
governadores dos Estados, e por isso também demissíveis ad nutum,
que em latim significa literalmente movimento de cabeça,
significando que o escolhido deve sair, se esta for a vontade de
quem o nomeou.
P O S T E R G A R: do baixo latim postergare, postergar, deixar
para depois. Famoso provérbio aconselha: “Não deixes para
amanhã o que podes fazer hoje”. A recomendação nem sempre é
fácil de cumprir. A partida da frota que descobriu o Brasil estava
prevista para 8 de março de 1500, um domingo. Milhares de
pessoas e o próprio rei compareceram ao cais, mas os ventos e as
correntes contrárias impediram navios e naus de descerem o rio
Tejo. Ali, pela primeira vez, ainda antes do descobrimento, o
provérbio foi contrariado no projeto Brasil. Depois virou sina e
emblema do País, que demora a resolver problemas seculares. Em
1500, porém, no dia seguinte, apesar de ser uma segunda-feira, eles
partiram ao alvorecer.
P R E S U M I R: do latim praesumire, tomar com antecipação,
praticar antes certo ato, como na expressão praesumire domi dapes,
comer antes em casa, antes de sair para visitar. Dapes em latim
designa sacrifício oferecido aos deuses, refeição, de onde, aliás,
derivou cardápio, relação dos pratos que um restaurante oferece.
Presumir, que em inglês é presume, pode ter ainda o significado de
supor, deduzir, como na célebre frase Doctor Livingstone, I presume
(Suponho que o senhor seja o doutor Livingstone), pronunciada
pela primeira vez no coração da África por Henry Morton Stanley,
jornalista enviado pelo New York Herald. Depois de percorrer 700
milhas em 236 dias, encontrou na ilha de Ujiji o missionário e
explorador a quem procurava, o escocês David Livingstone. Desde
então a frase passou a ser utilizada com humor.
P R O C L A M A R: do latim proclamare, gritar, dizer em alta voz,
tendo também o sentido de protestar, reclamar e anunciar.
Reunindo todos estes sentidos, designa o ato que resultou no
famoso ‘Grito do Ipiranga’, celebrado em tela do pintor paraibano
Pedro Américo de Figueiredo e Mello, cujo retrato foi incluído na
sala dos pintores célebres na famosa Galeria degli Uffizzi, em
Florença, na Itália. Em outro trabalho, Batalha do Avaí, ele fez seu
auto-retrato, em que aparece barbudo, de olhos arregalados,
vestindo um boné com o número 33.
P R O C U R A Ç Ã O: do latim procuratione, ação de procurar,
procuração. Designa o ato de cuidar de interesses de
personalidades físicas ou jurídicas, como fazem os advogados, que
para isso recebem procurações de seus clientes. A origem da palavra
mescla-se à do verbo procurar, em latim procurare, em que pro, o
prefixo, designa movimento pra frente, em favor de, e curare,
cuidar. O procurador, do latim procuratore, declinação de procurator,
aquele que cuida dos negócios alheios, representa em juízo aquele
ou aqueles que lhe delegaram tal representação. No Brasil temos o
procurador-geral da República, importante cargo, pois chefia o
Ministério Público da União, escolhido dentre integrantes da
carreira, maiores de trinta e cinco anos, nomeado pelo presidente
da República, depois de aprovado pelo Senado, para mandato de
dois anos, permitida a recondução.
P R O E Z A: do francês antigo proece, hoje prouesse, radicado no
latim prodesse, ser útil, mas provavelmente por forma verbal
diferente: prode est, é útil. Ganhou o sentido de ousadia porque foi
aplicado, desde os primórdios da palavra a algo difícil de ser
conseguido. Usualmente indicando atos de valor, recebeu mais
tarde também um sentido pejorativo. Pode ter recebido influência
do latim prora, proa, a parte da frente do navio, em oposição à
popa, a parte de trás.
P R O F A N O: do latim profanum, pela formação pro, por, para,
em frente, e fanum, lugar sagrado, situado em frente ao templo,
mas fora dele, daí o significado de contrário a sagrado, que recebeu
ao correr do tempo, como adjetivo. Caetano Veloso tem uma
canção com o nome Vaca Profana, em que declina uma profissão
de fé: “Respeito muito minhas lágrimas,/ Mas ainda mais minha
risada,/ Inscrevo, assim, minhas palavras,/ Na voz de uma mulher
sagrada,/ Vaca profana, põe teus cornos,/ Pra fora e acima da
manada, / Dona das divinas tetas, / Derrama o leite bom na
minha cara, / E o leite mau na cara dos caretas”. Mas no final da
canção, ele como que se arrepende e deseja que o leite derramado
na cara dos caretas seja igualmente “do bom”.
P R O F E R I R: do latim proferre, proferir, isto é, levar para fora
da boca, já que em latim ferre tem o significado de levar,
designando assim o ato de falar, ainda que seu uso seja mais
adequado em situações de certa cerimônia.
P R O F E S S O R: do latim professore, professor, que professa. Seu
sentido primitivo era designar aquele que fazia declarações
públicas, especialmente religiosas. Passou depois a sinônimo de
mestre. Houve mistura de significados porque os primeiros
professores da era cristã exerceram seu ofício na sacristia ou em
dependências eclesiásticas. Antigamente os professores deviam ser
castos. O teólogo e filósofo francês Pierre Abélard, dito Abelardo,
transgrediu tal norma, namorando e casando com uma aluna,
Heloísa, 21 anos mais jovem do que ele. Irritado, o tio da moça,
alta autoridade eclesiástica, mandou castrá-lo. Por fim, os dois se
separaram e abraçaram a vida religiosa, cada qual num convento.
Dia 15 de outubro é celebrado o Dia do Professor. O país que mais
respeita a figura do professor é o Japão. Lá o imperador, que não se
inclina diante de ninguém, inclina-se diante de professores e
professoras.
P R O I B I R: do latim prohibere, proibir, formado a partir de pro
habere, ter para si, ter à parte, desviar, impedir. É este o sentido de
lei do Estado de São Paulo que quer impedir os trotes nos
calouros. Os legisladores chegaram tarde, pois as três universidades
públicas estaduais – USP, UNICAMP e UNESP – já haviam
antecipado a proibição. Entretanto, em 1999 um calouro de
Medicina da USP afogou-se na piscina da faculdade, em
circunstâncias nunca esclarecidas, mas provavelmente devido ao
trote violento. É bom lembrar que os irracionais não aplicam
castigos tão terríveis a seus semelhantes. E quando dão coices,
arranhões ou mordidas, não o fazem por brincadeira. Quando
brincam, não ferem, nem matam. Os veteranos que aplicam tais
trotes humilhantes deveriam mirar-se no exemplo dos bichos. Faz
tempo que o trote deixou de ser alegre comemoração e se
transformou em motivo de tormento e por isso a maioria das
universidades recebe os novos universitários com trotes culturais,
promovendo palestras, exibindo filmes, peças de teatro, shows etc.
P R O N T U Á R I O: do latim promptuarium, lugar onde estão
coisas prontas, que podem ser encontradas a qualquer momento,
prontamente. Deriva de promptu, pronto, disponível. Passou a
designar registros de arquivo, à disposição para consultas imediatas.
Nas Delegacias de Polícia, é mais conhecido por capivara.
Antigamente, apenas os pobres tinham capivaras. Ultimamente,
depois da lei do colarinho branco, também banqueiros, políticos e
empresários têm se dedicado ao cultivo de capivaras nos brejos da
economia nacional. Os jornalistas de São Paulo Alf Degani e Ary
Napoleão de Moraes estão entre os que primeiro registraram o
sentido policial de capivara. “Puxando a capivara do moço, viram
que ele tinha outro caso em Campinas”, escreveu o segundo, no
Diário de Notícias, de São Paulo, no dia 30 de abril de 1974. “Gente
nova na capivara. Tem gente nova na Delegacia de Vigilância e
Capturas”, observou o primeiro na Última Hora, de São Paulo, no
dia 26 de setembro de 1969, segundo pesquisa de Euclides
Carneiro da Silva em seu Dicionário da Gíria Brasileira.
P R O N U N C I A M E N T O: do espanhol pronunciamiento,
pronunciamento. A divulgação deste vocábulo, que foi adaptado
para outras línguas, como é o caso do português, deu-se a partir da
primeira metade do século XIX devido a um costume de generais
espanhóis rebeldes que, ao se insurgirem, faziam uma declaração de
princípios, onde declinavam as razões de seu ato de desobediência.
Houve célebres pronunciamentos na Espanha em 1820, 1836,
1843, 1854, 1868 e 1874. No século passado o mais famoso foi o
do general Primo de Rivera Y Orbaneja, ditador da Espanha no
período de 1923 a 1930. Morreu fuzilado no início da guerra civil.
O fundador da temível Falange foi um de seus filhos. Hoje os
pronunciamentos políticos guardam daquela antiga fúria apenas as
raízes etimológicas, dada a progressiva consolidação dos regimes
democráticos.
P R O P A G A N D A: do latim propagandae fidei (da propaganda
da fé), congregação do Vaticano encarregada de divulgar a fé
católica em todo o mundo. Em latim, propagare é espalhar,
aumentar, reproduzir. No horário eleitoral gratuito, no rádio e na
televisão, os candidatos fazem propaganda de si mesmos,
apresentando seus currículos e propostas.
P R O P I N A: do latim propina, propina, gorjeta, dádiva. Em seus
primórdios, dar propina a alguém era apenas erguer um brinde à
sua saúde. Em Portugal pagar propina não é crime. Lá designa taxa
escolar. No Brasil consolidou-se o sentido pejorativo do vocábulo,
o de gorjeta ilícita dada com o fim de obter favores escusos. O
garçom que recebe uns trocados ao final do serviço prestado é
beneficiário de gorjeta, ato lícito, em valor dificilmente superior a
10 por cento da conta. O funcionário público que recebe propina,
ainda que sua taxa seja menor, está cometendo crime e o doador,
mesmo compulsório, é seu cúmplice. Os juízes italianos
encarregados da tarefa conhecida como Operação Mãos Limpas,
que visava combater práticas sociais nocivas como a corrupção e o
suborno, descobriram que as propinas estavam espalhadas pelos
mais diversos setores da economia e da política italianas.
Indiciaram até mesmo três célebres estilistas da alta-costura,
responsáveis pelas grifes Armani e Versace.
Q U E R I D A: do latim quaerere, procurar, querer, veio o
português querer, cujo particípio passado deu querido. “Oferecido
sem ser querido” – eis um provérbio popular pronunciado por
crianças brasileiras quando querem evitar a entrada de alguém
numa brincadeira. O cantor Moacyr Franco, em música famosa,
com o título de Querida, destilava queixumes: “Querida, hoje volto,
cansei de sofrer, perdoa se um dia, tentei te esquecer”. Chamar
alguém de querida é tratamento que se vulgarizou ao extremo e
tornou-se mais uma etiqueta social que exprime delicadeza, sem o
significado amoroso que tinha anteriormente.
Q U E R M E S S E: do flamengo kerkmesse, passando pelo francês
kermesse, designando feira realizada em grandes prédios anexos à
sede da igreja onde eram celebradas festas de que participava toda a
comunidade cristã local. Seu sentido estendeu-se depois a outros
eventos semelhantes com o fim de arrecadar recursos mediante
leilões, sorteios e vendas de produtos caseiros, com destaque para a
culinária. É provável que a palavra tenha entrado para a nossa
língua depois das invasões holandesas e francesas. Como eram
raras as oportunidades de encontro entre moças e rapazes na
sociedade patriarcal, a quermesse era boa ocasião de namoro,
principalmente pelo correio elegante, modo de escapar aos rígidos
controles do autoritarismo familiar e namorar por bilhetes. As
quermesses têm seu ponto alto nas festas de São João, Santo
Antônio e São Pedro.
Q U E S T O R: do latim quaestore, antigo magistrado romano
encarregado do Tesouro e de preparar os elementos para ações
judiciais em defesa do bem comum. O questor podia questionar
qualquer despesa dos governantes, funcionando também como
procurador.
Q U I C A R: do inglês kick out, chutar. Indica lance em que, ao
final do impulso recebido no chute, a bola começa a perder
velocidade e vai chegando a seu destino muito devagar. É nestes
casos que costuma entrar a maldade do morrinho artilheiro:
batendo num deles, a bola entra em gol, enganando o goleiro em
lance tão sutil quanto o do melhor atacante.
Q U I L Ô M E T RO: do grego, chilioi, mil, e métron, medida,
através do latim metru. Literalmente, medida de mil metros. A
abreviatura é km. Os romanos usavam a milia, milha, porque
adotavam o passo como medida. A milha latina tinha mil passos.
Antigamente o corpo humano era importante referência para
medidas. Braças, pés, palmos e dedos são outros exemplos.
Q U I T A R: do latim medieval quitare, silenciar, deixar quieto,
alteração do latim clássico quietare, repousar, descansar, formado a
partir de quietis, caso genitivo de quies, repouso. O repouso final é a
morte, donde a expressão requiescat in pacem, descanse em paz. A
palavra quitar ensejou os sentidos de arquivo morto, conta paga,
obrigação já cumprida. Outras palavras, nascidas da mesma raiz,
acrescida de prefixos, produziram significados diferentes, como é o
caso de desquite e inquieto, desquitar e inquietar, todas passando a
idéia de que nada repousou ainda, nada foi resolvido.
Q U I T U T E: de origem controversa, provavelmente do
quimbundo kitutu, indigestão, mas designando também comida
apetitosa, iguaria delicada, docinho, bolinho, tendo igualmente o
sentido de carícia, mimo, delicadeza, aplicando-se da mesma
maneira a menina bonita e a qualquer objeto delicado. Nei Lopes
acha que a origem mais provável é o quicongo kituuti, prato bem
feito, pois demanda cuidados especiais: separar, descascar e pilar o
grão. O sentido de indigestão pode ter vido de cruzamento de
kitutu e kituxi, gula, pecado que causa a indigestão.
R A I A R: do latim radiare, brilhar, cintilar, surgir. Metáfora que
alude ao nascer do sol, como nestes versos do hino da
Independência: “Já raiou a liberdade, no horizonte do Brasil”.
R A J A D A: do espanhol rajar, abrir, fender, formou-se este
vocábulo para designar um tipo especial de ventania, que chega de
súbito. Curiosamente, o fenômeno em espanhol tem outro nome:
ráfaga. De todo modo, rajada não é uma porção de rajas ou rajás,
como são denominados os reis em sânscrito. A tradução brasileira
para o filme Bonnie and Clyde estrelado por Faye Dunaway e
Warren Beatty, é Uma Rajada de Balas.
R A L A R: do francês râler, ralar, tendo também o sentido de
raspar, arranhar, arfar, pois, no francês antigo, râle é o barulho que
o ar faz ao passar por pulmões em mau estado. Provavelmente por
influência de ralo, do latim rallum, raspador para tirar a terra da
relha do arado, adquiriu o significado de trabalhar muito. Ralo é
também um utensílio doméstico utilizado para raspar tubérculos
como a mandioca e a batata. No anverso de cada furinho está uma
minúscula lâmina pontiaguda. Crivos semelhantes aparecem em
regadores, mas sem as lâminas pontiagudas, e também em portas e
confessionários, permitindo que os de dentro vejam os de fora, sem
que saibam que estão sendo observados. Este tipo de ralo jamais
avisou, como fazem hoje as câmeras de estabelecimentos públicos,
“sorria, você está sendo filmado”. O sentido de ralar como
trabalhar muito deve ter mesclado inconscientemente a idéia de
que trabalho é sofrimento, machuca, faz a pessoa arfar, cansar-se,
assim abonado pelo Houaiss: “ralou de estudar para aprender inglês”. E
para a forma pronominal, designando ato de descaso, o mesmo
Houaiss exemplifica: “ele está se ralando para o que os outros pensam
dele”. Com o sentido de sentir vergonha e dor, aparece neste trecho
do conto Linha Reta e Linha Curva, de Machado de Assis: “Tive duas
idéias: uma foi o desprezo; mas desprezá-los é pô-los em maior liberdade e
ralar-me de dor e de vergonha; a segunda foi o duelo... é melhor... eu
mato... ou... – Deixe-se disso. – É indispensável que um de nós seja riscado
do número dos vivos. – Pode ser engano... – Mas não é engano, é certeza. –
Certeza de quê? Diogo abriu o bilhete e disse: – Ora, ouça: “Se ainda não
me compreendeu é bem curto de penetração. Tire a máscara e eu me
explicarei. Esta noite tomo chá sozinha. O importuno Diogo não me
incomodará com as suas tolices. Dê-me a felicidade de vê-lo e admirá-lo. –
Emília”.
R E A L: do latim regale, isto é, do rei, sendo isto garantia de
verdade. Em latim, rei é rex, regis. Qualquer moeda cunhada pelo
rei era real. Na tradição portuguesa consolidou-se o real, cujo plural
era réis (reéis, depois apenas réis) como designação exclusiva da
moeda oficial, com divisões chamadas por outros nomes: o vintém
valia 20 réis; a pataca, 40, e o tostão, 100 réis. O tostão era assim
denominado porque trazia a efígie de um rei de cabeça grande,
tanto no francês teston e como no italiano testone. No italiano,
testone designa também o nosso popular cabeçudo, teimoso ou
simplesmente burro. A intenção de quem mandou imprimir no
dinheiro a imagem do rei não foi a de satirizá-lo.
R E C E N S E A M E N T O: palavra formada a partir do latim
censu, censo, conjunto de dados estatísticos de uma região,
província, país ou, no caso narrado por São Lucas, de um império.
Segundo este evangelista, Jesus, apesar de seus pais morarem em
Nazaré, na província da Galiléia, nasceu em Belém, na da Judéia,
porque naqueles dias o marido e a esposa, prestes a dar à luz,
cumprindo ordem do imperador romano César Augusto, que
ordenara um recenseamento geral, deixaram a cidade em que
moravam e foram recensear-se naquela onde tinham vivido seus
ancestrais. Belém ficava a 150 quilômetros de Nazaré. O casal levou
quatro ou cinco dias para fazer a viagem. Há notícias deste
recenseamento em livros de historiadores romanos.
R E C O M E N D A R: do baixo latim recommendare, aconselhar,
indicar, ensinar. Inicialmente o verbo era mais utilizado para
designar a profilaxia espiritual, determinada por padres e
confessores. Passou depois a indicar a ação dos médicos ao
prescreverem remédios, seguidos de recomendação de dieta
alimentar, cuidados pessoais e repouso. Dada a complexidade da
vida moderna, novos profissionais, como educadores, médicos e
advogados, foram chamados a fazer outras recomendações,
vinculadas a seus ofícios.
R E D A Ç Ã O: do latim redactione, declinação de
redactio, redação, ação de redigir, escrever. Devido à
hegemonia da fala, principalmente entre os jovens, que
mais falam do que escrevem, e mais ouvem do que lêem, a
redação é o grande fantasma de concursos e vestibulares.
Absurdos vêm assolando a última flor do Lácio, como prérequisito (se é requisito de algo, como será pré?), fazer
uma colocação (o galináceo a fará melhor, certamente) e
encarar de frente (como encarar de costas?).
R E D I G I R: do latim redigere, redigir, significando reduzir a
certo estado, no caso reduzir a fala à escrita. Segundo o professor
Pasquale Cipro Neto, que ensina nossa língua portuguesa em
escolas e também no rádio e na televisão, “é na sintaxe dominante
que são redigidos os contratos e as leis, um exemplo cabal de que
língua é poder”.
R E S P E I T O: do latim respectus, ação de spectare outra vez,
isto é, olhar demoradamente, voltar a olhar, observar
minuciosamente. Ter respeito por uma pessoa pode ter vindo desta
metáfora: considera-se o passado de quem estamos observando.
Antes de spectare, norma culta do latim, havia a forma antiga
specere, radicado no indo-europeu spek, olhar, origem comum de
palavras de significado semelhante, como speculum, espelho,
spetaculum, espetáculo, e aspectus, aspecto, entre outros. O
presidente Lula, comentando problemas no comércio exterior,
repetiu conhecido dito popular, adaptando-o à fala presidencial,
que expressaria a voz do povo: “respeito é bom e nós gostamos”,
leve alteração da conhecida sentença “respeito é bom e eu gosto”,
pronunciada nos mais diversos lugares, dos bares aos templos. O
presidente prometeu o espetáculo do crescimento, ainda que cada
vez mais gente suspeite de que a prometida exibição esteja
demorando demais. Suspeitar é verbo que provém igualmente do
original spectare. O prefixo ali disfarçado é “sub”, pois suspeitar
tem o significado de olhar embaixo, procurar coisa escondida,
acercar-se com certa desconfiança.
R E S P L A N D E C E R: do latim resplendere, começa a brilhar.
O verbo aparece no Hino da Independência, cuja música é de
autoria do imperador D. Pedro I, que proclamou nossa
independência. A letra é de Evaristo da Veiga. Como os brasileiros
não levam muito a sério quase nada, também estes versos
mereceram curiosa paráfrase, em que “já podeis” equivale a
“japonês” e “da pátria ó filhos”, uma inversão sintática, transformase “tem quatro filhos”, em ordem direta, para que a frase inventada
tenha sentido. Os primeiros versos originais dizem: “Já podeis da
Pátria filhos/ Ver contente a mãe gentil,/ Já raiou a liberdade,/ No
horizonte do Brasil”. É na estrofe final que aparece o verbo
resplandecer, dando conta de a partir da independência o Brasil
passaria a se destacar sempre mais no concerto das nações livres.
“Parabéns, ó Brasileiros!/ Já com garbo juvenil,/ Do universo entre
as nações/ Resplandece a do Brasil”. Evaristo foi um dos primeiros
jornalistas brasileiros. E além de deputado por Minas Gerais foi
também livreiro no Rio. Comparou o povo brasileiro a uma “brava
gente” que deixou para trás o “temor servil” e ousou proclamar
pela boca do príncipe o brado retumbante e retórico: “ou ficar a
pátria livre ou morrer pelo Brasil!”.
R E S S A C A: do castelhano resaca, denominação dada ao refluxo
da maré, depois de chegar à praia ou ter seu movimento impedido
por algum obstáculo. Seu significado literal é o de sacar de novo,
uma vez que o prefixo re indica repetição. O escritor inglês Charles
Dickens usou esta metáfora marinha para caracterizar o olhar da
personagem Emília em seu romance David Copperfield: “A look that
I never forgotten, directed for out the sea” (mais ou menos o
seguinte, em tradução atualizada: “um olhar que eu nunca esqueci,
vindo diretamente do mar”). E o nosso Machado de Assis, em Dom
Casmurro, também a história de um triângulo amoroso, no capítulo
XXXII caracteriza a adúltera Capitu como tendo “olhos de ressaca”,
que “traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força
que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos
dias de ressaca”. Por força de estar indicado como leitura para os
vestibulares, o romance é best-seller nacional nos dias que correm,
sem que contudo apareça em nenhuma lista dos mais vendidos.
S A C R I F Í C I O: do latim sacrificium, vindo de sacrum facere,
realizar o sagrado, isto é, fazer as ofertas às divindades
sanguinolentas da Antiguidade, que apreciavam o derramamento
de sangue das vítimas, às vezes humanas, porém mais
freqüentemente aves e animais. Presentes desde tempos
imemoriais, os sacrifícios já aparecem no primeiro livro da Bíblia, o
Gênesis. É por causa de um deles que ocorre o primeiro crime da
humanidade: Caim, agricultor, oferece em sacrifício frutos da terra
que cultivava e Abel, pecuarista, imola cordeiros. Deus prefere as
ofertas de Abel. Morto de inveja, Caim mata o irmão.
S A Í D A: de sair, do latim vulgar salire, sair, equivalente a exire,
com o significado de deixar o lugar onde se estava, de onde derivou
exit, sai, indicando nos cinemas a porta de saída. Seria mais lógico
o plural exeunt, saem. Nem sempre a saída se dá por vontade
própria. A maioria dos imigrantes que para cá vieram foi obrigada
a tal, seja por dificuldades insuperáveis em sua terra natal, dentre
as quais as guerras despontaram como fatores determinantes, seja
para “Fazer a América”, frase que sintetizava o sonho de todos. Na
Bíblia é constante a presença dos imigrantes, por escolha ou
imposição, o primeiro dos quais foi Adão, exilado do paraíso para
este ‘vale de lágrimas’. Abraão partiu com sua família, deixando a
cidade de Ur, velha conhecida dos aficionados de palavras
cruzadas. E os judeus, liderados por Moisés, deixaram o Egito. A
festa da saída, Sucót, é comemorada de 25 de setembro a primeiro
de outubro.
S A L A M A L E Q U E: do árabe assalamalaik, a paz esteja
contigo. Como os imigrantes de ascendência árabe faziam esta
saudação com muitas mesuras, repetindo-a duas vezes, em nossa
língua uma pessoa cheia de salamaleques ficou sendo aquela que
tem polidez exagerada, chegando a ser untuosa no trato.
S A L A: do antigo alto alemão sal, espaço para recepção no burgo,
passando a habitação, com cujo sentido chegou ao provençal sala,
designando já ambiente dentro de casa, de onde chegou ao
português. Com a evolução da arquitetura, foram surgindo salas
especializadas, tanto dentro de casa, como fora. No lar, a sala de
estar, a de jantar, de visitas. Em escritórios, a sala de espera, a de
atendimento etc. E na escola, a sala de aula, a dos professores.
Nasceu também a expressão “fazer sala”, significando entreter, já
registrada por Machado de Assis no romance Quincas Borba:
“Precisava ir fazer sala às visitas. Há quanto tempo estavam ali!”.
S A L A F R Á R I O: de origem obscura, talvez corruptela de
palavra perdida utilizada para designar o muçulmano, que não fazia
as orações cristãs habituais, mas a çalat, palavra árabe que significa
oração, bênção. Sofreu influência de salacidade, do latim salacitas,
lascívia, luxúria, libertinagem, devassidão. O sentido que conservou
é o de indivíduo ordinário, patife, vagabundo, dado a ilícitos
diversos.
S A L Á R I O: do latim salarium, salário, inicialmente o sal com
que se pagavam os trabalhadores e depois o soldo dado às tropas
para comprar o sal, que também se chama cloreto de sódio, sempre
indispensável, sobretudo naqueles tempos sem geladeira. No Brasil,
há o salário mínimo, que é quase sempre o máximo.
S A N E A R: de são, do latim sanus, com acréscimo do sufixo ear e
extirpação de us, indicando trabalho de tornar são, curar, remediar,
reparar. Como sugere o próprio étimo, para sanear às vezes é
preciso cortar. E nas finanças públicas é onde este verbo é hoje
mais empregado. Realizado o sepultamento de Mário Covas em
Santos, sua cidade natal, o novo governador, Geraldo Alckmin,
começou os trabalhos em 2001 reconhecendo que herdara um
Estado saneado. Alguns indicadores foram destacados: o déficit
orçamentário de 7,4 bilhões de reais em 1995 passou a superávit de
2,1 bilhões em 2000; o sistema penitenciário aumentou suas vagas
de 18 mil para 41 mil; o menor salário pago subiu de 281 para 488
reais. Seus adversários lembraram, entretanto, que os servidores da
Saúde diminuíram de 70 mil para 67 mil, enquanto aumentaram
as doenças, as chacinas e cresceu a insegurança em todo o Estado,
não apenas na capital. É certo que sanear levará mais tempo e mais
governos.
S A U D A D E: do latim solitate, solidão. No português arcaico,
deu soedade, soidade, suidade. Mas os etimologistas não têm
unanimidade sobre as origens deste vocábulo, tão característico do
Brasil. Em árabe, as expressões suad, saudá e suaidá significam
sangue pisado e preto dentro do coração, além de serem metáforas
de profunda tristeza. A as-saudá, uma doença do fígado entre os
árabes, é diagnosticada pela melancolia do paciente. Pode ter
havido mistura de várias procedências para consolidar o vocábulo,
além de mescla do verbo saudar.
S É C U L O: do latim saeculum, período de cem anos, mas com
muitos outros significados. Há algumas discordâncias nos critérios
de definição de datas marcadas por séculos. Uns afirmam que o
século II, por exemplo, começou no ano 100 e não no 101.
Embora todas as indicações sejam arbitrárias, a mais aceita é aquela
que considera cem anos inteiros para configurar um século. Parece
questão irrelevante, mas não é. Dependendo do critério utilizado, o
Brasil foi descoberto no século XV ou no XVI. Como sempre
existem os espíritos conciliadores, em alguns livros se lê que o
Brasil foi descoberto no alvorecer do século XVI.
S E M A N A: do latim septimana, espaço de sete dias. Segundo o
Gênesis, foi o tempo que Deus levou para fazer o mundo. E ainda
encontrou tempo para descansar. Mas Ele, ao contrário dos
homens, é onipotente, se bem que um pouco apressado, dado o
prazo com que entregou a obra. Não permitiu que nenhuma
empreiteira metesse o bedelho: Ele mesmo fez tudo sozinho.
S E N S I B I L I D A D E: do latim sensibilitate, sensibilidade,
capacidade de sentir. O vocábulo e seus correlatos passaram a ser
utilizados também para designar atos que deflagram certas
sensibilidades específicas, como é o caso do jargão dos economistas
aludindo à tarefa de sensibilizar o contribuinte para novos
impostos, o que em geral resulta em coceira no órgão mais sensível
do corpo humano: o bolso.
S E N S O: do latim sensu, senso, capacidade de discernir, julgar,
entender. A partir deste vocábulo formaram-se locuções como
‘senso comum’ e ‘bom senso’, a primeira delas significando a
opinião dominante sobre determinados temas em uma época, e a
segunda, o uso da luz da razão para distinguir entre verdades e
falsidades que infestam a vida cotidiana. Comentando os feitiços
que Dom Quixote pode ter visto na caverna de Montesinos,
Sancho Pança exclama: “Será que feitiços e feiticeiros têm tanta
força que podem ter mudado o bom senso de meu amo?”.
S E N T E N Ç A: do latim sententia, de sentire, sentir,
designando modo de perceber, impressão, opinião, idéia.
Chegou ao português no século XIII. A origem remota, de
matriz indo-européia, é sinnan, esforçar-se para chegar a
algum lugar. A palavra traz embutido o conceito de que
para chegar a uma sentença é necessário percorrer um
caminho.
S E N T I N E L A: do italiano sentinela, vigia de uma determinada
área. No Brasil é mais utilizado um sinônimo, guarda, o nome mais
comum para designar o policial urbano, principalmente aquele
encarregado de disciplinar o trânsito, o que faz usando apito,
caneta e talões de multa. Nos casos mais graves, as armas que traz à
cinta. Com a emancipação feminina, as mulheres vieram embelezar
a corporação, antes composta exclusivamente de homens.
S E N T I R: do latim sentire, sentir, perceber. As realidades do
mundo exterior nos chegam pelos olhos, ouvidos, nariz, boca e tato
– nem sempre nesta ordem, evidentemente – referidos como os
cinco sentidos por meio dos quais percebemos o mundo que nos
cerca. Quando achamos, por pura intuição, que algo se nos mostra
além dos limites dessas abrangências, aludimos a um suposto sexto
sentido. O pai da física moderna, Galileu Galilei, escreveu que os
modos mais comuns de ultrapassar a percepção dos sentidos são a
dança, a hipertensão, a embriaguez, os tóxicos, as explosões de
raiva e a autoflagelação. Essa última, praticada antigamente no
silêncio dos claustros católicos, tornou-se pública em certos rituais
islâmicos.
S É R I E: do latim serie, seqüência, sucessão. O vocábulo e seus
compostos têm sido muito usados no cinema e na televisão, com os
filmes em série e as minisséries. Batman Eternamente, por exemplo,
é o terceiro filme sobre o personagem. O primeiro foi Batman, de
1989, e o segundo, Batman, o retorno, de 1992. Esses dois renderam
mais de 700 milhões de dólares. O terceiro filme da série, apenas
no fim de semana de sua estréia, nos Estados Unidos, arrecadou 53
milhões de dólares. Com as inevitáveis miniaturas de todos os
materiais e tipos, flâmulas e demais reproduções da figura já
carismática, seus produtores investiram 90 milhões, esperando
arrecadar 1 bilhão de dólares.
S I L Ê N C I O: do latim silentium, silêncio. Entre os antigos
romanos, era representado por um jovem com o dedo sobre a boca,
figura que inspirou a ilustração dos pedidos de silêncio que hoje
vemos em hospitais. A deusa romana Quies, sempre quieta,
protegia o repouso e era servida por um grupo de rapazes
denominados Silenciosos. Em latim, estar in quiete indicava que se
estava descansando, dormindo. Mas o vocábulo inquieto formou-se
a partir do prefixo in, indicador de negação, e quietu, quieto,
sossegado, em repouso. Reza o provérbio que a palavra é de prata e
que o silêncio é de ouro, recomendando moderação nas falas, mas
Sêneca foi mais preciso ao recomendar que o mais importante é
discernir a hora de falar e a de calar: “Magna res est vocis et silentii
tempora nosse” (É uma grande coisa saber falar e silenciar na hora
certa). Uma curiosidade da indústria automobilística brasileira é
que uma peça da mecânica dos carros, que tem o fim de atenuar o
barulho que produz o motor, é chamada de silencioso. Nos anos de
1970, com as primeiras vitórias dos pilotos brasileiros na Fórmula
1, os jovens retiraram o miolo dos silenciosos, elevando
consideravelmente seus decibéis, o que está sendo repetido hoje
com as motos.
S I M P L I C I D A D E: do latim simplicitate, declinação de
simplicitas, simplicidade. A raiz é o indo-europeu plek, plex no latim,
como em simplex, simples; duplex, duplo; triplex, tríplice. Encontra-se
em complexo, aplicar, perplexo, complicar, explicar. Simples é o
que se dobra só uma vez, no sentido etimológico. Assim,
simplicidade é sinônimo de ingenuidade e nem sempre de virtude;
às vezes indica ignorância. Santa Simplicitas, Santa Ignorância,
exclamou o padre e teólogo John Huss, ao notar que uma senhora
já idosa colocava mais lenha na fogueira onde o queimavam vivo,
condenado como herege por sentença do Concílio de Constança.
Natural de Hussenitz, na Boemia, ele defendia o direito de cada
cristão ter uma Bíblia; ainda não havia imprensa. Huss combatia a
corrupção da Igreja e as autoridades eclesiásticas o atraíram ao
Concílio, onde o condenaram. Morreu, mas a Reforma veio ainda
na primeira metade daquele século, com Martinho Lutero, teólogo
que partiu a Igreja em duas, como se fosse um terremoto.
S I M P Ó S I O: do grego sympósion, pelo latim symposium,
banquete, pela formação sym (prefixo que indica simultaneidade,
como em sincrônico, sym, ao mesmo tempo, junto, e cronos, tempo)
e potes (cujo radical está presente em pote, potável etc) para
designar aquele que bebe junto com outros, o que acontecia na
segunda parte dos banquetes, quando então, além de beber,
filosofavam. Simpósio passou a ter o significado de reunião de
colegas, mas os tradutores do grego para o português fixaram a
palavra “banquete” para Sympósion, título de uma obra do filósofo
Platão e de outra do historiador Xenofonte, contemporâneos na
Grécia antiga.
S I M U L A D O R: do latim simulatore, declinação de simulator,
aquele que simula, isto é, imita, tendo sido aplicado inicialmente a
pessoa como sinônimo de mentiroso, radicado remotamente no
latim similis, similar, semelhante. Inicialmente aplicado a pessoa
mentirosa, hoje designa instrumento que simula condições de vôo
e é utilizado no treinamento de pilotos e de astronautas, pois entre
as diversas modalidades de simulador, há aqueles que simulam a
ausência de gravidade.
S I N A: do latim signa, plural de signum, sinal. De acordo com João
Ribeiro, passou a sinônimo de destino porque “o antigo horóscopo
apresentava duas feições essenciais, a dos signos do zodíaco e a dos
planetas, astros errantes” e “os signos determinavam a sorte ou o
futuro do indivíduo”. Os sinais espalhados por este mundo não são
fáceis de decifrar, conforme reconheceu o narrador de O Nome da
Rosa, o best-seller mundial do professor e romancista italiano
Umberto Eco, ele mesmo deixando-os ainda mais complexos ao
inserir citações de diversas línguas.
S O C I E D A D E: do latim societate, declinação de societas. Pouco
a pouco, com a modernização do comércio, que demandava
associações de duas ou mais pessoas, sociedade passou a designar
formas de associação comercial, hoje denominação comum em
quase todos os municípios brasileiros. Mas a Associação Comercial do
Rio de Janeiro foi a primeira delas, fundada a 13 de maio de 1820,
ainda que com o nome de Sociedade de Assinantes da Praça. Quase
meio século depois, a 11 de dezembro de 1867, é que se consolida
o nome pelo qual passou a ser conhecida e que depois serviu de
modelo às congêneres, por força da notória influência da capital,
onde estavam as Cortes e seus satélites. A Associação Comercial do
Rio de Janeiro não tinha entre seus objetivos apenas a defesa dos
interesses dos assinantes ou sócios, mas contemplava o horizonte
da economia nacional, por serem seus fundadores homens de
visão, capazes de entenderem que não adianta os comerciantes
irem bem quando os clientes vão mal, pois cedo ou tarde tudo
ficará ruim para todos. Quanto à vida econômica que se
consolidou no Brasil, assim a definiu o historiador José Honório
Rodrigues: “Ao contrário do que se afirma, o Brasil é um país de
grande e permanente estabilidade política e institucional. As lutas
pelo Poder, entre grupos da minoria, não trazem nenhuma
modificação estrutural. A instabilidade caracteriza a conjuntura
governamental e a estabilidade a estrutura sócio-econômica”. A
citação foi utilizada por Walnice Nogueira Galvão no livro As
Formas do Falso, ensaio sobre o Grande Sertão: Veredas, o singular
romance de João Guimarães Rosa, a quem a obra de referência
Koogan/Larousse concedeu, por sua conta e risco, mais quatro anos
de vida, registrando que Rosa faleceu em 1971.
S O C O R R O: do latim sucurrere, ajudar, proteger. O Menino
Jesus é um dos mais procurados em horas de aperto, quando se
precisa de auxílio. Nossos jornais publicam com freqüência a
novena do Menino Jesus de Praga, uma crença vinda do Leste
Europeu. Semelhantes às graças porventura alcançadas são os
socorros que os bancos estaduais, em dificuldades financeiras,
pedem ao Banco Central. Ao contrário da do Menino Jesus de
Praga, a novena de pedidos não é feita pelos fiéis. Não se sabe
como costumam pagar os socorros, mas espera-se que não seja da
forma como o escorpião pagou ao sapo a travessia do rio na fábula
famosa: cravando-lhe o ferrão no dorso.
S O N E G A D O R: do latim subnegare, ocultar, vieram sonegar e
sonegador, entre outros vocábulos, esse último muito utilizado para
designar quem se furta ao fisco, deixando de mencionar seus
rendimentos. Al Capone, famoso bandido americano, somente foi
apanhado pela polícia porque foi comprovada sua sonegação de
impostos, muito embora os outros crimes fossem de difícil
comprovação.
S U B S Í D I O: do latim subsidium, subsídio, ajuda.
Primeiramente significou socorro militar, indicando tropas de
reserva e quantias pagas pelo Estado a seus funcionários. Mais
tarde passou a designar renúncias fiscais com o fim de baratear o
custo final de determinados produtos. Os pais da pátria são
pródigos em arranjar subsídios cuja conta no fim é paga pela filha.
S U B S T I T U I Ç Ã O: do latim substitutione, substituição. Nos
começos do futebol, caso o goleiro se machucasse ou fosse expulso,
somente poderia ser substituído por outro jogador que já estivesse
em campo. Isso fez com que Pelé atuasse como goleiro:
transformado de estilingue em vidraça, fez algumas boas defesas.
Na Copa de 1966, após nossa triste derrota para a Hungria por 3 a
1, o técnico Vicente Feola substituiu nove jogadores para o jogo
contra Portugal. Perdemos por 2 a 1 e viemos embora. Naquele
jogo, sob a complacência do juiz, os portugueses, nossos
descobridores, nos cobriram de porradas.
S U P R E M O: do latim supremus, supremo, grau superlativo do
adjetivo superus, que está acima, da mesma raiz de superior,
superior. Aparece na designação da mais alta corte de Justiça do
país, instância além da qual não pode mais haver nenhum recurso,
a menos que se recorra a Deus, que entretanto não costuma
freqüentar tribunais, a não ser por meio do Filho, simbolizado na
figura do Crucificado, pois todo tribunal ostenta um crucifixo na
parede, o que, segundo o juiz aposentado, escritor e fundador da
Universidade Estácio de Sá, João Uchôa Cavalcanti Netto, indica
que o simbolizado está ausente, pois a função do símbolo é de
substituição. Aparece na designação do Supremo Tribunal Federal,
mais conhecido como STF apenas, que concedeu vários habeas
corpus a investigados e réus, garantindo-lhes o direito de omitir e
mentir, sem o risco de serem presos, pois ninguém é obrigado a
auto-incriminar-se.
T A B E L I Ã O: do latim tabellione, homem que escrevia em
tabuinhas enceradas, fazendo registros indispensáveis, como
nascimentos, óbitos, leis, escrituras de imóveis, fases da lua etc.
T A B L Ó I D E: do inglês tabloid, originalmente marca registrada
de medicamento em forma de pastilha retangular. Por extensão,
passou a designar jornais em tamanho menor que o padrão. Os
tablóides ingleses notabilizam-se por publicar matérias desprezadas
pela grande imprensa, além de ironizar a opção sexual de vários
ministros ingleses, entre eles o da Agricultura, Nick Brown, que
admitiu dedicar-se ao cultivo de outras plantas. Comentando a caça
aos homossexuais britânicos, o jornalista José Simão, cujo texto
apresenta trocadilhos e neologismos insólitos, escreveu: “Desse
jeito o gabinete do Blair vai virar um gaybinete”.
T A B U: de ta ‘bu, vocábulo extraído de um idioma da Polinésia.
Chegou ao português depois de uma baldeação no inglês: taboo. O
audaz navegante inglês James Cook informou-nos o significado da
palavra nos relatos de sua terceira e última viagem, antes de ser
assassinado pelos nativos do Havaí: “Eles me disseram que era
tabu, uma coisa proibida”.
T A L E N T O: do grego tálanton e do latim talentu, ambos com o
significado de balança, primeiramente, e depois de moeda de prata.
O último sentido vulgarizou-se devido à parábola dos talentos, que
deveriam ser multiplicados, de acordo com o Evangelho de São
Mateus, 25.
T Á T I C A: do grego taktiké, tática, habilidade nas manobras do
exército em campo de batalha. Predominou depois seu sentido
metafórico, isto é, aplicado a outras situações que podem ou não se
assemelhar às de guerra. Metáfora significa originalmente
transporte. Transporta-se a palavra de um para outro lugar, com o
fim de designar outra coisa. Segundo o jornalista Mino Carta, em
coluna que publicou na revista Istoé, no dia primeiro de fevereiro
de 1978, o então líder sindical Lula usava uma tática para cada
situação. Quando outros líderes do PT concluíram que seus erros
de pronúncia e de concordância, verbal e nominal, apareciam aos
olhos da classe média como indicadores de seu despreparo,
encarregaram o Instituto da Cidadania de lhe ministrar aulas
particulares. Pelas aulas de economia ficaram responsáveis Aloizio
Mercadante e Guido Mantega.
T E C N O L O G I A: do grego technikós e logos, significando
respectivamente arte e tratado, estudo. Mas, no caso, arte no
sentido de dominar um ofício. A palavra foi formada para designar
a aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral, no
campo e na indústria, de que são exemplos a mecanização da
lavoura e da pecuária e os processos industriais. Infelizmente a
aplicação descontrolada da tecnologia resulta em prejuízos de
difícil reparação. No Brasil, tudo começou com a extração do
paubrasil. Depois vieram as queimadas. A migração maciça do
campo para as cidades, iniciada nos anos 1950 e agravada nas
décadas seguintes, aliada à falta de estruturas adequadas no
ambiente urbano, fez com que chegássemos aos anos 1990 com a
maioria da população concentrada em pouco mais de dez cidades.
Principais vítimas, as águas, marinhas ou fluviais, passaram a
receber todo tipo de lixo e estão dando o troco, trazendo morte e
destruição.
T E S E: do grego thésis, arranjo, conclusão, ordenamento de idéias,
do verbo tithémi, dispor, instituir, pelo latim thesis, argumento. Nas
universidades, a tese designa a obra escrita pelo candidato que com
ela se submete a uma banca examinadora para defendê-la e assim
obter o título de doutor. O mesmo ritual é feito para a obtenção do
título de mestre, com a diferença de que a tese é designada
dissertação. Quando se trata de trabalho final de curso de
graduação, é monografia. O escritor Dalton Trevisan utiliza tese no
conto O Mestre e a Aluna de seu mais recente livro, Rita Ritinha
Ritona (Editora Record): “Eis o ponto final na minha tese: Capitu
sem enigma. Esfinge sem segredo. A epígrafe você sabe de quem: se
a filha do Pádua não traiu, Machado de Assis chamou-se José de
Alencar.”
T E S T E: do latim teste, teste, prova. Suas origens remotas
indicam uma casca de ostra e depois uma concha, denominada
testa. Quem recebesse a casca de ostra, ia para o ostracismo. E num
litígio, a testemunha declarava de viva voz ou colocava seu atestado
em vasilha semelhante a uma concha. Desconfiados da gravidez de
Maria, os sacerdotes submeteram o casal de noivos a um teste
realizado no templo de Jerusalém, diante de numerosas
testemunhas, que consistia em tomar água benta e dar sete voltas
ao redor do altar. Caso estivesse mentindo, a pessoa receberia por
meio sobrenatural um sinal no rosto. Os dois foram inocentados.
Maria, que fora consagrada, deveria permanecer na casa do noivo
em companhia de outras cinco virgens: Rebeca, Séfora, Susana,
Abigéia e Cael, de acordo com o que se lê em Evangelhos Apócrifos,
de Luigi Moraldi, publicado em São Paulo pela Editora Paulus.
T E S T E M U N H A: de testemunhar, do latim testimoniare,
testemunhar, mesclado ao baixo latim testis, de tertius stare, o
terceiro numa disputa. Veja-se o domínio conexo com o latim teste,
teste, prova. Suas origens remotas indicam uma casca de ostra e
depois uma concha, denominada testa. Quem recebesse a casca de
ostra, ia para o ostracismo. E num litígio, a testemunha declarava
de viva voz ou colocava seu atestado em vasilha semelhante a uma
concha.
T I R A N I A: do grego tyrannía, opressão. Na Grécia antiga,
qualquer governo imposto à margem da lei. O vocábulo, de origem
frígia, está radicado no grego t?rannos, senhor absoluto. Não tinha
caráter pejorativo. Foi um intelectual, Aristóteles, o responsável
pela abominação que depois vitimou todos os tiranos do mundo.
Ele definiu tirano como alguém que exerce o poder absoluto em
proveito próprio e não em nome do povo que governa. No Brasil,
quando a República nascente mostrou seu caráter violento, um
jornal republicano ainda assim saudou o autoritarismo como “doce
tirania”: “Ouvem-se ainda os últimos ecos do fragor com que
desabou um conjunto de antigas instituições que muita gente
julgava perpétuas; (...) como necessidade do momento surgiu o
governo ditatorial (...) e o que vemos? Por toda parte a paz a e a
ordem”. Era o jornal A Federação, de Porto Alegre, justificando o
autoritarismo republicano em nome da paz social.
T Í T U L O: do latim titulus, designando originalmente cartaz
exibido em triunfo nos desfiles, onde estavam escritos em letras
grandes, para todos poderem ler, os nomes das províncias
conquistadas pelo imperador, o número de prisioneiros e escravos
etc. Passou depois a identificar também as obras literárias e
artísticas, mas há aqui algumas curiosidades. O show intitulado Oh
Calcutta, exibido originalmente em 1969, nada tem a ver com
Calcutá, a segunda maior cidade da Índia, hoje com mais de 13
milhões de habitantes. O espetáculo erótico, criado pelo inglês
Kenneth Tynan, que escandalizou o público nos anos 60, por
ousadias inéditas com a nudez de atores e atrizes, foi construído a
partir de uma frase obscena em francês: Oh, quel cul t’as (oh, que
bumbum tu tens).
T R A D I Ç Ã O: do latim traditione, declinação de traditio, ato de
transmitir, de dar a alguém alguma coisa. No Brasil há uma
sociedade intitulada Tradição, Família e Propriedade, cujo fim
declarado é lutar por preservar sobretudo esses valores.
T R A D U Ç Ã O: do latim traductione, conduzir, levar, transferir.
Todas as culturas do mundo precisam de bons tradutores, uma vez
que livros fundamentais foram escritos em outras línguas que não
dominamos, às vezes faladas e escritas por poucos. O Brasil, que
tem um bom mercado editorial para padrões de Terceiro Mundo,
deve muito a seus tradutores, principalmente de línguas como o
inglês, o francês, o alemão, o italiano e o espanhol. O autor mais
traduzido do mundo é Lenin, um dos grandes teóricos do
marxismo, líder da Revolução Russa de 1917 e fundador do Estado
soviético. Até os anos 80, vários de seus livros estavam traduzidos
para 2 330 línguas, superando Shakespeare, Tolstoi, Júlio Verne e
Miguel de Cervantes. Como conjunto de obras o livro mais
traduzido do mundo é a Bíblia. Como sua autoria é atribuída a
Deus, já sabemos quem é o autor best-seller deste mundo, ainda
que seus editores não lhe tenham pago os direitos autorais. Se
fazem isso com Deus, o que não farão com os outros escritores!
T R I B U N A: do latim tribuna, lugar de onde falava o tribuno,
também chamado púlpito para defenderr os interessos do povo.
Com o surgimento da imprensa, vários jornais adotaram o nome
de tribuna em sua designação, com o fim de deixar claro que
defendiam interesses populares e não de grupos hegemônicos.
T U R B U L Ê N C I A: do latim turbulentia, turbulência,
agitação. A turbulência nas viagens aéreas pode causar desconforto
em tripulantes e passageiros. Porém, a mais temida e que tem
trazido mais desassosego é a do mercado financeiro internacional,
que tem afetado as bolsas do mundo inteiro e mexido nos bolsos,
não apenas dos aplicadores, mas de todos os cidadãos, já que
vivemos tempos de economia globalizada. No caso das turbulências
atmosféricas, o vilão é infantil, El Niño. No das financeiras, são
especuladores marmanjos, nas mãos dos quais o mundo inteiro
vira um niño. Utilizando metáforas da aviação, autoridades
econômicas mandaram o povo apertar os cintos. Mas talvez fosse
mais recomendável fazer outras alterações, tais como mudar a rota
ou substituir os pilotos.
U L T R A P A S S A R: do latim ultra, além de, e passare, passar,
significando transpor. Este verbo tem sua utilização mais freqüente
no trânsito, nas ruas e nas estradas, e nas corridas de automóvel e
de moto, significando passar à frente. A exmodelo, atriz e piloto
Suzane Carvalho, campeã brasileira e sul-americana de Fórmula 3,
circula com o seguinte adesivo na tampa do porta-malas de seu
carro: Women are natural leaders. You’re following one now (Mulheres
são líderes naturais. Você está seguindo uma agora). Em vez de
reconhecer o óbvio, alguns machões tentam ultrapassá-la para
contrariar as frases que acabaram de ler.
U N Â N I M E: do latim unanime, de uma só alma. Concordância
coletiva absoluta. Desconfiado destes juízos uniformes, o
dramaturgo Nelson Rodrigues cunhou uma de suas frases mais
memoráveis, “Toda unanimidade é burra”, valorizando a
discordância numa sociedade democrática. Ironicamente, o dito foi
obra de um escritor tido como reacionário quando vivo,
confirmando que também sobre ele não havia unanimidade.
U N I V E R S I D A D E: do latim universitate, universidade,
designando instituição de ensino superior nascida nos finais do
primeiro milênio e consolidada ao longo da História como lugar
privilegiado, não apenas para a conservação e transmissão do
conhecimento, mas também para sua produção em diversas áreas,
mediante pesquisas diversas. As universidades nasceram à sombra
da Igreja, mas ao correr da História, com a laicização do ensino e
da pesquisa, o poder público fundou e manteve universidades que
se transformaram em referenciais da ciência, da tecnologia, das
humanidades e das artes em todo o mundo. Quase todos os países
das Américas tiveram universidade ainda no século XVI. No Brasil
nenhuma universidade é centenária. A mais antiga é a
Universidade Federal do Paraná, com sede em Curitiba.
U R G E N T E: do latim urgentia, urgência, aperto. Tanto pode
designar atividade fisiológica inadiável – fazer xixi, por exemplo –
como tarefas médicas, jurídicas, parlamentares. Os congressistas
brasileiros, não satisfeitos com tantas hipérboles, criaram a
expressão “urgência urgentíssima”, redundante, pleonástica e vazia.
Nem assim conseguem que os colegas compareçam para votar
questões dadas como urgentes desde os começos dos parlamentos.
U T I L I D A D E: do latim utilitatis, qualidade do que pode ser
usado. Em gíria das prisões designa a mulher que vai visitar o
marido na cela. O famoso cangaceiro Antonio Manuel Batista de
Morais Silvino, que integrou o bando de Lampião e é personagem
da obra de José Lins do Rego, chamava sua companheira de ‘minha
utilidade’.
U T O P I A: do grego ou topos, utopia, lugar inexistente. Dá título
a um famoso livro do escritor inglês Thomas Morus, que descreve
um país imaginário onde o governo, bem organizado, provê
excelentes condições de vida ao povo, que ali vive feliz. Menos os
escravos, pois o piedoso escritor cristão esqueceu-se de alforriálos.
Passou a designar projeto irrealizável. Outros escritores também
construíram utopias, como o italiano Tomaso Campanella, em A
Cidade do Sol; o inglês Francis Bacon, em New Atlantis; o norteamericano Edward Bellamy, em Looking Backward (2000-1887). As
utopias dos ingleses George Orwell, 1984, e de Aldous Huxley,
Admirável Mundo Novo, são consideradas distopias, já que as
sociedades ali apresentadas promovem todos os males. Também
distopia vem do grego dys, mal, e topos, lugar, designando situação
anormal de um organismo. Distopia é vocábulo mais usado em
medicina.
Ú V U L A: do latim uvula, pequena uva. Passou a designar no
português a pequena massa carnosa posta em relevo à entrada da
garganta, devido à semelhança que tem com um bago de uva. É
também chamada de campainha.
V A I D A D E: do latim vanitate, declinação de vanitas, futilidade,
vaidade. Veio de vanus, vazio, chocho, que não contém nada. Ao
contrário do orgulho, a vaidade é uma jactância sem motivo.
Considerada uma das principais fraquezas femininas, recebeu na
literatura, entretanto, uma aura de quase virtude, indicando
cuidados de boa aparência e amor próprio que a mulher, mais do
que o homem, teria. Com o segundo sentido, aparece no seguinte
trecho de Confissões Prematuras, do escritor catarinense Salim
Miguel: “Mulher ferida na vaidade é um perigo, a mágoa vem à
tona”.
V A L E N T I A: de valente, do latim valente, declinação de valens,
que tem força, saúde. A saudação latina “vale” deseja saúde,
significado que está presente também em saudar e saudação. Os
primeiros registros de valente e valentia, já com o significado de
corajoso e coragem, respectivamente, estão no C. B. N., sigla do
Cancioneiro da Biblioteca Nacional, denominado Colocci-Brancutti
antes que o casal de lexicógrafos Elza Paxeco Machado e José Pedro
Machado organizassem o glossário, a leitura e os comentários. Pero
da Ponte fez seu primeiro registro de valente e de valentia. De
valentia diz: “Pois que vos Deus deu tamanha valentia de vos
vingar...”. João Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas,
romance repleto de indícios do português arcaico, mostra outro
tipo de coragem, encoberta, quando Riobaldo, o narrador,
conversa com cabras do Alto-Urucúia: “Eu apreciei aqueles
homens. A valentia deles estava por dentro de muita seriedade.
Urucuiano conversa com o peixe para vir no anzol – o povo diz. As
lérias”. Mas diz que isso se compara a outro diz-que-diz-que: “Como
contam também que nos Gerais goianos se salga o de-comer com
suor de cavalo...Sei lá, sei? Um lugar conhece outro é por calúnias e
falsos levantados; as pessoas também, nesta vida”.
V A N T A G E M: do francês avantage, que no francês antigo era
avantagem, qualidade de quem está na frente. Vários institutos de
pesquisa de opinião utilizam metodologias capazes de descobrir,
por meio de amostras significativas, quais as vantagens de um
candidato sobre outro. Poucas vezes erraram. Uma das primeiras
pesquisas de opinião foi feita por Pôncio Pilatos, que perguntou ao
povo qual dos prisioneiros ele deveria libertar. Barrabás levou
vantagem sobre Jesus Cristo.
V A R A: do latim vara, vara, ramo fino, flexível, galho de madeira.
Passou a designar instância judicial por analogia com o cetro,
indicando poder de aplicar castigos, sendo os primitivos uma surra
de vara, depois substituída pelo açoite, em que o couro e em
seguida o arame foram amarrados à ponta de uma vara para
aplicação das sentenças. Os magistrados romanos usavam a vara
como insígnia nas vestes. A Inquisição instalou seus tribunais na
Península Ibérica, onde estão Espanha e Portugal, ostentando as
sentenças em varais semelhantes àqueles em que as lavadeiras
estendiam as roupas para secar.
V E D A R: do latim vetare, proibir. Em nossa língua consagrou-se
a forma vetar para proibir, ao mesmo tempo em que a troca de
consoante resultou numa variação com o significado de impedir,
estancar, tal como aparece num trecho de Ecos de Paris, de Eça de
Queiroz: “Palpava a ferida, vedava o sangue com os lenços
emprestados pelos lacaios”.
V E G E T A R I A N O: do francês végétarien, designando
partidários da alimentação exclusivamente vegetal. Atualmente há
restaurantes vegetarianos especializados ou que, desprezando a
carne, toleram no máximo os chamados frutos do mar. O escritor,
compositor e diplomata Vinicius de Moraes tratou das exclusões da
carne nos pratos com muita verve: “Não comerei da alface a verde
pétala/ nem da cenoura as hóstias desbotadas/ deixarei as
pastagens às manadas/ e a quem mais aprouver fazer dieta/ Cajus
hei de chupar, mangas-espadas/ talvez pouco elegantes para um
poeta/ mas, peras e maçãs, deixo-as ao esteta/ que acredita no
cromatismo das saladas/ não nasci ruminante como os bois/ nem
como os coelhos, roedor, nasci/ onívoro: dêem-me feijão com
arroz/ e bife e um queijo forte e parati/ e eu morrerei feliz do
coração/ de ter vivido sem comer em vão”.
V E L A D O: do latim velatu, coberto com véu, oculto.
Freqüentemente utilizado em sentido metafórico, aparece no livro
Argumentação e Interdiscursividade: o Sentido do ‘Como Se’ na Lei e na
Jurisprudência – o Caso do Concubinato, da lingüista e professora da
Universidade Federal de São Carlos, Soeli Maria Schreiber da
Silva, definindo a relação amorosa tida por ilegítima: “À concubina
se atribui a condição de amante, de mulher de encontros velados,
freqüentada pelo homem casado, que convive ao mesmo tempo
com a esposa legítima”.
V E N C I M E N T O: de vencer, do latim vincere, vencer, ganhar,
levar vantagem, com alteração da vogal temática de “e” para “i”,
mais sufixo “mento”. Houve um panromânico invinge, presente em
todas as línguas românicas, que resultou no latim vicnere, no
italiano vincere, no provençal venser, no francês vaincre, todos com o
significado de vencer. Vencimento não é entretanto sinônimo de
vitória, mas de prazo para pagamento de obrigação e fim de
contrato, tendo ainda o significado de salário.
V E N D E R: do latim vendere, vender, trocar por dinheiro,
mercadoria ou serviços por dinheiro. O resultado é chamado
também de faturamento. No Brasil, a empresa que mais vende é
uma estatal, a Petrobras, que teve uma receita operacional superior
a 21 bilhões de dólares em 1995 e foi parar no Guiness book – o
livro dos recordes.
V E R A N E A R: de verão, do latim veranum, formaram-se no
português vocábulos como veraneio e veranear, indicando
atividades feitas durantes as férias de verão. Conquanto o
divertimento seja dominante nessas temporadas, às vezes algo dá
errado, conforme demonstram as estatísticas de socorro a vítimas
de alpinismo na França no último verão: 1 120 ações de resgate,
796 feridos e 95 mortos.
V E R D A D E: do latim veritate, declinação de veritas, verdade.
Esta palavra aparece em momentos dramáticos da vida humana,
quando é essencial descobrila – caso dos processos judiciais, das
pesquisas científicas, dos conflitos amorosos. Entre as verdades
inesquecíveis, há uma estátua com este nome, feita em mármore
pelo famoso pintor, escultor e arquiteto italiano Gian Lorenzo
Bernini, que teve, entretanto, recusados seus projetos para a
fachada do Louvre. Parece fácil saber quem perdeu mais. Pôncio
Pilatos, o procurador romano que estava no governo da Judéia, ao
interrogar Jesus perguntou-lhe o que era a verdade. Dizem os
Evangelhos que o prisioneiro calou-se. Mesmo declarado inocente,
foi torturado e sentenciado à morte. São da escritora brasileira
Cecília Meireles, descendente de portugueses da Ilha São Miguel,
nos Açores, estes versos: “Sobre a mentira e a verdade/ desabam as
mesmas penas/ apodrecem nas masmorras/ juntas, a culpa e a
inocência”.
V E S T I B U L A R: de vestíbulo, do latim vestibulum, espaço
entre a rua e a entrada das casas e prédios, por onde se passa aos
outros cômodos. Nos átrios ou portais das casas romanas havia
pequenos altares dedicados à deusa Vesta, cujo nome serviu de
origem remota ao vocábulo, onde eram recebidos os visitantes. O
vestibular para a universidade tem o mesmo significado: fica na
posição intermediária entre a conclusão do ensino secundário e o
início do curso superior, no caso de aprovação nos exames.
V I T O R I O S O: do latim victoriosu, vitorioso, vencedor. Entre
os antigos gregos os vitoriosos na guerra tinham a proteção de
Nike, a deusa da vitória, filha do gigante Palas e do Rio Estige,
onde a mãe de Aquiles mergulhou seu filho, segurando-o pelo
calcanhar, única parte do corpo que não foi molhada e por isso
permaneceu vulnerável. Nos anos 1940 e 1950 deste século os
EUA deram o nome de Nike a artefatos militares, como mísseis.
Hoje, é uma das marcas de artigos esportivos mais conhecidas. E na
segunda metade do século passado foi vitoriosa a classe média da
Inglaterra, cujos usos e costumes influenciaram muito o mundo a
partir do reinado da rainha Vitória I, a ponto de designar período
histórico e estilo de móveis.
V O C A Ç Ã O: do latim vocacione, declinação de vocatio, junção
de vocare, chamar, e actio, ação de chamar. Consolidou-se na língua
portuguesa como aptidão, destino, conjunto de afinidades
complexas que levam uma pessoa a escolher determinada profissão
ou modo de vida. Jesus diz nos Evangelhos que muitos são os
chamados, mas poucos os escolhidos. Nem Ele pôde discernir que
escolhia um futuro traidor para integrar o grupo dos doze
apóstolos, mas exegetas – intérpretes dos textos sagrados –
asseguram que sabia, sim, mas não podia evitar seu próprio destino
na História da Salvação. Uma estranha vocação aparece no filme
Favela Rising, de Matt Mochary e Jeff Zimbalist, escolhido melhor
documentário de 2005 pela IDA (International Documentary
Association). Anderson Sá, vocalista do grupo Afroreggae e líder
comunitário de Vigário Geral, periferia do Rio de Janeiro, foi
indicado para receber a estatueta no Directors Guild of América,
em Los Angeles, EUA. Numa das cenas, que tem lugar no alto do
Morro do Cantagalo, Anderson pergunta ao menino Murilo, de
dez anos: “O que você quer ser quando crescer?”. E ouve em
resposta apressada: “Bandido”. Nos morros do Rio, o bandido é
herói. Vilão é o policial. Esta guerra, a conquista das mentes das
crianças, o tráfico já ganhou.
X A V E C O: do árabe xabbak, barco para pescar com rede, muito
utilizado pelos piratas do Mediterrâneo nos séculos XVIII e XIX.
Por ser usado em ações criminosas, o barco veio a denominar
comportamentos reprováveis, mas ganhou sentido que o redimiu
ao designar a cantada, conjunto de palavras e gestos utilizados pelo
homem para seduzir a mulher. Fabiano Rampazzo e Ismael de
Araújo, em Xaveco, Câmera, Ação (Editora Matrix) fizeram uma
antologia de xavecos memoráveis do cinema, entre os quais o de Al
Pacino, na pele do poderoso chefão quando jovem, homiziado na
Sicília, depois de alguns assassinatos em Nova York. O curioso é
que, falando inglês, ele se serve de um tradutor, seu guarda-costas,
e de um intermediário, o próprio pai da moça, para dizer que gosta
de Apolônia e quer casar-se com ela.
X E R E T A R: formado de cheirar, do latim vulgar flagare. Na
linguagem coloquial ganhou o sentido de procurar com insistência,
bisbilhotar, provavelmente a partir do convívio doméstico com os
cães, que procuram cheirando, dado que neles o olfato é o mais
apurado dos sentidos. Cheirar, antes da consolidação de xeretar, já
era utilizado como metáfora de percepção, como aparece nesses
versos de Estrela da Vida Inteira, de Manuel Bandeira: “Prova. Olha.
Toca. Cheira. Escuta./ Cada sentido é um dom divino”. Seu livro
de estréia foi Cinza das Horas, lançado em 1917, ao que se seguiu
dois anos depois Carnaval. Outro título, Libertinagem, também
lembra as festas da carne.
Z A R P A R: do grego exarpázo, passando pelo latim exharpare,
ambos com o significado de levantar âncoras. O italiano antigo
tinha sarpare, hoje salpare. Foi do porto de Palos, aldeia da
Espanha, que Colombo partiu a 3 de agosto de 1492 para
descobrir a América 70 dias depois, quando a tripulação já estava
amotinada, a ponto de executá-lo por sua loucura. O grande
escritor estadunidense Mark Twain que descobriu a América do
Norte para seus compatriotas, revelando seu folclore e as paisagens,
principalmente do oeste, comentando o feito de Colombo,
escreveu: “Foi admirável descobrir a América, mas teria sido mais
admirável não encontrá-la”.
Z E P E L I M: do nome de seu inventor, Ferdinand Zepellin,
conde e industrial alemão, que construiu o primeiro aeróstato
dirigível, fazendo-o voar pela primeira vez, em 1900. Com armação
de alumínio, semelhava um grande charuto. Eram gigantescas
máquinas de voar e o maior deles chegou a ter 245 metros de
comprimento. Na década de 1930, mais de 52 mil alemães tinham
voado num zepelim, mas depois que o Hindenburg incendiou-se
momentos antes de aterrissar nos Estados Unidos, em 1937, sua
produção entrou em declínio e ele desapareceu dos céus.
Z E R O: do italiano zero, contração de zefiro, do latim zefiro, nome
de um vento do Ocidente. Designando número, é historicamente
tardio, e procede do árabe sifr, número vazio, que deu cifra no
baixo latim, e cifra no português. O zero foi trazido para o
Ocidente pelo matemático italiano Leonardo Fibonacci, também
conhecido como Leonardo de Pisa, cuja obra mais importante,
Livro do Ábaco, pouco tem a ver com o ábaco, sendo mais uma
defesa da superioridade dos números arábicos sobre os romanos.
Seu pai, um negociante, teve o cuidado de enviar o filho de Pisa
para a África do Norte para aprender números com os árabes. Os
indianos já trabalhavam com a noção de zero, depois adotada pelos
árabes, por volta de 600 a.C.
Z U M B I: do quimbundo nzumbi, duende. Designa fantasma que,
segundo o sincretismo religioso de origem africana, vaga nas horas
mortas da noite à procura do descanso que ainda não teve. Zumbi
ou cazumbi aplica-se também à alma de animais domésticos como
o cavalo e o boi. Deu nome ao mais famoso rebelde dos
quilombos, o chefe negro Ganga Zumba, mais conhecido como
Zumbi dos Palmares, cuja derrocada final, obra do bandeirante
Domingos Jorge Velho, teve início a 23 de janeiro de 1694,
resultando na morte de 500 negros e na prisão de 519. Os outros
se dispersaram pelo sertão alagoano.
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Etimologia: Incluir - Universidade Estácio de Sá