AVALIAÇÃO DA PERCEPÇÃO DA PAISAGEM DAS LAGOAS DA VEIGA DE CHAVES Autores: André Nascimento¹³; Paulo Marques¹; Carlos Aguiar² Afiliações: 1 - CIBIO-UP; 2 - CIMO-ESA-IPB; 3 - CIBIO - UP Palavras-Chave: percepção, regeneração natural Desejámos perceber como as pessoas se relacionam com uma paisagem degradada e quais as suas preferências visuais em presença de áreas seminaturais resultantes de regeneração natural, ao longo de um vale aluvionar de uso agrícola, com marcas de perturbação recente, de modo a incorporar as preferências de uma população num projecto de recuperação. Optámos por uma metodologia em que os inquiridos são convidados a avaliar a paisagem, através do registo fotográfico e de uma descrição escrita. Esta metodologia foi testada por diversos autores, na área da arquitectura paisagista (Kondolf e Yang 2008) (Vieira e Antunes 2014), das ciências sociais (Clark-Ibanez,2004) (Harper, 2002) e em vários contextos semelhantes ao da paisagem em estudo: em rios (Yamashita, 2002), (Tunstall et al, 2004) (Tunstall et al, 2000), na avaliação das preferências em praticantes de actividades ao ar livre (Dorwart, 2007) ou para descrever práticas de gestão agrícola e mudanças na paisagem (Beilin, 2005). A veiga de Chaves, espaço de forte vocação agrícola conheceu nos últimos 40 anos um fenómeno de extracção de inertes que produziu importantes transformações na paisagem, principalmente pela alteração do traçado do rio e escavação de grandes lagos. Com o abandono da actividade extractiva, assistiu-se a uma renaturalização das áreas degradadas, e uma procura para recreio activo e educação, por parte de diversos grupos de utilizadores. Foi definido um percurso utilizado frequentemente, ao longo da margem do rio Tâmega, que apresenta diversidade de subunidades de paisagem, sendo representativo do objecto de estudo. O traçado percorre as áreas transformadas pela actividade humana, podendo observar-se todos os lagos e zonas húmidas geradas pela actividade industrial, com diferentes níveis de renaturalização, área agrícolas, ou troços de rio, sem manifesta ocupação industrial. Pedimos a 30 utilizadores que percorressem um trajecto definido num troço de aproximadamente 4 km, através de registo fotográfico, seleccionassem as 5 imagens mais interessantes e as 5 imagens menos interessantes da paisagem. Os participantes têm de fundamentar a escolha de cada fotografia através de uma breve legenda que ajuda mais tarde a interpretar as imagens e a agrupá-las ordenadamente. (Figura 1. Representação do percurso definido para o inquérito fotográfico) As respostas foram agrupadas de acordo com o tema de cada fotografia, tendo obtido 20 temas para as respostas positivas e 20 temas para as respostas negativas. As respostas mais frequentes dizem respeito a aspectos sensoriais, à importância do espaço para o recreio, à imagem de grandes massas de água e à presença da actividade agrícola. Também é bastante valorizado o contacto com a natureza, o facto de se poderem comer frutos silvestres, observar animais, ou apreciar a diversidade das dinâmicas de vegetação. Nas imagens menos interessantes são frequentes repostas sobre a deposição de lixo ou a falta de gestão do espaço. De acordo com os temas, as respostas foram ordenadas em 4 grupos positivos: sensitivo, biodiversidade, social, espaço e 4 grupos negativos: impacto visual, abandono, insegurança, vandalismo. Depois de agrupadas, colocámos a localização de cada fotografia num mapa, identificando as áreas que concentraram mais atenção, relacionando as escolhas com o local do percurso onde as fotografias formam tiradas e encontrado classificações e características comuns nas escolhas das fotografias. [Figura 2. Localização das respostas dos inquiridos (Positivas)] [Figura 3. Localização das respostas dos inquiridos (negativas)] Pretendíamos, com este estudo, conhecer a relação das pessoas com a transformação da paisagem manifestada pela extracção de inertes, a relação com as massas de água e a relação com a vegetação. É interessante observar que, inesperadamente existem poucas referências às perturbações causadas pela extracção. As grandes transformações, os lagos, tornaram-se imagens positivas. a capacidade de regeneração da vegetação em contextos muito particulares de fertilidade e presença de água permitiu atenuar, absorver e enquadrar perturbações. Os resultados do estudo pretendem orientar processos de desenho na requalificação pontual de áreas perturbadas, melhorando ou complementando aspectos que foram identificados pelos participantes. Obtendo conhecimento sobre as preferências visuais de uma população e eliminando os pontos negativos, facilmente anulados com um pequeno conjunto de acções, o espaço poderia ser muito mais apreciado e valorizado, garantindo o apoio do público nas decisões de desenho tomadas. Bibliography Beillin, R. 2005 Photo-elicitation and the agricultural landscape: ‘seeing’ and ‘telling’ about farming, community and place, Visual Studies, 20:1, 56-68. Clark-Ibanez, M. 2004. Framing the social world with photo elicitation interviews. American Behavioural Scientist 47(12): 1507–27. Dorwart C. E. 2007 exploring visitors’ perceptions of the trail environment and their effects on experiences in the Great Smoky Mountains national park. Doctoral thesis, Graduate Faculty of North Carolina State University Harper,D. (2002).Talking about pictures: A case for photo elicitation.Visual Studies, 17(1), 13-26. Kondolf, G. M. and Yang, C.-N. (2008) Planning River Restoration Projects: Social and Cultural Dimensions, in River Restoration: Managing the Uncertainty in Restoring Physical Habitat (eds S. Darby and D. Sear), John Wiley & Sons, Ltd, Chichester, UK. doi: 10.1002/9780470867082.ch4 Tunstall, S., S. Tapsell, and M. House. 2004. Children’s perceptions of river landscapes and play: What children’s photographs reveal. Landscape Research 29(2): 181–204. Vieira, R.; Antunes, P. 2014. Using photo-surveys to inform participatory urban planning processes: Lessons from practice. Land Use Policy (38) 497– 508 Yamashita, S. 2002 Perception and evaluation of water in landscape: use of PhotoProjective Method to compare child and adult residents’ perceptions of a Japanese river environment, Landscape and Urban Planning, 62(1), pp. 3–17. Tunstall SM, Penning-Rowsell EC, Tapsell SM, Eden SE. 2000. River restoration: public attitudes and expectations. Journal of the Institution of Water and Environmental Management 14 (5): 363–370.