223 VARIAÇÃO HORÁRIA DA TRANSPIRAÇÃO E DA TEMPERATURA FOLIAR NAS FACES NORTE E SUL DA LINHA DE PLANTIO DE POMAR DE LIMA ÁCIDA Irigoyen, Andrea Inés1, Angelocci Luiz Roberto 2, Jordão Rocha Fábio 3 e Marcos Vinicius Folegatti4 1 Depto. Introducción a las Ciencias Agrarias FCA UNMdP-INTA Balcarce; Prog. Pós-graduação em Física do Ambiente Agrícola; Depto. Ciências Exatas ESALQ-USP; CP9-13418-9000, Piracicaba; E-mail: [email protected]; [email protected]; 2 Depto. Ciências Exatas ESALQUSP; bolsista CNPq; CP9-13418-9000, Piracicaba; 3 Prog. Pós-graduação em Irrigação e Drenagem; Depto. Engenharia Rural ESALQ-USP; CP913418-9000, Piracicaba; 4 Depto. Engenharia Rural ESALQ-USP; bolsista CNPq; CP9-13418-9000, Piracicaba. PALAVRAS CHAVE: porometria,citros MATERIAL E MÉTODOS As determinações na cultura foram realizadas num pomar com 1 ha de superfície, plantado em 2001, com linhas de plantio na direção leste-oeste e espaçamento entre plantas de 7 m x 4 m, sendo as copas do clone IAC 5 enxertado em citrumelo ´Swingle`. O pomar situa-se no Campo Experimental de Irrigação do Departamento de Engenharia Rural da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP), Piracicaba, SP (22º42’ sul, 47º39’ oeste, altitude de 511 m). As plantas encontravam-se com uma altura média de 4,0 m e 4,9 m de diâmetro da copa (Barboza, 2007). O pomar foi irrigado por gotejamento de modo a manter 100% das necessidades hídricas. A transpiração foliar (T) de 24 folhas plenamente expandidas no extrato médio da planta e nas faces expostas da linha do plantio foi determinada utilizando um porômetro de equilíbrio dinâmico e balanço nulo LI-COR 1600 (Licor, Inc., Lincoln, EUA) ao longo de 18 dias de medidas realizadas no período compreendido entre 12/9/2007 e 30/11/2007. A temperatura foliar (Tf) foi medida com termopar na câmara porométrica. Os valores horários de T e Tf obtidos entre as 9:00 e as 17:00 horas foram discriminados por faces (norte e sul). O teste de ShapiroWilk foi utilizado para avaliar a normalidade das amostras. O teste não-paramétrico de Kolmogorov-Smirnov foi aplicado para avaliar as hipóteses nulas de igualdade de distribuição de freqüências de valores observados de T e Tf nas faces norte e sul, com nível de significância igual a 0,05. O teste nãoparamétrico de Kruskall-Wallis foi aplicado para avaliar as hipóteses nulas de igualdade de distribuição de freqüências de valores observados de T e Tf nos diferentes horários e quando necessário, o teste de Tuckey com nível de significância igual a 0,05 foi utilizado. Os padrões de variação horária de T das faces norte e sul na escala estacional e mensal foram comparados com os respectivos descritos para Tf e para gs apresentado em Irigoyen et al. (2008a). RESULTADOS E DISCUSSÃO A transpiração foliar (T) na estação apresentou valores médios horários na faixa de 2,5 a 5,0 g cm-2 s-1. A hipótese nula de igualdade de distribuição de valores de T em folhas localizadas nas faces norte e sul foi rejeitada para todos os horários quando avaliada a estação completa. Valores mais elevados foram observados na face sul, mas o comportamento ao longo do dia foi similar nas duas faces, exibindo os valores mais elevados no meio-dia (Figura 1). 10 T (µmol cm-2 s-1 ) INTRODUÇÃO A modelagem da transpiração da planta baseada na integração do processo ocorrendo ao nível de folha precisa de conhecimento da variabilidade espacial e temporal da condutância à difusão de vapor (gs) e da transpiração foliar (T). A estrutura do dossel afeta os intercâmbios radiativos e convectivos. Estes efeitos são, ainda, mais significativos no caso de coberturas descontínuas como os pomares. Alguns modelos de trocas gasosas visando facilitar o tratamento das variações da radiação no dossel consideraram sub-modelos correspondentes às frações iluminadas e sombreadas do dossel. Assim, os modelos de Bonan (1996) e Dickinson et al. (1998) abordaram por separado a taxa de assimilação e a condutância estomática de cada uma das frações, mas sob o pressuposto de não variação da temperatura foliar nestas frações. Dai et al. (2004), aprimoraram este enfoque a partir de um modelo de duas grandes folhas, discriminando fração iluminada e sombreada, para a estimativa de temperatura do dossel, fotossíntese e condutância. Mills et al. (1999) discutiram o efeito da posição na copa sobre a condutância à difusão de vapor (gs) em laranjeiras de diferente idade. As diferenças de gs entre faces norte e sul foram mais evidentes em plantas adultas. Um efeito de redução na temperatura foliar (Tf) e no gradiente de pressão de vapor entre a folha e o ar devido ao sombreamento foi mencionado por Syvertsen e Lloyd (1994). No sudeste do estado de São Paulo e durante um período de alta demanda atmosférica, diferentes densidades de fluxo de fótons fotossintéticos incidentes (DFFF) foram medidas em folhas localizadas nas faces expostas norte e sul da linha de plantio num pomar adulto de lima ácida (Irigoyen et al, 2008a). Por outra parte, foram observadas diferenças entre faces na condutância à difusão de vapor (gs). A DFFF foi a variável do ambiente local com maior associação com gs e T (Irigoyen et al., 2008b). Por isso, é de interesse avaliar se existe alguma relação entre os padrões de transpiração e de temperatura foliar observados. Este trabalho teve por objetivos: a) descrever a variação horária da transpiração foliar (T) e da temperatura foliar (Tf) nas faces da copa expostas para o norte e o sul da linha de plantio de pomar de lima ácida durante uma estação de alta demanda atmosférica; b) relacionar o padrão de variação de T com os padrões de variação da condutância à difusão de vapor (gs) e da temperatura foliar (Tf). norte 8 sul 6 4 2 0 8 10 12 14 16 18 hora local Figura 1. Valores médios horários de transpiração foliar (Tr) medidos em folhas localizadas nas faces norte e sul da linha do plantio. As barras verticais indicam o desvio padrão do valor médio (I norte; I sul). Funções polinomiais de segundo e terceiro grau ajustam-se adequadamente na descrição da variação de T no período diurno. Analisando a variabilidade entre meses, observou-se a mesma relação entre as faces (sul>norte) e apenas no mês de setembro a hipótese nula de igualdade de distribuição de valores médios horários de T não foi rejeitada (Tabela Nº1). XII Reunión Argentina de Agrometeorología, 8 al 10 de octubre de 2008. San Salvador de Jujuy - Argentina 224 Tabela Nº1.Valores médios horários e desvio padrão de transpiração foliar (Tr) medida nas duas faces da linha de plantio discriminados por mês dentro da estação do ano. T ( g cm-2 s-1) norte 3,80 (2,61) a 3,76 (2,75) b 3,21 (1,57) b Mês Setembro Outubro Novembro n total=3784 sul 3,91 (2,76) a 4,66 (2,85) a 3,73 (1,65) a Letras diferentes indicam que a hipótese nula de igualdade de distribuição de freqüências da variável foi rejeitada pelo Teste Kolmogorov-Smirnov ao nível de significância de 0,05. A temperatura foliar (Tf) na estação apresentou valores médios horários na faixa de 24,4 a 33,1ºC. A hipótese nula de igualdade de distribuição de freqüências nos valores de transpiração foliar (T) em folhas localizadas nas faces norte e sul foi rejeitada apenas nos horários de 13:00 e 17:00 horas quando avaliada a estação completa (Figura 2). A temperatura foliar não foi diferente entre folhas das duas faces quando se consideraram os dados discriminados por mês dentro da estação (Tabela Nº2). 40 norte sul Tf (ºC) 35 30 25 20 8 10 12 14 16 18 hora local Figura 2. Valores médios horários de temperatura foliar (Tf) medidos em folhas localizadas nas faces norte e sul da linha de plantio. As barras verticais indicam o desvio padrão (I norte; I sul). Tabela Nº2. Valores médios horários e desvio padrão de temperatura foliar (Tf) medida nas duas faces da linha de plantio, discriminados por mês dentro da estação do ano. Mês Setembro (n=1060) Outubro (n= 1428) Novembro (n=1296) Tf (ºC) norte 27,5 (4,3) a 30,2 (3,6) a 29,4 (3,9) a n total=3784 sul 27,1 (4,0) a 29,9 (3,3) a 29,4 (3,8) a Letras diferentes indicam que a hipótese nula de igualdade de distribuição de freqüências da variável foi rejeitada pelo Teste Kolmogorov-Smirnov ao nível de significância de 0,05. Quanto à densidade de fluxo de fótons fotossintéticos (DFFF) incidentes nas folhas, os valores médios foram maiores na face norte do que na sul, em setembro e outubro, seguindo o descrito por Irigoyen et al (2008), enquanto em novembro, observaram-se maiores valores de DFFF na face sul. Portanto, a relação de Tf entre faces não mostrou relação com a radiação incidente sobre as folhas. A relação entre faces (sul>norte) discutida para T não acompanha o padrão de variação de Tf. Por outra parte, a relação entre faces para T coincide com aquela encontrada para a condutância à difusão de vapor neste mês (Irigoyen et al., 2008b). Na análise da variabilidade ao longo do dia, observouse que em setembro não se apresentaram diferenças significativas entre as duas faces em nenhum dos horários. Em outubro, a igualdade de distribuição de valores de T nas duas faces foi apenas observada nos horários de 9:00 e 17:00 horas e, no mês de novembro, apenas nas 9:00 horas. A mesma relação entre faces foi encontrada para a condutância à difusão de vapor em setembro. Por sua vez, as relações entre faces para T em outubro e novembro não foram coincidentes com as discutidas para gs por Irigoyen et al. (2008b). CONCLUSÕES Os padrões de variação da transpiração (T) medida em folhas das faces norte e sul da linha de plantio coincidiram com os padrões de variação da condutância à difusão de vapor (gs). A temperatura foliar (Tf) medida na câmara porométrica não apresentou os padrões diferenciados para T e gs entre faces. Portanto, o padrão de variação de T está mais associado ao padrão de gs, e até parece adequado inferir serem desprezíveis as variações de T devidas a variações no gradiente de pressão de vapor decorrentes de diferenças na temperatura da folha. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - BARBOZA, R.C.A. 2007. Evapotranspiração da lima ácida ‘Tahiti’ (Citrus latifólia Tan.) determinada por lisimetria de pesagem. Dissertação. ESALQ. USP. 63 p. - BONAN, G.B. 1996. A land surface model (LSM version 1,0) for ecological, hydrological and atmospheric studies. Tecnical description and User-s Guide. Note 150 pp. - DAI, Y. et al. 2004. A two-big-leaf model for canopy temperature, photosynthesis and stomatal conductance. J. of Climate, v.17, p. 2281-2299. - DICKINSON, M. et al. 1998. Interactive canopies for climate model. J. of Climate, v.11, 2823-2836. - IRIGOYEN, A.I.; ANGELOCCI, L.R.; ROCHA, F.J.; FOLEGATTI, M.V. 2008.a. Determinação da condutância foliar à difusão de vapor de água e da densidade de fluxo de fótons fotossintéticos incidentes nas faces norte e sul da linha de plantio de pomar de lima ácida. XV Congresso Brasileiro de Meteorologia. São Paulo. 5 p. - IRIGOYEN, A.I.; ANGELOCCI, L.R.; ROCHA, F.J.; FOLEGATTI, M.V. 2008. b. Relação da condutância estomática e da transpiração foliar de lima ácida irrigada com variáveis ambientais. XV Congresso Brasileiro de Meteorologia. São Paulo. 5 p. - MILLS, T.M.; MORGAN, K.T.; L.R. PARSONS. 1999. Canopy position and leaf age affect stomatal response and water use of citrus. J. of Crop Production v. 2, p. 163-179. - SYVERTSEN, J.P.; J.J. LLOYD. 1994. Citrus. In: Schaeffer B., Andersen PC (ed.) Handbook of Environmental Physiology of Fruits Crops: Subtropical and Tropical Crops, CRC Press, Boca Raton, Florida.