ESTIMATIVA DE SEQÜESTRO DE CARBONO DA BIOMASSA AÉREA COMO INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE EM DECORRÊNCIA DA ADEQUAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NA SUB-BACIA DO RIO PEQUENO (ANTONINA - PR) Luiz Ermindo Cavallet 1 Eduardo Vedor de Paula 2 RESUMO A atividade de recuperação dos ecossistemas florestais configura fonte potencial de seqüestro de carbono. A adequação das propriedades rurais conforme determina o Código Florestal implica em parte na manutenção ou regeneração das Áreas de Preservação Permanente (APP's). Uma das formas para a estimativa da quantidade de carbono na biomassa florestal relacionada às áreas de preservação permanente é associar ferramentas de geoprocessamento com levantamentos no campo, quando se mede a superfície da área de preservação existente e também a superfície daquela que se deve regenerar. Dessa forma, pode-se obter um indicador de sustentabilidade, o qual reflete o grau de preservação que as áreas protegidas por lei se encontram. O presente trabalho objetivou apresentar uma forma de estimar a quantidade de carbono a ser seqüestrada em decorrência da adequação da área de preservação permanente na sub-bacia do Rio Pequeno, pertencente à microbacia hidrográfica do Rio Cachoeira, situada na região litorânea do estado do Paraná. Dentre os resultados obtidos deve-se destacar que depois de efetuada a adequação das propriedades rurais da subbacia do Rio Pequeno, pode haver um aumento de 32,1% na quantidade de carbono na biomassa florestal aérea, totalizando o valor de 120.726, 35 Mg de C ha-1. Quanto às tipologias vegetais, destacou-se a formação Floresta Ombrófila Densa Submontana devido ao significativo potencial de seqüestro de carbono. Os resultados permitiram a proposição de um indicador de sustentabilidade dentro dos propósitos do trabalho, que de uma escala de 0 a 1, obteve-se o valor de 0,75 para a área de estudo, tal valor demonstra o estado de preservação relativamente bom, em que se encontram as APP's na sub-bacia em questão. Palavras-chave: Geoprocessamento, Seqüestro de Carbono, Ecossistemas Florestais, Área de Preservação Permanente, Região Litorânea do Estado do Paraná. 1 2 Prof. Adjunto Depto. Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR/FAFIPAR. [email protected] Prof. M. Sc. Substituto e Doutorando do Programa de Pós-Graduação do Depto. de Geografia da UFPR. [email protected] 2 1 INTRODUÇÃO 1.1 O SEQÜESTRO DE CARBONO E AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE A redução das emissões de CO2, CH4 e o N20 para a atmosfera é uma das estratégias principais no que concerne ao objetivo da redução das mudanças climáticas, uma vez que concentrações muito acima dos valores normais provocam o chamado "efeito estufa". Uma outra principal estratégia é diminuir a concentração desses gases e incorporá-los na biomassa vegetal da biosfera. Esse processo é denominado de "seqüestro de carbono". Assim, uma das formas recomendadas para contribuir na redução das mudanças climáticas é viabilizar o desenvolvimento de árvores e conseqüentemente a biomassa florestal. Isso por que uma árvore absorve ou seqüestra em média 0,8 Mg de CO2, até atingir o clímax, o qual varia de 20 a 40 anos. De um modo mais específico, uma árvore de espécie nativa na região sul do Brasil seqüestra em média 0,3 Mg de CO2 até atingir o clímax. De forma semelhante uma essência florestal comercial como o eucalipto seqüestra em média 1 Mg de CO2 em apenas 20 anos (PARANÁ, 2007, p.17). Uma das formas mais concretas de viabilizar o desenvolvimento de árvores é adequar as propriedades rurais no tocante à Área de Preservação Permanente (APP) como determina a legislação ambiental brasileira representada pelo Código Florestal. O mesmo é relativo à Lei n.4771, de 15 de setembro de 1965, e estabelece exigências bem diferenciadas para a cobertura destinada a proteger margens de rios e de encostas e para a Reserva Florestal Legal. Nesta o artigo 2 considera como preservação permanente, isto é, reservas ecológicas, que não podem sofrer qualquer alteração, as florestas e demais formas de vegetação natural, nas seguintes situações: (1) ao longo de rios ou de qualquer curso de água, desde seu nível mais alto, variando de largura conforme o tamanho do rio; (2) de 30 metros para cursos de água com menos de 10m metros de largura; (3) de 50 metros para cursos de água que tenham de 10 a 50 metros de largura; (4) de 100 metros para cursos de água que tenham de 50 a 200 metros de largura; (5) ao redor de lagos, lagoas, reservatórios naturais ou artificiais; (6) nas nascentes; (7) em topos de morros, montes, montanhas e serras e nas encostas com declividade superior a 45%; (8) em altitude superior a 1.800 metros (BRASIL, 1965, p.2). 1.2 BIOMASSA DOS ECOSSISTEMAS FLORESTAIS O processo de adequação das propriedades rurais no que concerne à manutenção e principalmente à recuperação das Áreas de Preservação Permanente é um potencial mecanismo de seqüestro de carbono. Por outro lado, o geoprocessamento apresenta ferramentas que possibilitam o desenvolvimento de análise espacial, bem como a confecção de produtos cartográficos, tornando possível, por exemplo, a realização do diagnóstico da situação das áreas de preservação permanente de uma determinada localidade estudada. Avaliação 3 essa que pode ser desde a quantidade de áreas que está adequada, assim como a quantidade de áreas a se recuperar a partir dos seus vários estágios de regeneração (WATZLAWICK et al., 2002a, p.215). O seqüestro de carbono somente ocorre enquanto as árvores e a floresta estão crescendo, tornando assim importante e atrativo a recuperação dos ecossistemas naturais em áreas degradadas, por meio da regeneração, adensamentos, aumentando consideravelmente a biomassa, conseqüentemente o estoque de carbono fixado. A implantação ou recuperação das mesmas possibilita oportunidade de negócios voltados ao desenvolvimento de projetos de conservação, preservação ou mesmo com a recuperação de áreas degradadas, tornando muitas vezes possível a aplicação do conceito de desenvolvimento sustentado (WATZLAWICK, et al., 2002b, p.169). 1.3 ESTIMATIVAS DOS ESTOQUES DE CARBONO NA BIOMASSA FLORESTAL Na área de estudo BRITEZ et al. (2006, p.50-57) e RODERJAN (1994) estabelecem os seguintes valores para cada tipologia e uso da terra para a área em estudo, em Mg de C ha-1: Fase Inicial de Sucessão, 26,43; Fase Intermediária de Sucessão, 82,70; Floresta Ombrófila Densa Aluvial, 129,40; Floresta Ombrófila Densa Montana, 187,34; Floresta Ombrófila Densa Submontana, 187,34; Formações Pioneiras com Influência Fluvial, 81,89. Na mesma área do presente estudo, TIEPOLO et al. (2002, p.13) desenvolvendo três projetos para seqüestro de carbono (TNC/SPVS, 2000; TNC/SPVS, 2001a; TNC/SPVS, 2001b, citados por CHANG, 2002, p.73), encontraram que a tipologia Submontana foi a que conteve maior estoque de carbono na biomassa aérea, com uma quantidade de 135,89 Mg de C ha- e a tipologia representada pela jovem floresta secundária conteve uma quantidade de 42,89 Mg de C ha-1, sendo esta última a que teve o menor estoque de carbono. Para a tipologia caracterizada pelo pasto os mesmos autores encontraram uma quantidade que variou de 0,7 para 3,5 Mg de C ha-1. Para outras tipologias encontraram os seguintes valores: terras baixas, 106,81 Mg de C ha-1; floresta secundária em estágio médio, 101,96 Mg de C ha-1; Floresta em estágio médio-avançado, 106,19 Mg de C ha-1; Formações Pioneiras com Influência Fluvial, 64,12 Mg de C ha-1. A Hipótese que origina o presente trabalho é fundamentada na afirmação de que há uma boa relação entre a estimativa do seqüestro de carbono via métodos diretos e via geoprocessamento, quando se tratando da biomassa de área de preservação permanente. Assim, o presente trabalho objetiva apresentar uma forma de estimar a quantidade de carbono a ser seqüestrada em decorrência da adequação da área de preservação permanente na subbacia do Rio Pequeno, utilizando mapas de cobertura vegetal e mapas de uso da terra obtidos por levantamento de campo e geoprocessamento. A área de estudo está localizada no município de Antonina, na região litoral do estado do Paraná. A sub-bacia hidrográfica do Rio Pequeno, cuja área é de 112,6km2, está inserida na 4 área de drenagem da Baía de Antonina, sendo este rio afluente do Rio Cachoeira, o qual deságua diretamente nessa baía (figura 1). FIGURA 1 - LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO, DELIMITADA PELA SUB-BACIA DO RIO PEQUENO NO MUNICÍPIO DE ANTONIA NA REGIÃO LITORÂNEA DO ESTADO DO PARANÁ 5 2 METODOLOGIA A primeira etapa do presente trabalho referiu-se à confecção da carta cobertura vegetal e uso da terra existente na área de estudo, para tanto foi utilizado o mapeamento desenvolvido pelo Programa Pró-Atlântica (PARANÁ, 2002), o qual foi realizado a partir de imagens do satélite LANDSAT ETM 7, referentes ao dia 26/08/1999. Em seguida, delimitou-se toda a possível área de preservação permanente, representada principalmente pelos elementos concernentes às matas ciliares e nascentes, segundo o que consta na legislação do Código Florestal (BRASIL, 1965, Op. Cit. p.2). Com o auxílio do software de Sistema de Informação Geográfica ArcGIS 9.2 efetuouse o cruzamento das informações supramencionadas, de forma a se obter como produto a carta de cobertura vegetal e uso da terra interno as áreas de preservação permanente da subbacia do Rio Pequeno. Sob esta carta foram calculadas as quantidades de carbono da biomassa florestal aérea, disponíveis segundo o tipo de formação florestal nativa existente. Esse procedimento foi realizado a partir dos resultados de estimativas de biomassa para diversas formações florestais do domínio da Floresta Atlântica, segundo BRITEZ et al. (2006). A etapa seqüencial consistiu na elaboração da carta de cobertura vegetal potencial, que pode ser compreendida como a máxima expressão que a vegetação atingiria se tivesse a liberdade de se desenvolver sem a interferência do ser humano, considerando-se os atuais limites dados pelo clima e pelas condições edáficas (FÁVERO et al., 2004, p.61). Esta carta foi confeccionada de acordo com metodologia proposta e validada por PAULA e SANTOS (2007). Da mesma maneira que se delimitou a cobertura vegetal e uso da terra interno as áreas de preservação, repetiu-se o procedimento para a delimitação da vegetação natural potencial interna a tais áreas de preservação. Na seqüência, calculou-se a quantidade de carbono da biomassa florestal aérea que potencialmente pode ser fixado em decorrência da recuperação total da área de preservação permanente referente à área da sub-bacia do Rio Pequeno. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE AS TIPOLOGIAS VEGETAIS ENCONTRADAS NA SUBBACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PEQUENO A partir da carta de cobertura vegetal e uso da terra de 1999 da sub-bacia do Rio Pequeno, ilustrada na figura 2, verifica-se internamente às porções territoriais destinadas à preservação permanente (APP's) uma área de cerca de 27,7km2. Deste total, aproximadamente 17,5km2 estão preservados incluindo-se, segundo o Sistema Primário de Classificação da Vegetação Brasileira, as regiões fitoecológicas e áreas de formações pioneiras. Os demais 10,2km2 referem-se a porções de sucessão vegetal e uso antrópico. 6 FIGURA 2 - CARTA DE COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA DA SUB-BACIA DO RIO PEQUENO, COM AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DELIMITADAS Informações em maior nível de detalhe sobre cada uma das classes vegetais encontradas na área de drenagem da Baía de Antonina podem ser encontrar em PARANÁ (2002, p. 37-50), contudo, a seguir faz-se uma breve descrição das mesmas. 7 3.1.1 Sistema Primário da Vegetação A Floresta Ombrófila Densa (F.O.D.) refere-se à região fitoecológica de maior extensão na área em estudo, considerando-se somente as APP´s, já que compreende 1.708,95ha. De acordo com o Sistema de Classificação Brasileira (IBGE, 1992) são encontradas na região as seguintes unidades da Floresta Ombrófila Densa, conforme RODERJAN et. al. (2002): - F.O.D. Submontana: ocorre nas partes mais baixas das encostas, sobre relevo convexo, comumente de boa drenagem e profundidade, em geral associados a cambissolos ou argissolos. São áreas relativamente estáveis, de declividades moderadas, que permitem o estabelecimento de vegetação florestal densa e alta, até 30-35 metros. Quanto à altitude esta formação vegetal está situada entre 20 e 600 metros. Conforme, RODERJAN (1994), citado por BRITEZ et al. (Op. Cit., p. 52), apresenta na biomassa aérea cerca 187,34 Mg de C ha-1. - F.O.D. Montana: encontra-se entre 600 e 1.200 metros de altitude, em relevo mais declivoso e sob temperaturas mais amenas, influenciadas pelo escoamento do ar frio planáltico, ocorrem variações florísticas em relação ao patamar inferior, porém fisionômica e estruturalmente são muito semelhantes. Fato que justifica a adoção do mesmo valor de toneladas de carbono por hectare usado para a F.O.D. Submontana, já que não se dispõe de dados específicos para esta formação florestal. - F.O.D. Aluvial: o termo também se refere à floresta de planície, porém desenvolvida sobre depósitos de origem fluvial, portanto continentais, ao longo de rios meandrantes da planície. As espécies adaptadas ao meio formam florestas altas, de até 35 metros, com até quatro estratos de copas. Segundo BRITEZ et al. (Op. Cit., p.54), tomando-se por referência inúmeros levantamentos realizados no sul do Brasil, estabeleceu-se o valor de 129,4 Mg de C ha-1 como sendo o valor médio de carbono disponível na biomassa aérea. É cabível destacar que na região selecionada para o presente estudo, esta tipologia vegetal foi totalmente degradada, cedendo espaço para atividades agropecuárias. As áreas de Formações Pioneiras são encontradas apenas na planície e totalizam apenas 4,57ha. A única unidade encontrada foi: - Formações Pioneiras de Influência Fluvial: são formações vegetais que se desenvolvem em solos instáveis, os quais sofrem inundações periódicas por influência de rios ou das marés, formadas, em geral, por uma espécie dominante. À medida que evoluem, há aumento de biodiversidade e de complexidade estrutural, com diversificação da estrutura das comunidades e de formas de vida. A partir do momento em que deixam de ser formações homogêneas com um estrato arbóreo são consideradas florestas de planície, ou F.O.D. das Terras Baixas. A partir de quatro levantamentos realizados para a quantificação de carbono existente na biomassa das Formações Pioneiras de Influência Fluvial, identificouse o valor médio de 81,89 Mg de C ha-1 (BRITEZ et al., Op. Cit., p.56). 8 3.1.2 Sistema Secundário da Vegetação Segundo IBGE (1992) a vegetação secundária encontra-se subdividida em cinco fases sucessionais distintas, de acordo com o grau de desenvolvimento. Nas APP's da sub-bacia do Rio Pequeno 989,32ha são correspondentes a esta unidade, a qual é agrupada em: - Fase Inicial de Sucessão (capoeirinha): abrange as três primeiras fases de sucessão. Sendo a primeira relativa à vegetação que inicialmente ocupa a superfície dos terrenos abandonados pela agropecuária, constituída por plantas herbáceas; na segunda fase nota-se maior diversificação de herbáceas e inclusão de arbustivas; enquanto que na terceira fase verifica-se ocupação por espécies lenhosas, geralmente arbóreas de pequeno porte e de vida efêmera. Conforme BRITEZ et al. (Op. Cit., p.53) apresenta o valor médio de 26,43 Mg de C ha-1. - Fase Intermediária de Sucessão (capoeira): sucede a fase anterior (inicial), por meio da colonização por espécies lenhosas arbóreas de crescimento rápido. De acordo com BRITEZ et al. (Op. Cit., p.53) detém em média 82,7 Mg de C ha-1. Vale ressaltar que porções da quinta fase sucessional (capoeirão) não são encontradas na região. Dentre as porções de uso antrópico tem-se a agropecuária, que constitui a somatória dos sistemas agrícolas excetuando os povoamentos artificiais com espécies arbóreas (reflorestamentos), totalizando 63,64ha nas APP's. 3.2 COMPARAÇÃO ENTRE A COBERTURA ATUAL E A APÓS A ADEQUAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Na Tabela 1 é apresentada a situação atual da área em estudo em termos de cobertura vegetal e uso da terra e respectivas quantidades de área e estimativa de carbono na biomassa florestal aérea dentro da área de preservação permanente. Com relação à superfície da área de preservação permanente, observa-se que a mesma está irregular perante a legislação ambiental, pois a mesma contém as categorias de uso concernentes à agricultura e pecuária e outros usos de menor intensidade, assim como a fases inicial e intermediária de sucessão. Em decorrência da adequação da área de preservação permanente em questão, segundo a legislação ambiental atual utilizada pelos órgãos ambientais, esses tipos de uso tendem a desaparecer, pois haverá ao longo do tempo a recuperação da cobertura florestal nativa, que existia antes da sua degradação. A situação após a adequação é demonstrada na tabela 2, bem como na figura 3, que apresentam as áreas das diferentes tipologias vegetais e respectivas quantidades de carbono seqüestrado presente na biomassa florestal aérea recuperada. Assim, as áreas individuais referentes às tipologias primárias demonstram-se ampliadas, respectivamente com aquelas equivalentes apresentadas na tabela 1. quando comparadas 9 TABELA 1 - QUANTIDADE DE CARBONO NA BIOMASSA FLORESTAL AÉREA NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONCERNENTE À SUB-BACIA DO RIO PEQUENO, NA CIDADE DE ANTONINA (PR), EM CADA TIPO DE COBERTURA VEGETAL NO ANO DE 1999 COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA ÁREA (ha) Agricultura, Pecuária e Outros Mg de C ha -1 Mg de C ha -1 63,64 0,00 0,00 Fase Inicial de Sucessão 464,87 26,43 12.286,46 Fase Intermediária de Sucessão 524,45 82,70 43.372,10 Floresta Ombrófila Densa Montana 240,31 187,34 45.019,68 1.468,64 187,34 275.135,39 4,57 81,89 Floresta Ombrófila Densa Submontana Formações Pioneiras com Influência Fluvial TOTAL 2.766,48 374,40 376.188,03 BRITEZ et al. (2006, Op. Cit, p.50-57); RODERJAN (1994) TABELA 2 - QUANTIDADE DE CARBONO NA BIOMASSA FLORESTAL AÉREA APÓS A ADEQUAÇÃO NA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE CONCERNENTE À SUB-BACIA DO RIO PEQUENO, NA CIDADE DE ANTONINA (PR), EM CADA TIPO DE COBERTURA VEGETAL COBERTURA VEGETAL APÓS ADEQUAÇÃO ÁREA (ha) Mg de C ha -1 BIOMASSA -1 (Mg de C ha ) Floresta Ombrófila Densa Aluvial 161,51 129,40 Floresta Ombrófila Densa Montana 471,76 187,34 88.379,52 2.018,65 187,34 378.173,89 115,54 81,89 Floresta Ombrófila Densa Submontana Formações Pioneiras com Influência Fluvial TOTAL 2.767.46 20.899,39 9.461,57 496.914,37 BRITEZ et al. (2006, Op. Cit, p.50-57); RODERJAN, (1994) Verifica-se, ainda, que aqueles usos da terra irregulares apresentados na tabela 1, não constam mais e também se nota que aparece a tipologia de cobertura florestal da F.O.D. Aluvial. Portanto, esta formação é a que se encontra mais degradada na área de estudo e isso é concordante com Paula e Santos (2007), onde também observam que por se desenvolver em solos com maior fertilidade, em geral, esta formação acaba por dar lugar à agropecuária. Dentre as tipologias vegetais, destaca-se a formação F.O.D Submontana devido à grande quantidade de área que a mesma ocupa dentro das APP's, mostrado na Tabela 1, o que se verifica também na sua ampliação quando da adequação dessa área, conforme mostra a tabela 2. O aumento de área é em torno de 27,25 % e correspondeu a aproximadamente um aumento de seqüestro de carbono na ordem de 37,50 %. Essa observação é importante quando da definição de prioridades no tocante à escolha de determinada tipologia vegetal a ser trabalhada dentro do manejo e recuperação da área de preservação permanente. 10 FIGURA 3 - DELIMITAÇÕES DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE COM AS TIPOLOGIAS VEGETAIS A SEREM RECUPERADAS NA SUB-BACIA DO RIO PEQUENO, NO MUNICÍPIO DE ANTONIA (PR) 11 3.3 QUANTIFICAÇÃO DO SEQÜESTRO DE CARBONO EM DECORRÊNCIA DA ADEQUAÇÃO DA ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE Em decorrência do procedimento de adequação de toda a área de preservação permanente da sub-bacia do Rio Pequeno estimou-se um aumento de 32,1% na quantidade de carbono na biomassa florestal aérea dessa. Ou seja, se houvesse a recuperação das formações florestais nativas concernentes àquela quantidade delimitada pela área de preservação permanente haveria um montante de estimado de 120.726, 35 Mg de C ha-1, que, via processo de fotossíntese, passaria da forma de CO2 para a forma de carbono na biomassa florestal aérea. Considera-se que uma árvore de espécie nativa fixa (seqüestra) em média 0,3 Mg de CO2 até atingir o clímax, que é um período de tempo que varia de 20 a 40 anos (PARANÁ, 2007). Assim, a quantidade de carbono fixado nessa área corresponderia a aproximadamente a 402.421 árvores que passariam a compor a biomassa florestal aérea e estariam protegidas do desmatamento, uma vez que se encontrariam situadas em área protegida pela legislação ambiental. Esses resultados reforçam a estratégia de recuperação de fragmentos de ecossistemas florestais degradados da Floresta Ombrófila Densa que estejam situados dentro de delimitações do que a legislação ambiental brasileira define como Área de Preservação Permanente. Estratégia essa que pode ter como um dos objetivos principais a definição de justificativas consistentes para a elaboração de projetos de seqüestro de carbono, como observam WATZLAWICK et al. (2002a, p.215). 3.4 USO DA ESTIMATIVA DO CARBONO POTENCIALMENTE SEQÜESTRADO COMO INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE A comparação entre a quantidade de carbono na biomassa atual (1999) da parte aérea da área de preservação permanente em estudo e aquela obtida a partir da adequação total da mesma, permite a proposição de um indicador de sustentabilidade para essa situação. Por exemplo, na sub-bacia do Rio Pequeno haveria 469.914,35 Mg de C ha-1 caso a vegetação original das áreas de preservação estivessem preservadas. Contudo, devido à degradação destas áreas tem-se 376.188,03 Mg de C ha-1. Dentro do intervalo de 0 a 1, a sub-bacia do Rio Pequeno apresenta um índice de 0,75, o qual mostra que somente 25% do total de carbono da área de preservação permanente seriam passíveis de ser seqüestrado. Nessa situação, estabelece-se como indicador o valor de 0,75, que demonstra que a bacia do Rio Pequeno está relativamente bem preservada quanto à área de preservação permanente, o que demonstra certa coerência, uma vez que ela está inserida em uma das regiões mais bem preservadas do nosso estado. Por outro lado, considerando hipoteticamente uma outra área, menos preservada, mas com as mesmas condições de vegetação ter-se-ia, por exemplo, 50% de aumento na 12 quantidade do carbono a ser seqüestrado, o que resultaria num indicador de 0,5 para a mesma. Comparando os dois indicadores, poder-se-ia concluir que a área em estudo teria um potencial menor de seqüestro de carbono em decorrência da adequação das áreas de preservação permanente, quando comparado com segunda área. Quando da seleção de áreas potencialmente eficientes, em termos de elaboração de projetos de seqüestro de carbono via adequação das áreas de preservação permanente, um indicador da forma proposta pode ser muito útil. Sobretudo, para aquelas regiões em que se dispuser de bases digitais de dados geográficos, o que possibilita a rápida obtenção de resultados, sendo os mesmos expressos espacialmente e de modo quantitativo. Inserido dentro do contexto da avaliação e monitoramento de agrossistemas florestais, um indicador da forma proposta acima pode ser classificado como um indicador de sustentabilidade. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS a) A recuperação da área de preservação permanente em estudo aponta uma estimativa de fixação de carbono na ordem de aproximadamente 120.736, 35 Mg (toneladas) de carbono; b) Dentre as tipologias vegetais, destacou-se a formação Floresta Ombrófila Densa Submontana devido à grande quantidade área que a mesma ocupa dentro da Área de Preservação Permanente e a significativa quantidade carbono que a mesma é potencialmente capaz de seqüestrar. c) Os resultados permitiram a proposição de um indicador de sustentabilidade dentro dos propósitos do trabalho, que de uma escala de 0 a 1, obteve-se o valor de 0,75 para a área de estudo, tal valor demonstra o estado de preservação relativamente bom, em que se encontram as APP's na sub-bacia em questão. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei Federal nº 4.771, de 15 de Setembro de 1965, Institui o Novo Código Florestal. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, poder executivo, Brasília, DF, 16 set. 1965. Disponível em: <www.controleambiental.com.br/codigo_florestal.htm>. Acesso em: 01 set. 2007. BRITEZ, R.M. de; BORGO, M.; TIEPOLO, G.; FERRETTI, A.; CALMON, M.; HIGA, ROSANA. Estoques e incremento de carbono em florestas e povoamentos de espécies arbóreas com ênfase na floresta atlântica do sul do Brasil. Colombo:Embrapa Florestas, 2006. 165p. CHANG M. Caracterização e tipologia dos projetos de seqüestro de carbono no Brasil. In: In: SANQUETTA, C.R. As florestas e o carbono. SANQUETTA, C.R.; WATZLAWICK, L.F.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M.A.B.; GOMES, F. dos S., editores. Curitiba: Brasil: 2002. 265p. FÁVERO, O. A.; NUCCI, J. C.; BIASI, M. Vegetação natural potencial e mapeamento da vegetação e usos atuais das terras da Floresta Nacional de Ipanema, Iperó/SP: Conservação e gestão ambiental. RA'E GA: O espaço geográfico em análise. Curitiba, v.8, p. 55-68, 2004. 13 INSTITUTO BRASILIERO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Manual de classificação da vegetação brasileira. Série: manuais técnicos em geociências. n.1. Rio de Janeiro: IBGE, 1992. PARANÁ. Decreto no 387, de 02 de março de 1999. Instituiu o SISLEG - sistema de manutenção, recuperação e proteção da reserva florestal legal e áreas de preservação permanente no estado do Paraná. Diário Oficial [do] Estado do Paraná, Curitiba, PR, 03 mar. 1999. Disponível em: <http://www.pr.gov.br/iap/decreto_387_99>. Acesso em: 30 maio 2004. PARANÁ. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Programa Floresta Atlântica. Mapeamento da Floresta Atlântica do Estado do Paraná. Curitiba: SEMA/MINEROPAR, 2002. CD-ROM. PARANÁ. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Coordenadoria de Mudanças Climáticas. Entendendo mudanças climáticas: Curitiba: SEMA, 2007. Disponível em: <www.pr.gov.br/meioambiente/forumpr.shtml>. PAULA, E. V.; SANTOS, L. C. J. Comparação entre a Vegetação Natural Potencial e o Uso da Terra nas Bacias de Drenagem da Baía de Antonina. Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Natal, Anais do Evento CD-ROM, 2007. RODERJAN, C.V. O gradiente da Floresta Ombrófila Densa no Morro do Anhangava, Quatro Barras, PR: Aspectos climáticos, pedológicos e fitossociológicos. 1994. 119f. Tese (Doutorado em Ciências Florestais) – Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. TIEPOLO, G.; CALMON, M.; FERRETTI, A.R. Measuring and Monitoring Carbon Stocks at the Guaraqueçaba Climate Action Project, Paraná, Brazil. Extension Series No. 153 (p 98-115) In: Taiwan Forestry Research Institute. International Symposium on Forest Carbon Sequestration and Monitoring. 2002. TNC/SPVS. Antonina pilot reforestation project. Project plan. Curitiba:SPVS, November/2001 (b). TNC/SPVS. Atlantic rainforest restoration project plan. Curitiba: SPVS, 2001 (a). TNC/SPVS. Central and south west corporation. Guaraqueçaba Climate Action Project. Project plan. Curitiba : SPVS, March/2000. WATZLAWICK, L.F.; KIRCHNER, F.F.; SANQUETTA, C.R.; SCHUMACHER, M.V. O papel do sensoriamento remoto nos estudos de carbono. In: SANQUETTA, C.R. As florestas e o carbono. SANQUETTA, C.R.; WATZLAWICK, L.F.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M.A.B.; GOMES, F. dos S., editores. Curitiba: Brasil: 2002 (a). 265p. WATZLAWICK, L.F.; KIRCHNER, F.F.; SANQUETTA, C.R.; SCHUMACHER, M.V. A fixação de carbono em Florestas Ombrófila Mista em diferentes estágios de regeneração. In: SANQUETTA, C.R. As florestas e o carbono. SANQUETTA, C.R.; WATZLAWICK, L.F.; BALBINOT, R.; ZILIOTTO, M.A.B.; GOMES, F. dos S., editores. Curitiba: Brasil:2002 (b). 265p.