XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Efeitos da contaminação aguda de Cromo no copépodo bentônico Tisbe biminiensis Sâmara da Silva Gomes1, Marília Cordeiro Galvão da Silva2, Victor Matheus Barbosa de Santana3, Francisco José Bezerra4, Daniella Kelly de Melo5, Heitor Spinelli Montenegro6, Cristiane Maria Varela Araújo-Castro7 Introdução Com o aumento populacional, os sinais da poluição tornam-se cada vez mais evidentes. Dentre os recursos renováveis, sem dúvida, a água constitui-se um dos mais importantes, por ser elemento fundamental à vida e é também um dos elementos que mais sofrem com a poluição. Está cada vez mais difícil assegurar a quantidade e a qualidade das águas no nosso planeta, devido, principalmente, a imensa quantidade de produtos químicos que chegam aos ambientes aquáticos. O cromo existente no meio ambiente é quase todo proveniente das atividades humanas, originando-se de emissões das fabricações de cimento, fundições, soldagem, mineração de cobre, lixos urbanos e industriais, incineração, utilização em curtumes e fertilizantes, entre outros. Os resíduos possuem alto poder de contaminação, quando não são convenientemente tratados e simplesmente abandonados em corpos d’água, aterros industriais ou mesmo lixeiras clandestinas. Com facilidade, o cromo atinge o lençol freático ou mesmo reservatórios ou rios que são as fontes de abastecimento de água das cidades (CETESB, 2005). A maioria das águas superficiais contem entre 1 e 10 g/L de cromo. Na forma trivalente, o cromo é essencial ao metabolismo humano e sua carência causa doenças como diabetes e doenças cardiovasculares. Na forma hexavalente, é tóxico e cancerígeno. Atualmente, esse mineral tem sido utilizado como suplemento alimentar no meio esportivo com a proposta de promover maior ganho de massa muscular e maior perda de gordura corporal (Cervantes et al., 2001; Gomes et al., 2005; Rodgher & Espíndola, 2008). Devido à importância do cromo como mineral-traço e sua ampla utilização em vários setores, o presente estudo visa contribuir com informações a respeito dos efeitos fisiológicas do cromo, bem como possibilitar a minimização de suas consequências no ambiente e, consequentemente, para o próprio homem. Desta forma esse estudo teve como objetivo analisar os efeitos da exposição aguda do Tisbe biminiensis ao Cromo em parâmetros fisiológicos como: mortalidade, sucesso reprodutivo e desenvolvimento. Material e métodos Tisbe biminiensis é um copépodo harpacticoide epibentônico. Esta espécie foi coletada na Praia do Farol em Olinda-PE e vem sendo cultivado desde maio de 2013 no Laboratório de Ecofisiologia e Comportamento Animal (LECA) da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Para início dos ensaios ecotoxicológicos, fêmeas ovadas de T. biminiensis foram separadas, individualmente, com o auxílio de estereomicroscópio e pipeta Pasteur para recipientes de vidro com capacidade de 80 mL. Cada recipiente teste recebeu 50 mL da solução a ser testada, ração básica Alcon ® para peixes ornamentais e 10 fêmeas ovadas. O período de exposição foi de 96h, a cada 24h eram feitas observações para avaliar a mortalidade, quando identificadas fêmeas mortas, as mesmas eram retiradas e desprezadas. Foram utilizadas 4 diferentes concentrações de dicromato de potássio(K2Cr2O7) 20, 15, 10 e 05 mg L-1mais o grupo controle, cada uma com 3 réplicas.Ao final do período de exposição, todos os recipientes foram fixados com formol a 4% e corados com Rosa de Bengala para posterior contagem. Os parâmetros fisiológicos observados no presente estudo foram: mortalidade, obtidos a partir da observação do número de mortos; número de náuplios, contagem de indivíduos no estágio naupliar; número de copepoditos, contagem de indivíduos no estágio subsequente ao de náuplios e anterior ao adulto; e fecundidade, somatório dos números de náuplios e de copepoditos. Para comparação dos resultados, foi utilizada Análise de Variância (ANOVA) unifatorial, após testar os requisitos básicos (normalidade dos dados e homogeneidade das variâncias). Quando os requisitos não foram atendidos, foi aplicado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Quando diferenças significativas eram detectadas, era aplicado o teste de Dunnett, para comparar as diferentes concentrações de cromo com o grupo controle. O nível de significância foi de 5%.Para calcular o valor da concentração letal a 50% dos organismos em diferentes períodos (48, 72 e 96h) de exposição foi utilizado o método deTrimmed Spearman-Karber. Resultados e Discussão Os organismos expostos a diferentes concentrações do K2Cr2O7 apresentaram diferenças significativas quanto à mortalidade. É possível ver uma curva dose-resposta, onde, com o aumento da concentração de K2Cr2O7 houve também 1 Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. 2 Graduanda do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE. 3 Graduando do Curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE. 4 Graduando do Curso de Licenciatura Plena em Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE. 5 Graduanda do Curso de Licenciatura Plenaem Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE. 6 Graduando do Curso de Licenciatura Plenaem Ciências Biológicas, Depto. Ciências Biológicas, UFRPE. 7 Professora Adjunto I, Departamento de Morfologia e Fisiologia Animal, Universidade Federal Rural de Pernambuco, R. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE, CEP 52171-900. E-mail: [email protected] XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. um aumento na mortalidade (Figura 1) em diferentes períodos de exposição (48, 72 e 96h). Organismos expostos a concentração de 20 mg L-1, apresentaram uma mortalidade elevada mesmo em um período de exposição de 48h, com percentual superior a 80%, e em períodos de exposição maiores (72 e 96h) a mortalidade foi de 100%. Os valores de CL50 para K2Cr2O7, obtidos após as 96 h de exposição foi de 6,69 mg L-1, nas 72 h apresentou valor de 10,29 mg L-1 e nas primeiras 48 h de 15,41 mg L-1 (Figura 2). Araújo-Castro et al. (2009) estudando a sensibilidade desta mesma espécie ao K2Cr2O7observou uma CL50 para os períodos de 48, 72 e 96 h de 22,2, 13,8 e 9,45 mg L -1, respectivamente. A sensibilidade ao cromo tem sido investigada por outros autores em vários organismos, dentre eles podemos citar: o peixe Oreochromis niloticus (Masutti et al., 2006), o anfípodo Tiburonella viscana (Abessa e Sousa, 2003; e Melo e Nipper, 2007), o camarão marinho Palaemon elegans (Lorenzo et al., 2001) e outras espécies de copépodos Tisbe longicornis (Larrain et al., 1998) e Tisbe holoturiae (Coull e Chandler, 1992). De acordo com estes estudos, a espécie Tisbe biminiensis, do presente estudo, pode ser considerada mais sensível do que o peixe, o camarão marinho e o copépodo Tisbe holoturiae. A fecundidade foi significativamente (ANOVA one-way;F = 137,155; p<0,001) alterada na presença do dicromato de potássio, não ocorrendo na concentração de 10 mg L-1 e sendo observada na de 5 mg L-1 porém, sedo significativamente diferente do controle (Dunnett; p<0,05) (Figura 2). O número médio de náuplios produzidos por fêmeas expostas a diferentes concentrações de K2Cr2O7foi significativamente reduzido (ANOVA, F=165,331; p<0,01), sendo as concentrações de 5 e de 10 mg L -1 significativamente diferente do controle (Dunnett, p<0,05), apresentando média de 0 e 191 indivíduos ao final do período de exposição, respectivamente. Copepoditos só foram visualizados no controle ena concentração de 5 µL L-1, apresentando diferenças significativas (Kruskal-Wallis, H = 6,764; p = 0,011). O número médio de copepoditos encontrados nos grupos expostos a concentração de 5 mg L-1foi de 1,7 (± 2,1), e na concentração de 10 mg L-1 foi 0, enquanto que no controle foi de 20,03 (± 15,3). É possível observar que os efeitos subletais, que consistiram nos parâmetros reprodutivos e de desenvolvimento, ocorreram em concentrações bem inferiores ao CL50-96h. Esses resultados indicam que, um contaminante, quando presente no ambiente mesmo em concentrações inferiores as que causam mortalidade, pode interferir em parâmetros fisiológicos de extrema importância para o sucesso populacional em um determinado ecossistema, podendo causar o declínio populacional e morte ecológica.O copépodo Tisbe biminiensis, respondeu de forma sensível e eficiente a contaminação por cromo, dessa forma, pode vir a ser empregado em testes ecotoxicológicos para avaliação da contaminação por cromo. Referências Abessa, D.M.S.; Souza, E.C.P.M. Sensitivity of the amphipod Tiburonella viscana to K2Cr2O7. Brazilian Archives of Biology and Technology. 46(1): 53-55, 2003. Araújo-Castro, C.M.V., Souza-Santos, L.P., Torreiro, A.G.A.G., Garcia, K.S. 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Concentração letal a 50% (CL50) de Tisbe biminiensis expostos a diferentes concentrações de dicromato de potássio (K2Cr2O7) em 3 diferentes períodos de tempo (48, 72 e 96 h). Figura 3. Número médio de náuplios e fecundidade (náuplios + copepoditos) de Tisbe biminiensisexpostos ao cromo no final de 96 horas de exposição. Figura 4. Número médio de copepoditos de Tisbe biminiensis expostos ao cromo no final de 96 horas de exposição .