CLÍNICA DE CONCURSO COMPLETO DE EQUITAÇÃO ES EQU EX - OUT 1996 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho versa sobre a clínica realizada entre os dias 07 a 10 Out de 1996 nas instalações da Escola de Equitação do Exército pelo técnico alemão Sr Martin Plewa. Todas as anotações foram feitas por ocasião das aulas práticas e teóricas e também durante conversas. Cabe ressaltar que o técnico, de origem alemã, segue uma doutrina eqüestre um pouco diferente da ministrada pela Escola de Equitação do Exército mas que o objetivo final é o mesmo. 2. POSIÇÃO DO CAVALEIRO O técnico alemão deu muita ênfase à boa posição do cavaleiro para obter êxito no trabalho dos animais. É necessário um trabalho diário para melhorar a postura a cavalo e deve ser realizado no início do trabalho quando o animal estiver com as rédeas longas. A boa postura é determinante de uma maior aproximação do centro de gravidade do cavaleiro com o cavalo. A mobilidade da bacia dá melhores condições para acompanhar os movimentos do cavalo e auxiliar na condução do animal. Tronco Coxas e pernas Esta posição é chamada de sentado na cadeira, o peso é jogado para trás e força o dorso-rim. Tronco Coxas e pernas Esta posição tem as coxas muita retas em relação à vertical e joga o peso para frente, sobrecarregando os anteriores. A inclinação do tronco deve ser proporcional à velocidade é o desequilíbrio é necessário para que o cavalo imprima a velocidade desejada. A retomada deve ser com as mãos paradas no mesmo lugar e baixas. A ação do assento deve ser concomitante com a retomada do busto na vertical e uma ação das pernas para engajar em melhores condições o cavalo. No salto, é importante que o cavaleiro mantenha os joelhos e pernas parados para que não tenha grande movimentação do equilíbrio. As mãos devem sempre ser firmes, tranqüilas e suaves. Cada erro do cavaleiro por deficiência de posição ou emprego das ajudas resulta em uma reação do cavalo. Para não mexer demasiadamente com as mãos, o cavaleiro pode segurar com o dedo mínimo as crinas do animal. Para melhorar o assento e independência das ajudas o cavaleiro pode trabalhar na guia sem as rédeas e ou sem estribos. Deve se exercitar as articulações do tornozelo e joelhos tanto a pé como a cavalo. Para melhor utilizar estas articulações o cavaleiro pode, ao trotar elevado, procurar inclinar o tronco até tocar o peito no pescoço do cavalo. 3. ADESTRAMENTO E FLEXIONAMENTO Não importa o nível do cavalo mas deve-se trabalhar diariamente a base do animal e o melhor terreno para este tipo de trabalho é o plano. O trabalho deve sempre começar ao passo com as rédeas longas, pernas bem descidas e juntas ao cavalo mantendo o contato constante, sem estribo e procurar conduzir o animal por desequilíbrio e utilização das pernas visando uma descontração do dorso. Não usar chicotes, esporas ou gamarras. A seguir retomar e soltar as rédeas e verificar se o cavalo tem confiança na mão. Se o animal bater a cabeça é sinal que não tem confiança na mão do cavaleiro. Para resolver este problema ajustar as rédeas e entrar com a perna. Deve-se manter a cadência do passo. Ao trote o cavaleiro deve ficar ereto sem se jogar para frente, manter o contato das pernas e evitar balançar as mãos. Ao trote elevado o cavalo será impulsionado pelas pernas e pelo assento do cavaleiro. A manutenção do equilíbrio do cavalo e do cavaleiro é mais difícil ao galope do que ao trote e este é mais difícil que ao passo. Para ter equilíbrio é necessário que o cavaleiro tenha movimento de quadril. Nos deslocamentos em linha reta o cavalo deve estar reto e portanto as rédeas devem ter a mesma tensão. Nos deslocamentos em linhas curvas encurvar o animal com a perna interna e a rédea de fora (reguladora) terá uma tensão maior (ajudas diagonais). Utilizando estas ajudas evitamos que o animal caia na espádua ou desvie a anca. Executar exercícios de extensão do pescoço, inicialmente pela ação elástica dos cotovelos e, depois, alongando as rédeas e fazendo com que o animal busque um apoio mais à frente. De preferência, fazer no círculo. Quando o cavalo torce a cabeça é sinal que ele está reagindo à inflexão imposta e, para corrigir, devemos intensificar a perna de dentro. Utilizar sempre as mudanças de direção e transições de andaduras para flexibilizar o cavalo. Aceita-se uma pequena rédea de abertura para indicar a direção a ser seguida juntamente com a mão de fora e a perna de dentro. É importante termos um cavalo direito, ou seja, um cavalo que tenha capacidade de engajar os dois pés na mesma medida, evitando a sobrecarga de um deles. A escola alemã não admite nenhum tipo de ação de mãos na boca do animal visando descontração do maxilar. Ela prega que a descontração da boca ocorrerá quando o corpo do cavalo estiver descontraído. Para melhorar as transições galope-trote podemos utilizar círculos com raios menores. Cavalos com posteriores pouco ativos podem iniciar o trabalho ao galope. Só iniciar os trabalhos em duas pistas após estar bem distendido e, ao término, realizar exercícios de alongamento da musculatura. Todo e qualquer trabalho deve sempre terminar com exercícios de alongamento para evitar que o cavalo fique dolorido no dia seguinte. Para descontrair o dorso podemos utilizar além das mudanças de direção e do exercício de extensão do pescoço a passagem de cavaletes ao passo, ao trote e ao galope. Durante o trabalho dar alguns momentos de descontração ao cavalo utilizando as rédeas livres. Não trabalhar por mais de 20min sem intervalos para o relaxamento da musculatura. Não insistir exaustivamente no mesmo exercício. Procurar variar ao máximo para não irritar o animal. 4. TRABALHOS PARA SALTO Falou-se sobre os seis pontos onde se baseia o trabalho. São eles e nesta ordem: 1° Regularidade das andaduras 2° Descontraído sem tensão 3° Contato 4° Impulsão - trabalho enérgico dos posteriores 5° Direito 6° Reunião Na busca de um cavalo descontraído pode ocorrer: - Um cavalo encapotado ou pesado na mão: devem ser trabalhadas as transições e as meias paradas - Um cavalo encapotado ou sem contato: é sinal que não há confiança na mão do cavaleiro - Um cavalo encapotado e com ponto mais alto fora da nuca: deve ser dado mais rédea. - Um cavalo sacando da mão: intranqüilidade ou muita ação de mãos. - Cavalo com a cabeça torcida: muita ação de uma das rédeas. A maioria dos cavalos são tortos para a direita e sobrecarregam o anterior esquerdo. A correção se faz no adestramento colocando-se a espádua à frente dos posteriores. Podemos fazer isto trabalhando em voltas, espádua a dentro e distendendo a musculatura do lado direito. O trabalho de reunião é ação das pernas, assento profundo e meias paradas. É importante que não se puxe as rédeas para trás. Pontos importantes sobre o salto: - Direção - Tempo - Ritmo - Equilíbrio Procurar enquadrar o cavalo no meio do obstáculo, seguir uma linha reta e retomar após a recepção Com animais nervosos, procurar abordar após uma curva ou saltar e entrar num círculo ou fazer alto e recuar. Mais tarde poderemos abordar inviezado Outro exercício é abordar no canto Saltar onde o cavaleiro quer Visando direção foram montados os seguintes obstáculos: Este primeiro pode ser utilizado com duas testeiras à frente para ser abordado ao final de uma curva e depois do salto continuar em frente - podem ser colocados dois pontos de referência. Deve ser abordado ao trote ou ao galope o primeiro obstáculo, depois, progressivamente abordar os outros dois obstáculos, forçando o conjunto a saltar e continuar sob o domínio do cavaleiro tendo várias mudanças de direção neste pequeno espaço. 7,5 m 11 m Inicia-se este trabalho com saltos ao trote e depois a galope nos dois sentidos. Deve-se procurar a linha reta que liga os centros dos obstáculos. O cavaleiro deve enquadrar o obstáculo de longe e evitar corrigir subitamente na frente da barreira. O cavalo deve trabalhar calmo. Esta calma é perdida quando o cavaleiro monta forte, transmitindo insegurança ao cavalo. Esta linha deve ser transposta pela linha que une o centro de cada um dos obstáculos. Salto sobre frente estreita Esta linha associa a frente estreita a uma combinação mais difícil. 7,5 m 7,5 m 1,0 m Seqüência dos trabalhos: - Saltar isolado o 2 - Saltar 1 e 3 - Saltar 1 e 2, 2 e 3 pela linha reta que liga o centro do obstáculo. - Saltar o triplo nos dois sentidos - Substituir o paraflanco por tonel 10,5 m Pode-se aumentar a dificuldade deste duplo puxando cada vez mais um dos obstáculos para o lado. Tempo é a velocidade que se deve abordar o obstáculo e deve ser proporcional ao tipo de obstáculo e inclinação do terreno. Os cavalos novos devem ser iniciados ao trote. Domínio de obstáculo para cavalos velhos: - Chegar ao trote e partir ao galope na frente do obstáculo - Chegar ao galope e tomar o trote para saltar o obstáculo Entende-se como ritmo a cadência da andadura. O cavalo deve trabalhar o tempo todo no mesmo ritmo. No cross o cavalo ritma o galope com a respiração e uma perda provoca um desgaste desnecessário. Para ritmar os lances na frente do obstáculo podem ser utilizado cavaletes. Início Progressão - 1. referência por lance 1. referência a cada 2 lances 1. referência a cada 3 lances Fim A distância entre as referências é função do tamanho do cavalo e do tempo em que se trabalha. A referência na abordagem é mais próxima do obstáculo (± 3,5m) do que a referência na recepção (± 4,0m). Só o animal que está equilibrado consegue transpor obstáculos de cross. Principalmente quando se chega em uma distância ruim. Até mesmo após o ultimo salto temos que ter em mente que após a recepção devemos equilibrar o animal e só depois encerrar o trabalho. Quando se vai saltar alto é necessário que também se determine o local da batida. O bom cavaleiro utilizando estes critérios procura colocar o cavalo no ponto da batida e com isto economiza forças do animal. O erro mais freqüente é o cavaleiro que tenta colocar o animal no tempo certo e com isto o animal perde o ritmo. O cavalo deve saltar apenas duas vezes na semana. Durante o salto o cavaleiro deve acompanhar as diversas mudanças do centro de gravidade do cavalo. Esta ginástica deve ser abordada ao galope e nos dois sentidos. Durante este trabalho aparecem vários problemas com o cavalo que perde a calma durante a passagem dos obstáculos em linha e os cavalos que apresentam dissimetria, saltando com uma divisão desigual de peso entre os dois pés. Para o cavalo de CCE devemos treinar também, simultaneamento aos 4 fundamentos, a iniciativa. Faz parte do cross a surpresa, pelo terreno ou obstáculo desconhecido para o animal, e o cavalo deve ter desenvolvido a capacidade de superar-se. Não basta que o cavaleiro observe os 4 fundamentos para o salto, é necessário que o cavalo tenha sido educado nestes fundamentos e na iniciativa. 4. TRABALHO EM TERRENO VARIADO O cavaleiro não deve prejudicar o movimento do cavalo e para tanto deve estar equilibrado. Começar sempre com rampas suaves. Nas subidas devemos colocar o busto mais para frente e sair da sela para aliviar o dorso do cavalo. Como para um salto. Nas descidas devemos dar maior liberdade de dorso para que o animal engaje os posteriores e agir como na recepção de um salto. Se o cavaleiro ficar na vertical o centro de gravidade do cavaleiro irá se afastar do centro de gravidade do cavalo e quanto mais próximos estiverem estarão mais equilibrados. Numa negativa é importante que o animal passe sem faltas e sem o cavaleiro sentar forte no dorso do animal. A recepção deve ser igual à de um salto normal. As recepções na água devem ter o busto mais para trás porém sem pesar o dorso do cavalo. Para um galope de cross deve-se encurtar os estribos e os loros devem estar na vertical. O cavaleiro pode exercitar a posição levantando e sentando ao passo ao trote e ao galope sem alterar o equilíbrio do animal. As articulações do quadril, cotovelos e joelhos devem estar em harmonia com o cavalo. O tronco deve estar paralelo ao pescoço do animal. Para um bom condicionamento físico o cavalo deve treinar fôlego a cada quatro dias de trabalho, procurando realizar esse treinamento em subidas. Antes de entrar em uma subida forte devemos galopar mais forte antes para diminuir o esforço do animal. No exterior usar obstáculos móveis mas com características de rústicos. Com animais novos procurar mostrar, incentivar, dar recompensa e utilizar um mais velho como madrinha. Pode se colocar animais parados à frente do obstáculo a transpor para o cavalo novo ir na direção destes. Os animais devem ser ensinados a andar, trotar e galopar dentro d’água. As piscinas boas para treinamento possuem rampas na entrada e na saída e fazem com que o animal aja naturalmente. Para abordar água o lance deve ser menor. Em caso de dificuldade para entrar na água podemos usar uma escolta com dois cavalos ao lado. Deve-se deixar o máximo de iniciativa das ações para o cavalo e ele deve puxar para a barreira. O estribo de steeple é mais curto para que a interferência seja a menor possível e não usar gamarra. Na steeple não devemos jogar o corpo para fora em busca do equilíbrio. Foi dado o exemplo das corridas de moto Ginástica no Exterior Buraco Vertical Vertical testeira em terreno inclinado Banqueta Banqueta vala painel Banqueta Vertical Painel Banqueta com testeira no meio Buraco 6. ROTINA DE TRABALHO Dia 1° 2° 3° 4° 5° 6° 7° Adestramento Salto cross-exterior Adestramento Salto Condicionamento físico (resistência) Restabelecimento (não deixar jogado na baia) Para concursos mais avançados deverá se prever mais trabalho de resistência durante a semana. 7. PROGRAMAÇÃO DA EVOLUÇÃO DOS TRABALHOS Prova CCI* CCI** CCI*** CCI**** Idade 6 ½ a 7 anos 7 ½ a 8 anos 8 ½ a 9 anos a partir de 9 ½ anos Tempo de Treinamento 3 a 4 anos 4 a 5 anos 5 a 6 anos 6 em diante - Cavalos Novos - Cerca de 6 eventos de 1 dia por ano - Cavalos Prontos - 4 eventos de 1 dia por ano máximo 2 completos por ano * Sempre, após um completo conceder ± 3 semanas de descanso para o cavalo (descanso quer dizer 3 ou 4 dias sem montar e demais com trabalho leve). 8. PROTEÇÕES PARA CROSS Devem ser leves e adaptadas Não usar ligas Cloches só quando necessário Rampão em trabalho não mas em competição sim. Usar rampões baixos e 2 em cada pata. A frente 1cm e atrás 1,5cm. Cavalo com pés firmes mas sem frear. A ferradura deve ser leve e construída para o cavalo. 9. ESCOLHA DO CAVALO 1° Caráter 2° Engajamento 3° Flexibilidade No trabalho em liberdade foi observado que após um salto a um lance um tratador aguarda o cavalo com uma recompensa que serve para que o cavalo engaje os posteriores. 10. CONCLUSÃO SOBRE A CLÍNICA É de fundamental importância a realização de clínicas com técnicos e com cavaleiros experientes que servem para nos transmitir os conhecimentos e trabalhos utilizados na atualidade. O técnico alemão ratificou que o flexionamento é o trabalho eqüestre mais importante e que é imprescindível a existência de alguém, de baixo, orientando e corrigindo o cavaleiro. Ficou evidenciada a necessidade do cavaleiro possuir um bom assento e procurar conduzir o cavalo mais com as pernas e menos com as mãos. Deve-se usar as ajudas diagonais. Podemos obsevar que os trabalhos feitos na EsEquEx e pelo técnico alemão são semelhantes, a grande diferença está na qualidade dos animais, no profissionalismo de técnicos e cavaleiros e nas condições de trabalho que estes conjuntos possuem. Independente das condições que possuímos, devemos ter sempre em mente que 90% dos erros dos cavalos são causados por má posição ou emprego incorreto das ajudas por parte do cavaleiro e que temos muito o que melhorar como cavaleiros.