CELSO FLUD JÚNIOR INDICADORES POTENCIAIS DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS BÁSICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO, COMO ALTERNATIVAS DESENVOLVIMENTO PARA MATO GROSSO DO SUL Universidade Católica Dom Bosco PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL MESTRADO ACADÊMICO CAMPO GRANDE 2002 DE 1 CELSO FLUD JÚNIOR INDICADORES POTENCIAIS DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS BÁSICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO, COMO ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA MATO GROSSO DO SUL Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Local pela Universidade Católica Dom Bosco, sob orientação da Profa. Dra. Regina Sueiro de Figueiredo Universidade Católica Dom Bosco PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL MESTRADO ACADÊMICO CAMPO GRANDE 2002 2 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO LOCAL Mestrado Acadêmico CAMPO GRANDE 2002 A dissertação intitulada “INDICADORES POTENCIAIS DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS BÁSICAS DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO, COMO ALTERNATIVAS DE DESENVOLVIMENTO PARA MATO GROSSO DO SUL”, apresentada por CELSO FLUD JÚNIOR, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Local, à Banca Examinadora Universidade Católica Dom Bosco, foi considerada aprovada. 3 BANCA EXAMINADORA Orientador – Profa. Dra. Regina Sueiro de Figueiredo (UCDB) Prof. Dr. Alberto Gomes (EMBRAPA Gado de Corte – CG/MS) Profa. Dra. Antonia Railda Roel (UCDB) 4 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Celso (em memória) e Maria, que me colocaram no mundo e me ensinaram a viver com honra, dignidade e perseverança. À minha esposa, Yolanda, que a todo momento se faz presente, me alimentando da força impulsora de minhas ações. Às minhas filhas, Patrícia e Paula, que desde o seu nascimento tornaram-se a razão principal de minha vida. Às minhas netas, Gabriela e Renata, as verdadeiras riquezas que Deus me deu. Ao meu genro, Eduardo, que se tornou o filho homem que não tive. 5 AGRADECIMENTOS A Deus e seu filho Nosso Senhor Jesus Cristo pela vida, saúde, proteção, fé, esperança, inteligência e disposição para trabalhar. À Professora Dra. Regina Sueiro de Figueiredo, pela orientação e material bibliográfico fornecido, e, fundamentalmente, pelo apoio, incentivo, compreensão e amizade demonstrados durante todo o desenvolvimento desta dissertação. Ao Doutor Alberto Gomes, pesquisador da EMBRAPA Gado de Corte, pela amizade, estímulo, orientações técnicas e material bibliográfico fornecido, sem os quais não seriam possíveis a abrangência e a profundidade deste trabalho. À Professora Dra. Antonia Railda Roel, pela participação da banca examinadora e orientações prestadas. À amiga Marivalde dos Santos, pela valiosa colaboração e motivação nas pesquisas de campo. À Professora Marise Conceição dos Santos, pela decisiva contribuição na definição do tema. Aos dirigentes e colegas da Secretaria de Receita e Controle de MS, que permitiram a minha participação no curso e contribuíram para a obtenção de dados. À Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul, Sindicato Rural de Campo Grande, SINDICOURO/MS, SICADEMS, produtores rurais, transportadores, frigoríficos e curtumes, pela colaboração despendida no fornecimento de dados. Ao Centro das Indústrias do Brasil e a BRASPELCO pela atenção e fornecimento de informações relevantes sobre o tema. 6 Às instituições de ensino superior Universidade Católica Dom Bosco e Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, pelo empenho em manter o seu corpo docente em processo de contínuo aperfeiçoamento. À Fundação Instituto de Estudos e Planejamento de Mato Grosso do Sul, IAGRO, DFA/MS pela atenção e fornecimento de dados fundamentais para o desenvolvimento deste trabalho. Aos professores lotados no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local oferecido pela Universidade Católica Dom Bosco, na difusão dos conhecimentos que permitiram embasar esta dissertação. Aos colegas mestrandos, pelo companheirismo e entusiasmo, que motivaram a permanência no curso até o final. À Professora Dra. Cleonice Alexandre Le Bourlegat, Coordenadora do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local, pela luta na sua concretitude de seu reconhecimento oficial. Aos professores e amigos José Resina Fernandes Júnior, Teodomiro Fernandes da Silva e Thales de Souza Campos, pela insistência, apoio e incentivo, decisivos para o meu ingresso no curso. Às pessoas que durante as etapas do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local e da elaboração desta dissertação contribuíram com informações e estímulo. 7 FLUD JÚNIOR, Celso. Indicadores potenciais das unidades de negócios básicas da cadeia produtiva do couro, como alternativas de desenvolvimento para Mato Grosso do Sul. 2002, 170 f. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) – Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, 2002. RESUMO O Estado Mato Grosso do Sul desponta no cenário nacional como o detentor do maior rebanho bovino do país. Entretanto, ocupa a segunda posição em abate, e a quinta na produção de couros brasileiros. O processamento da pele bovina atinge apenas o primeiro estágio de curtimento, resultando o couro wet-blue, cuja transformação em semi-acabado e acabado ocorre fora do Estado, deixando de agregar valores à economia estadual, também prejudicada pela comercialização do couro wet-blue, que, em decorrência de sua qualidade inferior, se realiza a preços menores, em relação aos praticados com couros de melhor qualidade. O presente trabalho tem como objetivo geral investigar indicadores potenciais quantitativos e qualitativos das unidades de negócios básicas - produtores rurais, transportadoras, frigoríficos e curtumes – como alternativas de desenvolvimento para Mato Grosso do Sul. As fontes da pesquisa foram as publicações pertinentes ao assunto, as instituições detentoras de dados a respeito e a aplicação de questionários e entrevistas nas unidades de negócios básicas. A pesquisa possibilitou o conhecimento quantitativo e qualitativo, histórico e atual, no âmbito estadual, e, em determinados tópicos, no plano nacional e mundial, sobre as relações entre a produção do gado bovino, seu transporte e abate, e o processamento da pele bovina. Permitiu, também, verificar os fatores condicionantes da má qualidade do couro e suas causas. A correlação dos dados quantitativos de produção e de comercialização permite o dimensionamento das capacidades utilizadas e dos incrementos possíveis, além das perdas financeiras na comercialização do couro, em função de sua qualificação em categorias inferiores. A classificação do couro wet-blue comercializado apresenta uma concentração de 86% nas quinta, sexta e sétima categorias, cujas principais causas estão nos defeitos provocados no campo, motivados pela ação do homem e dos ectoparasitos. Em termos econômicos, a diferença de preços do couro wet-blue, entre os praticados e os possíveis, no caso de melhoria da qualidade, representa R$ 600 mil a menos de faturamento por dia, ou R$ 15 milhões mensais, ou, ainda, R$ 180 milhões anuais. Os subprodutos do processamento da pele são vendidos para outros Estados, quando poderiam ser industrializados no Estado na fabricação de diversos produtos, gerando rendas e empregos. O número de empregos diretos, proporcionados pelos produtores rurais, frigoríficos e curtumes, atinge cerca de 143 mil, podendo ser alavancado com um melhor aproveitamento das áreas utilizadas na criação do gado e das capacidades instaladas nos frigoríficos e curtumes. Espera-se que os dados e resultados apurados no presente trabalho possam promover pesquisas especificas, subsidiar estudos e sensibilizar os agentes e atores envolvidos quanto à importância da cadeia produtiva do couro no desenvolvimento do Estado. Palavras-chave: cadeia produtiva, cadeia produtiva do couro, couro bovino, wet-blue. 8 ABSTRACT At a national level, the state of Mato Grosso do Sul stands out as the greatest keeper of bovine cattle. However, it holds second position in slaughter, fifth in the production of hide. The processing of the bovine skin is but only the first stage of tanning, a process which results in tanned wet-blue hide and after which time it is transformed into semifinished and finished products outside the state. As a result of its inferior quality, wet-blue hide sells at lower prices than other hides with better quality, and thereby prevents adding value to the state economy. The purpose of this work, in the sense of aiding further studies and development policies in the productive chain of leather is to investigate qualitative and quantitative indexes of the business components involved: rural producers, transporters, freezers and tanneries in Mato Grosso do Sul. The sources utilized for this research included related articles, institutions that possess data about the subject, and the use of questionnaires and interviews employed in the fore-mentioned business components. Through this research, it was possible to further the quantitative, qualitative, historical and present understanding of certain topics surrounding the establishment of relations in the production of bovine cattle, the transportation, slaughter, and skin processing, at the state national and international levels. Moreover, it allowed us to verify the factors involved in the poor quality of hide, emphasizing the different reasons: from the breeding of the animals in the field to the tanning of the skins and its transformation into wet-blue hide. Correlating the quantitative data on production and commercialization allowed us to size up the capacities employed and its possible increments, and financial loss associated in the commercialization of leather, as a result of the qualification attributed to it in inferior categories. In order to make up for the quantity of hide produced monthly, resulting from the deficit in production of existing skins and the sales of part of this production to out-ofstate tanneries, 23% of the processed skins had to acquired from other states. As result of the level of quality attributed by buyers, classification of wet-blue hide received a concentration of 86% in the fifth, sixth and seventh categories. Causes of this inferior quality which was mostly predominant in the field, included the human component and ectoparasites. In economic terms, the difference between the actual market value and possible market value in prices in terms of increased quality, represents an invoicing loss of R$600 thousand per day, or in other words, R$15 million on a monthly basis, or still, R$180 million annually. The sub-products of the skin processing are sold to other states when they could very well be industrialized into various different products as yet another source of salary and jobs within the state. The number of jobs directly generated by rural producers, freezers and tanneries reach nearly 143,000, from which 93% are in the fields. Fostered by studies showing how to take better advantage of the areas used in breeding cattle and the installations in the freezers and tanneries, the number of jobs could significantly increase. It is hoped that the data and results obtained through this work will serve as a stimulus to more specific research on the subject and to subsidize studies and sensitize the agents and actors involved as to the importance of the productive chain of leather in the increased development of this state. Key words: Productive chain, the productive chain of leather, leather, wet-blue 9 SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS .................................................................................................... 11 LISTA DE TABELAS ................................................................................................... 12 LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................... 16 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 18 2 METODOLOGIA .......................................................................................... 23 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA BÁSICA ................................................. 27 3.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL .................................................................. 27 3.2 SISTEMA AGROINDUSTRIAL .................................................................. 30 3.2.1 Complexo agroindustrial: conceitos correlatos e correntes metodológicas ... 34 3.2.2 Aplicações do conceito de cadeia de produção agroindustrial ....................... 36 3.2.3 A cadeia produtiva da pecuária bovina de corte ............................................ 38 3.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO COURO ............................................. 38 3.3.1 Constituição química e anatômica da pele ..................................................... 41 3.3.2 Defeitos da pele e do couro ............................................................................ 44 3.3.3 O processo de curtimento e acabamento do couro ......................................... 46 3.4 A CADEIA PRODUTIVA DO COURO BOVINO ...................................... 48 4 ANÁLISE DOS INDICADORES POTENCIAIS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS BÁSICAS (SEGMENTOS).............................................................................................. 50 4.1 O SEGMENTO PRODUÇÃO DE GADO BOVINO .................................... 51 4.1.1 Evolução do rebanho bovino mundial, nacional e estadual ........................... 52 4.1.2 Distribuição do rebanho bovino em Mato Grosso do Sul .............................. 55 4.1.3 Sistemas de produção do gado bovino ........................................................... 60 4.1.4 Vias de acesso aos frigoríficos ....................................................................... 65 4.1.5 Pessoal direto empregado ............................................................................... 67 4.1.6 Fatores relacionados com a qualidade do couro ............................................ 69 4.1.6.1 Controle de ectoparasitos ............................................................................... 70 4.1.6.2 Sistemas de identificação dos animais............................................................ 71 4.1.6.3 Tipo de cerca utilizada ................................................................................... 73 4.1.6.4 Controles de qualidade da pele praticados ..................................................... 74 4.1.7 Expansão/melhoria da atividade com relação à qualidade do couro .............. 75 4.1.8 Políticas governamentais e incentivos relacionados com a pecuária ............. 76 10 4.1.9 Contribuições para o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro ........... 77 4.2 O SEGMENTO TRANSPORTE DE GADO BOVINO ................................ 78 4.2.1 Conhecimento da legislação ........................................................................... 79 4.2.2 Construção interna da carroceria .................................................................... 80 4.2.3 Separação dos animais por espécie, sexo e peso ............................................ 81 4.2.4 Freqüência de paradas .................................................................................... 81 4.2.5 Causas das lesões nos animais durante o transporte ...................................... 83 4.3 O SEGMENTO ABATE DO GADO BOVINO ............................................ 85 4.3.1 Evolução do abate mundial, nacional e estadual ........................................... 85 4.3.2 Indicadores quantitativos do abate em Mato Grosso do Sul .......................... 88 4.3.3 Frigoríficos instalados em Mato Grosso do Sul ............................................. 90 4.3.4 Pessoal direto empregado ............................................................................... 98 4.3.5 Dificuldades técnicas na retirada da pele ....................................................... 99 4.3.6 Comercialização da pele ................................................................................. 101 4.3.7 Política de expansão ....................................................................................... 103 4.4 O SEGMENTO PROCESSAMENTO DA PELE BOVINA ......................... 104 4.4.1 Mercado brasileiro de couros bovinos ........................................................... 104 4.4.2 Curtumes instalados em Mato Grosso do Sul ................................................ 110 4.4.3 Estágio de acabamento atingido em Mato Grosso do Sul .............................. 113 4.4.4 Pessoal direto empregado ............................................................................... 114 4.4.5 Peles bovinas utilizadas no processamento em Mato Grosso do Sul.............. 116 4.4.6 Causas dos defeitos da pele bovina ................................................................ 117 4.4.7 Comercialização do couro .............................................................................. 120 4.4.8 Subprodutos decorrentes do processamento da pele ...................................... 122 CONCLUSÃO ............................................................................................................... 126 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 131 APÊNDICES ................................................................................................................. 135 ANEXO ......................................................................................................................... 154 11 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - Unidades de negócios básicas da cadeia produtiva do couro em MS ..... 24 Figura 2 - Cadeia produtiva do sistema produção de bovinos ................................. 39 Figura 3 - Fibras colágenas ...................................................................................... 41 Figura 4 - Constituição anatômica da pele ............................................................... 42 Figura 5 - Partes da pele (Classificação brasileira) .................................................. 43 Figura 6 - Partes da pele (Classificação européia) ................................................... 44 Figura 7 - Municípios detentores de 25,5% do rebanho, em MS – 2000 ................. 58 Figura 8 - Distribuição do rebanho bovino por município, em MS – 2000 ............. 58 Figura 9 - Distribuição do rebanho bovino por microrregião, em MS – 2000 ......... 60 Figura 10 - Freqüência das fases de produção do gado bovino utilizadas pelos produtores rurais, em MS – 2000 .......................................................... 62 Figura 11 - Incidência dos sistemas de identificação adotados pelos produtores rurais, em MS – 2000 .............................................................................. 72 Figura 12 - Tipos de cercas utilizadas nas propriedades rurais, em MS – 2000 ........ 74 Figura 13 - Frigoríficos sob inspeção federal (SIF) instalados em MS – 2001.......... 92 Figura 14 - Frigoríficos sob inspeção estadual (SIE) instalados em MS – 2001 ....... 95 Figura 15 - Causas das dificuldades técnicas na retirada da pele bovina pelos frigoríficos, em MS – 2001 ..................................................................... 100 Figura 16 - Curtumes instalados em MS – 2001 ....................................................... 111 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Rebanhos mundiais de gado bovino * – 1991 a 2000 (milhões de cabeças) ................................................................................................... 52 Tabela 2 - Ranking do efetivo de bovinos, no Brasil – 1995 a 2000 ....................... 54 Tabela 3 - Distribuição do gado bovino por município, em MS – 1995 a 2000 (cabeças).................................................................................................. 55 Tabela 4 - Distribuição do gado bovino por microrregião geográfica, em MS – 1995 a 2000............................................................................................ Tabela 5 59 - Distribuição dos produtores rurais pesquisados por área do imóvel e quantidade de cabeças de gado bovino, em MS – 2000.......................... 61 Tabela 6 - Idade dos animais abatidos pelos produtores rurais, por sexo, em MS – 2000......................................................................................................... 63 Tabela 7 - Relação entre o número de cabeças por hectare e a utilização de suplementação alimentar, em MS – 2000 ............................................... 64 Tabela 8 - Distância e tempo médios de acesso do gado bovino aos frigoríficos por vias não pavimentadas, em MS – 2000 ............................................ 65 Tabela 9 - Distância e tempo médios de acesso do gado bovino aos frigoríficos por vias pavimentadas, em MS – 2000 ................................................... 66 Tabela 10 - Pessoal empregado por estabelecimento dos produtores rurais pesquisados, classificados por grupo de área total, em MS – 2000 ...... 67 Tabela 11 - Pessoal direto empregado por estabelecimento nos grupos de área total, em MS – 1995 – 1996 ........................................................................... 68 Tabela 12 - Rendimento médio do pessoal rural em MS, comparado com outros setores – 1999 ....................................................................................... 69 Tabela 13 - Utilização dos sistemas de identificação de bovinos pelos produtores rurais, em MS – 2000 .............................................................................. 71 Tabela 14 - Locais utilizados para a identificação dos bovinos com marcas de fogo, em MS – 2000 ............................................................................. 73 Tabela 15 - Controles de qualidade da pele bovina praticados pelos produtores rurais, em MS – 2000.............................................................................. 75 Tabela 16 - Preço por pele bovina desejada pelos produtores rurais, em MS – 2000. 76 Tabela 17 - Conhecimento pelos transportadores da legislação pertinente ao transporte de gado, em MS – 2000.......................................................... 79 13 Tabela 18 - Atendimento pelos transportadores às especificações da construção interna da carroceria, em MS – 2000....................................................... 80 Tabela 19 - Separação dos animais efetuada para o transporte, por espécie, sexo e peso, em MS – 2000................................................................................ 81 Tabela 20 - Freqüência de paradas no transporte de gado bovino, em MS – 2000 .... 82 Tabela 21 - Causas das lesões provocadas nos animais durante o embarque, transporte e desembarque, em MS – 2000 .............................................. 84 Tabela 22 - Abate mundial de gado bovino – 1991 a 2000 (milhões de cabeças) ... 86 Tabela 23 - Abate nacional de gado bovino* – 1991 a 2000 (milhões de cabeças)... 86 Tabela 24 - Taxas de abate no Brasil, Estados Unidos e União Européia* – 1991 a 2000 (%) ................................................................................................ 87 Tabela 25 - Abates de bovinos por serviço de inspeção, em MS – 1995 a 2001 (cabeças) ................................................................................................ 88 Tabela 26 - Trânsito sul-mato-grossense de bovinos para abate – 1996 a 2001 (cabeças).................................................................................................. 89 Tabela 27 - Abate dos bovinos sul-mato-grossense por sexo* – 1996 a 2001 (cabeças) ................................................................................................. 90 Tabela 28 - Frigoríficos sob inspeção federal (SIF) instalados em MS – 2001.......... 91 Tabela 29 - Abate nos frigoríficos sob inspeção federal, em MS – 1996 a 2001 (cabeças).................................................................................................. 93 Tabela 30 - Frigoríficos sob inspeção estadual (SIE) instalados em MS – 2001........ 94 Tabela 31 - Abate nos frigoríficos sob inspeção estadual, em MS – 1996 a 2001 (cabeças).................................................................................................. 96 Tabela 32 - Taxa da capacidade de abate por dia em relação ao rebanho existente 97 por microrregião, em MS – 2001............................................................. Tabela 33 - Pessoal direto empregado pelos frigoríficos e relação com a capacidade 98 de abate utilizada por dia, em MS – 2000 ............................................. Tabela 34 - Rendimento médio do pessoal empregado pelos frigoríficos, em MS , 99 comparado com outros setores – 2000 .................................................... Tabela 35 - Produção de peles bovinas, em MS – 1995 a 2001 (toneladas) ........... 101 Tabela 36 - Comercialização de peles bovinas frescas, em MS – 1995 a 2001 (toneladas) .............................................................................................. 101 14 Tabela 37 - Comercialização de peles bovinas salgadas em MS – 1995 a 2001 (toneladas)................................................................................................ 102 Tabela 38 - Mercado brasileiro de couros bovinos – 1991 a 2001 (milhões de couros)..................................................................................................... 105 Tabela 39 - Procedência das importações brasileiras de couro* – 1997 a 2001 (US$ milhões) ......................................................................................... 106 Tabela 40 - Importações brasileiras de couro bovino por estágio de acabamento – 1997 a 2001.............................................................................................. 106 Tabela 41 - Destino das exportações brasileiras de couro* – 1997 a 2001 (US$ milhões) .................................................................................................. 107 Tabela 42 - Exportações brasileiras de couro bovino por estágio de acabamento, 1997 a 2001 ............................................................................................. 108 Tabela 43 - Número de estabelecimentos curtidores por estado, no Brasil – 1986, 1990, 1992, 1994, 1996, 1998 e 1999 ..................................................... 109 Tabela 44 - Relação do número de estabelecimentos curtidores com o efetivo do rebanho bovino e abate anual, no Brasil – 1999..................................... 110 Tabela 45 - Curtumes instalados em MS – 2001........................................................ 111 Tabela 46 - Relação da capacidade de processamento com o efetivo de rebanho e capacidade de abate, por microrregião, em MS – 2001 .......................... 112 Tabela 47 - Pessoal direto empregado pelos curtumes e relação com a capacidade diária de processamento, em MS – 2001 ................................................ 114 Tabela 48 - Rendimento médio do pessoal empregado pelos curtumes, em MS, comparado com outros setores – 2000 ................................................... 115 Tabela 49 - Origem e estado das peles bovinas processadas em MS – 2001............. 116 Tabela 50 - Composição do valor das compras das peles bovinas processadas em MS – 2001............................................................................................... 117 Tabela 51 - Causas dos defeitos das peles bovinas processadas em MS – 2001 ....... 118 Tabela 52 - Destino da comercialização do couro wet-blue processado em MS – 2001...................................................................................................... 120 Tabela 53 - Preços de venda do couro wet-blue por categoria, em MS – 2001.......... 121 Tabela 54 - Classificação do couro wet-blue de MS, comparada com a do Brasil – 2001(%) ................................................................................................. 121 15 Tabela 55 - Cálculo do custo de oportunidade decorrente da comercialização do couro wet-blue, em MS – 2001 ............................................................. 122 Tabela 56 - Subprodutos do processamento da pele bovina, em MS – 2001 ............ 123 Tabela 57 - Faturamento mensal dos subprodutos,de acordo com a finalidade, em MS – 2001 .............................................................................................. 124 16 LISTAS DE SIGLAS ABICALÇADOS - Associação Brasileira das Indústrias de Calçados ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas ABQTIC - Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria de Curtumes AICSUL - Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul ANUALPEC - Anuário da Pecuária Brasileira BRASPELCO - Braspelco Indústria e Comércio Ltda. CAI - Complexo de produção agroindustrial CICB - Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil CNPC - Conselho Nacional da Pecuária de Corte CPA - Cadeia de produção agroindustrial CTCCA - Centro Tecnológico do Couro, Calçados e Afins. DFA/MS - Delegacia Federal de Agricultura de Mato Grosso do Sul EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAI-UFSCar - Fundação Apoio Institucional ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos FAPERCG - Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul FIERGS - Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul FUNARBE - Fundação Arthur Bernades IAGRO - Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal IBGE - Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística MS - Estado de Mato Grosso do Sul IPLAN - Fundação Instituto de Estudos e Planejamento de Mato Grosso do Sul PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios SAI - Sistema agroindustrial SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio a Pequena e Micro Empresa SECEX - Secretaria de Comércio Exterior SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SERC/MS - Secretaria de Estado da Receita e Controle de Mato Grosso do Sul SICADEMS - Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul 17 SIE - Serviço de Inspeção Estadual SIF - Serviço de Inspeção Federal SINDICOURO/MS - Sindicato das Indústrias de Curtumes, Couros e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul SISBOV SUPLAN/MS - Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovino - Secretaria Estadual de Finanças, Orçamentos e Planejamento de Mato Grosso do Sul UFPB - Universidade Federal da Paraíba USEP - Unidades Socioeconômicas de Produção 18 INTRODUÇÃO No contexto mundial, o Brasil tem se destacado pela sua participação no rebanho de gado bovino, o que pode ser constatado, pelos dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), publicados no Anuário da Pecuária Brasileira – ANUALPEC (2000, 2001). Desde 1991, o país vem se apresentando como o segundo maior detentor de gado bovino do mundo, possuindo em 2000 cerca de 160 milhões de cabeças (15% do total mundial), ficando atrás apenas da Índia, com 313 milhões de cabeças, provavelmente, em função de suas características religiosas e culturais. Em termos de abate, o Brasil apresenta-se como o terceiro maior abatedor do mundo, atingindo em 2000, aproximadamente 33 milhões de cabeças abatidas (14,2% do total mundial), ultrapassado apenas pelos Estados Unidos, com um pouco mais de 37 milhões de cabeças abatidas e pela China, primeira no ranking mundial, com 39 milhões de cabeças abatidas. Nesse cenário apresentado, destaca-se o Estado de Mato Grosso do Sul (MS) que, segundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 1995 a 2000, possui o maior rebanho bovino do país. Em 2000, o total de cabeças era de 22,2 milhões, equivalentes a 13% do total, seguido por Minas Gerais (20 milhões), Mato Grosso (18,9 milhões) e Goiás (18,4 milhões). Quanto à evolução do abate de bovinos no Brasil, os dados apresentados no ANUALPEC (2001) destacam MS, até 1995, na quarta posição, com 3,1 milhões de cabeças anuais, e, nesse ano, superado por Minas Gerais e Goiás, ambos os Estados com 3,3 milhões, e São Paulo, primeira posição, com 4,8 milhões. Em 1996 passou a ocupar a terceira posição, e a partir de 1997 a segunda, mantendo-a até hoje, permanecendo, apenas, atrás de São Paulo. O total de abates no Estado em 1999 atingiu 3,3 milhões de cabeças, contra 4,5 milhões de São Paulo. Nota-se que MS possui elevado potencial de matérias-primas,em decorrência de sua pecuária, que podem ser utilizadas na fabricação de diversos produtos, por meio do processo de cadeias produtivas, dentre as quais se destaca a do couro. Ressalta-se porém, 19 que a maior parte da pele bovina produzida em MS estava sendo comercializada para outros Estados, sem passar pelos diversos estágios de aprimoramento do processo para a industrialização, o que inviabiliza o aproveitamento das inúmeras oportunidades de negócios para o Estado, inerentes à cadeia produtiva. Isso pode ser verificado nos dados da Delegacia Federal de Agricultura de MS (DFA/MS), para o período de 1995 a 1999, em que a produção de pele bovina anual no Estado foi, em média, de 115.700 toneladas, das quais 74.450 toneladas, isto é, 64,3% foram comercializadas para outros Estados, principalmente São Paulo (33.500 toneladas) e Paraná (30.500 toneladas). Além disso, a pele processada no Estado atinge apenas o estágio de curtimento em cromo, obtendo-se o denominado couro wet-blue, a partir do qual se processam as demais etapas até o acabamento final. Assim, a importância do estudo, em conhecer indicadores quantitativos e qualitativos, relativos à cadeia produtiva do couro, que permite agregar valores significativos para o desenvolvimento de MS, bem como a participação efetiva de atores e de agentes locais no processo, está em subsidiar propostas de programas de desenvolvimento local, de modo a estimular a geração de empregos com a industrialização e comercialização de produtos originários dessa cadeia, e de elevar a arrecadação de impostos para o Estado. Nos registros da produção brasileira de couros bovinos no ano de 2000, conforme as estimativas publicadas no Guia Brasileiro do Couro 2000 (2001), do total de 32,5 milhões de couros produzidos, MS participou somente com 2,1 milhões (6,6%). Das exportações globais de couro e peles realizadas em 2000, totalizando 204 mil toneladas, o Estado participou com 4 milhões de toneladas, isto é, com apenas 2%. Outro dado importante, que também se extrai do Guia Brasileiro do Couro 2000 (2001), para examinar, está no demonstrativo do número de estabelecimentos curtidores por Estado, que permite constatar que, em 1999, MS, embora detentor do maior rebanho bovino, ocupava a sétima posição, com apenas 11 estabelecimentos de um total de 373, isto é, 2,9% do total, superado pelo Rio Grande do Sul com 126, São Paulo com 78, Minas Gerais com 43, Paraná com 27, Goiás com 19 e Santa Catarina com 12. 20 A qualidade do couro cru constitui outro fator relevante a ser considerado, não só em Mato Grosso do Sul, mas em todo o país. Segundo o “Estudo sobre a Eficiência Econômica e Competitiva da Cadeia Agroindustrial da Pecuária de Corte no Brasil”, elaborado pelo consórcio formado entre a Fundação Arthur Bernardes, vinculada à Universidade Federal de Viçosa, e a Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal de São Carlos, denominado CONSÓRCIO FUNARBE (1999, p.33): O sistema de produção predominantemente empregado na pecuária – de pastejo extensivo e longo período para abate – resulta em um couro com elevada incidência de defeitos, por parasitas sobretudo bernes e carrapatos (40%), cortes (10%) e marcação a ferro (10%). Os demais defeitos decorrem de transporte impróprio dos animais (10%), perdas na esfola (15%) e má conservação (15%). Como conseqüência, 60% das perdas são observadas no segmento de pecuária. Assim, a matéria-prima de baixa qualidade forçosamente acaba implicando em baixa qualidade dos produtos finais, o que contraria as condições impostas pelos atuais padrões de concorrência no mercado. Entende-se que à medida que a comercialização de couro no Estado restringese ao couro salgado e ao couro wet-blue em quantidades tímidas, a agregação de valores decorrentes dos vários estágios da cadeia produtiva do couro, no processo de industrialização, deixam de ocorrer. Uma avaliação dessas perdas pode ter como base as diferenças entre os preços médios (US$/couro) dos tipos de couros que compõem as exportações brasileiras verificadas no período de 1994 a 2001, segundo a Associação das Indústrias de Curtumes do Rio Grande do Sul (2002). Os preços médios aplicados foram de US$ 17.90 para a pele salgada, de US$ 36.05 para o couro wet-blue (diferença de 101,4%), de US$ 68.20 para o couro semi-acabado (diferença de 89,2% para o wet-blue) e de US$ 88.17 para o couro acabado (diferença de 29,3% para o semi-acabado). Ressaltase, ainda, que a diferença de preços entre o wet-blue e o acabado atinge 144%. Diante de tal realidade e buscando subsídios às propostas de implantação de políticas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro bovino, o presente trabalho tem como objetivo geral investigar indicadores potenciais quantitativos e qualitativos das unidades de negócios básicas – produtores rurais, transportadoras de gado, frigoríficos e curtumes – que compõem essa cadeia em Mato Grosso do Sul. 21 Para atender a esse objetivo geral traçaram-se os seguintes objetivos específicos: a) Conhecer indicadores potenciais quantitativos e qualitativos da cadeia produtiva do couro, junto às unidades de negócios básicas (segmentos): produtores rurais, transportadoras de gado, frigoríficos e curtumes, relacionados à cadeia produtiva do couro em Mato Grosso do Sul b) Possibilitar uma tomada de consciência da situação atual da cadeia produtiva do couro em Mato Grosso do Sul pelas suas unidades de negócios básicas e por agentes potenciais para seu desenvolvimento: e c) Subsidiar estudos de viabilidade para o estabelecimento de políticas voltadas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro em Mato Grosso do Sul. Para responder a esses objetivos, no estudo que culminou nesta dissertação, foram estruturados os seguintes capítulos, além desta introdução: O Capítulo 2 descreve o método, os procedimentos e os instrumentos de pesquisa aplicados no estudo, bem como as amostras utilizadas. O Capítulo 3 apresenta a fundamentação teórica básica, necessária ao entendimento do que vem a ser desenvolvimento local, suas características e as condiçõeschave para a sua implementação; à compreensão da abordagem sistêmica da agropecuária, por meio de cadeias produtivas, com destaque para a da pecuária bovina de corte; e ao conhecimento do processo de produção do couro. O Capítulo 4 trata dos indicadores potenciais quantitativos e qualitativos em análise, destacando-os nos quatro segmentos abrangidos na cadeia produtiva do couro em MS: produção, transporte e abate do gado bovino e processamento da pele bovina. No segmento produção de gado bovino no Estado, são enfocados o efetivo dos rebanhos e sua distribuição geográfica; os sistemas de produção; vias de acesso aos frigoríficos; pessoal empregado; fatores relacionados com a qualidade do couro; políticas e 22 incentivos governamentais; e contribuições ao desenvolvimento da cadeia produtiva do couro. No transporte estadual do gado bovino, estuda-se o seu envolvimento com a qualidade do couro, considerando as determinações contidas na legislação pertinente em vigor, relativas às condições necessárias à proteção dos animais e, em especial, do couro. No segmento abate do gado bovino no Estado, são abordados a evolução do abate mundial, nacional e estadual, com maior detalhamento dos dados referentes à rede de frigoríficos instalada em MS; pessoal empregado; os problemas inerentes ao processo de retirada da pele e sua comercialização; e a política de expansão do setor. No processamento da pele bovina no Estado, são evidenciados o mercado brasileiro de couros bovinos; a produção e estágio de acabamento dos curtumes instalados; pessoal; origem e estado das peles utilizadas no processamento, com destaque para os seus defeitos; a comercialização do couro; e os subprodutos decorrentes do processo de curtimento. Como último capítulo, a conclusão procura apresentar a situação da cadeia produtiva do couro em MS, ressaltando resultados e problemas mais relevantes apurados na pesquisa, no sentido de apontar caminhos que possam contribuir para o estabelecimento de políticas voltadas para o desenvolvimento local, mediante a agregação dos esforços das unidades básicas de negócios, do governo e de outras organizações engajadas no processo. 23 2 METODOLOGIA O estudo foi realizado pelo método positivista, com foco no tipo hipotético dedutivo, e as hipóteses levantadas para o estudo, em Mato Grosso do Sul, foram: H1: Há indicadores potenciais quantitativos e qualitativos na cadeia produtiva de couro que levam à agregação de valores, pelas unidades de negócios básicas, alavancando o desenvolvimento de MS. H2: Há indicadores potenciais quantitativos e qualitativos que levam à tomada de consciência, pelas unidades de negócios básicas e por agentes potenciais, voltada para o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro em MS. H3: Há possibilidades de extrair dos indicadores potencias quantitativos e qualitativos subsídios para o estabelecimento de políticas que venham a dinamizar o desenvolvimento da cadeia produtiva em MS. O estudo caracteriza-se como multicaso, numa abordagem quantitativa e qualitativa dos indicadores potenciais das unidades de negócios básicas, até a fase de processamento da pele nos curtumes, e estruturado de acordo com cada uma delas. Para melhor visualização do estudo, a Figura 1 apresenta um esquema sintético do envolvimento dessas unidades que compõem a cadeia produtiva do couro bovino. Quanto à abordagem metodológica utilizada no estudo, ela foi processada, conforme a situação, de duas formas. A primeira trata-se da pesquisa do tipo exploratória e descritiva, no sentido de proporcionar uma visão geral acerca da cadeia produtiva do couro no Estado, proporcionando a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses a serem pesquisadas em estudos posteriores. Nos casos em que foram possíveis, como segunda forma, a pesquisa foi, também, explicativa, visando à identificação dos fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência de determinados fatos e seus motivos. 24 Carne Produtores de gado bovino Transportadoras de gado bovino Frigoríficos Subprodutos Curtumes fora do Estado Pele Curtumes fora do Estado Curtumes Subprodutos Couro processado Indústrias de artefatos de couro Exportação Figura 1 - Unidades de negócios básicas da cadeia produtiva do couro em MS. Essa abordagem só foi possível mediante os procedimentos de pesquisa bibliográfica pertinente ao assunto, compreendendo livros, revistas especializadas, periódicos e outros, e ao levantamento de dados na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); Delegacia Federal de Agricultura em Mato Grosso do Sul (DFA/MS); Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (IAGRO); Fundação Instituto de Estudos e Planejamento de MS (IPLAN); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA); Braspelco Indústria e Comércio Ltda. (BRASPELCO); Sindicato das Indústrias de Curtumes, Couros e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (SINDICOURO/MS); Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB); Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria de Curtume (ABQTIC); e Associação da Indústria de Curtumes do Rio Grande do Sul (AICSUL). A seguir passou-se à pesquisa de campo que foi realizada mediante instrumentos de pesquisa, os questionários aplicados nas unidades de negócios básicas, no período de julho a dezembro de 2000, complementados durante o ano de 2001 e 2002, e as entrevistas com algumas pessoas ligadas a essas unidades, especialmente, aos curtumes. Os questionários dirigidos aos produtores rurais foram entregues, por intermédio dos sindicatos rurais e de leilões, a mais de 150 produtores, retornando preenchidos 55 questionários. Também, nos leilões de gado bovino, foram entregues 25 questionários a 23 transportadores, que funcionam como autônomos, atendendo aos produtores rurais quando da necessidade do serviço de transporte. Já os questionários destinados aos 48 frigoríficos instalados no Estado foram entregues, na sua maioria, com o apoio das agências fazendárias da Secretaria de Estado da Receita e Controle de Mato Grosso do Sul, enquanto outros foram levados pessoalmente, retornando 23 questionários preenchidos, sendo 14 sob inspeção federal e 9 sob inspeção estadual. Para os dez curtumes em funcionamento no Estado, os questionários foram entregues diretamente aos representantes, durante encontro ocorrido em Campo Grande, MS, na sede do Sindicato das Indústrias de Curtumes, Couros e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul (SINDICOURO/MS), com retorno de todos eles. Com base nos dados extraídos dos questionários, das entrevistas, dos documentos e das instituições consultadas, procederam-se análises comparativas, históricas e diagnósticas dependendo da questão em estudo. As limitações enfrentadas para a realização do presente trabalho de pesquisa foram de várias naturezas, assim sintetizadas: a- ausência de cadastro atualizado nos órgãos públicos do Estado, das unidades de negócios que compõem a cadeia produtiva do couro bovino; b- o número de produtores rurais é expressivo, e encontram-se bem dispersados geograficamente em todo o território estadual, dificultando a aplicação dos questionários e entrevistas; c- dispersão geográfica das transportadoras de gado e dos frigoríficos no Estado, dificultando o acesso a eles; d- falta de interesse e colaboração no preenchimento dos questionários por parte de algumas pessoas responsáveis pelas informações de suas unidades de negócios; e- receio por parte de algumas unidades de negócio em fornecer seus dados; f- existência de conflitos entre os dados quantitativos, de mesma natureza, fornecidos pelas instituições que efetuam esses levantamentos; 26 g- disponibilidade de tempo para a realização da pesquisa, perante a impossibilidade de dedicação exclusiva. A fim de permitir conceitos gerais que auxiliassem o entendimento do tema abordado neste trabalho, o capítulo a seguir apresenta uma fundamentação teórica básica. 27 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA BÁSICA Neste capítulo tem-se a apresentação do suporte teórico que deu sustentação para a realização do estudo, voltado ao conceito e características de desenvolvimento local, sistema agroindustrial e o processo de produção do couro, entre outros. 3.1 DESENVOLVIMENTO LOCAL Vários são os estudos que se têm encontrado, atualmente, a respeito dos conceitos sobre desenvolvimento local, dentre eles destacam-se os que abordam os modelos econômicos e sociais que apresentam um processo de mudança em andamento, no qual se valoriza a discussão do local como cenário econômico e social, exigindo um redimensionamento integrado de seu espaço. O local, conforme Queiroz (1998, p.A-3), é entendido como: o entorno ecossocioterritorial (município ou região) onde, aproveitando-se as suas vantagens competitivas (vocação econômica, projetos estruturantes, capital social e capacidade empreendedora) busca-se, a partir do econômico construir as múltiplas dimensões de desenvolvimento sustentável (social, ambiental e político-institucional). Além disso, o enfoque do desenvolvimento dentro de espaços locais é decorrente do fato de que cada localidade possui características próprias, a serem consideradas na escolha do caminho a ser seguido pelo desenvolvimento, o qual será desencadeado mediante a mobilização dos recursos locais disponíveis. Conforme Nóvoa (1992, p.23): O desenvolvimento local é antes de mais nada um processo de conquista de autonomia por parte das populações. Não se trata de uma dinâmica isolacionista, mas bem pelo contrário de uma tomada de consciência das relações com o meio (seja o meio imediato em que a coletividade se insere, seja o meio mais amplo das relações regionais ou inter-regionais) e da complexidade dos problemas, tanto a nível micro como macro (a coletividade local em si mesma e inserida numa rede de relações de âmbito regional, inter-regional, nacional e mesmo internacional). Nóvoa (1992, p.24) complementa: “Este processo de conquista de autonomia, sendo interativo, não se realiza de modo espontâneo, produzindo-se graças a um esforço voluntário que necessita de ser apoiado e acompanhado”. Nesse sentido, o desenvolvimento local implica na ajuda dos poderes públicos como princípio da 28 dinamização dos recursos e nas capacidades locais com base nas características e nas necessidades locais, e não tendo em vista objetivos e programas globais predeterminados. Os próprios habitantes de uma comunidade podem potencializar uma série de recursos, forças e capacidade próprias. O nível local é ao mesmo tempo uma comunidade de atores, públicos e privados, com potencial de recursos humanos, financeiros e de infraestrutura, no qual a mobilização e a valorização geram idéias e projetos de desenvolvimento. De forma sintetizada, o conceito de desenvolvimento local pode ser encontrado nos estudos realizados por José Carpio Martins: Desenvolvimento local é o processo reativador da economia e dinamizador da sociedade local através do aproveitamento eficiente dos recursos endógenos existentes em uma determinada região, capaz de estimular e diversificar seu crescimento econômico, criar emprego e melhorar a qualidade de vida da comunidade local, sendo o resultado de um compromisso pelo qual se entende o espaço como um lugar de solidariedade ativa, no qual implica mudanças de atividades e de comportamentos de grupos e indivíduos. 1 Associados a essa definição estão algumas das características que representam o processo de desenvolvimento local, dentre as quais se destaca a prioridade ao particular da comunidade local, reforçando as suas especificidades e seus problemas e valorizando a ação dos atores locais, os recursos e as potencialidades da localidade. Em 1998, de acordo com Franco (1999, p.176), aconteceu a Oitava Rodada de Interlocução Política do Conselho da Comunidade Solidária, em que se extraíram dez consensos construídos por atores governamentais e não-governamentais a respeito da participação do poder local no desenvolvimento local integrado e sustentável, dentre os quais aqui são destacados o primeiro, quarto, quinto e sexto consensos. O primeiro consenso apresenta-se como: Um novo modo de promover o desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentáveis, capazes de: suprir suas necessidades imediatas; descobrir ou despertar suas vocações locais e desenvolver suas potencialidades específicas; e fomentar o intercâmbio externo aproveitando-se suas vantagens locais. 1-Definição apresentada na disciplina de Desenvolvimento Local, ministrado em agosto/98 no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Local, oferecido pela Universidade Católica Dom Bosco. 29 Franco (1999, p.177) complementa que esse desenvolvimento refere-se: a uma nova dinâmica socioeconômica capaz de, a partir do local de encontro de ações do Estado e da sociedade, independente do seu tamanho, potencializar resultados em virtude de parcerias interinstitucionais que ali podem ser mais facilmente celebradas e da convergência e integração das políticas e dos programas que acabam co-incidindo. O mesmo autor (1999, p.178) reforça ainda que “o argumento básico a favor do desenvolvimento local integrado e sustentável é muito simples: é na esfera local que os problemas são melhores identificados e, portanto, torna-se mais fácil encontrar a solução mais adequada.” O quarto e quinto consensos, ainda segundo Franco (1999, p.182), se complementam, uma vez que se referem à participação, respectivamente, do poder local e da sociedade no processo. O quarto consenso menciona: “A participação do poder local é condição necessária, embora não suficiente, para o êxito de projetos de desenvolvimento local integrado e sustentável”, enquanto que o quinto: “O desenvolvimento local integrado e sustentável requer para sua viabilização a parceria entre Estado, mercado e sociedade civil.” Enfatiza Franco (1999, p.182) que: Não se advoga que o Estado, na sua manifestação local, seja o único provedor e empreendedor. Contudo, a ele cabe o papel estratégico e insubstituível de apoiar, promover e regular os processos de provisão de bens e serviços básicos e de promover o desenvolvimento. Complementando, Franco (1999, p.183) menciona: “O desenvolvimento local integrado e sustentável pressupõe a combinação de esforços exógenos e endógenos, governamentais e não governamentais, públicos e privados. Não haverá desenvolvimento local integrado e sustentável sem a participação da sociedade”. Com relação a uma nova dinâmica econômica, o sexto consenso apontado por Franco (1999, p.184) estabelece: O desenvolvimento local integrado e sustentável pressupõe uma nova dinâmica econômica integrada de base local, na qual sejam estimuladas a diversidade econômica e a complementaridade de empreendimentos, de sorte a gerar uma cadeia sustentável de iniciativas. 30 O mesmo autor (1999, p.184) observa que esse desenvolvimento para ser sustentável economicamente “requer a formação de uma comunidade econômica de base, ou seja, uma cadeia de iniciativas e empreendimentos que se complementam, maximizando as potencialidades de produção, comércio, serviços e consumo locais”. Assim, uma das potencialidades que se evidenciam em Mato Grosso do Sul é a pecuária, que se constitui na sua principal atividade econômica, fazendo-se presente em todas as regiões do Estado. A liderança na criação do gado bovino do país, com um rebanho estimado em mais de 20 milhões de cabeças e com um potencial de terras aptas para a agropecuária, oferece inúmeras oportunidades de negócios, desde que se aborde a pecuária dentro de um conceito mais amplo denominado agribusiness, traduzido no Brasil por diversas denominações, entre elas “complexo agroindustrial”, próximo tópico a ser abordado, e que compreende a abrangência de todos os diversos segmentos de sua cadeia produtiva. 3.2 SISTEMA AGROINDUSTRIAL Inicia-se o tópico com a evolução do entendimento do que vem a ser agribusiness na atividade agropecuária, até o conceito de sistema agroindustrial. O termo agribusiness foi definido por Goldberg e Davis em 1957 como “a soma total das operações de suprimentos agrícolas; as operações de produção nas unidades agrícolas; e o armazenamento, processamento e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos com eles”, (apud ARAÚJO, et. al., 1990, p.3). Esse conceito permite visualizar a importância em se dar um tratamento sistêmico a toda a cadeia produtiva denominado “Complexo Agroindustrial”, do qual participam os fornecedores de bens e serviços à agropecuária, os produtores agropecuários, os processadores, transformadores e distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final. O processo dinâmico de transformação, comum nas atividades econômicas, não poderia deixar de contemplar a agropecuária. As visões convencionais do setor não levam à compreensão necessária para a adoção de estratégias que propiciem o seu 31 desenvolvimento eficaz. As mudanças provocadas pelo desenvolvimento econômico, combinadas com a evolução exponencial da tecnologia, fizeram com que a agropecuária se situasse dentro de um sistema maior, caracterizado por uma extensa rede de agentes econômicos, abrangendo a produção dos insumos, a transformação industrial, o armazenamento e a distribuição dos produtos e seus derivados. A partir dos anos 50 do século passado, uma nova visão sistêmica ganha corpo nos estudos da agropecuária, conduzindo abordagens dentro do conceito de agribusiness. Há estudiosos como Batalha (1997, p.24), cujos trabalhos mostram que: “A bibliografia sobre o estudo dos problemas afetos ao sistema agroindustrial aponta, no cenário internacional, para dois principais conjuntos de idéias distintas entre si”. Mesmo surgindo em épocas e locais distintos, essas duas metodologias apresentam muitos pontos em comum. A primeira delas, citada por Batalha (1997), surgiu dos trabalhos de John Davis e Ray Goldberg, desenvolvidos na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos em 1957, provocando, por parte deles, o conceito de agribusiness. Em um trabalho posterior, em 1968, Goldberd utilizou a noção de commodity sistem approach para estudar o comportamento dos sistemas de produção da laranja, trigo e soja. Quanto a outra metodologia, Batalha (1997, p.24), assinala: “Durante a década de 60 desenvolveu-se no âmbito da escola industrial francesa a noção de analyse de filiere”. Complementa o autor “Com o sacrifício de algumas nuanças semânticas, a palavra filiére será traduzida para o português pela expressão cadeia de produção e, no caso do setor agroindustrial, cadeia de produção agroindustrial ou simplesmente cadeia agroindustrial (CPA)”. Batalha observa que na literatura francesa se utiliza da expressão Sistema Agroalimentar, entretanto, a manutenção dessa denominação levaria a excluir as empresas agroindustriais que não têm como atividade principal a geração de alimentos (madeira, couro, e outros). A noção de complexo agroindustrial (CAI) evidencia que os problemas relacionados com a agricultura são muito mais complexos que a simples atividade rural, e, portanto, o enfoque desses problemas deve se realizar sob outra perspectiva mais ampla, na 32 qual a indústria passa a ter lugar preponderante. A mudança do enfoque, em síntese, significa que as atividades que antes eram desempenhadas na unidade agrícola, tendo nela sua funcionalidade, passaram a depender cada vez mais de outros setores. Araújo et. al. (1990, p. XII), afirmam que: Basicamente a propriedade agrícola mudou sua atividade de subsistência para uma operação comercial, em que os agricultores consomem, cada vez menos, o que produzem. O moderno agricultor é um especialista confinado às operações de cultivo e criação. Por outro lado, as funções de armazenar, processar e distribuir alimento e fibra vão se transferindo, em larga escala, para organizações além da fazenda. Em complementação às atividades agropecuárias desenvolvidas especificamente nas fazendas, surgiu um conglomerado de outras atividades fora delas, em relação as quais foram classificadas, metodologicamente, em as situadas a montante e as situadas a jusante. A montante da fazenda, existem inúmeras organizações de insumos agrícolas e de produção, compreendendo: sementes, fertilizantes, inseticidas, herbicidas, fungicidas, suplementos para ração, vacinas, medicamentos, combustíveis, tratores, máquinas e implementos agrícolas. A jusante da fazenda, encontram-se complexas estruturas de armazenamento, transporte, processamento, industrialização e distribuição, cujas funções, somadas às mencionadas no parágrafo anterior, são, consideravelmente, maiores que o total das operações realizadas dentro das fazendas. Araújo et. al. (1990, p.XII), relatam: “Estima-se grosseiramente que, no Brasil, o total das operações ligadas ao complexo agroindustrial assim se distribuía: 8% de bens e serviços, dirigidos ao mercado rural, antes da fazenda: 32% de produção agropecuária propriamente dita; e 60% depois da porteira da fazenda”. Em paralelo a essas organizações, o processo de produção agropecuária envolve apoio e assistência, até então inexistente ou pouco atuantes, como órgãos públicos e privados de ensino, pesquisa e experimentação, carteiras de crédito rural das instituições financeiras, empresas de planejamentos e assessoria e outras. 33 Sintetizando essas inter-relações, Araújo et. al. (1990, p.3) afirmam: o agribusiness engloba os fornecedores de bens e serviços à agricultura, os produtores agrícolas, os processadores, transformadores e distribuidores envolvidos na geração e no fluxo dos produtos agrícolas até o consumidor final. Participam também nesse complexo os agentes que afetam e coordenam o fluxo dos produtos, tais como o governo, os mercados, as entidades comerciais, financeiras e de serviços. O fato significativo é que as mudanças profundas ocorridas na últimas décadas não só no Brasil, mas em todo o mundo, são irreversíveis, como o processo de modernização da agropecuária, a qual necessita e absorve cada vez mais tecnologias modernas, e a interdependência entre os quatro grandes agregados (insumos – produção agropecuária – processamento – distribuição) que caracterizam o complexo agroindustrial. O novo sistema que vivenciamos deve ser analisado sob novo prisma, bem como se faz necessária a implementação de políticas que permitam o seu desenvolvimento harmônico, e a integração de um número muito grande de setores e atividades, muitos deles não agropecuários. Esse sistema que constitui o Complexo Agroindustrial é uma rede de mercados inter-relacionados e interdependentes, os quais operam em contínuo mecanismo de ação e reação. Conforme Araújo et al. (1990, p. XV): A identificação da natureza e escopo desses mercados; os processo de análise e definição de estratégias para atingi-los, aperfeiçoa-los, otimizá-los; e o ajustamento de seus comportamentos e os objetivos sócioeconômicos da nação são claramente tarefas que necessitam novo ferramental analítico – a disciplina do “agribusiness” – para que possam criar a visão macro, essencial ao trato de sistemas complexos. A abordagem sistêmica do Complexo Agroindustrial deve levar em conta não apenas os objetivos de um setor restrito, mas objetivos gerais do sistema, e de um sistema de informações que permita a operacionalização em redes de fluxos dentro de sua estrutura. O sistema só será otimizado se os gargalos em todos os subsistemas forem diluídos, o que requer uma análise global complexa. Araújo et. al. (1990, p. XVII) afirmam: 34 Entre os grandes gargalos no desenvolvimento do Complexo Agroindustrial está, em primeiro lugar, um problema conceitual: nossa incapacidade de enxergar o sistema como um todo, de reconhecer o enorme crescimento da interdependência da agricultura com outros setores econômicos, o que vem inibir um processo integrado de planejamento e trabalho conjunto, que permita formular políticas sólidas visando atender, com maior eficiência, nossas metas econômicas e sociais. Em função das diversas definições e abordagens do Complexo Agroindustrial, o tópico a seguir apresenta os conceitos correlatos e as correntes metodológicas. 3.2.1 COMPLEXO AGROINDUSTRIAL: CONCEITOS CORRELATOS E CORRENTES METODOLÓGICAS As diversas expressões utilizadas para denominarem os conceitos dessa nova forma de abordagem agropecuária – agribusiness, complexo agroindustrial, cadeia de produção agropecuária e sistema agroindustrial – podem provocar confusões quanto ao significado de cada uma. Embora afetas ao mesmo problema, Batalha (1990, p.30) conclui: “representam espaços de análise diferentes e se prestam a diferentes objetivos. Na verdade, cada uma delas reflete um nível de análise do Sistema Agroindustrial”. O Sistema Agroindustrial (SAI), basicamente, tem a mesma definição de agribusiness proposta por Davis e Goldberg. Batalha (1997, p.30) conceitua SAI como: o conjunto de atividades que concorrem para a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos (sementes, adubos, máquinas agrícolas, etc) até a chegada do produto final (queijo, biscoito, massas, etc) ao consumidor. Ele não está associado a nenhuma matéria-prima agropecuária ou produto final específico. Já o Complexo Agroindustrial (CAI) possui uma abrangência mais restrita, uma vez que o seu ponto de partida é a matéria-prima em estudo. Batalha (1997, p.30) assinala: A arquitetura deste complexo agroindustrial será ditado pela “explosão” de matéria prima principal que o originou, segundo os diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se transformar em diferentes produtos finais. Assim, a formação de um complexo agroindustrial exige a participação de um conjunto de cadeias de produção, cada uma delas associada a um produto ou família de produtos. 35 A Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA), ao contrário do Complexo Agroindustrial, é definida a partir da identificação de determinado produto final, após o que as várias operações técnicas comerciais e logísticas, necessárias a sua produção, serão encadeadas de jusante a montante. É interessante ressaltar as observações efetuadas por Batalha (1997, p.30) quanto à diferenciação entre cadeia de produção e cadeia de produto formulada por alguns autores franceses. A cadeia de produção teria seu espaço analítico delimitado pelas várias operações associadas a uma matéria-prima de base, enquanto a cadeia de produto seria delineada a partir de um produto final. Dessa forma, o conceito de cadeia de produção está associado ao de complexo agroindustrial, e o de cadeia de produto ao de cadeia de produção agroindustrial. Dentro do SAI, segundo Batalha (1997), merecem destaque, ainda, as denominadas Unidades Socioeconômicas de Produção (USEP), que participam em cada cadeia. Para ele (1997, p.32): São estas unidades que asseguram o funcionamento do sistema. Elas tem a capacidade de influenciar e serem influenciadas pelo sistema no qual estão inseridas. No caso do SAI, as USEP apresentam uma variedade de formas muito grande. Não existem, porém, dúvidas de que a eficiência do sistema como um todo passa pela eficiência de cada uma destas unidades. O uso do termo agribusiness no Brasil é vago caso não se associe a ele um termo complementar delimitando a sua abrangência. Batalha observa (1997, p.32): “Assim, a palavra agribusiness não está particularmente associada a nenhum dos níveis de análise apresentados anteriormente. O enfoque pode partir do mais global (agribusiness brasileiro) ao mais específico (agribusiness da soja ou do suco de laranja)”. Os níveis de análise referidos são: SAI, CAI e CPA. Apesar de possuírem suas origens em épocas e lugares diferentes, as metodologias de análise propostas por Goldberg nos Estados Unidos e pelos economistas e pesquisadores ligados ao setores rural e agroindustrial na França, são muito semelhantes. Tanto uma como a outra desconsideram a antiga divisão do sistema econômico em primário, secundário e terciário, para visualizarem a agricultura dentro de um sistema mais amplo, do qual também fazem parte os produtores de insumos, as agroindústrias, os 36 distribuidores e prestadores de serviços. Ambas as teorias efetuam cortes verticais no sistema econômico, ou a partir de determinada matéria-prima (Goldberg), ou de determinado produto (escola industrial francesa), porém utilizam a noção de etapas produtivas sucessivas, desde a produção de insumos até o produto acabado, como forma de orientar a análise. A principal diferença entre as duas metodologias está na relevância dada ao consumidor final como agente dinamizador da cadeia. Nas proposições da escola francesa, parte-se do produto acabado em direção à matéria-prima base de sua produção. Na proposição americana de Goldberg, o ponto de partida da análise está na matéria-prima elegida. Quanto ao primeiro enfoque, Batalha (1997, p.35) assinala: O fato de que em grande parte dos produtos agroindustriais possa se encontrar uma determinada matéria prima de base responsável por uma parcela determinante da estrutura de custos do produto final aumenta a linearidade da cadeia e explica parcialmente o sucesso que este conceito encontrou junto aos profissionais ligados ao Sistema Agroindustrial. Cabe destacar que a complexidade de análise de uma dada cadeia de produção agro-industrial aumenta a medida que sua linearidade diminui. O conceito de cadeia de produção agroindustrial possui diversas utilizações, dentre as quais as principais são apresentadas no tópico a seguir. 3.2.2 APLICAÇÕES DO CONCEITO DE CADEIA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL Com relação às aplicações do conceito de cadeia de produção, Batalha (1997), com base em Morvan2, cita como as principais: a) Metodologia de divisão setorial do sistema produtivo, para tentar explicar a formação de ramos e setores dentro do sistema produtivo, perante a proximidade das relações comerciais entre eles; b) Formulação e análise de políticas públicas e privadas, buscando, fundamentalmente, identificar os elos fracos de uma cadeia de produção e com base neles adotar políticas do desenvolvimento harmonioso de todos os agentes que atuam na cadeia. A análise em termos de cadeia de produção, dentro do enfoque sistêmico já mencionado, ressalta a 2 MORVAN, Y. Fordementes d’economie industrielle. Paris. Economia,1988. 37 importância da articulação que deve existir entre os agentes econômicos privados, o poder público e o mercado consumidor dos produtos finais; d) Ferramentas de descrição técnico-econômica, por meio da especificação das operações de produção responsáveis pela transformação da matéria-prima em produto acabado, e do estudo das relações econômicas estabelecidas entre os integrantes da cadeia de produção. Batalha (1997, p.39) menciona Parent3, definindo uma cadeia de produção, dentro da ótica técnico-econômica, como a: soma de todas as operações de produção e de comercialização que foram necessárias para passar de uma ou várias matérias-primas de base a um produto final, isto é, até que o produto chegue às mãos de seu usuário (seja de um particular ou uma organização). e) Metodologia de análise de estratégia das firmas, no sentido de melhor se posicionar visando à maximização de seus resultados, considerando a identificação, das sinergias tecnológicas e comerciais entre as várias atividades da cadeia. Nesse processo, as empresas podem se orientar para a diversidade de suas atividades dentro de uma cadeia de produção na qual está inserida ou para a penetração em uma cadeia de produção na qual está ausente. f) Ferramenta de análise das inovações tecnológicas e apoio à tomada de decisão tecnológica, em função dos reflexos ocasionados pelas inovações dentro da cadeia de produção. Os empreendimentos inovadores modificam uma situação existente, provocando estímulos nos imitadores e em outras inovações a jusante ou a montante do ponto originário de inovação inicial. A análise pode extrapolar os limites de cadeia e avaliar as conseqüências das inovações nas outras cadeias de produção que com ela se interconectam. Essas inovações podem ser classificadas, de acordo com Batalha (1997), em caráter predominante tecnológico (novos processos de fabricação, novas matériasprimas, produtos de concepção inovadora, e outros) e em caráter predominante mercadológico (novas formas de distribuição e de embalagem, reposicionamento do marketing de um produto, novo modo de pagamento ou financiamento do consumidor, e outros). 3 PARENT, J. Filiéres de produits, stades de production e branches d’ activité: Revue d’ Economie Industrielle, nº7, p. 89. 38 Associando-se esses conceitos, especificamente, à atividade pecuária, o tópico a seguir enfoca a sua cadeia produtiva. 3.2.3 A CADEIA PRODUTIVA DA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE Abordando-se, especificamente, a pecuária bovina de corte, verifica-se que ela envolve em sua operacionalização diversas estruturas de produção, transformação, comércio e serviços, incluindo organismos de ensino, pesquisa, de crédito e de representação de classes. Para a produção do bovino, além da utilização de diferentes níveis de tecnologia, conta-se, por um lado, com inúmeros fornecedores de insumos, englobando materiais, rações e suplementos, medicamentos, vacinas, sementes, adubos, fertilizantes, máquinas, equipamentos e implementos agrícolas, além de outros. Por outro lado, o bovino abatido dá origem a uma série de produtos e matérias-primas, caracterizados por uma grande diversificação, incluindo a pele que processada nos curtumes se transforma em couro, matéria-prima destinada à indústria de sapatos e bolsas; artefatos de couro; gelatinas e chicletes; e outros. O fluxo desses insumos e dos produtos resultantes do abate, bem como a interação das estruturas envolvidas, podem ser visualizados na Figura 2, extraída do trabalho de Cardoso (1994, p. 8), na qual, tendo em vista o trabalho em pauta, deu-se destaque aos componentes básicos da cadeia produtiva do couro. Tendo em vista as peculariedades da transformação da pele bovina em couro, o tópico a seguir apresenta um referencial teórico básico sobre esse processo de produção. 3.3 O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO COURO Neste tópico tem-se a apresentação das etapas do processo de curtimento e acabamento do couro, fazendo-se referência à extração da pele nos frigoríficos e a classificação dos curtumes, onde a mesma será processada, de acordo com o nível de acabamento, e apresentando a constituição química e anatômica da pele, os defeitos da pele e do couro, classificados conforme a sua origem, e, ainda, as unidades de negócios básicas, que neste estudo compõem a cadeia produtiva do couro. Fonte: CARDOSO, E. G. (1999. p.8) Figura 2 – Cadeia produtiva do sistema produção de bovinos 39 40 O processo de extração da pele de modo geral compreende diversas etapas, a saber: matança; sangria; esfolamento (retirada do couro); lavagem; descarnação; salgação e embalagem. Normalmente é executada nos matadouros e frigoríficos, porém, pode ocorrer embora em pequena escala, nas próprias fazendas de criação e em outros locais, clandestinamente, visando ao consumo próprio da carne ou ao comércio informal. Nos curtumes, o couro é preservado da putrefação por meio do processo de curtimento, passando depois por diversas operações até atingir o nível de couro acabado. O SENAI (1997) classifica os curtumes em três tipos de empresa, segundo os níveis de acabamento: a) Curtume tradicional ou integrado – aquele que realiza todas as operações industriais, desde o couro cru até o couro acabado; b) Curtume de wet-blue – aquele que realiza as operações industriais, desde o couro cru até o estágio de wet-blue; c) Acabador de couro – aquele que realiza as operações a partir do wet-blue. Hoinacki (1989, p.12), em seus estudos sobre peles e couros, define: “O couro constitui a pele do animal preservada da putrefação por processos denominados de curtimento, e que a tornam flexível e macia”, complementando: No curtimento é mantida a natureza fibrosa da pele, porém as fibras são previamente separadas pela remoção do tecido interfibrilar e pela ação de produtos químicos. Após a separação das fibras e remoção do material interfibrilar, as peles são tratadas com substâncias denominadas curtentes, que as transformam em couro. O curtimento é portanto muito mais do que um simples processo de conservação. Outro estudioso sobre o assunto que se destaca na literatura é o Centro Tecnológico do Couro, Calçados e Afins – CTCCA (1994), mostrando a transformação de pele animal em couro, efetuada pelos curtumes, cujo curtimento varia em função do estado de conservação da pele ao chegar ao curtume, da raça, idade e sexo do animal ao qual pertencia, e da finalidade de utilização do couro. Essa organização afirma que os curtumes tendem a se especializarem em um ou poucos tipos de curtimento, utilizando-se, basicamente, da pele bovina como matéria-prima. Quando trabalham com outros tipos de 41 peles, como as de caprinos, ovinos e suínos, possuem, normalmente, instalações em separado. Para melhor entendimento do processo de curtimento da pele, apresenta-se a seguir, a constituição química e anatômica da pele. 3.3.1 CONSTITUIÇÃO QUÍMICA E ANATÔMICA DA PELE Para efeito de esclarecimento do processo de curtimento, o CTCCA (1994), mostra a constituição química e anatômica da pele, com a apresentação dos componentes da pele recém-tirada do animal, a saber: 64% de água, 33% de proteínas, 2% de gordura, 0,5% de sais minerais e 0,5% de outras substâncias, destacando-se as proteínas, dentre elas o colagênio que constitui 29% da pele. O colagênio ou colágeno é o principal constituinte, não só da pele, como também do tendão, do ligamento, da cartilagem e do osso, normalmente, apresentando-se sob a forma de feixes de fibrilas individuais, não ramificados, cujos diâmetros variam muito de tecido para tecido (Figura 3). Figura 3 - Fibras colágenas. Fonte: CTCCA, (1994, p.12) 42 O CTCCA (1994) apresenta, também, a constituição anatômica da pele que é compreendida de três camadas principais (Figura 4), denominadas: a) epiderme (camada superior), formada basicamente pela queratina, e onde se encontram os pêlos, também de queratina, que são eliminados no processo de depilação; b) derme (camada intermediária), camada mais importante e que vai resultar no couro, podendo ser dividida em duas subcamadas: a termotástica ou flor e a reticular; c) hipoderme (camada inferior), encostada na carne e eliminada pela operação de descarne. EPIDERME GLÂNDULA SEBÁCEA MÚSCULO ERETOR DO PELO VEIA ARTÉRIA FLOR CAMADA RETICULAR GLÂNDULA SUDORIPORA CARNAL GORDURA Figura 4 - Constituição anatômica da pele Fonte: CTCCA, (1994, p.13) A necessidade de racionalizar o processo de obter produtos com mais uniformidade, quanto à textura e à espessura, faz com que se divida a pele em diferentes regiões. No Brasil, segundo o CTCCA (1994, p.14), de acordo com as características relacionadas com a textura fibrosa e a espessura da pele, dividi-se a pele em três partes, a saber: 43 a) grupão, também chamado lombo ou dorso, é a parte mais nobre, por ser mais rica em fibras colágenas e apresentar melhor entrelaçamento de fibras. Deve ser destinado para artigos mais nobres, como vaqueta e a napa; b) cabeça ou pescoço, normalmente de espessura maior, deve ser destinada a artigos que necessitam de espessura maior, como as solas e vaquetas para artigos esportivos; c) flancos ou barrigas, tem uma textura de fibras não tão boa como as outras partes, além de uma menor espessura. Devem ser destinadas a artigos que não exijam muita resistência à ruptura e muita espessura, como o forro para calçados. Essa classificação pode ser visualizada na Figura 5. Figura 5 - Partes da pele (classificação brasileira) Fonte: CTCCA, (1994, p.14) 44 Já na Europa, a pele é dividida em quatro partes: o grupão, os flancos ou barrigas, os colares e a paleta, ilustrados na Figura 6 (CTCCA, 1994, p.15). Figura 6 Partes da pele (classificação européia) Fonte: CTCCA (1994 p.15) Em decorrência dos diversos tipos de defeitos encontrados na pele e no couro, o tópico a seguir aborda esses defeitos, classificados em função da origem. 3.3.2 DEFEITOS DA PELE E DO COURO Os tipos de defeitos apresentados pelas peles e pelos couros, delineados a seguir, estão classificados de acordo com a origem. O CTCCA (1994) classifica os defeitos em: os que ocorrem durante a vida do animal e os que ocorrem após o abate. Na primeira classe, eles foram subdivididos em defeitos naturais, como virilhas, rugas e marcas de costela, dentre outros, e, em defeitos acidentais, provocados por agentes exteriores, como os ectoparasitas e o homem, mediante 45 a utilização de marcas de fogo para a identificação do animal, e de arame farpado nas cercas. Na segunda classe estão defeitos a partir da esfola e do processo de conservação. O estudioso Hoinacki (1989) classifica os diversos tipos de defeitos em quatro grupos. Grupo 1 - Defeitos originados durante a vida do animal: são inúmeros, dos quais os tipos mais importantes são decorrentes de: a) Marcas de fogo: efetuadas para identificar o gado, são normalmente profundas e a cicatriz resultante é visível no carnal. Quando executadas sobre a região do grupão provocam perdas significativas; b) Transporte dos animais: durante o qual podem ocorrer lacerações e marcas nas peles, provocadas por parafusos ou pregos salientes; c) Arames farpados: provocam arranhões e cortes, deixando nas peles marcas e cicatrizes; d) Miíases: classificadas em: miíases cutânea (bicheira), causada pelas larvas da mosca Cochliomya hominivorax, que deposita seus ovos na borda de lesões recentes ocorridas na pele dos animais, nelas permanecendo por 6 a 8 dias; e miíase subcutânea (berne), causada pelas larvas da mosca Dermatobia hominis, que se utiliza de outros insetos, de menor porte, como moscas e mosquitos, para depositar nos animais seus ovos, que evoluem originando a primeira fase larval, e transfere as larvas para sua pele, onde se desenvolvem durante várias semanas (5 a 7), provocando lesões no tecido subcutâneo; e) Carrapatos: infestam os animais não necessitando de intermediários para a sua evolução, causando marcas e cicatrizes na pele dos animais; Grupo 2 – Defeitos causados na esfola: quando da remoção da pele do animal abatido, a má esfola pode ocasionar peles com formato irregular ou com rasgos provocados por erros de corte; Grupo 3 – Defeitos produzidos na salga: são diversos defeitos que podem ocorrer, dentre os quais se destacam: a deterioração em razão de baixa concentração salina; manchas de sal em virtude da cristalização de sais insolúveis: manchas em decorrência de ação bacteriana e dos pigmentos produzidos por bactérias; manchas produzidas pelos ácidos 46 graxos decorrentes da ação de bactérias sobre as gorduras, cujas partes afetadas apresentam-se duras nas operações seguintes do processamento da pele; Grupo 4 – Defeitos originados do processamento da pele em couro: podendo ocorrer em todas as etapas do processo, são conhecidos como flor solta, descascamento e rompimento da flor, surgimento de rugas, embolaramento, deposição da graxa sobre a flor e o carnal, eflorescência de ácidos graxos e os oriundos de má regulagem das máquinas. Nessa ótica de classificação, o CTCCA (1994) afirma que existem, também, outros defeitos de origens naturais, característicos do animal tal como a natureza os criou, compreendendo as partes esponjosas, como as virilhas, rugas, marcas de costelas e da linha dorsal, redemoinhos, vasos sangüíneos, entre outros. O tópico a seguir aborda o processo de transformação da pele em couro, suas etapas e operações. 3.3.3 O PROCESSO DE CURTIMENTO E ACABAMENTO DO COURO Estudos realizados pelo CTCCA (1994) mostram que o processo de curtimento e acabamento do couro inicia-se, na grande maioria dos curtumes, com as peles bovinas em estado in natura, com exceção daqueles que já as compram em estágios adiantados de curtimento ou pré-curtimento. Segundo o CTCCA (1994, p.16 -17), no estado in natura, as peles podem ser: a) verdes (ou “frescas” ou em “sangue”), quando recém-tiradas do animal e sem nenhum tratamento de conservação preventiva, devendo ser processadas dentro de poucas horas, para que não ocorra a decomposição bioquímica natural; b) salmoradas, quando tratadas apenas em solução saturada de cloreto de sódio (sal comum) durante algumas horas, sem nenhum outro tipo de tratamento preventivo, permitindo uma conservação limitada entre 20 e 30 dias; 47 c) salgadas, quando, depois de salmoradas, são tratadas com sal médio ou grosso (salga seca), podendo-se também juntar bactericidas ao sal, e empilhadas durante 21 dias em “cura”, permitindo uma conservação de 180 a 360 dias; d) seco-salgadas, quando, depois de salmoradas, são secas à sombra, espichadas sobre quadros, permitindo uma conservação de 180 a 360 dias; e) secas, quando são simplesmente espichadas sobre quadros e secas à sombra, permitindo também conservação quase ilimitada, se tratadas com produtos que evitem punilhas. O processo de curtimento e acabamento completo da pele compreende cinco etapas, denominadas pelo CTCCA (1994) como: ribeira, curtimento, recurtimento, préacabamento e acabamento. No Anexo A, p. 159, essas etapas e respectivas operações encontram-se detalhadas, cabendo neste momento uma apresentação apenas sintética. A etapa denominada ribeira constitui o início do processamento da pele, cuja finalidade é prepará-la para o curtimento. É composta de seis operações denominadas: estocagem; remolho (tratamento dado às peles salgadas com o objetivo de hidratá-las, deixando-as como se fossem verdes, daí a outra denominação da operação como reverdecimento); depilação (remoção dos pêlos); caleiro (tratamento com cal para o intumescimento e desenvoltura das fibras da pele); descarne (retirada dos restos de carne e gordura); e divisão (corte no sentido horizontal separando a parte superior da pele, a mais nobre, denominada ”flor” e a parte inferior, denominada raspa, podendo também ser realizada após o curtimento.) O curtimento consiste na transformação das peles em material estável e imputressível por meio do fenômeno da reticulação. Realiza-se por meio de cinco operações denominadas: descalcinação (remoção das substâncias alcalinas); purga (tratamento enzimático para a limpeza da estrutura fibrosa); píquel (tratamento com soluções salino-ácidas para conservar e preparar as peles para o curtimento); curtimento (utilização de sais de cromo como curtente, originando-se o wet-blue); e rebaixe (operação que visa a dar ao couro espessura uniforme). 48 O recurtimento é um complemento do curtimento, no qual são dadas certas características ao couro não obtidas no curtimento básico. Compreende as seguintes operações em número de quatro: neutralização (neutralização dos ácidos livres existentes, basicamente, nos couros de curtimento mineral); recurtimento (eliminação de defeitos apresentados na flor); tingimento (operação que proporciona a cor ao couro, por de anilinas); e engraxe (adição de lubrificantes para conferir ao couro a maciez desejada, sendo considerada uma das operações mais importante do processo.) O pré-acabamento constitui a preparação do couro para o acabamento final, e é constituído de sete operações, a saber: secagem (retirada da água originária do engraxe); recondicionamento (reumedecimento do couro); amaciamento; estaqueamento (retirada do excesso de água, decorrente das operações anteriores, aumentando o rendimento do couro); lixamento (correções da flor, para eliminar certos defeitos e facilitar o acabamento); desempoamento (retirada do pó do couro produzido pelo lixamento); e impregnação (aplicação de resinas especiais para ligação da flor com a camada reticular). O acabamento é a operação que confere ao couro sua apresentação e aspectos definitivos, e pode melhorar o brilho, o toque e certas características físico-mecânicas, tais como impermeabilidade à água, resistência à fricção, solidez à luz e outras; e eliminar ou compensar certas deficiências naturais apresentadas na pele. 3.4 A CADEIA PRODUTIVA DO COURO BOVINO A cadeia produtiva do couro bovino, neste estudo, é entendida como as várias operações que concorrem para a obtenção da pele e seu processamento, e envolve as estruturas organizacionais intituladas unidades de negócios, sendo as básicas: os produtores rurais, os transportadores de gado bovino, os frigoríficos e os curtumes. Essa cadeia tem como origem a criação, pelos denominados produtores rurais, de animais destinados ao abate, o que ocorre, nos frigoríficos onde se processa a retirada da pele. A locomoção desses animais é realizada, basicamente, por transportadoras rodoviárias por meio de caminhões com carrocerias próprias para tal. As organizações denominadas de curtumes adquirem as peles, em quase sua totalidade, dos frigoríficos, e se 49 encarregam do seu processamento, cujo estágio de acabamento depende das condições físicas em que se apresentam a pele extraída e da finalidade de sua utilização. Uma vez acabado, o couro se destina à industrialização de uma gama muito grande de produtos de larga utilização nacional e internacional. Para o desenvolvimento de suas atividades, os curtumes dependem de uma rede de fornecedores de insumos, como diversos materiais, máquinas, equipamentos, e outros utensílios utilizados nas diversas etapas de processamento de couro, bem como de instituições prestadoras de serviços e de apoio tecnológico. Os seus produtos constituem a matéria-prima fundamental para a fabricação de inúmeros produtos para o que contam com um diversificado parque industrial. Assim, a cadeia produtiva do couro bovino pode ser visualizada, de forma sintética, como composta dos seguintes segmentos: produção do gado bovino de corte, que engloba os produtores pecuaristas; transporte de animais; abate dos animais por meio da rede de frigoríficos; processamento da pele pelos curtumes; e industrialização e comercialização dos produtos derivados do couro processado. Este trabalho limitou seus estudos às unidades de negócios básicas, denominadas de segmentos, uma vez que o processamento da pele, em MS, ocorre até o estágio wet-blue. A exclusão do segmento comercialização dos produtos derivados do couro acabado deve-se, basicamente, a sua amplitude e complexidade, que justificam uma pesquisa específica, por causa do envolvimento de outras estruturas organizacionais, tecnologias diversificadas, investimentos vultosos e mercados mais sofisticados. O capítulo seguinte aborda a análise dos indicadores potenciais quantitativos e qualitativos, relativos às unidades de negócios básicas envolvidas nesta pesquisa. 50 4 ANÁLISE DOS INDICADORES POTENCIAIS QUANTITATIVOS E QUALITATIVOS DAS UNIDADES DE NEGÓCIOS BÁSICAS (SEGMENTOS) Os indicadores potenciais quantitativos e qualitativos estão classificados por segmentos de atuação que formam a cadeia produtiva do couro, como a produção, transporte e abate do gado bovino, e o processamento da pele bovina, e respectivas unidades básicas de negócios: produtores rurais, transportadoras de gado bovino, frigoríficos e curtumes. Os indicadores potenciais quantitativos envolvem, dentro de cada segmento, os seguintes: a) produção de gado bovino: evolução do rebanho mundial, nacional e estadual, distribuição do rebanho em MS por município e por microrregião, sistemas de produção, idade dos animais abatidos, vias de acesso aos frigoríficos, pessoal direto empregado e fatores relacionados com a qualidade do couro; b) transporte do gado bovino: conhecimento da legislação, construção interna da carroceria, separação dos animais, freqüência das paradas e causas das lesões no transporte; c) abate do gado bovino: evolução do abate mundial, nacional e estadual, taxa de abate no Brasil, abate em MS, frigoríficos instalados no Estado e respectivas capacidades de abate, pessoal direto empregado, processo de retirada da pele e comercialização da pele; d) processamento da pele bovina: mercado brasileiro de couro bovino, número de estabelecimentos curtidores e relação com o efetivo do rebanho e abate por Estado no Brasil, curtumes instalados no Estado e respectivas capacidades de processamento, estágio de acabamento, pessoal direto empregado, peles bovinas processadas, causas dos defeitos das peles, comercialização do couro e subprodutos decorrentes do processamento. 51 Os indicadores potenciais qualitativos abrangem, dentro de cada segmento, os seguintes: a) produção de gado bovino: controle da qualidade da pele remuneração na atividade, políticas e incentivos governamentais e desenvolvimento da cadeia produtiva do couro; b) transporte do gado bovino: problemas que prejudicam a integridade dos animais, principais causas de ferimentos nos animais, e sugestões para eliminar os problemas no transporte de gado; c) abate do gado bovino: processo de retirada da pele, política de expansão, políticas e incentivos governamentais e desenvolvimento da cadeia produtiva do couro; d) processamento da pele bovina: política de expansão, políticas e incentivos governamentais e desenvolvimento da cadeia produtiva do couro. A análise e discussão dos indicadores potenciais, bem como da participação das unidades de negócios básicas que compõem cada segmento, estão apresentadas nos tópicos que se seguem. 4.1 O SEGMENTO PRODUÇÃO DE GADO BOVINO O gado bovino apresenta, em todo o mundo, valor econômico que, em função das várias utilidades proporcionadas ao homem, está sempre crescendo. Dentre as principais utilidades podem ser destacadas: a) alimentação da população humana em proteínas animais derivadas da carne e do leite; b) industrialização diversificada, com relevante expressão econô-mica, além da carne e do leite, de enlatados e embutidos, de artefatos de couro, de produtos farmacêuticos e químicos, de rações, e de outros decorrentes de diversos produtos secundários e subprodutos da industrialização; c) adubação orgânica de terras cultiváveis; e d) força de trabalho, basicamente para determinadas agriculturas. 52 4.1.1 EVOLUÇÃO DO REBANHO BOVINO MUNDIAL, NACIONAL E ESTADUAL Durante a década de 90, com base nos dados do ANUALPEC (2000, 2001), observa-se uma certa estagnação no efetivo do rebanho mundial de gado bovino, com os países apresentando oscilações relativamente pequenas na quantidade de cabeças existentes anualmente, e uma manutenção na ordem de classificação mundial, exceto em alguns países como Rússia e Ucrânia, que tiveram reduções em torno de 50%. A Tabela 1 apresenta a evolução do rebanho mundial de 1991 a 2000, destacando-se os cinco países maiores produtores de gado bovino, responsáveis nos últimos anos por, aproximadamente, 70% do rebanho mundial, dentre os quais o Brasil situa-se em segundo lugar. TABELA 1 - Rebanhos mundiais de gado bovino* - 1991 a 2000 (milhões de cabeças). Países 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000** Índia 288 290 292 294 296 300 303 307 312 314 Brasil 156 154 152 153 155 154 155 156 158 160 China 105 108 113 123 104 110 122 124 127 130 Estados Unidos 98 99 101 103 104 102 100 99 98 97 Argentina 55 56 55 54 54 52 49 49 50 50 702 707 713 727 713 718 729 735 745 751 409 400 386 366 353 343 331 325 321 317 1.111 1.107 1.099 1.093 1.066 1.061 1.060 1.060 1.066 1.068 Subtotal Outros MUNDIAL Fonte: ANUALPEC 2000 e 2001, 2001 e 2002. (*)Efetivo do rebanho existente em 31 de dezembro de cada ano, incluindo gado bubalino. (**)Preliminar Em Mato Grosso do Sul, a pecuária faz parte da história de ocupação e desenvolvimento do Estado, participando inicialmente como suporte aos ciclos do ouro e o da erva-mate. Em função das condições geográficas propícias e da necessidade de abastecimento de mercados consumidores, como as regiões Sul e Sudeste, a exploração bovina foi se estabelecendo e constitui, atualmente, em expressiva atividade econômica do Estado. 53 O Diagnóstico Sócio-Econômico de Mato Grosso do Sul, elaborado pela Secretaria de Finanças, Orçamentos e Planejamento (MATO GROSSO DO SUL, 1996, p.26), cita que: A pecuária constitui-se na principal atividade econômica desenvolvida em Mato Grosso do Sul, fazendo-se presente em todas as regiões do Estado, ocupando uma área de aproximadamente 13 milhões de hectares mecanizadas com plantação de pastagens brachiárias e outros capins. O rebanho bovino do Estado está estimado em 22,2 milhões de cabeças para 1994, detentor do 1º rebanho bovino do País, seguido de Minas Gerais com 20,7 milhões e Goiás com 18,4 milhões de cabeças. A pecuária estadual é voltada especialmente para a criação de gado de corte, em um regime de produção basicamente extensiva. Portanto, o Estado possui em sua pecuária, conforme preconizam os conceitos de desenvolvimento local, recursos endógenos capazes de estimular o crescimento econômico, gerar empregos e melhorar a qualidade de vida da comunidade local. Com base nos dados anuais da Produção da Pecuária Municipal/Brasil (1996 a 2001), publicados pelo IBGE pode se constatar que MS possui, desde 1995, o maior rebanho de gado bovino do Brasil, sempre seguido de Minas Gerais. A Tabela 2 apresenta a classificação dos Estados brasileiros em relação ao efetivo de bovinos existentes de 1995 a 2000. Assim como no caso do rebanho mundial, verifica-se uma estagnação nos efetivos estaduais e uma manutenção na ordem de classificação, exceto em alguns Estados, cujos efetivos nesses anos estiveram bem próximos uns dos outros, fazendo com que pequenas alterações influenciassem na ordem de colocação, como Bahia e Paraná, Roraima e Maranhão. No caso de MS, tal situação de estagnação, segundo Michels (2001, p.31), pode ser explicada por diversos fatores, “... com destaque para os preços das terras, as práticas de produção antiquadas, a degradação das pastagens e a falta de uma política pública global para a cadeia produtiva sul-mato-grossense.” Isso pode ser reforçado com o entendimento de Franco (1999) do que vem a ser desenvolvimento local, pressupondo a combinação de esforços integrados. 54 TABELA 2 - Ranking do efetivo de bovinos, no Brasil – 1995 a 2000. Nº 1995 UF 1996 Cabeças UF Cabeças 1997 UF 1998 Cabeças 1999 UF Cabeças UF Cabeças 2000 UF Cabeças 1º MS 22.292.330 MS 20.755.727 MS 20.982.933 MS 21.421.567 MS 21.576.384 MS 22.205.408 2º MG 20.146.402 MG 20.148.086 MG 20.377.742 MG 20.501.132 MG 20.082.067 MG 19.975.271 3º GO 18.492.318 GO 16.954.667 GO 17.182.332 GO 18.118.412 GO 18.297.357 MT 18.924.532 4º RS 14.259.226 MT 15.573.094 MT 16.337.986 MT 16.751.508 MT 17.242.935 GO 18.399.222 5º MT 14.153.541 RS 13.443.106 RS 13.699.814 RS 13.743.130 RS 13.663.893 RS 13.601.000 6º SP 13.148.133 SP 12.797.505 SP 12.826.949 SP 12.753.030 SP 13.068.672 SP 13.091.946 7º BA 9.841.237 PR 9.879.889 BA 9.949.599 BA 9.766.594 PR 9.472.808 PA 10.271.409 8º PR 9.389.200 BA 9.838.136 PR 9.896.554 PR 9.168.482 BA 9.170.680 PR 9.645.866 9º PA 8.058.029 PA 6.751.480 PA 7.539.154 PA 8.337.181 PA 8.862.649 BA 9.556.752 10º TO 5.544.400 TO 5.242.655 TO 5.350.885 TO 5.441.860 TO 5.813.170 TO 6.142.096 11º MA 4.162.059 RO 3.937.291 RO 4.330.932 RO 5.104.233 RO 5.441.734 RO 5.664.320 12º RO 3.928.027 MA 3.935.754 MA 3.905.311 MA 3.936.949 MA 3.966.430 MA 4.093.563 13º SC 2.992.986 SC 3.097.657 SC 3.087.053 SC 3.090.120 SC 3.052.952 SC 3.051.104 14º CE 2.266.278 CE 2.400.457 CE 2.410.956 CE 2.114.079 CE 2.167.525 CE 2.205.954 15º PI 2.135.286 PE 1.935.629 ES 1.935.672 ES 1.938.100 ES 1.881.831 RJ 1.959.497 16º ES 1.968.311 RJ 1.842.977 RJ 1.837.099 RJ 1.881.342 RJ 1.866.061 ES 1.825.283 17º RJ 1.905.353 ES 1.816.047 PI 1.736.997 PI 1.750.936 PI 1.756.268 PI 1.779.456 18º PE 1.362.064 PI 1.729.595 PE 1.681.823 PE 1.470.370 PE 1.420.449 PE 1.515.712 19º PB 1.053.737 PB 1.304.730 PB 1.303.010 PB 928.508 SE 936.972 AC 1.033.311 20º AL 834.347 SE 945.680 AL 956.013 SE 918.270 AC 929.999 PB 952.779 21º AM 805.804 RN 934.740 SE 946.151 AC 906.881 PB 886.349 SE 879.730 22º SE 796.870 AC 835.264 RN 941.048 AL 899.744 AM 826.025 AM 843.254 23º RN 722.058 AL 839.482 AC 862.534 AM 809.302 AL 815.472 RN 803.948 24º AC 471.434 AM 733.910 AM 770.805 RN 793.361 RN 754.965 AL 778.750 25º RR 282.049 RR 400.334 RR 377.546 RR 424.700 RR 480.500 RR 480.400 26º DF 123.110 DF 115.000 DF 123.306 DF 110.058 DF 110.157 DF 112.139 27º AP TOTAL 93.349 AP 161.227.938 63.648 AP 158.228.540 65.953 AP 161.416.157 74.508 AP 163.154.357 76.734 AP 164.621.038 82.822 169.875.524 Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal/Brasil -1995 a 2000, 1996 a 2001. Em MS, conforme assinala Michels (2001, p.32), há possibilidades de crescimento da atividade pecuarista por meio do aumento do efetivo do rebanho bovino, porém, utilizando-se de novas técnicas de produção e de gerenciamento das propriedades rurais. A evolução do rebanho bovino sul-mato-grossense, por município e por microrregião, nos últimos anos, é abordada no item seguinte, juntamente com a visualização de sua distribuição territorial por meio de mapas geográficos. 55 4.1.2 DISTRIBUIÇÃO DO REBANHO BOVINO EM MATO GROSSO DO SUL O número de produtores rurais cadastrados no IAGRO-MS é de 48.880, dos quais, somente 329 são empresas rurais registradas na Junta Comercial do Estado, fazendo-se presente em todos os municípios, conforme Michels (2001). Estudos históricos possibilitam acompanhar a evolução da produção bovina, no Estado. A Tabela 3 apresenta a distribuição do gado bovino por município de 1995 a 2000, por meio da qual também se constata uma certa estabilidade nos efetivos dos rebanhos municipais, principalmente a partir de 1996. TABELA 3 - Distribuição do gado bovino por município, em MS - 1995 a 2000 (cabeças) Município 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Água Clara 682.419 670.000 634.837 647.345 670.175 731.310 Alcinópolis 202.727 237.400 244.118 255.153 245.514 266.790 Amambaí 415.998 359.696 359.192 368.172 375.933 381.095 Anastácio 279.620 210.500 213.657 237.660 237.900 241.587 Anaurilândia 305.378 277.875 280.081 286.545 282.450 287.936 Angélica 128.368 116.236 129.295 121.709 123.880 139.681 79.503 75.218 75.528 86.703 86.918 92.405 Aparecida do Taboado 246.638 219.720 211.931 231.700 239.410 238.315 Aquidauana 725.138 570.306 588.727 615.750 615.500 615.161 Aral Moreira 111.587 98.262 98.826 97.837 98.185 92.512 Bandeirantes 233.841 195.170 204.441 238.046 245.617 253.613 Bataguassu 224.260 189.375 191.836 176.490 178.675 183.396 Batayporã 153.369 137.337 155.850 148.740 158.230 173.766 Bela Vista 365.933 320.745 332.511 338.981 334.744 356.989 Bela Vista 365.933 320.745 332.511 338.981 334.744 356.989 Bodoquena 136.627 129.667 129.800 129.850 131.960 130.377 Bonito 345.760 318.678 311.156 311.200 311.300 331.534 Brasilândia 480.178 485.460 471.813 501.963 516.425 515.402 Caarapó 226.300 183.737 188.275 187.260 185.026 180.115 Camapuã 632.233 641.929 660.095 679.785 709.774 743.608 Campo Grande 561.375 550.305 548.465 559.325 562.227 575.947 Antônio João /continua 56 /continuação Município 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Caracol 171.341 176.727 176.920 171.200 178.994 214.006 Cassilândia 331.016 269.884 264.827 289.614 296.315 293.109 Chapadão do Sul 208.097 220.000 221.358 212.340 205.103 205.356 Corguinho 193.972 184.457 184.420 220.749 215.164 193.134 88.788 81.600 82.154 79.266 78.283 79.010 1.327.929 1.595.000 1.598.477 1.557.650 1.519.565 1.501.764 Costa Rica 347.978 308.857 310.598 326.190 332.714 374.890 Coxim 468.377 383.637 394.494 416.998 421.183 454.754 97.546 84.922 87.046 84.305 84.148 99.375 164.266 189.000 183.135 217.200 211.500 223.123 Douradina 16.030 19.500 19.952 16.462 16.636 15.565 Dourados 291.546 280.128 280.915 263.302 266.329 271.905 Eldorado 95.860 101.800 101.900 95.010 99.105 102.980 Fátima do Sul 18.932 17.181 17.438 15.829 16.043 15.630 Glória de Dourados 58.970 60.739 62.561 63.174 63.292 62.664 Guia Lopes da Laguna 151.820 101.353 104.403 115.950 116.000 126.208 Iguatemi 255.685 265.000 274.350 270.130 278.480 279.220 Inocência 483.116 489.964 492.032 475.176 485.653 489.115 Itaporã 79.776 83.000 85.483 75.705 74.014 74.566 Itaquiraí 228.763 211.835 209.800 197.062 197.990 209.304 Ivinhema 235.436 204.767 220.210 216.810 219.810 217.745 48.174 43.858 45.870 56.703 50.815 56.789 Jaraguari 183.345 195.000 193.162 199.890 201.889 198.068 Jardim 212.415 162.663 162.900 168.000 165.200 176.631 Jatei 201.251 177.951 177.951 203.284 204.192 197.857 Juti 153.970 138.244 138.244 135.832 136.170 146.861 5.300 16.371 16.371 16.549 16.900 17.069 Laguna Caarapã 132.908 130.518 130.518 105.317 102.323 93.917 Maracaju 380.185 319.860 319.860 346.289 352.231 352.664 Miranda 354.360 276.916 276.916 284.750 285.150 276.168 51.351 41.050 41.050 36.731 38.538 38.250 Naviraí 312.780 298.625 311.250 306.680 305.830 303.112 Nioaque 284.867 315.000 310.000 328.200 328.500 316.674 Coronel Sapucaia Corumbá Deodápolis Dois Irmãos do Buriti Japorã Ladário Mundo Novo /continua 57 /continuação Município 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Nova Alvorada do Sul 256.114 274.390 275.620 320.880 330.827 338.845 Nova Andradina 462.146 451.300 493.650 478.750 471.030 467.416 63.375 84.000 98.300 102.180 100.830 96.019 Paranaíba 638.302 530.000 517.743 552.142 563.809 545.110 Paranhos 92.835 90.235 91.100 87.960 92.414 101.200 Pedro Gomes 252.717 250.600 251.692 247.862 251.282 266.820 Ponta Porá 326.200 335.000 335.058 325.006 327.118 318.910 Porto Murtinho 566.600 534.598 553.289 542.400 552.800 597.687 1.373.291 924.595 1.002.191 1.029.795 1.048.813 1.166.564 Rio Brilhante 253.436 241.401 246.765 265.148 272.148 279.110 Rio Negro 108.569 106.500 109.163 109.037 112.580 109.509 Rio Verde de Mato Grosso 562.586 485.000 488.725 481.800 463.215 478.795 Rochedo 174.419 110.330 110.683 132.445 134.819 126.514 Santa Rita do Pardo 497.274 502.744 429.187 507.267 509.908 527.006 São Gabriel do Oeste 224.118 190.351 188.738 194.957 198.996 211.945 Selvíria 253.041 256.837 241.168 240.606 244.525 265.010 Sete Quedas 91.123 88.224 90.569 93.467 96.234 102.215 Sidrolândia 367.315 356.020 354.200 364.018 377.385 382.991 Sonora 137.351 170.000 171.811 163.105 160.231 148.979 Tacuru 178.786 164.180 172.862 177.160 177.976 188.100 66.547 79.000 79.080 73.240 70.178 78.866 Terenos 255.045 230.816 233.500 252.861 256.473 253.902 Três Lagoas 884.673 858.451 821.900 854.759 856.596 911.087 31.065 35.500 36.210 36.261 36.295 33.786 22.292.330 20.755.727 20.982.933 21.421.567 21.576.384 22.205.408 Novo Horizonte do Sul Ribas do Rio Pardo Taquarussu Vicentina TOTAL Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal/MS - 1995 a 2000, 1996 a 2001. Com base nas quantidades de cabeças existentes em 2000, a Figura 7 apresenta os seis municípios, primeiros classificados no ranking estadual, que juntos possuíam 25,5% do rebanho total, destacando-se Corumbá em primeiro lugar e Ribas do Rio Pardo em segundo lugar, únicos municípios com mais de um milhão de cabeças. 58 Camapuã 743.608 (3,3%) Corumbá 1.501.764 (6,8%) Água Clara 731.310 (3,3%) Aquidauana 615.161 (2,8%) Três Lagoas 911.087 (4,1%) Ribas do Rio Pardo 1.166.564 (5,2%) Figura 7 - Municípios detentores de 25,5% do rebanho, em MS – 2000. Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal/MS – 2000,2001. A distribuição do gado bovino por município, em MS, pode ser visualizada no mapa geográfico apresentado na Figura 8, considerando as quantidades de cabeças existentes no ano 2000. Figura 8 - Distribuição do rebanho bovino por município, em MS – 2000. Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal/MS – 2000, 2001. 59 Em relação às microrregiões geográficas que compõem o Estado em número de 11, o rebanho bovino tem sua distribuição de 1995 a 2000 apresentada na Tabela 4, a qual mostra Três Lagoas como a microrregião com o maior número de cabeças, seguida de Dourados e Alto Taquari. Tabela 4 - Distribuição do gado bovino por microrregião geográfica, em MS – 1995 a 2000. Microrregião Geográfica Quantidade de cabeças 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Alto Taquari 2.480.109 2.358.917 2.399.673 2.439.660 2.450.195 2.571.691 Aquidauana 1.523.384 1.246.324 1.262.435 1.355.360 1.350.050 1.356.039 Baixo Pantanal 1.899.829 2.145.688 2.168.137 2.116.599 2.089.265 2.116.520 Bodoquena 1.668.763 1.524.833 1.527.690 1.563.381 1.566.698 1.652.419 Campo Grande 2.077.881 1.928.598 1.938.034 2.076.371 2.106.154 2.093.678 887.091 798.741 796.783 828.144 834.132 873.355 Dourados 2.773.550 2.567.481 2.607.884 2.645.903 2.676.196 2.687.886 Iguatemi 2.231.091 2.112.487 2.196.268 2.191.631 2.209.817 2.273.521 Nova Andradina 1.211.700 1.134.887 1.200.497 1.163.765 1.160.563 1.191.380 Paranaíba 1.621.097 1.496.521 1.462.604 1.499.624 1.533.397 1.537.550 Três Lagoas 3.917.835 3.441.250 3.422.928 3.541.129 3.599.917 3.851.369 22.292.330 20.755.727 20.982.933 21.421.567 21.576.384 22.205.408 Cassilândia TOTAL Fonte: IBGE, 2001. Tomando-se como base o ano 2000, as três microrregiões assinaladas possuíam juntas, aproximadamente, 9 milhões de cabeças, equivalentes a 41% do rebanho bovino estadual. A distribuição do rebanho bovino, por microrregião, com ano 2000, pode ser visualizada no mapa geográfico apresentado na Figura 9. O conhecimento do efetivo do gado bovino por município e por microrregião permite direcionar estratégias de desenvolvimento local, em que ações do Estado, da sociedade e de diversas instituições pertinentes possibilitem a convergência e integração de programas coletivos, como salienta Franco (1999) em seus argumentos básicos para a sustentabilidade. 60 Figura 9 - Distribuição do rebanho bovino por microrregião, em MS – 2000. Fonte: IBGE. Produção da Pecuária Municipal/MS – 2000, 2001. A produção de gado bovino ocorre por meio de um processo constituído de três etapas, podendo ser extensiva, intensiva ou semi-intensiva, assuntos abordados no tópico seguinte. 4.1.3 SISTEMAS DE PRODUÇÃO DO GADO BOVINO A exploração da bovinocultura de corte é uma atividade que demanda tempo relativamente longo, em que se distinguem três fases em sua cadeia produtiva: cria, recria e engorda, podendo os produtores estarem envolvidos em uma, duas ou três, integradamente. A fase de cria compreende a reprodução e o crescimento de bezerro até a desmama, que ocorre entre seis e doze meses de idade. A fase de recria vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou ao início da fase de engorda dos machos, sendo a de mais longa duração, entre doze e trinta e seis meses. A engorda se estende até o momento em que o 61 animal atinge a idade e peso ideais para o abate, o que acontece normalmente acima dos três anos de idade. Estudos efetuados pela Delegacia Federal de Agricultura de Mato Grosso do Sul, pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável/MS e pelo IAGRO (MATO GROSSO DO SUL, 1997, p.13) mostram que: A bovinocultura de corte no Estado encontra-se realizada tanto em explorações do tipo extensiva, em propriedades grandes com rebanhos também grandes e densidade populacional baixa, quanto em explorações empresariais mais desenvolvidas do tipo semi-intensiva, localizadas mais próximas aos centros de industrialização e consumo. Na maioria dos municípios do Estado observa-se a presença de todas as fases para a produção do bovino para o abate, caracterizando-os como de ciclo completo. Esta caracterização surge, principalmente, em função da interiorização das indústrias frigoríficas e da melhoria e ampliação da rede rodoviária, permitindo o desenvolvimento das fases de recria e engorda por uma maior parte dos criadores. De acordo com os questionários respondidos por 55 produtores rurais constatase uma diversificação tanto no tamanho das propriedades utilizadas na pecuária quanto no efetivo do seu rebanho de gado bovino. A Tabela 5 apresenta a distribuição desses produtores classificados segundo a área do imóvel e da quantidade de cabeças bovinas. TABELA 5 - Distribuição dos produtores rurais pesquisados por área do imóvel e quantidade de cabeças de gado bovino, em MS – 2000. Área do imóvel Rebanho Quantidade % Quantidade % (hectare) (cabeças) Até 500 9 16,4 Até 500 11 20,0 De 501 a 1.000 7 12,7 De 501 a 1.000 10 18,2 De 1.001 a 2.000 20 36,4 De 1.001 a 2.000 18 32,7 De 2.001 a 5.000 10 18,2 De 2.001 a 5.000 11 20,0 De 5.001 a 10.000 6 10,9 De 5.001 a 10.000 3 5,5 Acima de 10.000 3 5,4 Acima de 10.000 2 3,6 TOTAL 55 100,0 TOTAL 55 100,0 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Quanto ao processo de produção verifica-se na Figura 10 uma predominância do ciclo completo integrando as três fases: cria, recria e engorda, assinalada por 60% dos produtores. Em segundo lugar destaca-se a atividade combinando cria e recria, utilizada por 14,5% dos produtores e, logo a seguir, apenas a cria, desenvolvida por 12,7% dos produtores. 62 Cria, recria e engorda 60% Recria 1,8% Recria e engorda (5,5%) Cria e Recria 14,5% Engorda (5,5%) Cria 12,7% Figura 10 - Freqüência das fases de produção do gado bovino utilizadas pelos produtores rurais, em MS – 2000. Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. O estudo elaborado pelo CONSÓRCIO FUNARBE (1999, p.25), já citado anteriormente, reconhece, no Brasil, dois sistemas de produção: um sistema tradicional e um sistema melhorado, sobre os quais assinalam: No sistema tradicional predomina a pecuária extensiva, dependente basicamente do suprimento de nutrientes pelos pastos, restringindo-se a suplementação alimentar ao fornecimento de sal comum aos animais. No sistema melhorado é crescente a preocupação com a manutenção e melhoria da qualidade das pastagens, verificando-se maior emprego de fertilizantes, utilização de rotação de pastagens/culturas e implantação de culturas forrageiras anuais de inverno e verão. O uso de suplementos proteinados e a adoção das práticas de semiconfinamento e de engorda em confinamento tem possibilitado a redução da idade de abate, facilitado pela utilização de animais com maior potencial de ganho de peso, obtido por meio de reprodutores zebuínos melhorados (especialmente nelores) e pela introdução de reprodutores de raças européias, em programas de cruzamento. Desses produtores, além do uso do sal mineral, metade, aproximadamente, utiliza suplemento alimentar proteinados, dos quais 11% adotam as práticas de semiconfinamento e 4% as de confinamento. Outros, na ordem de 10%, também recorrem à suplementação alimentar, porém, apenas durante o período de seca. O restante, 63 correspondente a 40% desses produtores, se restringe ao fornecimento apenas de sal mineral aos animais, cuja alimentação depende, basicamente, das pastagens. O modo como a produção se processa influencia tanto na qualidade da carne como também na do couro. A pecuária extensiva produz os animais prontos para o abate em tempo maior que a produção semiconfinada. Segundo os depoimentos dos produtores, em relação ao sistema de produção do gado bovino, tem-se que: Quanto maior o tempo que o animal passa no pasto, maiores são as probabilidades de contrair doenças, de abrigar parasitas, como o carrapato, de ferir-se com o arame farpado além de passar por diversos produtores, cada um realizando marcação com fogo para a identificação dos animais. Assim, pode-se afirmar que a qualidade do couro diminui à medida que a produção demanda mais tempo no pasto. A Tabela 6 sintetiza os abates por sexo e por idade de acordo com os questionários respondidos pelos produtores. TABELA 6 - Idade dos animais abatidos pelos produtores rurais, por sexo, em MS – 2000 IDADE Machos Fêmeas Nº produtores % Nº produtores % 2 a 3 anos 28 65 14 34 3 a 4 anos 13 30 6 15 + de 4 anos 2 5 17 41 + de 10 anos - - 4 10 43 100 41 100 TOTAL Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Os abates dos animais, segundo os produtores que responderam o questionário, mostram que para os machos ocorrem, na grande maioria (95%), com idade entre 2 e 4 anos, sendo 65% entre 2 e 3 anos, e 30% entre 3 e 4 anos. O restante (5%) é abatido com idade superior a 4 anos. No caso das fêmeas, os abates com idade entre 2 e 4 anos se realizam em 49% por esses produtores, sendo 34% entre 2 e 3 anos e 15% entre 3 e 4 anos. A ocorrência de abates de fêmeas com idade superior a 4 anos é bem maior do que de 64 machos, cerca de 51%, sendo 41% entre 4 e 10 anos e 10% acima de 10 anos. Isto ocorre em função da utilização das vacas como matrizes, as quais são abatidas quando de seu descarte, após vários anos de reprodução, tornando-as mais vulneráveis quanto à incidência de defeitos na pele. Um outro dado, relacionado com os sistemas de produção, refere-se ao índice do número de cabeças por área destinada à pecuária. Considerando os 36 produtores rurais que informaram tanto a área como o efetivo do rebanho, a média encontrada foi de 1,14 cabeça por hectare, sendo que 22% possuem menos de 1 cabeça, 61% entre 1 e 1,5 cabeça, e 17% acima de 1,5 cabeça. Relacionando esse índice com a utilização de suplementos alimentares proteinados, verifica-se, por meio da Tabela 7, uma proporcionalidade direta entre eles. TABELA 7 - Relação entre o número de cabeças por hectare e a utilização de suplementação alimentar, em MS – 2000 Cabeças por hectare - de 1 1 a 1,5 + de 1,5 TOTAL Nº produtores % 8 22 6 36 22 61 17 100 Utilizam suplementação alimentar Nº produtores % 5 62 16 73 6 100 27 75 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Dentre os produtores que possuem menos de uma cabeça no rebanho, a suplementação alimentar é utilizada por 62%, percentual que se eleva para 73% dentre os que possuem entre 1 e 1,5 cabeça, e para 100% acima de 1,5 cabeça, em razão da não dependência exclusiva do suprimento de nutrientes pelo pasto. Deve-se ressaltar que esse índice, embora válido para a análise efetuada, pode não ser o real, uma vez que, não necessariamente, o rebanho existente nas propriedades é o que as condições efetivamente permitem. No momento da informação, a quantidade de cabeças bovinas, por exemplo, poderia ser inferior ao comportado pela área destinada à pecuária, o que provocaria um índice menor que o verdadeiro. Maior precisão seria obtida por meio de uma pesquisa mais específica e abrangente. Considerando que a locomoção dos animais pode comprometer a integridade física dos animais, o tópico a seguir aborda a distância e o tempo de acesso aos frigoríficos. 65 4.1.4 VIAS DE ACESSO AOS FRIGORÍFICOS O transporte dos animais constitui uma das preocupações relacionadas com a qualidade do couro, conforme é tratado no item 4.2 deste trabalho. Quanto maior a distância a ser percorrida, maior a probabilidade de ocorrência de danos à pele dos animais, probabilidade essa que também é afetada em função das condições das estradas. A pesquisa abordou apenas os deslocamentos dos animais aos frigoríficos, realizados no Estado, por rede rodoviária, classificando as estradas em pavimentadas e não pavimentadas. A análise dos trechos não pavimentados se aplica também aos deslocamentos que ocorrem em função da comercialização do gado entre produtores, uma vez que o acesso às propriedades, basicamente, é único. Nos trechos pavimentados, a distância e o tempo vão depender da localização dos envolvidos na compra e venda do gado não contemplados na pesquisa. Com relação às vias de acesso não pavimentadas, conforme a Tabela 8, a distância média percorrida é de 37 km, correspondente a um tempo médio de 1,2 h, calculados com base em 42 produtores que efetuam o abate dos animais. TABELA 8 - Distância e tempo médios de acesso do gado bovino aos frigoríficos por vias não pavimentadas, em MS – 2000 Distância Tempo Velocidade Distâncias Nº trajetos % média Médio horária 0 a 30 km 27 64,2 19 km 0,7h 29,2 31 a 70 km 11 26,2 53 km 1,8h 29,4 71 a 100 km 2 4,8 85 km 2,5h 34 100 a 200 km 2 4,8 145 km 4h 36,2 TOTAL 42 100 37 km 1,2h 30,8 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Desses produtores, 90% percorrem distâncias de até 70 km, dos quais 64% percorrem até 30 km (média de 19 km por produtor), no tempo médio de, aproximadamente, 40 minutos, e 26% entre 31 e 70 km (média de 43 km por produtor), no tempo médio em torno de 1 hora e 50 minutos. 66 Com relação às vias de acesso pavimentadas, a distância média percorrida é de 168 km, correspondente a um tempo médio de 2,6 h, calculados com base em 60 trajetos informados. Conforme a Tabela 9, 65% desses trajetos possuem até 200 km, sendo 41,7% até 100 km (média de 48 km por trajeto), e 23,3% de 101 km a 200 km (média de 156 km por trajeto), com o tempo médio de percurso de 45 minutos e de 2 horas e 20 minutos, respectivamente. TABELA 9 - Distância e tempo médios de acesso do gado bovino aos frigoríficos por vias pavimentadas, em MS – 2000 Trajetos Distância Tempo Velocidade Distâncias média (km) médio (h) horária (km/h) Quantidade % 0 a 100 km 25 41,7 47,6 0,75 63,5 101 a 200 km 14 23,3 155,7 2,34 66,5 201 a 300 km 12 20,0 261,7 4 65,4 301 a 400 km 7 11,7 370 5,64 65,6 401 a 500 km 2 3,3 500 8 62,5 TOTAL 60 100,0 168,3 2,60 64,7 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Deve-se observar que para as distâncias superiores a 200 km, cujo tempo de viagem é superior a 3 horas, e nesse caso devem ocorrer as paradas obrigatórias conforme determina a norma NBR 10452, de março de 1996b, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) a respeito (ver item 4.2), as velocidades médias, basicamente, permanecem as mesmas, apesar das diferenças das distâncias dos trajetos analisados, onde maiores distâncias implicam em paradas obrigatórias, o que faz diminuir a média da velocidade horária. O contingente de pessoas empregadas diretamente na pecuária e o rendimento médio obtido por elas são assuntos analisados no tópico a seguir. 67 4.1.5 PESSOAL DIRETO EMPREGADO A agropecuária sul-mato-grossense, conforme Censo Agropecuário/MS (19951996), ocupa um total de 202.709 pessoas, das quais 131.051(65%) são utilizadas na pecuária. O número total de estabelecimentos rurais, conforme o referido Censo, atinge 49.423, utilizando uma área de 30.942.772 hectares, dentre os quais 32.565 estabelecimentos (66%) se dedicam à pecuária, englobando uma área de 27.731.990 hectares (90%). Associando-se a área ocupada com o número de estabelecimentos verificase que enquanto a agricultura e outras atividades utilizam em média 190 hectares por estabelecimento, a pecuária, por suas peculiaridades, utiliza em média 852 hectares. Com relação ao pessoal direto empregado na pecuária e com base na classificação dos estabelecimentos rurais em grupos de área total adotada pelo censo citado, os produtores rurais pesquisados foram enquadrados em três grupos, apresentados na Tabela 10, com os respectivos pessoal ocupado e pessoal por estabelecimento médio ponderado, calculado com base na proporção obtida no mesmo Censo. TABELA 10 - Pessoal empregado por estabelecimento dos produtores rurais pesquisados, classificados por grupo de área total, em MS – 2000 Pessoal Estabelecimentos Pessoal Por Estabelecimento A B C=A÷B Proporção ao total de estabelecimentos no Estado * D 100 a menos 1.000 54 14 3,86 31,2% 1,20 1000 a menos 10.000 118 16 7,25 13,1% 0,95 10.000 a mais 113 3 37,67 0,8% 0,30 285 33 Grupos de área total TOTAL Pessoal por estabelecimento médio ponderado E=CxD 2,45 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. (*) Apurada pelo IBGE no Censo Agropecuário/MS, 1995-1996, 1998. O resultado do pessoal por estabelecimento médio ponderado de 2,45 somado aos dos outros grupos não contemplados na pesquisa, isto é, grupos de área total de 0 a menos 10 hectares (0,5), de 10 a menos 100 hectares (1,13) e sem declaração (0,01), calculados com os dados do próprio Censo Agropecuário, obtêm-se 4,09 empregados por estabelecimento, resultado bem próximo ao do Censo (4,02). Considerando os 32.565 68 estabelecimentos produtores de gado bovino, chega-se a um total de pessoal direto empregado de 133.190, apenas 1,6% a mais do que o calculado pelo Censo (131.051), confirmando a precisão da amostragem. Merece destaque o fato de o número de empregados por estabelecimento aumentar à medida que a área diminui, conforme pode ser verificado na Tabela 11. Isto significa que o desmembramento de propriedades maiores em menores acarretaria uma oferta de empregos considerável. TABELA 11 - Pessoal direto empregado por estabelecimento nos grupos de área total, em MS – 1995 – 1996. Número de estabelecimentos Novos empregos – – 100 a menos de 200 3,3 Empregados * em dois estabelecimentos desmembrados – 200 a menos de 500 3,7 6,6 2,9 6.628 19.221 500 a menos de 1000 4,5 7,5 3 4.581 13.743 1.000 a menos de 2.000 5,8 9 3,2 3.375 10.800 2.000 a menos de 5.000 8,6 11,6 3 2.428 7.284 5.000 a menos de 10.000 12,3 17,2 4,9 690 3.381 Grupos de área total Empregados por estabelecimento Aumento de empregos – Fonte: IBGE - Censo Agropecuário /MS (1995-1996). (*) Nº de empregados do grupo anterior multiplicado por 2. Para exemplificar, o desmembramento de uma propriedade entre 2.000 e 5.000 hectares, em média com 8,6 empregados, em duas de entre 1.000 e 2.000 hectares, que possuem em média 5,8 empregados, provocaria um aumento de três empregados (5,8x 2 – 8,6), que multiplicados por 2.428 propriedades resultaria em 7.284 novos empregos. No caso de uma propriedade entre 5.000 e 10.000 hectares, com 12,3 empregados em média desmembrada em cinco entre 1.000 e 2.000 hectares, resultaria em mais 16,7 empregados, que multiplicados por 690 propriedades resultaria em 11.523 novos empregos. Deve-se esclarecer que os dados apresentados na Tabela 11 têm como finalidade fornecer uma dimensão quantitativa do número de empregos diretos em potencial envolvidos na pecuária de gado bovino, e que os desmembramentos citados dependem da análise de inúmeras variáveis que envolvem desde os objetivos pessoais dos proprietários até as condições para a viabilidade econômica, financeira e operacional. 69 Pela indisponibilidade de dados nos questionários, sobre a remuneração do pessoal, utilizaram-se os apurados pelo IBGE na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios/MS (1999). O rendimento médio em 1999 do pessoal rural economicamente ativo no Estado era de R$ 231,00, atingindo R$ 366,00 quando computados apenas os com rendimentos, valores esses situados aquém dos praticados na região urbana ou, especificamente, na indústria e em serviços, conforme dados constantes da Tabela 12. TABELA 12 - Rendimento médio do pessoal rural em MS, comparado com outros setores – 1999. Pessoal economicamente ativo Rural (1) Urbano (1) Industrial (2) Serviços (2) Total R$ 231 R$ 444 R$ 765 R$ 700 Com rendimentos R$ 366 R$ 533 R$ 765 R$ 700 Fonte: (1) IBGE – PNAD/MS (1999) (2) Conjuntura econômica janeiro de 2002. Entretanto, convém ressaltar que a diferença entre os salários do setor rural com os demais, na realidade, é bem menor quando se computam os salários indiretos auferidos pelo trabalhador rural, compreendendo a alimentação produzida na propriedade, como carne, leite, ovos, verduras, frutas e outros, bem como moradia, energia e água. O manejo do gado envolve uma série de fatores importantes à qualidade do couro, os quais são tratados a seguir. 4.1.6 FATORES RELACIONADOS COM A QUALIDADE DO COURO Várias são as publicações relativas à má-qualidade do couro brasileiro, entre elas as do SENAI (1997, p.7) que menciona: “ A má qualidade do couro nacional é um fator que torna grave a situação de abastecimento da indústria de curtumes, sendo decorrentes de uma série de problemas,...”, classificados em: produtor e matadouro de frigorífico. Quanto ao produtor, as principais causas são: falta de controle de ectoparasitos (carrapatos, bernes e bicheiras), a marcação do gado, o arame farpado e outras escoriações. O CTCCA (1994, p.16), ao classificar os defeitos da pele bovina, assinala os defeitos acidentais, definindo-os como: 70 Os defeitos acidentais são os defeitos que se originam na pele durante a sua vida, provocados por agentes externos como o berne (tumor causado por uma larva de mosca), carrapato (que suga o sangue dos animais), tinha (causada por fungos), bicheira (infestação de larvas da mosca), sarna (erupção cutânea), marcas de fogo, de arame farpado, de espinhos, de aguilhões, etc. Silva et. al. (1993, p.76), docentes do Centro Tecnológico do Couro – Senai, mencionam como causas de defeitos, durante a criação do gado: os ataques de carrapatos e bernes; as marcas de fogo efetuadas sem critério; e os cortes e riscos provocados pelas cercas de arame farpado. Complementando, assinala (1993, p.76): “O pecuarista ‘não vende couro’ vende carne e por isso os cuidados com a pele são ainda deixados de lado.” Em entrevista à revista A Lavoura, Gomes (1997, p.22-23), pesquisador da EMBRAPA, afirma com relação ao baixo padrão do couro nacional: O problema começa no campo; com os parasitas (mosca-dos-chifres, berne, carrapato,etc.); no manejo inadequado como a utilização de ferrões, arames farpados que, sem dúvida, causam danos irreparáveis. Outro problema são as sucessivas marcações com os mais variados tamanhos e em regiões nobres do animal, como o cupim, paleta, quarto, anca, etc., que apesar de facilitarem a lida com os animais, danificam as peles. Para esclarecimento sobre os fatores que interferem na qualidade do couro foram pesquisados o controle de ectoparasitos, o sistema de identificação, o tipo de cerca utilizada e os controles de qualidade da pele envolvidos no manejo do gado, apresentados a seguir. 4.1.6.1 CONTROLE DE ECTOPARASITOS Um dado positivo verificado na pesquisa refere-se ao combate aos ectoparasitos por meio de vacinas, vermífugos e pulverização de medicamentos, uma vez que apenas um dos 55 produtores rurais pesquisados respondeu não realizá-lo. Entretanto, pelos dados levantados nos curtumes (ver item 4.4.6), as peles continuam apresentando elevada incidência de defeitos provocados por carrapatos e, em algumas regiões, pela mosca-dos-chifres, sinalizando que o problema deve ser analisado pela medicina veterinária a fim de detectar os erros no tratamento aplicado ao gado. 71 Na pesquisa ficou evidenciado o interesse dos produtores rurais em realizar o controle dos ectoparasitos, conforme depoimentos: “Temos interesse em eliminar os carrapatos em função dos danos causados aos animais”, ou “Aplicamos medicamentos no combate ao carrapato a fim de evitar os males provocados por eles no gado e os prejuízos decorrentes”. No que tange ao sistema de identificação dos animais, o próximo tópico aborda as formas utilizadas pelos produtores. 4.1.6.2 SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO DOS ANIMAIS As formas de identificação dos animais, basicamente, utilizadas pelos produtores rurais compreendem: as efetuadas nas orelhas, com a colocação de brincos e de tatuagens, que não causam danos ao couro, e aquelas com marcas de fogo por meio de ferro candente, que danificam o couro. Dentre os produtores rurais pesquisados verifica-se uma grande predominância da utilização do ferro candente (98%), encontrando-se somente em um produtor o uso exclusivo de brincos. Alguns produtores também utilizam brincos (27%) e tatuagens (11%) para marcação, porém não de forma exclusiva, mas junto com a utilização do ferro candente. A Tabela 13 apresenta a quantificação de uso de cada sistema de identificação pelos produtores rurais pesquisados. TABELA 13 - Utilização dos sistemas de identificação de bovinos pelos produtores rurais, em MS – 2000. Utilização Ferro Brinco Tatuagem SIM 54 98% 15 27% 6 11% NÃO 1 2% 40 73% 49 89% TOTAL 55 100% 55 100% 55 100% Fonte: Questionários pesquisados aos produtores rurais, 2000. A Figura 11 apresenta a incidência dos sistemas de identificação utilizados por esses produtores. 72 Ferro candente, brincos e tatuagens Ferro candente, (9%) brincos e tatuagem (9%) Só brincos Só brincos (2%) (2%) Ferro candente e tatuagem Ferro candente (2%) e tatuagem (2%) Ferro candente Ferro candente e brincos e(16%) brincos (16%) Só ferro candente (71%) Só ferro candente (71%) Figura 11 - Incidência dos sistemas de identificação adotados pelos produtores rurais, em MS – 2000. Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. A norma NBR 10.453 da ABNT, de março de 1996a, estabelece como condição específica para a marcação do gado a ferro a seguinte: O gado bovino deve ser marcado na cara, no pescoço e nas regiões situadas abaixo de uma linha imaginária, ligadas às articulações fêmoro-rótulo-tibial e úmero-rádio-cubital, de sorte a preservar de defeitos a parte do couro de maior utilidade, denominada grupão. Na Tabela 14, elaborada com os dados obtidos nos questionários aplicados, verifica-se a identificação em local permitido em apenas 14,8% dos produtores, enquanto que na região mais nobre da pele, o grupão, em 61,1%. Na região da paleta, região não tão nobre como o grupão, porém também utilizada na fabricação de artefatos de couro, a identificação ocorre em 9,1% dos produtores. No total 70,2% realizam a identificação de forma prejudicial à qualidade do couro, devendo-se, ainda, ressaltar que se forem computados os oito produtores que não responderam a esse quesito, mas afirmaram desconhecer as técnicas de identificação correta, a identificação não permitida estaria sendo praticada por 85% dos produtores pesquisados. 73 TABELA 14 - Locais utilizados para a identificação dos bovinos com marcas de fogo, em MS – 2000. Local Locais não permitidos Produtores Total Permitido Grupão Paleta Não responderam Quantidade % sobre total 8 33 5 8 54 14,8 61,1 9,1 14,8 100 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Outro interveniente na qualidade do couro é o tipo de cerca utilizada nas propriedades, delimitando o campo de pastagem. 4.1.6.3 TIPO DE CERCA UTILIZADA A utilização de arame farpado nas cercas constitui, conforme já citado anteriormente, uma das causas de defeitos no couro bovino. Como alternativas para o arame farpado, utiliza o arame liso ou a cerca elétrica. Dos produtores pesquisados, a Figura 12 mostra que nenhum deles utiliza apenas o arame farpado nas cercas. A utilização ocorre, junto com o arame liso, em apenas 7,3% dos pesquisados, e, com o arame liso e cerca elétrica, em apenas 5,4%. No total, apenas 12,7% dos produtores utilizam arame farpado em parte das cercas, o que, embora não seja o ideal, já contribui para a redução dos defeitos por esse tipo de cerca, largamente utilizada no passado nas propriedades rurais. O uso em larga escala do arame liso se deve, segundo opinião de alguns produtores rurais, ao custo menor em relação aos outros tipos, além de não machucar os animais, evitando-se tratamento veterinário. Outros cuidados, necessários para a preservação da qualidade da pele, são abordados no tópico seguinte. 74 Arame liso e Cerca elétrica 29,1 % Arame liso 45,5% Arame liso e farpado 7,3 % Arame liso, farpado e cerca elétrica 5,4 % Arame liso Cerca elétrica 12,7 % Arame lisa e cerca elétrica elétrica Arame liso, farpado e cerca Figura 12 -Cerca Tipos de cercas utilizadas nas propriedades rurais, emelétrica MS – 2000. Fonte: Questionários aos produtores rurais, 2000. Arameaplicados liso e farpado 4.1.6.4 CONTROLES DE QUALIDADE DA PELE PRATICADOS A falta de preocupação com a qualidade não se verifica apenas no que tange à marcação do gado a ferro. Outros cuidados importantes, relacionados com o transporte, manejo, invernada e mangueiro, e que contribuem para a qualidade do couro, são tomados apenas por uma minoria dos produtores, conforme podem ser verificados na Tabela 15, elaborada de acordo com os questionários aplicados. Dentre os 55 produtores pesquisados, 45 (82%) não utilizam as técnicas de produção de gado bovino voltadas à qualidade do couro, o que ocorre em apenas 10 (18%). Um dado que se destaca é o fato de que dos 25 produtores (45%) que assinalaram conhecer essas técnicas, 15 (60%) não o fazem, principalmente, por não haver compensação financeira para tal. 75 TABELA 15 - Controles de qualidade da pele bovina praticados pelos produtores rurais, em MS – 2000. Produtores rurais Enfoques dos controles de qualidade Marcação Transporte Manejo Invernada Mangueiro Praticam controle 16 (29%) 3 (5%) 8 (15%) 4 (7%) 8 (15%) Não praticam 40 (71%) 52 (95%) 47 (85%) 51 (93%) 47 (85%) Total 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%) 55 (100%) Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. As opiniões dos produtores rurais, no que se refere ao desenvolvimento da atividade visando à qualidade do couro, encontram elencadas a seguir. 4.1.7 EXPANSÃO/MELHORIA DA ATIVIDADE COM RELAÇÃO À QUALIDADE DO COURO Com relação à expansão e/ou melhoria da atividade produtora de gado bovino visando à qualidade do couro, 38% dos produtores rurais pesquisados responderam positivamente. Caso ocorresse uma remuneração específica pelo couro, esse percentual se elevaria para 55%. Entretanto, se forem considerados os que participam do processo de engorda, última etapa antes da comercialização do gado bovino aos frigoríficos, 43% assinalaram propensão à expansão e/ou melhoria da atividade, percentual esse que se elevaria para 62% no caso da pele ser remunerada quando da sua comercialização. Quanto à remuneração da pele do animal aos produtores rurais, verificou-se, por depoimentos extraídos dos questionários, que ela não ocorre, o que provoca um grande desinteresse pela obtenção de couro com qualidade. Corroborando com essa situação constataram-se, ainda, dois fatos: primeiro, na comercialização do gado bovino, tanto entre produtores como com os frigoríficos, não se leva em conta a qualidade do couro; e segundo, dos produtores rurais pesquisados, apenas três mantiveram contato, a respeito da comercialização do couro: dois com frigoríficos e um com um curtume do Rio Grande do Sul. No que tange ao valor ideal da pele por animal para o produtor, as respostas contidas nos questionários demonstram não haver um consenso, entretanto, segundo 72% 76 dos que responderam, esse valor se situaria entre ½ e 1 arroba, avaliada em aproximadamente R$ 50,00. As respostas assinaladas por 18 produtores rurais estão apresentadas na Tabela 16. TABELA 16 - Preço por pele bovina desejada pelos produtores rurais, em MS – 2000. Preços desejados (R$) Produtores Total 8,00 15,00 23,00 30,00 40,00 50,00 90,00 Quantidade 1 2 6 2 1 4 2 18 % do total 5,6 11,1 33,3 11,1 5,6 22,2 11,1 100 Fonte: Questionários aplicados aos produtores rurais, 2000. Calculando-se a média ponderada desses valores chega-se a um valor ideal de R$ 36,00, aproximadamente. As políticas e incentivos governamentais relativos ao setor pecuário, na opinião dos produtores pesquisados, constituem o motivo do tópico seguinte. 4.1.8 POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS E INCENTIVOS RELACIONADOS COM A PECUÁRIA No questionamento quanto às políticas governamentais e/ou incentivos relacionados com a atividade de pecuarista, 76% dos produtores pesquisados opinaram como insatisfatórias, 16% como regulares e apenas 2% como satisfatórias. Os 6% restantes não responderam sobre o assunto. Dentre as reclamações assinaladas a respeito, as mais citadas, nos depoimentos, referem-se aos juros elevados, inexistência de linhas de créditos específicas a juros adequados, impostos elevados e insumos muito caros, incompatíveis com os preços de venda dos animais. Complementando as opiniões manifestadas nos questionários, o tópico a seguir aborda as que contribuem para o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro. 77 4.1.9 CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO Os depoimentos efetuados por 60% dos produtores rurais pesquisados ressaltam como fator estimulador para a qualidade da pele a sua remuneração aos pecuaristas. Afirmam: “Mediante uma remuneração adequada, haveria motivação para a criação e engorda do gado bovino com os cuidados necessários à obtenção de um couro com melhor qualidade”. Ainda, nesse sentido, propõem: “uma diferenciação nos preços da pele, de acordo com a qualidade atingida”. Outras sugestões foram apontadas nos depoimentos como instrução e conscientização dos produtores quanto ao couro, reformulando a cultura atual existente; obrigação do controle sanitário dos animais; pavimentação das estradas que ligam as propriedades rurais às principais estradas; incentivo aos curtumes locais e à pecuária; organização dos produtores rurais visando à união e fortalecimento deles; diálogo e entendimento entre os setores da cadeia produtiva do couro; e até mesmo, o impedimento da venda de animais marcados incorretamente. Os tópicos abordados neste segmento permitem afirmar que MS tem como especificidade econômica fundamental a pecuária, desenvolvida em todos os seus municípios, por mais de 30 mil estabelecimentos rurais, e empregando diretamente em torno de 130 mil pessoas. Isto habilita o Estado a ser o maior fornecedor nacional de gado bovino para abate e, conseqüentemente, de peles bovinas para o processamento de couro, e deste para a industrialização de artefatos de couro. O caminho para a melhoria da qualidade do couro tem como ponto de partida os produtores rurais, cujas atuações no manejo e controles correspondentes apresentam-se, de modo geral, insatisfatórias, decorrentes do não pagamento específico pela pele, da carência, de conscientização quanto à importância do couro na economia estadual e da falta de diálogo e entendimento entre os setores da cadeia produtiva do couro. O próximo item trata das implicações do couro bovino resultantes do transporte dos animais vivos entre as propriedades rurais, e destas para os frigoríficos. 78 4.2 O SEGMENTO TRANSPORTE DE GADO BOVINO Em MS o deslocamento do gado bovino, quer entre produtores rurais, quer para abate nos frigoríficos, se processa, basicamente, por meio do transporte rodoviário, utilizando-se de caminhões com carrocerias adaptadas para tal locomoção. Dada a especificidade desse transporte e as conseqüentes lesões que ele pode causar nos animais, comprometendo a sua integridade física, em especial, o couro, a ABNT, conforme a NBR 10452, de março de 1996b, fixou as condições necessárias à proteção dos animais, envolvendo a construção das carrocerias, a preparação dos animais para o transporte e observações quanto ao embarque, transporte e desembarque dos animais. A parte interna das carrocerias, conforme a norma NBR 10452, deve ser construída sem que permaneçam perfis de aço e/ou travessas de madeira com bordas vivas voltadas para o interior da carga, e utilizando parafusos de cabeças arredondadas e fixadas de dentro para fora. O piso tem que ser de assoalho longitudinal, com estrado de material resistente e de formato quadriculado. Deve-se, ainda, revestir a carroceria com material apropriado para amortecer eventuais impactos. Para o transporte, a norma estabelece que os animais devem ser separados por espécie, sexo e peso, dispondo para cada animal adulto 1,10 m2 , em média, de área útil e observando as paradas com freqüência de 3 horas para vias pavimentadas e 1 hora para vias não-pavimentadas. No embarque e desembarque dos animais, a norma determina observar as condições que evitem traumatismo pela movimentação do gado. A má qualidade do couro brasileiro, já mencionada, também tem como causa os defeitos provocados pelo transporte dos animais. Silva et. al. ( 1993, p.76), assinala com relação ao transporte do gado para os frigoríficos: “Muitas marcas recentes na flor são provocadas pelo embarque, transporte e desembarque dos animais do caminhão.” Complementam ainda: “As longas viagens em carrocerias inadequadas, com parafusos, pontas de ferro ou madeira causam danos à pele. Os chifres também ferem a pele nas manobras e agitação do gado no transporte.” 79 A respeito desse tema, na entrevista citada no item 4.1.6, Gomes (1997) assinala que, associados aos defeitos provocados no campo, têm-se as incisões ocorridas no transporte, e que não adianta o criador produzir um couro de boa qualidade, pela diminuição pelos defeitos causados nas propriedades, se os benefícios serão anulados pelos danos causados durante o transporte. Um dos fatores abordados nos questionários aplicados com os transportadores de gado bovino, que atende aos produtores tanto nos deslocamentos entre propriedades como delas para frigoríficos, relaciona-se, à preservação da qualidade do couro no transporte dos animais, cujos resultados são apresentados a seguir. 4.2.1 CONHECIMENTO DA LEGISLAÇÃO Dentre os 23 transportadores pesquisados, a Tabela 17 mostra que, aproximadamente, 80% afirmaram desconhecer a norma NBR 10452 da ABNT, bem como a “ Lei da Balança” ,citada na referida norma, cujo objetivo é diminuir os abusos com excesso de carga. TABELA 17 - Conhecimento pelos transportadores da legislação pertinente ao transporte de gado, em MS – 2000. Lei da balança 2 Norma NBR 10452 1 Transportadores Quantidade % Quantidade % Com conhecimento 4 17 5 22 Sem conhecimento 19 83 18 78 Total 23 100 23 100 Fonte: Questionários aplicados aos transportadores, 2000. 1 Norma que fixa as condições para o transporte de gado vivo. 2 Lei que tem como objetivo diminuir os abusos com o excesso de carga. O desconhecimento da legislação pertinente ao transporte do gado bovino prejudica a adoção, por parte das transportadoras, das medidas necessárias à preservação da integridade dos animais, dentre elas a construção interna da carroceria dos caminhões utilizados. 80 4.2.2 CONSTRUÇÃO INTERNA DA CARROCERIA Com relação à construção interna da carroceria, verifica-se que a maior desobediência à norma refere-se ao revestimento com material apropriado ao amortecimento de impactos, uma vez que ele não ocorre em 74% dos transportadores pesquisados. Em segundo lugar, constata-se que em 17% desses transportadores as carrocerias possuem, internamente, perfis de aço e/ou travessas de madeiras com bordas vivas, fato que, aliado à falta de revestimento adequado, propicia maior probabilidade de lesões nos animais. Os demais itens relativos à carroceria apresentam resultados melhores. A utilização de parafusos com cabeça arredondada e fixadas de dentro para fora foi verificada em 92% dos transportadores, e o piso do caminhão dentro das especificações normatizadas, foi constatado em todos os transportadores pesquisados. Um resumo desses resultados pode ser visualizado na Tabela 18. TABELA 18 - Atendimento pelos transportadores às especificações da construção interna da carroceria, em MS – 2000. Atendimento à norma Especificações quanto a: Revestimento Perfis de aço/travessas de madeira 16 70% Sim 6 26% Não 17 74% 4 Não responderam - - Total 23 100% Parafusos Piso 21 92% 23 100% 17% 1 4% 0 0% 3 13% 1 4% 0 0% 23 100% 23 100% 23 100% Fonte: Questionários aplicados aos transportadores, 2000. Pesquisa realizada no Rio Grande do Sul pelo Centro Tecnológico do Couro (SENAI, 1995, p.17) e outras entidades, apurou os mesmos problemas decorrentes do não cumprimento das exigências normatizadas para a construção das carrocerias. Dentre as conclusões destacou: “As construções das carrocerias não obedecem a nenhum critério técnico que vise o bem-estar dos animais durante o transporte, pois não existem órgãos fiscalizadores que controlem o tipo de construção das mesmas.” 81 Ainda, referente ao mesmo problema, menciona: “Foram observadas várias carrocerias novas, com graves defeitos de fabricação, que contribuem na geração de vários defeitos nos animais, tanto nas peles como na carne.” (SENAI, 1995, p.17) Quanto aos procedimentos a serem adotados no transporte, necessários à preservação dos animais, tem-se a separação destes por espécie, sexo e peso. 4.2.3 SEPARAÇÃO DOS ANIMAIS POR ESPÉCIE, SEXO E PESO A separação por espécie foi citada por todos os pesquisados, enquanto que a separação por sexo e por peso, são efetuadas por, respectivamente, 70% e 83% dos transportadores questionados, conforme mostra a Tabela 19. De acordo com a pesquisa citada no item anterior, a situação no Rio Grande do Sul, em relação à observada em MS, é pior, constatada pela seguinte afirmação: “Não existem critérios de embarque, como a separação por sexo, peso, raça ou idade.” (SENAI, 1995, p.15) TABELA 19 – Separação dos animais efetuada para o transporte, por espécie, sexo e peso , em MS – 2000. Separação Por espécie Por sexo Por peso Sim 23 100% 16 70% 19 83% Não 0 0% 7 30% 4 17% Total 23 100% 23 100% 23 100% Fonte: Questionários aplicados aos transportadores, 2000. Outro padrão que deve ser obedecido no transporte dos animais refere-se à freqüência das paradas nos trajetos longos. 4.2.4 FREQÜÊNCIA DE PARADAS Em rodovias pavimentadas, 74% dos transportadores pesquisados realizam as paradas de acordo com a norma da ABNT, enquanto que 9% não o fazem, e 17% não 82 responderam sobre a questão. Com base apenas nos que responderam, o cumprimento da norma se verifica em 89%. Em rodovias não-pavimentadas, 48% dos pesquisados realizam corretamente as paradas, enquanto 17% não o fazem e 35% não responderam à questão. Se considerar apenas os que responderam, 80% destes efetuam as paradas convenientemente. A Tabela 20 destaca o comportamento dos motoristas quanto à freqüência de paradas quer nas estradas pavimentadas quer nas não pavimentadas. TABELA 20 – Freqüência de paradas no transporte de gado bovino, em MS – 2000. Freqüência Estrada pavimentada Estrada não-pavimentada Adequada 17 74% 11 48% Inadequada 2 9% 4 17% Não responderam 4 17% 8 35% Total 23 100% 23 100% Fonte: Questionários aplicados aos transportadores, 2000. Considerando-se a ausência de respostas nos questionários como a não realização de paradas de acordo com os padrões estabelecidos na norma, os percentuais de freqüência de paradas inadequadas se elevam para 26%, no caso das estradas pavimentadas, e para 52%, no caso das estradas não pavimentadas. Com base nos dados apurados com os produtores rurais, abordados no item 4.1.4, o fato de as velocidades horárias médias não diminuírem à medida que o tempo de percurso ultrapassa o limite determinado para as paradas obrigatórias, induz a interpretar que estas não estão sendo obedecidas. A pesquisa efetuada no Rio Grande do Sul corrobora com tal interpretação, ao afirmar (SENAI, 1995, p.17): “Nas viagens observadas as paradas são realizadas quando o motorista deseja tomar um café ou quando percebe que há algum animal caído.” Sobre as principais causas das lesões nos animais que ocorrem durante o transporte, as opiniões dos transportadores estão elencadas a seguir. 83 4.2.5 CAUSAS DAS LESÕES NOS ANIMAIS DURANTE O TRANSPORTE Considerou-se o transporte composto de três etapas: embarque, o transporte propriamente dito e o desembarque. De acordo com os transportadores pesquisados, a principal causa das lesões, apontada por 74% deles, são as más condições dos embarcadores que prejudicam a integridade do animal, tanto no embarque como no desembarque. Em segundo lugar, destaca-se o manejo inadequado do gado, apontado por 39% desses transportadores, principalmente quando do embarque. Segundo depoimentos dos transportadores, constatados nos questionários aplicados, durante o transporte as principais causas estão nas condições ruins das estradas, apontadas por 61% dos pesquisados, na superlotação, ocasionada por exigência dos produtores rurais, e no estado de cansaço dos animais, decorrente do manejo antes do embarque, principalmente, quando originários de leilões, e que os fazem deitar durante a viagem. As duas últimas causas foram apontadas por 48% dos pesquisados. Logo a seguir foi apontado por 43% dos transportadores o modo de dirigir, especificamente, no que se refere às freadas bruscas A Tabela 21 apresenta as causas principais das lesões ocasionadas nos animais, por ocasião; por ocasião do transporte, assinaladas pelos transportes, evidenciando a freqüência de cada uma. Recorrendo, novamente à pesquisa do Centro Tecnológico do Couro (SENAI, 1995), os principais defeitos originados no transporte incluem: lesões decorrentes do embarque dos animais; lesões decorrentes das condições das carrocerias; lesões decorrentes de grande quantidade de animais por embarque; presença de chifres pontiagudos e não aparados, agitação dos animais, em virtude da mistura de raças; e manejo do gado. 84 TABELA 21 - Causas das lesões provocadas nos animais durante o embarque, transporte e desembarque, em MS – 2000. Freqüência de ocorrência Causas Quantidade % No embarque Más condições dos embarcadores 17 74 Manejo do gado 9 39 Rampa de madeira 4 17 Posição errada do caminhão 2 9 Guilhotina 2 9 Mangueiro de cordoalha 2 9 Condições ruins da estrada 14 61 Superlotação 11 48 Gado deitado pelo cansaço 11 48 Modo de dirigir 5 22 Revestimento da gaiola 5 22 Más condições dos embarcadores 17 74 Pressa para desembarcar 3 13 Desnível/inclinação 3 13 Durante o transporte No desembarque Fonte: Questionários aplicados aos transportadores, 2000. Assim, mesmo que os produtores rurais tomem todos os cuidados para preservar a integridade do couro e melhorar a sua qualidade, esses benefícios serão anulados se o transporte se realizar sem obediências às condições necessárias à proteção dos animais. Os problemas detectados exigem medidas no sentido de conscientizar os transportadores quanto à importância econômica da qualidade do couro, para que estes procurem manter os caminhões em perfeito estado e as gaiolas sem parafusos virados para dentro e sem travessas de madeiras com bordas vivas; utilizem revestimento interno para amortecer impactos; respeitem a lotação máxima do caminhão; façam as paradas regulares 85 para que os animais possam descansar; e evitem as paradas bruscas, para o que se deve evitar a velocidade excessiva. O próximo item trata do segmento abate do gado bovino, envolvendo quantificações decorrentes da atividade, tanto estadual, nacional como mundial, e a rede de frigoríficos instalada no Estado. 4.3 O SEGMENTO ABATE DO GADO BOVINO A produção do gado bovino tem como principal produto o animal destinado ao abate, que é realizado, fundamentalmente, por meio dos abatedouros frigoríficos. Nos frigoríficos é obtida do animal abatido, além da carne, uma variedade de outros produtos, normalmente rotulados de subprodutos, compreendendo: miúdos e glândulas; cascos e chifres; intestinos e bucho; sangue e gordura; e, em destaque, tendo em vista o tema deste trabalho, a pele, que processada nos curtumes se transforma no couro. Inicialmente, apresenta-se a evolução histórica do abate, em nível mundial, nacional e estadual, destacando-se os primeiros colocados no ranking. 4.3.1 EVOLUÇÃO DO ABATE MUNDIAL, NACIONAL E ESTADUAL Assim como foi verificado nos efetivos anuais do rebanho mundial de gado bovino, observa-se, também, uma certa estagnação no número de cabeças abatidas nos últimos dez anos, com base nos dados do ANUALPEC (2000; 2001). A Tabela 22 apresenta a evolução do abate de 1991 a 2000, destacando-se os seis principais países abatedores, responsáveis nos últimos anos por, aproximadamente, 63% do abate mundial, dentre os quais o Brasil, que até 1996 ocupou o segundo lugar e, a partir de 1997, o terceiro lugar. A China, em 1999, superou, ligeiramente, os Estados Unidos, e manteve-se em primeiro lugar em 2000, conforme dados preliminares. 86 TABELA 22 - Abate mundial de gado bovino – 1991 a 2000 (milhões de cabeças). Países 1991 China 13 15,2 19 24,5 30,5 26,8 32,8 35,9 37,7 39 Estados Unidos 34,4 34,5 34,7 35,7 37,3 38,6 38,1 37,1 37,6 37,7 Brasil 28,2 30 29,5 28,4 30,7 32,7 31,5 31,4 31 32,8 Argentina 12,6 11,9 12,1 12,4 12,3 12,5 14,1 12,3 13 13,3 Índia 9,8 9,2 8,8 9,9 10,7 8,8 11,0 12,2 12,7 13 Rússia 20,8 20,1 19,7 19,8 17,3 15,3 13,5 12,3 10,9 10,3 Subtotal 118,8 120,9 123,8 131,1 138,8 134,7 141,0 141,2 142,9 146,1 115 112,3 100,8 93,9 90 90,3 92,7 89,2 87,3 85,9 233,8 233,2 224,6 225 228,8 225 233,7 230,4 230,2 232 Outros MUNDIAL 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000* Fonte: ANUALPEC 2000 e 2001, 2001 e 2002. (*) Preliminar A evolução do abate nacional de 1991 a 2000 pode ser verificada, conforme dados estimativos da FNP Consultoria, publicados no ANUALPEC (2000 e 2001), na Tabela 23, na qual destacam-se os oitos principais Estados abatedores responsáveis por cerca de 76% do total. TABELA 23 - Abate nacional de gado bovino* – 1991 a 2000 (milhões de cabeças). Estados 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 SP 4,6 4,7 4,6 4,7 4,8 5,1 4,8 4,7 4,5 4,4 MS 2,7 3 2,9 2,8 3,1 3,5 3,4 3,3 3,3 3,4 GO 2,8 3 2,9 2,9 3,3 3,4 3,1 3,0 3 3,2 MG 3,1 3,3 3,3 2,8 3,3 3,7 3,2 3,0 2,9 3 RS 2,5 2,5 2,4 2,3 2,6 2,7 2,5 2,5 2,7 3 MT 1,5 1,6 1,6 1,7 2,0 2,2 2,3 2,4 2,5 2,8 BA 2,4 2,9 2,8 2,5 2,2 2,3 2,5 2,6 2,5 2,5 PR 2,1 2,1 2,1 2,2 2,4 2,6 2,5 2,4 2,3 2,5 Subtotal 21,7 23,1 22,6 21,9 23,7 25,5 24,3 23,9 23,7 24,8 Outros 6,5 6,9 6,9 6,5 7 7,2 7,2 7,5 7,3 8 BRASIL 28,2 300 29,5 28,4 30,7 32,7 31,5 31,4 31, 32,8 Fonte: ANUALPEC 2000 e 2001, 2001 e 2002. (*) Estimativa No Brasil, embora Mato Grosso do Sul detenha o maior rebanho bovino do país, em termos de abate encontra-se em segundo lugar, superado por São Paulo, possuidor 87 apenas do sexto maior rebanho nacional, porém importador de animais vivos para engorda e abate. A relação entre o número de cabeças abatidas e o número de animais do rebanho é denominada, conforme Marion (1990), taxa de desfrute, ou, conforme ANUALPEC (2001) e Michels et. al.(2001), taxa de abate. Marion (1999, p. 36) assinala com relação a essa taxa: “É um dos indicadores mais importantes, pois evidencia a produtividade do rebanho, exprimindo sua capacidade de gerar excedentes para o abate”. Mediante os dados de 1991 a 2000, constantes da Tabela 24, o Brasil apresenta uma taxa de desfrute em torno de 20%, muito aquém dos Estados Unidos (39%) e da União Européia (34%), o que conforme Michels (2001, p.42): “Isso evidencia grandes oportunidades de negócios a advirem com a ampliação dos mercados”. TABELA 24 - Taxas de abate no Brasil, Estados Unidos e União Européia*– 1991 a 2000 (%). Estados maiores abatedouros 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 São Paulo 37,4 37,8 37,7 37,9 39 40,6 39 38,8 37,5 36,2 Bahia 22,1 26,7 27,5 27 25,4 25,4 27 29,1 27,2 26,9 Paraná 21,7 21,9 22,1 22,3 24,1 26,1 25,2 25,3 24,5 25,7 Rio Grande do Sul 18,2 18,6 18 17,1 19,2 20,4 19,2 18,7 20,4 22,2 Goiás 16,8 17,5 17,6 17,5 20 20,5 19,4 18,7 18,5 19,6 Mato Grosso 14,1 14,4 13,6 13,9 15,2 15,6 15,3 15,9 16,3 17,6 Mato Grosso do Sul 13,9 15,2 14,6 14 15,9 17,5 17,1 16,5 16,4 16,5 14 14,8 15,3 13,8 16,6 18,5 16,4 15,7 15 15,7 18,2 19,6 19,5 18,7 19,9 21,3 20,5 20,3 19,7 20,6 Estados Unidos 32 35 34 36 36 38 38 37 38 39 União Européia 40 39 36 34 34 34 35 34 34 34 Minas Gerais Brasil Fonte: ANUALPEC 2000 e 2001, 2001 e 2002. (*) estimativa Tomando-se por base os Estados maiores abatedores de gado bovino no Brasil, MS ocupava até 1999 a sexta posição, passando a ocupar a sétima posição em 2000, com uma taxa de desfrute de apenas 16,5%, abaixo da média Brasil 20,6%, e bem abaixo de São Paulo com 36,2%. 88 Uma dimensão quantitativa do abate no Estado pode ser conhecida no tópico a seguir apresentado. 4.3.2 INDICADORES QUANTITATIVOS DO ABATE EM MATO GROSSO DO SUL Inicialmente, deve-se salientar que os números referentes aos abates no Estado divergem de uma fonte para outra. Entretanto, as variações encontradas não são expressivas e, portanto, não prejudicam as análises e as conseqüentes conclusões. Para o posicionamento do Estado, em relação ao nacional, foram utilizados os dados do (ANUALPEC 2000; 2001), levantados pela FNP Consultoria, que também abrangem outros Estados. Para fins de análises específicas do Estado foram utilizados dados obtidos na Delegacia Federal de Agricultura em Mato Grosso do Sul e no Departamento de Inspeção e Defesa Agropecuária de MS, atualmente denominado Agência Estadual de Defesa Animal e Vegetal (IAGRO). Os abates de bovinos realizados no Estado estão sujeitos ao Serviço de Inspeção Estadual (SIE), pelo IAGRO, e de Inspeção Federal (SIF), pela DFA/MS. As quantidades abatidas no período de 1995 a 2001, classificadas de acordo com o serviço de inspeção, conforme dados obtidos nesses órgãos, estão apresentadas na Tabela 25, na qual se observa a predominância dos abates sob inspeção federal, na ordem de 98%, e de apenas 2% sob a inspeção estadual. TABELA 25 - Abates de bovinos por serviço de inspeção, em MS – 1995 a 2001 (cabeças) Serviço de inspeção 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 SIE 61.596 65.108 65.707 67.877 64.424 75.038 89.241 SIF 2.543.667 3.022.546 2.977.622 3.139.410 2.923.991 3.355.393 3.171.257 TOTAL 2.605.263 3.087.654 3.043.329 3.207.287 2.988.415 3.430.431 3.260.498 Fonte: IAGRO (SIE), 2002 e DFA/MS (SIF), 2002. Legenda: SIE = Serviço de Inspeção Estadual. SIF = Serviço de Inspeção Federal. 89 O rebanho de gado bovino estadual não é abatido somente no Estado, sendo parte exportado, basicamente, para São Paulo. Conforme dados do IAGRO de 1996 a 2001, constantes da Tabela 26, excluindo os referentes a 1999 e 2000, anos atípicos, tendo em vista o surgimento da febre aftosa, a exportação foi, em média, de 18,2%, e em 2001 de 16%. Para São Paulo foram destinados no mesmo período, em média, 92,4% do total exportado, e em 2001, 98%. Do total exportado 75% são originários das microrregiões, que fazem divisa com São Paulo, com destaque para Três Lagoas (45%), seguida de Paranaíba (21%) e Nova Andradina (9%). Somando-se as exportações das microrregiões, Iguatemi (8%), com divisa com Paraná, e Cassilândia (7%), com divisa com Goiás, porém próximas de São Paulo, o total exportado atinge 90% do total. TABELA 26 - Trânsito sul-mato-grossense de bovinos para abate – 1996 a 2001 (cabeças). Estados de destino 1996 1997 São Paulo 674.354 629.325 388.765 205.439 - 552.544 Paraná 41.182 19.090 18.329 1.338 - 10.880 Minas Gerais 41.728 13.296 2.316 2 - 61 Outros 26.643 10.311 1.093 663 - 318 783.907 677.022 410.503 207.442 - 563.803 Mato Grosso do Sul 3.080.488 3.038.940 2.892.181 2.905.544 3.398.928 2.967.272 TOTAL 3.684.488 3.710.962 3.302.684 3.112.986 3.398.928 3.531.075 20,3 18,2 12,4 6,7 Subtotal % exportado 1998 1998 2000 - 2001 16 Fonte: IAGRO, 2002. A separação do gado bovino, destinado ao abate, por sexo, conforme dados do IAGRO(2002), apresentado na Tabela 27, referentes ao período de 1996 a 2001, indica que 61% correspondem a machos e 39% a fêmea. Considerando que das fêmeas abatidas, 51% possuem mais de quatro anos (ver Tabela 6), a probabilidade de defeitos na pele aumenta em função de um maior tempo de permanência no campo, sujeitas ao ataque de ectoparasitas, a cortes e riscos provocados por arame farpado, galhos, espinhos e a um maior número de marcas de fogo. 90 TABELA 27 - Abate dos bovinos sul-mato-grossense por sexo* – 1996 a 2001 (cabeças). 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Discriminação 2.129.108 2.194.208 2.112.039 2.060.956 2.096.267 2.204.124 Machos Fêmeas 1.735.287 1.516.754 1.190.645 1.052.030 1.302.661 1.326.951 Total 3.684.395 3.710.962 3.302.684 3.112.986 3.398.928 3.531.075 Fonte: IAGRO, 2002. (*) Inclui o abate no Estado e o exportado para abate. A rede de frigoríficos instalada no Estado, com as respectivas capacidades de abate, localização e quantidades históricas de abate, é o conteúdo do tópico seguinte. 4.3.3 FRIGORÍFICOS INSTALADOS EM MATO GROSSO DO SUL O abate do gado bovino se processa no Estado por uma rede de frigoríficos, cujo número total exato não foi possível se apurar, em função da dinâmica acentuada que ocorre na mudança de proprietários desses empreendimentos e no fechamento e abertura de novos frigoríficos, sem a devida baixa da inscrição estadual. Por meio de levantamentos efetuados em 2000 junto aos órgãos e entidades: Delegacia Federal de Agricultura em MS, IAGRO/MS e Sindicato das Indústrias de Frios, Carnes e Derivados do Estado de Mato Grosso do Sul - SICADEMS, chegou-se a um total de 48 frigoríficos, dos quais 33 sob inspeção federal (SIF) e 15 sob inspeção estadual (SIE). Os frigoríficos sob inspeção federal encontram-se relacionados na Tabela 28, destacando-se os municípios onde aqueles estão localizados e as respectivas capacidades de abate, instalada e utilizada, por dia, calculadas com base nos questionários aplicados e nos dados fornecidos pela DFA/MS, referentes aos anos de 2000 e 2001. A capacidade de abate por dia instalada foi apurada considerando os dados apresentados nos questionários pelos frigoríficos que os responderam e os dados obtidos na DFA/MS (2002). Para os frigoríficos que não informaram essa capacidade, ela foi considerada com base nas maiores quantidades de cabeças abatidas mensais ocorridas nos últimos anos. Para a apuração da capacidade de abate por dia utilizada foram considerados os abates ocorridos em 2000 e 2001. 91 TABELA 28 - Frigoríficos sob inspeção federal (SIF) instalados em MS – 2001. Nº Razão social Município Capacidade de abate por dia Instalada Utilizada 700 450 1 Fribai – Frigorífico Vale do Amambaí Ltda. Amambaí 2 Frigorífico Independência Ltda. Anastácio 600 380 3 Frigorífico Sul Ltda. Aparecida do Taboado 450 290 4 Frigorífico Aparecida do Taboado. Aparecida do Taboado 250 150 5 Marfrig Ltda. Bataguassu 800 500 6 Frigonostro Indústria e Comércio Carnes Ltda. Batayporã 800 600 7 Ind. e Com. de Carnes Minerva Ltda. Caarapó 500 300 8 Frigorífico Boi Centro Oeste Ltda. Campo Grande 250 200 9 Friboi Ltda. Campo Grande 700 600 10 Bertin Ltda. Campo Grande 1.200 850 11 Campo Oeste Carnes Ind. Com. Imp.e Exp. Ltda Campo Grande 600 450 12 Tatuibi Indústria de Alimentos Ltda. Cassilândia 400 370 13 Frigorífico Estrela Ltda. Cassilândia 250 180 14 Frigorífico Urucum Ltda. Corumbá 100 60 15 Frigorífico Margem Ltda. Coxim 350 270 16 Boifram Alimentos Ltda. Eldorado 450 280 17 Frigorífico Pedra Branca Ltda. Guia Lopes da Laguna 300 220 18 Frigorífico Iguatemi Ltda. Iguatemi 400 220 19 Bom Charque Ind. E Com. Ltda. Iguatemi 450 400 20 Frigorífico Pedra Bonita Ltda. Itaporã 550 500 21 Bertin Ltda. Naviraí 880 750 22 Navi Carnes Ind. E Com. Ltda. Naviraí 500 400 23 Comércio de Carnes Araguaia Ltda. Naviraí 200 20 24 Amambaí Indústria Alimentícia Ltda. Nioaque 650 400 25 Frigorífico Independência Ltda. Nova Andradina 1.200 870 26 Frigorífico Pontual Ltda. Nova Andradina 400 180 27 Frigorífico Margen Ltda. Paranaíba 600 420 28 Amambaí Indústria Alimentícia Ltda. Ponta Porá 400 300 29 Bertin Ltda. Ribas do Rio Pardo 500 320 30 Frigorífico Margen Ltda. Rio Verde de Mato Grosso 320 240 31 Frigorífico Boi do Pantanal Ltda. Rochedo 500 280 32 Frigolop Frigoríficos Ltda. Terenos 500 430 33 Frigotel Frigorífico Três Lagoas Ltda. Três Lagoas 1.000 520 17.750 12.400 Total Fonte: DFA/MS, 2002 e questionários aplicados aos frigoríficos, 2001. 92 O confronto dessas capacidades sinaliza para uma subutilização da capacidade instalada em cerca de 30%, o que corresponde quantitativamente a 5.350 abates por dia, ou 123.050 por mês, ou, ainda, 1.476.000 por ano. Para melhor visualização da localização e distribuição dos referidos frigoríficos no Estado, foi elaborado o Mapa Geográfico constante da Figura 13, no qual pode se constatar uma maior concentração na região sul, incluindo a microrregião Campo Grande, com 20 frigoríficos instalados (60% do total). Figura 13 - Frigoríficos sob inspeção federal (SIF) instalados em MS – 2001 Fonte: DFA/MS, 2002. O abate por frigorífico de 1996 a 2001, conforme dados fornecidos pela DFA/MS (2002), encontra-se na Tabela 29, destacando-se os 33 frigoríficos em atividade até 2001, computando-se nos mesmos os dados referentes a anos anteriores de outros frigoríficos que se utilizaram das mesmas instalações. 93 TABELA 29 - Abate nos frigoríficos sob inspeção federal, em MS -1996 a 2001 (cabeças). Nº FRIGORÍFICO MUNICÍPIO 1996 1997 1998 1999 2000 2001 1 Friboi Amambaí 100.438 118.317 112.049 90.005 103.040 136.406 2 Independência Anastácio 118.595 106.983 0 29.823 150.448 70.005 45.738 39.313 62.068 73.253 92.544 60.942 0 0 0 28.714 45.249 14.356 0 0 73.001 129.166 114.816 208.305 3 Frigorífico Sul Aparecida do Taboado 4 Aparecida do Taboado Aparecida do Taboado 5 Swift Armour/ Sta.Marina/Marfrig Bataguassu 6 Frigonostro Batyiporã 176.213 180.576 163.845 114.032 202.239 174.124 7 Minerva Caarapó 170.800 138.232 127.422 66.637 81.471 21.418 8 Boi do Centro-Oeste Campo Grande 82.954 74.536 45.349 27.974 53.313 59.081 9 Friboi Campo Grande 148.126 159.080 161.212 98.901 175.135 156.757 Campo Grande 205.766 158.969 99.611 234.594 219.801 246.793 Campo Grande 129.688 144.515 142.179 93.295 123.510 127.273 104.976 10 Swift Armour/Bertin 11 Campo Grande/ Centro-Oeste Carnes 12 Tatuibi Cassilândia 89.366 95.601 97.949 98.759 105.558 13 Estrela Cassilândia 0 0 0 0 39.941 13.904 14 Urucum Corumbá 25.458 20.099 16.210 14.319 16.693 15.980 15 Margen Coxim 16 Catarinense/Boifran Eldorado 17 Pedra Branca Guia Lopes da Laguna 0 9.044 57.451 78.857 85.155 68.803 50.775 72.644 78.074 49.839 103.177 47.119 76.063 96.401 89.184 74.735 67.586 38.763 18 Iguatemi Iguatemi 119.286 111.395 62.264 53.250 46.096 76.219 19 Bom Charque Iguatemi 0 16.852 87.420 90.838 114.173 122.169 20 Pedra Bonita Itaporã 104.497 103.328 118.503 116.281 129.382 148.914 21 Bertin Naviraí 164.771 130.544 139.170 184.505 196.176 211.538 22 Navi Carnes Naviraí 85.346 84.263 149.281 121.583 0 7.141 23 Araguaia Naviraí 24.050 41.879 59.722 37.614 0 5.822 24 Boi Brasil/Amambaí Nioaque 108.565 131.910 112.929 84.485 86.312 107.733 25 Independência Nova Andradina 221.872 241.027 256.108 265.437 259.090 264.774 26 Pontual Nova Andradina 62.259 55.018 104.607 68.369 47.115 23.077 27 Margen Paranaíba 95.513 76.145 127.357 96.951 136.479 117.175 28 Ponta Porá/ Amambaí Ponta Porã 71.551 67.051 46.059 35.226 67.150 93.095 0 53.946 68.309 91.244 119.775 49.072 87.194 73.996 81.960 47.205 66.554 78.095 Rochedo 109.104 121.040 134.556 93.169 48.628 28.409 32 Frigolop Terenos 129.760 126.688 127.244 113.139 132.491 130.742 33 Frigotel Três Lagoas 119.754 115.490 131.290 122.593 133.095 141.695 99.044 12.740 0 0 0 0 3.022.546 2.977.622 3.139.410 2.923.982 3.355.393 3.171.257 29 Bertin/Roma 30 Margen 31 Rochedo/Frigoverdi Boi do Pantanal Frigopaizão (encerrado) TOTAL Fonte: DFA/MS, 2002. Ribas do Rio Pardo Rio Verde de Mt Dourados 94 O frigorífico cujas atividades foram encerradas sem o contínuo uso de suas instalações foi mencionado após os frigoríficos em atividades. Os frigoríficos sob inspeção estadual encontram-se relacionados na Tabela 30, destacando-se os municípios onde aqueles estão localizados e as respectivas capacidades de abate, instalada e utilizada, por dia, calculadas com base nos questionários aplicados e nos dados fornecidos pela Agência (2002), referentes aos anos de 2000 e 2001. Igual à situação verificada para os frigoríficos sob inspeção federal, constata-se também uma subutilização da capacidade de abate instalada, porém maior, em torno de 53%. Quantitativamente, os números não são tão expressivos, equivalendo a subutilização a 355 abates por dia ou 7.800 por mês ou, ainda, 93.600 por ano. TABELA 30 Nº Frigoríficos sob inspeção estadual (SIE) instalados em MS – 2001. Razão social Município Capacidade de abate por dia (cabeças) Instalada Utilizada 150 80 1 Frigorífico Aquidauana Ltda. Aquidauana 2 Durigon e Cia Ltda. (São Luis) Dourados 30 30 3 Fornecedora de Alimentos Pérola Ltda. Dourados 50 45 4 Abatedouro Folador Ltda. Eldorado 10 6 5 Frigorífico Ivinhema Ltda. Ivinhema 80 20 6 Holanda e Saldanha Ltda. Ladário 5 5 7 Folador e Kerek Ltda (Mundo Novo) Mundo Novo 15 7 8 Frigorífico Municipal Naviraí 5 5 9 Abatedouro Travagin Ltda. Rio Brilhante 40 15 120 20 10 M. Kruger e Cia. Ltda (Vale Verde) Rio Verde de Mato Grosso 11 Frigorífico Boa Vista Ltda. Rochedo 30 20 12 Adauto Paschini Ltda. São Gabriel do Oeste 45 30 13 Abatedouro e Distrb. Carne Saldanha Ltda. Sonora 50 5 14 Abatel Abat. de Bovinos Três Lagoas Ltda. Três Lagoas 20 13 15 Frigorífico Dois Irmãos Ltda. 20 14 670 315 Três Lagoas TOTAL Fonte: IAGRO, 2002 e questionários aplicados aos frigoríficos, 2001. Para melhor visualização da localização e da distribuição dos referidos frigoríficos no Estado, foi elaborado o Mapa Geográfico constante da Figura 14, no qual pode se constatar, como nos frigoríficos sob inspeção federal, uma maior concentração na 95 região sul, onde estão instalados sete frigoríficos (44% do total) e outra na microrregião Alto Taquari, onde estão instalados quatro frigoríficos (25% do total). O abate por frigorífico de 1996 a 2001, conforme dados fornecidos pelo IAGRO (2002), encontra-se na Tabela 31, destacando-se os 15 frigoríficos em atividade até 2001, computando-se os dados referentes a anos anteriores de outros frigoríficos que se utilizaram das mesmas instalações. Os frigoríficos cujas atividades foram encerradas sem o contínuo uso de suas instalações, foram englobados em outros. Figura 14 - Frigoríficos sob inspeção estadual (SIE) instalados em MS - 2001. Fonte: IAGRO/MS, 2002. Analogamente ao cálculo da taxa de desfrute, pode-se calcular a taxa da capacidade de abate por dia, em relação ao rebanho existente por microrregião no sentido de mensurá-las com relação ao potencial de abate. Tendo em vista a mensuração da capacidade de abate por dia, para o cálculo de taxa foi considerada a capacidade por ano, 96 multiplicando-se a quantidade diária por 24 dias (média de dias trabalhados por mês) e por 12 meses. TABELA 31 - Abates nos frigoríficos sob inspeção estadual, em MS – 1996 a 2001 (cabeças). Nº. Frigorífico Município 1 Aquidauana Aquidauana 2 Durigon (São Luis) 1996 1997 1998 1999 2000 2001 23.356 23.113 23.572 15.718 20.946 19.471 Dourados 7.789 7.214 6.961 7.648 7.777 8.996 3 Pérola Dourados 13.927 14.478 11.482 11.640 12.549 14.907 4 Folador Eldorado 0 0 1.689 1.269 535 2.136 5 Frigovema Ivinhema 0 2.252 3.368 3.313 4.772 6.935 6 Holanda e Saldanha Ladário 2.015 0 1.449 925 631 1.375 7 Mundo Novo Mundo Novo 3.388 3.787 2.790 2.805 1.987 1.767 8 Municipal Naviraí 1.577 2.278 1.727 1.262 1.292 1.295 9 Travagin Rio Brilhante 0 857 765 869 921 2.064 10 Rio Verde/Vale Verde Rio Verde de Mato Grosso 0 0 67 4.247 4.685 5.930 11 Garrote/Angico Boa Vista Rochedo 3.009 3.640 3.806 2.856 3.391 7.334 12 V.Passo/Adauto Paschini São Gabriel do Oeste 3.146 2.602 2.891 5.644 6.535 8.235 13 Soberano Sonora 0 0 0 43 865 2.029 14 Abatel Três Lagoas 0 0 1.404 1.748 3.485 2.998 15 Dois Irmãos Três Lagoas 0 0 2.004 2.243 3.716 3.764 6.901 5.486 3.902 2.194 951 0 65.108 65.707 67.877 64.424 75.038 89.241 Outros (atividades encerradas) TOTAL Fonte: IAGRO, 2002. As taxas de abate, calculadas tanto para a capacidade utilizada como para instalada, estão apresentadas na Tabela 32, com as respectivas colocações no ranking estadual. Com base nessas taxas de abate, pode se verificar que a microrregião Três Lagoas, embora possua o maior rebanho bovino do Estado, situa-se em nono lugar, indicando um potencial de abate para futuras instalações de frigoríficos. A microrregião Nova Andradina, que ocupa o décimo lugar no efetivo de rebanho, possui as maiores taxas de abate, tanto para a capacidade utilizada como para a capacidade instalada, evidenciando maior produtividade de seu rebanho. 97 TABELA 32 - Taxa da capacidade de abate por dia em relação ao rebanho existente por microrregião, em MS – 2001. Nº Microrregião Rebanho (2000) Cabeças Ranking Capacidade por dia utilizada Abates Taxa Ranking Capacidade por dia instalada Abates Taxa Ranking 1 Baixo Pantanal 2.116.520 5º. 65 0,9% 11º. 105 1,4% 11º. 2 Aquidauana 1.356.039 9º. 460 9,8% 8º. 750 15,9% 8º. 3 Alto Taquari 2.571.691 3º. 565 6,3% 10º. 885 9,9% 10º. 4 Campo Grande 2.093.678 6º. 2.830 38,9% 2º. 3.780 52,0% 2º. 5 Cassilândia 873.355 11º. 550 18,1% 4º. 650 21,4% 6º. 6 Paranaíba 1.537.550 8º. 860 16,1% 6º. 1.300 24,4% 4º. 7 Três Lagoas 3.851.369 1º. 867 6,5% 9º. 1.540 11,5% 9º. 8 Nova Andradina 1.191.380 10º. 2.150 52,0% 1º. 3.200 77,3% 1º. 9 Bodoquena 1.652.419 7º. 620 10,8% 7º. 950 16,5% 7º. 10 Dourados 2.687.886 2º. 1.640 17,6% 5º. 2.270 24,3% 5º. 11 Iguatemi 2.273.521 4º. 2.108 26,7% 3º. 2.990 37,9% 3º. TOTAL 22.205.408 12.715 16,5% 18.420 23,9% Fonte: IBGE, 2000, 2001, DFA/MS, 2002, e IAGRO, 2002. Convém destacar que a utilização da capacidade instalada por todos os frigoríficos elevaria a taxa de abate estadual de 16,5% para 23,9%, e colocaria Mato Grosso do Sul em terceiro lugar no ranking brasileiro, sem considerar que haveria redução no percentual de abate dos Estados importadores de gado bovino. Tais ponderações são válidas ao considerar que o efetivo por categoria de animal (bezerro, garrote, boi e outros) tem a mesma composição em todo o território estadual. No caso de ocorrer uma maior concentração de animais prontos para o abate do que animais classificados em outras categorias, os índices calculados não refletirão a real situação da capacidade de abate da microrregião. As maiores concentrações da capacidade de abate se verificam na capital do Estado (segundo lugar no ranking), por causa da infra-estrutura, e na região sul, fronteira com São Paulo e Paraná, abrangendo as microrregiões Nova Andradina (primeiro lugar) e Iguatemi (terceiro lugar). O tópico a seguir trata do pessoal direto empregado pelos frigoríficos e a sua relação com a capacidade de abate utilizada. 98 4.3.4 PESSOAL DIRETO EMPREGADO Os frigoríficos pesquisados empregam um total de 4.932 funcionários,o que representa uma média de 224 empregos por frigorífico, ou, em termos de capacidade de abate utilizada, 0,71 funcionário por cabeça abatida por dia, conforme dados apresentados na Tabela 33. TABELA 33 - Pessoal direto empregado pelos frigoríficos e relação com a capacidade de abate utilizada por dia, em MS – 2000. Capacidade Serviço Funcionários Frigoríficos Capacidade média por de (quantidade) (quantidade) utilizada frigorífico Inspeção Funcionários Por Por cabeça frigorífico abatida SIE 8 220 27 149 19 0,68 SIF 14 6.750 482 4.783 342 0,71 TOTAL 22 6.970 317 4.932 224 0,71 Fonte: Questionários aplicados aos frigoríficos, 2001. Levando-se em conta a classificação dos frigoríficos segundo o serviço de inspeção, a quantidade média de empregos gerados por frigorífico sob a inspeção estadual (SIE) é de 19 funcionários, enquanto a dos frigoríficos sob a inspeção federal (SIF) é de 342. Essa diferença é explicada pela reduzida capacidade de abate dos primeiros – 27 cabeças por dia contra 482 – que corresponde a apenas 5,6% do abate pelos frigoríficos sob inspeção federal (SIF). Considerando que em média a capacidade de abate utilizada por dia é em torno de 12.715 cabeças, os frigoríficos instalados no Estado proporcionam, cerca de 9.000 empregos diretos, sendo 98% nos frigoríficos sob inspeção federal. No caso de ser utilizada toda a capacidade instalada desses frigoríficos, 18.420 cabeças, seriam proporcionados mais 4.000 empregos diretos. O salário médio em 2000, apurado nos frigoríficos pesquisados, era de R$ 327,30, inferior aos verificados na região urbana, especificamente, na indústria e em serviços, sendo também inferior ao dos trabalhadores rurais com rendimentos, conforme pode ser verificado na Tabela 34. 99 TABELA 34 - Rendimento médio do pessoal empregado pelos frigoríficos, em MS, comparado com outros setores - 2000. Rendimento médio Frigoríficos Urbano Industrial Serviços Rural R$ 327 R$ 563 (1) R$ 797 (3) R$ 737 (3) R$ 398 (2) Fonte: PNAD/99, Conjuntura Econômica jan/2002 e questionários aplicados aos frigoríficos, 2001. (1) Rendimento de 1999 corrigido com base na variação do rendimento total nominal (Conjuntura Econômica). (2) Rendimento de 1999 corrigido com base na variação do salário rural (Conjuntura Econômica). (3) Rendimento médio no Brasil (Conjuntura Econômica). Com relação ao grau de escolaridade, verifica-se uma predominância de funcionários com apenas o 1º grau (65,5%), que somados aos que possuem o 2º grau (29,5%) atingem a 95% do total do quadro de funcionários, restando, assim, 5% com formação de nível superior, dentre os quais apenas 7% concluíram cursos de pósgraduação. Quanto à qualificação dos funcionários, tanto os operacionais quanto os administrativos, foram considerados bons pela maioria dos frigoríficos, 83% e 87%, respectivamente. A qualificação ótima para os operacionais ocorreu em apenas um frigorífico (4%) e em três (13%) para os administrativos, enquanto a classificação como regular só foi apontada para os funcionários operacionais, e em apenas três frigoríficos pesquisados (13%). Quanto às dificuldades técnicas ocorridas na retirada da pele bovina, o tópico seguinte apresenta algumas ponderações extraídas dos questionários aplicados. 4.3.5 DIFICULDADES TÉCNICAS NA RETIRADA DA PELE O processo de retirada da pele não tem merecido atenção especial por parte da maioria dos frigoríficos pesquisados. Dentre eles 39% realizam estudos de racionalização da retirada da pele, apenas 26% possuem o referido processo delineado em documento e somente 22% utilizam técnicas inovadoras de retirada da pele. A reduzida atenção demonstrada pelos frigoríficos à pele bovina, também pode ser verificada pela pouca importância dada ao controle de qualidade. Apenas um frigorífico assinalou manter contatos com os pecuaristas no sentido de conscientizá-los com referência à marcação dos animais de modo a não danificar a sua pele. Após o abate, o 100 controle de qualidade é efetuado apenas por 52% dos frigoríficos pesquisados, envolvendo a verificação de furos e/ou cortes ocorridos durante a retirada da pele. Questionados sobre as dificuldades técnicas encontradas no processo de retirada da pele, a causa mais freqüente, apontada nos depoimentos dos frigoríficos, referese à mão-de-obra, tanto em termos de qualificação como de rotatividade, vindo logo a seguir a qualidade da pele. A Figura 15 apresenta as principais causas e respectivas freqüências de ocorrência nos frigoríficos. Embora a maioria dos frigoríficos tenham enquadrado o pessoal operacional como bom, constata-se que, mesmo assim, há a necessidade de qualificação da mão-deobra e da adoção de políticas motivacionais para reduzir a rotatividade. Rotatividade da mão-de-obra 30% Qualificação da mão-de-obra 35% Procedimentos de trabalho 4% Qualidade da pele 22% Instalações e equipamentos inadequados 17% Figura 15 - Causas das dificuldades técnicas na retirada da pele bovina pelos frigoríficos, em MS – 2001. Fonte: Questionários aplicados aos frigoríficos, 2001. Uma dimensão da quantidade de pele bovina comercializada no Estado e a consideração de sua qualidade encontram-se no tópico seguinte. 101 4.3.6 COMERCIALIZAÇÃO DA PELE BOVINA Como resultado do abate obtêm-se as peles que são comercializadas pelos principais frigoríficos nos curtumes, basicamente em estado in natura ou frescas. Os dados obtidos na Delegacia Federal de Agricultura de Mato Grosso do Sul (2002), para o período de 1995 a 2001, apresentados na Tabela 35, indicam que em média, 97% da produção são de peles frescas e apenas 3% de peles salgadas TABELA 35 - Produção de peles bovinas, em MS – 1995 a 2001 (toneladas). Peles 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 Frescas 98.360 115.718 114.528 125.255 112.182 123.210 122.395 Salgadas 1.948 2.562 2.339 2.032 3.642 11.127 736 100.308 118.280 116.867 127.287 115.824 134.337 123.131 Total Fonte: DFA/MS, 2002. Quanto à comercialização das peles produzidas verifica-se no período de 1995 a 2001, conforme Tabelas 36 e 37, elaboradas com dados do IAGRO (2002), uma gradual redução nas vendas de peles frescas e salgadas para outros Estados, notadamente São Paulo e Paraná. Enquanto em 1995 as vendas externas de peles frescas representavam 80,2%, em 2001 (até outubro) reduziram-se para 13,5%, o mesmo acontecendo para as peles salgadas que de 90,3% foram reduzidas para 21,2%. TABELA 36 - Comercialização de peles bovinas frescas, em MS – 1995 a 2001 (toneladas). Estados de destino SP 1995 1996 1997 1998 1999 30.977 46.105 39.075 22.587 23.341 2.519 12.673 PR 33.602 24.139 29.328 40.356 21.289 2.214 1.694 RS 12.999 7.707 7.940 3.710 1.524 0 1.861 Outros 1.415 2.854 912 8.565 2.725 711 183 Subtotal 78.993 80.805 77.255 75.218 48.879 5.444 16.411 MS 19.480 34.523 35.002 47.501 59.012 112.075 97.571 Total 98.473 115.328 112.257 122.719 107.891 117.519 113.982 Fonte: DFA/MS, 2002. 2000 2001 102 Tal redução significa um aumento no processamento da pele pelos curtumes no Estado, incentivado pela alteração na legislação do Imposto Sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação - ICMS. Quando da compra do animal para o abate, constatou-se, nos depoimentos extraídos dos questionários, que a qualidade da pele não tem, basicamente, nenhuma influência no valor pago ao produtor, não sendo sequer mencionada durante o processo de aquisição com produtores rurais. Apenas um frigorífico assinalou considerar a qualidade da pele no valor de compra, mencionando-a no contrato de compra. Esse fato isolado é compreensível, uma vez que o grupo empresarial, ao qual pertence esse frigorífico, também possui curtume, para o qual é importante a qualidade da pele. TABELA 37 - Comercialização de peles bovinas salgadas em MS – 1995 a 2001 (toneladas). Estados de destino SP 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 218 17 611 1.206 3.343 9.303 730 PR 1.304 1.847 471 219 24 5 0 RS 219 355 309 94 84 0 Outros 15 735 1 2 0 Subtotal 1.756 2.219 2.126 1.520 3.453 9.308 1730 189 253 193 315 162 379 2.737 1.945 2.472 2.319 1.835 3.615 9.687 3.467 MS Total Fonte: DFA/MS, 2002. Na comercialização da pele com os curtumes, o item qualidade passa a ser considerado por apenas 52% dos frigoríficos, o que reflete, ainda, não ser dada à pele bovina a importância merecida, tendo em vista a gama de produtos sofisticados elaborados a partir dela e de relevantes valores econômicos. De acordo com os frigoríficos pesquisados, a pele foi comercializada em 2000 e 2001, em média, a R$ 1,63 o quilo ou a R$ 61,25 a pele, indicando um peso médio da pele em torno de 37,5 kg. Tomando-se como produção diária média 12.715 peles, o 103 faturamento diário com elas atingiu cerca de R$ 800 mil, o que representa R$ 17,9 milhões por mês ou R$ 215 milhões por ano. As opiniões dos frigoríficos quanto à política de expansão do setor são apresentadas a seguir. 4.3.7 POLÍTICA DE EXPANSÃO O produto principal dos frigoríficos é, sem dúvida alguma, a carne. Portanto, as decisões relativas a planos de expansão de abate dependem, fundamentalmente, dos fatores que envolvem a sua comercialização, o que torna o comércio de peles bovinas, em termos quantitativos, mera conseqüência do volume de abates estabelecido em função da carne. Pesquisados sobre planos de expansão da capacidade utilizada e/ou da capacidade instalada, constatou-se um desejo de aumento na quantidade de abates utilizada apenas em quatro pequenos frigoríficos, cujo número de cabeças abatidas por dia é inferior a 100. Visando a aumentar a capacidade instalada, apenas dois frigoríficos assinalaram possuir plano de expansão, sendo um com capacidade instalada de 600 abates por dia e o outro de 300. Portanto, pode-se concluir ser inexpressiva a expansão nas atividades desenvolvidas pelos frigoríficos no Estado. Pelos dados levantados verifica-se uma subutilização da capacidade instalada dos frigoríficos, que, devidamente aproveitada, elevaria a quantidade de abate utilizada em, aproximadamente, 45%. Constata-se, também, uma mudança muito freqüente de proprietários das instalações, provocando oscilações temporárias nas quantidades abatidas. As diferentes taxas de abate das microrregiões que compõem o Estado, demonstram potencialidades para futuras instalações de frigoríficos, bem como uma maior dependência do transporte dos animais para o abate nas microrregiões com reduzida capacidade de abate. Embora nos dois últimos anos tenha-se reduzido, sensivelmente, a saída de peles para outros estados, ela não se justifica, uma vez que a capacidade de processamento 104 das peles pelos curtumes no Estado é superior à quantidade total de peles produzidas, conforme demonstrado no item 4.4.5. Quanto à qualidade da pele constata-se uma ausência de atenção especial por parte dos frigoríficos, quer no próprio processo de retirada da pele, quer no processo de compra dos animais com os produtores rurais. No item seguinte aborda-se o processamento da pele bovina, enfocando todos os curtumes instalados no Estado, completando, assim, os segmentos que compõem a cadeia produtiva do couro em estudo neste trabalho. 4.4 O SEGMENTO PROCESSAMENTO DA PELE BOVINA Uma vez retirada a pele bovina nos abatedouros frigoríficos, ela é comercializada nos curtumes que se encarregarão do processo de curtimento, cujo objetivo, é preservar a pele da putefração e dar um acabamento de qualidade ao couro, no qual se confere a este sua apresentação e aspecto definitivos, de acordo com a finalidade desse produto. Inicia-se este segmento com a apresentação de um panorama histórico do mercado brasileiro de couros bovinos e do número de curtumes instalados no Brasil, por Estado, relacionado com o efetivo do rebanho bovino e com a quantidade de abate. 4.4.1 MERCADO BRASILEIRO DE COUROS BOVINOS Embora o Brasil possua o segundo maior rebanho bovino do mundo e se posiciona, também, como o terceiro maior abatedor mundial, ele não se mantém na mesma colocação no que tange à produção de couro. Enquanto em 1998 foram produzidos no País em torno de 33 milhões de couros, conforme dados do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil CICB, (2001), os Estados Unidos atingiram o nível de quase 40 milhões e a Itália, maior produtora mundial, produziu um pouco mais de 67 milhões de couro. 105 Na última década, conforme a Tabela 38, a produção de couro brasileiro passou de 22,5 milhões (produção em 1991) para 33,5 milhões (produção em 2001), significando um aumento de 48,9%. Entretanto, o consumo nacional, na industrialização de calçados e artefatos de couro, cresceu apenas 8,5%, isto é de 17,6 milhões de couros consumidos em 1991 para 19 milhões em 2001, tendo sido exportados, nos últimos cinco anos, 50% de sua produção. TABELA 38 - Mercado brasileiro de couros bovinos – 1991 a 2001 (milhões de couros). Couros Produção 1991 22,50 1992 23,00 1993 24,00 1994 26,00 1995 27,00 1996 28,50 1997 29,10 1998 30,20 1999 31,30 2000 32,50 2001 33,50 1,89 2,04 2,50 2,88 2,45 2,50 2,43 3,23 2,66 3,03 2,70 24,39 25,04 26,50 28,88 29,45 31,00 31,53 33,43 33,96 35,50 36,20 Salgado 0,01 0,01 0,05 0,07 0,75 0,94 0,31 0,11 0,27 Wet-blue 4,15 5,03 3,83 4,47 7,99 10,04 11,42 11,56 10,32 10,39 10,48 Semi-acabado 1,40 1,42 1,88 1,63 1,40 1,62 1,83 1,73 2,21 2,63 4,18 Acabado 1,25 1,70 1,76 1,61 1,50 1,92 1,99 1,58 2,03 1,70 2,26 Subtotal 6,81 8,16 7,52 7,78 11,64 14,52 15,82 15,58 14,87 14,83 17,19 17,58 16,88 18,98 21,10 17,81 16,48 15,71 17,85 19,09 20,70 19,01 Importações Disponibilidades Exportações Consumo nacional 0,58 0,71 Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002. Mesmo com produção excedente ao consumo interno, o Brasil tem importado couros de outros países, tendo em vista a necessidade de couros de melhor qualidade para a produção de determinados produtos. Amaral (1987, p. 32), em reportagem para a revista Globo Rural mostra que, desde 1987, já existia o problema de qualidade do couro nacional, exigindo a importação de couros melhores a fim de atender as indústrias de artefatos de couro, em produtos mais refinados. Em entrevista concedida à Revista do Couro, Silveira (1996, p. 28-32), pósgraduado em couro e mais de 40 anos ligados a industrialização do couro, afirma: “O grande problema no Brasil na indústria do couro é que se tem uma matéria-prima de baixa qualificação para ser usada em certos artigos finais.” As importações brasileiras de couro em dólares, computando-se o couro bovino e demais couros, sendo estes em torno de 14% (base 2001), têm como principal país de procedência a Argentina. Conforme Tabela 39, em 2001, as importações desse país atingiram mais da metade (52%) do total importado, que somadas às do Uruguai 106 representam quase 60% das importações realizadas. Incluindo as importações da Indonésia, Austrália e Bangladesh obtêm-se 77% do total, que se eleva para 84% ao incluir, também, Itália e Estados Unidos. TABELA 39- Procedência das importações brasileiras de couro*– 1997 a 2001 (US$ milhões). Países 1997 1998 1999 2000 2001 Argentina 93.7 85.1 87.5 92.7 96 52% Uruguai 10.6 5.4 14.3 12.5 13.3 7,2% - - 3 10.2 11.8 6,4% 8.8 7.5 5.6 7.8 10.9 5,9% 11.8 4.5 5.9 12 10 5,4% 5.8 4 3.7 8.5 7 3,8% Estados Unidos 11.3 6.9 3.4 6.1 6.4 3,5% Subtotal 142 113.4 123.4 149.8 155.4 84,2% Demais países 28.2 31.7 17.8 34.5 29.2 15,8% 170.2 145.1 1412 184.3 184.6 100% Indonésia Bangladesh Austrália Itália Total geral Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002, e AICSUL, 2002. (*) Incluem couro bovino e demais couros. Nas importações de couro bovino verifica-se uma maior incidência de couro semi-acabado, representando nos últimos cinco anos quase 70% das importações totais, quer em números de couros (67,5%), quer em valor (69,6%), de acordo com os dados constantes da Tabela 40. TABELA 40 - Importações brasileiras de couro bovino por estágio de acabamento 1997 a 2001. Quantidade em mil couros Valores em US$ milhões Estágio de 1998 1999 2000 2001 1997 1998 1999 2000 2001 acabamento 1997 24,5 18 29,2 79,5 3,3 0.6 0.4 0.2 1.8 0.1 Salgado Wet-blue Semi-acabado Acabado Total 573,7 475,1 627,5 30.8 23.3 16.0 44.1 32.3 2.080 1.675,1 1.728,9 94.2 92.2 102.1 98.9 109.4 214,3 340,2 13.3 11.0 10.5 15.0 17.3 3.241 2.663,6 3.033,6 2.699,9 138.9 126.9 128.8 159.8 159.1 1.502,1 2.519,2 336,5 2.436,8 228,7 340,1 939 340 Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002, e AICSUL, 2002. 107 Quanto às exportações de couro, incluindo, além do couro bovino, outros couros, porém em pequena escala (2% em 2001), conforme Tabela 41, a Itália desponta como a maior importadora de couro brasileiro com 33% das exportações em 2001, seguida de Hong Kong com 13% e Estados Unidos com 11%, países que juntos importam mais da metade das exportações brasileiras (57%). Incluindo Portugal e China esse percentual atinge 70%, elevando-se para 76% com a inclusão da Espanha e Alemanha. TABELA 41 - Destino das exportações brasileiras de couro*– 1997 a 2001 (US$ milhões). 1997 Países Itália 1998 1999 2000 2001 168.6 221.0 175.6 305.4 289.2 32,8% Hong Kong 91.0 82.4 78.1 102.5 112.3 12,8% Estados Unidos 58.9 62.4 69.6 74.9 96.3 10,9% Portugal 86.3 65.8 49.1 41.6 62.7 7,1% China 13.8 15.2 21.4 23.9 55.6 6,3% Espanha 61.4 46.5 33.7 29.0 37.0 4,2% Alemanha 15.1 14.5 16.7 19.2 21.1 2,4% Subtotal 495.1 507.8 444.2 596.5 674.2 76,5% Demais países 176.1 232.3 156.0 163.7 206.8 23,5% Total geral 671.2 740.1 600.2 760.2 881.0 100.% Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002, e AICSUL, 2002. * Incluem couro bovino e demais couros. A predominância do couro wet-blue, nas exportações, é sensível desde 1990, quando representava 58,7% do total de couros exportados. Desde então tem-se verificado um crescimento contínuo, atingindo em 2000 70% das exportações de couro, significando um aumento na década de cerca de 170%, contra 75% do couro semi-acabado e apenas 44% do couro acabado. A Tabela 42 apresenta as exportações de 1997 a 2001, por tipo de couro, em quantidade de couros e em dólares, reforçando a supremacia do wet-blue nas exportações. Nos últimos cinco anos, o couro wet-blue representou 69,2% do total de couros exportados, porém, apenas 53,3% do valor total em dólares, tendo em vista seu preço de venda ser inferior ao do couro semi-acabado e acabado. 108 TABELA 42 - Exportações brasileiras de couro bovino por estágio de acabamento – 1997 a 2001. Estágio de Quantidade em mil couros Valores em US$ milhões 1997 1998 1999 2000 2001 1997 1998 1999 2000 2001 Acabamento Salgado 584 Wet-blue 713 314 120 271 11.8 12.4 3.7 1.4 5.3 11.422 11.563 10.328 10.398 10.483 394.6 381.4 303 424.7 398.1 Semi – acabado 1.831 1.730 2.206 2.638 4.183 134.8 120.3 131.5 179.8 245.5 Acabado 1.993 1.586 2.032 1.702 2.263 177.9 140.4 147.3 138.7 214.2 15.830 15.592 14.880 14.858 17.200 719.1 654.5 585.5 744.6 863.1 Total Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002, e AICSUL, 2002. A Braspelco Indústria e Comércio Ltda., uma das maiores exportadoras de couro do Brasil, fundada em agosto de 1986, elaborou um trabalho denominado Programa de Modernização da Indústria de Curtumes do Brasil, no qual apresenta um diagnóstico referente às exportações brasileiras de couro. A Braspelco (2001, p.11) menciona no referido trabalho: Até a década de 80 no Brasil, a Indústria de curtume estava localizada na Região Sudeste e Sul, e as Indústrias se caracterizavam por serem ‘Integradas’, ou seja, produziam o couro a partir do estágio verde ou salgado, este último em sua grande maioria, e tinham como seu produto final o couro acabado. Em razão da perda de competitividade destes curtumes (relativos ao custo da salga e dos processos de curtimento destes couros, altos custos de fretes, etc.) fizeram com que a indústria de curtume segmentasse em 2 ou 3 fases, conforme demonstrado abaixo: • 1ª Fase – Curtume de Wet-Blue • 2ª Fase – Curtume de Crust/Semi- acabado • 3ª Fase – Curtume de Acabado Dentro deste cenário as Indústrias da 1ª fase – Curtume de Wet-Blue, rapidamente se desenvolveram e passaram a se instalarem próximos aos novos frigoríficos, possibilitando ao Brasil uma estrutura atual de transformação de couros verdes/salgados em wet-blue compatíveis com sua oferta. Assinala, ainda, no mesmo trabalho (2001, p.12), ao analisar a produção e exportação de couros desde 1980 até 1999: Nestes últimos anos o Brasil investiu de uma forma mais intensa em estruturas industriais para a transformação do couro in natura até o estágio wet-blue, sem em contrapartida aplicar a mesma intensidade de investimentos para a transformação do couro em estágios seguintes. Assim, tal situação exige ações urgentes, por parte da iniciativa privada e do governo, visando a substituir as exportações de couro wet-blue, para couros com maior valor agregado, propiciando assim geração de empregos e mais divisas para o país. Nesse 109 sentido, em 1998, o governo brasileiro e a iniciativa privada, conforme assinala a Braspelco (2001), criaram o “Programa Brasileiro de Incremento às Exportações”, com o objetivo de, em 2002, exportar US$ 100 bilhões. Em termos de número de estabelecimentos curtidores, conforme Tabela 43, verifica-se, desde 1986, uma redução gradual, que em 1999, relativa a aquele ano, atingiu 33,7%, isto é, um terço dos estabelecimentos foi desativado. TABELA 43 - Número de estabelecimentos curtidores por estado, no Brasil – 1986, 1990, 1992, 1994, 1996, 1998 e 1999. ESTADOS 1986 1990 1992 1994 1996 1998 1999 Rio Grande do Sul 167 153 140 163 135 120 126 33,8% São Paulo 125 107 95 104 99 76 78 20,9% Minas Gerais 86 78 73 47 51 47 43 11,5% Paraná 44 41 37 26 28 28 27 7,2% Goiás 12 10 10 13 17 20 19 5,1% Santa Catarina 23 21 22 13 13 9 12 3,2% 5 7 2 6 9 7 11 2,9% 11 11 5 8 8 8 9 2,4% 477 431 390 388 364 324 334 89,5% 86 77 66 47 39 39 39 10,5% 563 508 456 435 403 363 373 100% Mato Grosso do Sul Ceará Subtotal Outros Estados Brasil Fonte: Guia Brasileiro do Couro 2000 e 2001, 2001 e 2002. As regiões Sul e Sudeste concentram, base 1999, quase 80% do total de estabelecimentos, sendo 44,2% na primeira região e 34% na segunda, seguidas da região Centro-Oeste com 10,5%, totalizando essas regiões quase 90% do total. Comparando-se os estabelecimentos curtidores instalados nos Estados com o efetivo do rebanho e o abate anual verifica-se, com base nos dados da Tabela 44, que MS, a exemplo do que ocorre com a taxa de abate, apresenta índices bem reduzidos, incompatíveis tanto com o seu efetivo de rebanho bovino como com o abate realizado. Proporcionalmente, o Estado do Rio Grande do Sul possui 18,4 vezes mais curtumes que Mato Grosso do Sul, com relação ao efetivo do rebanho bovino, e 14,1 vezes mais com relação ao abate anual. 110 TABELA 44 - Relação do número de estabelecimentos curtidores com o efetivo do rebanho bovino e abate anual, no Brasil – 1999. Estados Rebanho (em milhões) Cabeças Ranking Abate (em milhões) Cabeças Taxas(%) Nº de Curtumes Nº curtumes em relação ao Rebanho Abate Rio Grande do Sul 13,7 5º 2,7 20,4 126 9,2 46,7 São Paulo 13,1 6º 4,5 37,5 78 5,9 17,3 Minas Gerais 20,1 2º 2,9 15,0 43 2,1 14,8 Paraná 9,5 7º 2,3 24,5 27 2,8 11,7 Goiás 18,3 3º 3,0 18,5 19 1,0 6,3 3,0 13º 0,8 25,6 12 4,0 15,0 Mato Grosso do Sul 21,6 1º 3,3 16,4 11 0,5 3,3 Mato Grosso 17,2 4º 2,5 16,3 9 0,5 3,6 2,2 14º 0,6 25,5 9 4,1 15,0 Santa Catarina Ceará Subtotal Outros BRASIL 118,7 22,6 334 2,8 14,8 45,9 8,4 39 0,8 4,6 164,6 31,0 373 2,3 12,0 19,7 Fonte: ANUALPEC, 2001, IAGRO, 2002, DFA/MS, 2002 e IBGE, 1999 e 2000. Guia Brasileiro do Couro 2000, 2001. Os índices representativos das relações entre a quantidade de curtumes e o efetivo do rebanho e o abate anual foram calculados dividindo-se a primeira pela quantidade de cabeças em milhões, a fim de reduzir o número de casas decimais. Eles se destinam a permitir uma comparação, entre os Estados e com a média do Brasil, da proporcionalidade existente de curtumes em relação ao efetivo do rebanho bovino e ao abate mundial realizado. Atualmente, o MS possui dez curtumes instalados, cujas localizações e capacidades de processamento da pele são apresentados a seguir. 4.4.2 CURTUMES INSTALADOS EM MATO GROSSO DO SUL Conforme informações do SINDICOURO/MS, 2000, e questionários aplicados, o processamento do couro em MS se realiza, até o estágio em que resulta o wetblue, por meio de dez curtumes relacionados na Tabela 45, destacando-se os municípios onde estão instalados e as respectivas capacidades diárias. 111 TABELA 45 - Curtumes instalados em MS – 2001. Nº Razão Social 1 Bertin Ltda. Município Capacidade diária (couro) Instalada Utilizada (2001) Amambaí 2 Qualidade Com. Imp. e Exportação Ltda. Campo Grande 1.000 800 * * 3 Induspan Ind. e Com. de Couros Ltda. Campo Grande 2.000 2.000 4 Couro Azul Comércio de Couro Ltda. Campo Grande 3.000 3.000 5 Indubrasil Com. e Ind. De Couros Ltda. Campo Grande * * 6 Bertin Ltda. Dourados 1.300 800 7 Magic Acabamento de Couro Ltda. Iguatemi 1.100 1.100 8 Independência Ind. e Com. Ltda. Nova Andradina 4.000 2.100 9 Curtume Monte Aprazível Ltda. Paranaíba 3.000 1.850 Rio Brilhante 1.500 1.100 16.900 12.750 10 Bertin Ltda. (antigo Fridolino Ritter) TOTAL Fonte: SINDICOURO/MS, 2000 e questionários aplicados aos curtumes, 2001. (*) Utiliza as instalações de outros curtumes Para melhor visualização da localização e distribuição desses curtumes, foi elaborado o Mapa Geográfico constante da Figura 16, no qual se pode constatar a grande concentração em Campo Grande, MS e na região sul do Estado. BERTIN Figura 16 - Curtumes instalados em MS – 2001. Fonte: SINDCOURO/MS, 2000 e questionários aplicados aos curtumes, 2001 112 O confronto da capacidade utilizada com a instalada aponta para uma subutilização de, cerca de 25%, o que corresponde, quantitativamente, a 4.150 peles por dia, ou 107.400 peles por mês, ou, ainda, 1.288.800 peles por ano. Considerando as microrregiões do Estado e os respectivos rebanhos e capacidade de abate utilizada, já associados na Tabela 32, foi elaborada a Tabela 46 incluindo nas correspondentes microrregiões a capacidade por dia de processamento da pele bovina. TABELA 46 - Relação da capacidade de processamento com o efetivo de rebanho e capacidade de abate, por microrregião, em MS – 2001. Capacidade diária Utilizada Rebanho Nº Microrregião Cabeças Ranking Abate Taxa de desfrute Processamento mensal Abate Processamento em relação ao Rebanho Abate (1) (2) - 1 Baixo Pantanal 2.116.520 5º 65 0 0,9% 2 Aquidauana 1.356.039 9º 460 0 9,8% - - 3 Alto Raquari 2.571.691 3º 565 0 6,3% - - 4 Campo Grande 2.093.678 6º 2.830 5.000 38,9% 86,0% 5 Cassilândia 873.355 11º 550 0 18,1% - 6 Paranaíba 1.537.550 8º 860 1.850 16,1% 31,8% 7 Três Lagoas 3.851.369 1º 867 0 6,5% 8 Nova Andradina 1.191.380 10º 2.150 2.100 52,0% 52,9% 9 Bodoquena 1.652.419 7º 620 0 10,8% - 10 Dourados 2.687.886 2º 1.640 2.700 17,6% 30,1% 170% 11 Iguatemi 2.273.521 4º 2.108 1.100 26,7% 12,8% 50% 22.205.408 - 12.715 12.750 16,5% 18,1% 110% TOTAL - 220% 200% 100% - Fonte: IBGE (2000), DFA/MS, 2001, IAGRO, 2002 e questionários aplicados aos curtumes, 2001. (1) Com base no processamento anual. (2) Com base mensal. Utilizando-se, para o processamento da pele bovina, do mesmo conceito da taxa de desfrute considerada para o abate, verifica-se um desequilíbrio entre o rebanho existente, a quantidade abatida e a quantidade processada. De um lado tem-se uma grande concentração da capacidade utilizada para o processamento da pele bovina nas microrregiões Campo Grande, Paranaíba e Dourados, e de outro, insuficiência na microrregião Iguatemi e inexistência total nas demais microrregiões, exceto em Nova 113 Andradina que apresenta uma situação equilibrada entre o nível de abate e o de processamento de pele bovina. Em Mato Grosso do Sul, conforme já salientado, o processamento da pele não ocorre até o estágio final. O próximo tópico aborda o estágio de acabamento atingido no Estado. 4.4.3 ESTÁGIO DE ACABAMENTO ATINGIDO EM MATO GROSSO DO SUL O processamento da pele bovina no Estado se realiza até a obtenção do couro wet-blue, considerado como o primeiro estágio na transformação da pele em couro, utilizando-se exclusivamente sais de cromo. A transformação do wet-blue em couro acabado, passando pelo estágio intermediário do couro semi-acabado (crust), resultando o couro como matéria-prima para a industrialização de inúmeros produtos, ocorre fora do Estado. As etapas realizadas pelos curtumes se limitam as denominadas ribeira e curtimento. Na primeira etapa são executadas as operações de estocagem e remolho, apenas nos curtumes que processam peles salgadas (três curtumes) e nos que, por motivos comerciais, apresentam um prazo médio de estocagem do wet-blue relativamente longo (dois curtumes). As demais operações de descarne, depilação e caleiro e divisão ocorrem em todos os curtumes. Na etapa curtimento, todos os curtumes executam as operações de descalcificação e purga, píquel e curtimento, quando se origina o couro wet-blue. A operação de rebaixamento, também incluída pelo SEBRAE (1994) na etapa curtimento, não se realiza, uma vez que a comercialização do couro se processa no estágio wet-blue, cabendo as demais operações aos curtumes que atingem os estágios semi-acabados e/ou acabados. Para a realização dessas operações, os curtumes utilizam-se, basicamente, de máquinas de descarnar (descarnadeiras), máquinas de dividir (divisoras), fulões e máquinas de enxugar (enxugadeiras). 114 Conforme dados extraídos dos questionários são utilizadOs para a execução das operações elencadas: 22 máquinas de descarnar, dezoito com idades entre 2 e 5 anos e quatro com idades de 10 anos; catorze máquinas de dividir, dez com idades bem diversificadas entre 2 e 9 anos, duas com 11 anos e duas com 17 anos; cento e dez fulões, sendo 90% com idades inferiores a 6 anos; e sete enxugadeiras, três com mais de 10 anos de idade e quatro com 3 anos. Tendo em vista a idade avançada de algumas máquinas e equipamentos, eles foram citados, com a inadequação das instalações, por três curtumes como dificuldade técnica para o processamento da pele. A maior dificuldade eleita, porém, refere-se à mãode-obra em termos de qualificação e de rotatividade, apontada por quatro curtumes. A pele bovina, embora não seja de boa qualidade, não constitui dificuldade técnica para o processamento, interferindo, apenas, negativamente no valor de comercialização do couro processado. O efetivo de pessoas empregadas diretamente pelos curtumes, a relação com a capacidade de processamento e respectivo rendimento médio comparado com outros são abordados no tópico seguinte. 4.4.4 PESSOAL DIRETO EMPREGADO Os curtumes em Mato Grosso do Sul empregam um total de 1.073 funcionários, correspondendo a uma média de 119 funcionários por curtume, ou 0,073 funcionário por pele processada por dia, conforme dados da Tabela 47. TABELA 47 - Pessoal direto empregado pelos curtumes e relação com a capacidade diária de processamento, em MS – 2001. Curtumes Quantidade de curtumes Quantidade de funcionários Processa wet-blue 8* 913 114 12.750 0,072 Divide wet-blue 1 160 160 2.000 0,080 Total 9 1.073 119 14.750 0,073 Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. (*) apenas os curtumes que processam o Wet-blue Funcionários por curtume Capacidade diária de processamento Funcionário por pele processada/dia 115 Considerando a utilização da capacidade instalada de abate dos frigoríficos no Estado de 18.420 cabeças por dia equivalentes a 16.950 peles por dia nos curtumes, e a quantidade processada em Wet-blue de 12.750, o processamento do excedente de 4.200 peles proporcionaria, aproximadamente, 300 novos empregos. Para as 4.200 peles por dia que seriam adicionadas no processamento pelos curtumes, estes já dispõem de capacidade instalada e não utilizada de 4.150 peles. O salário médio em 2000, apurado nos curtumes, era de R$ 370,00, superior aos dos frigoríficos instalados no Estado em 13%, porém, inferior aos verificados na região urbana, especificamente, na indústria e em serviços, e ao dos trabalhadores rurais sul-matogrossenses com rendimentos, conforme pode ser verificado na Tabela 48. TABELA 48 - Rendimento médio do pessoal empregado pelos curtumes, em MS, comparado com outros setores - 2000. Discriminação Rendimento médio Curtumes R$ 370,00 Frigoríficos em MS R$ 327,00 Rural em Ms com rendimentos R$ 398,00 Urbano R$ 563,00 Industrial R$ 797,00 Serviços R $737,00 Fonte: IBGE-PNAD, 1999, Conjuntura Econômica, jan.2002 e questionários aplicados aos curtumes, 2001. Com relação ao grau de escolaridade, verifica-se uma grande predominância de funcionários com apenas o 1º grau (83%), se somados aos que possuem o 2º grau (15%) atingem a 98% do total de funcionários, restando, assim, apenas 2% com formação de nível superior, dos quais nenhum possui pós-graduação. Quanto à qualificação dos funcionários, os operacionais foram considerados muito bons por um curtume; bons por quatro curtumes e regulares por cinco curtumes, enquanto os administrativos foram considerados muito bons por três curtumes; bom por seis curtumes e regular por apenas um curtume. Uma dimensão quantitativa das peles bovinas processadas no Estado, destacando-se a origem e estado delas e respectivos valores de aquisição, compõe o tópico seguinte. 116 4.4.5 PELES BOVINAS UTILIZADAS NO PROCESSAMENTO EM MATO GROSSO DO SUL Os curtumes instalados em MS processam, em média, 12.750 peles por dia, equivalentes a 326.050 peles mensais e 3.912.600 peles anuais. Do total processado, conforme Tabela 49, 77% são originários do abate efetuado no Estado, e 23% são procedentes de outros Estados, basicamente de São Paulo. Quanto ao estado das peles, 89% do processamento utiliza peles in natura, e apenas, 11% utilizam peles salgadas. TABELA 49 - Origem e estado das peles bovinas processadas em MS – 2001. Quantidade de peles por dia Quantidade de peles por mês Origem In natura Salgada Total In natura Salgada Total MS 9.207 404 9.611 239.700 10.600 250.300 Outros Estados 2.226 913 3.139 51.150 24.600 75.750 Total 11.433 1.317 12.750 290.850 35.200 326.050 Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. Confrontando-se a produção de peles bovinas no Estado com a quantidade utilizada no processamento mensal, verifica-se um déficit em torno de 47.350 peles (14,5% da necessidade), equivalentes a 568.200 peles por ano. Como cerca de 10% da produção de peles, porém, são comercializadas para outros Estados, esse déficit aumenta para 75.750 peles mensais (23,2% da necessidade), ou 909.000 peles anuais, tornando necessária a aquisição delas fora do Estado. Considerando a capacidade instalada dos frigoríficos no Estado, a produção mensal de peles poderia atingir cerca de 423.660 (18.420 x 23 dias) peles, o suficiente para atender a demanda interna de 422.500 (16.900x25 dias) peles processadas pelos curtumes, caso utilizassem a capacidade instalada. Ocorrendo a comercialização de peles para outros Estados, cerca de 10%, restariam 381.294 peles, insuficientes em 41.206 peles para atender o processamento mensal. As peles in natura comercializadas em MS, pesam em média 38,4 kg, podendo variar o peso entre 31,5 kg e 42 kg, porém, na maioria dos curtumes, a oscilação está entre 40 e 42 kg. O preço médio de compra praticado está em torno de R$ 1,68 o quilo, equivalente por pele a R$ 64,55. As peles salgadas pesam em média 25,4 kg, e são adquiridas pelo preço médio de R$ 1,75 o quilo, equivalente por pele a R$ 44,50. 117 Em termos financeiros, a aquisição de peles pelos curtumes atinge R$ 20,3 milhões mensais e R$ 224,1 milhões anuais, cuja posição por origem e estado da pele está detalhada na Tabela 50. TABELA 50 - Composição do valor das compras das peles bovinas processadas em MS – 2001. Compras mensais (R$ 1.000) In natura Salgada Total 15.472 472 15.944 Origem MS Outros Estados Total Compras no ano (R$ 1.000) In natura Salgada Total 185.664 5.664 191.328 3.302 1.094 4.396 39.624 13.128 52.752 18.774 1.566 20.340 225.288 18.792 244.080 Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. O tópico a seguir apresenta o problema dos defeitos comumente encontrados nas peles bovinas, ressaltando as causas. 4.4.6 CAUSAS DOS DEFEITOS DA PELE BOVINA A má qualidade do couro brasileiro é decorrente de uma série de problemas, os quais se iniciam no campo, durante a produção dos animais, e se complementam no transporte e no abate, quando se processa a retirada da pele. O boletim de Defesa Sanitária Animal, da Secretaria de Defesa Sanitária Animal, órgão da Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária do Ministério de Agricultura (1984, p.14), já fazia referência aos problemas do setor coureiro ao mencionar: Apesar do bom desempenho, o setor ressente-se com o fato de as peles verdes apresentarem, na sua totalidade, marcas diversas de berne, miíases, carrapatos, arame farpado, fogo e também defeitos provenientes de métodos inadequados de abate, esfola e conservação. Corroborando com a existência dos problemas, o referido boletim (1984, p.14) cita afirmação efetuada por Lehman4: Cerca de 70% do couro curtido aqui no Brasil, é defeituoso, devido aos carrapatos, bernes, arames farpados e marcas de fogo. Isto faz com que nossa matéria prima não consiga competir no mercado externo, por apresentar muitos defeitos. 4 LEHMAN. D. Couro. Jornal do Comércio de São Leopoldo – 18.04.83. Associação Brasileira dos Químicos e Técnicos da Indústria do Couro. 118 Conseqüentemente, os couros processados apresentam uma série de defeitos, cujas causas, basicamente, são as elencadas na Tabela 51, na qual se encontram os percentuais de incidência de cada um no total de peles processadas no Estado, conforme dados obtidos nos curtumes. TABELA 51 - Causas dos defeitos das peles bovinas processadas em MS – 2001. Causas Incidência Em Mato Grosso do Sul Sistema FIERGS (1995) Embrapa -São Carlos/SP (1983) Bernes Carrapatos 13% (1) 70% Mosca Furos e Marcas Arame Mádos Transporte raias de de farpado conservação chifres facas fogo 74% 70% 45% (1) 70% (1) 38% 33% 9% 78% 1% * 70% 10% 90% * 47% * 27% (2) * 27% (2) 89% 90% * No grupão 11% 33% * 60% * 79% 57% 13% Nas extremidades 14% 60% * 37% * 19% 31% 5% Pesquisa UFPB (1995) Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, (2001); SENAI/RS,(1995); EMBRAPA - São Carlos,(1983); Furlanetto, 1996. (*) Não há referências (1) Não especifica individualmente cada um (2) Engloba as duas causas Lidera o ranking dos defeitos, os provocados pelas marcas de fogo, que apresentam um elevado percentual de incidência, de quase 80%. Resgatando os dados do item 4.1.6.2., esse fato já era esperado, uma vez que 98% dos produtores pesquisados utilizam o ferro candente como sistema de identificação, dos quais 70,9% só utilizam esse sistema e apenas 14,8% o utilizam em local apropriado. Uma forma de eliminar esse problema está na utilização do programa de rastreabilidade – Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina (Sisbov) – lançado pelo Ministério da Agricultura, tendo em vista atender as novas exigências do mercado internacional da carne, após a ocorrência de casos da “vaca louca” na Europa (PROGRAMA..., 2002, p.4). De acordo com estudos realizados pela Embrapa, o chip eletrônico, colocado no rúmen do animal adulto ou na prega umbilical do bezerro, foi escolhido como melhor método de rastreamento, no qual são registrados o histórico de vida e o manejo alimentar, reprodutivo e sanitário de cada animal (CONFIRA ..., 2002, p.4). Além disso, a instalação do chip é simples, resiste a impactos, e após o abate do animal pode ser reaproveitado. 119 A polêmica decorrente desse novo sistema, como não poderia deixar de acontecer, está no seu custo. Segundo contrato de parceria entre a Embrapa e uma empresa americana, o preço seria de US$ 2.85 para bezerros e US$ 3.20 para o animal adulto. Entretanto, é bom refletir sobre os benefícios oferecidos pelo sistema, inclusive com relação à qualidade do couro, cujo maior problema estaria sendo eliminado. À medida que a utilização do chip aumentar, a produção em mais escala propiciará menores preços. Em segundo lugar no ranking dos defeitos, com 74% de incidência, desponta a ação dos carrapatos, mesmo tendo sido apurado com os produtores o combate por meio de vacinas, vermífugos e pulverização de medicamentos. Em algumas regiões predomina também a ação da mosca-dos-chifres, cuja incidência atinge a 90% das peles. Sobre esse problema, mais estudos no campo da medicina veterinária seriam necessários para a sua resolução. A substituição do arame farpado nas cercas por arame liso e/ou cerca elétrica constitui um avanço no controle da qualidade da pele. O fato de 38% das peles apresentarem defeitos ocasionados pelo arame farpado, embora longe do ideal, é conseqüência da substituição mencionada, constatada com os produtores rurais entrevistados (item 4.1.6.3.) Quanto aos defeitos provocados pelo transporte, verificados em cerca de 30% das peles, os produtores revelam a necessidade de uma maior conscientização, não só das transportadoras de gado, mas também dos próprios produtores rurais. Os dados obtidos nas transportadoras pesquisadas (item 4.2), mostram deficiências quanto ao revestimento das carrocerias e nos procedimentos adotados no embarque, durante o transporte e no desembarque. Deve se registrar que, basicamente, não têm ocorrido problemas de má conservação das peles. Somente um curtume registrou a sua ocorrência, com incidência em torno de apenas 30% do total das peles processadas. 120 A comercialização do couro processado é efetuada para fora do Estado, em quantidades e preços abordados a seguir, juntamente com a classificação de qualidade lhe atribuída. 4.4.7 COMERCIALIZAÇÃO DO COURO A produção de couro wet-blue no Estado propicia para os curtumes, conforme Tabela 52, um faturamento bruto mensal em torno de R$ 33 milhões, equivalentes a quase R$ 400 milhões por ano, dos quais 24% são decorrentes de exportações, principalmente para a Itália, 30% de transferências às matrizes localizadas em São Paulo e Rio Grande do Sul e 46% de vendas diretas para outros estados, basicamente São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nesses estados a maior parte é utilizada no acabamento do couro para fins de industrialização de calçados, estofamentos e artefatos de couro em geral, e o restante exportado. TABELA 52 - Destino da comercialização do couro wet-blue processado em MS – 2001. Destino Exportação Matrizes Mensal Quantidade Valor (R$1.000) 78.500 R$ 8.002 No ano Quantidade Valor (R$1.000) 942.000 R$ 96.024 95.300 R$ 9.918 1.143.600 R$ 119.016 Outros Estados 152.250 R$ 15.319 1.827.000 R$ 183.828 TOTAL 326.050 R$ 33.239 3.912.600 R$ 398.868 Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. A média de preços de vendas praticados foi de R$ 23,30 por metro quadrado, oscilando entre R$ 22,00 e R$ 27,66. Considerando que, em média, o couro tem 4,375 m2, variando entre 3,80 m2 e 4,70 m2, o preço de venda por unidade foi, em média, de R$ 101,94, sendo o menor preço de R$ 70,00 e o maior de R$ 130,00. Os preços praticados dependem da classificação atribuída ao couro pelos compradores. A classificação utilizada apresenta oito categorias: a primeira é a de melhor qualidade, e as demais, com qualidade decrescente. A oitava categoria é considerada no mercado como refugo, sendo atribuída a ela o menor preço de comercialização. 121 Conforme dados obtidos nos curtumes, os preços médios de venda praticados, em 2001, para cada categoria de couro wet-blue ,estão apresentados na Tabela 53. Não foram fornecidos os preços para as três primeiras categorias, em função da qualidade do couro processado não atingir aos padrões desejados para elas. Os mencionados na tabela foram fornecidos pelo Senhor Carlos Obregon, da Braspelco Indústria e Comércio Ltda, em comunicação pessoal. TABELA 53 - Preços de venda do couro wet-blue por categoria, em MS – 2001. Preço de venda Categorias 1ª (*) 2ª (*) 3ª (*) 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 9.00 7.00 Em US$ por m2 16.15 16.15 15.00 13.00 11.30 10.00 Em US$ por couro 70.65 70.65 65.62 56.87 49.44 43.75 39.37 30.62 Em R$ por m2 37,95 37,95 35,25 30,55 26,55 23,50 21,15 16,45 Em R$ por couro 166,00 166,00 154,20 133,70 116,20 102,80 92,50 72,00 Fonte: Braspelco , 2002 (*) e questionários aplicados aos curtumes, 2001. O couro wet-blue processado no Estado apresenta uma classificação diversificada, conforme Tabela 54, variando entre a quarta e oitava categorias, em função da qualidade lhe atribuída, com predominância das quinta, sexta e sétima categorias, que somadas representam 86,4% da produção total. TABELA 54 - Classificação do couro wet-blue de MS, comparada com a do Brasil – 2001 (%). Local Mato Grosso do Sul Brasil Categorias 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª 7,2 24,4 36,5 25,5 6,4 15,0 25,0 35,0 15,0 10,0 Fonte: Braspelco, 2002 e questionários aplicados aos curtumes, 2001. Comparativamente à classificação do Brasil, MS, embora possua um menor percentual de oitava categoria, apresenta uma situação desfavorável na quarta categoria (7,8% a menos) e na sétima categoria (10,5% a mais). A associação dos preços de venda por categoria com os percentuais de classificação, obtidos nessas categorias, resulta num preço médio, em 2001, do metro 122 quadrado de US$ 10 (R$ 23,50) e do couro de US$ 44, ( R$ 103,40), valores praticamente iguais aos obtidos pelo processamento dos dados fornecidos pelos curtumes nos questionários aplicados (R$ 23,30 e R$ 102,00). Nos Estados Unidos, conforme a Braspelco (2002), 70% dos couros se concentram entre a primeira e terceira categorias e 30% entre a quarta e quinta. Tomandose como base o padrão americano, MS deixa de agregar diariamente, em valores arredondados, R$ 600.000, equivalentes a R$ 15 milhões mensais ou, a R$ 180 milhões por ano, assim calculados conforme Tabela 55. TABELA 55 - Cálculo do custo de oportunidade decorrente da comercialização do couro wet-blue, em MS – 2001. Discriminação Em US$ Em R$ Preço médio de venda por m2 das 1ª, 2ª e 3ª categorias (A) 15.50 36,60 Preço médio de venda por m2 das 4ª, e 5ª categorias (B) 12.15 28,55 Preço médio de vendas geral por m2 (A x 70% + B x 30% = C) 14.50 34,06 9.92 23,30 4.58 10,76 Diferença entre os preços médios por couro (4,375 m2 x E = F) 20.03 47,06 Diferença entre os valores de venda diária (12.750 couros x F) 255,380 600.000 2 Preço médio de vendas geral por m praticados em 2001 (D) 2 Diferença entre os preços médios por m (C-D = E) Fonte: BRASPELCO, 2002 e questionários aplicados aos curtumes, 2001. Tais valores expressivos justificam estudos direcionados ao desenvolvimento efetivo de um programa visando a melhoria da qualidade do couro, com a participação concreta de agentes governamentais e de representantes dos segmentos envolvidos na cadeia produtiva do couro: produtores rurais, transportadoras de gado bovino, frigoríficos e curtumes, com o apoio das instituições de pesquisa e desenvolvimento tecnológico. O tópico seguinte apresenta os subprodutos resultantes do processamento da pele bovina com as respectivas quantidades e valores de comercialização, considerando suas utilizações na produção de diversos produtos. 4.4.8 SUBPRODUTOS DECORRENTES DO PROCESSAMENTO DA PELE As peles, ao serem processadas nos curtumes, propiciam alguns subprodutos com valor comercial por causa da sua utilização na fabricação de diversos produtos.Na 123 operação de descarne são retirados restos de carne e gorduras aderentes à pele, originando o sebo, utilizado para a fabricação de sabão, graxa, estearina e oleína. Em seguida, processam-se os recortes para remover o beiço, rabo, mamas e outros, originando-se as aparas, que são, basicamente, utilizadas para a produção de gelatina. Na operação de dividir, em que a pele é separada em duas camadas, a camada inferior obtida é denominada raspa. Em estado in natura a raspa é utilizada na fabricação de gelatina, ração animal e dog toy, e, após o curtimento, para a fabricação de camurção. Em MS, o total de subprodutos obtidos mensalmente, em função do processamento da pele, atinge quase 3.000 toneladas, conforme dados obtidos nos curtumes, sendo 1.103,5 toneladas de sebo, 1.083,5 toneladas de aparas e 684,5 toneladas de raspas. Essas quantidades e suas respectivas utilizações na fabricação por produto estão apresentadas na Tabela 56. TABELA 56 - Subprodutos do processamento da pela bovina, em MS – 2001. Utilização na Subprodutos (Em Toneladas Mensais) fabricação de Sebo Aparas Raspa Total Sabão 638,5 - - 638,5 (22%) Graxa 420,0 - - 420,0 (15%) Estearina 23,0 - - 23,0 (1%) Oleína 22,0 - - 22,0 (1%) Gelatina - 1.083,5 162,5 1.246,0 (43%) Ração animal - - 110,0 110,0 (4%) Dog toy - - 186,0 186,0 (6%) Camurção - - 226,0 226,0 (8%) 2.871,5 (100%) Total 1.103,5 (38%) 1.083,5 (38%) 684,5 (24%) Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. Relacionando-se as quantidades dos subprodutos com a quantidade de peles mensalmente processadas verifica-se a obtenção, em média, por pele de 3,4 kg de sebo, 3,3 kg de aparas e 2 kg de raspas, totalizando 8,7 kg. Conforme a Associação Brasileira de Químicos e Técnicos da Indústria do Couro – ABQTIC (1993, p. 12) o índice de quebra de aparas em couros frescos era de 5,6% o que corresponderia em MS a 2,15 kg (38,4 kg x 5,6%), portanto 1,15 kg (35%) a menos do que realmente tem ocorrido. 124 Silva et. al. (1993), em trabalho efetuado nos frigoríficos e curtumes em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, observou um percentual de aparas entre 7% e 10%, isto é, 8,5% em média, equivalentes a 3,3 kg, compatível, com o obtido em MS. Com relação ao sebo dependendo do processo utilizado, extraía-se, em média, 1,6 kg ou 3 kg por pele, quantidades inferiores aos 3,4 kg obtidos nesta pesquisa. A comercialização desses subprodutos é toda realizada para fora do Estado, basicamente, para São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Gera por mês um faturamento em torno de R$ 842 mil, equivalentes a R$ 10 milhões anuais, cuja composição por subproduto, respectiva utilização e o correspondente preço médio por kilo estão demonstradas na Tabela 57. TABELA 57 Utilização na fabricação de Faturamento mensal dos subprodutos, de acordo com a finalidade, em MS – 2001. Sebo Aparas Raspa Total Preço médio por kg. Sabão 99,1 - - 99,1 (12%) 0,16 Graxa 316,0 - - 316,0 (38%) 0,75 Estearina 8,0 - - 8,0 (1%) 0,35 Oleína 39,6 - - 39,6 (5%) 1,80 Gelatina - 140,7 35,2 175,9 (21%) 0,14 Ração animal - - 21,1 21,1 (2%) 0,19 Dog toy - - 27,6 27,6 (3%) 0,15 Camurção - - 155,0 155,0 (18%) 0,69 462,7 (55%) 140,7 (17%) 238,9 (28%) 842,3 (100%) 0,29 Total Subprodutos (Em R$ 1.000) Fonte: Questionários aplicados aos curtumes, 2001. Os subprodutos representam prejuízo para os curtumes, uma vez que, enquanto o preço médio de aquisição da pele fresca oscilou em torno de R$ 1,68 o quilo, o das aparas foi de R$ 0,13, do sebo R$ 0,42 e da raspa R $0,35. Assim sendo, a diferença entre o valor despendido na compra e o obtido na venda atinge, aproximadamente, um prejuízo de R$ 4 milhões por mês, assim calculados: Valor de compra = 326.050 peles x 8,7 kg x R$ 1,68 = R$ 4.765.574 Prejuízo = R$4.765.574 – R$ 842.300 (Tabela 57) = R$ 3.923.244 125 Pelo exposto neste item, constata-se que MS, a par de possuir o maior rebanho bovino do Brasil, e se colocar como o segundo em abate, ocupa apenas a sétima posição em números de estabelecimentos curtidores, com base nos últimos dados publicados. Corroborando com essa situação, o Estado apresenta indicadores, bem inferiores a outros Estados, da relação do número de estabelecimentos com o rebanho existente, e com a quantidade abatida. A capacidade instalada dos curtumes não está sendo totalmente utilizada, podendo ser alavancada em 33%. A distribuição geográfica deles apontam para uma concentração da produção em apenas cinco microrregiões, das quais quatro processam 93% da produção total. O processamento no Estado se realiza somente até o estágio wet-blue, cuja comercialização atinge em média a cifra de R$ 33 milhões por mês, equivalente a cerca de R$ 400 milhões anuais, valores esses que podem variar em função da qualidade atribuída ao couro. Em função dos problemas de qualidade apresentados, os preços médios praticados estão na ordem de R$ 102 por couro, sinalizando para uma classificação média em torno da sexta categoria. Dentre as principais causas apontadas dessa qualidade inferior, destacam-se as marcas de fogo e a ação dos ectosparasitos, em especial do carrapato. Os subprodutos decorrentes do processamento da pele, de aproximadamente 3.000 toneladas, são comercializados para fora do Estado, deixando de ser utilizados no próprio Estado para a fabricação de diversos produtos. Finalizando o presente trabalho, o próximo capítulo apresenta as conclusões decorrentes dos levantamentos efetuados e respectivos resultados relativos à cadeia produtiva do couro em MS. 126 CONCLUSÃO As ilações extraídas da análise dos dados coletados, por meio de pesquisa bibliográfica e de campo, a respeito dos indicadores potenciais quantitativos e qualitativos da cadeia produtiva do couro, nas unidades de negócios básicas, consideradas neste trabalho, comprovam o paradoxo existente em Mato Grosso do Sul quanto ao efetivo do rebanho bovino, ao abate e ao processamento da pele bovina, confirmando a primeira hipótese de que há indicadores potenciais quantitativos que sinalizam condições de alavancagem das atividades dos segmentos que compõem a cadeia. Mesmo possuindo o maior rebanho bovino do país, o Estado não se posiciona em primeiro lugar em abate, sendo superado por São Paulo, e muito menos na produção de couros. Responsável por apenas 10% da produção nacional, conta com menos de 3% dos curtumes existentes no Brasil, e processa a pele bovina somente até o primeiro estágio de transformação da pele em couro, obtendo o denominado couro wet-blue. A qualidade do couro estadual encontra-se distante dos padrões ideais obtidos em outros países, e mesmo em outros Estados brasileiros. Os melhores couros, além de classificados como de quarta categoria, abrangem apenas 7,2% do total produzido, contra 15% da média nacional, concentrando-se 86% da produção total entre a quinta, sexta e sétima categorias. Comparativamente à classificação atribuída ao couro americano, e em função dos preços de venda diferenciados por categoria, o Estado deixa de injetar em sua economia R$ 600 mil diariamente, o que por ano representa R$ 180 milhões, comprovando o preconizado na primeira hipótese quanto à agregação de valores. Na busca das causas dessa qualidade inferior, constata-se a assertiva constante de diversas publicações, de que o problema começa no campo, e em grande parte pela ação do próprio homem, justificando a segunda hipótese de que há indicadores quantitativos e qualitativos que conduzem à tomada de consciência quanto a problemas existentes na cadeia e que requerem solução. Os dados obtidos, por questionários aplicados aos produtores rurais, comprovam, de um lado, a grande incidência dos defeitos causados por ectoparasitos, com destaque os carrapatos, e de outro, dos defeitos causados pela marcação inapropriada dos animais a ferro candente e por arame farpado utilizado em cercas. 127 A falta de interesse, pelo exercício de controles que levem à melhoria da qualidade da pele, foi confirmada nas manifestações dos produtores rurais nos questionários. Com a alegação de não haver compensação financeira, deixam de tomar medidas que evitariam a ocorrência de defeitos na pele, corroborando com a terceira hipótese no que tange ao estabelecimento de políticas que possam desencadear o desenvolvimento da cadeia produtiva do couro. Na comercialização dos animais com os frigoríficos, praticamente, não se leva em consideração a qualidade da pele, sendo esta remunerada de forma implícita na arroba do boi, independente de possuir ou não defeitos. Grande parte dos pecuaristas pesquisados demonstra propensão à criação e engorda dos animais com os cuidados necessários à obtenção de couros com melhor qualidade, desde que haja remuneração adequada pela pele, incluindo uma diferenciação de preço de acordo com a qualidade. Entretanto, só a remuneração não resolverá o problema. Os mesmos pecuaristas defendem a necessidade de um programa de conscientização, conforme assinalado na segunda hipótese, e orientação técnica quanto ao processo de produção, com destaque para o controle dos ectoparasitos e a marcação em locais adequados. A utilização do chip eletrônico, como instrumento de rastreamento, constitui uma solução para o problema de marcas de fogo, cuja implementação total deverá ocorrer em médio prazo, à medida que a conscientização de suas vantagens e a exigência de controle da procedência do animal forem aumentando. Todos os esforços dentro das propriedades rurais para se produzir um couro de melhor qualidade, serão inutilizados se não houver também um programa similar aos demais agentes envolvidos na cadeia produtiva do couro, como as transportadoras de gado bovino e os frigoríficos, justificando a extensão da segunda hipótese a todos os segmentos da cadeia. No transporte dos animais, o problema de qualidade se agrava em decorrência de sua deficiência, provocada, de um lado, pelo desconhecimento da legislação pertinente, e, de outro, pela não obediência às condições necessárias à proteção dos animais. As más condições dos embarcadores, o manejo inadequado do gado no embarque e desembarque, as condições ruins das estradas, superlotação dos caminhões, cujas carrocerias não são 128 devidamente revestidas, são os principais fatores que contribuem para a ocorrência de lesões na pele dos animais. Com o abate dos animais tem início a esfola, momento em que ocorrem os defeitos de furos e raias de faca nas peles. Em Mato Grosso do Sul, esse problema foi sensivelmente minimizado, mediante o acompanhamento do abate nos frigoríficos por técnicos dos curtumes, passando a constituir, depois da má-conservação das peles, a causa de defeitos de menor incidência. Esse fato confirma a segunda hipótese, uma vez que a qualidade do couro pode ser melhorada, desde que haja vontade e disposição efetivas para tal em todo o processo de produção do couro, iniciando-se no campo. A comercialização da pele pelos frigoríficos com os curtumes se realiza a preços estabelecidos por quilo, inexistindo um diferencial decorrente da qualidade ou da quantidade de defeitos apresentados nas peles. A retirada da pele impregnada de gordura diminui o peso da carne, ocasionando uma perda de valor para o pecuarista, que deixa de receber por ela do frigorífico. Para o este, embora, não pague ao produtor pela gordura que fica na pele, deixa de recebê-la na comercialização da carne, recebendo por ela dos curtumes, embutida no peso da pele, a preços inferiores. Para os curtumes, o excesso no peso da pele, mesmo se transformando em subprodutos, em função da diferença do preço de compra da pele e o de venda dos subprodutos, provoca uma perda de R$ 4 milhões mensais, valor que poderia ser agregado ao setor, como levantado na primeira hipótese. O processamento da pele bovina pelos curtumes instalados no Estado se limita à obtenção do couro wet-blue, ficando a execução das etapas posteriores de acabamento a outros Estados, ou mesmo a outros países, especialmente a Itália. A par dos investimentos em ativos permanentes e capital de giro necessários para o processamento do semi-acabado e acabado, os curtumes sul-mato-grossenses, com base em sua produção de couros levantada neste trabalho, poderiam alavancar o faturamento mensal em R$ 25 milhões, processando o semi-acabado, ou em R$ 40 milhões, processando o acabado, o que desencadearia na economia estadual os reflexos positivos correspondentes. Esses valores, por sua relevância, indicam uma necessidade premente de se estudar com profundidade a viabilidade do desenvolvimento de estruturas industriais que 129 permitam o acabamento do couro até o seu estágio final. Tais estudos devem contemplar a aquisição de maquinário moderno e de produtos químicos com qualidade; o acesso a financiamentos de longo prazo para atender as necessidades de investimento em ativos permanentes e capital de giro, a custos competitivos; a formação de técnicos qualificados; o desenvolvimento de um marketing eficaz; e o estabelecimento de políticas tributárias incentivadoras. Os subprodutos decorrentes do processamento da pele bovina, utilizados na fabricação de diversos produtos, são comercializados, em sua totalidade, para outros Estados, gerando um faturamento mensal de aproximadamente R$ 840 mil. Entretanto, tais subprodutos poderiam ser industrializados no próprio Estado, mediante a instalação de pequenas e médias empresas de acordo com as premissas básicas que caracterizam o desenvolvimento local. Dessa forma, seria possível a criação de mais empregos, além de estimular e diversificar o crescimento econômico local. Excluindo o segmento transporte de gado bovino, os demais segmentos proporcionam, no Estado, aproximadamente, 143 mil empregos diretos, dos quais 133 mil estão nas propriedades rurais, 9 mil nos frigoríficos e 1 mil nos curtumes. Esses números podem ser acrescidos mediante estudos de viabilidade econômica e social quanto a melhor utilização das áreas destinadas à criação do gado bovino e o aproveitamento da capacidade instalada para abate e processamento a pele. O rendimento médio mensal está abaixo dos R$ 400 reais, e os quais são inferiores aos praticados no setor urbano, e, especificamente, na indústria e serviços, em decorrência do nível de escolaridade se restringir, em grande parte, ao 1º grau. Logo, o presente trabalho procurou apresentar alguns caminhos, a partir de indicadores potenciais quantitativos e qualitativos relacionados com a produção de couros no Estado, no sentido de promover pesquisas mais direcionadas e aprofundadas, e oferecer subsídios a estudos, tanto específicos como sistêmicos, direcionados ao desenvolvimento de sua cadeia produtiva. Espera-se que este trabalho possa sensibilizar os agentes governamentais e os privados, responsáveis pelos diversos segmentos que compõem a cadeia, para que, por meio dos efetivos engajamento e entrosamento entre estes, seja possível a busca de soluções conjuntas aos problemas que afetam a cada segmento. 130 Desse modo, substituindo-se os interesses individuais pelos coletivos, a visão segmentada pela sistêmica, a relutância pela compreensão, a estagnação pela operância e a inanição pelo desejo, é possível contribuir para o desenvolvimento do Estado. Assim, as hipóteses levantadas no estudo foram evidenciadas, mostrando que existem indicadores potenciais relevantes, e que realmente há a necessidade do aproveitamento eficiente de uma de suas maiores potencialidades locais, a pecuária, da qual se origina uma matériaprima de larga utilização na fabricação de diversos produtos de expressivos valores econômicos, o couro. 131 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA ESTADUAL DE DEFESA ANIMAL E VEGETAL – IAGRO. Relatório anual das indústrias com SIE – número de animais abatidos. Campo Grande: IAGRO, 2002. ______. Trânsito de bovinos e bubalinos – finalidade: abate . Campo Grande: IAGRO, 2002. AMARAL, M. Por que não damos no couro. Globo Rural, Rio de Janeiro, n.21, p.32, jun.1987. ANUÁRIO DA PECUÁRIA BRASILEIRA – ANUALPEC. Publicação técnica. São Paulo: FNP Consultora & Comércio e Argos, 2000. p.115, 119, 123, 134 –136. ______. Publicação técnica. São Paulo: FNP Consultora & Comércio e Argos, 2001. p. 81, 85, 91, 106 –108. ARAÚJO, M. 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Rio de Janeiro: IBGE, 2001. v. 28, p.14. PRODUÇÃO DA PECUÁRIA MUNICIPAL/MS. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 1995. Rio de Janeiro: IBGE, 1996. p.2-4. 134 ______. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 1996. Rio de Janeiro: IBGE, 1997. p.2-4. ______. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 1997. Rio de Janeiro: IBGE, 1998. p.2-4. ______. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 1998. Rio de Janeiro: IBGE, 1999. p.2-4. ______. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 1999. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. p.2-4. ______. Efetivos dos rebanhos segundo as mesorregiões, as microrregiões e os municípios - 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2001. p.2-4. PROGRAMA institui RG para bovinos. Correio do Estado, Campo Grande, 14 jan. 2002. Caderno: Correio Rural, p.4. QUEIROZ, B. 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( ) sim ( ) cria ( ) recria ( ) engorda ) não 3- No caso de abate: a - Frigorífico: _______________________________________________________ Distância da propriedade: pavimentada: _____ km; tempo de percurso: _____ h Não pavimentada :______km; tempo de percurso ________h Meios de transporte utilizados: ( ) rodoviário ( ) outros: ____________ b - Frigorífico: ______________________________________________________ Distância da propriedade: pavimentada: _____ km; tempo de percurso: _____h Não pavimentada: _____km; tempo de percurso: _________h Meios de transporte utilizados: ( ) rodoviário ( ) outros: ____________ c - Frigorífico: ______________________________________________________ Distância da propriedade: pavimentada: _____ km; tempo de percurso: _____h Não pavimentada: ____km; tempo de percurso:_________ h Meios de transporte utilizados: ( ) rodoviário ( ) outros: ___________ 4- Idade dos animais abatidos: Machos: ( ) menos de 2 anos ( ) 2 a 3 anos ( ) 3 a 4 anos ( ) mais de 4 anos Fêmeas: ( ) menos de 2 anos ( ) 2 a 4 anos ( ) 4 a 10 anos ( ) mais de 10 anos 5- Sistema de identificação do animal: ( ) ferro ( ) tatuagem ( ) brinco Local de identificação a ferro: __________________________________________ 137 6- Pratica controle de ecto e endoparasitas: ( ) sim ( ) não 7- Pratica controle de qualidade do couro quanto a (ao): ( ) marcação ( ) manejo ( ) invernada ( ) mangueiro 8- Conhece as técnicas de produção de gado bovino utilizadas para a obtenção de couro com qualidade? ( ) sim ( ) não Quais? ______________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 9- Utiliza as técnicas identificada no item anterior? ( ) sim ( ) não Por quê? ___________________________________________________________ ___________________________________________________________________ C - COMERCIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO: 1- Utiliza controle formal de compra e venda dos animais? ( ) sim ( ) não 2- Na comercialização dos animais é mencionada a qualidade do couro? ( ) sim ( ) não 3- É remunerado pelo couro dos animais vendidos? Valor médio R$ ___________ por pele; ( ) sim ( ) não Valor médio R$ _____________ por kilo 4- O valor recebido pelo couro é: ( ) satisfatório; ( ) regular; ( ) insatisfatório 5- Valor de remuneração do couro considerada ideal para a adoção de medidas com o objetivo de melhorar a qualidade do couro: R$______por pele; R$ ______ por kilo 6- Mantém / manteve contato com organizações a respeito da inclusão do couro na comercialização do gado? ( ) sim ( ) não Em caso afirmativo: Organização contatada: ________________________________________________ Objetivo do contato: __________________________________________________ Conclusão do contato: _________________________________________________ D - POLÍTICA DE EXPANSÃO: 1- Tem projeto de expansão e/ou melhoria da atividade com relação ao couro? ( ) sim ( ) não Por quê? __________________________________________________________ 2- Considera-se satisfatoriamente remunerado na pecuária? ( ) sim ( ) não Por quê?__________________________________________________________ 138 3- As políticas governamentais/ incentivos relacionadas à pecuária são: ( ) satisfatórias ( ) regular ( ) insatisfatórias Por quê? _____________________________________________________________ E - COMENTÁRIOS QUE CONTRIBUAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO: _____________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _______________________________________________________ Data: _____/____/______ UTILIZAR O VERSO CASO NECESSÁRIO ) 139 APÊNDICE B - Questionário aplicado às transportadoras de gado bovino A - ORGANIZAÇÃO GERAL 1 - IDENTIFICAÇÃO: Empresa ( ) ou Autônomo ( ). Se empresa: ( ) Matriz ou Filial ( ) Nome:______________________________________ Início da atividade: ___/___/___ Endereço: ______________________________ n.º _______ Bairro: _______________ Cidade: _________________________ CEP: ___________ Telefone:______________ FAX: _________________________ E-mail: _________________________________ Grupo empresarial a que pertence se for empresa: ______________________________ B - PLANEJAMENTO E CONTROLE DA ATIVIDADE 1 – DESENVOLVIMENTO DA ATIVIDADE: a) Quantidade de caminhões: __________ Próprios: ___________ Locados: ___________ b) Quantidade média de cabeças transportadas por mês: ____________________________ c) Distância média percorrida com carga por viagem: ______________________________ d) Durante o transporte realiza paradas a cada: _______h. em vias pavimentadas, e ______________h. em vias não-pavimentadas. e) Conhece a norma ABNT-NBR 10452/96 referente ao transporte de gado bovino vivo? ( ) sim ( ) não f) Conhece a “ Lei da Balança” para transporte de animais vivos, artigos 79 a 83 e 190 do Código Nacional de Trânsito? ( ) sim ( ) não g) Perfis de aço e/ou travessas de madeiras voltadas para o interior do compartimento de carga possuem bordas vivas? ( ) sim ( ) não h) Os parafusos de fixação da gaiola possuem cabeça arredondada e são fixados de dentro para fora? ( ) sim ( ) não i) A carroceria é revestida de material apropriado para amortecer impactos da carga? ( ) sim ( ) não 140 j) O piso do caminhão é de assoalho longitudinal com estrado de formato quadriculado e de material resistente? ( ) sim ( ) não k) Os animais são separados por espécie, sexo, peso para serem transportados? ( ) sim ( ) não l) Utilizado no manejo do gado: ( ) choque Se agulhas: a ponta é arredondada ( ) sim ( ) Agulhas ( ) não; Diâmetro:____________ mm C - ESPECIFICAÇÃO DO CAMINHÃO: Marca/tipo Ano Fabricação Área /carga (m²) Média de animais transportados por viagem D - PRESERVAÇÃO DA PELE DO ANIMAL: Problemas que prejudicam a pele do animal, No embarque: _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________ No transporte: _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________ No desembarque___________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Principais causas de ferimento na pele do animal durante o transporte: _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 141 c- Sugestões para eliminar os problemas no transporte: _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 4 - COMENTÁRIOS QUE JULGAR NECESSÁRIOS _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Data: _____/____/______ UTILIZAR O VERSO CASO NECESSÁRIO ) 142 APÊNDICE C - Questionário aplicado aos frigoríficos A - ORGANIZAÇÃO GERAL 1 - Identificação da Empresa a- Natureza jurídica: ( ) Matriz ( ) Filial ( ) Arrendatário b- Razão Social: ___________________________________________________________ c- Nome Fantasia: __________________________________________________________ d- Endereço: ________________________________ n.º __________ Bairro:___________ Cidade:_______________________CEP:_____________Telefone:_________________ FAX:__________________________ e-mail:__________________________________ e- Data de início da atividade: ___/___/___ f - Grupo empresarial a que pertence:___________________________________________ 2 - Administração de Pessoal a - Número/Nível de instrução dos funcionários atuais: Escolaridade 1º Grau 2º Grau 3º Grau Quantidade Pós-Graduação Total b - Salário bruto médio por funcionário: R$ _________________ c - Benefícios oferecidos aos funcionários não obrigatórios por lei: ( ) Plano de assistência médica ( ) Plano de seguro-acidente ( ) Plano de assistência odontológica ( ) Plano de empréstimo/financiamento ( ) Planos especiais de aposentadoria ( ) Outros: _______________________ d - Serviços oferecidos aos empregados pela empresa: ( ) Transporte: ( ) Vale ( ) Próprio ( ) Alimentação: ( ) Lanche ( ) Refeição ( ) Assistência Social ( ) Outros: _______________________ e - Qualificação atual dos funcionários: ( assinale com um X ) Nível Ótimo Bom Operacional Administrativo f - Realiza treinamento de pessoal: ( ) operacional Regular ( ) administrativo B - ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO 1- Utiliza estudos de racionalização do trabalho nas operações de retirada da pele? ( ) sim ( ) não Ruim 143 2- O processo de retirada da pele está delineado em documento específico? ( ) sim ( ) não 3- Utiliza técnicas inovadoras para execução da retirada da pele? ( ) sim ( ) não Quais? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 4- Realiza controle de qualidade da pele? a- Antes do abate? ( ) sim ( ) não Especificar: ____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b- Depois do abate? ( ) sim ( ) não Especificar: ____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5- Existe perdas e/ou refugos da pele? ( ) sim ( ) não Quantidade: ________/mês Caso afirmativo, assinale as causas:_________________________________________ _______________________________________________________________________ 6- Destino das peles perdidas/refugadas: _______________________________________ ______________________________________________________________________ 4- Assinale as dificuldades técnicas da empresa para processar adequadamente a retirada da pele: ( ) instalações inadequadas ( ) equipamentos inadequados ( ) procedimentos de trabalho inadequados ( ) qualidade da pele ( ) mão-de-obra não qualificada ( ) rotatividade de mão-de-obra ( ) outros: _____________________________________________________________ 8- Capacidade atual de abate por dia: instalada: _____________ utilizada: ____________ Número de dias trabalhados por ano: ____________ 9- Observa a política de conservação do meio ambiente? ( ) sim ( ) não 10- Pratica contrato de utilização das instalações por terceiros? ( ) sim ( ) não C - PLANEJAMENTO E CONTROLE DA COMERCIALIZAÇÃO 1- A qualidade da pele influência no valor pago ao produtor pelo animal? ( ) sim ( ) não 2- Valor pago pela pele: R$ ____________ /pele ou R$ _____________/kg 144 3- A compra dos animais é regida por contrato formal? ( ) sim ( 4- No contrato de compra o item pele/couro é mencionado? ( ) sim 5- O item qualidade é observado na venda da pele? ( ) sim ( ( ) não ) não ) não 6- Entraves na comercialização da pele: Na compra: _____________________________________________________________ _______________________________________________________________________ Na venda: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 5- Valor unitário de venda da pele: TIPOS VALOR “IN NATURA” R$ ______________/Pele R$ ________________/kg SALGADA R$ ______________/Pele R$ ________________/kg (*) R$ ______________/Pele R$ ________________/kg * Especificar: _____________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 8- Destino/quantidade vendida de pele bovina: MERCADO QUANTIDADE POR TIPO DE PELE COMPRADOR “ IN NATURA” SALGADA * OUTROS Intermediários Dentro do Estado Curtumes * Intermediários Interestadual Curtumes * Intermediários Internacional Curtumes * * Especificar:______________________________________________________________ 145 D - POLÍTICA DE EXPANSÃO 1- Tem plano de expansão da capacidade? ( ) sim a- utilizada: ( ) sim ( ) não b- instalada: ( ( ) sim ( ) não ) não Por que sim ou por que não? ______________________________________________ _____________________________________________________________________ 2- Pretende realizar novos investimentos? ( ) ( ) não Especificar:_____________________________________________________________ _______________________________________________________________________ 3- Pretende instalar curtume próprio? ( ) sim ( ) não E - POLÍTICA GOVERNAMENTAL 1- A empresa tem benefícios fiscais quanto ao couro? ( ) sim ( ) não Especificar caso afirmativo:________________________________________________ ______________________________________________________________________ 2- A empresa tem incentivos fiscais quanto ao couro? ( ) sim Especificar caso afirmativo: ( ) não _____________________________________________ ________________________________________________________________________ F - COMENTÁRIOS QUE CONTRIBUAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO: _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ Data: _____/____/______ UTILIZAR O VERSO CASO NECESSÁRIO ) 146 APÊNDICE D - Questionário aplicado aos curtumes A - ORGANIZAÇÃO GERAL 1 - Identificação da Empresa a- Natureza jurídica: ( ) Matriz ( ) Filial ( ) Arrendatário b- Razão Social: ___________________________________________________________ c- Nome Fantasia: __________________________________________________________ d- Endereço: ______________________________ n.º _________ Bairro: _____________ Cidade:___________________________CEP:_____________ Telefone:___________ FAX: __________________________ e-mail:_________________________________ e- Data de início da atividade: ___/___/___ f- Grupo empresarial a que pertence: __________________________________________ g- Nível de integração vertical da empresa/grupo: ( ) criação de bovinos ( ) abate de bovinos ( frigorífico) ( ) industrializa a pele bovina até o estágio wet-blue ( ) industrializa a pele bovina até o estágio crust ( ) industrializa a pele bovina até o estágio acabado ( ) realiza somente o acabamento final do couro ( ) outros:______________________________________________________ 2- Administração de Pessoal a- Número/Nível de instrução dos funcionários atuais: Escolaridade 1º Grau 2º Grau 3º Grau Quantidade Pós-Graduação Total b- Salário bruto médio por funcionário: R$ _________________ c- Benefícios oferecidos aos funcionários não obrigados por lei: ( ) Plano de assistência médica ( ) Plano de assistência odontológica ( ) Planos especiais de aposentadoria ( ) Plano de seguro-acidente ( ) Plano de empréstimo/financiamento ( ) Outros: _______________________ d- Serviços oferecidos aos empregados pela empresa: ( ) Transporte: ( ) Vale ( ) Próprio ( ) Alimentação: ( ) Lanche ( ) Refeição ( ) Assistência Social ( ) Outros: _______________________ e- Qualificação atual dos funcionários: ( assinale com um X ) Nível Ótimo Bom Regular Operacional Administrativo f- Realiza treinamento de pessoal: ( ) operacional ( ) administrativo Ruim 147 B - ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO 1- Utiliza estudos de racionalização do trabalho no processamento da pele bovina? ( ) sim ( ) não 2- O processamento da pele bovina está delineado em documento específico? ( ) sim ( ) não 3- Utiliza técnicas padronizadas para o processamento da pele? ( ) sim ( ) não Quais? ________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 4- Etapas que realiza no processamento da pele bovina: FASE I - RIBEIRA FASE II – CURTIMENTO ( ( ( ( ( ) estocagem ) remolho ) descarne ) depilação e caleiro ) divisão ( ( ( ( FASE III RECURTIMENTO ( ) neutralização ( ) recurtimento ( ) tingimento ( ) engraxe ) descalcificação e purga ) piquel ) curtimento ) rebaixamento FASE IV - PRÉ-ACABAMENTO ( ) secagem ( ) reumidificação ( ) amaciamento ( ) estaqueamento ( ) lichamento ( ) desempoamento ( ) impregnação 5- Desenvolve tecnologia de inovação da pele? FASE V – ACABAMENTO ( ) pigmentado ( ) anilina ( ) semi-anilina ( ) natural ( ) outros ( ) sim ( ) não Qual?__________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 6- Realiza controle de qualidade da pele? ( ) sim ( ) não Especificar:______________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 7- Existem problemas na pele que impedem o seu processamento? ( )sim ( ) não Quantidade mensal: ______________________________________________________ Principais problemas: ____________________________________________________ ______________________________________________________________________ 8- Qual o destino das peles perdidas/refugadas? __________________________________ _______________________________________________________________________ 148 9- Assinale as dificuldades técnicas da empresa para processar adequadamente a pele. ( ) instalações inadequadas ( )máquinas e equipamentos inadequados/obsoletos ( ) qualidade da pele ( ) insumos inadequados ( ) mão-de-obra não qualificada ( ) rotatividade de mão-de-obra ( ) procedimentos de trabalho inadequados Outros: ____________________ 10- Há problemas na pele que, após seu processamento, influenciam na qualidade do couro? ( ) sim ( ) não Especificar: ____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 11- Descrever o tratamento dado aos resíduos gerados pelo processamento da pele: _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 12- Os subprodutos decorrentes do processamento da pele é: ( ) descartado ( ) comercializado ( ) industrialização própria 13- Subprodutos resultantes do processamento da pele (média mensal): Subprodutos Raspa Farelo de Raspa Aparas Sebo * * Quantidade (kg) * Especificar _____________________________________________________________ 14- Destino dos subprodutos comercializados (média mensal): Destino para a indústria de: Quantidade em kg dos subprodutos Raspa Farelo raspa Aparas Sebo * * Luva Gelatina Graxa Estearina Oliva Chicletes Ração Animal * * * Especificar: ____________________________________________________________ 149 C - PLANEJAMENTO E CONTROLE DA COMERCIALIZAÇÃO DE PELE/COURO: 1 - A qualidade da pele influência no valor pago ao fornecedor da mesma? ( )sim ( )não 2 - Valor médio pago pela pele: Tipo “In Natura” Salgada * Unidade Valor Médio Unitário Pago a Produtor Rural Frigorífico Atacadista * Outros Pele kg Pele kg Pele kg * Especificar: _____________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 3- A compra da pele é regida por contrato formal? ( ) sim ( ) não 4- No contrato de compra (formal ou informal) a qualidade é mencionada? ( )sim ( ) não 5- Fornecedores de pele: Oigem Mercado Interno Interestadual Internacional (Importação) Fornecedor Quantidade/tipo de pele SALGADA IN NATURA Pele kg Pele kg OUTROS * Pele Kg Produtor rural Frigorífico Curtume Intermediários * Produtor rural Frigorífico Curtume Intermediários * Produtor rural Frigorífico Curtume Intermediários * * Especificar: _____________________________________________________________ ________________________________________________________________________ 150 6- Relacionar o nome dos principais fornecedores da pele ao curtume: Quantidade pele Nome Município/UF % do Total adquirido 1. 2. 3. 4. 5. Outros Total 100% 7- Destino/quantidade vendida de pele bovina: Descrição do Produto Quantidade Valor (R$) / Un. Município/UF de origem Outros Total 8- Capacidade de processamento por dia: Instalada:___________ Utilizada: ___________ Número de dias trabalhados por ano: _________________ 9- Quantidade/valor médio unitário da pele/couro comercializada (o): Tipo Pele/Couro Quantidade Valor (R$)/ Un. Kg Quantidade Valor (R$)/ Un. in natura Salgada wet blue crust Acabado 10- O item qualidade é observado na venda do couro? ( ) sim ( ) não 151 11- A qualidade da (o) pele/couro para exportação diferencia o preço de venda? ( ) sim ( ) não 12- O preço do produto final é estipulado pelo: ( ) mercado comprador ( ) curtumes 13- Mercado consumidor da pele/couro bovino: CONSUMIDOR Mercado Cliente QUANTIDADE POR TIPO DE PELE/COURO in natura pele kg Salgada pele Kg wet blue pele kg crust pele kg acabado pele kg Intermediários Curtumes Interno Alimentício Calçados/artefatos Intermediários Curtumes Interestadual Alimentício Calçados/artefatos Intermediários Internacional Curtumes (Exportação) Alimentício Calçados/artefatos * Especificar ___________________________________________________________ Outras informações: ______________________________________________________ 14- Entraves na comercialização: a - Mercado interno: Compra: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Venda:________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ b - Mercado externo: ______________________________________________________ _______________________________________________________________________ 152 15- Máquinas e equipamentos principais: Descrição Quantidade Ano de fabricação a- possuem atendimento técnico no município: ( ) parcial ( ) total ( ) não b- exigem importação de peças para reposição: ( ) parcial ( ) total ( ) não c- outras informações: ______________________________________________________ _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 16- Conhece a certificação da ISO – International Organization for Standardization? ( ) sim ( ) não 17- Observa a política de gestão ambiental? ( ) sim ( ) não Comentar: _____________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 18- Outras peles industrializadas pela empresa: Origem da pele Quantidade Média Mensal Caprino kg Peles Ovino kg Peles * kg Peles Estágio de acabamento * Especificar: _____________________________________________________________ D - POLÍTICA DE EXPANSÃO 1- Tem plano de expansão da capacidade? a- utilizada: ( ) sim ( ) não b- instalada: ( ) sim ( ( ) sim ( ) não ) não Por que sim ou por que não? _________________________________________________ ________________________________________________________________________ 2- Pretende realizar novos investimentos? ( ) sim ( ) não Especificar: ____________________________________________________________ 153 3- Problemas que impedem ou dificultam a: a- expansão da produção: ____________________________________________________ _________________________________________________________________________ b- elevação do estágio de acabamento do couro:__________________________________ ________________________________________________________________________ E - POLÍTICA GOVERNAMENTAL 1- A empresa tem benefícios fiscais quanto ao couro? ( ) sim ( ) não Especificar : ______________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 2- A empresa tem incentivos fiscais quanto ao couro? ( ) sim ( ) não Especificar : ______________________________________________________________ _________________________________________________________________________ F - COMENTÁRIOS QUE CONTRIBUAM PARA O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA PRODUTIVA DO COURO: _________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________ Data: _____/____/______ UTILIZAR O VERSO CASO NECESSÁRIO ) 154 ANEXO 155 ANEXO A - O Processo de curtimento e acabamento completo da pele O processo de curtimento e acabamento completo da pele compreende cinco etapas, denominadas pelo CTCCA (1994) como: ribeira, curtimento, recurtimento, préacabamento e acabamento. 1ª ETAPA: RIBEIRA – É composta de seis operações denominadas: estocagem, remolho, depilação, caleiro, descarne e divisão, das quais a depilação e caleiro se processam simultaneamente. a) ESTOCAGEM Com exceção das peles verdes que são processadas logo que chegam ao curtume, as demais são estocadas, mediante sua classificação por peso, tamanho, procedência ou qualidade, de acordo com o método de trabalho do curtume. O local onde as peles in natura são estocadas é denominada “barraca” ou “trapiche” ou “armazém de peles”. b) REMOLHO O remolho ou reverdecimento é realizado, com exceção nas peles verdes, em cilindros rotativos chamados “fulões” ou “tambores” (Figura 1), mediante o uso de solução com conservantes e produtos chamados tensoativos, tendo como finalidades: Figura 1– Modelo de Fulão. Fonte: CTCCA - 1994, p.19 156 - eliminar os eventuais produtos utilizados para a conservação das peles e possíveis impurezas contraídas por ocasião do transporte e da estocagem; - extrair eventuais restos de sangue coagulados nos vasos capilares e proteínas nãofibrosas; - hidratar a pele, deixando-a como se fosse “verde”. c) DEPILAÇÃO E CALEIRO A depilação consiste na eliminação dos pêlos por processo químico, utilizandose, basicamente, de soluções alcalinas fortes, constituídas com sulfeto de sódio e hidróxido de sódio (cal queimada ou hidratada). O caleiro, também chamado de encalagem, é realizado com a depilação, por meio de uma ação química sobre o colagênio, a elastina e reticulina, provocando um inchamento da pele com a abertura das fibras que a compõem, remoção do material interfibrilar e soporificação parcial das gorduras. As peles, após passarem por esses processos, são denominadas “tripas”. d) DESCARNE O descarne, efetuado da máquina de descarnar (Figura 2) ou manualmente, consiste na retirada dos restos de carne e gorduras aderentes à pele e que não foram convenientemente retirados no frigorífico por ocasião da esfola. As peles verdes são descarnadas antes da depilação, sendo a primeira operação a que são submetidas. Figura 2 - Máquina de descarnar ou descarnadeira. Fonte: CTCCA – 1994, p.20. 157 e) DIVISÃO A divisão ou rachação, efetuada por máquina de dividir ou divisora (Figura 3), consiste no corte da pele em tripa no sentido horizontal de sua superfície, em camadas, cujo número é variável, dependendo da espessura da pele. Normalmente são duas: a parte superior, a mais nobre, denominada “flor” onde originalmente estavam implantados os pêlos, e a parte inferior, denominada “raspa” ou “crosta”, considerada como subproduto, embora sirva para a elaboração de produtos nobres, tais como: camurções para calçados e vestimentas. Alguns curtumes efetuam essa operação após o curtimento, fazendo-se depois dela, principalmente nas raspas, um novo recorte, retirando as partes mais finas. 2ª ETAPA: CURTIMENTO – Compreende cinco operações: descalcinação, purga, píquel, curtimento e rebaixe, sendo que as duas primeira são realizadas simultaneamente: CAMADA FLOR NAVALHA CAMADA RASPA CAMADA FLOR NAVALHA Figura 3 – Máquina de dividir ou divisora. Fonte: CTCCA – 1994, p. 21 a) DESCALCINAÇÃO E PURGA Após a operação de divisão, as peles, também chamadas de tripas, são relocadas no fulão e submetidas a dois processos químicos simultâneos: a descalcinação e a purga. A primeira tem a finalidade de reduzir o grau de acidez, isto é, o pH, que na depilação chega a 13, passando para 8 – 8,5, neutralizando a cal combinada na pele. A purga é um tratamento enzimático, com a finalidade de eliminar os restos de sangue (globulinas) porventura existentes entre as fibras e nos vasos sangüíneos, digerir as 158 gorduras naturais e melhorar as qualidades da elastina. Findo o processo, as peles são lavadas com água. b) PÍQUEL O píquel, também, é realizado no fulão, e consiste no tratamento salino-ácido tendo em vista duas finalidades: - conservação, estágio que já permite a comercialização de peles; e - preparação das peles para o curtimento propriamente dito. O pH final do píquel varia de acordo com o tipo de curtimento que será efetuado. c) CURTIMENTO A operação de curtimento pode ocorrer no mesmo banho de píquel ou em uma nova solução. Embora existam inúmeros tipos de curtimento, como os curtimentos com taninos sintéticos, com sais de alumínio, com sais de zircônio, com sais de ferro, com formol e outros, os dois tipos principais mais utilizados no Brasil pelos curtumes são: - vegetal – embora os curtentes vegetais variam de acordo com a natureza dos vegetais e onde são extraídos, os taninos vegetais mais usados são os de acácia negra e quebracho e, eventualmente, os de barbatimão, angico e mangue. Esse tipo de curtimento é mais usado com peles que vão originar solas, arreios de montaria, correias, cintos, alguns tipos de calçados especiais e uma série de outros artefatos; - mineral – tipo de curtimento mais disseminado, no qual o agente curtente principal são os sais de cromo (óxidos). É um curtimento rápido que torna o couro mais resistente à passagem de água, mais elástico e flexível, e que permite um tingimento melhor. Apesar da grande variedade de utilização desse tipo de curtimento, é usado, principalmente, em couros que vão originar vestimentas e cabedais. O couro wet-blue é resultado desse curtimento, permanecendo úmido, e que pode ser estocado ou comercializado neste estágio de processamento. 159 d) REBAIXE O couro, denominação da pele após o curtimento, deve apresentar uma espessura uniforme, a fim de ser aproveitado industrialmente. Entretanto, a pele, em função de sua estrutura fibrilar desigual em toda a sua superfície, e do curtimento nada mais ser do que a penetração e fixação dos curtentes nos interstícios dos tecidos, tende a inchar mais em um local do que em outro. Assim, processa-se o enxugamento da pele por máquina de enxugar, passando essa pele entre dois rolos que retiram o excesso de água, e a seguir a operação de rebaixe, que consiste em igualar a espessura da pele, por meio da máquina de rebaixar ou rebaixadeira (Figura 4). Figura 4 – Máquina de rebaixar ou rebaixadeira. Fonte: CTCCA – 1994, p. 24. 3ª ETAPA: RECURTIMENTO - Compreende quatro operações: neutralização, recurtimento, tingimento e engraxe. a) NEUTRALIZAÇÃO Concluído o rebaixe, o couro retorna ao fulão para ser submetido a novos processo químicos, principalmente quando curtidos ao mineral. Essa operação visa a neutralizar os ácidos livres, bem como os sais de cromo e outros sais solúveis, os quais, quando não eliminados adequadamente, provocam uma fixação irregular dos produtos adicionados posteriormente, como recurtentes, graxas e corantes, ocasionando manchas e/ou problemas de fixação. 160 b) RECURTIMENTO Em geral os couros apresentam muitos defeitos na flor, oriundos de arranhões, bernes, carrapatos e outros, sendo uma das maneiras para corrigi-los, o lixamento. Para permitir a ação da lixa, o couro curtido deve ter suas características parcialmente modificadas, como o enrijecimento da camada flor e eliminação de sua elasticidade, o que se consegue por recurtimento. Essa operação, de modo geral, é um complemento do curtimento, no qual são dadas certas características ao couro não obtidas no curtimento básico. Pode ser usado como recurtente qualquer agente curtente sozinho ou em combinação com outros ou, ainda, produtos específicos como os taninos de origem sintética ou resinas. c) TINGIMENTO Esta operação proporciona a cor ao couro por meio de anilinas, podendo ser realizada em fulão, tanque, máquinas de imersão, por aplicação manual com escovas ou assemelhados, ou com pistolas de ar comprimido. d) ENGRAXE O engraxe consiste na adição de lubrificantes com a finalidade de conferir ao couro a maciez desejada. Nessa operação, as características do couro são modificadas, aumentado-se a resistência ao rasgamento, tornando-o macio e elástico. Conforme Hoinacki (1989, p.187): “o engraxe constitui uma das operações mais importantes e mais críticas de todo o processo de curtimento”. O autor (1989, p. 187) propõe que “ao elaborar qualquer fórmula para engraxe, é conveniente fazer um exame completo do trabalho feito e do que se pretende obter, pois o engraxe é uma operação cujo sucesso depende também das etapas que a antecedem e a seguem”. Os óleos usados no engraxe do couro podem ser de origem animal, vegetal ou mineral e, também, crus ou quimicamente tratados. 4ª ETAPA: PRÉ-ACABAMENTO – É composta de sete operações: secagem, recondicionamento ou reumedecimento, desempoamento e impregnação. amaciamento, estaqueamento, lixamento, 161 a) SECAGEM Ao concluir a operação engraxe, o couro encontra-se totalmente molhado, sendo necessário passar por um processo de secagem, por meio do qual será eliminada toda a água nele contida. Dependendo do tipo de couro, pode-se submetê-lo à máquina de estirar, antes da secagem, a fim de alisar a flor do couro e permitir melhor rendimento. Segundo Hoinacki (1989, p.201), “uma das especializações mais difíceis da técnica de secagem é a de couros”, e acrescenta: “uma eliminação imprópria da água em couros de boa qualidade, pode transformá-los em material de qualidade inferior”. A operação de secagem, pode ser efetuada de várias maneiras: - no ar – secagem natural, onde os couros são pendurados ou presos em quadros de madeira (estaqueados) e deixados em ambiente natural; - em estufas – secagem efetuada em recintos fechados ou aparelhos com camadas aquecidas. Os couros podem ser simplesmente pendurados (Figura 5), presos em quadros de madeira ou de aço deitados sobre esteiras ou colocados em placas de vidro – pasting (Figura 6); ENTRADA DE AR QUENTE E SECO SAÍDA COUROS SECOS Figura 5 – Estufa com ar quente. Fonte: CTCCA – 1994, p. 27 SAÍDA AR FRIO ÚMIDO ENTRADA COUROS ÚMIDOS 162 Figura 6 – Pasting. Fonte: CTCCA – 1994, p. 27 - com água quente – sistema em que os couros colocados sobre uma chapa de ferro, esmaltada ou não, aquecida com vapor d’água. (Figura 7) ÁGUA QUENTE COUROS COLADOS EM AMBOS OS LADOS Figura 7 – Secortem. Fonte: CTCCA – 1994, p.28 163 - a vácuo – secagem feita em aparelho que gera calor e que produz no seu interior um vácuo (retirada de ar), onde está depositado o couro, fazendo as moléculas d’água se dispersarem rapidamente. (Figura 8). Figura 8 – Secadora a vácuo. Fonte: CTCCA – 1994, p.29 - outros – como a secagem em raios infravermelhos ou sistema de alta freqüência, pouco usados comercialmente. b) RECONDICIONAMENTO (REUMEDECIMENTO) Esta operação consiste em proporcionar ao couro uma determinada umidade, uma vez que a secagem, principalmente quando rápida, elimina praticamente toda a água. É realizada em máquinas que pulveriza a água, ou com pistolas manuais, sendo os couros empilhados para melhor distribuição desta umidade. Também, podem-se empilhar os couros secos no meio de serragem de madeira, previamente umedecida. c) AMACIAMENTO Por ocasião da secagem, o couro tende a ficar encartonado, principalmente por causa de um ressequimento excessivo das fibras, além de outros fatores, sendo necessário efetuar-se o seu amaciamento. Atualmente, os sistemas manuais foram substituídos pelos mecânicos, realizados por meio de uma máquina chamada “jacaré” ou da máquina de amaciar vibratória (Figura 9), ou ainda, por fulões, onde inclusive é possível efetuar o amaciamento, conjuntamente ao recondicionamento. 164 Figura 9 – Máquina de amaciar vibratória. Fonte: CTCCA – 1994, p.31 d) ESTAQUEAMENTO A operação de estaqueamento é, normalmente, efetuada após o amaciamento, para retirada do excesso de umidade e aumentar o rendimento do couro. d) LIXAMENTO O lixamento, também chamado de bufeamento ou correção da flor, tem como objetivo uniformizar a superfície da flor do couro, eliminando, quando não muito profundos, eventuais defeitos existentes, além de facilitar a penetração e aderência do filme de acabamento. Essa operação se processa por máquinas de lixar couros. (Figura 10). Figura 10 – Lixadeira. Fonte: CTCCA – 1994, p.33 165 e) DESEMPOAMENTO O desempoamento consiste simplesmente em tirar o pó do couro produzido pelo lixamento. É realizado mecanicamente, com escovas ou por sistemas de exaustão. Após o desempoamento, os couros são recortados nas bordas, onde existem partes ásperas ou outras não interessantes, sendo então classificados para receber o acabamento. f) IMPREGNAÇÃO É realizada, eventualmente, quando os couros apresentarem flor solta, defeito identificado pela formação de inúmeras rugas no material, quando ele é dobrado, e resultante do rompimento das fibras que ligam a flor à camada reticular. A operação consiste na aplicação de resinas especiais que, com o auxílio de penetrantes, tem a capacidade de se introduzir no couro e ligar, entre si, as camadas flor e reticular. 5ª ETAPA: ACABAMENTO – Operação que confere ao couro sua apresentação e aspecto definitivos, podendo melhorar o brilho, o toque e certas características físicomecânicas, tais como impermeabilidade à água, resistência à fricção, solidez à luz e outros. Essa etapa pode eliminar ou compensar certas deficiências naturais apresentadas na pele. As características exigidas do acabamento dependem das propriedades individuais desejadas, ocasionando tratamento diferenciados aos quais se submetem o couro, segundo a finalidade deste. Entretanto, algumas exigências são fundamentais, devendo satisfazer a qualquer acabamento: a) a camada de acabamento aplicada no couro deve ser fixada de forma firme e permanente; b) a aplicação e distribuição devem ser uniformes e sem manchas; c) a solução líquida aplicada deve secar rapidamente para evitar a aderência de sujeiras; d) os produtos de acabamento devem igualar o mais possível o aspecto de couro em toda a superfície, permanecendo transparente, ou cobrindo-a completamente, dependendo do acabamento; e) o acabamento não deve formar uma crosta, adaptando-se à superfície de modo que ao ser dobrado não produza rugas, conservando o toque natural; 166 f) a superfície do couro deve ter um aspecto uniforme, pois disso dependem o corte e o reaproveitamento dela; g) a camada de acabamento dever ser suficientemente elástica, para que não se desprenda, e, deve ser igualmente dura, para que não se desgaste; h) o acabamento deve ter boa durabilidade, para que o couro conserve o maior tempo possível o mesmo estado que apresentava antes de seu uso; i) o acabamento deve ser o menor suscetível possível, oferecendo condições de ser limpo facilmente, sem que se deteriore pelo tratamento de limpeza; j) o acabamento deve fixar-se perfeitamente e não arrebentar ou desprender; k) o acabamento deve ser suficientemente elástico, para que não se rompa ao ser dobrado; l) o acabamento deve tornar o couro impermeável à água e, simultaneamente, não deve prejudicar a transpiração. TIPOS DE ACABAMENTO – Podem ser classificados de várias formas, seja pelo tipo de resina utilizado, aspecto final apresentado, tipo de couro usado e outras. Em função do material corante utilizado, os acabamentos podem ser: a) pigmentados (realizados em couros onde há a necessidade de efetuar correções mais profundas, com finalidade de atenuar defeitos do material); b) anilina (não possui pigmentos, recebendo apenas corantes, a fim de salientar o aspecto e a aparência natural do couro); c) semi-anilina (acabamentos que sofrem a aplicação de pequenas quantidades de pigmento para uniformizar a cor ou proporcionar certos tipos de efeitos); d) natural (no caso de atanados, raspas acamurçadas e outros, onde não é utilizado qualquer tipo de material que possa conferir alguma cor diferente da cor natural do curtimento). Os acabamentos pigmentados são aplicados, de modo geral, em três camadas: fundo, cobertura e apresto ou lustro, o que permite conciliar as diferentes propriedades exigidas de um acabamento. A camada fundo prepara o couro para a aplicação da cobertura, sendo, normalmente, realizado à base de resinas moles para conservar a flor suave e elástica. Tem 167 como finalidade fechar a superfície do couro, impedindo que os pigmentos penetrem demasiadamente nele. O fundo pode ser aplicado manualmente, com escovas, com máquinas munidas de escovas, com máquinas de cortina (Figura 11), com pistola ou com máquina de gravar por pontos. Figura 11 – Máquina de cortina. Fonte: CCTCA – 1944, p. 38. A camada de cobertura é, em geral, à base de resinas mais duras que as da camada de fundo, melhorando sua resistência à fricção, porém deve ser bem fina, para que a camada permaneça o mais elástica possível. A camada lustro é a que determina o aspecto final do couro quanto ao brilho, opacidade e toque de superfície. Depende do lustro a resistência aos diversos tratamento pelos quais passa o couro, em especial à resistência a umidade e a resistência à fricção, podendo influenciar também na resistência aos produtos de proteção e limpeza. Normalmente, é realizado à base de resinas duras, sem pigmentos na sua composição e em camadas finas para não prejudicar a estrutura da flor e a elasticidade do acabamento. Após a aplicação de cada camada, ou demão, o couro é submetido a uma prensagem a quente, a fim de amoldar e uniformizar as camadas, utilizando-se da propriedade de termoplasticidade das resinas. Para tal operação podem ser usadas a 168 estampadeira (Figura 12), a prensa hidráulica (Figura 13) ou a prensa rotativa (espelhadeira). Figura 12 – Estampadeira. Fonte: CTCCA – 1994, p. 40. Figura 13 – Prensa Hidráulica. Fonte: CTCCA – 1994, p.40. O tipo de acabamento denominado de anilina pode ser aplicado no processo de tingimento em fulão, de modo que o couro, após a secagem, já se encontre na cor desejada, podendo, ainda, receber uma leve correção com pistola, e uma camada de lustro, como no caso de couros pigmentados. A anilina também pode ser aplicada na 169 máquina de tingir por imersão, onde o couro, deitado sobre uma esteira, passa por um tanque com uma solução de corantes. O acabamento, no caso de couros com semi-anilina, combina corantes e pigmentos, sendo a anilina aplicada por um dos processos já mencionados para couros com anilina, e os pigmentos, após a secagem do couro, aplicados em leves camadas para uniformizar a cor.Para o acabamento natural, isto é, sem a utilização de materiais que dão cor, podem ser utilizadas ceras ou resinas, tendo como finalidade a obtenção de certos efeitos. TIPOS DE COUROS – Os mais comuns encontrados no mercado brasileiro, segundo o SEBRAE (1994), são os seguintes: a) abufalado – também chamado nubuc, é couro usualmente curtido ao cromo, tingido, usado principalmente para cabedais, feito de peles,vacuns (inclusive bezerros), lixado no lado flor para dar uma superfície aveludada e suave; b) anilina – couro normalmente flor integral, tingido por imersão em banho de corantes e que não recebeu qualquer cobertura de um acabamento pigmentado, podendo também ser tingido com corantes por pulverização spray ou outro método qualquer; c) antique – couro ao qual foi dada a aparência de velho ou usado, por exemplo, pela formação, no couro tingido, de uma superfície marcada ou enrugada usualmente de forma regular, por meio de gravação; d) box-calf – couro de bezerro, totalmente curtido ao cromo, liso ou graneado, usado principalmente como couro cabedal; e) camurça – termo genérico que identifica os couros afelpados. Couros muito macios, sem flor (originam-se normalmente de raspas), normalmente curtidos ao cromo e tingidos; f) camurção – camurça de grande espessura, originária de crostas vacuns (raspas); g) camurcina – camurção fino; h) chamois (chamoá) – couro de aspecto afelpado, curtido por processos envolvendo óleos marinhos ou de peixe; i) couro ao cromo – couro cujo curtimento foi efetuado com sais de cromo; pode ser recurtido com qualquer outro curtente; j) couro atanado – couro cujo curtimento foi efetuado com taninos; 170 k) flor corrigida – couro cuja superfície flor foi levemente lixada para remover defeitos e restaurada mais ou menos pela aplicação de acabamentos que contêm pigmentos, resinas sintéticas e outros; l) flor integral – couro cuja superfície flor permanece intacta, não possuindo qualquer cobertura pigmentada; m) impregnado – couro no qual foi introduzida uma considerável quantidade de materiais, tais como graxas, ceras parafínicas, resinas a fim de melhorar propriedade, tais como permeabilidade à água ou resistência ao uso; n) naco – couro vaqueta, espesso, resistente, destinado geralmente para acabamento tipo verniz ou nitrocelulósico; o) napa – couro usualmente curtido ao cromo que se caracteriza pela maciez, flor integral ou pelo acabamento de toque bem suave; usado em estofamento, vestuário e calçados; p) nubuc – o mesmo que abufalado; q) pelica – couro fino, geralmente de cabra, podendo também ser de carneiro ou de cabrito, de toque brando e macio, destinado normalmente para artigos finos; r) pigmentado – diz-se do couro que recebeu a aplicação de uma camada de cobertura, resultante da mistura de pigmentos, resina e outros produtos, que esconde a superfície flor natural; s) semi-acabado – couro que, após curtido, recurtido e engraxado, foi secado não tendo ainda recebido qualquer tratamento quanto a seu aspecto final; couro que ainda não sofreu a aplicação da camada de acabamento; t) semi-anilina – couro tingido, geralmente por imersão com corantes, e que recebeu uma pigmentação bem leve, usualmente para uniformizar a cor; u) semi-cromo – couro no qual o curtimento foi efetuado em duas etapas: na primeira, ele é curtido ao tanino, e na segunda, de um curtimento ao cromo ou vice-versa; v) sola – couro curtido e acabado para solas de calçados; normalmente é curtido com tanino vegetal e tratado com cargas para aumentar-lhe a espessura e a resistência ao uso; w) vaqueta – couro curtido ao tanino, cromo ou semi-cromo, flor integral ou corrigida, liso ou estampado, mais armado que couro napa, destinado a cabedais de calçados; x) wet-blue – couro que já sofreu os processo de ribeira, foi curtido ao cromo e que permanece úmido, podendo ser estocado ou comercializado neste estado 171