PENSANDO A PARTIR DA HISTÓRIA DOS MORAVIANOS Presb. Daniel Carvalho Os moravianos, conhecidos originalmente como os Unitas Fratrum, ou a Unidade dos Irmãos, originariamente, eram crentes que tinham como pastor John Huss, um Reformador, predecessor da Reforma. No levante das guerras dos 1600, a Boêmia e Morávia (atual República Checa), regiões onde moravam estes crentes, foram dominadas por um rei católico romano, que desencadeou uma terrível perseguição contra os moravianos. Quinze de seus líderes foram decapitados. Os membros da igreja foram mandados para os calabouços e para as minas para trabalhos forçados. As escolas deles foram fechadas. Bíblias, hinários, catecismos e escritos históricos foram totalmente queimados. Foram todos espalhados. De fato, 16 mil famílias, repentinamente, se tornaram refugiadas. Por quase cem anos fugiram da perseguição. Tornaram-se um grupo de irmãos perseguidos, pobres, trabalhando em profissões precárias ou marginalizadas, como coveiros, diaristas, lavradores, oleiros, sapateiros, etc. Anos mais tarde, em 1722, um grupo desses irmãos refugiados estava à procura de um lugar onde pudessem viver de forma segura. Quando cruzaram a divisa da Alemanha, ouviram de um lugar conhecido como Herrnhut (Abrigo do Senhor), uma pequena faixa de terra na propriedade de um aristocrata chamado Nicholas Ludwig von Zinzendorf, o conde Zinzendorf. Pediram se podiam ficar ali. Zinzendorf não estava no momento, mas o administrador lhes permitiu acampar-se no sítio. Esses moravianos antes de conhecer a Cristo, diz a história, eram pessoas rixentas, contenciosas, religiosas – separados uns dos outros pela fria religião à qual pertenciam. Entretanto, em uma noite de oração comunitária no dia 5 de agosto de 1727, Deus quebrantou-lhe os corações e gerou uma aliança profunda entre eles, e eles decidiram colocar o amor fraternal sobre toda diferença religiosa e pessoal. Poucos dias depois, por volta do meio-dia, enquanto celebravam a Ceia do Senhor, o poder de Deus superabundou naquele lugar e todos caíram no chão diante de Deus. Naquele dia a reunião de oração e adoração continuou até a meia-noite. O Senhor se lhes mostrou como Cordeiro, levado ao matadouro, traspassado pelas suas transgressões e moído pelas suas iniquidades (Isaías 53.5,7). A oração os havia unido e transformado! Chegara o Avivamento! Estes irmãos iniciaram uma Campanha de Oração, onde um grupo de 24 homens e 24 mulheres dividiu as 24 horas do dia entre eles para orar continuamente, 24 horas por dia. Essa Campanha de Oração durou quase 100 anos, isso mesmo, quase cem anos! Com o passar dos dias, várias outras pessoas foram integradas a esta campanha. Eles oravam especificamente por Avivamento e pela Reforma da Igreja. A reunião destes irmãos com o conde Zinzendorf foi obra de Deus! Deus havia preparado e quebrantado o coração destes irmãos. Ao mesmo tempo, Ele também trabalhava no coração e na vida deste conde. Zinzendorf era de família rica, nobre. Era crente com certa ligação com o movimento Pietista. Teve como mentor, na escola onde estudou, Bartholomew Ziegenbalg, o primeiro missionário protestante para a Ásia, que nesta época estava de férias do trabalho no campo missionário. No início da idade adulta, estudou Direito, porque seus pais não aceitaram a idéia de ele se tornar um pregador. Quando concluiu o curso de Direito, fez uma grande viagem turística pela Europa, o que era comum para os membros da aristocracia daqueles dias. Como parte dessa viagem, foi a um museu de arte em Dusseldorf, Alemanha, e lá viu um quadro (Ecce Homo, de Domecino Feti) que mostrava Cristo suportando a coroa de espinhos, com a seguinte inscrição: “Eu fiz isto por ti; o que fazes tu por mim?”. Isso lhe causou uma profunda impressão e o levou a escrever em seu diário: “Tenho amado-o por longo tempo, mas realmente nada tenho feito por ele. De agora em diante farei tudo que me seja dado fazer”. Desse momento em diante, Zinzendorf soube que jamais poderia ser feliz vivendo como nobre. Qualquer que fosse o preço, ele buscaria uma vida de serviço para o Salvador que tanto sofreu para resgatá-lo. Voltou para Herrnhut, para onde os refugiados Moravianos estavam morando na sua propriedade e haviam formado uma comunidade com cerca de trezentos membros. Zinzendorf assumiu a responsabilidade, não apenas supervisionando como dono da terra onde viviam, mas sim para lhes servir de pastor. Foi exatamente nesta época que houve o avivamento! Esta comunidade, os moravianos, foram os primeiros protestantes a colocarem em prática a idéia de que a evangelização dos perdidos é dever de toda a igreja, e não somente de uma sociedade ou de alguns indivíduos. Anteriormente, a responsabilidade pela evangelização era entendida como responsabilidade do governo, através das atividades colonizadoras. Os moravianos, contudo, criam que as missões são responsabilidade de toda a igreja local. Paul Pierson, missiólogo, escreveu: “Os Moravianos se envolveram com o mundo de missões como uma igreja, isto é, toda a igreja se tornou uma sociedade missionária”. Devido ao seu profundo envolvimento, esse pequeno grupo ofereceu mais da metade dos missionários protestantes que deixaram a Europa em todo o século XVIII. Os irmãos morávios se inspiravam em Jesus como o Cordeiro de Deus sofredor, seu texto bíblico predileto era Isaías 53. Quando eles saíam pelo mundo como missionários nem viajavam como passageiros, mas como servos como aqueles que trabalhavam durante a viagem. Se alguém os empurrasse, batesse ou jogasse no chão, por serem cristãos, levantavam-se e humildemente saíam, sem dizer nada. Consideravam tal serviço ou sofrimento como um quebrantamento para seus corações orgulhosos. Em 1732, Zinzendorf foi convidado a assistir a coroação do rei Dinamarquês (ele estava ligado à família real na Dinamarca). Enquanto lá, descobriu o produto das missões Dinamarca-Halle: alguns convertidos Esquimós da Groelândia e uma pessoa convertida do Oeste da Índia, um primeiro escravo cujo nome era Anthony. Tais pessoas fizeram um apelo a Zinzendorf: “Você não pode fazer alguma coisa para nos enviar como missionários?”. Seu coração ficou muito quebrantado. Voltou para a comunidade e lançou diante dela o desafio para o envio de reforços missionários para a Groelândia, Índia e outras partes do mundo onde pessoas não conheciam a Cristo. Vinte e seis pessoas imediatamente se ofereceram como voluntárias, e, assim, o Movimento Missionário Moraviano foi lançado. Nos vinte e oito anos seguintes mais do que duzentos missionários Moravianos entraram em mais de doze países para implantação de trabalho missionário em torno do mundo. Certa vez, dois jovens moravianos ouviram falar sobre uma ilha no Leste da Índia onde 3000 africanos trabalhavam como escravo. Essa ilha era de um senhor agricultor da Inglaterra - o pior de tudo, ele era ateu. Esses jovens, chamados John Leonard Dober e David Nitschman, escreveram ao dono da ilha e perguntaram se poderiam ir para lá como missionários, a resposta do dono foi imediata: "Nenhum pregador e nenhum clérigo chegaria a essa ilha para falar sobre essa coisa sem sentido”. Então, eles voltaram a orar e fizeram uma nova proposta: “E se fossemos à sua ilha como seus escravos para sempre, o senhor nos compraria?”. O homem disse que aceitaria, mas não pagaria nem mesmo a passagem de navio deles. Então os jovens usaram o valor de sua própria venda para custear sua viagem. Quando o navio partia do cais, a esposa e filhos de David imploraram no porto para que eles desistissem e ficassem em casa. Mas o chamado de Deus para eles foi ainda maior que o chamado de casa. Enquanto o navio saía das docas os dois gritaram do navio: “Que o Cordeiro que foi morto receba a recompensa por Seu sofrimento.” Esse grito se tornou o lema do movimento das missões da Igreja Moraviana. Os dois sentiram que seu sacrifício era minúsculo em comparação ao sacrifício de seu Salvador. Eles amavam Jesus com tudo o que podiam e queriam andar em obediência, sabendo que o Deus que lhes chamava é o Deus que dá coragem, graça e a benção para a tarefa. Eles experimentaram e modelaram a verdade expressa por Paulo em Filipenses 4:13: “Eu posso fazer tudo através de Cristo, que me dá forças.” Outra história impactante ocorreu entre aqueles irmãos. Já no fim desse movimento missionário, o conde Zinzendorf se sentiu desafiado a enviar um missionário para alcançar os esquimós no Alasca. Ele relatou que certa noite sonhou com Jesus, e que nesse sonho o Senhor o instruía a enviar o oleiro. O oleiro era um homem de meia-idade, crente no Senhor Jesus, mas de personalidade pacata e que não demonstrava capacidade de liderança até então. Zinzendorf o chamou e lhe expôs seu sonho e sua preocupação com os esquimós. Antes que o oleiro se manifestasse, o conde acrescentou que, se aquele desafio fosse aceito por ele, infelizmente ele não poderia contar com uma equipe para acompanhálo, pois não dispunha de outros missionários. Não haveria também meios de sustentá- lo financeiramente, pois tinha usado todos os recursos para o sustento de outros obreiros. Por fim, cria que talvez nem voltasse, já que o Alasca no século XVIII certamente era uma das regiões mais isoladas e inacessíveis do planeta. Em outras palavras, ele deveria ir só, sem sustento e sem a garantia de voltar. Sem dúvida, esse foi um convite missionário desprovido de atrativos. Aquele oleiro permaneceu em oração por dois minutos e, por fim, levantou o rosto e respondeu: "Se o senhor conseguir me dar um par de sandálias usadas, amanhã cedo eu partirei." O conde lhe deu as sandálias. A história não relata, mas imagino que aquele homem devia estar descalço (provavelmente, ele não tinha dinheiro para adquirir um calçado). No dia seguinte, o conde se dirigiu à casa do oleiro para acertar sobre a viagem, bate à sua porta, mas ninguém atende. A vizinha do oleiro, vendo o Conde lhe informou: “O senhor chegou tarde demais, porque antes do sol nascer, o oleiro me confiou todos os seus bens e me disse que tinha uma missão importante demais que não podia esperar e partiu”. Aquele homem nunca mais foi visto, mas, hoje, sabemos que, de todos os esquimós da terra, mais de 50% são convertidos ao Senhor Jesus. Aplicação e conclusão Ao conhecer a história destes irmãos, confesso que me senti profundamente envergonhado e até triste, pois, olhando para minha vida, reconheço que tenho desperdiçado oportunidades dadas por Deus e não tenho tido coragem de sofrer, quando necessário, pelo Cordeiro, que tudo sofreu por mim. Às vezes Deus me chama para algum serviço, mas resisto, sob a justificativa de que sou incapaz para aquilo. Os dois primeiros missionários moravianos enviados eram coveiros sem qualquer formação teológica... Eles saíram para uma terra estranha, sem apoio financeiro (a maioria dos missionários moravianos trabalhava para o próprio sustento), cumprindo, sem pestanejar, ao chamado de Deus. Se Deus me chama, Ele me capacitará com certeza! Josué 1:9 Preciso mostrar em mim a luz e o sabor de Cristo, pois se o sal não salga, para mais nada presta, senão para ser lançado fora. Mateus 5:13 Preciso atender à voz de Deus. Quantas vezes ouvi pregações, entendi a vontade de Deus para minha vida e, simplesmente, não obedeci com medo das consequências, por rebeldia, preguiça... Hebreus 3:7-8; Tiago 1:22-25 Preciso entender que um compromisso verdadeiro com Cristo importará em perdas, renúncias, rejeição e até sofrimento. Mateus 5:29-30; Lucas 14:33; João 15:19-20; Filipenses 2:5-8. Não importa o que precisarei renunciar ou mesmo perder para ser fiel ao Cordeiro. O que Cristo me promete vale muito mais. I Coríntios 2:9; Apocalipse 2:10. Como diriam os irmãos moravianos: “Nosso Cordeiro venceu; vamos segui-lo”! Fontes de pesquisa: http://monergismo.com/forum/index.php?topic=1600.0;wap2 http://pronami.blogspot.com.br/2012/07/missoes-ao-estilo-dos-moravios.html http://www.meg.org.br/wmprint.php?ArtID=177 http://www.uniaonet.com/edeminformativos.htm http://timedecristo.wordpress.com/2010/05/19/os-primeiros-missionarios-cristaos-protestantes/ http://basemissionaria.org/2010/10/28/fiz-tudo-isto-por-ti-o-que-fazes-tu-por-mim/