A VIDA DO PRETINHO Em fevereiro, o Pretinho foi abandonado enrolado em um pano na rua Iguapé, atrás do estacionamento da FURB por um homem que dirigia uma camioneta. Logo após, uma outra cachorrinha também apareceu por lá. Eles vagavam pela rua sem rumo , aos poucos, foram se acostumando com o local. Quando soubemos do caso, imediatamente tentamos nos aproximar. A cachorrinha muito meiga e dócil, logo foi castrada, vacinada e encontrou um lar. Vitória era muito meiga e dócil, por isso não era justo que vivesse naquele local. Hoje ela vive com o seu Arno, o Rafael e o Lucas que prontamente a acolheram. Tentamos de todas as maneiras nos aproximar do Pretinho, porém todas elas falharam. Ele vivia com muito medo e nenhum humano conseguia chegar perto dele. Ao tentarmos, ele sempre fugia para o mato. Todas as tentativas de aproximação com o Pretinho eram frustrantes. Ele não aceitava a presença de pessoas, porque, provavelmente, tinha sofrido maus-tratos. O período das chuvas intensas iniciavam em Blumenau e vimos que ele se escondia debaixo de folhas para se proteger da chuva. Sempre que ele aparecia estava encharcado. Mas, ao conhecer o seu Ivan que dirigia um microônibus de Jaraguá do Sul a vida do Pretinho começou a mudar. O seu Ivan encontrou um pedaço de lona azul na estrada e trouxe para construirmos um abrigo para ele. No dia do alerta da enchente corri até a loja de material de construção e, embaixo de uma chuva torrencial, fui até o terreno onde o Pretinho estava e fiz um reforço no abrigo. Cheguei em casa encharcada e, 3 dias depois de uma gripe violenta estava com pneumonia. Mas, pelo menos, o Pretinho estava abrigado. Mais tarde, a Alexandra, nossa aluna da Odontologia doou uma casinha sem teto e promovemos algumas melhorias. Finalmente o Pretinho estava abrigado e alimentado. Durante alguns meses, o Pretinho fez amizades de longe com os motoristas das vans que traziam os alunos para a FURB, porém ninguém conseguia se aproximar dele. Foi aí que tivemos a idéia de consultar um veterinário que nos ajudasse a capturá-lo. Tentamos acepran no bolinho de carne e nada......tentamos o dardo com anestésico...nenhum sucesso. A próxima tentativa seria a armadilha. Quando tentamos o dardo com anestésico, o Pretinho arrancou-o com a boca e fugiu para o mato. A partir daí nunca mais conseguimos chegar a mais de 2 metros dele. Foi quando conheci o seu Nilson, um funcionário da FURB que todos os dias dividia sua marmita com ele. O seu Nilson foi a pessoa mais especial que conheci desde então. Pela manhã, ele comprava um pastel de carne na cantina e levava para o Pretinho. Lembro-me de quando ele espetou um pedaço de lingüiça num pedaço de madeira para que o Preto pudesse alcançar e comer do outro lado da cerca. Sempre, às 17 horas, ao sair do trabalho ele deixava parte de sua marmita para o cãozinho. Porque o seu Nilson sabia que todos os dias, ao meio dia, eu deixava um pote de arroz e carne e outro de ração para ele. O seu Nilson mantém 14 cães em sua casa, todos retirados das ruas de Blumenau. O Seu Nilson construiu uma guarita para o Pretinho com um cesto velho de vime, um pedaço de lona e uma folha de zinco. Este era o seu lugar predileto, durante o dia. Porém, a noite ele voltava para a sua casinha, porque lá era quentinho e não chovia dentro. Não importava se estivesse chovendo, todos os dias eu estava lá, entregando sua comida, verificando se seus cobertores estavam limpos e tentando me aproximar dele. O Pretinho vivia sozinho, mas ele também brincava. Seus brinquedos eram um sapato velho, uma caixinha de plástico, um tapete, várias garrafas pet, algumas tampinhas e tocos de árvore. Um ossinho que ele roia de vez em quando e que estava muito sujo. Me recordo que, um dia, seu pote de água não estava no lugar de sempre. Então eu o avistei junto com os brinquedos, fui até lá apanhei-o e coloquei água. Estava todo furado. Durante estes 8 meses aprendemos a amar o Pretinho, e ele já fazia parte da vida de muitas pessoas. Até que no dia 28/09, um cidadão, ao sair do estacionamento da FURB, cantando pneus do carro pela rua Iguapé atropelou o Pretinho e fugiu do local. Uma senhora, moradora da rua, ao ouvir o barulho, correu até a janela e viu o ocorrido. Lá estava o Pretinho atropelado e quando ele a avistou se arrastou até ela como se estivesse pedindo socorro. A bondosa Jaqueline, juntamente com duas colegas, Ana e Márcia, o levaram até uma clínica veterinária. Lá ele ficou internado até sexta-feira. O diagnóstico foi fratura de pelve, deslocamento do fêmur, edema de bexiga e escroto. Como estava viajando só tomei conhecimento do caso na sexta-feira pela manhã. Assim que soube, contatei rapidamente a APRABLU e decidimos transferi-lo para a Clínica Veterinária Vida Animal, sob os cuidados do Dr. Ricardo, nosso grande parceiro. Ele ainda permanece lá, pois não consegue se locomover. Eu e o seu Nilson o visitamos diariamente, na tentativa de socializá-lo e também porque sentimos muita falta dele. Segundo o Dr. Ricardo ele voltará a andar, mas não como antes, provavelmente mancando com uma perninha. No sábado, pedi autorização ao Dr. Ricardo para que o Pretinho pudesse passar o feriado na casa de uma amiga. Lá o melhor aconteceu, ele brincou muito com as duas cachorrinhas dela – Sophie e a Genie e também elegeu o Leonardo como seu líder. A noite, ele já não queria mais dormir sozinho, reclamava a companhia da Ze e das suas cachorrinhas. Agora ele voltou à clínica e depois irá para um lar definitivo. Para encerrar esta história com um final feliz. o Pretinho será adotado pela mesma família que adotou a Vitória. Obrigada Arno, Rafael e Lucas, tenho certeza que o amor que vocês tem pelos animais irá fazer com que o Pretinho supere seus traumas. Sei que ele irá retribuí-los através de lambidinhas, obediência, fidelidade e afeto. "Olhei para os animais abandonados no abrigo... os renegados da sociedade humana. Vi em seus olhos amor e esperança, medo e horror, tristeza e a certeza de terem sido traídos. Eu me revoltei e orei: - "Deus, isso é horrível! Por que o Senhor não faz nada a respeito?" E Deus respondeu: -"Eu fiz. Eu criei você."