Universidade do Minho Unidade de Ciências da Educação Os recursos didácticos numa perspectiva de Tecnologia Educativa: Estudo sobre a sua situação na rede escolar do distrito de Braga Autor: Bento Duarte da Silva. Orientador: Prof. Dr. Elias Blanco. Braga, Fevereiro de 1989. Análise: Clarice Fonte. Índice Introdução Primeira parte – Componente Teórica Capítulo I – Fundamentação da Tecnologia Educativa Capítulo II – Natureza e Formas da Comunicação Educacional Capítulo III – As Linguagens como suportes da Comunicação Capítulo IV – Os meios como recursos didácticos Segunda parte – Componente Experimental Capítulo V – Metodologia da investigação Capítulo VI – Apresentação e análise dos dados da investigação Terceira parte – Conclusão e Orientação Capítulo VII – Conclusão e orientação Notas Bibliografias Anexos Introdução A relação do homem com o ambiente foi sempre pautada pelos processos tecnológicos. Hoje em dia, mais do que nunca, a tecnologia está a converter-se na aula da cultura, na principal iniciadora e agente de mudanças das estruturas e instituições da nossa sociedade. A tecnologia muda e está mudando não só a face da terra, mas também o próprio homem. A escola, por mais contestada que seja, ainda é hoje o espaço privilegiado do processo educativo. Crianças e jovens, num movimento cada vez mais universalizado, ao frequentarem este espaço educativo, procuram ascender às competências (cognitivas, afectivas e psicomotoras) que lhes facultem o pleno desenvolvimento da sua personalidade, tendo em vista a realização individual e social. Introdução É no contexto da problemática (sala de aula) que norteia este estudo. Defendemos a tese que os recursos didácticos, à luz da Tecnologia Educativa, desempenham um papel capital no processo de ensino-aprendizagem, podendo ser um factor na renovação da escola e nas funções tradicionais do professor. Que recursos didácticos existem na escola portuguesa? Que recursos didácticos são utilizados pelos professores nas suas aulas? Primeira Parte Componente Teórica Contextualiza os recursos didácticos à luz da Tecnologia Educativa. Define temas como: Técnicas de aquisição “no contexto da relação do homem como ambiente (natureza), a técnica deve ser entendida como a aplicação de uma habilidade ou de um instrumento para facilitar a tarefa que o homem está a realizar”. “(…) a técnica deixou de ser entendida como instrumento ou procedimento, para passar a ser considerada como o conhecimento do procedimento, de tal modo que, hoje em dia, falar de técnica é sinónimo de ciência aplicada”. Educação segundo Artur de La Ordem (1981) processo de intervenção mediante o qual se estrutura o ambiente de um indivíduo em ordem a facilitar o desenvolvimento de modelos. Segunda Parte – componente Experimental Metodologia da investigação Estudo experimental sobre a situação dos recursos didácticos na rede escolar do distrito de Braga. Neste estudo a rede escolar é constituída pelas escolas do ensino oficial do nível primário, preparatório e secundário. Escolhemos esses 3 níveis de ensino, não o alargamento aos níveis pré-escolar e superior, por duas razões. A primeira, está relacionada com a economia de tempo que a apresentação deste estudo está sujeita e a segunda, a principal, porque os 3 níveis de ensino abordados constituem a espinha dorsal da rede escolar do sistema educativo que urge repensar. O lançamento e recolha de dados deste estudo experimental delimitam temporalmente, de Janeiro a Abril do ano 1989. Segunda Parte Componente Experimental Conhecer a imagem real da escola no que respeita ao seu ambiente tecnológico. O estudo foi realizado em escolas oficiais: primário, preparatório e secundário do distrito de Braga (…) pensamos que a imagem deste território educativo, pode dar-nos uma indicação muito segura da realidade da escola portuguesa. O objectivo do estudo experimental 1 – Proceder a um levantamento dos recursos didácticos nas escolas da rede escolar do distrito de Braga; 2 – Aferir sobre a integração pelos professores dos recursos didácticos no processo de ensinoaprendizagem. Instrumento de investigação Elaboração de questionários estruturados: O primeiro para proceder à recolha de elementos relativos aos recursos didácticos existentes na escola O segundo com opções livres, para obter dados sobre a utilização dos recursos didácticos pelos professores e auscultar as suas opiniões e expectativas face ao uso na sala de aula. Os questionários foram testados. O primeiro por um órgão de gestão da escola de cada nível de ensino. O segundo junto de uma amostra preliminar de 30 professores. 30 professores seleccionados de forma aleatória e sem atender ao nível de ensino. População Este estudo experimental, abrange duas populações distintas: a) Directores das escolas do ensino primário e Conselhos Directores das escolas do ensino preparatório e secundária localizadas no distrito de Braga; b) Corpo docente em exercício no ensino primário, preparatório e secundário nas escolas oficiais do distrito de Braga. Apresentação dos dados O registo numérico de recursos didácticos existentes é de 25; Ao confrontar os 3 níveis de ensino, verificamos que as escolas dos níveis preparatórios e secundário estão melhor e mais apetrechadas do que as escolas do ensino primário. Não existem nas 11 escolas do ensino primário recursos “audiovisuais propriamente ditos”, informáticos, laboratórios e oficinas, enquanto que nos ensinos preparatório e secundário apenas notamos uma ausência de: câmara de vídeo no ensino preparatório e de laboratório de línguas no ensino secundário. Recursos existentes nas escola - Ensino Primário Cobertura total: Quadro-negro (100%); Cobertura média: Flanelógrafo (64,5%); Quadro de murais (53,5%); Rádio (41%); Cobertura reduzida: Quadro magnético (25%). Recursos existentes nas escola - Ensino Preparatório Cobertura total: Cobertura média: Quadro-negro (100%); Retroprojector (100%); Projector de diapositivos (96,9%); Écran (93,8%); Gravador de som (93,8%); Televisão (62,5%); Rádio (53,1%); Giradisco (43,8%); Flanelógrafo (43, 8%); Projector de filmes (43,8%) Oficinas (50%); Laboratório de fotografia (43,8%) Cobertura significativa: Quadro murais (84,4%); Episcópio (78,1%); Máquina fotográfica (75%); Laboratório de ciências (75%); Cobertura reduzida: Quadro magnético (31,3%); Gravador de vídeo (34,4%); Fotocopiadora (96,9%); Computador (25%). Recursos existentes nas escola - Ensino Secundário Cobertura total: Cobertura média: Quadro-negro; Quadro de murais; Retroprojector; Fotocopiadora; Projector de diapositivos; Écran; Projector de filmes (52,1%); Televisão (60,9%); Gravador de vídeo (43,5%); Computador (34,8%). Cobertura elevada: Quadro magnético (13%); Flanelógrafo (21,7%); Câmara de vídeo (13%). Episcópio (91,3%); Máquina fotográfica (95,7%); Gravador de som (95,7%); Laboratório de ciências (95,7%); Laboratório de física (91,3%); Laboratório de química (91,3%); Oficinas (87%); Laboratório de fotografia (65,2%). Cobertura reduzida: Distribuição territorial dos recursos didácticos a) Ensino Primário; Ausência muito significativa da maioria dos recursos didácticos. Apenas cinco recursos existem em todos os concelhos. As ausências estão generalizadas por todos os concelhos. b) Ensino Preparatório; A distribuição dos recursos didácticos pelos vários territórios educativos está efectuada de forma desigual. Enquanto o concelho de Braga é o mais favorecido com a ausência apenas de um recurso (câmara de vídeo) e está acompanhado de perto pelos concelhos de Fafe e Guimarães com três e quatro ausências respectivamente, surge-nos no outro extremo, o menos favorecido, o concelho de Vieira do Minho com a ausência significativa em 15 recursos. c) Ensino Secundário; A distribuição dos recursos didácticos pelos territórios educativos está efectuada de forma desigual. Os concelhos de Braga, Barcelos, Guimarães, Fafe e V. N. de Famalicão são os melhores apetrechados. Integração dos recursos didácticos pelos professores no processo de ensino-aprendizagem Depois de apreciado o estado das escolas no que concerne ao apetrechamento em recursos didácticos vamos analisar como se processa a sua integração no processo de ensinoaprendizagem sob o ponto de vista dos professores; 1) Variável sexo → exerce pouca influência na utilização da generalidade dos recursos didácticos. Contudo, verificamos que, em qualquer nível de ensino, as professoras registam uma ligeira tendência em utilizarem com mais frequência a maioria dos recursos, com excepção do episcópio (preparatório) e do computador (preparatório e secundário) que são usados com mais frequência por professores. 2) Variável “anos de serviço” → audiovisuais e computadores verificamos uma maior tendência de utilização por parte dos professores mais jovens. Integração dos recursos didácticos pelos professores no processo de ensinoaprendizagem 3) Variável formação em comunicação audiovisual → quadro mural, utilizado por 57,8% dos professores do secundário que possuem formação audiovisual contra 25,5% dos professores que não possuem. → retroprojector utilizado por 81,8% dos professores do preparatório com formação contra 44,8% que não possuem; → computadores utilizado apenas por professores com formação (9,1% no preparatório e 5,3% no secundário). → os efeitos desta variável, agrupa apenas aos professores do ensino preparatório e secundário, qualquer dos professores primário não a possuem. → verificamos que é bastante reduzido o número de professores com formação em comunicação audiovisual: 11 no preparatório e 19 no ensino secundário. Dificuldades sentidas na utilização dos recursos didácticos a) Na área de apetrechamento das escolas. b) Na área de condições pedagógicas de utilização. c) Na área de gestão dos recursos didácticos. d) Na área da formação dos professores Atitude perante a utilização de recursos audiovisuais no ensino A maioria dos professores manifesta uma atitude favorável à utilização de recursos audiovisuais. Com efeito, apenas 4,6% duvidam da utilidade de uso, 14,3% não formulam opinião (com maior incidência nos professores do ensino primário onde atinge a cifra de 26%). E 15,3% reconhecem mais a necessidade que a oportunidade de uso, isto é, manifestam uma aceitação passiva. Os restantes professores, a maioria (65,7%) reconhecem a oportunidade de utilização. Conclusão e orientação Situação das escolas da rede escolar do distrito de Braga sobre o apetrechamento em recursos didácticos. 1) Profundo desfavorecimento das escolas do ensino primário em relação às escolas dos níveis de ensino preparatório e secundário. 2) Profunda desigualdade na distribuição dos recursos didácticos pelas escolas dos diversos territórios educativos (concelhos). 3) Insuficiente apetrechamento das escolas na maioria dos recursos didácticos em função do número de salas e de turmas em funcionamento simultâneo. 4) Nítido insuficiente apetrechamento das escolas em recursos didácticos em função do número de potenciais utilizadores. 5) Manifestação dirigida à aquisição de recursos didácticos das Novas Tecnologias para a inserção no processo de ensinoaprendizagem por parte dos responsáveis das escolas dos níveis preparatório e secundário e para recursos mais tradicionais por parte dos responsáveis das escolas do ensino primário. Orientações para uma política eficaz sobre o apetrechamento, gestão e utilização dos recursos didácticos A optimização, na sala de aula, da relação professor/ aluno, passa pela diversificação dos recursos e das práticas pedagógicas através da utilização correcta dos vários recursos didácticos. Sugerimos três linhas que a organização do ensino deveria atender no que concerne ao apetrechamento, gestão e utilização dos recursos didácticos nas escolas. A saber: 1- Apetrechamento flexível e racional, com base nos princípios do enquadramento curricular, diversidade, intercomunicabilidade e democratização. 2- Criação de centros de recursos educativos de âmbito regional. 3- Formação dos professores em Tecnologias Educativas. Bibliografia 22 páginas: sendo na sua maioria livros, revistas e documentos policopiados. Fim