Movimento Encontros de Jovens Shalom Semana III – O Deus da Misericórdia Como Jesus pratica Deus ‘Quem me vê, vê o Pai’ - diz Jesus. Então, vamos contemplar o ser e o agir de Jesus de Nazaré, o que podemos traduzir por ‘vamos ver como Jesus pratica Deus’. Na prática de Jesus podemos contemplar especialmente a imagem do Deus da Misericórdia. Jesus assume a linha da tradição dos profetas, segundo a qual Deus aparece como parcial e defensor dos oprimidos, pobres e fracos, agindo contra a injustiça que os produz e garantindo a promessa de uma utopia em que a vida e a justiça são possíveis. Nessa linha, Jesus assume também a visão de um Deus que se relaciona de forma exigente com as criaturas: exige conversão pessoal e interior, suscita a vocação dos profetas e exige deles doação total. Jesus assume também a tradição que coloca o futuro absoluto de Deus, no sentido de que só Deus transformará a realidade, como plenitude dos tempos. Jesus assume também as tradições da Sabedoria do Antigo Testamento: um Deus criador e providente, que cuida de suas criaturas e vela por suas necessidades quotidianas, que permite que na história cresçam juntos os bons e os maus. Jesus concretiza assim a tradição de Miqueias, onde a vivência de Deus se concretiza ‘praticando o direito, amando com ternura e caminhando humildemente com Deus’ (6,8). 1. A confiança num Deus que é Pai Os evangelhos deixam claro que Jesus depositou sua confiança em Deus. Essa confiança é real e supõe que Deus é realmente bom para com Jesus, ao ponto de ele o chamar de ‘Abba’ (‘pai’, ‘querido pai’). Dizer que, para Jesus, Deus é ‘algo bom’, pode parecer o mínimo, mas é muito importante. Significa que a identidade última de Deus não é o seu poder, nem o seu pensamento, nem o seu julgamento, mas sobretudo a sua bondade. Jesus está convencido de que Deus é bom para com ele e de que é bom para as pessoas. Significa que Deus não é aquele que tanto pode salvar como condenar, mas aquele que é, por essência, bondade e salvação para as pessoas. 2. A Bondade de Deus Segundo Jesus, os seres humanos são o mais importante para Deus e não há nada mais importante do que eles. A causa das pessoas é a causa de Deus. O ser humano é mais importante do que todas as coisas (Mt. 6, 26) e nada do que foi criado pode ser usado contra a pessoa, nem sequer o que convencionalmente se apresenta como ‘serviço a Deus’. Deus aparece como quem não tem direitos contra o ser humano, mas os seus direitos são aqueles que favorecem as pessoas. Deus é bom e está, por essência, a favor das pessoas. Ano Pastoral 2008 - 2009 Movimento Encontros de Jovens Shalom Jesus apresenta-se assim como o grande sacramento do Deus Bom, como aquele que passou tornando concreta a bondade de Deus neste mundo. Ele não tem nada melhor a oferecer do que a bondade de seu Deus. A lógica maior de Jesus não consiste em apresentar Deus como alguém que exige que ‘sejamos bons’, mas em apresentá-lo como boa-notícia: ‘reproduzam a bondade de Deus, porque isso é o bom para os seres humanos’. Deus, para Jesus, não só é o bom para as pessoas, mas também a sua bondade tem que ser descrita como amor. Um amor que se alegra com o bem do outro e só por causa do bem do outro. É isso que S. João quer deixar claro ao dizer ‘Deus é amor’. É um amor que, para mostrar a sua essência, aparece como ternura. Assim como Isaías descreve Deus mais terno do que uma mãe, assim Jesus o compara com o pai que vai ao encontro do filho que saiu de casa, acolhe-o, abraça-o e celebra o seu retorno (Lc. 15, 11-31). Por isso, podemos sintetizar a lógica de Jesus: ‘Deus é assim, assim sejam também vocês’! O amor não é um mandamento arbitrário que Deus impõe... Deus pede-o às pessoas, porque isso é bom para elas! Esta visão de Deus como bondade, amor, ternura... é essencial em Jesus e constitui o núcleo da sua experiência de Deus. 3. O Deus Bom não é autoritário nem opressor Deus é absoluto e está além dos seres humanos e da história, é senhor e juiz, mas não é autoritário ou déspota. Por isso o próprio Jesus se apresenta como servidor e livre. Jesus apresenta-se com autoridade, mas sem autoritarismos e diz que a autoridade é serviço em liberdade. Jesus desmente a ideia de que o poder é mediação de Deus, como muitas vezes se quer fazer acreditar. Por isso Jesus não só afirma que veio para servir e não para ser servido (Mc. 10, 45), como também não se deixa servir e ele mesmo se faz servidor. Aos seus discípulos diz que ‘quem quiser ser o maior, que seja o menor’ (Mc. 9, 35). Denuncia os poderosos do seu tempo (Mc. 10, 42) e diz que entre os seus discípulos não deve haver essa prática de autoritarismo. Jesus não impõe, não censura nem intimida e raramente manda ou repreende. Muitas vezes Jesus aparece argumentando, apelando para a razão dos seus opositores, mas nunca impondo. Imposição Jesus só faz contra as forças que oprimem as pessoas e as impedem de viver com dignidade. Ele é sobretudo o amigo que ajuda as pessoas a buscar a vontade de Deus. Com esta prática, Jesus apresenta uma imagem de Deus específica: a Deus não se pode negar o poder... mas Jesus nega tudo aquilo que há de arbitrário e de opressor em qualquer poder. Deus não é assim. Deus é aquele poder que permite às pessoas serem livres na sua auto- Ano Pastoral 2008 - 2009 Movimento Encontros de Jovens Shalom responsabilidade. Deus deixa as pessoas serem pessoas. Claro que Deus tem exigências para elas, às vezes muito fortes, mas deseja que elas as cumpram de maneira humana, com liberdade e por convicção, mais do que por medo e imposição. Jesus não exclui de Deus a realidade do poder, mas vê esse poder sobretudo como a força da bondade e da verdade. Essa força da bondade de Deus, que Jesus experimenta, faz com que ele seja um homem livre. E, por isso, liberdade para Jesus não é fazer ‘o que ele quer’, mas ser bom e misericordioso assim como o Pai é! A bondade de Deus é que liberta para a bondade e, através disso, liberta a pessoa. A pessoa livre é a pessoa libertada antes. É essa a imagem que Jesus oferece: amados para amar! Livres para libertar! Libertados para libertar! A experiência da bondade de Deus é o que liberta Jesus e por isso ele exercita a sua liberdade para a bondade. Aqui está o verdadeiro sentido da bondade de Deus: como força criadora de liberdade! 4. A intimidade de Jesus com o Pai: ‘Abba’! Jesus está convicto de que Deus é bom e de que é bom que haja Deus! A nível de sua própria interioridade, Jesus se relaciona com esse Deus bom com confiança, e isso ficou consagrado no termo que ele usa para se dirigir a Deus: ‘Abba’, pai! No judaísmo, havia resistência para se dirigir a Deus como Pai. No evangelho, Jesus aparece chamando Deus de Pai em 25 momentos! Isso pode ser considerado como prova de respeito com familiaridade e confiança. Jesus fala com Deus como uma criança fala com seu pai, com simplicidade, intimidade e segurança. Essa confiança para com Deus mostra que, para Jesus, Deus é não só bom, mas também alguém em quem se pode confiar e descansar, alguém que dá sentido à existência das pessoas. Jesus não só agradece a bondade de Deus, como também se alegra pelo facto de Deus ser assim. E, também por isso, Jesus aproxima-se das pessoas e sobretudo daquelas que têm mais necessidade de bondade: os pobres, os pecadores. Essa bondade de Deus produz alegria em Jesus. Ele alegra-se porque Deus é assim! Alegra-se quando os pequeninos conhecem esse Deus, quando os pecadores não sentem medo desse Deus, quando os pobres confiam nesse Deus. E, por isso, o mesmo Jesus introduz as pessoas nessa intimidade que ele mesmo tinha com Deus: ‘Quando orardes, dizei Pai nosso’! ‘Nosso’ é a realidade do Reino, ‘Pai’ é a realidade de Deus! Deus é assim para Jesus: Pai bondoso em quem se pode confiar e descansar. Essa experiência da bondade de Deus permeia a sua actividade de fazer o bem e dá sentido último à sua pessoa, porque ele vê que a bondade de Deus perpassa a sua própria realidade. A sua confiança provém da experiência fundamental de que por trás de tudo e no final de tudo, está algo bom, porque Deus é Pai! Como me sinto ao ler este texto, neste tempo de caminhada quaresmal – tempo de conversão e mudança? Ano Pastoral 2008 - 2009 Movimento Encontros de Jovens Shalom Como experimento a ‘Bondade de Deus’ na minha vida? Experimento que realmente Deus é bom para comigo? Sinto necessidade de ajudar os outros a experimentarem a Bondade de Deus? Como é que a minha vida está a ser sinal da Bondade de Deus para as pessoas? Que compromisso/apelo concreto este texto suscita à minha vida? (numa palavra, escreve o teu compromisso para a tua vida na carta abaixo, depois recorta-a e cola-a no caminho, que está disponível para download em www.shalom.pt.) Ano Pastoral 2008 - 2009