Recreio Domingo, 12 de Janeiro de 2014 Nº 137 SÉRIE III Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. CONSELHOS Suplemento infantil do Jornal de angola CARTAS DOS AMIGUINHOS Ano Novo Vida Nova Férias inesquecíveis no Bembe PROVÉRBIO Passarinho que acompanha morcego amanhece de cabeça para baixo. BRINCAR E APRENDER ADIVINHAS Os meus pais são naturais do Bembe e nestas férias estive em casa dos meus avós. Gostei muito de conhecer este município do Uíge porque é 1. Quais as maçãs que chegam à boca mas não se comem? uma vila bonita e com muita História. O meu avô ensinou-me que há um 2. Que lindos amores eu tenho, que lindos, que ingratos! Andam por século era o centro mais importante do Norte de Angola, com muito mais dentro das botas e por fora dos sapatos? importância do que a capital provincial. 3. Só a faz quem já a tem, pois quem a não tem não a faz. Se a tem A última vez que fui ao Bembe o município tinha poucas escolas e as pode não a fazer, se a fizer já não a faz. crianças não podiam estudar porque não tinham salas nem professores. 4. Trabalha como um relógio, sem ser relógio. Tem raízes mas não é Hoje praticamente todos têm acesso à escola. vegetal. O lugar onde nasceu é onde espera morrer, e o seu maior Também existiam poucos centros de saúde e quem tinha uma doença amigo nunca o deseja ver. mais grave tinha que ir para o Hospital do Uíge. Hoje o Bembe tem 22 5. O que é que anda deitado e dorme de pé? centros e postos de saúde. Existem médicos e enfermeiros. Tudo mudou 6. Qual o céu que não possui estrelas? em pouco tempo. As casas eram cobertas a capim e a Administração Municipal tinha instalações em mau estado. Hoje tudo mudou. O Bembe tem habitações bonitas e confortáveis. Os serviços públicos funcionam Suplemento infantil do Jornal de angolaMOTA AMBRÓSIO em instalações novas ou reabilitadas. O Bembe já tem luz eléctrica e água portável para todos. A administradora municipal anunciou aos moradores da vila que ainda este ano vai ser criado um hospital para 100 doentes. O mau pai disse que qualquer dia é melhor viver no Bembe do que no nosso bairro em Luanda e vamos mudar para lá. Gostava muito que no resto do país as mudanças sejam iguais às do Bembe. Recreio Soluções: 1. Maçãs do rosto; 2. Tornozelos, 3. Barba; 4. Coração; 5. Pé; 6. Céu da boca. Começou um novo ano e todos têm algo projectado para o ano 2014. Os alunos também têm um plano, o de estudarem mais e passarem de classe para entrarem para o Ensino Médio e depois para a Faculdade e tornarem-se bons construtores da sociedade angolana. Para isso é preciso prepararem-se. Começar pelo material escolar, ler de vez em quando, enquanto duram as férias para não ficarem desactualizados. É preciso exercitar a mente para que ela se desenvolva e vos ajudar nos vossos estudos. Se não exercitarem a mente, ela fica pobre. |11 ANDRÉ PEDRO KIANGALA|11 ANOS|RANGEL VAMOS COLORIR SA B IA S QU E. .. A A Terra é chamada Planeta Azul porque é constituída, sobretudo, por mares e oceanos. As áreas de água mais vastas chamam-se oceanos. As mais pequenas, mares. Os mares e os oceanos abrangem mais de dois terços da superfície da terra. O Oceano Pacífico cobre mais de um terço da superfície terrestre. Os mares e os oceanos contêm mais de 97 por cento da água do planeta. AO oceano pode dividir-se em três zonas, conforme a profundidade que a luz solar alcança: zona eufótica, zona disfótica e zona afótica. Nas profundezas, a água do mar é mais fria e sombria porque os raios do Sol não chegam lá. O fundo do mar não é plano. Debaixo do mar há abismos profundos, montanhas, vulcões e planícies. O cortiço grande e os ferozes lobos roubadores CONTOS POPULARES ANGOLANOS SEKE IA BINDO | Lusenje guardava nos jardins da memória as mais belas flores da sua infância. Percorreu todos os rios, desde o Catumbela ao Cuito, do Queve ao Cuanza, procurando uma saída para a servidão. Poisou, já velha e cansada, nas terras do Chinguar, rodeada de filhos e netos. Cada ruga do seu rosto era um mundo de aventuras, uma recordação de sofrimento, uma marca de esperança. Acendia a fogueira no jango e rodeada das crianças da aldeia, lançava no ar as adivinhas e provérbios. Meninas e meninos colavam os seus olhos na boca de Lusenje. E as palavras da mais velha saíam mansas, numa lentidão que pedia ao tempo que parasse naqueles momentos mágicos que se soltavam da aldeia e percorriam a serra até se despedaçarem contra os rochedos vestidos com musgos de milénios. Lusenje, com o rosto iluminado pelas labaredas da fogueira provocava as meninas: - O cortiço grande está à espera dos esbanjadores. As adolescentes, que conheciam a adivinha, punham os olhos na fogueira e esperavam que os mais novos respondessem. Lusenje insistia: - Ekuku lyakula litãyilili olomeseyi… As meninas com gestos castos tapavam os rostos. Os meninos, nem uma palavra. E Lusenje explicava com malícia no olhar: - A menina casadoira está à espera dos rapazes que a pretendam! Algazarra dos rapazes e risos púdicos das meninas. O fogo arde e aquece a noite. Lusenje interrompe os atrevidos: - Ongombe yange yehoma k’eyawu… Ekuku? O meu boi magrinho no meio da ponte… o que é? Nem um saber responder. Meninos e meninas esperam ansiosamente as palavras da velha. Ninguém se atreve a dar uma resposta. Mas ela, pausadamente dá a resposta: - O celeiro vazio! A noite foi invadida pelas estrelas e a serra despeja na aldeia sons indecifráveis. KINDALA MANUEL O Cuanza nasce em Mumbué no município do Chitembo na província do Bié e é o maior rio angolano Dizem que são os lamentos dos que se perderam no caminho para o paraíso. Mas é apenas o mistério do Lépi e as noites que cobrem a serra de magia. Vovó Lusenje começa a cantarolar: - Wawala omanjata kakine Wawala omanjata kakine Wawala omanjata yele ee! Meninas e meninos estão a dar sinais de sono e a chama da fogueira começa a perder calor. Lusenje também está mais seca que antes do serão, mais perto de se extinguir como a fogueira. Olha as crianças com ternura e pede-lhes para guardarem para sempre na memória estas palavras: - Yuvuli ava veyaya kokwene l’uwalo wolomeme, v’okati pwãyi valinga olombindji vikukolola. Tenham cautela redobrada com aqueles que se aproximam de nós vestidos com peles de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores! Na serra do Lépi uivam mabecos e chegam à aldeia gemidos de hienas traiçoeiras. A Lua arranca clarões dos rochedos nus. Amanhã é outro dia e Lusenje, apesar de ressequida pelos anos, ainda está de pé. As crianças adormecem na pobreza da esteira e sonham com bois gordos e grandes cortiços repletos de mel.