FÉ e FORTALEZA Madre Clélia olhou para a Cruz: contemplou o peito rasgado de Jesus e, por essa porta aberta pela lança, fez entrada no Coração Divino, onde fixou morada para sempre. E são inúmeros os nomes com os quais ela, com ternura, se refere a esse lugar: porto seguro, ninho sagrado, refúgio de paz, aposento secreto do Altíssimo... Clélia espelhou-se também em Maria que, em oração, responde à mensagem do Anjo, dizendo: “FAÇA-SE...!” E nasceu o Salvador. Foi ao Getsêmani: contemplou Jesus... sozinho, abandonado até pelos amigos íntimos, que foram convidados a estar com Ele, em oração. Envolto em grandes sofrimentos, Jesus responde ao Pai: “FAÇA-SE...!” E assumiu a Redenção do Mundo. Diante das dúvidas, das incertezas, do grande desejo que nutria de fazer o Coração de Deus conhecido e amado, Madre Clélia, com a FÉ e a CORAGEM hauridas desse Coração divino, também pronunciou o “FAÇA-SE...!” E nasceu o Instituto das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus. Assumindo um caminho de FÉ e de FORTALEZA, Clélia reza: “Adorável Jesus, a tudo estou disposta, contanto que veja triunfar o Instituto das Apóstolas, que consagro ao Teu Coração, e venha a saber que minhas filhas o tornam cada vez mais conhecido e amado no mundo inteiro.” Clélia debruça-se sobre o mapa mundi; deixa cair nele suas lágrimas, e profetiza a missão que entrega a cada uma de suas filhas: o Coração de Jesus, conhecido e amado... E a profecia está encontrando ressonância, em todas as dimensões do mundo e através dos mais avançados meios de comunicação, satisfazendo o desejo ardente e corajoso da Madre: “Levai, a todos, um raio daquela ternura santa que fostes buscar no Coração Divino de Jesus”. Madre Clélia inicia, então, com o grupo convocado, o trabalho para dinamizar o Carisma, que se torna cada vez mais forte e exigente, no coração da Madre, colocando-se à disposição da Igreja para as diversas pastorais: catequese, assistência aos órfãos, aos idosos, oratórios festivos, onde as crianças e os jovens eram iniciados no aprendizado da doutrina, da música, demais artes e dos serviços domésticos. Está preparado o terreno, para depositar as sementes do Carisma que arde no coração da Fundadora e de suas colaboradoras. E, atenta à encarnação do carisma, procura, no Reino de Deus, espaços, para que sua família religiosa, que está nascendo, lance raízes profundas. Da Comunidade, qual turíbulo ardente, subiam incessantes preces, acenando à fecundidade da Obra nascente. Mas, no horizonte, já apareciam os primeiros relâmpagos e ventos, que exigiam da frágil barquinha a Fé e a Fortaleza necessárias para não deixar enfraquecer a chama ardente do Amor que a conduzia. A palavra da Madre, porém, não dava lugar ao desânimo, à tristeza: - “Coragem, filhas, continuem na fidelidade e no sacrifício com tranquilidade; e tenham a certeza de que as bênçãos do céu não lhes faltarão. Façam, cada dia, algo mais que no dia anterior; aliás, façam-no melhor”. É nosso dever aspirar, continuamente, à santidade, não tanto ampliando o bem, e sim, aperfeiçoando-o. Fortalecidas as raízes da primeira Comunidade, Madre Clélia sentiu a necessidade de organizar a vida das Apóstolas, na caminhada espiritual, apostólica e missionária, visando ao fim primordial: a santificação. Ancorada na Fortaleza de uma Fé ardente, Clélia envia as primeiras missionárias para as Américas. Isto provocou críticas, baseadas no envio das Irmãs para o mundo desconhecido, ao que ela responde: “Sim, não conheço as Américas, mas estou ciente do que sempre procurei colocar no coração de minhas filhas: o Amor do Coração de Jesus, que não deixará faltar a fortaleza da Fé!” Chegando ao Brasil, as apóstolas, alimentadas pela ternura e pelo amor missionário de Clélia, lançaram-se ao trabalho, tendo o Coração de Jesus como Centro das motivações mais profundas. A missão, que era promissora, começa a revestir-se de nuvens escuras e turbulências diversas, prenúncio de tempestades. Madre Clélia continuava insistindo que as Irmãs permanecessem unidas, amparadas pela oração, que as fortalecia, diante dos sofrimentos. E escrevia, novamente: “Coragem, minhas filhas, continuem sua vida de fidelidade, e tenham a certeza de que as bênçãos de Deus não lhes faltarão.” Madre Clélia começa a ser ameaçada, em consequência de sua atuação enérgica, frente à previsão de mudança do nome do Instituto, da unificação com outra Congregação, de problemas internos, calúnias e desinformação do que acontecia no governo do Instituto, e chega ao ponto de assumir o “caminho do deserto”, onde a gramática do Coração de Jesus só tem o vocábulo: “Abandono!” Foi esse o momento decisivo, em que Madre Clélia solicitou as raízes do Instituto, colocando o Amor, onde ele estivesse ausente; a Reparação, onde o Coração Divino fosse ofendido, esquecido; e, com Fortaleza e Fé, as Apóstolas como os Apóstolos se lançassem no mundo inteiro. Mas era o exílio para o qual o Coração de Jesus chamava Clélia, a fim de falarlhe no silêncio. E Clélia faz a experiência do apóstolo: inclinou a cabeça sobre o Coração do Mestre, auscultou e fez suas as batidas redentoras... Abandonou-se totalmente à Vontadede Deus; fez a entrega plena de si mesma, dos seus projetos, de sua mente e até do seu juízo. – “Adorável Coração de Jesus, a Congregação é Vossa: TOMAI-A! Só em Vós, meu querido Jesus, encontrei o que, em vão, procurava em outros lugares...” A exigência do retorno da Fundadora à Casa Geral, para ser obtida a aprovação do Instituto, fez com que o coração de Clélia se abrisse para um “caminho de esperança”. Despontou o dia do reencontro da Madre com as filhas fiéis do seu coração... Chegando à Casa Geral, ao saudar Madre Marcelina que, feliz ia declinando a beleza atual dos diversos ambientes, resultante das melhorias ocorridas, Madre Clélia, com os olhos brilhantes de ternura e alegria, olha para a Madre e pergunta: “E minhas filhas, você as deixou também mais bonitas?!...” Vamos procurar a resposta no XVI Capítulo Geral, onde Madre Clélia foi a “Capitular por excelência”, concretizando sua profecia: “seremos ícones da beleza de Deus”. ____________________________________ Ir. Fernanda Sbríssia – ASCJ Curitiba, novembro de 2015.