CIRCUITOMATOGROSSO CULTURA EM CIRCUITO PG 5 www.circuitomt.com.br CUIABÁ, 1 A 6 DE SETEMBRO DE 2011 SÓ PARA ‘ESCLARICER’ degustava cada momento, fossem eles amargos ou doces. Nada lhe escapava. Quase nada lhe escapou... Quisera todos tivéssemos um leitor de Clarice por perto. Tenho sorte. E meu amigo ainda cozinha para mim. Faz um arroz tão bom que, de acompanhamento, vira prato principal. Será que Clarice gostava de arroz? Vou procurar saber. Por Deus, alguém desgosta de arroz? Eu minguaria sem. O arroz une, agrega, junta, aproxima. O arroz é convivial. É deliciosamente discreto... Incrementeo se quiser, como quiser e o quanto desejar, mas sua essência continuará humilde, serena e pacífica. Isso também é bom. A essência não pode ser mudada... Desfrute de todos os tipos disponíveis no mercado, do integral ao exótico arroz negro; do arroz vermelho que se come antes com os olhos; do arbório e do carnaroli, próprios para a cozinha italiana; do basmati, de aroma e sabor intensos, que nos remete à culinária indiana; do arroz especial para o ‘carreteiro’ de domingo em O GOSTO PELO GOSTO atenção no que lhe contavam os taxistas e outras pessoas simples e sabidas à sua volta. Clarice acreditava em Deus. Isso é bom. Percebia com clareza o que chamamos de vida. Tinha os cinco sentidos, e outros sentidos, tão apurados que via o invisível, tocava o nada, ouvia o silêncio, sentia o cheiro da morte que sempre ronda o que está vivo. Clarice Por Elma Rios “Laranja na mesa. Bendita a árvore que te pariu.”- Amor à Terra/ C.L.- Pois é. Costumo rechear alguns de meus escritos com palavras boas de Clarice Lispector. Se sou leitora de Clarice? Acho que não. Sou ‘escutadora’ de Clarice, pois tenho um amigo que sempre a lê para mim. Ele, sim, é leitor de Clarice e a lê com entusiasmo, sem egoísmo, em voz alta e clara, com ternura enquanto eu, eu preguiço. Quer maior prova de amizade? Meu amigo é muito mais jovem que eu. E sempre o será. Isso é bom ou é cruel? Repare, a vida é cruel. Mas Clarice sabia achar também beleza e encantamento na crueldade (vou tentar fazer o mesmo)... Admirava o verde das florestas, o amarelo dos leões, as manchas das borboletas. Ela também bordava, tomava café com coca-cola para manter-se alerta, fumava quando não podia dormir, fumava quando podia, fumava... Prestava Elma é professora de francês, apaixonada por panelas e sapatos [email protected] família e do velho e bom arroz branquinho de todo dia... Benditos sejam os arrozes que aceitam ‘maquilagem e perfume’ diferentes sem macular sua alma! Capriche e seja feliz! Bon appétit. FERREIRA GULLAR E A POESIA DE CORDEL Rosemar Coenga é doutorando em Teoria Literária e apaixonado pela literatura de Monteiro Lobato [email protected] ALA JOVEM um valente João Boa-Morte, cabra marcado para morrer deveria ser uma peça teatral sobre a reforma agrária, mas a intenção do poeta não foi concretizada e o poema terminou sendo publicado como folheto de feira. Além do personagem João Boa-Morte, há referências a Pedro Teixeira, líder camponês que teve “morte de encomenda”. História de um valente conta a prisão e os sofrimentos do líder comunista Gregório Bezerra, preso e ultrajado pelos militares em período de repressão política. Gullar escreveu esse poema por solicitação do Partido Comunista, logo após o golpe de 1964, mas, por medida de precaução, assinou o texto sob o pseudônimo de José Salgueiro. Muitas pessoas pensaram que o folheto havia sido escrito por um poeta da feira do Nordeste. Os quatro romances de cordel de Gullar estão ligados à literatura engajada e todos terminam com fios de esperança. Por Rosemar Coenga Entre os anos de 1962-1967, Ferreira Gullar publicou quatro poemas narrativos com a temática das desigualdades sociais, o domínio do capitalismo e as lutas políticas entre latifundiários e camponeses. O poeta escolheu a poesia de cordel para tratar desses temas. Os anos se passaram. Os poemas escritos na década de 1960 foram reunidos pela primeira vez e publicados pela Editora José Olympio (2009), com belas ilustrações do xilógrafo paraibano Ciro Fernandes. Gullar explica, em nota que aparece na contracapa do livro, que escreveu esses poemas na década de 1960, durante sua atuação no Centro Popular de Cultura (CPC), da União Nacional dos Estudantes (UNE), e que o objetivo maior, naquela época, era muito mais de fazer política do que fazer poesia. Os poemas aparecem com o título Romances de Cordel e incluem: João BoaMorte, cabra marcado para morrer, Quem matou Aparecida? História de uma favelada que ateou fogo às vestes; Peleja de Zé Molesta com Tio Sam e História de