PSICO-ONCOLOGIA, APOIO EMOCIONAL PARA O PACIENTE E FAMÍLIA NO ENFRENTAMENTO DO CÂNCER Vera Anita Bifulco1 Cuidar das emoções é tão importante quanto o cuidar do físico, principalmente se este for abalado por um diagnóstico de câncer. Apesar de hoje já se poder falar em “cura” para o câncer graças aos progressos alcançados nas áreas de diagnóstico e terapêutica precoces, ainda é grande o impacto da palavra câncer ligada ao estigma de sofrimento, mutilação e morte. A palavra câncer é empregada para designar um grupo de doenças que se caracterizam por anormalidades nas células e por sua divisão excessiva e descontrolada. Sua etiologia é multifatorial. Para que um câncer se desenvolva é necessária a atuação de diversos fatores que vão desde a predisposição genética, a exposição a ris O câncer pode ser considerado cada vez mais um fenômeno não só biológico, mas também psicológico e social em toda sua amplitude, pois pode acarretar isolamento, negação da doença e uma resistência muito forte frente ao tratamento que também é revestido pelo pré-conceito de sofrimento e dor. Tanto o paciente como a família deveriam ficar aos cuidados de uma equipe multiprofissional, pois a família recebe o diagnóstico junto com o portador, sofre, vibra e torce em cada fase do tratamento. Daí a necessidade imperiosa de se cuidar também da família que possui duplo papel, cuidadora e merecedora de cuidados. É necessário estarmos atentos a todos os fatores e sentimentos que norteiam o cuidar para que a família possa repassar ao paciente uma qualidade de cuidados melhor e uma qualidade de vida mais digna a todos os envolvidos no processo de tratamento. Viver mais com qualidade de vida e viver com qualidade de vida no câncer. A maioria dos pacientes com câncer pensa ser invadido por um mal muitas vezes doloroso que ataca a sua integridade e a de sua personalidade, e esta doença constituí uma ameaça não só para sua existência física, mas também psíquica. 1 Psicóloga Clínica, Psico-Oncologista, Membro titular da Sociedade Brasileira de PsicoOncologia. Coordenadora do Serviço de Psico-Oncologia do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC) e Clínica Sainte Marie. Mestre em Ciências pelo Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde da UNIFESP-EPM A grande maioria dos pacientes com diagnóstico de câncer não tem conhecimento adequado sobre a doença, sobre os tratamentos disponíveis bem como os possíveis efeitos colaterais. A informação correta e fidedigna repassada ao paciente e família é terapêutica e resulta numa adesão e resposta maior do paciente ao seu tratamento. À família transmitir com clareza conhecimentos que lhes permita assumir com segurança o apoio emocional e técnico a função de cuidadores. Do ponto de vista psicológico o doente e a enfermidade se confundem, pois o câncer afeta a personalidade do paciente, isto é, altera a visão de sua imagem interior, que foi formada ao longo de sua existência. A relação paciente/equipe de saúde que o assiste deverá não somente focar a doença, mas também dedicar-se a supressão do sofrimento subjetivo e principalmente lutar contra o medo do câncer, quer nos doentes portadores deste mal, quer naqueles que são altamente vulneráveis em seu psiquismo e transformam uma possibilidade, a de ter câncer, em um “fato” fantasioso. Um modo objetivo e direto de atendimento, que apenas considera a alternativa “sobreviver ou morrer” não leva em conta a qualidade de vida e muito menos a personalidade do doente, seus sofrimentos, angústias e, sobretudo as suas fantasias, ilusão erroneamente sentida pelo médico o qual acredita que seu paciente espera dele somente que os cure ou afaste a morte por mais algum tempo. Para que uma relação médico-paciente seja sólida e válida no plano terapêutico, o médico deve ser capaz de uma identificação com o doente e com a comunidade familiar, não se limitando a um diagnóstico e a um tratamento, pois quanto mais fortes forem os sentimentos de receio, pânico e desespero do doente e familiares, mais eles desejam encontrar na figura do médico, e em toda a equipe, a calma e a segurança. Pode-se dizer que, a presença compreensiva do médico à cabeceira do doente é, portanto, mais útil que qualquer “droga”. A Psico-Oncologia, área de interface entre a Psicologia e a Oncologia, vem atender à ampla gama de aspectos psicossociais que envolvem o paciente de câncer. Estuda ainda o impacto deste diagnóstico no psiquismo do paciente e em toda sua família. Sua abrangência vai da pesquisa ao estudo de variáveis psicológicas e sociais relevantes para a compreensão da incidência, da recuperação e do tempo de sobrevida após o diagnóstico do câncer. Neste cenário a Psico-Oncologia surge com o objetivo maior de oferecer ao paciente e família e ainda a toda a equipe de saúde envolvida no tratamento, apoio emocional que lhes permita enfrentar a doença melhorando a qualidade de vida em todos os estágios, desde a prevenção, diagnóstico, tratamento, cura e/ou cuidados paliativos. O fortalecimento do estado emocional proporciona ao paciente maior adesão ao tratamento e melhor resposta física, assim como mais equilíbrio, entendimento e como desdobramento destes fatores, uma melhor dinâmica familiar. A dimensão do cuidar do paciente oncológico caracteriza-se pela importância do cuidar sobre o curar; exige atitudes humanas, não apenas analíticas, compreensíveis e essencialmente científicas; ver não somente a doença, mas o que existe de sadio em nosso paciente. A IMPORTÂNCIA DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NO ATENDIMENTO AO PACIENTE ONCOLÓGICO A equipe multiprofissional é um grupo de trabalho formado por profissionais de diversas áreas que se integram em busca da realização de uma tarefa comum, o bem estar do paciente. A ênfase do trabalho em equipe multiprofissional com o paciente oncológico deve ser colocada no conforto, na dignidade, no auto-respeito do paciente, bem como o respeito ao direito de receber explicações a respeito de sua doença, participando ativamente das condutas preconizadas e decisões conscientes no que diz respeito aos seus tratamentos. O objetivo desta equipe é a qualidade de vida de seus pacientes desde a prevenção do câncer, diagnóstico, tratamento, cura ou cuidados paliativos. Sua composição variará conforme a natureza que o atendimento exigir. A qualidade de vida se ancora na concepção, de ver o homem integralmente e cuidar de todos os aspectos que o norteiam, sejam eles de caráter físico, social, emocional, espiritual ou cultural. Esses aspectos se interligam mutuamente, interagindo de forma global nas respostas dos pacientes e familiares. Lembrar sempre que, paciente e família constituem-se numa só unidade de atendimento. O desafio que permanece é sempre o de se aliar competência técnico-científica com humanismo, expresso no ato de cuidar com ternura e sensibilidade ética.