O Efeito do Tempo e a Mutabilidade das CoisasDeveríamos ter sempre diante dos olhos o efeito
do tempo e a mutabilidade das coisas, por conseguinte, em tudo o que acontece no momento presente,
imaginar de imediato o contrário, portanto, evocar vivamente a infelicidade na felicidade, a inimizade
na amizade, o clima ruim no bom, o ódio no amor, a traição e o arrependimento na confiança e na
franqueza e vice-versa. Isso seria uma fonte inesgotável de verdadeira prudência para o mundo, na
medida em que permaneceríamos sempre precavidos e não seríamos enganados tão facilmente. Na
maioria das vezes, teríamos apenas antecipado a acção do tempo. Talvez para nenhum tipo de
conhecimento a experiência seja tão imprescindível quanto na avaliação justa da inconstância e
mudança das coisas. Ora, como cada estado, pelo tempo da sua duração, existe necessariamente e,
portanto, com pleno direito, cada ano, cada mês, cada dia parecem querer conservar o direito de existir
por toda a eternidade. Mas nada conserva esse direito, e só a mudança é permanente.Prudente é quem
não é enganado pela estabilidade aparente das coisas e, ainda, antevê a direcção que a mudança
tomará. Por outro lado, o que via de regra faz os homens tomarem o estado provisório das coisas ou a
direcção do seu curso como permamente é o facto de terem os efeitos diante dos olhos, sem todavia
entender as suas causas. Mas são estas que trazem o germe das mudanças futuras, enquanto os efeitos,
únicos existentes para os olhos, nada contêm de parecido. Os homens apegam-se aos efeitos e
pressupõem que as causas desconhecidas, que foram capazes de produzi-los, também estão na condição
de mantê-los. Nesse caso, quando erram, têm a vantagem de fazê-lo sempre em uníssono. Sendo assim, a
calamidade que, em decorrência desse erro, acaba por atingi-los, é sempre universal, enquanto a cabeça
pensante, caso erre, ainda permanece sozinha. Diga-se de passagem que temos aqui uma confirmação do
meu princípio de que o erro nasce sempre de uma conclusão da consequência para o fundamento.
Arthur Schopenhauer, in 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'Tema(s): Mudança Tempo Ler outros
pensamentos de Arthur Schopenhauer
Viver o HojeNunca a vida foi tão actual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a
desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme
dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de
tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos
transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido
pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo
tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie.
Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas
desérticas que dão a idéia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são
contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual.
Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de
novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de
violino
insistente.
Mas
há
o
hábito
e
o
hábito
anestesia.
Clarice Lispector, in 'Um Sopro de Vida'
O Tempo Torna Tudo IrrealO tempo, propriamente dito, não existe (excepto o presente como limite), e, no
entanto, estamos submetidos a ele. É esta a nossa condição. Estamos submetidos ao que não existe. Quer
se trate da duração passivamente sofrida - dor física, esperança, desgosto, remorso, medo -, quer do tempo
organizado - ordem, método, necessidade -, nos dois casos, aquilo a que estamos submetidos, não existe.
Estamos, realmente, presos por correntes irreais. O tempo, irreal, cobre todas as coisas e até nós mesmos,
de
irrealidade.
Simone Weil, in 'A Gravidade e a Graça'
O Vazio da Pressa e do DinamismoA pressa, o nervosismo, a instabilidade, observados desde o surgimento
das grandes cidades, alastram-se nos dias de hoje de uma forma tão epidémica quanto outrora a peste e a
cólera. Nesse processo manifestam-se forças das quais os passantes apressados do século XIX não eram
capazes de fazer a menor ideia. Todas as pessoas têm necessariamente algum projecto. O tempo de lazer
exige que se o esgote. Ele é planeado, utilizado para que se empreenda alguma coisa, preenchido com vistas
a toda espécie de espectáculo, ou ainda apenas com locomoções tão rápidas quanto possível. A sombra de
tudo isso cai sobre o trabalho intelectual. Este é realizado com má consciência, como se tivesse sido
roubado a alguma ocupação urgente, ainda que meramente imaginária. A fim de se justificar perante si
mesmo, ele dá-se ares de uma agitação febril, de um grande afã, de uma empresa que opera a todo vapor
devido à urgência do tempo e para a qual toda a reflexão — isto é, ele mesmo — é um estorvo. Com
frequência tudo se passa como se os intelectuais reservassem para a sua própria produção precisamente
apenas aquelas horas que sobram das suas obrigações, saídas, compromissos, e divertimentos inevitáveis.
Theodore Adorno, in "Minima Moralia"
"(...)
_ Mas não seria natural.
_ Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem.
_ Natural é encontrar. Natural é perder.
_Linhas paralelas se encontram no infinito.
_ O infinito não acaba. O infinito é nunca.
_ Ou sempre.
(...)
Caio Fernando Abreu. Morangos Mofados
“O melhor tempo esconde longe, muito longe, mas bem dentro aqui...” Caetano Veloso
“(...)
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não para
Não para, não, não para
(...) Cazuza O tempo não para
“Mudaram as estações
E nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim tão diferente
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber
Que o pra sempre
Sempre acaba
(...)” Legião Urbana in Por Enquanto
“Ás vezes é melhor deixar a hora passar
Ás vezez é melhor virar a página e recomeçar tudo de novo, tudo de novo mais uma vez!
Ás vezes é melhor sorrir, imaginar
Ás vezes é melhor não insistir, deixar rolar
E tratar as sombras com ternura,o medo com ternura e esperar...
Ás vezes é melhor deixar o grito escapar
Ás vezes é melhor perder o controle e desabar, e quebrar todas as promessas e atacar!Ás vezes á
melhor deixar a hora passar
Ás vezes é melhor virar a página e recomeçar tudo de novo, tudo de novo mais uma vez!
Ás vezes é melhor sorrir, imaginar
Ás vezes é melhor não insistir, deixar rolar
E tratar as sombras com ternura,o medo com ternura e esperar...
Ás vezes é melhor deixar o grito escapar
Ás vezes é melhor perder o controle e desabar, e quebrar todas as promessas e atacar!
e quebrar todas as promessas, todas as promessas!”
Lobão
Redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, na qual você
apontará, sucintamente, as diferentes concepções do
tempo, presentes nos três textos, e argumentará em
favor da concepção do tempo com a qual você mais se
identifica.
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Proposta de Redação 01