Comunicar Patrimonio: del códice al 3.0
Buenos dias a todos.
Estoy encantada por estar aqui, y associarme a las comemoraciones del 8º
centenário de esta prestigiada institución, casa de pensamiento, de cultura,
de investigación, de reflexión en todos los domínios del saber.
Para mi es un placer compartir esta mesa com Nieves Goicoechea y poder
intercambiar experiencias y puntos de vista en torno a este apassionante
mundo del Patrimonio.
Lo agradezo à la Fundación Duques de Soria y tanbién la oportunidad
de visitar de nuevo esta magnifica ciudad, llena de encanto, de historia y
esplendorosos monumentos.
Este convite da Fundação para falar sobre o tema da comunicação foi, para
mim, um desafio muito estimulante.
Trabalho há mais de 30 anos nos institutos do Património no meu país, mas
sempre do outro lado da barricada, o lado menos visível, muito menos
mediático, mas igualmente fascinante: o mundo da sua conservação.
Representamos pois nesta mesa, um binómio de difícil gestão: por um lado
comunicar, divulgar, fruir e, por outro, preservar, conservar, transmitir às
gerações futuras um património frágil e insubstituível.
Duas faces da mesma moeda que exigem um equilíbrio cirúrgico,
sobretudo nesta época em que vivemos, onde o acesso aos bens culturais é
universal e o Património considerado um dos mais fundamentais direitos de
cidadania, mas também uma fonte de rendimento e um poderoso motor de
desenvolvimento e de aproximação entre os povos.
Interessante como o tema do encontro - comunicar Património: do códice
ao 3.0 - se prende com a questão da sua fruição universal. E de como esta
conquista, facilitada pela aposta na comunicação em novos suportes e no
recurso a novas tecnologias colocou novas questões e abriu perspectivas
inimagináveis há umas décadas atrás.
Comunicar pressupõe sempre a existência de um conteúdo (neste caso o
património), de um meio ou suporte e de um destinatário: o público.
E, nesta caminhada do códice ao 3.0, assistiu-se à amplificação tremenda
destes três vectores. Não só o património a comunicar deixou de ser o
monumento, a obra de arte de excepcional importância, para abarcar um
conjunto infinito de manifestações e realizações humanas ou naturais,
como o destinatário ultrapassou o restrito grupo do público erudito,
especialista e culto para hoje não fazer sentido falar de público mas sim de
públicos diferenciados que exigem formas e veículos diversificados de
comunicação. E a aposta noutros suportes, utilizando as novas tecnologias
de comunicação, fez aumentar exponencialmente o número dos seus
destinatários.
Por outro lado, o objectivo primordial da divulgação do Património, que é o
da sua fruição, envolve actividades e áreas abrangentes, tocando nos
mundos da Cultura, da Educação, do Turismo, da Comunicação, da
Ciência, entre outros.
Once upon a time o Património era usufruído por uma elite culta que
frequentava museus mais ou menos herméticos e desertos e viajava à
procura de obras-primas clássicas ou exóticas.
Os suportes de comunicação limitavam-se à escrita: catálogos, ensaios,
inventários, estudos…
No entanto, já nessa época havia fenómenos de grande afluência, de
multidões à volta de eventos, como as grandes exposições universais,
momentos também de construção e produção de futuro património; ou
como as inaugurações de mostras temáticas nos grandes museus nacionais,
como o caso da Exposição de Arte Ornamental no Museu de Arte Antiga
em Lisboa, no final do séc. XIX.
Nos anos 20 do século passado o turismo patrimonial inicia um movimento
imparável, seguido, algures pelos anos 60, de uma aproximação das escolas
aos museus e monumentos, no âmbito de programas de estudo cada vez
mais envolvidos com a história, a memória e a identidade.
Museus, monumentos, bibliotecas e arquivos tiveram de dar resposta a uma
procura crescente dos seus acervos e colecções, alargando o acesso,
multiplicando iniciativas e disponibilizando informação mais detalhada e
variada. Recorrendo a meios de comunicação massificados como a rádio, a
televisão, os jornais para divulgar as suas actividades e à internet para ir ao
encontro de um público agora universal.
Mas, foi também indispensável adaptar a forma de comunicar aos
diferentes públicos que se foram criando e identificando: o
especialista/erudito, que se mantém inalterado, a par destes novos
destinatários que se pretende seduzir e atrair: o chamado grande público
indiferenciado, os turistas, os jovens, as crianças, as famílias… em horários
alargados, que fomentaram e fidelizaram uma afluência cada vez mais
interessada.
Não esquecendo essa nova aposta dos museus nacionais de criar condições
de acesso e fruição aos incapacitados (visuais, auditivos, motores) com
projectos inovadores lançados por museus nacionais como o dos Coches ou
do Azulejo, em que se construíram “maquettes” para permitir a percepção
dos objectos, das formas e dos materiais.
Gostaria, pois, de passar rapidamente alguns projectos e suportes de
comunicação do Património de organismos da Secretaria de Estado da
Cultura de Portugal.
Naturalmente continua a comunicar-se para o público especialista, através
de publicações técnicas e científicas…
A realização de exposições temporárias, com os seus catálogos e
publicitação associada, seja ela tradicional (os cartazes) em meios de
divulgação massificada – a publicidade nas ruas ou spots na tv - ou ainda
recorrendo a esse admirável mundo novo cada vez mais omnipresente da
internet mantém-se uma forma de mostrar património a um público cada
vez mais alargado.
Há exposições em que o interface com o turismo é particularmente
acentuado, como o caso da iniciativa da DRCultura Norte, presente no
Porto e em Santiago de Compostela que se propôs divulgar a rede de
monumentos regionais que tenham asseguradas condições de apoio à visita
ao público.
Ou ainda a exposição realizada por ocasião da extensão a Siega Verde da
candidatura a Património Mundial do Coa.
A criação de rotas temáticas (rota das catedrais, rota do fresco ou rota do
românico) vem ao encontro desta vertente da valorização e promoção do
património em estreita ligação com a promoção turística.
E, tratando-se de Comunicar Património luso-espanhol, não posso deixar de
referir a cooperação acrescida que existe entre os nossos países em
projectos de estudo, valorização e divulgação.
A Fundação Duques de Soria e o centro luso-espanhol do Património têm
impulsionado projectos muito interessantes que decorreram em 2010, e
deixo-vos a imagem deste livro patrocinado pelas Fundações Areces e
Santa Maria la Real, lançado há dias em Lisboa.
Comunica-se património e, através dele, transmitem-se novos conteúdos,
questões e preocupações com que nos debatemos actualmente: harmonia
social, ambiente, sustentabilidade, acessibilidades…..
E, regressando ao mundo da conservação, a necessidade de sensibilizar o
público, o visitante, para a salvaguarda do Património
Esta experiência decorreu no Museu Nacional de Arte Antiga à volta do
restauro da Custódia de Belém.
Pensando que a retirada de exposição durante alguns meses de um dos exlibris do Museu merecia mais do que uma fotografia e um cartaz
explicativo, decidimos, através de um power point, periodicamente
actualizado, fazer o público participar e assistir ao progresso da
investigação e do trabalho de restauro da peça, chamando a atenção para a
sua fragilidade e vulnerabilidade, para a morosidade, complexidade e
custos envolvidos na sua recuperação.
Porque, quantas vezes, depois de investimentos significativos em obras de
recuperação não aparecem “graffittis”, elementos partidos, estragos
voluntários que desfiguram e desvirtuam as obras.
Daí a importância de envolver o público, consciencializando-o de que a
conservação do património não é unicamente um assunto institucional, mas
diz respeito a todos e cada um de nós.
O desenvolvimento de projectos inovadores que propiciem parcerias
Cultura/Educação/Turismo, entendidas na perspectiva da educação para a
cidadania e da promoção de um turismo cultural atento e respeitador do
património é fundamental.
A disponibilização de conteúdos na internet veio revolucionar a forma de
comunicar. Os sites, facebook, twitter, youtube, as newsletters disseminam
a informação por todos os estratos etários a uma velocidade instantânea.
Mas, talvez mais importante, abrem acesso a fundos e colecções que
passam a estar disponíveis para consulta imediata facilitando a fruição, o
estudo e investigação a uma escala planetária.
A Biblioteca Nacional Digital disponibiliza cerca de 20.000 títulos e mais
de um milhão de páginas digitalizadas e regista mais de 7 milhões de
acessos por ano. É possível aceder a estes conteúdos através de outros
sistemas e projectos em rede como a PORBASE, um catálogo colectivo em
linha das bibliotecas portuguesas, o serviço da European Library o Google
e a Biblioteca Digital Europeia – Europeana
Nos museus, sistemas de inventários como o matriz (para as colecções) e o
matriz pix, ao nível das imagens disponibilizadas para download,
dinamizam o conhecimento das colecções. Dados de 2010 apontam para
cerca de 31.500 visitantes virtuais a um universo de 350 mil registos e 470
mil imagens no universo dos museus do Estado.
Estes são novos caminhos que, curiosamente, contribuem para a
preservação do património, ao restringir ou diminuir o acesso aos originais.
Nas bibliotecas, nos museus, nos monumentos, este foi um passo decisivo.
Mas, também nos museus e monumentos este é um cenário possível: visitas
disponíveis nos sites das instituições e exposições virtuais, que abolem
custos e riscos, para um público globalizado, diminuindo a pressão e o
desgaste provocados pelo turismo massificado nos monumentos e obras de
arte.
Em Lascaux (1983) e Altamira (2001) foram criadas réplicas para substituir
a visita das grutas originais e suster o processo de degradação acentuado
pelo número excessivo de visitantes.
No Egipto, dentro de uns anos só veremos réplicas das magníficas salas dos
túmulos dos faraós.
Claro que o reverso da medalha, nestes tempos em que muita gente
conhece os museus e as suas obras apenas através desse admirável mundo
virtual, pode ser complicado e perturbador.
Para terminar, não resisto à oportunidade de comunicar um evento que
decorrerá em Lisboa no próximo mês de Setembro e que reunirá
especialistas de todo o mundo em torno do Património: o Congresso
Trienal do Comité da Conservação do ICOM onde esperamos receber uma
forte delegação de colegas de Espanha.
Muchas gracias a todos.
IRM
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