IV ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA - ANPUH-BA HISTÓRIA: SUJEITOS, SABERES E PRÁTICAS. 29 de Julho a 1° de Agosto de 2008. Vitória da Conquista - BA. INICIAÇÃO E TRAJETÓRIA DE VIDA DE DUAS YALORIXÁS EM NAZARÉ – RECÔNCAVO SUL DA BAHIA João Costa Barbosa de Brotas Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) E-mail: [email protected] Palavras-chave: Candomblé. Mulheres. Yalorixá. Memória. Introdução A cidade de Nazaré , situada no Recôncavo Sul da Bahia , é considerada uma das mais importantes e antigas cidades do Recôncavo baiano sendo fundada no ano de 1550, logo após a chegada dos portugueses ao Brasil. No período col onial teve diversos engenhos de cana-de-açúcar implantados em suas terras. Em 1857 registra -se a presença de cen to e oitenta engenhos de açúcar q ue utilizaram como mão -de-obra os escravos africanos. Era considerada também como um dos pontos mais important es da Província da Bahia, tanto pela riqueza natural do seu solo e porto marítimo como suas fortes relações comerciais. Nazaré, assim como as demais cidades do Recôncavo, tem uma forte influência da religião católica, principalmente pela construção de c apelas nos mais diverso s pontos da cidade. A exemplo tem -se a Capela de São Roque fundada em 1649. Para além das Igrejas católicas notam-se outras instituições religiosas, como os centros espíritas kardecistas, igrejas protestantes, entre outras, bem como a presença marcante das práticas religiosas afro brasileiras. As populações negras deixaram seu legado nos templos reli giosos das mais diversas nações: Keto, Ijexá e Angola. Atualmente somam -se 42 templos no total. Nesse sentido faz-se necessário estuda r algumas questões em torno dessas tradições religiosas deixada s pelos africanos que habitaram este território. Os terreiros Nesse trabalho selecionamo s dois terreiros de candomblé do município de Nazaré . A escolha não ocorreu de forma aleatória. O prim eiro foi o terreiro de Mãe Joana, fundado no ano de 1945 na Rua do Areal Tabela , no bairro do Areal da respectiva cidade, p ortanto o terreiro mais antigo em funcionamento sob a liderança da mesma Yalorixá. O segundo terreiro escolhido foi inaugurado em 195 0 por Stefânia Luiza Costa, localizado na Rua 2 Joaquim Pereira da Silva no bairro da Muritiba, atualmente sob a chefia da Yalorixá Mãe Wilma. O tempo de iniciação das duas Yalorixás serviu para uma análise sobre tradição, mudanças e permanências nos candom blés de Nazaré. Este fato justifica a opção em pesquisar essas duas Yalorixás. Mãe Joana , atualmente com 76 a nos, foi iniciada no ano de 1938 aos sete anos de idade. Após seus sete anos de obrigação teve seu terreiro aberto. A segunda, atualmente com 51 an os, também iniciada aos sete anos, assumiu o terreiro no ano de 1993, alguns anos após o falecimento de sua Mãe Terezinha Silva dos Santos. Os trabalhos de história das religiões sempre privilegiaram aspectos de ordem judaico cristã. Autores como Nina Rodrigues, Pierre Verger, Arthur Ramos, Roger Bastide, entre outros, que escreveram sobre as religiões de matriz africana , apontaram aspectos p ertinentes sobre essas práticas, e ntretanto, não percebemos as lideranças religiosas e os membros dos terreiros pesquisados por esses autores aparecerem como sujeitos históricos em seus trabalhos. Nesse sentido, pensamos em refletir acerca da trajetória de vida dessas sacerdotisas enquanto mulheres, negras e mães -de-santo. Apontando -as como interlocutoras da pesquisa e como figuras importantes da religião e cultura afro -brasileira de Nazaré. O recorte temporal está centrado na relação com o tempo presente e passado, via memória das depoentes. Portanto , não haverá um recorte cronológico fixo nesse trabalho e sim uma busca entre história e memória, fundamentada na experiência de vida das duas mães de-santo, no intuito de perceber as antigas e novas tradições nos terreiros pesquisados em Nazaré, a partir dos diferentes tempos, de vida e de iniciação das duas yalo rixás, perpassando por mudanças e permanências vividas por esses terreiro s. Segundo Le Goff (1996, p. 423) a memória como propriedade de conservar certas informações, remete -nos em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o homem pod e atualizar impressões ou informações passadas ou que ele representa como passadas. Assim , as experiências vividas no passado pelas depoentes, a partir da memória das mesmas, serão desenvolvidas no decorrer deste trabalho. A distinção entre passado e pre sente é um elemento essencial da concepção de tempo, pois é a operação fundamental da consciência e da ciência histórica. Ass im, não podemos perder de vista que o tempo histórico não é o tempo vivido. A história escrita, documentada, distingue-se do acontecido; é uma representação. É neste hiato entre o vivido e o narrado localiza-se o fazer do historiador, afirma Montenegro (1994, p. 10). 3 Portanto, podemos perceber , a partir das entrevistas , que o ato de lembrar não é apenas viver, mas refazer, repens ar com imagens e idéias de hoje as experiências do passado. Nesse sentido a história oral passou a ser um recurso inovador bastante utilizado pelos historiadores nos tempos modernos. A história oral é um recurso moderno usado para a elaboração de documentos, arquivamento e estilos referentes à experiência social de pessoas e de grupos. Ele é sempre uma história do “tempo presente” e também reconhecido como “história viva” (MEIHY, 2005, p. 20). Caminhos da iniciação , doenças e as práticas de cura Encontramos nos terreiros analisados as duas situações que levaram suas sacerdotisas a se iniciarem no candomblé. A primeira ligada à herança familiar, nos casos em que o iniciado tem um parentesco biológico com o pai ou mãe -de-santo do terreiro. A segunda decorrente da busca da cura de doenças, não alcançada através da medicina científica. Não podemos perder de vista que além das categorias cit adas ainda há outras expressões que levam à iniciação. Vejamos o relato de Mãe Wilma, que nos remete a pensar a primei ra forma de iniciação: O terreiro já vem de minha avó, após ela falecer minha mãe assumiu a casa então foi quando eu me iniciei no candomblé eu tinha sete anos de idade, após minha mãe falecer foi eu que vim a assumir a casa, só que eu já trabalhava com el a. 1 Assim podemos observar a iniciação das sacerdotisas do terreiro Unzó Gunzo Luanda a partir de relaç ões de parentesco consangüíneas . Observa-se também que na sucessão das mesmas é seguida a noção de matrilinearidade, ou seja, a chefia do terreiro semp re sob a liderança feminina. Este fato está presente na sucessão das sacerdotisas dos terreiros mais antigos de Salvador, a Casa Branca, Gontois, Opó Afonjá e o Alaketu, todos chefiados por mulheres descendentes de uma mesma linhagem. O segundo motivo da i niciação que observamos nos terreiros pesquisados são os casos ligados à aflição pessoal. Isso é muito freqüente nas casas de culto onde os indivíduos dirigem-se no intuito de buscar a cura de algumas enfermidades. Em muitos casos, a doença surge como um sinal dos encantados, t endo em vista que para diversas religiões afro 1 Depoimento da Yalorixá Wilma Ma ria Pereira dos Santos. 4 brasileiras a cabeça funciona como a parte mais importante do corpo, o orí, que é fortalecido com a relação homem -orixá através do ritual do bori, utilizado pelas mães e pais -de-santo para casos de iniciação, bem como para o alívio de desconfortos na cabeça dos indivíduos. O depoimento abaixo revela esses desconfortos ligados ao aspecto mental de Mãe Joana na sua infância, geralmente atribuídos à loucura. Um dia um tio de minha mãe aparec eu e disse: qual é nada! Essa menina é maluca coisa nenhuma! Essa menina tem é negocio de encosto, leva essa menina num lugar aí. Deram para me carregar para um centro espírita (Kardecista), quando eu chegava lá, eu dormia até quando terminava; quando eu saía que levava negócio de um metro ou dois que eu acordava começava a prosar , chegava em casa eu pintava e bordava, saía pelo mato matando bicho, pegando criação, pegando cobra de mão, quer dizer, uma criança com oito anos, nove anos, não tem compreensão p ara isso, né? 2 Para Lima (2005 p. 20), as religiões de matriz africana no Brasil oferecem uma interpretação à doença que se insere em um contexto mais amplo de relações entre o humano e o sagrado. A representação da doença no universo do candomblé tra z em si uma possibilidade de uma interpretação mágico -religiosa, principalmente depois do fracasso do diagnóstico da biomedicina. Após o indivíduo recorrer à biomedicina e ela apresentar -se como incapaz na solução das aflições, o candomblé pode apresentar -se como o último recurso. Essa afirmação nos remete a relacionar com o próximo depoimento de Mãe Joana: Meu irmão teve quatr o filhos mabaços, quatro gêmeos. Q uando uma tava com a idade de seis anos para sete, começou doida como eu fiquei quando era pequena, aí ele corria num canto corria no outro, ia pra médico ia aqui ia ali, acolá aquele Santo Antônio (Município baiano vizinho a Nazaré) sempre teve médico bom, ele ia pra tudo quanto era canto e nada nunca deu certo. Quando é um dia eu chegando lá ele disse tú que vive mexendo com essas coisas, tú quer dá uma olhada pra ver o que é faz, tou com uma menina aqui inutilizada. Eu trouxe a menina pra aqui pra casa com sete dias à menina tava perfeita. 3 É válido ressaltar que para além desses casos de inici ação observados nos terreiros pesquisados, existem outras situações que levam os indivíduos aos rituais iniciáticos. Bem como varia seus procedimentos de iniciação de acordo a nação e as particularidades, tendo em vista que cada terreiro tem seus segredos, preceitos e jeito de lidar com o iniciado. 2 3 Depoimento da Yalorixá Joana Santana Quadros . Depoimento Mãe Joana . 5 As mudanças na vida pessoal e na vida pública após a iniciação Outro fato importante observado nos terreiros foi o de que ambas as mães-de-santo desempenham distintas atividades: donas-de-casa, costureiras, e ntre outras. Podemos perceber que a vida no candomblé e as demais atividades tiveram uma influência na vida escola r das mesmas, pois nenhuma concluiu seus estudos. Constatamos esses aspectos do cotidiano das pesquisadas nas falas seguintes: Não estudei, parei logo antes dos quatorze anos. Eu só faço malmente meu nome, porque só fiz aquele primeiro ano, que se chamava primeiro ano, era alfabetização. Daí pra cá, não estudei mais; não consegui mais porque a preocupação e a luta muito grande, não deram mais p ra abrir essa solução. Entrei logo nessa vida de candomblé; era uma vida de fazer caridade. Tinha dia de manhã quando abria a casa, a fila tava lá embaixo na linha, de gente; aí eu tinha que tomar o dia todo. 4 Eu estudei até a oitava série e parei, porq ue naquele tempo minha mãe não tinha condições de manter meus estudos, tempo difícil. Hoje você encontra tudo mais fácil; às vezes você ia fazer uma prova e se não tivesse papel ou dinheiro para comprar o papel pautado, você não fazia prova, então parei. 5 Não poderíamos deixar de pensar na identidade que é construída a partir das religiões afro-brasileiras. Mesmo sem os diplomas escolares as duas mães -de-santo foram capazes de superar todos os preconceitos, discriminaç ão e intolerância religiosa e dess a forma se afirmarem na religião, exibindo com muito orgulho seu amor ao candomblé e aos seus orixás, caboclos e outras divindades. É notório também que em muitos casos o candomblé assume o luga r do trabalho nas décadas de 1950 e 60, Nazaré não proporciona va muitas opções de emprego para população. Portanto a iniciação religiosa garantiu certo prestígio, status e segurança além de contribuir para sua estabilidade financeira. Pois um trabalho formal poderia prejudicar o tempo das obrigações no culto. O candomblé, como qualquer outra religião iniciática, provê a circunstância em que o crente poderá, satisfazendo suas emoções e suas outras necessidades existenciais, situar -se plenamente em grupo socialmente reconhecido e aceito, que lhe garantirá status e s egurança. Que para esta, parece ser uma das funções principais dos grupos de candomblé, dar a seus 4 5 Depoimento Mãe Joana . Depoimento Mãe Wilma . 6 participantes um sentido para vida e um sentimento de esperança e proteção contra “os sofrimentos de um mundo incerto” (LIMA, 1977, p. 61). Assim, a iniciação dará à pessoa um novo estilo de vida, garantindo o status hierárquico de líder de uma comunidade marcada por laços sagrados de obediência, amor e respeito de seus filhos-de-santo, carregado de emoções e capazes de suprir diversas necessidades de sobrev ivência, como afirma o autor na citação acima. O candomblé passa a fazer parte diretamente da vida de toda a comunidade do terreiro. Notaremos nas falas das Yalorixás a relação do candomblé com a vida do trabalho: Eu, graças a Deus, não fui rica, não t ive uma vida fácil; meu pai foi embora e me deixou com seis anos. Herança não tinha valor naquele tempo. Ele me deixou uma casa, daí me arranjei num casamento. Eu tinha quatorze anos, com dois anos me separei. Em 1963 me casei de novo; ele era ferroviário, foi quem me ajudou; depois ele morreu mordido de barbeiro (Doença de Chagas). De quatorze anos de idade pra cá, cuidei do meu santo, minha vida melhorou. Eu fazia caridade, não vou dizer que o dinheiro do candomblé me deixou rica, mas quem me ajudou foi D eus e eles mesmos (os orixás). 6 Nunca trabalhei assim pra outro lugar, sempre trabalhei em minha casa. Casei com dezessete anos, vou fazer trinta e quatro anos de casada e tou aí dentro do santo. 7 Desse modo, essa instituição religiosa lhe garantiu o status dentro da sociedade nazarena e também todo um suporte financeiro que a mesma exibe com orgulho e agradecimento aos seus orixás, como podemos notar no s depoimentos seguintes: Tudo que eu tenho, que eu sou, agradeço primeiramente a Deus, segundo, aos meus orixás... ao meu candomblé. O santo pra mim é tudo: é minha vida, é minha fonte de alegria, é tudo pra mim, é meu orixá, é meu candomblé. 8 Eu agradeço a Deus, meu santo e meu casamento. Minha vida mudou cem por cento, depois que assentei meu santo, mesmo com algumas dificuldades, mas graça a Deus eu vou vivendo. 9 6 Depoimento Mãe Joana . Depoimento Mãe Wilma . 8 Depoimento Mãe Wilma. 9 Depoimento Mãe Joana . 7 7 Os conflitos e preconceitos Ao analisar esses aspectos relacionados ao candomblé e aos grupos sociais envolvidos percebemos dois fatores no discurso das mães-de-santo entrevistadas: a primeira afirmou ter sofrido retaliações por parte da família biológica, além de sofrer alguns insultos advindos da vizinhança; a segunda mencionou ter tido uma relação harmoniosa com sua família de sangue após a influência e cobrança de algumas divindades como seu caboclo Gentil das Matas. Apesar dos conflitos, Mãe Wilma afirma ainda ter iniciado uma tia e uma prima no seu terreiro. Esses conflitos e preconceitos são notórios nos depoimentos das Yalorixás, seja com sua família biológica ou com outros setores da sociedade em geral. Vejamos alguns relatos a esse respeito: Ah! Meu filho... eu sofri muito por meus irmãos. Eu fui abandonada por minha família; ninguém me procurava pra nada. Dizia que essa vida era vida de mulher ruim; era de mulher bandida, es culhambava mesmo. 10 No começo meu marido queria impedir, entendeu? Mas pelo meu caboclo, passei, não vou dizer a você que passei coisas boas, porque o caboclo botou o pé em cima mesmo. O caboclo disse que enquanto eu não aceitasse, que eu da lama não saía, isso não nego pra ninguém. Cheguei até a passar necessidade, de chegar dia, eu abrir a minha geladeira e só ter água, porque... porque eu não queria aceitar entendeu? Com medo de perder meu casamento. Mas quando viu que o caminho era aquele, por sina, po r destino todo mundo aceitou, entendeu? Agora não tá tudo numa boa. 11 Não podemos perder de vista o longo perío do do fator colonização e as cons eqüências que afetaram a mentalidade das pessoas e acabaram por reforçar o processo de intolerância religiosa que insiste em inferioriza r e estereotipar as religiões afro-brasileiras. Essa concepção entre o bem e o mal também foi disseminada no processo de colonização da África e da América, conduzida pelos europeus. No Brasil, caberia ao Reino Português, at ravés da Igreja Católica, estabelecer o que seria correto (Deus) e incorreto (Diabo) no “mundo” das crenças. No período colonial, os índios e os negros foram alvos de medidas punitivas e depreciativas. Eles seriam os selvagens, os incultos e pecadores; por tanto, suas almas pertenciam ao diabo. As práticas de origem africana – cultos aos orixás e inquices, práticas curativas, dentre outras – comumente eram categorizadas pelo cristianismo como práticas diabólicas, portando deveriam ser expurgadas. Tudo aquilo que fugia da explicação religiosa do ocidente passaria pelo crivo de idéias deturpadas, arraigando -se, assim, no 10 11 Depoimento Mã e Joana. Depoimento Mãe Wilma. 8 imaginário coletivo os preconceitos e dogmas contra as práticas culturais ameríndias, africanas e afro -brasileiras (SANTOS, 2005, p. 109). Para Lima (1977, p. 78), a reintegração do iniciado à sua vida secular faz com que o neófito comece um novo estilo de relacionamento social com sua nova família, novas expectativas para o novo papel que marcarão as relações do iniciado com sua família -desanto, com seu grupo de vizinhança, nem sempre do mesmo grupo religioso , e com seu trabalho. É notório esse acontecimento no depoimento de mãe Wilma sobre sua filha biológica: Minha filha fez o orixá, não assim com muita paixão, por amor assim ao candomblé, sabe esse povo assim que trabalha. Para o povo não ver com a cabeça raspada. Mas por amor a mim ela se sacrificou pelo santo e por mim porque não tava na hora de fazer, com neném pequeno, até o neném teve que abandonar o peito. 12 Assim sendo, a volta d o noviço para o meio socia l depois do período de reclusão o faz criar formas de readaptação. Bem como o cumprimento dos preceitos, dos resguardos, e sinais da iniciação, que logo os identificam, como a raspagem da cabeça, o uso de roupas brancas, colares dos respectivos orixás e contreguns nos braços. Foi muito problema; meu povo me desprezou um bocado, tive muito desprezo, Ave Maria! Eu sofri porque se não tivesse fé em Deus não estaria aqui não. E até hoje sofro porque se não fosse a fé em Deus, não es taria aqui não. Até hoje sofro, porque hoje como eu vejo o povo falar, é a fama que eu sou a maior feiticeira de Nazaré. 13 Existe muito preconceito, quando olha assim; já olha... o candomblé é muito discriminado. Hoje mesmo eu tava numa reunião. Que quando eu falei assim: eu sou Mãe Wilma do terreiro Unzó Gunzo Luanda, olharam assim... mas não posso negar minha origem. 14 Considerações finais Muito da historic idade desses terreiros, e dos demais existentes em Nazaré foi perdido ou está escondido nas mem órias de seus velhos membros. Esse foi um dos motivos que influenciaram na escolha de um estudo de caso nesses dois terre iros, pois guardam ao longo de sua história a riqueza, a beleza, a ancestralidade e seu axé para todos. 12 Depoimento Mãe Wilma . Depoimento Mãe Joana . 14 Depoimento Mãe Wilma . 13 9 Assim, pensamos em analisar a fundação desses terre iros; a iniciação das Yalorixás; seus caminhos até a entrada no candomblé; a dedicação e amor aos seus orixás e aos seus filhos-de-santo; a preocupação com o próximo, sua s ações sociais, além de se prontificarem sempre em buscar acol her a todos que as procuram. Discutimos sobre as mudanças nas tr ajetórias de vida das Yalorixás que surgem a partir de sua iniciação no candomblé, a nalisando os transtornos relacionados com os di versos segmentos da vida social, perpassando por suas afliç ões resolvidas e sua realização pessoal e financeira. E por fim, refletimos sobre os conflitos e preconceitos vivenciados pelas mães -desanto e toda a comunidade do terreiro. No entanto, tudo isso contribui u para que as mesmas encarassem como motivação para lutarem pelo candomblé, r eforçando a fé, a crença, o am or e dedicação por sua religião, q ue são princípios básicos da comunidade dos terreiros. Referências BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (Rito Nagô) . São Paulo: Companhia das Letras , 2001. BEAUVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Tradução de Sergio Milliet. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. BERNARDO, Terezinha. Negras, mulheres e mães: lembranças de Olga do Alaketu. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. BRAGA, Júlio Santana. 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