Desenvolvimento de Protótipo para Condicionamento da Qualidade de Energia Elétrica em Ramais de Baixa Tensão A.H.Oliveira, LACTEC, C.G.Bianchin, LACTEC, E.A.Vendruscolo, Unicamp Resumo-Este artigo apresenta uma estratégia de condicionamento da qualidade de energia elétrica em ramais de baixa tensão, visando a melhoria do fator de potência de cargas lineares e não lineares, a regulação da tensão fornecida aos consumidores e a redução do conteúdo harmônico das correntes de cargas não lineares. São apresentadas as topologias empregadas no equipamento, simulações de desempenho para diferentes situações de carga e resultados experimentais. As melhorias nos parâmetros mais críticos, após instalação de um protótipo pré-comercial de 7 kVA, são expostas e analisadas. Palavras-chave- Fator de Potência, Regulação de Tensão, Potência Aparente, Qualidade de Energia, Distorção Harmônica de Corrente. I. INTRODUÇÃO O presente projeto tem por finalidade a melhoria da qualidade de energia elétrica fornecida pela concessionária, em relação às taxas de distorção harmônica de tensão fornecida e corrente drenada. O grande desenvolvimento da tecnologia dos conversores estáticos e dos componentes semicondutores possibilitaram o uso da eletrônica de potência na conversão CA-CC de energia para várias aplicações industriais. A utilização generalizada de retificadores de potência tende a provocar distorção harmônica das correntes drenadas da rede elétrica e, consequentemente, um baixo fator de potência. A estas correntes distorcidas, que representam uma nova forma de poluição, estão associados interferências eletromagnéticas e desperdício de energia nas linhas das empresas fornecedoras de energia elétrica. Sendo assim, pesquisas têm sido feitas a fim de produzir equipamentos mais eficientes e que busquem minimizar estes problemas. Ii Vi Figura 1 - Diagrama de blocos para definição do fator de potência. A equação que define o fator de potência é apresentada a seguir: Vief .Ii ( 1 )ef . cos θ ( 1 ) Ii ( 1 )ef = ⋅ cos θ ( 1 ) (1) FP = Vief .Iief Iief onde: Vief - Valor eficaz da tensão senoidal de entrada. Ii(1)ef - Valor eficaz da componente fundamental da corrente de entrada. Iief - Valor eficaz da corrente de entrada. (1) - Ângulo de deslocamento entre a tensão e a componente fundamental da corrente de entrada. Usualmente a corrente de entrada possui harmônicas. Assim: Ii ( t ) = Ii ( 1 ) + Ii ( n ) (2) ∑ onde: Ii(t) - Corrente de entrada. ∑ Ii(n) - Somatório das harmônicas de corrente. Iief 2 = Ii ( 1 )ef 2 + FP = II. DESCRITIVO DO PROJETO A seguir são apresentadas a definição do fator de potência (FP) e algumas estratégias de pré-regulação da tensão de saída e correção do fator de potência (1). A figura 1 apresenta um diagrama de blocos com os principais parâmetros para a obtenção da definição do fator de potência. A equação que define o fator de potência é apresentada a seguir: Vief .Ii ( 1 )ef . cos θ ( 1 ) Ii ( 1 )ef = ⋅ cos θ ( 1 ) (1) FP = Vief .Iief Iief Este projeto foi contratado pela concessionária CELPA, Centrais Elétricas do Pará, e desenvolvido no Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento – LACTEC – Curitiba-PR. CARGA FONTE ∑I 2 Ii ( 1 )ef Ii ( 1 )ef 2 + ∑ (3) i ( n )ef ⋅ cos θ ( 1 ) Ii ( n )ef 2 (4) A taxa de distorção harmônica (TDH) é definida por: TDH = ∑I i ( n )ef Ii ( 1 )ef 2 (5) Assim: FP = cos θ ( 1 ) 1 + TDH 2 (6) Portanto, fator de potência unitário significa: - Deslocamento entre Vi e Ii(1) igual a zero; - Ausência de harmônica de corrente de entrada. A estratégia utilizada para a correção do fator de potência é o emprego do conversor pré-regulador Boost, operando no modo de condução contínuo. Convém salientar novamente as principais características deste modo de operação: Vantagens: - Frequência de operação constante; - A corrente de entrada não é descontínua, por isso introduz na rede baixa interferência eletromagnética (EMI)e baixa interferência de rádio frequência (RFI), reduzindo o filtro de entrada; - Tensão máxima da chave é igual a tensão de saída; - Redução do valor de corrente de pico nos componentes do conversor Boost em relação a condução descontínua; - Tensão de saída maior que o nível CC retificado da linha, proporcionando menores correntes nos componentes do conversor CC-CC; - Potência e controle possuem a mesma referência de terra, assim o drive PWM não necessita de isolamento; Desvantagens: - Controle em condução contínua proporciona problemas de estabilidade, o que não acontece em condução descontínua; - Modelagem mais complexa, pois os circuitos equivalentes de potência e controle são não lineares; - Dissipação em ambas as comutações. harmônicos da corrente de carga, os quais produzem a distorção na tensão observada nos resultados experimentais. Figura 2. Forma de onda obtida na entrada do condicionador de energia elétrica (CEE), para uma carga de aproximadamente 4 kW. A figura 1 apresenta o circuito simplificado do protótipo proposto, onde uma célula boost é colocada entre o retificador trifásico de onda completa (Ponte de Graetz) e o inversor de potência trifásico. Figura 3. Inversor PWM e lógica de controle. Figura 1. Diagrama simplificado do circuito proposto. Através de simulações, utilizando o software SIMCAD/PSIM, obtém-se, para uma carga de aproximadamente 4 kW, as formas de onda mostradas na figura 2. O inversor PWM, conectado após os terminas do “boost”, utiliza modulação senoidal com injeção de 3a harmônica para realizar os disparos das chaves. A figura 3 mostra a lógica para disparo dos IGBT´s. Caso ocorra algum colapso no inversor o sistema deverá ser capaz de desconectá-lo e conectar a fonte diretamente a carga, como será visto mais adiante. Conectado a saída do inversor, foi colocado um filtro passa-baixas com freqüência de corte em 251 Hz com o objetivo de eliminar o chaveamento do inversor PWM. Este filtro é mostrado na figura 4. Junto à saída do filtro passa-baixas estão outros dois conjuntos de filtros casados para eliminar os 3a e 5a Figura 4. Filtro passa-baixas conectado na saída do inversor A freqüência de ressonância para ambos os filtros casados é calculada de acordo com a equação (7). Em RLC3, R = 1 Ω, L = 100 mH e C = 7,82 µF e a ressonância é 180 Hz. Para o conjunto RLC5, tem-se R = 1 Ω, L = 100 mH e C = 2,82 µF resultando numa ressonância de 300 Hz. Ambos os filtros, mostrados na figura 5, representam um caminho de baixa impedância para estas duas freqüências, de modo a eliminá-las do sistema. 1 f = (7) 2.π . L.C onde Lfi1=Lfi2=Lfi3=L e Cfi=C. Figura 7. Tensões e corrente na saída do CEE. A seguir serão apresentados alguns resultados obtidos em laboratório, para cargas mencionadas anteriormente. As formas de onda de tensão e corrente da figura 8 são amostradas na entrada do condicionador de energia elétrica. Figura 5. Filtro passa-baixas conectado na saída do inversor. A carga é composta de dois motores de 0,5 CV, operando com carga mecânica nominal, e de uma carga não-linear de aproximadamente 2,5 kVA. A carga não-linear é composta por uma ponte retificadora não controlada com filtro capacitivo no lado CC, onde Ccarga = 470 µF e o Rcarga = 80 Ω. Caso ocorra algum defeito no inversor, de tal forma que o mesmo deixe de suprir a carga, o sistema, por sua vez, deverá acusar que o inversor falhou e um “bypass” conectará diretamente a fonte à carga. Para isso, será necessário utilizar dois conjuntos de relés de estado sólido que conectam a rede e desconectam o inversor da carga. Para se analisar o efeito dos filtros de 3a e 5a harmônicas, na figura 6 é apresentada a FFT das seguintes formas de ondas: Vabcarga e Vacarga, Iafonte, Iamotor e Ianl (ver figura 1). É possível observar que Iafonte, Iamotor e Ianl apresentam componentes significativas nas 3a e 5a harmônicas. Contudo, nenhuma destas componentes é observada no espectro da tensão na carga. A figura 7 mostra um “zoom” de Vafonte, Vabfonte e Iafonte no domínio do tempo, onde é possível perceber que não existem distorções na tensão da carga. Figura 6. Transformada Rápida de Fourier para valores nominais de tensão e carga. Figura 8. Tensão e corrente na entrada de uma das fases do condicionador de energia elétrica. A figura 9 apresenta as formas de onda de corrente e tensão na saída do CEE, ou seja, na entrada do possível consumidor. Figura 9. Tensão e corrente na saída de uma das fases do condicionador de energia elétrica. A figura 10 apresenta o diagrama em blocos do circuito completo do CEE. Para coordenação da atuação das proteções do protótipo foi utilizado um microcontrolador PIC16C77, cujo fluxograma simplificado é mostrado na figura 11. CELPA - Ananindeua Padaria - (04/09/2001) Av.Zacarias de Assunção, 189 Fase:C Tipo de carga: 1 modeladora (~1 CV) CEE: conectado Relé SSR_1 ON RB5 RB6 RA0 RA1 RA2 RA3 Detecção de seq. de fases RB3 Placa de controle baseada no microcontrolador PIC16C77 RB4 OFF RB0 RB1 RA4 RB7 RA5 RB2 F Reator de Entrada OUT R RST INVERSOR Reator de Carga Relé SSR_2 Carga: Motor + Retificador Link CC Reator CC Figura 12. Tensão e corrente na entrada do condicionador de energia elétrica. Capacitores de Filtro Conversor Boost IV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Figura 10. Diagrama em blocos completo do CEE. [1] Iniciar Rotina principal 1 INTerrupções Prioridade 2 3 [2] "Trip" OFF ON [3] Figura 11. Fluxograma simplificado do programa implementado no PIC16C77. Conforme especificado previamente, eventuais falhas de operação do inversor trifásico não podem acarretar o corte do suprimento de energia à carga. Atendendo a este item foram ensaiados diversas situaçõesr elativas ao sistema de "bypass". Um relé de estado sólido (SSR), controlado através de um microcontrolador, compõe o sistema de "bypass". O critério de acionamento de tal relé é estabelecido de acordo com os sinais de proteção e comando disponíveis no inversor. III. RESULTADOS DE CAMPO A seguir serão apresentados os resultados obtidos em campo, onde o CEE foi submetido a uma instalação residencial/comercial. O local, definido pela concessionária CELPA, atendia à especificação de potência máxima instalada de 7 kVA, conforme solicitado previamente.. No local, situado no município de Ananindeua, Av.Zacarias de Assunção no 189, apresenta-se uma padaria, onde foram feitas diversas tomadas de medições, com diferentes configurações de motores ligados simultâneamente. A figura 11 a presenta as formas de onda obtidas na entrada do condicionador de energia elétrica, onde percebe-se um elevado fator de potência . A potência aparente para esta situação era da ordem de !,1 kVA A.H.de Oliveira, D.C.Martins e I.Barbi, “Retificador Trifásico com Elevado Fator de Potência utilizando o Conversor CC-CC SEPIC no Modo de Condução Contínua”, dissertação de mestrado, INEP, Florianópolis-SC, dezembro/1996. C.G.Bianchin e J.A.Pomílio, “Pré-reguladores de Fator de Potência alimentando Cargas Resistivas”, dissertação de mestrado, Unicamp, Campinas-SP, outubro/1997. E.A.Vendruscolo e J.A.Pomílio, “Estudo e implementação de Estratégia para Minimização de Sobretensões Produzidas por Inversores PWM em Sistemasde Acionamento de Motores Elétricos com Cabos Longos.